Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e Inovação Publicação Diagnóstico dos desafios e oportunidades no mercado de Plantas Medicinais e Fitoterápicos brasileiro Ação: Amazônia e Biodiversidade Sub-ação: Uso Sustentável dos Princípios Ativos da Biodiversidade (Tecnologias Críticas e Marco Legal) Instituição Responsável: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE Equipe do CGEE Direção e Supervisão: Marcio de Miranda Santos Liderança: Mayra Juruá Gomes de Oliveira Assessoria: Carmem Silvia Corrêa Bueno e Antônia de Jesus Ângulo Tuesta Equipe Técnica Resp.Técnico: Lia Hasenclever Equipe: Adelaide Antunes Helena Klein Flavia Mendes Rodrigo Lopes Daniel Hoefle Luiza Lins de Castro Laura Donati Thiago Cacicedo Rodrigo Cartaxo Andressa Gusmão Paola Galera Setembro, 2009 1 Resumo: Estudo aprofundado dos potenciais competitivos do setor de fitoterápicos, destacando oportunidades e obstáculos ao seu pleno desenvolvimento. Foram realizadas pesquisas sobre os registros, as empresas, o comércio exterior, as patentes e os estudos acadêmicos, a partir de uma lista de plantas medicinais construída considerando três listas de espécies vegetais que são utilizadas como princípios ativos para esses medicamentos: Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse do Sistema Único de Saúde (RENISUS), a Instrução Normativa n.5/2008 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a lista de espécies vegetais com registros de fitoterápicos simples presentes em Carvalho et al. (2008). Finalmente contém também reflexões e propostas para superar obstáculos à competitividade, orientando desta forma políticas públicas nacionais e estaduais de fomento. Palavras Chave: mercado de plantas medicinais e fitoterápicos, comércio exterior, patentes, publicações científicas, políticas públicas René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 2 ÍNDICE Introdução ............................................................................................................................. 7 I - Evolução, Estrutura e Competitividade do Setor de Fitoterápicos no Mundo .......... 9 1.1 - A cadeia produtiva de fitoterápicos .................................................................... 10 1.2 - Empresas líderes e suas estratégias .................................................................... 14 1.3 - Oportunidades tecnológicas que viabilizaram a indústria de fitoterápicos ........ 15 1.4 - A atividade de pesquisa e desenvolvimento como o principal fator de competitividade do setor............................................................................................. 17 1.5 - Novos produtos fitoterápicos e suas vantagens e desvantagens em relação aos seus substitutos da indústria farmacêutica .................................................................. 18 1.6 - Evolução dos padrões de concorrência da indústria de fitoterápicos e semelhanças com a indústria farmacêutica de síntese química .................................. 20 1.7 – Padrões de concorrência e fatores determinantes da competitividade .............. 21 II - Evolução, Estrutura e Competitividade do Setor de Fitoterápicos no Brasil......... 23 2.1 - A regulamentação atual da indústria de fitoterápicos brasileira ........................ 26 2.1.1 - Estratégias empresariais de adequação às novas exigências de regulamentação ....................................................................................................... 30 2.1.2 – Reações da ANVISA às demandas da indústria ......................................... 31 2. 2 - O mercado brasileiro de fitoterápicos ............................................................... 33 2.2.1 – Resultados observados................................................................................ 40 2.2.2 – Evidências da evolução do mercado ........................................................... 51 2.2.3 – Um retrato das empresas líderes e das inovadoras no mercado ................. 56 2.3 – Os padrões de comércio ..................................................................................... 59 2.3.1 - Análise dos dados de comércio exterior (importação, exportação e balança comercial) ............................................................................................................... 68 2.3.2 – Considerações finais ................................................................................... 75 2.4 – Os padrões de tecnologia ................................................................................... 77 2.4.1 - Resultados ................................................................................................... 79 2.4.1.1 - Patentes de uso medicinal e medicamentos (Grupo 1) ......................... 80 2.4.1.2 – Patentes de cosméticos, cosmecêuticos, alimentos funcionais, suplementos alimentares e higiene pessoal (Grupo 2)........................................ 83 2.5 - Usos Sustentáveis dos Princípios Ativos da Biodiversidade: marco legal, estudos e tecnologias críticas ................................................................................................... 86 2.5.1 - Ambiente legal da P&D, autorizações, contratos e anuência prévia ........... 90 2.5.2. Estado da arte da P&D dos estudos em plantas medicinais ......................... 96 2.5.2.1. Resultados.............................................................................................. 97 2.5.2.2. Considerações finais ............................................................................ 101 2.6. Estado da arte da P&D em fitofármacos e fitoterápicos .................................... 104 René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 3 III - Desafios e oportunidades para o desenvolvimento e o incremento da competitividade do setor de fitoterápicos no Brasil ...................................................... 107 3.1. Quadro de políticas na segunda metade da década de 2000 .............................. 109 3.2. Diagnóstico dos principais desafios e oportunidades da cadeia produtiva das plantas medicinais e fitoterápicos ............................................................................. 116 3.3 – Proposta de agenda de ações ........................................................................... 125 Bibliografia ........................................................................................................................ 132 ANEXOS ........................................................................................................................... 139 Anexo de Espécies vegetais ...................................................................................... 140 Anexo Questionário .................................................................................................. 147 René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 4 FIGURAS Figura 1 - Cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos ....................................... 12 Figura 2 - Curva de risco no processo de desenvolvimento e investimento de um medicamento fitoterápico ..................................................................................................... 18 Figura 3 - Esqueleto normativo para o registro de medicamentos fitoterápicos .................. 27 Figura 4 - Distribuição das empresas por unidade da Federação ......................................... 41 Figura 5 – Fusões e aquisições no mercado de fitoterápicos, 1994 a 2008 .......................... 48 Figura 6 - Mapa das instituições públicas credenciadas junto ao CGEN como fiéis depositárias ........................................................................................................................... 94 Figura 7 - Mapa dos biomas brasileiros ............................................................................. 102 GRÁFICOS Gráfico 1 - Número de pedidos de depósitos de patentes do Grupo 1 por país de prioridade, 1998-2008 .......................................................................................................... 81 Gráfico 2 - Número de patentes do Grupo 1 depositadas por ano no Brasil, 1998-2008 ..... 83 Gráfico 3 - Número de pedidos de depósitos de patentes do Grupo 2 por país de prioridade, 1998-2008 .......................................................................................................... 84 Gráfico 4 - Número de patentes do Grupo 2 depositadas, por ano, no Brasil , 1998-2008 .. 86 Gráfico 5 – Espécies botânicas com mais de 7 citações na literatura, 2004-2009 ............... 98 Gráfico 6 – Famílias botânicas com mais de 19 citações na literatura, 2004-2009 ............. 99 Gráfico 7 – Atividades biológicas com mais de 13 citações, 2004-2009 ........................... 100 Gráfico 8 – Produção científica das instituições com mais de 15 publicações, 2004-2009100 QUADROS Quadro 1 – Descrição dos capítulos selecionados para estudo ............................................ 59 Quadro 2 - Plantas e seus usos na medicina popular ............................................................ 89 Quadro 3 – Resumo do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos .......... 111 Quadro 4 - Oportunidades, gargalos, inovações e proposta de ações para os produtos já existentes ............................................................................................................................ 126 Quadro 5 - Oportunidades, gargalos, inovações e proposta de ações para os produtos novos................................................................................................................................... 129 René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 5 TABELAS Tabela 1 - Comparação das exigências técnicas de registro de medicamentos fitoterápicos e alopáticos regulamentadas pela ANVISA .................................................... 30 Tabela 2 - Mercado de fitoterápicos, quantidade (mil un.) e faturamento (R$ mil) 20052007 ...................................................................................................................................... 34 Tabela 3 - Registros segundo datas de vencimento, 2009 .................................................... 38 Tabela 4 - Resumo comparativo das bases de empresas ...................................................... 39 Tabela 5 - Representatividade das bases de dados, 2008 ..................................................... 40 Tabela 6 - As maiores empresas por faturamento em fitoterápicos, 2008 ........................... 42 Tabela 7 - Grau de concentração, 2008 ................................................................................ 43 Tabela 8 – Colocação dos produtos líderes, por faturamento, classes terapêuticas, princípio ativo, espécies vegetais, 2008 ............................................................................... 45 Tabela 9 - Colocação das maiores Empresas, por faturamento, no mercado de fitoterápicos, 1994, 2000, 2006 e 2008 ................................................................................ 52 Tabela 10 - Colocação dos produtos líderes, por faturamento, no mercado de fitoterápicos, 1994, 2000, 2006 e 2008 ................................................................................ 54 Tabela 11 - Ranking de empresas de fitoterápicos por número de registros, 2009 .............. 56 Tabela 12 - Características das empresas líderes no mercado de fitoterápicos, 2008 .......... 57 Tabela 13 - Retrospectiva da importação de produtos fitoterápicos por capítulos e itens NCM, 2004-2008 .................................................................................................................. 61 Tabela 14 - Retrospectiva da exportação de produtos fitoterápicos por capítulos e itens NCM, 2004-2008 .................................................................................................................. 63 Tabela 15 - Retrospectiva do saldo comercial de produtos fitoterápicos por capítulos e itens NCM, 2004-2008 ......................................................................................................... 66 Tabela 16 - Variação da importação, exportação e saldo comercial dos produtos fitoterápicos por capítulos e itens NCM, 2004-2008 ............................................................ 69 Tabela 17 - Resumo da busca de patentes referentes a plantas medicinais de interesse depositadas no Brasil no período de 1998 a 2008 ................................................................ 80 Tabela 18 - Depositantes de patentes do Grupo 1 com mais de 2 patentes depositadas no Brasil, 1998-2008 ................................................................................................................. 