Boletim do CIM c e n t r o d e i n f o r m a ç ã o d o m e d i c a m e n t o A hipertensão arterial (HTA) é um factor de risco-chave para a outros factores de risco (FR) cardiovascular, dano de órgãos-alvo e morbilidade e mortalidade cardio e cerebrovasculares.1 É um factor condições clínicas associadas2,3,7-10 (Tabela 2). Para os doentes com etiológico major para o desenvolvimento de doença cerebrovascular, HTA mas sem DCV deve ser efectuada uma avaliação formal do risco doença cardíaca isquémica e insuficiência cardíaca e renal.2-4 A rela- cardiovascular, usando uma metodologia validada, como forma de ção entre a pressão arterial (PA) e o risco de doença cardiovascular decidir quando será necessária intervenção terapêutica.11 (DCV) é contínua,1,2,5 consistente e independente de outros factores de risco; quanto mais elevada for a PA, maior o risco.2 A HTA é altamente prevalente no mundo industrializado.2,3 Está a aumentar devido ao aumento da longevidade2,5 e da prevalência de factores contribuintes, como obesidade, inactividade física e dieta pouco saudável.2 Um estudo recentemente publicado, realizado no nosso país em 2003, encontrou uma prevalência de HTA de cerca de 42%, semelhante às médias descritas em diversos países europeus.6 O presente artigo pretende realçar aspectos essenciais da terapêutica da HTA, com uma abordagem comparativa entre algumas normas de orientação clínica. Espera-se, contudo, que seja publicada uma actualização das normas norte-americanas no início de 2009. Tabela 2. Factores que influenciam o risco cardiovascular total (adaptado de2,5,9) Factores de risco de DCV Dano nos órgãos-alvo Condições clínicas associadas* Valores da PA sistólica e diastólica (e diferencial nos idosos) Diabetes (ou alterações na glicémia em jejum) Homens com > 55 anos Mulheres com > 65 anos Tabagismo Dislipidémia História familiar de DCV prematura (idade < 50 anos) Obesidade (abdominal) Inactividade física Hipertrofia ventricular esquerda Espessamento da parede arterial ou placa aterosclerótica Aumento (ligeiro) da creatinina sérica Baixa taxa de filtração glomerular estimada ou baixa clearance da creatinina Microalbuminúria Retinopatia avançada: hemorragias ou exsudados, papiloedema Doença cerebrovascular (acidente vascular cerebral [AVC] isquémico, hemorragia cerebral, ataque isquémico transitório) Doença cardíaca (enfarte do miocárdio [EM], angina, revascularização, insuficiência cardíaca) Doença renal (nefropatia diabética, insuficiência renal, proteinúria) Doença vascular periférica Classificação da PA Uma PA sistólica acima de 140 e/ou diastólica acima de 90 mmHg é geralmente considerada como representando HTA.3 (Tabela 1) * Podem constituir ou resultar de dano nos órgãos-alvo Tabela 1. Classificação dos grupos tensionais2,7-9 Avaliação do risco cardiovascular Categoria PA sistólica PA diastólica Foram desenvolvidos métodos complexos e computorizados para < 80 cálculo do risco cardiovascular total, isto é, a probabilidade absoluta de 80­‑84 sofrer um evento cardiovascular, geralmente num prazo de 10 anos.9 85­‑89 Os métodos para cálculo do risco cardiovascular que utilizam tabelas 90­‑99 de estratificação do risco são simples e práticos, mas são menos exac- 160­‑179 100­‑109 tos do que os que utilizam variáveis contínuas.2,9 Alguns baseiam-se HTA de grau 3 (grave) >= 180 >= 110 nos dados de Framingham, que são aplicáveis somente a algumas po- HTA sistólica isolada * >= 140 < 90 pulações europeias, mas recentemente foi desenvolvido um modelo PA óptima < 120 PA normal 120­‑129 PA normal-alta 130­‑139 HTA de grau 1 (ligeira) 140­‑159 HTA de grau 2 (moderada) e e/ou e * Também pode ser classificada em graus (1,2,3), de acordo com os intervalos definidos, desde que a PA diastólica seja <90. As normas norte-americanas5 englobam sob a designação “pré-hipertensão” as categorias de “PA normal” e “normal alta”, indicando que estes doentes estão em maior risco de progredir para HTA. Designam também como HTA de grau 2 a associação dos estádios 2 e 3. Quando a PA sistólica e diastólica se encontram em categorias diferentes, aplica-se aquela onde se inclua o valor mais elevado.3,9 setembro/outubro 2008 Novidades no tratamento da hipertensão europeu com base nos dados do projecto SCORE (Systematic Coronary Risk Evaluation), que avalia o risco de um evento cardiovascular fatal a 10 anos. Este modelo diferencia entre as várias populações europeias, que apresentam um perfil de risco cardiovascular distinto, permitindo calibrações específicas para os vários países.9 A Direcção­‑Geral da Saúde recomendou que seja utilizada na determinação do risco global cardiovascular uma tabela derivada do projecto SCORE. Limiares para redução da PA O limiar para a HTA deve ser flexível, sendo mais ou menos ele- Todos os doentes hipertensos devem ser instruídos acerca de vado dependendo do perfil de risco cardiovascular global de cada modificações do estilo de vida; o início da terapêutica farmacológica indivíduo.7,9 Deste modo, os valores de PA normal alta podem ser depende do grau de risco cardiovascular total9 (Tabela 3). considerados HTA em indivíduos de alto risco ou aceitáveis em indivíduos de baixo risco.9 PA normal – alta Factores de risco cardiovascular risco global elevado e muito elevado. Nos indivíduos em risco ligeiro Só se recomenda terapêutica anti-hipertensora nas situações de As decisões acerca do tratamento da HTA não devem apenas ou moderado, recomendam-se a adopção de estilos de vida saudá- ter em consideração os níveis de PA, mas também a presença de veis, a monitorização periódica da PA e a correcção de outros FR.7,9 ROF ROF 79 85 boletim do cim Tabela 3. Estratificação do risco cardiovascular para quantificar o prognóstico (adaptado de2,9) HTA grau 1 HTA grau 2 HTA grau 3 Sem outros FR Outros FR, dano nos órgãos-alvo e historial clínico Na média PA normal Na média Risco acrescido ligeiro Risco acrescido moderado Risco acrescido elevado 1­‑2 FR Risco acrescido ligeiro Risco acrescido ligeiro Risco acrescido moderado Risco acrescido elevado Risco acrescido muito elevado 3 ou mais FR ou dano nos órgãos-alvo ou diabetes ou síndroma metabólica Risco acrescido moderado Risco acrescido elevado Risco acrescido elevado Risco acrescido elevado Risco acrescido muito elevado Condições clínicas associadas (DCV estabelecida ou doença renal) Risco acrescido muito elevado Risco acrescido muito elevado Risco acrescido muito elevado Risco acrescido muito elevado Risco acrescido muito elevado HTA de grau 1 e 2 PA normal-alta de interacção com fármacos usados em doenças concomitantes9 Em doentes com HTA de grau 1 ou 2, o tratamento farmacológico é geralmente iniciado somente após um período adequado de observação, cuja duração depende do nível de risco. 3 e grupo étnico.11 Um elevado número de ensaios aleatorizados confirma claramente que a diminuição da PA com regimes anti-hipertensores baseados Está indicado tratamento farmacológico em todos os doentes em diuréticos tiazídicos (DT), bloqueadores beta-adrenérgicos (BB), com PA sistólicas sustentadamente ≥160 mmHg ou diastólicas ≥100 inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA), bloque- mmHg adores da entrada do cálcio (BC) ou antagonistas dos receptores da 8,12 apesar de medidas não farmacológicas. 