Síndrome do intestino irritável: uma Perspectiva Mundial

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World Gastroenterology Organisation Practice Guidelines
Síndrome do intestino irritável:
uma Perspectiva Mundial
Atualizado em setembro de 2015
Equipe de revisão
Eamonn M.M. Quigley
EUA (Coordenador)
Michael Fried
Kok-Ann Gwee
Igor Khalif
Pali Hungin
Greger Lindberg
Zaigham Abbas
Luis Bustos Fernández
Shobna J. Bhatia
Max Schmulson
Carolina Olano
Anton Le Mair
Suíça
Singapura
Rússia
Reino Unido
Suécia
Paquistão
Argentina
Índia
México
Uruguai
Países Baixos
WGO Global Guidelines
SII 2
Conteúdo
1 Cascatas da WGO 3
1.1
Opções de cascata para o diagnóstico da SII segundo os recursos 3
1.2
Opções de cascata para o tratamento da SII segundo os recursos 4
2 Introdução 5
2.1
Subclassificação da SII 6
2.2
Prevalência e incidência mundiais 7
2.3
Outras observações sobre epidemiologia da SII 7
2.4 Dados demográficos da SII, diferenças nas formas de apresentação entre Oriente e Ocidente 8
3
4
5
6
Diagnóstico da SII 8
3.1
História clínica 8
3.2
Avaliação psicológica 10
3.3
Exame físico 11
3.4
Algoritmo diagnóstico da SII 11
Avaliação da SII 11
4.1
Critérios diagnósticos (Roma III) 12
4.2
Testes ou exames adicionais 13
4.3
Diagnóstico diferencial 13
4.4
Comorbidade com outras doenças 17
Tratamento da SII 17
5.1
Introdução 17
5.2
Dieta 20
5.3
Tratamento medicamentoso 20
5.4
Tratamento psicológico e outros tratamentos 24
5.5
Prognóstico 25
5.6
Seguimento 25
Anexo: recursos úteis 26
Referências 26
Figuras
Fig. 1 Algoritmo para diagnosticar a síndrome do intestino irritável (SII)
11
Fig. 2 Tratamento dos pacientes com sintomas de síndrome do intestino irritável 18
Tabelas
Tabela 1 Critérios de Roma III para diagnóstico da SII
© World Gastroenterology Organization, 2015
12
WGO Global Guidelines
1
SII 3
Cascatas da WGO
Com esta diretriz, a Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO) visa guiar os
profissionais da saúde sobre o melhor manejo da síndrome do intestino irritável (SII),
com um documento conciso de recomendações baseadas nas últimas evidências,
resultantes de um processo de consenso dos nossos especialistas mundiais após analisar
a melhor prática atual.
Uma abordagem padronizada global para o diagnóstico e tratamento da SII pode não
ser viável, uma vez que nem a epidemiologia, nem a apresentação clínica do quadro,
nem a disponibilidade de recursos diagnósticos ou terapêuticos são suficientemente
uniformes em todo o mundo para justificar uma única abordagem padrão ouro.
Esta Diretriz Mundial da WGO inclui, portanto, um conjunto de “cascatas” para
fornecer opções sensíveis ao contexto e aos recursos para o diagnóstico e tratamento da
SII nas diferentes circunstâncias. As cascatas da WGO procuram servir como
complemento “global”, e não substituir as diretrizes “padrão ouro” elaboradas por
grupos regionais e sociedades nacionais. Com as cascatas diagnósticas e de tratamento,
as diretrizes da WGO fornecem uma abordagem sensível aos recursos e ao contexto.

Cascatas da WGO: conjunto hierárquico de opções diagnósticas, terapêuticas e de
manejo para lidar com risco e patologia, qualificadas segundo recursos disponíveis.
As diretrizes e cascatas da WGO têm por objetivo destacar as opções de manejo
apropriadas sensíveis ao contexto e aos recursos disponíveis em cada área geográfica,
independentemente de ser considerada “em desenvolvimento ”, “semidesenvolvida” ou
“desenvolvida”. As cascatas da WGO são sensíveis ao contexto, e o contexto não é
necessariamente definido apenas pela disponibilidade de recursos.
N.B.: O contexto no qual as cascatas seguintes foram construídas é descrito nas seções pertinentes sobre
diagnose e tratamento da SII.
1.1 Opções de cascata para o diagnóstico da SII segundo os recursos
Níveis de recursos altos
 Anamnese, exame físico, exclusão de sintomas de alarme, consideração de fatores
psicológicos.
 Hemograma completo (HC), velocidade de eritrossedimentação (VES) ou proteína
C-reativa (PC Reativa), exame de fezes (leucócitos, ovos, parasitos, sangue oculta).
 Teste de taurina-ácido homocólico marcado com selênio 75 (ácido tauroselcólico)
(75SeHCAT) para a investigação da má absorção de ácidos biliares e medição da
perda do pool de ácidos biliares. A disponibilidade deste teste pode ser limitada
mesmo em áreas de altos recursos.
 Função tireoidiana.
 Anticorpo de transglutaminase tecidual (tTG) para triagem de doença celíaca.
 Esofagogastroduodenoescopia (EGD) e biopsia duodenal distal em pacientes com
diarreia para excluir doença celíaca, espru tropical, giardíase, e em pacientes com
dor abdominal e desconforto localizados na parte alta do abdome.
 Colonoscopia e biopsia. *
 Marcador fecal de inflamação (p. ex., calprotectina ou lactoferrina) para diferenciar
SII de doença intestinal inflamatória, nas áreas com alta prevalência desta última.
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
SII 4
Teste do hidrogênio expirado para intolerância à lactose e proliferação excessiva
de bactérias no intestino delgado (SIBO, sigla em inglês).
Níveis de recursos médios



Anamnese, exame físico, exclusão de sintomas de alarme, consideração de fatores
psicológicos
HC, VES ou PC Reativa, exames de fezes, função tireoidiana
Sigmoidoscopia*
Níveis de recursos baixos


Anamnese, exame físico, exclusão de sintomas de alarme, consideração de fatores
psicológicos
HC, VES e exame de fezes
* N.B.: Mesmo nos países “ricos” nem todos os pacientes precisam colonoscopia; seu uso é limitado, em
particular, nos indivíduos com sintomas e sinais de alarme e pessoas maiores de 50 anos. A necessidade
de exames, sigmoidoscopia e colonoscopia depende também das características do paciente (modo de
apresentação, idade, etc.) e da localização geográfica (se está ou não em área de alta prevalência de
doença intestinal inflamatória, doença celíaca, câncer de cólon ou parasitose). É possível dizer, por
exemplo, que uma mulher de 21 anos com sintomas de SII-D e sem motivos de alarme merece, no
máximo, sorologia celíaca e avaliação da tiroide (se necessário). Em geral, o diagnóstico é “mais seguro”
em pacientes com constipação, considerando que nos pacientes com diarreia severa há uma maior
necessidade de considerar testes para excluir patologia orgânica.
1.2
Opções de cascata para o tratamento da SII segundo os recursos
Níveis de recursos altos





Tranquilização, revisão de dieta e estilo de vida, assessoria.
Tentar probiótico de qualidade com eficácia comprovada.
Tratamento sintomático de:
‒ Dor, com antiespasmódico disponível localmente; para pacientes com afecção
mais severa, adicionar um antidepressivo tricíclico em dose baixa ou um
inibidor da recaptação de serotonina (serotoninérgico).
‒ Constipação, com medidas dietéticas e suplemento de fibras progredindo para
laxantes osmóticos como lactulose.
‒ Embora a evidência para apoiar seu uso seja fraca, pode valer a pena tratar a
diarreia com antidiarreicos simples.
Considerar abordagens psicológicas (hipnoterapia, psicoterapia, terapia de grupo)
e consultas com nutricionista, se indicado.
Adicionar agentes farmacológicos específicos, quando forem aprovados:
‒ Lubiprostone ou linaclotide para SII com constipação (SII-C)
‒ Rifaximina para diarreia e inchaço
‒ Alosetron e eluxadoline para SII com diarreia (SII-D)
Recursos médios