82 Tabela 19 - Patentes do Grupo 1, segundo a finalidade, 1998-2008 .................................... 83 René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 6 Tabela 20 - Depositantes de patentes do Grupo 2 com mais de 2 patentes depositadas no Brasil, 1998-2008 ................................................................................................................. 85 Tabela 21 - Patentes do Grupo 2, por área, 1998-2008 ........................................................ 86 Tabela 22 – Número de citações por bioma ......................................................................... 99 Tabela 23 - Número de trabalhos por autor ........................................................................ 101 Tabela 24. Classificação dos estudos por grau de contribuição para o desenvolvimento de produtos fitoterápicos .................................................................................................... 106 René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 7 Introdução Este estudo apresenta os resultados das pesquisas realizadas pelos Projetos Diagnóstico dos Desafios e Oportunidades no Mercado de Fitoterápicos Brasileiro e Mapeamento de Competências em fitoterápicos no Brasil, partes integrantes da subação Uso Sustentável dos Princípios Ativos da Biodiversidade (Tecnologias Críticas e Marco Legal), do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. As pesquisas, realizadas a partir de leitura da literatura e de conversas com especialistas sobre o tema mercado de plantas medicinais e fitoterápicos teve como principal objetivo realizar um diagnóstico dos desafios e oportunidades no mercado de plantas medicinais e fitoterápicos. Elegeram-se os seguintes objetos de pesquisa: empresas, registros, comércio exterior, patentes e estudos acadêmicos. Espera-se contribuir para uma melhor compreensão do mercado é apresentar um estudo aprofundado dos potenciais competitivos do setor, destacando oportunidades e obstáculos ao seu pleno desenvolvimento, seguido de reflexões e propostas para superar entraves à competitividade. Desta forma, espera-se contribuir para a formulação de políticas públicas de fomento capazes de dinamizar o setor. A metodologia de pesquisa tomou o modelo estrutura, conduta, desempenho (Modelo ECD) como ferramenta de análise para o estudo da competitividade do setor1. O corte metodológico adotado para definir a abrangência empírica da pesquisa, tanto das empresas, quanto do comércio exterior de mercadorias e da situação das patentes, foi a existência de registros na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) dos produtos e suas matérias primas, precondição para eles serem produzidos e vendidos (no mercado interno ou no mercado externo). O intervalo de tempo considerado para o registro foi entre 2004 e 2008, período em que a atual regulamentação para registro já se encontrava vigente (Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA- RDC - n. 48 de 2004). O levantamento inicial dos registros de fitoterápicos tomou como base uma lista de espécies vegetais, elaborada a partir de outras três listas: Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse do Sistema Único de Saúde (RENISUS), a Instrução Normativa n.5/2008 da ANVISA e a lista de espécies vegetais com registros de fitoterápicos simples presente em Carvalho et al. (2008). 1 Para maiores detalhes sobre o método consultar Kupfer e Hasenclever (2002). René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 8 Em relação ao comércio exterior, pesquisou-se o valor em US$ Free on Board (FOB), as quantidades (quilos) e a origem das importações nos seguintes capítulos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM): os capítulos 12 (sementes e frutas); 13 (gomas e sucos), 15 (gorduras, ceras, e óleos animais ou vegetais), 29 (química orgânica), 30 (medicamentos), para o ano de 2008, na base de dados da Aliceweb. Posteriormente, buscou-se inspecionar o comportamento dessas importações para os anos anteriores (2004-2007), assim como o das exportações para as mesmas espécies importadas no período 2004-2008. A partir da Classificação Internacional de Patentes (CIP), no campo tecnológico A61K, relativo à fitoterápicos, levantaram-se as patentes depositadas no Brasil das plantas medicinais com registro, no ano de 2008, nas bases do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Considerou-se que o mercado relevante para o depósito da patente é o brasileiro. Essa investigação levou em conta as seguintes variáveis: principais depositantes (inventores ou empresas), origem do depositante e áreas de competências. Com relação aos estudos acadêmicos, as fontes utilizadas foram os periódicos relacionados na página da internet da Sociedade Brasileira de Química2 (SBQ), Divisão de Produtos Naturais, cuja grande maioria possui fator de impacto no Journal Citation Report (JCR) e abreviatura no Institute for Scientific Information (ISI). Todos os volumes dos periódicos, do período de 2004 a 2009, foram analisados, tendo os abstracts de interesse, sido incorporados ao Banco de Dados. A escolha dos periódicos se baseou nos seguintes critérios: foram identificados os principais periódicos relacionados pela Divisão de Produtos Naturais da SBQ, relacionados à química de produtos naturais e demais áreas correlatas (química, biologia, farmacologia, botânica e agricultura), ou seja, aqueles onde artigos relacionados a produtos naturais também são publicados. Além disso, foram considerados os fatores de impacto publicados no JCR, 2008. A SBQ congrega a grande massa de cientistas do país envolvidos em pesquisas em química e sua divisão de Produtos Naturais foca basicamente estudo de plantas envolvendo, entre outras, atividades biológicas. O estudo está estruturado em três capítulos, e várias seções, a saber: 2 (i) Evolução, estrutura e competitividade do setor de fitoterápicos no mundo; (ii) Evolução, estrutura e competitividade do setor de fitoterápicos no Brasil; http://www.sbq.org.br/divisoes.php René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 9 (iii) Desafios e oportunidades para o desenvolvimento e o incremento da competitividade do setor de fitoterápicos no Brasil. A pesquisa desenvolveu-se sem problemas específicos que mereçam registro e possibilitou o desenho de uma agenda concreta para o planejamento científico e tecnológico capazes de fomentar a inovação e a indústria, a partir do uso da biodiversidade. Esta é uma contribuição original e relevante, pois não se deve desconsiderar uma característica particular brasileira que é a necessidade de se juntar a ponta dos conhecimentos científicos, disponível principalmente nas universidades, com a ponta do mercado. Hoje o mercado encontra-se mais ligado ao conhecimento vindo do exterior, através de importação, do que aproveitando a riqueza da biodiversidade brasileira e os conhecimentos científicos sobre essa biodiversidade para inovar e produzir no Brasil. Registra-se a importância dos contatos com a ANVISA, através de Ana Cecília Carvalho e Luis Milton, respectivamente Coordenadora da Coordenação de Fitoterápicos e Dinamizados (COFID) e Secretário Executivo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), a quem agradecemos pela colaboração essencial para a consolidação da lista de registro de medicamentos e a obtenção de dados econômicos sobre o comércio varejista de medicamentos no Brasil. Merece destaque também a atuação da equipe do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), especialmente à Mayra Juruá e a contribuição de Luciano de Araújo Ferreira, responsável pala modelagem do Banco de Dados. A equipe agradece ao Alexandre Vasconcellos, do INPI, à Fernanda Silva, do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), à Dra. Mara Silvia Pinheiro Arruda, da Faculdade de Química, do Instituto de Ciências Exatas e Naturais, da Universidade Federal do Pará, ao Adriano Santos Constante, pelo apoio e suporte em várias áreas temáticas e a todos que colaboraram na realização desse estudo. I - Evolução, Estrutura e Competitividade do Setor de Fitoterápicos no Mundo A expansão da demanda por medicamentos à base de plantas vem crescendo mundialmente. Nos países desenvolvidos, a principal motivação apontada pela literatura é dispor de alternativa mais saudável ou menos agressiva de tratamento primário à saúde frente às evidências dos efeitos colaterais dos medicamentos sintéticos; e nos países em desenvolvimento, dispor de uma alternativa à dificuldade de acesso aos medicamentos farmoquímicos, devido aos preços mais elevados desses quando René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 10 comparados com os fitoterápicos. O mercado mundial para terapias à base de plantas medicinais movimentou na Europa e nos Estados Unidos US$ 8,5 e US$ 6,3 bilhões, respectivamente (Simões e Schenckel, 2002), totalizando US$ 22 bilhões. Considerando-se o mercado mundial mais amplo de suplementos alimentares e fitoterápicos, Funari e Ferro (2005) mostram que esse valor era de US$ 50,6 bilhões, em 2002. As oportunidades tecnológicas a partir dos desenvolvimentos recentes nas áreas de biotecnologia e nas técnicas de screening, utilizadas na pesquisa de novas moléculas ativas, são crescentes e explicam, em parte, o crescente interesse no mercado de plantas medicinais. Os avanços ocorridos nestas áreas científicas permitiram o desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos com reconhecida eficácia e segurança, fator culturalmente relevante para a adesão às fitoterapias. A indústria de fitoterápicos é um segmento da indústria farmacêutica e, como esta, é também fortemente internacionalizada. As maiores empresas estão presentes em praticamente todos os principais mercados. No entanto, elas não realizam atividades produtivas em todos eles, limitando-se muitas vezes a comercializarem seus produtos através de exportação da empresa matriz. O grau de internacionalização tem aumentado muito, a partir da década de 1990, em função das diferentes taxas de crescimento dos distintos mercados farmacêuticos. Segundo o IMS Health (2009), enquanto os países desenvolvidos têm apresentado uma taxa de crescimento inferior a 4%, os países emergentes apresentam taxas de crescimento superiores a 9%. Este desequilíbrio entre as taxas de crescimentos anuais dos mercados farmacêuticos aumenta a probabilidade das empresas líderes se interessarem pelos países emergentes, com mais oportunidades de crescimento, ampliando a internacionalização das empresas. Em particular no caso brasileiro, um dos quatro principais países emergentes, o interesse das empresas pode também estar motivado pela presença de uma enorme biodiversidade nos vários biomas do Brasil. 1.1 - A cadeia produtiva de fitoterápicos A cadeia produtiva dos fitoterápicos estende-se da produção agrícola à produção industrial e sua comercialização, conforme Figura 1 abaixo. Por esta razão muitas vezes o setor é conhecido como setor de plantas medicinais e fitoterápicos. O primeiro elo da cadeia é composto pelo setor agrícola, onde são organizados os processos de cultivo, colheita e secagem da planta medicinal. Estas tarefas podem ser realizadas de forma tradicional na agricultura familiar, como é praticada nos países em desenvolvimento, ou René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 11 de forma altamente moderna com o emprego de técnicas biotecnológicas de cultivo e técnicas de manejo agrícola, como é praticada nos países desenvolvidos. O segundo elo da cadeia é representado pelas empresas distribuidoras de insumos. Essas empresas são responsáveis por uma série de processos de acondicionamento, de controle de qualidade e de distribuição do produto agrícola. Entre eles destacam-se o armazenamento, limpeza e preparo do produto, controle de qualidade, embalagem e transporte. A tarefa com maior conteúdo tecnológico desse elo e que garante tanto a qualidade quanto a rastreabilidade das matérias primas é o controle de qualidade que envolve análise de umidade da planta e realização de vários testes a partir de uma amostra significativa do produto tais como identificação de propriedades organolépticas (cor, sabor e odor), de materiais estranhos, de presença de grupos fitoquímicos, de qualidade cromatográfica, de quantidade por espectrofotometria e de microorganismos. Os destinos dos produtos das empresas distribuidoras são vários setores industriais (alimentício, de bebidas, cosmético, farmacêutico), além do setor produtor de fitoterápicos. As distribuidoras podem atender também aos setores de comércio (farmácias de manipulação e dispensação) e ao setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D), localizado nas universidades e nos centros de pesquisa ou nas próprias empresas que usam as plantas medicinais. O terceiro elo é composto pelas atividades de P&D, que podem estar fora das empresas dos diferentes setores ou incorporado nas próprias empresas. Um maior detalhamento destas atividades será feito adiante. Também faz parte desse elo da cadeia produtiva de fitoterápicos a produção ou fase industrial. A produção pode ser verticalizada ou não, envolvendo a transformação da planta medicinal em extrato e posterior formulação do fitoterápico, no primeiro caso. A atividade de produção de um fitoterápico precisa garantir preservação da integridade química e farmacológica de seus princípios ativos sendo, portanto, dependente de estudos botânicos, agronômicos, fitoquímicos, farmacológicos, toxicológicos e desenvolvimento de metodologias analíticas e tecnológicas. Entre as indústrias atuando nessa fase da cadeia produtiva, podem encontrar-se, além da indústria de fitoterápicos, as de extratos (fluidos, secos, moles, e glicólicos) as indústrias de cosméticos e essências (aromas e óleos essenciais), a indústria de alimentos e bebidas. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 12 Figura 1 - Cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos Produção Agrícola Cultivo Colheita Secagem Distribuição de insumos Embalagem e transporte Controle de qualidade Armazenamento, limpeza e preparo do produto P&D e Produção Industrial P&D (Empresas, Universidades e/ou Inst. de pesquisa) Comercialização Farmácias de Manipulação (produção e venda) Farmácias de dispensação Indústria de extratos vegetais Indústria de medicamentos fitoterápicos Compras públicas Fonte: Elaboração própria Finalmente o quarto e último elo da cadeia produtiva é a etapa da comercialização. Entre as principais empresas que nele atuam estão: as farmácias de manipulação que agregam ainda uma etapa de manufatura ao produto, formulando-o e as empresas de dispensação (farmácias), que vendem o produto tal como entregue pelos elos distribuidor e industrial, ou apenas o fracionam, agregando apenas o valor da embalagem. As compras públicas são também partes importantes do elo de comercialização, uma vez que atendem diretamente ao sistema público de saúde. A descrição da cadeia produtiva acima deixa clara a importância da tecnologia para vários elos dessa cadeia, desde o rigoroso controle de qualidade na produção agrícola, passando pelo controle de qualidade da preparação desse produto, regulamentação da das atividades de P&D e regras de boas práticas de manufatura e registro do produto. As empresas que não dominarem essas tecnologias dificilmente terão condições de atuarem nestes mercados. A barreira decorrente de aspectos tecnológicos torna-se maior ainda no segmento de produtos que se encontram protegidos por patentes, garantindo às empresas proprietárias apropriabilidade desse conhecimento e sustentabilidade em relação à concorrência. Por estas razões, a René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 13 tecnologia e suas condições de apropriabilidade são importantes fatores de competitividade para o setor. Conforme as novas regras de propriedade intelectual internacionais e brasileiras, vigentes a partir do Agreement on Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights (Acordo TRIPS) assinado em 1994, são matérias patenteáveis nessa indústria processos para obtenção de extratos ou substâncias ativas isoladas, as composições farmacêuticas e seus processos de preparo e usos dos produtos obtidos (Heinzmann e Barros, 2007). A proibição de se patentear plantas ou sementes em seu estado natural, ou seja, não modificadas pelo ser humano, apresenta-se como um fator decisivo para o interesse da indústria farmacêutica sobre os produtos farmoquímicos, mas ao mesmo tempo um estímulo para agregar maior grau de transformação às plantas medicinais, transformando-as em extratos ou fitoterápicos. De fato, a realização das atividades de P&D se alicerça sob a obtenção de direitos de propriedade industrial como a principal forma de garantir a apropriação dos investimentos destinados à atividade. Isso ocorre também com novas variedades de plantas, em suas partes reprodutivas, podem também ser objeto de proteção através da Lei de Cultivares, estimulando o desenvolvimento da agricultura moderna para a produção de matérias primas para fitoterápicos. No segmento do mercado farmacêutico de produtos genéricos do mercado farmacêutico, isto é, sem patentes, que também podem ser produtos que concorrem com os produtos fitoterápicos, a questão de escala de produção é mais importante e a competição se dá via preços. A concorrência via preços traz uma vantagem para os fitoterápicos uma vez que os custos de pesquisa e desenvolvimento podem ser menores que os da indústria farmoquímica, conforme desenvolvido adiante, mas a escala de produção torna-se também um elemento de competitividade importante no setor de fitoterápicos. Desta forma, pode-se concluir que as empresas de fitoterápicos que já possuem acumulação tecnológica e escala produtiva são as que têm maiores vantagens relativas. As empresas potenciais entrantes precisariam superar essas barreiras para competir com as empresas de fitoterápicos estabelecidas e com as empresas farmacêuticas. Assim como a indústria farmacêutica, a indústria de fitoterápicos é uma indústria que impacta a saúde das pessoas e as condições do meio ambiente. Necessita, portanto, de rigorosos critérios de controle de qualidade sobre a produção, estocagem e distribuição dos produtos. Entretanto, os critérios utilizados em cada país são muito René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 14 diferentes. Segundo a OMS (2003), 80% da população mundial utilizava plantas medicinais de forma intuitiva, ou seja, baseada em conhecimentos tradicionais e sem critérios racionais de registro. A Alemanha, diferentemente, destaca-se como o maior mercado consumidor individual de fitomedicamentos baseados em medicina não tradicional, ou seja, em ciência, através de evidências clínicas comprovadas por estudos controlados. Atualmente, no mundo, existem dois enfoques sobre as tendências de utilização e consumo de fitoterápicos (Villas Bôas e Gadelha, 2007). Na Europa a maioria das plantas, independente da atividade farmacológica, é considerada medicamento. Os países europeus liderados pela Alemanha baseiam seu uso em evidências de qualidade, eficácia e segurança, critérios esses também utilizados no uso de medicamentos sintéticos. Entretanto, ainda existem nesse continente vários medicamentos cuja eficácia não foi testada da mesma forma, sendo seu uso classificado como fitoterapia tradicional. Na Alemanha, desde 1976, exige-se que os medicamentos fitoterápicos atendam aos mesmos requisitos de qualidade, segurança e eficácia que os medicamentos sintéticos. Nos Estados Unidos domina outra prática. Os medicamentos a base de plantas medicinais, desde 1994, podem ser comercializados sem registro por serem considerados suplementos alimentares, aos quais não é exigida nenhuma informação ou declaração de eficácia terapêutica. 1.2 - Empresas líderes e suas estratégias Em 1998, a indústria de plantas medicinais norte americana anunciava uma série de fusões, aquisições e entrada de grandes empresas farmacêuticas em seu mercado. O mercado de plantas medicinais e fitoterápicos estava em alta expansão, e, como todo mercado em crescimento, era composto por um grande número de empresas de todos o tamanho. Entre os grupos interessados nestas fusões e aquisições aparecem os produtores tradicionais de suplementos alimentares; empresas multimarcas, como Amway que adquiriu a Trout Lake Farm (Washington) a maior produtora de produtos orgânicos botânicos; empresas fornecedoras de matérias primas, essências alimentares e extratos botânicos, como a compra da Martin Bauer, empresa Alemã, do grupo de empresas Muggenburg, criando a maior empresa fornecedora de ingredientes botânicos no mundo; e também empresas farmacêuticas, como Bayer, Whitehall-Robins (divisão da American Home Products) e Warner Lambert lançando novos produtos na área de suplementos alimentares e fitoterápicos. Essas fusões e aquisições transformaram de forma definitiva a estrutura do mercado, ainda que o efeito sobre os preços não tenha René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 15 sido muito sentido devido ao grande número de pequenos produtores e o grau de especialização existente entre as diferentes empresas, fatores que permitiram um balanço competitivo equilibrado (Blumenthal, 1999). Entre os principais objetivos das estratégias adotadas sobressaem os posicionamentos das empresas na garantia de obtenção de ingredientes botânicos; na associação de competências entre produtores de extratos botânicos, empresas com grandes canais de comercialização e domínio em processos extrativos; e na integração vertical. Especificamente, desde o início da década de 2000, grandes empresas farmacêuticas sediadas em países desenvolvidos, como Alemanha, França, Estados Unidos e Japão, têm adquirido pequenos laboratórios fitoterápicos, segundo Funari e Ferro (2005). A principal motivação é compensar a queda do ritmo de crescimento das empresas farmacêuticas através da absorção das pequenas empresas. Além disso, essa seria uma estratégia de (re) entrada no segmento fitoterápico, um segmento de mercado em expansão, que as empresas farmacêuticas haviam abandonado desde a descoberta das sulfas, dos antibióticos e dos medicamentos sintéticos. Através dessas estratégias de fusões, aquisições, incorporações e integração vertical as empresas farmacêuticas penetraram rapidamente no mercado de plantas medicinais e fitoterápicos. Evitaram-se investimentos de longas maturações e incertos resultados por meio da aquisição das marcas, parcelas de mercado e portfólio tecnológico de empresas já estabelecidas em fitoterápicos ou indústrias relacionadas (extratos de plantas, alimentos e cosméticos). Os principais mercados alvos foram Alemanha e França onde as regras de registro e produção permitiam condições competitivas similares entre os produtos fitoterápicos e os farmoquímicos. A semelhança das condições competitivas deve-se ao padrão de exigências para registro e produção de um novo produto, muito próximo do exigido na indústria farmacêutica, particularmente no mercado europeu, como já adiantado. O resultado foi uma crescente profissionalização do mercado fitoterápico, a partir de práticas de comercialização, produção, marketing e padrões de qualidade muito próximos das grandes empresas farmacêuticas, ampliando-se significativamente as barreiras à entrada nesse mercado. 1.3 - Oportunidades tecnológicas que viabilizaram a indústria de fitoterápicos No tocante à tecnologia, a indústria de fitoterápicos é classificada como uma indústria intensiva em tecnologia (science based). Ainda que vários produtos de sua René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 16 cadeia produtiva possam ter outras aplicações destinadas a indústria de cosméticos e de alimentos, ao contrário das indústrias farmacêuticas e de alimento, indústrias já maduras e consolidadas, que passam atualmente por uma série de turbulências, as indústrias de cosméticos e a própria indústria de fitoterápicos estão tendo uma série de oportunidades tecnológicas no novo paradigma de desenvolvimento social e econômico baseados nos recursos renováveis. De fato, a turbulência que a indústria farmacêutica vem vivenciando nos últimos anos está relacionada, de um lado, com as oportunidades tecnológicas surgidas com o desenvolvimento da biotecnologia e da informática a partir dos anos 1970 e, por outro, a forte pressão para redução de seus preços (medicamentos sintéticos), cada vez mais significativos nos orçamentos de saúde dos países. Esses eventos trazem oportunidades novas para retomar-se o uso de plantas como protótipos para o desenvolvimento de fármacos e o seu uso como matérias primas farmacêuticas, que apesar de ter sido bastante importante no passado, havia se reduzido com o aparecimento da trajetória tecnológica sintética. Entre os usos mais comuns para matérias primas farmacêuticas estão a obtenção de fármacos (substâncias ativas isoladas), de adjuvantes (produtos usados na formulação de medicamentos) e dos extratos vegetais. Villas Bôas e Gadelha (2007) enfatizam as qualidades das moléculas naturais para o desenvolvimento de protótipos de desenvolvimento de fármacos. Entre as vantagens apontadas, estão a diversidade biológica dos compostos e a especificidade dessa atividade. Esses autores mostram também que, entre 2005 e 2007, a tendência de aparecimento de novas entidades biológicas aumentou consideravelmente em comparação com a descoberta de novas entidades químicas. Finalmente, apontam a descoberta de novas moléculas em áreas terapêuticas não alcançadas pelas moléculas sintéticas (como, por exemplo, a descoberta da arglabina para o tratamento de vários tipos de câncer) como mais uma das vantagens do uso de plantas naturais na pesquisa. Adicionalmente, observa-se que é possível associar-se os conhecimentos tradicionais e os populares sobre os produtos naturais para o desenvolvimento dos produtos, diminuindo-se o tempo necessário de pesquisa. De fato, segundo Funari e Ferro (2005) isso ocorreria porque, antes mesmo de ser iniciada a pesquisa, os pesquisadores teriam informações sobre a atividade biológica da planta, reduzindo significativamente o tempo dedicado à mesma atividade na indústria farmacêutica, que, em média, pode chegar a até dez anos. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 17 Contribuíram para esse fato o desenvolvimento de equipamentos espectrométricos e a informatização dos meios analíticos que revolucionaram a definição das estruturas químicas. Acrescente-se a robotização dos ensaios in vitro gerando os High Throught-put Screening (HTS) que acelerou a velocidade da geração de ensaios sem precedentes - de um em um ano, em 1970, para cem mil em um único dia (Barata, 2005). 1.4 - A atividade de pesquisa e desenvolvimento como o principal fator de competitividade do setor O fato de existir uma série de oportunidades tecnológicas e científicas, descritas acima, que viabilizam a indústria de fitoterápicos, entretanto, não é suficiente para garantir o seu nascimento e competitividade. Da mesma forma que a indústria farmacêutica, o sucesso competitivo dessa indústria depende cada vez mais da sua capacidade de acumulação tecnológica para sustentar a sua produção altamente dependente de regulamentação e a sua sustentabilidade de longo prazo através do lançamento de novos produtos e redução permanente de custos. A acumulação tecnológica, por sua vez, é basicamente construída através de suas atividades rotineiras de desenvolvimento das atividades de P&D internas e na absorção de oportunidades externas, geradas por universidades e centros de pesquisa. A realização de atividades internas é pré-condição para a maior absorção das capacidades externas (Cohen e Levinthal, 1989). Nesse sentido é importante entender como são realizadas as atividades de P&D no setor de fitoterápicos. Heinzmann e Barros (2007) descreveram da seguinte maneira as etapas de desenvolvimento de um novo fitomedicamento: «A etapa inicial do processo de desenvolvimento de um fitomedicamento ocorre com a seleção da planta. A seleção pode ser feita com auxílio de pesquisa na literatura científica, da etnobotânica ou etnofarmacologia, da quimiotaxonomia, da toxicidade observada, além de estudos farmacológicos prévios. O passo seguinte diz respeito à coleta, identificação botânica e preparo de material testemunha, bem como estabilização e extração dos constituintes da planta. A partir dos extratos, empregando-se métodos cromatográficos, podem ser obtidos compostos isolados. Nessa fase, são realizados testes de atividade biológica e de toxicidade, e ainda a determinação da estrutura química dos compostos ativos isolados, utilizando-se métodos espectroscópicos. A identificação da estrutura do composto permitirá, dessa forma, estudos subseqüentes da síntese total ou parcial do constituinte ativo, preparação de derivados e/ou análogos, modulação da atividade biológica e definição da relação estrutura-atividade. Produção em larga escala de matéria-prima ativa, aspectos relacionados à tecnologia farmacêutica e testes clínicos completam o ciclo de desenvolvimento de fitomedicamentos.» (Heinzmann e Barros, 2007, p. 44). René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 18 Conforme a Figura 2 observa-se que o custo e o tempo de desenvolvimento de um novo medicamento fitoterápico são bastante inferiores aos observados no desenvolvimento de um medicamento sintético. Figura 2 - Curva de risco no processo de desenvolvimento e investimento de um medicamento fitoterápico risco 0,5 a 1 ano Avaliação e composição Investimento estimado entre R$10 milhões e R$50 milhões 1 a 2 anos Pré-clínicos investimento 2 a 5 anos 1 ano Ensaios clínicos Registros Total = 5 a 9 anos Fonte: Neves (s.d.), p. 15. De fato, enquanto na pesquisa para a descoberta de novas moléculas se prevê um mínimo de dez anos, em fitoterápicos ela pode estar concluída em cinco anos, sendo seu investimento estimado em R$ 10 a 50 milhões. Mas similarmente à indústria farmacêutica, o risco dos projetos é maior em sua fase inicial, reduzindo-se na fase de registro e possuem uma curva inversa quanto aos investimentos que são menos vultosos nas fases iniciais do processo, aumentando consideravelmente na fase de scale up industrial e registro dos produtos. 1.5 - Novos produtos fitoterápicos e suas vantagens e desvantagens em relação aos seus substitutos da indústria farmacêutica O aparecimento de novos produtos fitoterápicos com a mesma eficácia e segurança que os medicamentos farmoquímicos, isto é, cientificamente comprovados, os colocam como produtos que podem ser substitutos dos produtos sintéticos da indústria farmacêutica. Alguns autores destacam inclusive que esses produtos apresentariam vantagens em relação aos produtos farmoquímicos. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 19 As vantagens dos medicamentos fitoterápicos foram divididas por Yunes et al. (2001) em quatro tipos diferentes: os efeitos sinérgicos, associação de mecanismos por compostos agindo em alvos moleculares diferentes, os menores riscos de efeitos colaterais e os menores custos de pesquisa. As duas primeiras vantagens estão relacionadas às características intrínsecas das plantas que originam os fitoterápicos. Enquanto, a terceira se refere às baixas concentrações em que são utilizados os fitoterápicos e a quarta aos investimentos necessários para o desenvolvimento de novos produtos (Yunes et al., 2001, p. 150). Com relação à vantagem atribuída aos medicamentos fitoterápicos pelos menores custos de pesquisa que estes apresentam como visto na seção anterior, a redução desses custos está associada tanto às inovações introduzidas nas atividades de pesquisa quanto à redução do tempo de seleção para a obtenção de novas entidades biotecnológicas devido ao uso dos conhecimentos tradicionais e biotecnológicos. Esses dois fatores podem levar a uma redução dos custos de descoberta de novos produtos. Melo et al. (2007), também se referindo as vantagens dos produtos fitoterápicos em relação aos produtos farmacêuticos, afirmam que: «...a expansão da fitoterapia pode ser atribuída a diversos fatores tais como: aos efeitos adversos de fármacos sintéticos, a preferência dos consumidores por tratamentos “naturais”, a validação científica das propriedades farmacológicas de espécies vegetais, o desenvolvimento de novos métodos analíticos colocados à disposição do controle de qualidade, o desenvolvimento de novas formas de preparações e administrações de produtos fitoterápicos, um melhor conhecimento químico, farmacológico e clínico das drogas vegetais e seus derivados, além também do menor custo se comparado com os fármacos sintéticos.» (Melo et al., 2007, p. 28). Os fatores apontados por estes autores concentram a maior parte das vantagens enumeradas na literatura sobre o tema. Mas, além desses argumentos, alguns pesquisadores têm ressaltado a importância da possibilidade de crescimento econômico dos países em desenvolvimento, especialmente o Brasil, a partir do incentivo a uma indústria baseada no potencial desta diversidade e da expansão, nos últimos anos, do mercado de medicamentos fitoterápicos (Craveiro, 2008; Funari e Ferro, 2005; Villas Bôas e Gadelha, 2007). Especificamente sobre os efeitos colaterais dos medicamentos fitoterápicos serem menores do que os efeitos dos medicamentos sintéticos existem algumas discordâncias sobre o tema. Quando se analisam estudos mais elaborados sobre determinados medicamentos fitoterápicos, é possível verificar que ainda há um longo caminho a percorrer no que se refere à comprovação da sua eficácia e da verificação de efeitos colaterais e interações medicamentosas. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 20 Segundo Alexandre et al. (2005), «...os conhecimentos empíricos acumulados no passado (tradição cultural) e os científicos desenvolvidos, ao longo do tempo, mostram que as plantas medicinais e os medicamentos fitoterápicos podem, também, causar efeitos adversos, toxicidade e apresentar contra-indicações de uso.» (Alexandre et al., 2005, p. 300). Embora hoje sejam conhecidos muitos efeitos adversos de medicamentos fitoterápicos, ainda é preciso avaliar com mais cuidado a comparação entre estes efeitos e aqueles observados na utilização dos medicamentos sintéticos. Além dos efeitos em conseqüência da utilização (cuja verificação dependerá do estudo particular de cada medicamento) , deve-se acrescentar que, no caso dos medicamentos fitoterápicos e plantas medicinais, os problemas relativos à dosagem e ao processamento devem ser considerados. Com relação à dosagem, é necessário esclarecer à população que o fato de ser derivado de um vegetal não faz com que o medicamento se torne inofensivo quando utilizado em doses excessivas, e, no que se refere ao processamento, os problemas podem envolver desde misturas com outros vegetais até adulterações (Veiga Junior et al., 2005, p. 520). Em resumo, ainda que as oportunidades tecnológicas sejam amplas, dificilmente elas permitirão um avanço muito grande nos efeitos colaterais. Os medicamentos fitoterápicos apresentam efeitos colaterais igualmente problemáticos aos dos produtos sintéticos, apesar de apresentarem algumas vantagens competitivas em relação aos medicamentos farmoquímicos em relação aos preços, podendo ser utilizados como seus substitutos em muitas situações. 1.6 - Evolução dos padrões de concorrência da indústria de fitoterápicos e semelhanças com a indústria farmacêutica de síntese química A principal tendência da indústria de fitoterápicos é se aproximar cada vez mais da estrutura produtiva e dos padrões de competitividade da indústria farmacêutica de síntese química, adotando padrões de crescimento e regulação bastante próximos a essa indústria. Os padrões de competitividade têm migrado de características artesanais para características cada vez mais industrializadas, com a questão da reprodutibilidade e os critérios de segurança se sobrepondo à importância da marca e da tradição. Sinais claros desta evolução dos padrões de concorrência e competitividade da indústria de fitoterápicos em direção a uma convergência para os padrões da indústria farmacêutica podem ser evidenciados por uma série de eventos. Em primeiro lugar, constata-se que vários esforços de regulamentação internacional têm sido feitos para acompanhar o aumento do comércio internacional de plantas medicinais entre os países. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 21 Esses esforços iniciaram-se a partir da metade da década de 1980 com a quarta e a quinta Conferência das autoridades reguladoras de medicamentos ocorridas em Tóquio e em Paris, respectivamente, em 1986 e 1989. Nessas conferências foram tratados aspectos regulatórios de produtos industrializados e sendo comercializados fora de suas fronteiras. Recomendou-se também a partir da conferência de Paris que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deveria considerar a possibilidade de estabelecer guidelines para aqueles países que quisessem desenvolver legislação e regras de registro apropriadas a um melhor funcionamento do comércio. A OMS respondeu com a introdução do Programa de Medicina Tradicional e a produção de linhas mestras para a medicina tradicional lançando, em 1991, os Guidelines for Assessment of Herbal Medicines, no Canadá. Esses Guidelines podem ser considerados a primeira diretriz oficial, ainda que em caráter não obrigatório, para as autoridades de saúde, indústria, comunidade acadêmica e outras partes interessadas em plantas medicinais. (Akerele, 1993). Um segundo evento ilustrativo dessa convergência é o movimento das fusões e aquisições provocado pelo crescimento das plantas medicinais que acabou levando para este mercado grandes empresas farmacêuticas e suas competências, como já explicado anteriormente. Como se sabe, as estratégias das empresas farmacêuticas têm se mostrado muito eficientes, em termos de desempenho, e acabaram se difundindo para o segmento de produtos fitoterápicos. Este sinal foi fortemente influenciado pela segurança e conforto que o padrão de consumo, baseado em evidências clínicas, traz para os médicos e seus pacientes. Finalmente, um evento não menos relevante foi o aparecimento das oportunidades tecnológicas abertas para a retomada das descobertas baseadas em plantas medicinais e produção de medicamentos por extração de forma segura e eficaz. Essas oportunidades tecnológicas puderam ser aproveitadas justamente pela demanda de novos padrões de consumo e produção baseados em aproveitamento mais racional e sustentável da natureza. 