8 Deve ser prontamente iniciado tratamento farmacológico em angiotensina (ARA) reduz as suas complicações5,7 e a mortalidade doentes com PA sistólica sustentadamente a 140-159 mmHg ou cardiovascular e total,7,13,14 e que os principais benefícios da tera- diastólica 90-99 mmHg na presença de dano dos órgãos-alvo ou se pêutica anti-hipertensora se devem à própria diminuição da PA, in- existe evidência de DCV estabelecida ou diabetes,8,9,12 ou se o risco dependentemente dos fármacos utilizados.1,7,9,11,13 de DCV a 10 anos é ≥a 20%,4,9 ou seja, nos doentes de risco acrescido elevado ou muito elevado.9 Todos os grupos de anti-hipertensores têm vantagens ou desvantagens específicas para cada doente.9,10 Existe evidência de que Nos doentes em risco acrescido moderado, monitorizar a PA du- classes específicas de fármacos possam diferir em algum efeito em rante algumas semanas e, nos doentes em risco acrescido ligeiro, grupos especiais de doentes e que, para certas indicações, propor- durante alguns meses e iniciar tratamento farmacológico se a PA cionem benefícios adicionais,1,2,9 ou um melhor perfil de efeitos ad- se mantiver ≥140-90 mmHg.9 Quando se opta por não tratar a HTA versos.11 Existem algumas patologias associadas que obrigam ao ligeira, devem ser encorajadas alterações ao estilo de vida; a PA e o uso de determinados anti-hipertensores como terapêutica inicial.2,5 risco cardiovascular devem ser reavaliados anualmente.8 As indicações preferenciais para terapêutica específica incluem si- Segundo as normas norte-americanas, todos os doentes com a PA sustentadamente acima do valor-alvo, apesar da instituição de tuações de risco elevado que podem ser sequelas directas da HTA ou estarem vulgarmente associadas à HTA.13 (Tabela 4) alterações ao estilo de vida, devem receber tratamento.5 Algoritmo de tratamento da HTA HTA de grau 3 Iniciar terapêutica imediatamente, independentemente do perfil de risco. Posteriormente avaliar outros FR e instituir as medidas apropriadas.9 uma dose baixa de um único fármaco como com uma associação de 2 fármacos em doses baixas.9,10 Quando a PA está a mais de 20/10 mmHg acima do valor-alvo, deve ser considerada a iniciação da te- Valores-alvo Na população hipertensa em geral, o objectivo será a redução da PA para valores <140/90 mmHg.1,2,5,7,9,12 Em indivíduos com mais de 50 ou 55 anos o principal objectivo é diminuir a PA sistólica para 5 De acordo com os valores basais de PA e a presença ou ausência de complicações,9 parece razoável iniciar a terapêutica tanto com 2 valores <140 mmHg, 2,5 uma vez que a maioria dos doentes vão atingir o valor-alvo para a PA diastólica logo que a sistólica esteja no valor-alvo;4,5 valores sistólicos <140 mmHg podem ser difíceis de atingir, especialmente nos idosos.9 Os dados sugerem que, quanto mais baixos os valores de PA, me- rapêutica com 2 fármacos,5,7,9 bem como se elevações menos marcadas da PA estiverem associadas a FR múltiplos, dano subclínico nos órgãos-alvo, diabetes ou DCV ou renal associada, dado que estas situações determinam a necessidade de reduções mais acentuadas da PA ou valores-alvo mais baixos,9 ou em doentes com múltiplas indicações preferenciais para diferentes anti-hipertensores.4 Monoterapia nor a taxa de eventos cardiovasculares. Assim, são recomendados Numa abordagem em monoterapia e para a maioria dos do- valores-alvo mais baixos para populações de risco mais elevado.2,8 entes sem indicações preferenciais, diversas fontes recomendam o Nos doentes hipertensos diabéticos, com doença renal,1,4,5,7-10 DCV8,9 uso de um DT em primeira escolha,1,2,4,5,7,15 dado que é geralmente ou doença cerebrovascular,9 o objectivo será a redução da PA para menos dispendioso.5,13,15 valores < 130/80 mmHg.5,7-10 Em doentes com insuficiência renal e As normas europeias, elaboradas pela Sociedade Europeia de proteinúria, o objectivo será a redução da PA para valores de, pelo Hipertensão e pela Sociedade Europeia de Cardiologia em 2007,9 menos, 120/80 mmHg.9 indicam que qualquer dos grupos principais de anti-hipertensores é adequado para início e manutenção da terapêutica, tendo em con- Tratamento farmacológico sideração que cada classe tem características específicas. Os principais factores que determinam o tratamento farmacológico Nas