Tranquilização, revisão de dieta e estilo de vida, assessoria.
Adicionar probiótico de qualidade com eficácia provada.
Tratamento sintomático de:
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‒ Dor, com antiespasmódico disponível localmente; para pacientes com afecção
mais severa, adicionar antidepressivo tricíclico em dose baixa.
‒ Constipação, com medidas dietéticas e suplemento de fibras.
‒ Embora a evidência para apoiar seu uso seja fraca, pode valer a pena tratar a
diarreia com antidiarreicos simples.
Recursos baixos


2
Tranquilização, revisão de dieta e estilo de vida, assessoria.
Tratamento sintomático de:
‒ Dor, com antiespasmódico disponível localmente.
‒ Constipação, com medidas dietéticas e suplemento de fibras.
‒ Embora a evidência para apoiar seu uso seja fraca, pode valer a pena tratar a
diarreia com agentes de volume e antidiarreicos simples.
Introdução
A síndrome do intestino irritável é uma desordem funcional do intestino recidivante,
definida por critérios diagnósticos baseados em sintomas na ausência de causas
orgânicas detectáveis. O quadro sintomático não é específico da SII porque os sintomas
podem se apresentar ocasionalmente em qualquer indivíduo. Para diferenciar a SII de
sintomas intestinais passageiros, os especialistas têm sublinhado o caráter crônico e
recorrente da SII, e têm proposto critérios diagnósticos baseados na frequência de
aparição dos sintomas e sua duração.
Definição. A síndrome do intestino irritável (SII) é uma desordem gastrointestinal
funcional caracterizada por dor, desconforto abdominal e alterações do hábito
intestinal. Sensações de desconforto (inchaço), distensão e defecação desordenada são
características geralmente associadas. Em alguns idiomas, a diferença entre as palavras
bloating e distension não está bem definida. Na diretriz, usaremos o termo "inchaço"
para bloating e "distensão" para distension.
Algumas características da SII:





Não se sabe se está associada ao aumento do risco de desenvolvimento do câncer
ou doença intestinal inflamatória, ou aumento da mortalidade.
Gera custos sanitários importantes, diretos e indiretos.
Não foi demonstrado nenhum substrato fisiopatológico universal na SII.
‒ A hipersensibilidade visceral é geralmente aceita como relevante para a SII [1].
Transição ou sobreposição da SII para outros distúrbios gastrointestinais
sintomáticos (p. ex., doença por refluxo gastroesofágico, dispepsia e constipação
funcional) pode ocorrer.
Esta entidade provoca em geral sintomas de longa duração:
‒ Pode aparecer em episódios.
‒ Sintomas variam e podem estar relacionados às refeições e, caracteristicamente,
à defecação.
‒ Sintomas interferem com a vida cotidiana e social em muitos pacientes.
‒ Sintomas podem aparecer como consequência de infecção intestinal (SII pósinfecciosa) ou se precipitar por eventos importantes da vida ou durante um
período de muito estresse.
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SII 6
‒ Sintomas podem aparecer após cirurgia abdominal e/ou pélvica.
‒ Sintomas podem se precipitar por tratamento antibiótico.
Em geral, esta afecção não é reconhecida; muitos pacientes com sintomas de SII não
consultam o médico e não são diagnosticados formalmente.
2.1
Subclassificação da SII
Segundo os critérios de Roma III, a SII pode ser dividida em subtipos de acordo com
as características das fezes dos pacientes, como definido pela Escala de Bristol:
 SII com diarreia (SII-D):
‒ Fezes moles > 25% das vezes e fezes duras < 25% das vezes
‒ Até um terço dos casos
‒ Mais frequente entre homens
 SII com constipação (SII-C):
‒ Fezes duras > 25% das vezes e fezes moles < 25% das vezes
‒ Até um terço dos casos
‒ Mais frequente entre mulheres

SII com hábitos intestinais mistos ou padrões cíclicos (SII-M):
‒ Fezes duras e moles > 25% das vezes
‒ Um terço na metade dos casos
 Nenhum subtipo da SII
‒ Anomalia insuficiente na consistência das fezes para os critérios de SII-C ou M
No entanto, importa lembrar que:



Os pacientes frequentemente passam de um subgrupo para outro.
Nos pacientes com SII é frequente a interpretação errada dos sintomas de diarreia
e constipação. Assim, muitos pacientes com SII que se queixam de “diarreia” se
referem à eliminação frequente de fezes formadas, e na mesma população de
pacientes, “constipação” pode se referir a queixas relacionadas à tentativa de
defecar e não simplesmente a movimentos intestinais infrequentes.
Além disso, os hábitos intestinais devem ser avaliados sem usar antidiarreicos ou
laxantes.
No âmbito clínico, a SII pode ser subclassificada como:


Baseada nos sintomas:
‒ SII com disfunção intestinal predominante
‒ SII com dor predominante
‒ SII com inchaço predominante
Baseada nos fatores precipitantes:
‒ Pós-infecciosa (SII-PI)
‒ Induzida por alimentos (induzida pelas refeições)
‒ Relacionada ao estresse
No entanto, exceto a SII-PI, que está bastante bem caracterizada, ainda não foi possível
determinar a relevância de quaisquer destas classificações em relação ao prognóstico
ou resposta ao tratamento.
É importante lembrar, também, que os critérios de Roma III não são comumente
usados na prática clínica. Além disso, existem aspectos culturais que podem incidir na
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SII 7
notificação dos sintomas. Na Índia, por exemplo, um paciente que declara esforço para
defecar ou passagem de fezes duras provavelmente se queixe de constipação, apesar de
movimentar o intestino mais de uma vez ao dia.
Existe uma sobreposição considerável e uma tendência à transição entre a SII-C e a
constipação funcional.
2.2 Prevalência e incidência mundiais
O quadro de prevalência mundial da SII está longe de ser completo porque os dados de
varias regiões não estão disponíveis. Comparar a informação das diversas regiões é
frequentemente difícil devido ao uso de critérios diagnósticos diferentes (em geral,
quanto mais “laxos” os critérios, maior a prevalência). Também influem outros fatores,
como seleção da população, inclusão ou exclusão de transtornos comórbidos (p. ex.,
ansiedade), acesso a serviços de saúde e influências culturais. No México, por exemplo,
a prevalência da SII na população utilizando os critérios de Roma II foi 16%, mas a
cifra aumentou a 35% entre os indivíduos de uma comunidade universitária. Vale
destacar que os dados disponíveis sugerem que a prevalência é bastante similar em
muitos países, apesar das grandes diferenças nos estilos de vida.
 A prevalência da SII na Europa e América do Norte é estimada em 10–15%. Na
Suécia, o valor mais comumente citado é 13.5%.
 A prevalência da SII está aumentando nos países da região Ásia–Pacífico,
particularmente nas economias em desenvolvimento. As estimações de prevalência
da SII (utilizando os critérios diagnósticos de Roma II) variam amplamente na
região Ásia–Pacífico. Existem estudos na Índia que mostram que os critérios de
Roma I para SII identificaram mais pacientes que os critérios de Roma II. As taxas
de prevalência comunicadas incluem 0.82% em Beijing, 5.7% no sul da China,
6.6% em Hong Kong, 8.6% em Singapura, 14% no Paquistão, e 22.1% em Taiwan.
Um estudo na China achou que a prevalência da SII definida pelos critérios de
Roma III em pacientes ambulatoriais era 15.9%.
 Em geral, os dados da América do Sul são escassos, mas isso é possível por um
viés de publicação, dado que muitos estudos não são publicados em inglês [2] ou
não são citados nas bases de dados mais usadas (p. ex., Medline). No Uruguai, um
estudo indicou uma prevalência geral de 10.9% (14.8% entre mulheres e 5.4%
entre homens); 58% com SII-C e 17% com SII-D. Em 72% dos casos, a idade de
início era < 45 anos. Também, um estudo da Venezuela indicou uma prevalência
da SII de 16.8%, sendo que 81.6% dos indivíduos afetados foram mulheres e 18.4%
homens [3]. Estudos em populações indígenas da América Latina revelaram uma
alta prevalência da SII semelhante ao resto da população [4].
 Os dados da África são muito escassos. Um estudo em uma população de
estudantes nigerianos baseado nos critérios de Roma II achou uma prevalência de
26.1%. Um estudo de pacientes ambulatoriais no mesmo país, baseado nos mesmos
critérios, indicou uma prevalência de 33%.
2.3