1.7 – Padrões de concorrência e fatores determinantes da competitividade O setor de fitoterápicos, segmento do mercado farmacêutico, pode também ser caracterizado como um oligopólio diferenciado com as seguintes características: grande diferenciação de produtos resultante dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (diferenciação física), mas também da diferenciação aos olhos do consumidor René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 22 (diferenciação imaginária) através da propaganda e do marketing realizada junto aos consumidores e à classe de profissionais da saúde. Os fitoterápicos, da mesma forma que os produtos farmoquímicos, possuem significativo grau de diferenciação à medida que são produzidos para atender às necessidades específicas de cada doença ou tratamento. Cada grupo de doença constitui uma classe terapêutica, primeiro grau de diferenciação, e os medicamentos de cada classe terapêutica não são substitutos entre si. Entretanto, dentro de cada classe terapêutica existem várias possibilidades de produtos substitutos, segundo grau de diferenciação. Cada produto pode também apresentar distintas formas farmacêuticas: cápsulas, comprimidos, solução oral, solução injetável, e embalagens, imprimindo igualmente possibilidade de diferenciação de produtos – terceiro grau de diferenciação. A diversidade tecnológica da indústria é que permite esta ampla diferenciação e o fator de competitividade chave para diferenciar os produtos é a atividade de pesquisa e desenvolvimento. Um exemplo, segundo Freitas (2002), é que uma mesma planta medicinal pode dar lugar à produção de distintos produtos através de diversos processos de produção como o Ginkgo biloba, «...que pode ser encontrado no mercado sob a denominação extrato de Ginkgo biloba, produtos secos obtidos a partir de extratos simples hidroalcoólicos (com metanol ou etanol), ou extratos especiais, obtido através de uma sequência bem especificada de passos tecnológicos que enriquecem e purificam o produto, gerando, consequentemente, elevação das substâncias responsáveis pelo efeito terapêutico concomitantemente à redução na concentração de outros reponsáveis ou co-participes no efeito tóxico.» (Freitas, 2002, p. 62-63). Além dos investimentos na pesquisa e desenvolvimento, sustentam a diferenciação a propaganda e o marketing. Neste mercado quem consome o produto não é quem decide por seu uso. Isto é, devido às características altamente complexas do produto, seu consumo é intermediado por profissionais médicos, através da prescrição do medicamento. As despesas de propaganda e marketing visam prover as informações necessárias ao paciente e ao médico sobre as condições de eficácia, contra-indicações e efeitos colaterais dos produtos. Estas são mais bem conhecidas pelos produtores dos medicamentos, responsáveis por sua pesquisa e desenvolvimento, do que pelos consumidores e profissionais médicos. Esta provisão de informações em geral é associada à reputação técnico-científica das empresas e a uma marca. A assimetria de informações entre os produtores e os consumidores é que permite este espaço para a propaganda e o marketing no setor. Esses elementos constituem-se, portanto, em dois importantes fatores de competitividade do setor, assim como na indústria farmacêutica. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 23 Uma outra barreira à entrada de novos competidores na indústria é de natureza técnica e está associada à regulação imposta para produção e comercialização dos fitoterápicos, que, como visto, tem se aproximado dos padrões também exigidos dos medicamentos farmoquímicos. Os requisitos para obtenção de registro são: a comprovação da eficácia terapêutica, da qualidade da matéria prima utilizada e do produto final, assim como estudos de toxidade que definam o grau de risco do produto. A eficácia compreende os resultados dos ensaios farmacológicos pré-clinicos e clínicos dos efeitos biológicos preconizados e a segurança a comprovação da ausência de efeitos tóxicos e contaminantes nocivos à saúde (metais pesados, agrotóxicos, etc.). II - Evolução, Estrutura e Competitividade do Setor de Fitoterápicos no Brasil Até o início do século XXI a indústria de fitoterápicos brasileira era bastante incipiente, fundamentada somente no uso popular das plantas sem nenhuma comprovação pré-clínica e sem nenhuma competitividade a nível nacional e internacional. Gozava, entretanto, de enorme tradição e uso consagrado de vários produtos. Ainda que a regulação de ervas medicinais no Brasil exista desde 1967, somente a partir de 2004 é que ela se tornou mais específica no que diz respeito às exigências de registro de produtos (OMS, 2005), e mais próxima da tendência adotada na Europa, que, como visto na seção anterior, registra os fitoterápicos como medicamentos. Outros eventos são considerados também marcos importantes para estruturar o mercado para os medicamentos fitoterápicos no Brasil. Em primeiro lugar, os investimentos feitos na infra-estrutura científica e tecnológica, nos anos 1950, pelas agências de fomento estatais. Em função desses investimentos, segundo Villas Bôas e Gadelha (2007), existem hoje no país 148 centros de pós-graduação e pesquisa nessa área. Em segundo lugar, a fundação da Central de Medicamentos (CEME) que, em 1976, criou o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais, responsável por estudar 74 espécies vegetais com o objetivo de avaliação sistemática e análise científica dessas plantas. Essas espécies foram selecionadas a partir de conhecimento popular e submetidas a testes farmacológicos, toxicológicos, pré-clinicos e clínicos para confirmar ou não as propriedades terapêuticas a elas atribuídas. Caso as propriedades fossem comprovadas, essas espécies seriam incorporadas à lista de medicamentos essenciais do Ministério da Saúde (MS). Em 1997, a CEME foi extinta e a capacitação René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 24 gerada através dos esforços governamentais não serviu para impulsionar o mercado, ainda que tenha criado capacitação pública para a pesquisa. A partir da década de 1980, novos esforços foram realizados pelo MS e também por outros ministérios no sentido de estimular o uso de plantas medicinais, legitimando e institucionalizando abordagens alternativas de atenção à saúde, entre elas a fitoterapia. Em particular, a Portaria 211, de 11 de setembro de 1981, definiu o estudo de plantas medicinais como uma prioridade da pesquisa clínica e, em 1988, a Comissão Interministerial de Planejamento (CIPLAN) resolveu implantar a fitoterapia nos serviços de saúde como prática oficial de medicina, em caráter complementar (MS, Secretaria de atenção à saúde, 2006). Na década de 1990, duas importantes decisões do Conselho Federal de Medicina, fundamentais para a adesão dos médicos ao uso de plantas medicinais, foram tomadas. O Parecer 06/1991, do Conselho, reconheceu que a atividade de fitoterapia era uma prática reconhecida pelo MS e, em 1992, estabeleceu a fitoterapia como método terapêutico, recomendando, portanto, seu rigoroso controle pelo Estado (Villas Bôas e Gadelha, 2007). Ainda no final desta década, registra-se no relatório da X Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1998, o estímulo para que os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) demandem pesquisas capazes de suportarem a difusão do uso de fitoterapia, ao lado de outras práticas complementares (MS, Secretaria de atenção à saúde, 2006). Dado a importância dos médicos na intermediação do consumo de produtos voltados para a saúde, como ressaltado na seção anterior, pode-se intuir a importância dessas medidas para a formação do mercado de medicamentos fitoterápicos. Segundo Neves (s/d), ainda nesta década deve-se marcar que os fitoterápicos passaram a ser considerados como medicamentos, ou seja, deveriam comprovar sua segurança, eficácia e qualidade. Todos os produtos já registrados deveriam apresentar para a revalidação de registros: estudos de toxidade, eficácia, bioequivalência para os fitoterápicos registrados como similares, e estudos comprovando a associação de extratos. Entretanto, o mesmo autor observa que a grande maioria das empresas não cumpriu os requisitos exigidos e os prazos estabelecidos. A primeira edição da Proposta de Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos foi editada em 2001, mas foi somente em 2006 que o governo Federal aprovou a Política por meio do Decreto n. 5813. Esse evento representa um marco muito importante porque estabelece diretrizes de atuação do René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 25 governo, que permitem uma maior continuidade administrativa das ações de desenvolvimento da área de plantas medicinais e fitoterápicos. A Política procura contemplar um amplo espectro de princípios desde a minimização da dependência tecnológica e do estabelecimento de destaque de nosso país em nível internacional, até melhoria de atenção à saúde, uso sustentável da biodiversidade, fortalecimento da agricultura familiar, geração de emprego e renda, desenvolvimento industrial e tecnológico, perspectiva de inclusão social e regional e participação popular. Importante também observar que o lançamento da Política estava em consonância com as políticas setoriais decretadas pelo governo a partir de 2003 para saúde, biodiversidade e política industrial, tecnológica e de comércio exterior, todas contemplando biotecnologia e fármacos em suas áreas estratégicas e portadoras de futuro (MS, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2006). Ainda em 2006, foi aprovada a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS que propõe a inclusão das plantas medicinais e fitoterapia entre outras práticas médicas complementares como opções terapêuticas no Sistema Único de Saúde. A inclusão seria feita a partir da preparação de uma lista de oferta dos medicamentos disponibilizados pelo SUS. Trata-se da Relação Nacional de Plantas Medicinais e de Fitoterápicos (RENISUS)3. Este foi outro grande marco na criação do mercado de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil, uma vez que pode influenciar a demanda através do poder de compra governamental. (MS, Secretaria de Atenção à Saúde, 2006). Finalmente, cabe destacar a criação do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, também em 2006, e do Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. O Programa estabelece ações para vários parceiros em torno do objetivo comum voltado à garantia do acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e de fitoterápicos no país, desenvolvimento de tecnologias e inovações, fortalecimento das cadeias produtivas e dos arranjos produtivos relacionados, uso sustentável da biodiversidade brasileira e desenvolvimento do Complexo Produtivo da Saúde. O Comitê, por sua vez, terá a função de monitorar e avaliar o Programa. Ele é composto por 26 representantes e respectivos suplentes e coordenado pelo MS, através 3 A Renisus é uma lista de espécies vegetais de interesse do Sistema Único de Saúde. A intenção é promover o desenvolvimento de pesquisas sobre estas espécies, que comprovem a eficácia e segurança de sua utilização, e, também, o desenvolvimento de sua cadeia produtiva. A observação do resultado dessas ações deverá levar à criação da Renafito (lista de plantas medicinais e fitoterápicos a serem disponibilizados pelo SUS), seguindo o modelo da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename). René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 26 da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos (MS, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2008). Fica claro, portanto, que no início do século XXI está se vivendo um momento político e institucional muito rico e fértil para a estruturação e consolidação do mercado de fitoterápicos no Brasil. A regulação tem definido os padrões de produção e circulação dos fitoterápicos, buscando equalizar a forma de atuação neste mercado, e a política pública tem procurado (re)introduzir o tema no bojo das políticas industrial, tecnológica e de saúde brasileiras. Nas próximas subseções, apresenta-se uma discussão sobre se a estrutura e a evolução da indústria de fitoterápicos no país têm acompanhado as tendências da indústria mundial e aproveitado as oportunidades abertas pelo momento político e institucional brasileiro. Em particular, o objetivo é em que medida as particularidades do mercado brasileiro, de seus centros de pesquisa, de sua regulamentação e da conjuntura econômica serão capazes de contrabalançar os aspectos de mudança estrutural que a indústria tem apresentado e permitir a formação de uma oportunidade para o investimento de novas empresas inovadoras locais e consolidação de uma indústria competitiva em termos globais. 