suas normas publicadas em 2004,8 a Sociedade Britânica de relacionam-se com a PA a partir da qual a terapia deve ser iniciada, Hipertensão (BHS) recomendava o uso de um algoritmo baseado na o valor-alvo de PA e o regime terapêutico mais apropriado.3 regra AB/CD. A teoria subjacente é a de que a HTA pode ser classifica- A escolha dos fármacos deverá ser influenciada por muitos da como de “renina elevada” ou de “renina baixa” e consoante esta factores, incluindo: experiência prévia do doente com fármacos característica será melhor tratada inicialmente com anti-hipertensores anti-hipertensores, perfil de risco cardiovascular,9 custo, doenças que inibam o sistema renina-angiotensina (IECA, ARA [A] ou BB [B]) coexistentes que possam favorecer ou limitar o uso de classes par- ou com os que não o façam (BC [C] ou D [D]). Assim, os fármacos A ticulares de fármacos, perfil de efeitos adversos,9,11 possibilidade ou B seriam mais eficazes em doentes brancos com idade inferior a ROF 85 Classes de anti­‑hipertensores Indicações preferenciais Contra­‑indicações setembro/outubro 2008 Tabela 4. Indicações preferenciais e contra­‑indicações das classes de anti­‑hipertensores Precauções Bloqueadores da entrada do cálcio (BC) di­‑hidropiridinas Doentes idosos8 Hipertensão sistólica isolada2,8,9 Angina9 Doença vascular periférica9 Aterosclerose das carótidas/coronárias9 Gravidez9 Hipertrofia ventricular esquerda9 Taquiarritmias9 Insuficiência cardíaca (IC)9 Bloqueadores da entrada do cálcio (BC) verapamilo, diltiazem Angina8,9 Aterosclerose das carótidas9 Taquicardia supraventricular9 Bloqueio A­‑V (grau 2 ou 3)8,9 IC8,9 Antagonistas dos receptores da angiotensina (ARA) Nefropatia diabética de tipo 22,8,9 Microalbuminúria7,9 Doença renal9 Proteinúria9 Hipertrofia ventricular esquerda2,8,9 Insuficiência cardíaca5,7­‑9 Intolerância8/Tosse induzida por IECA9 Diabetes5,7 Após EM9 Síndroma metabólica9 Gravidez5,8,9 Hipercaliémia9 Estenose bilateral das artérias renais8,9 Insuficiência renal8 Doença vascular periférica8 Bloqueadores alfa (BA) Hipertrofia prostática benigna5,8,9 Incontinência urinária8 Hipotensão postural8 IC (monoterapia)8 Bloqueadores beta (BB) Angina8,9 Após EM2,5,7­‑9 IC2,5,7,9 Gravidez9 Taquiarritmias5,9 Glaucoma9 Asma5,8,9 Bloqueio A­‑V (grau 2 ou 3)5,8,9 Doença vascular periférica8,9 Síndroma metabólica9 Intolerância à glucose9 Diabetes8 (excepto com doença coronária) Atletas e doentes fisicamente activos9 DPOC9 IC8 Diuréticos da ansa (DA) Insuficiência renal terminal5,9 IC5,9 Diuréticos poupadores de potássio (DPP) Insuficiência cardíaca congestiva5,7,9 Após EM5,7,9 Insuficiência renal9 Hipercaliémia5,9 Diuréticos tiazídicos (DT) Doentes idosos8 Hipertensão sistólica isolada8,9 Insuficiência cardíaca congestiva2,5,7­‑9 Prevenção secundária de AVC2,5,7,8 Negros9 Gota8,9 Gravidez9 Síndroma metabólica9 Intolerância à glucose9 Inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) IC5,7­‑9 Disfunção ventricular esquerda2,8,9 Após EM2,5,7­‑9 Nefropatia diabética de tipo 12,8,9 Nefropatia não diabética2,9 Doença renal9 Proteinúria9 Microalbuminúria7,9 Prevenção secundária de AVC2,5,7,8 Diabetes5,7 Hipertrofia ventricular esquerda9 Aterosclerose das carótidas9 Fibrilhação auricular9 Síndroma metabólica9 Gravidez5,8,9 Hipercaliémia9 Estenose bilateral das artérias renais8,9 Edema angioneurótico5,9 Insuficiência renal8 Doença vascular periférica8 55 anos, que tendem a ter concentrações mais elevadas de renina, Os prescritores podem optar por usar preferencialmente os diuréticos, relativamente aos fármacos C ou D, agentes mais eficazes em indi- em face do seu menor custo.11 Os IECA são recomendados para indiví- víduos brancos mais velhos ou negros em qualquer idade. duos com idade inferior a 55 anos.8,11 Quando estão indicados mas não 8,11 Em 2006, contudo, o National Institute for Health and