Outras observações sobre epidemiologia da SII
SII ocorre principalmente entre os 15 e 65 anos de idade.
Os pacientes costumam visitar o médico por primeira vez entre os 30 e 50 anos.
Em alguns casos, os sintomas podem ter aparecido na infância.
A prevalência é maior nas mulheres, embora este resultado não seja reproduzido
em todos os países como, por exemplo, na Índia.
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


Há uma diminuição na frequência das notificações entre indivíduos mais idosos.
A prevalência estimada de SII em crianças é similar à dos adultos.
Os sintomas típicos da SII são comuns nas amostras de populações “saudáveis”.
2.4
Dados demográficos da SII, diferenças nas formas de apresentação
entre Oriente e Ocidente
Como no caso de dados de prevalência, a informação sobre as características de
apresentação mundial também varia, e as comparações dos estudos baseados em
dados da comunidade, dados de clínicas ambulatórias e estatísticas hospitalares
estão cheias de dificuldades.
Os sintomas da SII típicos são comuns nas amostras de populações saudáveis, mas
a maioria dos portadores de SII não tem de fato um diagnóstico médico. Isso pode
explicar as aparentes diferenças de prevalência entre os países. A maioria dos
estudos só conta as SII diagnosticadas e não a prevalência na comunidade.
Um estudo na China mostrou que a prevalência da SII no sul do país era superior
à comunicada em Beijing, mas inferior à comunicada nos países ocidentais.
Alguns estudos em países não ocidentais indicam:
‒ Clara associação entre desconforto intenso e SII nos homens, semelhante
àquela encontrada nas mulheres nos estudos ocidentais.
‒ Maior frequência de dor abdominal alta.
‒ Menor impacto dos sintomas da defecação na vida diária do paciente.
Vários estudos sugerem que entre os afro-americanos, em comparação com
indivíduos brancos:
‒ A frequência das evacuações é menor.
‒ A prevalência da constipação é maior.
Na América Latina, menos na Argentina, a predominância da constipação é mais
frequente que a predominância da diarreia.
A frequência das evacuações parece ser maior na comunidade índia em geral —
99% defeca uma vez ou mais por dia.
No México, 70% dos pacientes tinham ansiedade, 46% depressão e 40% as duas.
Nesse país, a SII tem um impacto econômico significativo porque acarreta uma
elevada utilização de recursos médicos.
Na China, é muito comum a sobreposição clínica entre a dispepsia funcional e a
SII, definida segundo os critérios de Roma III. Contudo, isto pode estar relacionado
ao fato que os pacientes com SII nesse país informam geralmente sua dor como
localizada na região epigástrica e não no abdômen inferior.
Estresse psicológico, eventos da vida e um estilo negativo de enfrentar a vida
podem desempenhar um papel importante na patogenia da SII. Esses fatores
também podem influir no comportamento da doença no indivíduo e no resultado
clínico.











3
Diagnóstico da SII
3.1 História clínica
Embora seja descrita atualmente como uma única entidade coerente, é provável que a
desordem denominada “SII” inclua várias entidades fisiopatológicas diferentes que não
foram ainda definidas. Assim, vários processos patológicos que nós reconhecemos
agora como entidades claramente distinguíveis (colite microscópica, intolerância aos
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SII 9
carboidratos e má-absorção de ácidos biliares, por exemplo) teriam sido incluídas
anteriormente na SII.
Ao avaliar o paciente com SII, é importante não somente considerar os sintomas
primários de apresentação, mas também identificar os fatores precipitantes e outros
sintomas gastrointestinais e extra-gastrointestinais associados. Também é vital procurar
e diretamente perguntar sobre a presença de sintomas de alarme e considerar, no
contexto pertinente, outras explicações para os sintomas do paciente (p. ex., diarreia
dos ácidos biliares, intolerância aos carboidratos, colite microscópica). A anamnese,
portanto, é fundamental, envolve a identificação destas características consideradas
como típicas da SII, o reconhecimento de “bandeiras vermelhas” e outras características
que sugerem diagnósticos alternativos. Em consequência, o paciente deve ser inquirido
sobre os seguintes elementos (as características marcadas com * são compatíveis com
SII):
O padrão de dor ou desconforto abdominal:
 Duração crônica*
 Tipo de dor: intermitente* ou contínua.
 Episódios prévios de dor*
 Localização da dor. Em alguns indivíduos, a dor pode estar bem localizada (no
quadrante inferior do abdômen, por exemplo), enquanto em outros a dor tende a se
mover.
 Alívio com a defecação ou eliminação de gases*
 A dor noturna é inabitual e é considerada um sinal de alarme.
Outros sintomas abdominais:
 Inchaço *
 Distensão*
 Borborigmo
 Flatulência
N.B.: Distensão é mensurável; inchaço é uma sensação subjetiva. Como definido em inglês, inchaço
(bloating) e distensão (distension) podem não compartilhar a mesma fisiopatologia e não deveriam ser
considerados termos equivalentes e intercambiáveis, embora em outros idiomas estejam representados
por uma única palavra, ou pode não haver expressão para bloating como no espanhol. Também não
necessariamente significa um aumento da produção de gases intestinais.
Natureza dos transtornos intestinais associados:
 Constipação
 Diarreia
 Alternância
Anomalias da defecação:
 Diarreia > 2 semanas (N.B.: é recomendado fazer esforço para entender o que o
paciente quer dizer quando refere “diarreia” e “constipação”)
 Muco nas fezes
 Urgência na defecação
 Sensação de defecação incompleta (sintoma relatado como muito importante nas
populações asiáticas—51% em Singapura, 71% na Índia, 54% em Taiwan)
Outra informação da história do paciente e sinais de alarme importantes:
 Emagrecimento não intencional
 Sangue nas fezes
 Antecedentes familiares de:
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






SII 10
‒ Neoplasia colorretal
‒ Doença celíaca
‒ Doença inflamatória intestinal
Febre acompanhando a dor abdominal baixa
Relação com a menstruação
Relação com:
‒ Medicamentos
‒ Consumo de alimentos que é sabido provocam intolerância (especialmente
leite), edulcorantes artificiais, produtos dietéticos ou álcool
‒ Viagens por regiões subtropicais
Anomalias dos hábitos alimentares:
‒ Refeições irregulares ou inadequadas
‒ Ingestão insuficiente de líquidos
‒ Ingestão excessiva de fibras
‒ Obsessão com a higiene na dieta
Histórico familiar: A SII aparece com maior frequência em certas famílias, embora
sua genética seja pouco conhecida, e não muito claro o modo de transmissão
Natureza da aparição (súbita, por exposição à gastroenterite sugere SII-PI)
Diarreia persistente: a presença de verdadeira diarreia persistente, em particular se
relativamente indolor, deveria gerar investigações mais amplas de outras causas da
diarreia como doença celíaca, colite microscópica (especialmente entre as
mulheres de meia idade ou idosas), diarreia por ácidos biliares (devido à alteração
na absorção dos ácidos) ou intolerância aos carboidratos.
3.2 Avaliação psicológica
Não foi demonstrada a existência de fatores psicológicos que provoquem a SII ou que
influenciem sua instalação. A SII não é um transtorno psiquiátrico ou psicológico. No
entanto, os fatores psicológicos podem:








Incidir na persistência e percepção da severidade dos sintomas abdominais.
Contribuir ao prejuízo da qualidade de vida e uso excessivo dos serviços de saúde.
Por estas razões, é comum a SII coexistir com afecções psicológicas, como:
Ansiedade
Depressão
Somatização
Hipocondria
Medos relacionados aos sintomas
Catastrofismo
Os seguintes elementos podem servir para a avaliação objetiva das características
psicológicas:
 Escala HADS (Hospital Anxiety and Depression Scale). Questionário simples com
14 pontos que mede o nível de ansiedade e depressão.
 Teste SOC (Sense of Coherence) pode ser utilizada para identificar pacientes com
SOC baixo que respondem à terapia cognitiva comportamental.
 Teste PHQ-15 (Patient Health Questionnaire). Questionário de 15 pontos que
ajuda a identificar a presença de múltiplos sintomas somáticos (somatização). O
PHQ-15 deve ser validado no país onde será usado na prática clínica.
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SII 11
3.3 Exame físico
 O exame físico tranquiliza o paciente e ajuda a detectar possíveis causas orgânicas.
 Um exame geral é feito à procura de sinais de doença sistêmica.
 Exame abdominal:
‒ Inspeção
‒ Palpação
‒ Auscultação
 Exame da região perianal:
‒ Toque retal
3.4
Algoritmo diagnóstico da SII
Fig. 1
Algoritmo para diagnosticar a síndrome do intestino irritável (SII).
Sintomas da SII + sem características de alarme + menor de 50 anos




Não há diarreia
Baixa prevalência de
parasitose intestinal
Baixa prevalência de
doença celíaca
Alta prevalência
de doença
celíaca
Alta
prevalência
de parasitose
intestinal
Diarreia persistente




Testes simples devem ser
considerados (HC, VES,
FOBT) e/ou outros
diagnósticos segundo os
sintomas
Teste
sorológico para
doença celíaca
Exame de
fezes
Testes sorológicos
para doença celíaca*
Exames de fezes*
Colonoscopia*
Notas: VES, velocidade de eritrossedimentação; HC, hemograma completo; FOBT, teste de
sangue oculto nas fezes (mantemos a sigla inglesa).
Esofagogastroduodenoscopia e biopsia de intestino delgado à procura de enteropatia,
giardíase, e alterações associadas ao supercrescimento bacteriano no intestino delgado
(SIBO sigla em inglês) podem ser recomendadas em áreas de altos recursos e casos
selecionados.
* Onde for pertinente—isto é, onde houver alta prevalência de doença celíaca, parasitose,
doença intestinal inflamatória, ou colite linfocítica.
4
Avaliação da SII
Em geral, o diagnóstico da SII é suspeitado com base na anamnese e no exame físico
do paciente, sem testes adicionais. A confirmação do diagnóstico requer a exclusão
confiável de doença orgânica, segundo as características e formas de apresentação de
cada paciente. Em muitos casos (p. ex., pacientes jovens sem características de alarme),
é possível fazer um diagnóstico seguro baseado só em dados clínicos.
Existe uma falta de evidência sólida e de estudos prospectivos sobre o uso apropriado
da imagem radiológica em pacientes com sintomas tipo SII [5].
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4.1
SII 12
Critérios diagnósticos (Roma III)
Tabela 1
Critérios de Roma III para diagnóstico da SII
1 Início dos sintomas pelo menos 6 meses antes do diagnóstico
2 Dor ou desconforto abdominal recorrente durante > 3 dias por mês nos últimos 3 meses
3 Pelo menos duas das seguintes características:
— Melhoria com a defecação
— Associado a alterações na frequência das evacuações
— Associado a variações na forma das fezes
Una revisão sistemática (2012) dos critérios diagnósticos para SII demonstrou baixa
validez e utilização dos critérios de Roma III, e sugeriu que os critérios de Manning
foram validados mais amplamente e possam ser mais aplicáveis na clínica [6]. Hoje,
24 anos após a primeira reunião de Roma, houve várias mudanças nos critérios de
definição da SII. A próxima versão de Roma IV deveria estar disponível em 2016.
Na prática clínica, atenção primária ou consultório do especialista, o clínico em geral
baseia seu diagnóstico avaliando o paciente como um todo (frequentemente com o
passar do tempo) e considera a multiplicidade de elementos que apoiam seu diagnóstico
(além de dor e desconforto ao defecar ou alterações na frequência ou forma das fezes).
Sintomas comuns da SII e bases para o diagnóstico:
 Inchaço
 Forma anormal das fezes (duras e/ou moles)
 Frequência anormal das evacuações (< 3 vezes p/semana ou > 3 vezes p/dia)
 Esforço para defecar
 Urgência
 Sensação de evacuação incompleta
 Eliminação de muco pelo reto
Características comportamentais que ajudam a reconhecer a SII na prática geral:
 Os sintomas se mantêm durante mais de 6 meses
 O estresse agrava os sintomas
 Consultas frequentes por sintomas não gastrointestinais
 Antecedentes de sintomas anteriores sem explicação médica
 Agravamento depois das refeições
 Acompanhado de ansiedade e/ou depressão
Queixas não colônicas de consulta que acompanham frequentemente a SII:
 Dispepsia—descrita em 42–87% dos pacientes com SII
 Náuseas
 Pirose
Sintomas não gastrointestinais associados:
 Letargo, fadiga
 Dor nas costas e outras dores musculares e articulares
 Fibromialgia
 Cefaleias
 Sintomas urinários:
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


4.2
SII 13
‒ Noctúria
‒ Frequência e urgência à micção
‒ Esvaziamento incompleto da bexiga
Dispareunia, nas mulheres
Insônia
Baixa tolerância aos medicamentos em geral
Testes ou exames adicionais
Na maioria dos casos de SII, não é necessário nenhum teste ou exame adicional. Nos
casos simples de SII, e especialmente nos indivíduos mais jovens, é recomendado
fazer um esforço para manter os exames ao mínimo.
Considerar testes ou exames adicionais se aparecerem sinais de advertência
“bandeiras vermelhas”:
 Aparição dos sintomas depois dos 50 anos de idade
 Sintomas de aparição recente
 Mudanças no hábito intestinal
 Perda de peso não intencional
 Sintomas noturnos
 Histórico familiar de câncer de cólon, doença celíaca ou intestinal inflamatória
 Anemia
 Sangramento retal
 Uso recente de antibióticos
 Tumorações abdominais/retais
 Elevação de marcadores inflamatórios
 Febre
Os seguintes exames (apesar de serem frequentemente realizados) são indicados
somente se a história clínica o sugere ou onde for pertinente a nível local:
 Hemogramas completos
 Bioquímica sérica
 Estudos de função tireoidiana
 Exames de fezes à procura de sangue oculta, ovos e parasitos
Os seguintes exames ou estudos adicionais podem ser considerados se:
 O paciente tem sintomas persistentes ou segue ansioso apesar do tratamento.
 Houve uma mudança qualitativa importante nos sintomas crônicos.
 Uma nova condição coexistente deve ser considerada.
4.3
Diagnóstico diferencial
Má-absorção dos ácidos biliares