2.1 - A regulamentação atual da indústria de fitoterápicos brasileira Como já mencionado, os medicamentos fitoterápicos no Brasil foram submetidos, a partir de 2004, a modificações nas normas que regulam os registros e as práticas de manufatura do setor. Mas desde 2000 que o padrão de regulamentação adotado representou uma mudança significativa em relação ao período anterior. Essas novas regulamentações e exigências relativas a 2004 certamente acelerarão mudanças importantes na estrutura do mercado, iniciadas em 2000, fazendo com que algumas empresas tenham que deixar a atividade de produção de fitoterápicos, em virtude da falta de capacidade técnica e financeira para cumprir o novo regulamento. Uma outra possibilidade é que essas empresas sejam compradas por outras empresas com maior acumulação tecnológica e maior capacidade financeira de se adequarem a essas novas exigências dos órgãos reguladores. Os registros dos medicamentos fitoterápicos foram regulamentados por diversas normas, que se sucederam nos últimos 40 anos. Entre as principais estão: a Portaria nº. 22, de 30 de outubro de 1967, do Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia (que estabelecia normas para o emprego de preparações fitoterápicas); a Portaria nº. 6, de 31 de janeiro de 1995, da Secretaria de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde, (que instituía e normatizava o registro de produtos fitoterápicos René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 27 junto ao Sistema de Vigilância Sanitária), a Resolução RDC nº. 17, de 24 de fevereiro de 2000, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (que trazia disposições sobre o registro de medicamentos fitoterápicos), e, finalmente, a norma que está atualmente em vigor, a Resolução RDC nº. 48, de 16 de março de 2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos). Com relação à legislação vigente, é preciso esclarecer que, em conjunto com a RDC nº. 48, de 16 de março de 2004, outras normas foram editadas com o objetivo de subsidiar as suas exigências (ver Figura 3). São as seguintes Resoluções Específicas da ANVISA: RE nº. 88, de 16 de março de 2004 (que determina a publicação da Lista de referências bibliográficas para avaliação de segurança e eficácia de fitoterápicos), a RE nº. 90, de 16 de março de 2004 (que determina a publicação da Guia para a realização de estudos de toxicidade pré-clínica de fitoterápicos) e a RE nº. 91, de 16 de março de 2004 (que determina a publicação da Guia para realização de alterações, inclusões, notificações e cancelamentos pós-registro de fitoterápicos). Havia ainda a RE nº. 89, de 16 de março de 2004, que determinava a publicação da "Lista de Registro Simplificado de Fitoterápicos", que, foi, posteriormente, substituída pela Instrução Normativa nº. 5, de 11 de dezembro de 2008, da ANVISA, que atualizou esta lista. Figura 3 - Esqueleto normativo para o registro de medicamentos fitoterápicos RDC 140/03 + Port.110/97 RDC 95/08 Lei 6360/76 Decreto 79094/77 RE 88/04 BIBLIOGRAFIAS BULA IN 05/08 REG. SIMPLIFICADO RDC 333/03 ROTULAGEM RDC 48/04 REGISTRO RE 01/05 ESTABILIDADE RE 90/04 PRÉ-CLÍNICO RDC 138/03 GITE RE 91/04 PÓS-REGISTRO RDC 210/03 INSPEÇÃO RE 899/03 VALIDAÇÃO RDC 249/05 INSUMOS RDC 96/08 PUBLICIDADE Fonte: Perfeito, 2009 A seguir serão destacadas algumas diferenças entre a Resolução RDC nº. 17, de 24 de fevereiro de 2000 (que passará a ser chamada de RDC 17) e a Resolução RDC nº. 48, de 16 de março de 2004 (que passará ser chamada de RDC 48), que marcam as René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 28 diferenças entre as exigências antigas e atuais para o registro dos medicamentos fitoterápicos. Inicialmente, a RDC 17 trazia, entre outras, as definições diferenciadas para “medicamento fitoterápico novo”, “tradicional” e “similar”. Estas definições estão assim explicitadas: “Medicamento fitoterápico novo - aquele cuja eficácia, segurança e qualidade, sejam comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro, podendo servir de referência para o registro de similares”. “Medicamento fitoterápico tradicional - aquele elaborado a partir de planta medicinal de uso alicerçado na tradição popular, sem evidências, conhecidas ou informadas, de risco à saúde do usuário, cuja eficácia é validada através de levantamentos etnofarmacológicos e de utilização, documentações tecnocientíficas ou publicações indexadas”. “Medicamento fitoterápico similar - aquele que contém as mesmas matérias-primas vegetais, na mesma concentração de princípio ativo ou marcadores, utilizando a mesma via de administração, forma farmacêutica, posologia e indicação terapêutica de um medicamento fitoterápico considerado como referência”. (Brasil, 2000) Enquanto a RDC 17 fazia esta diferença entre os fitoterápicos e, portanto, entre as exigências necessárias para o seu registro, a RDC 48 traz uma única definição de fitoterápico: “Fitoterápico - medicamento obtido empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Sua eficácia e segurança é validada através de levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documentações tecnocientíficas em publicações ou ensaios clínicos fase 3. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais.” (Brasil, 2004a) Entretanto, a RDC 48 diferencia os medicamentos fitoterápicos mencionando aqueles que fazem parte da Lista de Medicamentos de Registro Simplificado. Estes medicamentos não precisam validar as indicações terapêuticas e a segurança de uso, embora precisem atender a determinadas especificações. Além disso, outras exigências novas aparecem na RDC 48, como, por exemplo, a necessidade de apresentação de um “Relatório Completo de Produção”, indicando a intenção por parte da Agência de regular esse processo e limitar a atividade àquelas empresas que possuam uma produção, de fato, industrial e padronizada, em lugar de uma produção mais artesanal, que dava origem à problemas na padronização e controle de qualidade. Sobre os efeitos da nova regulação na padronização dos medicamentos fitoterápicos, Barata (2005) nos indica que a RDC 48: “(...) se baseia na “garantia de qualidade (...) exigindo a reprodutibilidade dos fitoterápicos produzidos”, o que só pode ser alcançado se as empresas se utilizarem de extratos padronizados e estabelecerem rígido controle de qualidade. No entanto, como raramente se conhece o princípio ativo (PA) existente nas plantas medicinais brasileiras, a lei permite um controle via René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 29 “marcadores moleculares”, o que em princípio poderia ser qualquer substância presente com regularidade no extrato e dentro de certa concentração nos extratos.” (Barata, 2005, p. 4). Embora autores como Ribeiro et al. (2005) entendam que houve poucas mudanças nas exigências para registro dos fitoterápicos, quando comparamos a RDC 48 à RDC 17, do ponto de vista da padronização dos medicamentos e do controle da produção, podemos considerar que ocorreram modificações relevantes. Além das normas específicas sobre o registro, cabe mencionar também a Resolução RDC 210/03 (que determina a todos os estabelecimentos fabricantes de medicamentos o cumprimento das diretrizes estabelecidas no Regulamento Técnico das Boas Práticas para a Fabricação de Medicamentos). Embora essa Resolução não tenha sido publicada com vistas a regular apenas os medicamentos fitoterápicos, também deve ser considerada obrigatória do ponto de vista da padronização da produção dos mesmos. A RDC 210/03 é dirigida a todos os estabelecimentos fabricantes de medicamentos e menciona os fitoterápicos expressamente quando se refere a sua terceira parte: «Terceira Parte: Contém as diretrizes suplementares para a fabricação de medicamentos estéreis, produtos biológicos e validação, porém, não é uma seção concluída, porque prevê a inclusão de outros temas, como por exemplo, os referentes a fitoterápicos e ingredientes ativos farmacêuticos (APIs).» (Brasil, 2003) Logo, a fabricação dos medicamentos fitoterápicos, diante da exigência de obedecer a boas práticas de fabricação rígidas, passou a ser uma atividade mais regular e característica de empresas capazes de estar capacitadas tecnicamente para atender estas normas e arcar com os seus custos. A título de sumariar as novas tendências de regulamentação da indústria será utilizada a Tabela 1 elaborada por Alves et al. (2008), que compara as exigências técnicas para o registro de medicamentos fitoterápicos e “alopáticos” feitas pela ANVISA. A partir desta análise, os autores verificaram que estas exigências têm se aproximado. O que nos leva a crer que, realmente, o setor tem convergido para uma maior “profissionalização” e controle da produção. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 30 Tabela 1 - Comparação das exigências técnicas de registro de medicamentos fitoterápicos e alopáticos regulamentadas pela ANVISA Exigência Técnica Fitoterápico Alopático Biodisponibilidade Sim Sim Estabilidade Sim Sim Equivalência Sim Sim Dosagem de teor Sim Sim Dissolução em formulações sólidas orais Não Sim Registro baseado em dados bibliográficos, Sim Não dispensando estudos de biodisponibilidade Qualificação de fornecedores Sim Sim Testes clínicos, farmacológicos e toxicológicos Sim Sim Fonte: ALVES et al., 2008, p. 750, Tabela 2 Essa evolução do sistema de regulamentação aproxima a legislação brasileira do guideline proposto pela OMS (ver primeira seção deste trabalho) e, ao mesmo tempo, dos padrões de regulamentação exigidos para a indústria farmacêutica de síntese química. Se, por um lado, esta convergência com os padrões de regulação, exigidos pelo mercado mundial, torna a indústria brasileira de fitoterápicos apta a participar do comércio internacional de plantas medicinais, por outro, implanta no mercado brasileiro as barreiras tecnológicas de operação para o setor. As empresas estabelecidas que não tenham condições de se adequarem a esses novos padrões enfrentarão sérios problemas de competitividade, como desenvolvido a seguir. 2.1.1 - Estratégias empresariais de adequação às novas exigências de regulamentação A literatura analisada assinala com freqüência que a adequação das empresas atuando no mercado de fitoterápicos brasileiro será, provavelmente, muito difícil e agregará custos de produção significativos a essas empresas. Ainda que o mercado de fitoterápicos esteja livre do controle de preços finais (Freitas, 2007), o repasse desses custos para o preço final do fitoterápico é dependente da elasticidade da demanda desses produtos e da disponibilidade de substitutos, por exemplo, no segmento de produtos sintéticos, bem como do porte da empresa. Entretanto, como as exigências de regulamentação ainda são recentes existem poucos estudos realizados sobre o assunto. Em um dos poucos estudos existentes Alves et al. (2008) analisaram a adequação técnica de indústrias de medicamentos fitoterápicos e oficinais do estado do Rio de Janeiro. Os autores concluíram que o número de empresas com atividades relacionadas à fabricação e/ou fracionamento, e distribuição desses medicamentos em fase de adequação ou em condições não adequadas ainda é grande. Ao mesmo tempo esses mesmos autores mostraram que a adequação futura tem baixa exeqüibilidade René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 31 frente ao custo de adequação (cerca de R$ 480.000,00 por empresa) e o pequeno porte da maior parte das empresas (faturamento anual inferior a R$ 1.000.000,00). Ressaltam também a deficiência técnico-científica de boa parte das empresas ao detectarem problemas importantes em seu controle e garantia de qualidade. A necessidade de adequação das empresas à nova regulamentação levou a ANVISA a publicar editais de notificação para convocar aquelas que haviam pedido novos registros de produtos que não puderam ser apreciados antes da publicação da RDC 48/04 (especificamente dois editais, nos meses de junho e agosto de 2005). Segundo a Instituição, mesmo que os pedidos tivessem sido anteriores à nova regulamentação, entendeu-se que estes deveriam ser complementados para atender aos requisitos de segurança, eficácia e qualidade constantes da RDC 48/04. O exame da lista de empresas por processos nos dá uma boa noção das dificuldades que todas as empresas do setor estão apresentando para cumprir as regras, sem distinção de tamanho ou origem de capital. Por exemplo, entre os processos mencionados na segunda chamada, se encontram pedidos de grandes empresas como a Altana Pharma Ltda. e Marjan4 e empresas de origem brasileira, como os Laboratórios Panizza e Santo Antonio5, com um grande número de pedidos, cujo deferimento dependeria do atendimento das novas exigências. A única diferença é que as empresas de maior porte certamente terão melhores condições financeiras e tecnológicas para se adequarem enquanto que as pequenas poderão ter que deixar o mercado, levando a um processo de consolidação exacerbado. 