Clinical Ex‑ são tolerados (p.ex. devido à tosse), um ARA é adequado.11 cellence (NICE) emitiu recomendações para o tratamento da HTA, ela- Estas diferenças na abordagem terapêutica em função da idade boradas com a colaboração da BHS, que actualizam as anteriormente foram recentemente questionadas por uma meta-análise que não publicadas por este organismo. O anterior algoritmo é modificado encontrou variação no efeito das diversas terapêuticas anti-hiper- com a omissão dos BB,11,15,16 com base no maior risco de desenvolvi- tensoras entre grupos etários.15 mento de diabetes quando associados a um DT,8,9,11 e também pelo facto de revisões e meta-análises recentes apontarem para que os As evidências acerca de benefícios associados a outras classes de BB apresentem uma menor eficácia na redução do risco de AVC,1,9,11 anti-hipertensores são muito mais limitadas. Os BA, os fármacos de comparativamente a outros grupos de anti-hipertensores, como os acção central (agonistas alfa 2 centrais e moduladores dos recepto- BC, IECA ou ARA, e pela sua menor relação custo-eficácia.15 Assim, os res imidazolínicos) e os DPP demonstraram diminuir a PA. Contudo, a BB não constituem uma escolha apropriada para o tratamento inicial falta de ensaios clínicos não permite estabelecer os benefícios globais da HTA, a menos que existam indicações preferenciais;1,11 podem ser da terapêutica com estes fármacos, mas o seu uso como terapêu- uma opção em doentes mais novos, mulheres em idade fértil, doen- tica adjuvante tem demonstrado conferir protecção cardiovascular, tes com evidência de tónus simpático aumentado, ou doentes com podendo ser usados em terapêutica associada.9 intolerância ou contra-indicações aos IECA e ARA.11,16 As normas europeias,9 contudo, mantêm-nos como opção para tratamento inicial Terapêutica combinada ou subsequente da HTA mas recomendam que não sejam usados em A associação de 2 ou mais fármacos tem sido o regime terapêu- doentes com múltiplos FR metabólicos, estendendo esta recomenda- tico utilizado na maioria dos ensaios.9 A maioria dos hipertensos vai ção aos DT, que têm efeitos diabetogénicos e dislipidémicos quando necessitar de tomar mais do que um fármaco para conseguir atingir usados em doses elevadas. A administração de BB provou ser bené- os seus objectivos tensionais.4,5,7-9,11,13,15 fica em doentes com angina de peito, IC e EM recente. As vantagens de iniciar o tratamento com terapêutica ­combinada Os DT ou os BC são considerados como opções equivalentes de pri- são: ao usar 2 fármacos com diferentes mecanismos, é mais pro- meira linha em indivíduos de raça negra8,9,11 ou com idade ≥55 anos.8,11 vável que a PA e as suas complicações sejam controladas;13 o uso ROF ROF 79 85 boletim do cim de doses baixas, logo com menor probabilidade de efeitos adver- a HTA se mantiver resistente, pode ser eficaz a adição de um outro sos;9,10,13 a disponibilidade comercial de associações de 2 fármacos diurético, de um BA ou de um BB. em baixa dosagem, o que optimiza a adesão2,9,13 e a possibilidade de Outras possíveis associações:9 atingir mais rapidamente o valor-alvo da PA 5,7,9 (mas deve ser reco- – A associação de um DT com um DPP tem sido amplamente mendada especial precaução em doentes em risco de hipertensão utilizada para prevenir a perda de potássio associada aos DT, re- ­ortostática, como diabéticos, doentes com disfunção autonómica e duzindo possivelmente a incidência de morte súbita, prevenindo a alguns idosos).7,5 A desvantagem é potencialmente expor o doente intolerância à glucose e diminuindo a incidência de diabetes asso- a um fármaco desnecessário.9 ciada à hipocaliémia induzida pelos DT; Na ausência de dados de ensaios clínicos aleatorizados que – A associação de um IECA e de um ARA tem sido referida como orientem na selecção de associações, e uma vez que um diurético causando