A má-absorção dos ácidos biliares (MAB) de aparição nos adultos é reconhecida
agora como causa importante de apresentação da SII tipo D. Um estudo de revisão
recente [7] achou evidência que mais de 25% dos pacientes com SII tipo D tem
má-absorção dos ácidos biliares.
Os fatores etiológicos que parecem contribuir à instalação e persistência dos
sintomas de diarreia crônica são alterações na circulação entero-hepática, trânsito
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
SII 14
intestinal acelerado, aumento do pool de ácidos biliares e níveis baixos de fator 19
de crescimento dos fibroblastos (FGF19) [8].
As ferramentas que ajudam a diagnosticar a MAB e a diferenciar da SII-D são
ensaios de concentração de ácidos biliares fecais, testes de ácido 23 selena 25
homotaurocólico (SeHCAT), e cromatografia líquida de alta eficiência para 7-αOH-4-colesten-3-ona sérica (C4)—além do uso de ensaios terapêuticos (com
agentes sequestradores de ácidos biliares colestiramina e colesevelam), e uma
maior conscientização da probabilidade de má-absorção de ácido biliar [9].
Doença celíaca
Os principais sintomas e/ou achados:
 Diarreia crônica
 Crescimento insuficiente (em crianças)
 Fadiga
 Segundo as estimativas, afeta cerca de 1% das populações indo-europeias que
ingerem trigo
 Considerar no diagnóstico diferencial em regiões de alta prevalência [10]
N.B.: Muitos pacientes com doença celíaca não têm as características clássicas e podem apresentar
sintomas “tipo SII”, inclusive inchaço e constipação, junto com ferropenia. Portanto, um limiar baixo
deve ser mantido para estudar estes casos em regiões de alta prevalência (aquelas com prevalência > 1%
na população geral).
Intolerância à lactose
Sintomas e/ou achados principais:
 Sintomas (inchaço, flatulência, diarreia) especialmente relacionados ao consumo
de leite e laticínios.
 Atualmente, a deficiência de lactase pode ser identificada com testes genéticos,
mas isso não é necessariamente preditivo de intolerância que é melhor estudada
usando o teste de hidrogênio expirado de lactose. De fato, uma proporção
significativa de indivíduos com deficiência de lactase podem tolerar a lactose oral
a pesar da fermentação bacteriana.
Em países com alta prevalência de deficiência de lactase, deve ser evitado etiquetar
inadequadamente os pacientes com SII como intolerância à lactose, a menos que
estejam consumindo grandes quantidades de leite e/ou laticínios, porque isto poderia
privar à comunidade de uma fonte nutritiva barata de proteínas e de alimentação em
países como a Índia. Em todo o mundo, a prevalência de má-absorção da lactose nos
testes expirados foi constantemente semelhante entre os indivíduos com e sem SII.
Doença intestinal inflamatória (doença de Crohn, colite ulcerativa)
Sintomas e/ou achados principais:
 Variações importantes na prevalência a nível mundial
 A diarreia tem persistido durante > 2 semanas
 Sangramento retal
 Tumoração inflamatória, perda de peso, doença perianal, febre.
 A tuberculose intersticial deve ser considerada nas áreas nas quais for endêmica,
porque sua apresentação pode ser similar à da doença intestinal inflamatória (DII):
diarreia, perda de peso, distensão abdominal e febre.
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SII 15
Carcinoma colorretal
Sintomas e/ou achados principais:
 Pacientes idosos apresentando sintomas sugestivos de SII por primeira vez
 Eliminação de sangue nas fezes
 Perda de peso não intencional
 A dor pode ser do tipo obstrutivo para as lesões do lado esquerdo
 Anemia ou ferropenia para as lesões do lado direito
Colite microcítica (linfocítica e colagenosa)




Responsável por 20% da diarreia não explicada em pacientes maiores de 70 anos
Habitualmente indolor
É mais comum em mulheres na meia idade (M: F = 1: 15)
Diagnosticada em biópsias do cólon
Diarreia aguda ou crônica devida a protozoários ou bactérias
Sintomas e/ou achados principais:
 Diarreia de instalação abrupta
 Exame de fezes ou biópsia duodenal
Uma revisão [11] recente do papel dos protozoários intestinais na SII concluiu que
“É possível que os parasitos protozoários, como Blastocystis hominis e Dientamoeba
fragilis”, intervenham na etiologia da SII.




Dientamoeba fragilis é conhecido por causar sintomas tipo SII e tender a provocar
infecções crônicas. Pode ser detectado usando a reação em cadeia de polimerase
aninhada (PCR) [12] naqueles lugares onde estiver disponível; outra alternativa é
usar a microscopia.
O papel de B. hominis como agente etiológico de SII não é concluinte, devido aos
relatórios contraditórios e a natureza controvertida de B. hominis como patógeno
humano. O papel de B. hominis pode estar relacionado ao genótipo [13].
Embora as infecções por Entamoeba histolítica ocorram predominantemente nas
regiões do mundo em desenvolvimento, o diagnóstico clínico de amebíase é
frequentemente difícil porque os sintomas dos pacientes com SII podem ser muito
parecidos aos dos pacientes com colite amebiana não disentérica.
As manifestações clínicas da infecção por Giardia intestinalis também variam de
portador assintomático para diarreia aguda e crônica com dor abdominal.
Na Índia, apesar de recomendado fazer estudos protoparasitológicos para detecção
de Giardia e Amoeba, é comum as pessoas se automedicar com imidazóis, o que
dificulta a interpretação dos resultados.
N.B.: É essencial que todos os pacientes com SII nas áreas relevantes sejam submetidos a exames
parasitológicos, para excluir a presença de protozoários parasitos. É igualmente importante interpretar
corretamente esses estudos e evitar o tratamento excessivo.
Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO)


A SIBO é rara, exceto em pacientes com transtorno primário/secundário da
motilidade, se foram operados (ressecção ileocecal ou cirurgia bariátrica) ou têm
alteração da imunidade (como deficiência da imunoglobulina A).
As características clássicas do SIBO são as mesmas da má digestão e má absorção.
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
SII 16
Alguns sintomas do SIBO (inchaço, diarreia) podem se superpor aos da SII, o que
leva a sugerir que SIBO seja comum na SII. No entanto, a ideia geral é que SIBO
não é causa frequente dos sintomas tipo SII.
Espru tropical


Espru tropical deve ser considerado em viajantes voltando do trópico com diarreia
persistente.
Os sintomas e achados histológicos do espru tropical podem ser semelhantes aos
da doença celíaca (DC). O diagnóstico de doença celíaca é improvável na ausência
de anticorpos anti-endomísio ou anti-transglutaminase tecidual, mas, por outro
lado, sua ausência aumenta a probabilidade de espru tropical [14].
Diverticulite
A relação entre SII e a denominada “doença diverticular dolorosa” não está clara; ¿Pode
ser que a doença diverticular dolorosa seja simplesmente uma SII em um paciente
portador de divertículos? Na diverticulite, os sintomas ou achados clássicos são
episódicos e podem evoluir de agudos para subagudos em um episódio, apresentando:
 Dor abdominal do lado esquerdo
 Febre
 Tumoração inflamatória dolorosa no quadrante inferior esquerdo
No entanto, atualmente é evidente que os pacientes afetados podem ter mais
sintomas crônicos entre os episódios/surtos bem definidos, e que a doença diverticular
bilateral e do lado esquerdo, mas não do lado direito, pode aumentar o risco da SII [15].
Endometriose
Sintomas e/ou achados principais:
 Dor cíclica na parte inferior do abdômen
 Ovários aumentados de volume ou gânglios dorsais ao colo uterino (toque vaginal)
Doença inflamatória pélvica
Sintomas e/ou achados principais:
 Dor crônica na parte inferior do abdômen
 Febre
 Dor à pressão ascendente ou dor nos anexos e anexos inchados (ao toque vaginal)
Câncer de ovário
Nas mulheres maiores de 40 anos, o câncer de ovário deve ser considerado no
diagnóstico diferencial. Em pesquisa realizada entre mulheres com câncer de ovário, os
sintomas mais comuns foram os seguintes:
 Aumento do volume abdominal
 Inchaço
 Urgência urinaria
 Dor pélvica
A combinação de inchaço, aumento do volume abdominal e sintomas urinários foi
encontrada em 43% das mulheres com câncer de ovário, mas somente em 8% de uma
população de controle.
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SII 17
Outras considerações para a lista de verificação diferencial