2.1.2 – Reações da ANVISA às demandas da indústria As medidas em vigor desde 2004 para produção e comercialização dos fitoterápicos vieram agravar mais ainda a situação que a indústria vivenciava desde 2000, com as primeiras mudanças na direção de maiores exigências para o registro dos medicamentos fitoterápicos. Os empresários, através da Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápicos, Suplemento Alimentar e Promoção da Saúde (ABIFISA), encaminharam, em 2002, junto à Câmara Federal uma proposta de modificação dos procedimentos para registro. A proposta baseia-se na legislação canadense de regulamentação dos produtos naturais para a saúde. A grande mudança é que cai a necessidade de realização de testes clínicos de produtos dessa categoria e 4 Empresas essas que figuram no trabalho de Freitas (2007) na primeira e terceira posição, respectivamente, no ranking de participação no mercado de fitoterápicos no Brasil, em 2006. 5 O mesmo CNPJ agora se refere à empresa LASA Indústria Farmacêutica Ltda, que é uma empresa do grupo Maneesh Pharma India Enterprise, segundo informação do site www.lasa.ind.br. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 32 exige-se apenas qualidade e segurança e eficácia respaldadas na evidência científica ou uso etnocultural (Rodrigues et al., 2008). Em reação a essa e outras demandas, várias normas que afetam direta ou indiretamente os medicamentos fitoterápicos estão em processo de revisão na ANVISA6. A mais importante delas, a RDC 48, é objeto de revisão e a proposta da nova RDC que deve substituí-la foi submetida à consulta pública (CP), cujo prazo para o envio de contribuições já terminou (Consulta Pública nº 31, de 26 de maio de 2009). Embora a nova norma ainda não tenha sido aprovada e publicada, podemos perceber algumas diferenças no enfoque dado à nova regulamentação pela Anvisa, principalmente, no que diz respeito às drogas vegetais. No caso da CP 31/09, entre as diferenças para a RDC 48, observamos a inclusão da definição de fitocomplexo (que seria o “conjunto de substâncias, originadas no metabolismo primário e/ou secundário, responsáveis, em conjunto, pelos efeitos biológicos de uma planta medicinal ou de seus derivados”) e a modificação da expressão “ensaios clínicos fase 3”, presente na definição de medicamento fitoterápico da RDC 48, por “evidências clínicas”. Além disso, para aqueles medicamentos cuja segurança e eficácia de uso forem comprovadas pelo levantamento bibliográfico (possibilidade que já existia anteriormente, mas a CP 31 introduziu uma nova exigência, a da indicação para doenças de baixa gravidade), deverá ser instituída uma regra segundo a qual o material que acompanha o medicamento deverá incluir a frase “medicamento fitoterápico registrado com base no uso tradicional”. Segundo Perfeito (2009), outras mudanças se referem ao controle de qualidade da droga vegetal, que deverá ser apresentado quando a empresa for a produtora do derivado ou no caso do emprego direto da droga vegetal. A nova resolução, originária da CP 31, deverá introduzir a possibilidade de a empresa realizar um controle biológico, quando não for possível fazer a quantificação dos marcadores. As associações também não precisarão de um controle através do marcador para cada espécie, podendo ser realizado através de um perfil cromatográfico e a quantificação de um marcador ou do controle biológico. Entre as consultas públicas, há também a CP nº 35/2009, que apresenta uma proposta de Resolução para regular a notificação de drogas vegetais, cujo uso estiver 6 As informações sobre as revisões foram obtidas através de participação no 1º Simpósio Brasileiro de Fitoterapia, realizado entre os dias 30 de junho e 3 de julho de 2009, no Rio de Janeiro, e organizado pela Anvisa e pelo Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais (IBPM), cujo tema principal foi regulação da indústria de fitoterápicos. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 33 baseado no conhecimento tradicional e deverá ser feito estritamente para alívio sintomático nos casos previstos na possível futura Resolução. Essa seria uma tentativa de regulamentar um outro nível de complexidade no que diz respeito à utilização de plantas medicinais. Segundo Carvalho (2009), a partir de 2004, não se pode renovar o registro desses produtos. Mas, a partir da constatação da sua larga utilização, a ANVISA propôs essa nova Resolução que permitirá a notificação das drogas vegetais, para os casos em que for utilizada apenas a planta como auxiliar no tratamento de determinados sintomas. Também com relação às drogas vegetais, foi elaborada outra consulta pública, a CP nº 36 do ano de 2009, a qual prevê regras específicas para as Boas Práticas de Fabricação de Drogas Vegetais Sujeitas a Notificação. Outra consulta pública lançada no corrente ano, com implicação para a produção dos medicamentos fitoterápicos, foi a CP nº 3/2009. Embora a consulta trate de forma geral das Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos, a nova Resolução, que deverá substituir a RDC 210/03, incluirá um anexo exclusivamente dedicado às Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos Fitoterápicos. O objetivo será atender às peculiaridades da produção desse tipo de medicamentos, que envolvem, por exemplo, as condições especiais de sanitização e higiene. Ainda no ano de 2009, no mês de setembro, a Anvisa lançou nova consulta pública, de nº 63, que tem como objetivo aprovar o “Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de Fabricação de Insumos Farmacêuticos Ativos de Origem Vegetal”, através da inclusão de um anexo específico na RDC 249/05. Em suma, acredita-se que essas consultas públicas sejam uma tentativa de permitir o fortalecimento de produtores do setor de fitoterápicos, que não puderam acompanhar as exigências técnicas feitas pela revisão da regulamentação em 2004, sem, entretanto, deixar de exigir os mesmos controles demandados para os demais medicamentos no mercado. Na verdade, deverão abrir espaço para uma maior circulação de fitoterápicos baseados em uso tradicional e demonstram sensibilidade às características particulares do mercado brasileiro, conforme apresentado a seguir. 2. 2 - O mercado brasileiro de fitoterápicos Freitas (2007) registrou que a indústria brasileira de fitoterápicos representava cerca de 4% da indústria farmacêutica no mercado privado, em 2006, e obteve um faturamento de R$ 543 milhões para uma produção física de 32 milhões de unidades de produtos. Este total corresponde à cerca de 80% do mercado farmacêutico varejista, ou René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 34 seja, dos medicamentos vendidos nas farmácias e para outros distribuidores através dos atacadistas e distribuidores. Os 23,3% restantes não são cobertos pelos dados consultados e representam venda direta aos hospitais e outros canais de distribuição. A ABIFISA, principal associação do setor, dimensiona o mercado brasileiro de fitoterápicos a partir de um faturamento de R$ 660,5 milhões, em 2007, e uma quantidade vendida de 37,3 milhões de unidades. Esse tamanho corresponde a cerca de 3% do mercado farmacêutico, conforme Tabela 2. Nesta Tabela pode–se também inferir o crescimento acelerado do faturamento no mercado de fitoterápicos que foi de quase 11% em relação a 2005 e de mais de 18% em relação a 2006. A aceleração nas quantidades vendidas foi tão expressiva quanto, passando de 1,8% para 8,5%. Tabela 2 - Mercado de fitoterápicos, quantidade (mil un.) e faturamento (R$ mil) 2005-2007 1 2 3 4 5 Fitoterápicos Farmacêutico Participação relativa (%) Tx de crescimento fito.¹ (%) Tx de crescimento farma.¹ (%) 2005 Quantidade Faturamento 33.783 504.178 1.390.526 19.228.537 2,4 2,6 - Quantidade 34.380 1.468.714 2,3 1,8 5,6 2006 Faturamento 559.015 21.684.868 2,6 10,9 12,8 Quantidade 37.302 1.503.228 2,5 8,5 2,3 2007 Faturamento 660.542 23.528.081 2,8 18,2 8,5 Fonte: Elaboração própria com base em dados da Abifisa e na base Anvisa/Sammed (2009) 1- Em relação ao ano anterior Uma comparação entre as taxas de crescimento dos mercados farmacêutico e fitoterápico mostra que o mercado farmacêutico foi mais dinâmico em 2006, mas foi bastante ultrapassado pelo desempenho do mercado de fitoterápicos tanto em quantidades, quanto em faturamento em 2007. Outras fontes de pesquisa, utilizando metodologias muitas vezes não informadas, registram um tamanho bem superior para o mercado brasileiro. Por exemplo, o jornal Valor Econômico (2008) refere-se ao mercado de medicamentos fitoterápicos como um movimento em torno de US$ 1,1 bilhão de dólares. Em relação ao mercado externo, Rodrigues et al. (2008) levantaram uma exportação de US$ FOB de 393,8 milhões em 2006. Neste período as exportações cresceram de 238% e indicam também um forte dinamismo do mercado. Do total exportado em 2006, ainda segundo os mesmos autores, a maior parte é de produtos fitoterápicos acabados e foi nesse segmento que se observou a maior taxa de crescimento das exportações (811%). Entretanto, fica bem claro que o mercado de fitoterápicos brasileiro é bem inferior ao valor indicado na seção anterior para os mercados estrangeiros. Cerca de 40 vezes menor que o mercado global, 16 vezes menor que o mercado europeu e 12 vezes menor que o mercado americano. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 35 Uma razão para tal pode ser o fato de que a sua regulamentação recente e as políticas nacionais para o setor são ainda muito recentes para que seus efeitos tenham sido sentidos sobre o mercado interno e sobre a estrutura industrial do setor. E a conseqüência desse mesmo fato é a importância crescente que o mercado externo, principalmente as importações, tem apresentado no dinamismo do setor. Em outras palavras, na ausência de uma estrutura industrial adequada à demanda, essa está sendo atendida por importações, conforme registram Rodrigues et al. 2008, afirmando que o Brasil foi importador líquido de plantas medicinais e fitoterápicos em 2006. Ainda segundo Freitas (2007), em 2006, foram identificados 103 laboratórios. Apenas 20 desses laboratórios concentravam cerca de 85% da produção em valor. Entre as três principais empresas estavam: o laboratório alemão Altana Pharma, a empresa americana Farmasa e a empresa brasileira Marjan, somando 40,6% do faturamento. Entre as demais 17 empresas líderes encontram-se grandes empresas farmacêuticas multinacionais, tais como a Sanofi-Aventis e a Abbott, e nacionais tais como a Ache e a Eurofarma, ainda que estejam presentes também empresas nacionais de menor porte e importância no mercado privado, tais como o laboratório Hebron. Levantamento posterior, feito por Carvalho et al. (2008), encontrou 512 medicamentos fitoterápicos registrados sendo 80 associados e 432 simples. Entre as apresentações desses registros 47,1% são cápsulas e apenas 20,62% comprimidos. Entre as espécies vegetais que deram origem aos medicamentos registrados como fitoterápicos simples, observou-se que a maioria delas veio da Ásia e da Europa, respectivamente, 28,40% e 27,1%. As espécies vegetais oriundas da América do Sul, incluindo as espécies brasileiras, representavam apenas 25,92% do total de produtos registrados como fitoterápicos simples. Os mesmos autores também analisaram os registros em termos de empresas. Um total de 119 empresas detinha os registros e apenas uma única empresa era responsável por