uma maior diminuição da PA e um efeito antiproteinúri- aumenta a eficácia de todas as classes,2,5,13 este vai ser, na maioria co mais pronunciado que qualquer um dos componentes, tanto em dos casos, um dos componentes da associação.1,2,4,7 nefropatia diabética, como não diabética; também demonstrou me- Outros,9,10 contudo, indicam que são diversas as associações de 2 lhorar a sobrevivência na IC. fármacos que mostraram ser eficazes e bem toleradas: DT e IECA, DT e ARA, BC (di-hidropiridínico) e BB, BC e IECA, BC e ARA ou BC e DT. Deve ter-se em conta que, em doentes de alto risco, que obtêm Segundo o novo algoritmo britânico,11,16 se forem necessários 2 os maiores benefícios do tratamento, o uso de múltiplos fármacos, fármacos, as combinações lógicas são (A) + (C ou D). Se o doente mesmo que dispendioso, pode ter boa relação custo-eficácia. Pelo estiver a ser tratado com um BB e necessitar da adição de um se- contrário, em doentes de baixo risco, o tratamento pode ter boa re- gundo fármaco, este deve ser um BC e não um DT, dada a evidência lação custo-eficácia somente se o fármaco não for dispendioso.2 actual de que os efeitos dismetabólicos dos BB e dos DT possam ser É preferível optar, sempre que possível, por formulações que, ainda mais pronunciados quando administrados em associação, o em toma única diária, assegurem uma duração de acção durante que determina precaução no seu uso conjunto em doentes em risco 24 horas,7-9 no sentido de facilitar a adesão à terapêutica e obter um elevado de desenvolver diabetes8,9 ou com síndroma metabólica.9 controlo equilibrado da PA ao longo das 24 horas.7,9 Os BA também podem ser considerados em terapêutica comAna Paula Mendes binada.9 Nos doentes hipertensos sem outras complicações e nos idosos, a terapêutica deve ser iniciada gradualmente;9 deve ser dado um intervalo de pelo menos 4 semanas para observar a resposta total,5,8,10 a menos que seja necessária maior urgência na diminuição da TA,8 como em doentes de risco elevado.5,9 HTA não controlada Se a abordagem inicial consistiu em monoterapia e não for atingido o controlo da PA, existem várias possibilidades: – Alterar para um fármaco diferente em baixa dosagem,8,9,11 se a HTA for ligeira e não complicada.8 Pode permitir que se descubra qual o fármaco a que um doente melhor responde, tanto em termos de eficácia, como de tolerância. Contudo, é pouco provável que se consiga o valor-alvo da PA com um único fármaco, o que pode tornar frustrante esta abordagem, podendo conduzir a uma má adesão e atrasos no controlo de doentes de elevado risco;9 – Aumentar a dose do primeiro fármaco escolhido, com maior possibilidade de causar efeitos adversos;9 – Passar a terapêutica combinada5,7-9 com a adição de um segundo fármaco de uma outra classe. Se a abordagem inicial tiver sido uma terapêutica ­combinada, mas que não tenha permitido atingir o controlo adequado da PA, podem ser aumentadas as doses dos fármacos ou adicionar-se um 3º fármaco em baixa dosagem.9 Os BA e os anti-hipertensores centrais podem ajudar a atingir o objectivo tensional em caso de efeitos adversos de outras terapêuticas ou se for necessária uma terapêutica combinada tripla.10 Em determinados doentes pode inclusivamente haver necessidade de acrescentar um 4º fármaco, particularmente na presença de doença renal ou em outros tipos de HTA complicada.9 De acordo com o novo algoritmo britânico,11,16 se a PA estiver insuficien­temente controlada com uma terapêutica combinada dupla, é recomendada uma combinação de A+C+D. Se Bibliografia 1. Zillich A, Haines S. ASHP therapeutic position statement on the treatment of hypertension. 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Eugénia Araújo Pereira; Mónica Galo; Nadine Ribeiro; Paula Iglésias; Teresa Soares. Os artigos assinados são da responsabilidade dos respectivos autores. ROF 85