4.4
Colite associada a anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). Isso pode justificar
a diarreia em pacientes idosos recebendo tratamento indicado por neurologistas e
reumatologistas.
Comorbidade com outras doenças
Pacientes apresentando sobreposição de síndromes tendem a ter SII mais severa.
 Fibromialgia em 20–50% dos pacientes com SII (apesar de não haver evidência
disso na China, por exemplo)
 SII é comum em vários outros distúrbios crônicos dolorosos:
‒ Presente em 51% dos pacientes com síndrome de fadiga crônica
‒ Distúrbio da articulação temporomandibular: 64%
‒ Dor pélvica crônica: 50%
‒ Dispepsia não ulcerativa, discinesia biliar
Em uma metanálise, a prevalência de doença celíaca provada com biopsia resultou
ser quatro vezes maior em pacientes que preenchiam os critérios diagnósticos da SII do
que em indivíduos controle com SII [16].
Existe uma prevalência significativamente maior de constipação idiopática crônica
(CIC) em pacientes com SII. A distinção entre SII-C e CIC pode ser difícil na prática
clínica; estudos recentes questionaram a conveniência e viabilidade de criar o que
parece ser uma divisão artificial entre duas desordens gastrointestinais funcionais [17].
A prevalência de sintomas tipo refluxo gastroesofágico em pacientes com SII é quatro
vezes superior à prevalência naqueles sem SII. Existe uma sobreposição entre as duas
entidades em até 25% dos indivíduos. Quando os médicos encontrarem pacientes com
sintomas da SII, é recomendado fazer estudos de rotina à procura de sintomas de refluxo
gastroesofágico coexistente [18].
Sintomas compatíveis com SII foram descritos como significativamente superiores
em pacientes com doença intestinal inflamatória (DII) em comparação com os controles
que não apresentam essa patologia, até mesmo entre aqueles considerados em remissão.
Os sintomas tipo SII também resultaram significativamente mais frequentes em
pacientes com doença de Crohn (DC) que naqueles apresentando colite ulcerativa (CU),
e naqueles com doença ativa [19]. Claro que, o diagnóstico de SII não seria apropriado
em um paciente com DII ativa.
5
Tratamento da SII
5.1 Introdução
A figura 2 oferece um resumo geral do esquema de tratamento de pacientes com
sintomas tipo SII.
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Fig. 2
SII 18
Tratamento dos pacientes com sintomas de síndrome do intestino irritável.
Os pacientes com dor ou desconforto abdominal recorrente durante > 3 dias por mês
durante os últimos 3 meses, acompanhado de um ou mais dos seguintes:
— Alívio com a defecação
— Alterações na frequência das evacuações
— Alteração na forma das fezes
(mostrar ao paciente a Escala de Bristol da forma das fezes)
— Inchaço e/ou distensão

Verificar sinais de alarme
— Febre
— Tumoração abdominal
— Ascite
— Emagrecimento não
intencional
— Perda de apetite
— Sintomas noturnos
— Pacientes de 50 anos ou
mais
— Sangue nas fezes


Sinais de alarme não presentes

Considerar exames de laboratório (* = se apropriado)
 Hemograma completo
 Velocidade de eritrossedimentação, proteína
C reativa
 Função tireoidiana
 Sangue oculto nas fezes*
 Estudos coprológicos*
 Sorologia celíaca*
Sinais de alarme
presentes


Exames de
laboratório anormais
Exames de laboratório
normais



Investigar
Fazer diagnóstico de SII

Explicar SII ao paciente
Tratar sintomas primários
 Programar visita de
controle
 Conferir novos sintomas
 Examinar sinais de alarme
 Continuar o tratamento, se
necessário, ou modificar
N.B.: A ansiedade do paciente desempenha um papel importante, portanto, é fundamental
explicar a situação e promover tranquilidade.
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SII 19
Dado que não existe acordo geral sobre a causa da SII, não surpreende que atualmente
nenhum tratamento em particular seja considerado em todo o mundo como
universalmente aplicável no tratamento clínico de todos os pacientes com SII.
Dada a frequente associação entre sintomas da SII e fatores tais como dieta, estresse
e fatores psicológicos, deve ser prestada atenção à adoção de medidas que possam
aliviar, se não eliminar, tais precipitantes. As diferenças na dieta entre os diferentes
países e grupos étnicos poderiam ter influência significativa sobre a prevalência dos
sintomas da SII, mas há pouca informação disponível.
Dados recentes sobre os transtornos da flora intestinal (microbiota) na SII, e a
sugestão acima mencionada (controvertida) de que SIBO seja um fator, despertou o
interesse em abordagens inovadoras: probióticos, prebióticos e antibióticos.
Metanálises recentes confirmam o papel dos probióticos na SII, mas também deixam
claro que os efeitos dos probióticos nos indivíduos com SII, como em outros casos,
dependem altamente da cepa. A variabilidade e formulação das cepas específicas
variam drasticamente em todo o mundo. Por exemplo, Bifidobacterium infantis 35624,
que dispõe atualmente da melhor base de evidência sobre sua eficácia na SII, só está
disponível nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Irlanda. Os problemas de
controle de qualidade também continuam complicando as recomendações nessa área.
Os pacientes com SII recorrem muitas vezes a uma série de terapias alternativas/
complementares em todo o mundo. Na Índia (na medicina Ayurvédica) e na China, por
exemplo, existem remédios de ervas que são usadas frequentemente para a SII. No
entanto, é difícil valorar sua eficácia, porque a concentração de ingredientes ativos varia
consideravelmente dependendo do processo de extração. Poucas terapias “alternativas”
para tratamento da SII foram submetidas a ensaios clínicos aleatorizados.
Apesar de salientar limitações no delineamento dos ensaios em muitos casos, uma
revisão sistemática recente fornece evidências a favor do uso de antidepressivos (tanto
tricíclicos como serotoninérgicos) na SII.
É frequente prescindir dos fatores não farmacológicos, mas são de fundamental
importância no manejo clínico da SII. O relacionamento médico–paciente é essencial e
deveria incluir atenção aos seguintes elementos, tanto durante a avaliação inicial como
no seguimento subsequente:






Identificar e explorar as preocupações do paciente. Um relacionamento positivo
médico–paciente deve ser estabelecido, aceitando os sintomas e desconfortos do
paciente como reais.
Avaliar o impacto dos sintomas.
Analisar as ansiedades do paciente em relação aos sintomas e possíveis
diagnósticos, visando eliminar preocupações desnecessárias.
Identificar e ajudar a resolver fatores de estresse.
Redução da conduta evitativa. Os pacientes podem evitar atividades que eles
temem estejam causando os sintomas, mas a conduta evitativa influi negativamente
sobre o prognóstico
Orientações gerais sobre dieta e atividade: dieta rica em fibras (se corresponder),
horários regulares das refeições, ingestão suficiente de líquidos e atividade física
necessária pode ter (em geral) efeitos benéficos, mas não existe nenhuma prova
adequada que demonstre a influência direta dessas medidas nos resultados da SII.
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SII 20
5.2 Dieta
Dietas especializadas podem melhorar os sintomas em alguns pacientes com SII [20].
Fibras



Uma dieta rica em fibras ou formadora de volume (p. ex., psyllium) combinado
com ingestão suficiente de líquidos pareceria ser uma estratégia lógica na SII, mas
o estado geral da fibra na SII não é simples [20]. As fibras insolúveis podem
exacerbar os sintomas e aliviar pouco —podem inclusive provocar eventos
adversos, inchaço, distensão, flatulência e cãibras que podem limitar o uso da fibra
insolúvel, especialmente se a ingestão de fibras não é aumentada gradativamente.
Por outro lado, as fibras solúveis como o psyllium (ispagula), aliviam a SII [21].
Dietas em polióis e oligo-di-monossacarídeos fermentáveis (FODMAPs, sigla em
inglês) reduzem a dor abdominal e o inchaço, melhoram o padrão das fezes [21],
mas ainda não foram demonstrados resultados em longo prazo nem a segurança
das dietas baixas em FODMAP. Também, ainda não está claro se a dieta de
intervenção com baixo FODMAP é benéfica para todos os pacientes com SII [21].
Apesar de extensamente utilizadas, sobretudo na América do Norte e na Europa,
não foi demonstrada a segurança das dietas livres de trigo e de glúten na SII.
Probióticos
Alguns probióticos oferecem alívio nos sintomas gerais da SII, e outros aliviam
sintomas individuais tais como inchaço e flatulência [20,22]. No entanto, a duração
desses benefícios e a natureza das espécies mais eficazes não está clara [23]. A eficácia
dos probióticos é difícil de interpretar porque foram utilizadas diferentes cepas, doses,
formulações e métodos de entrega nos diversos estudos [21]. Além disso, a maioria dos
estudos controlados aleatorizados de probióticos em SII demonstraram ter curta
duração, não utilizaram um delineamento de estudo apropriado, e não comunicaram
adequadamente os eventos adversos [22].
Não existe, no momento, suficiente evidência para uma recomendação geral dos
prebióticos ou simbióticos em pacientes com SII [20]. Uma declaração de consenso
recente oferece orientação sobre o uso de determinados probióticos específicos para o
tratamento da SII [24].
5.3 Tratamento medicamentoso
Diversos agentes são usados a nível mundial para tratamento dos sintomas individuais
da SII:



Antiespasmódicos para a dor.
Laxantes, fibras e agentes de volume para a constipação. Lubiprostone
(2 × 8 µg/dia), um agonista dos canais de cloro, foi aprovado pela Administração
de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos para constipação crônica
e SII com predominância de constipação. Também, linaclotide, um agonista da
guanilato ciclase foi aprovado nos Estados Unidos para constipação crônica e SII
com predominância de constipação, e em vários países europeus para SII com
predominância de constipação. Ainda resta estabelecer o papel exato desses
agentes no tratamento geral da SII.
Fibra, agentes de volume e antidiarreicos para a diarreia. Muito recentemente a
rifaximina, um antibiótico de má-absorção (com posologia de 550 mg três vezes
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
SII 21
ao dia, durante 14 dias) e eluxadoline, um agonista do receptor opioide mu e um
antagonista do receptor opioide delta, foram aprovados nos Estados Unidos para
SII com predominância de diarreia.
Resinas de carvão, antiflatulentos e outros agentes para o inchaço são de uso
habitual, apesar de não haver evidências que apoiem seu uso para inchaço,
distensão e flatulência.
É importante destacar que o leque de agentes disponíveis e suas formulações variam
consideravelmente entre os países. Também, é imperativo que o médico tratante
conheça a fundo o perfil de eficácia e risco de qualquer agente a ser prescrito, sem
extrapolar evidências decorrentes de outros agentes da mesma classe ou agentes com
modalidades de ação semelhantes.
Sintomas gerais—tratamento de primeira linha


Alguns antiespasmódicos (otilônio, hioscina, cimetrópio, pinavério, diciclomina e
mebeverina) podem oferecer alívio sintomático por períodos curtos na SII. Os
eventos adversos são mais comuns com antiespasmódicos que com placebo [20].
Óleo de hortelã é superior ao placebo na melhora dos sintomas da SII [20,25]. O
risco de eventos adversos não é maior com óleo de hortelã que com placebo [20].
Sintomas gerais—terapia de segunda linha




Laxantes
Antidiarreicos
Os antidepressivos tricíclicos (TCAs) e os serotoninérgicos são mais eficazes para
aliviar os sintomas da SII [20,21,26]. Os efeitos adversos são comuns, sonolência
e vertigem os mais frequentes [26], e podem limitar a tolerância dos pacientes [20].
ADTs são associados com importantes efeitos adversos no tratamento da SII-D e
deveriam ser evitados na SII-C; os clínicos deveriam esperar um efeito adverso por
cada três pacientes que se beneficiam do tratamento [27].
Os serotoninérgicos podem ser considerados em casos de SII-C resistente, embora
atualmente não seja recomendada sua indicação rotineira para a SII-C em pacientes
com afecções psiquiátricas comórbidas, por causa dos dados conflitantes e
limitados quanto à eficácia, segurança e resultados a longo prazo [28].
Sintomas gerais—outras opções terapêuticas



Rifaximina é eficaz para a melhora global dos sintomas na SII-D [20,29]. Pode ser
considerada como terapia em segunda linha [21]. Pacientes idosos e mulheres
tiveram as taxas mais altas de resposta [29]. Ela é bem tolerada [30], mas sua
eficácia e segurança não foram estabelecidas além das 16 semanas [29]. Entretanto,
recentemente foi comunicada a eficácia e segurança da repetição do tratamento
[31]. Também foi comunicado que, por cada efeito adverso, tem 846 pacientes que
se beneficiam [27].
Alosetron é útil para a terapia de segunda linha da SII-D [20,21]. Porém, foi
associado com aumento do risco de colite isquêmica e pode provocar constipação
severa [21]. Os clínicos deveriam esperar um efeito adverso em cada três pacientes
que se beneficiem do tratamento [27].
Lubiprostone é seguro e eficaz no tratamento da SII-C [20,27]. Seu maior efeito
colateral são as náuseas, e isso limita seu uso.
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





SII 22
Linaclotide é eficaz e seguro no tratamento da SII-C [20,32,33]. A diarreia é seu
principal efeito adverso; ainda são necessários mais estudos para avaliar sua
eficácia e segurança a longo prazo [33].
Existe evidência insuficiente para recomendar o uso de loperamida na SII [20].
Os agonistas de 5-HT4 e antagonistas de 5-HT3 mistos não são mais eficazes que
placebo para melhorar os sintomas da SII-C [20].
Nem a renzaprida nem a cisaprida oferecem benefícios na SII [34].
Não existem evidências de que o polietilenglicol (PEG) melhore os sintomas gerais
nos pacientes com SII, mas poderia aliviar a constipação [20].
Ondansetron melhorou a sensação de urgência, diarreia e inchaço na SII-D, mas
não aliviou a dor. Ramosetron, se disponível, também deveria ser considerado
como terapia de segunda linha na SII-D; além disso, tem demonstrado ser eficaz
na SII-D e parece estar desprovido de efeitos adversos graves tais como
constipação severa e colite isquêmica [21].
Sintomas específicos—dor







Se for necessário um analgésico, é preferível o paracetamol antes que os antiinflamatórios não esteroides (AINEs). Opiáceos devem ser evitados a todo custo,
porque a dependência e adição constituem um alto risco nessa afecção crônica.
AINEs e opiáceos também apresentam efeitos colaterais indesejáveis sobre o tubo
digestivo.
A cepa probiótica Bifidobacterium infantis 35624 (uma cápsula por dia) tem
demonstrado reduzir dor, inchaço e dificuldade na defecação, além de normalizar
o trânsito intestinal nos pacientes com SII, independentemente do hábito
predominante; mas atualmente está disponível somente nos Estados Unidos, Reino
Unido e Irlanda.
Antiespasmódicos:
‒ A biodisponibilidade de compostos varia tremendamente em todo o mundo.
‒ Os antiespasmódicos, inclusive o óleo de hortelã, são ainda considerados
tratamento de primeira linha para a dor abdominal nos pacientes com SII [21].
Antidepressivos tricíclicos—por exemplo:
‒ Amitriptilina, com dose inicial de 10 mg/dia; dose alvo: 25–50 mg/dia, ao
deitar.
‒ Desipramina, dose inicial 50 mg/dia; dose alvo: 100–150 mg/dia, ao deitar.
‒ Esta medicação tende a ser constipante e deve ser evitada nos pacientes já
constipados
Inibidores seletivos de recaptação da serotonina (serotoninérgicos) —por exemplo:
‒ Paroxetina, 10–60 mg/dia.
‒ Citalopram, 5–20 mg/dia.
Linaclotide reduz a dor abdominal na SII-C [21].
Não existem evidências de que PEG melhore a dor [20], mas melhora os sintomas
relacionados à constipação nos pacientes com SII-C.
Sintomas específicos—constipação

Para comentários sobre dieta rica em fibras ou formadora de volume, ver a seção
5.2 acima.
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



SII 23
A cepa probiótica Bifidobacterium lactis DN-173010 tem demonstrado acelerar o
trânsito gastrointestinal e aumentar a frequência das evacuações nos pacientes com
SII com constipação.
Laxantes osmóticos são frequentemente úteis; poucos foram testados formalmente
na SII.
Lubiprostone:
‒ Para tratamento da SII com constipação em mulheres de 18 anos e mais.
‒ Tomar duas vezes ao dia em dose de 8-µg com alimentos e água.
‒ Melhora padrão das fezes em pacientes com SII-C resistentes aos laxantes [21].
Linaclotide:
‒ Para tratamento da SII com constipação em mulheres de 18 anos e mais.
‒ Tomar uma vez ao dia em dose de 290 µg 30 minutos antes dos alimentos.
Sintomas específicos—diarreia



Loperamida (2 mg todas as manhãs ou duas vezes ao dia) não é mais eficaz que
placebo para reduzir dor, inchaço e sintomas gerais da SII, mas é um agente eficaz
para tratamento da diarreia, reduzindo a frequência das evacuações e melhorando
sua consistência. Dada a falta de efeitos sobre a dor - o sintoma cardinal da SII existe evidência insuficiente para recomendar o uso da loperamida na SII [20].
Alosetron, um antagonista do receptor de 5-hidroxitriptamina-3 (5-HT3):
‒ Indicado só em mulheres com SII-D severa, com sintomas durante > de
6 meses e que não respondem aos agentes antidiarreicos. Rara vez pode
provocar colite isquêmica.
Eluxadoline e rifaximina foram aprovados recentemente nos Estados Unidos para
tratamento da SII-D; nesta etapa precoce é difícil definir sua posição no tratamento
da SII.
Sintomas específicos—inchaço e distensão




A dietas que produzem menos gases, como a dieta FODMAP baixa, podem ser de
ajuda em alguns pacientes.
Não existe evidência que apoie o uso de produtos contendo carvão ativado,
“antiflatulentos”, simeticona e outros agentes na SII.
Probióticos: alguns ensaios clínicos mostraram a eficácia de algumas cepas
específicas, tais como Bifidobacterium lactis DN-173010 e coquetel probiótico
VSL#3, para inchaço, distensão e flatulência. Outros, como Bifidobacterium
infantis 35624, reduzem o inchaço e outros sintomas importantes da SII.
O tratamento antibiótico com rifaximina 3 × 550 mg/dia tem demonstrado reduzir
o inchaço em alguns pacientes com SII. Nos países onde não estiver disponível a
preparação de 550 mg, usar 3 × 400 mg/dia. Pacientes idosos e mulheres têm
mostrado as taxas de resposta mais elevadas [29]. A rifaximina é bem tolerada e
agora foi demonstrado que é segura e eficaz retratar os pacientes que recaíram
depois de um primeiro tratamento efetivo [31].
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5.4
SII 24
Tratamento psicológico e outros tratamentos
Recomendações não farmacológicas gerais





Fale com o paciente sobre suas ansiedades. Isso reduz as queixas; aponte a eliminar
preocupações desnecessárias.
Procure reduzir a conduta evitativa. O paciente pode evitar atividades que receia
estejam causando os sintomas, mas a conduta evitativa tem influência negativa
sobre o prognóstico.
Fale com o paciente sobre o medo ao câncer.
Analise com o paciente e procure resolver os fatores estressantes.
Os horários regulares das refeições, a ingestão suficiente de líquidos e uma
atividade física necessária podem ter efeitos benéficos (gerais), mas não existe
nenhuma prova adequada que demonstre a influência direta dessas medidas na SII.
Intervenções psicológicas
Além das abordagens gerais acima descritas para guiar a conduta do relacionamento
médico-paciente na SII, intervenções psicológicas mais formais podem ser
consideradas em certas circunstâncias e dependendo da disponibilidade de recursos e
perícia apropriados. Essas abordagens podem incluir:


Terapia cognitiva comportamental (TCC), em sessões em grupo ou individuais. A
TCC tem demonstrado excelentes resultados, mas sua disponibilidade é limitada e
sua natureza intensiva limita seu uso rotineiro [21,26]. Técnicas comportamentais
que procuram modificar as condutas disfuncionais através de:
‒ Técnicas de relaxamento
‒ Manejo das contingências (recompensando o comportamento saudável)
‒ Treinamento assertivo
Hipnose: A hipnose dirigida ao trato digestivo deve ser recomendada para
pacientes com SII refratário ao tratamento (medicamentoso) convencional [35].
Possui níveis de segurança e tolerabilidade altos, e existem evidências de eficácia
sustentada, ao contrário do tratamento medicamentoso [35]. Deveria ser oferecido
através de hipnoterapeutas autorizados com treinamento de especialista na técnica
[35]. Terapia de grupo é mais eficiente, em termos de tempo, que terapia individual
e, no mínimo, igualmente eficaz [35]. A prática diária com os pacientes, apoiada
por gravações de áudio, reforça a eficácia; capacitação e experiências devem ser
analisadas regularmente com os pacientes [35]. No entanto, existe evidência
limitada de ensaios controlados aleatorizados (ECAs). São necessários ECAs
futuros que empreguem critérios diagnósticos rigorosos, com períodos de
seguimento mínimo de 1 ano, e com pacientes de diagnóstico recente e resistentes
ao tratamento [36]. O uso rotineiro da hipnoterapia é limitado porque não é fácil
conseguir profissionais com essa capacidade e pelo trabalho intensivo requerido
por esse tipo de terapia [21].
A Força Tarefa do Colégio Americano de Gastroenterologia (ACG) [37] concluiu que
as terapias psicológicas, incluindo a terapia cognitiva, a psicoterapia dinâmica e a
hipnoterapia são mais eficazes que os tratamentos habituais no alívio geral dos sintomas
da SII, mas não assim a terapia de relaxamento. No entanto, Ford e col. [20] acharam
que a qualidade da evidência era muito baixa e que os resultados eram apenas
ligeiramente superiores aos cuidados habituais ou controle em lista de espera. Com a
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exceção de um único estudo, estas terapias não demonstraram ser superiores a placebo.
A sustentabilidade do seu efeito é questionável.
No tocante às terapias com ervas e acupuntura, a Força Tarefa do ACG estudou os
ensaios controlados aleatorizados disponíveis, analisando misturas de ervas chinesas
específicas, concluindo que os resultados pareciam mostrar um benefício. Não foi
possível combinar esses estudos em uma metanálise significativa; em termos gerais,
continua a confusão a respeito dos benefícios da terapia com ervas chinesas na SII,
devido à variabilidade e pureza dos componentes utilizados. Existem também
importantes preocupações sobre a toxicidade, especialmente insuficiência hepática,
pelo uso de qualquer mistura de ervas chinesas. Uma revisão sistemática dos ensaios
sobre a acupuntura não resultou concluinte devido à heterogeneidade dos resultados.
Antes de poder realizar qualquer recomendação sobre acupuntura ou terapia com ervas
é necessário aprofundar a pesquisa.
5.5 Prognóstico
Para a maioria dos pacientes com SII, é provável que os sintomas persistam, mas não
que piorem. Os sintomas se deterioram em menor proporção, e alguns pacientes se
recuperam completamente.
Fatores que podem afetar negativamente o prognóstico:
 Comportamento evitativo relacionado aos sintomas da SII
 Ansiedade sobre certas afecções médicas
 Função alterada como resultado dos sintomas
 Longa historia de sintomas da SII
 Estresse vital crônico em curso
 Comorbidade psiquiátrica
Abordagens do médico que podem afetar positivamente o resultado do tratamento:
 Reconhecimento da doença
 Educação do paciente sobre a SII
 Tranquilização do paciente
5.6 Seguimento
Nos casos leves, geralmente não existe necessidade de fazer consultas de seguimento
no longo prazo, a menos que:
 Os sintomas persistam, com inconveniência ou disfunção consideráveis.
 O paciente esteja seriamente preocupado sobre sua afecção.
 Diarreia persistente > 2 semanas.
 A constipação persista e não responda ao tratamento.
 Apareçam sinais de advertência de possível doença gastrointestinal grave com:
‒ Sangramento retal
‒ Anemia
‒ Perda de peso não intencional
‒ Antecedentes familiares de câncer de cólon
‒ Febre
‒ Mudança importante dos sintomas
 Cuidado com a aparição de transtornos da alimentação:
‒ A maioria dos pacientes com SII tentam manipular a dieta.
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‒
‒
6
SII 26
Isso pode levar a dietas nutricionalmente inadequadas ou ingestão de
quantidades anormais de fruta, cafeína, laticínios e fibra dietética.
A tendência a apresentar transtornos da alimentação é mais comum nos
pacientes com SII do sexo feminino.
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