cerca de 9% dos registros válidos. Tomando-se as dez maiores, essas detêm 43,8% do total. Assim como em termos de localização da produção, os autores identificaram que 90% dos registros são de propriedade de empresas localizadas nas regiões Sudeste (57%) e Sul (33%) do país. Em relação ao fornecimento de matérias primas, o principal registro realizado pela literatura é de que falta qualificação dos produtores e fornecedores primários, os produtores agrícolas, assim como controle de qualidade das plantas e extratos brasileiros. Isto tem levado o Brasil a ser um importador das matérias primas in natura e René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 36 dos extratos vegetais. Segundo Rodrigues et al. (2008) as importações no período entre 1996 e 2006 cresceram no segmento de plantas medicinais e suas partes (40,5%), no segmento de sucos e extratos a partir de plantas (53,1%) e decresceram ligeiramente no segmento de princípios ativos a partir de plantas medicinais (-31,1%). O resultado apresentado no segmento de produção de princípios ativos, segundo os mesmos autores, mostra que está havendo um início do processo de substituição de importação dos princípios ativos a partir de plantas medicinais. Em relação às atividades de P&D nas empresas de medicamentos fitoterápicos, Simões e Schenkel (2002) afirmam que a propensão a investir nessas atividades é muito pequena, seguindo o já observado nas empresas farmacêuticas atuando no Brasil. A quase totalidade dos produtos comercializados pelas empresas de fitoterápicos, baseados em plantas nativas, está fundamentada apenas no uso popular dessas plantas. As plantas de origem exótica (européia e americana) tiveram pesquisas para comprovação de sua segurança e eficácia realizadas em seus países de origem. A mesma constatação pode ser feita a partir do reduzido número de produtos patenteados por empresas brasileiras em parceria com as universidades. Esse resultado foi encontrado no estudo realizado por Moreira et al. (2006). De um total de 278 plantas nativas, cerca de 70% foram a base de objetos de documentos de patente. Entre os detentores das patentes, entretanto, apenas cerca de 6% eram empresas brasileiras, universidades e instituições de pesquisa. Os 94% restantes eram estrangeiros. Em resumo, isso mostra que (i) o mercado, apesar de no exame do comportamento das vendas, em termos de valor, ser concentrado em termos de produtores e classes terapêuticas, ainda está se consolidando, devendo se tornar mais concentrado; (ii) novas movimentações financeiras deverão ocorrer; (iii) a indústria de fitoterápicos brasileira segue um padrão de localização da produção e da distribuição bem próximo da indústria farmacêutica; e (iv), por fim, em relação à dependência de matéria prima e atividades de P&D, a indústria brasileira de fitoterápicos também tem se tornado cada vez mais tributária das empresas multinacionais. Estes fatos serão evidenciados ou negados a partir da pesquisa realizada sobre registros e empresas relatada a seguir. Para a definição de produto fitoterápico foi utilizada a definição legal contida na legislação brasileira, mas especificamente na RDC 48 da ANVISA, apresentada na subseção 2.1. A primeira etapa de pesquisa desenvolvida foi uma busca dos registros. Como já informado na introdução, o levantamento inicial dos registros de fitoterápicos foi René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 37 elaborado a partir de três listas de espécies vegetais que servem de princípios ativos para esses medicamentos: RENISUS, a Instrução Normativa n.5/2008 da ANVISA e a lista de espécies vegetais com registros de fitoterápicos simples presente em Carvalho et al. (2008). Na lista RENISUS constam 71 espécies vegetais, nas quais o SUS tem interesse e vislumbra a possibilidade de oferecer para tratamento dos pacientes. Na Instrução Normativa n.5/2008 consta a relação de medicamentos fitoterápicos de registros simplificados, num total de 36 medicamentos. Nessa relação, há uma pequena ficha descritiva de cada medicamento com os seguintes dados: nomenclatura, nome popular, parte usada, padronização, apresentação (chamado de derivado de droga vegetal), indicações terapêuticas, posologia e restrições. Carvalho et al. (2008) apresentam a relação de espécies vegetais com registros como fitoterápicos simples. O passo seguinte foi à realização de um cruzamento entre as fontes com o objetivo de eliminar espécies vegetais repetidas. Ao final, obteve-se uma lista com um total de 124 espécies, conforme Anexo de Espécies Vegetais. A partir do levantamento citado acima, foi feita uma busca na base de registros de medicamentos da ANVISA, com o objetivo de identificar as empresas produtoras e as demais informações disponíveis no registro dos medicamentos7. Cada espécie vegetal é considerada como o princípio ativo de um fitoterápico, conforme RDC 48. Através das espécies vegetais as buscas forneceram uma lista de produtos e a partir de cada produto o site fornecia uma série de outras informações. Entre as informações, além da informação sobre espécie vegetal (princípio ativo), estão: nome da empresa, CNPJ, número de autorização, nome comercial, categoria, número de registro e data de vencimento do registro. O resultado final foi uma lista com 963 registros de medicamentos. Em relação a esse total, cabe destacar que alguns dos registros identificados encontravam-se vencidos. A primeira intuição foi eliminar esses registros, já que a ausência de registro impediria a produção e comercialização do fitoterápico segundo as normas vigentes no Brasil (Lei 6.360/76). Porém, posteriormente optou-se por mantêlos. Duas razões orientaram essa decisão. A primeira delas foi uma consulta telefônica feita à ANVISA. Através dela foi informado que alguns registros já vencidos continuam valendo, ou porque a empresa ainda está providenciando documentos necessários ou 7 A base está disponível no site da ANVISA no link http://www7.anvisa.gov.br/datavisa/Consulta_Produto/consulta_medicamento.asp. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 38 porque as suas renovações ainda não haviam sido atualizadas na base de dados. Um controle exato deste problema poderia ser feito através da consulta ao diário oficial, opção que a pesquisa resolveu não adotar dado o restrito tempo disponível. A segunda razão, que apenas confirmou a observação da ANVISA, foi uma consulta ao Brasíndice (2009), um guia de farmácias que contém os produtos produzidos e comercializados, bem como os seus respectivos preços no mercado brasileiro. Vários produtos com informação de registro vencido na base da ANVISA estão sendo normalmente produzidos e comercializados. Por fim foi realizada uma primeira análise dos registros levantados, em que foram retirados aqueles que não se referiam a medicamentos fitoterápicos. Utilizou-se a ajuda de um consultor farmacêutico. Em vários registros apesar de não constar a indicação de que os produtos eram fitoterápicos, mas apenas indicarem a classe terapêutica, optou-se por mantê-los na lista por estarem de acordo com a definição de fitoterápicos adotada pela RDC 48. Outros que possuem associações com outras medicações que não são plantas ou que são associações homeopáticas foram desconsiderados. A lista final resultou em 727 registros, conforme Tabela 3 que informa suas datas de vencimento. Cerca de 60% deles encontram se válidos e dos 40% restantes a maior parte encontra-se vencida desde 2007 (31,5%). Tabela 3 - Registros segundo datas de vencimento, 2009 N. registros % Vencidos até 2007 229 31,5 Vencidos em 2008 71 9,8 Vencem a partir de 2009 427 58,7 Total 100 727 Fonte: Elaboração própria, a partir da base de registros de medicamentos da Anvisa A lista inicial de empresas foi criada a partir da lista de registros, resultando em uma lista com 166 empresas. Para essas empresas foi feita uma pesquisa ampla na internet sobre as informações relativas a história da empresa, mercado global, mercado brasileiro, e organização. Para a obtenção de dados econômicos sobre as empresas pensou-se inicialmente em consultar a base de dados do IMS Health. Entretanto, a consulta a essas informações nesta base tornar-se-ia muito morosa devido à inexistência de um filtro específico para produtos fitoterápicos. Os produtos nessa base estão classificados por classe terapêutica, informação nem sempre disponível no registro. De fato, uma inspeção nos registros considerados indica que 58% deles não tinham indicação sobre classe terapêutica, mas apenas se eram fitoterápicos simples ou compostos. Como alternativa a ANVISA René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 39 disponibilizou a base de dados que ela recebe todos os anos de cada empresa com um relatório das vendas anuais. Trata-se da base ANVISA/Sammed com informações sobre 86 empresas atuando no mercado de fitoterápicos. Outras informações disponíveis na base são: CNPJ, razão social da empresa, nome do produto, número do registro, apresentação, tipo de tarja, quantidade e faturamento de medicamentos vendidos por apresentação mensal de janeiro a dezembro de 2008, e, finalmente, se o produto foi comercializado ou não em 2008. Desta forma, a pesquisa dispõe de duas bases de dados sobre empresas conforme indica a Tabela 4 que apresenta o número de informações em cada base denominadas Tabela A e B. A Tabela A, organizada a partir da lista de registros e a Tabela B, construída a partir da base ANVISA/Sammed. Na Tabela A constam 166 empresas e na Tabela B, 86, sendo que 81 empresas são comuns às duas bases. A base final de empresas (Tabela C) é uma agregação das duas bases com 171 empresas, mas só existem informações sobre faturamento para 86 empresas. Tabela 4 - Resumo comparativo das bases de empresas Tabela A Tabela B Tabela C 1 N. de empresas 166 86 171 N. de empresas que só estão na Tabela 85 5 0 2 respectiva 3 N. de empresas em comum 81 4 N. de registros/apresentações 727 476 Fonte : Elaboração própria Tabela A - Tabela obtida a partir dos registros, 2004-2008 Tabela B - Tabela obtida a partir de Anvisa/Sammed, dados de 2008 Tabela C - Unificação das tabelas A e B O número de empresas comuns (81) nas Tabelas A e B representa cerca de 50% da lista inicial de empresas organizada a partir dos registros (166). A Tabela 5 mostra a representatividade da base ANVISA/Sammed em relação ao mercado total de fitoterápicos no ano anterior (2007): um pouco menos de 70% do faturamento e mais de 100% da quantidade8. Estes são os limites e o alcance das generalizações que podem ser feitas sobre as informações econômicas relativas às empresas. 8 A soma maior do que 100% deve-se ao fato de as informações referirem-se a anos distintos. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 40 Tabela 5 - Representatividade das bases de dados, 2008 N° de Total qtde Total fat (R$) Empresas (un.) 1 Mercado Comum (1) 81 37.867.412 447.773.174,08 2 Mercado Anvisa Samed (2) 86 37.909.026 448.013.692,95 3 Mercado Fitoterápicos ¹ (3) 37.302.808 660.542.000,00 4 Diferença [(2)-(1)] 5 41.614 240.518,87 5 Participação [(1)/(2)] (%) 94,2 99,9 99,9 6 Participação [(2)/(3)] (%) 101,6 67,8 Fonte: Elaboração própria a partir da base ANVISA/Sammed (2009) e Abifisa (2007) 1- Relativo ao ano de 2007 Além dos dados secundários anteriormente apresentados, a pesquisa realizou entrevistas com empresas para inferir alguns posicionamentos sobre a conduta das mesmas no mercado. A pesquisa foi realizada através da aplicação de questionário enviado por meio eletrônico (ver Anexo Questionário). As empresas foram escolhidas a partir dos registros obtidos junto à ANVISA. Do total de empresas levantadas nos dados secundários, 171, apenas 25 responderam ao questionário (14,6%). Esse questionário tinha como objetivo verificar se as empresas trabalham com matéria prima vegetal, se fazem parcerias com universidades ou institutos de pesquisa ou se têm interesse em fazê-las, se têm dificuldades em atender às normas legais, se utilizam espécies botânicas originárias dos biomas brasileiros, sobre os fornecedores de matéria prima e a qualidade da mesma, sobre a certificação das espécies utilizadas e como se dá o acesso ao patrimônio genético. Em relação as 25 empresas, constata-se que quatro estão entre as vinte com maior faturamento no mercado de fitoterápicos brasileiro, no ano de 2008, mais de 50% delas são de capital nacional, 50% se situam na região sudeste e 10 na região sul do país. As respondentes ainda que possuam significância no conjunto de empresas identificadas (14,6%), não constituem uma amostra representativa. A principal questão é que a região sudeste apresenta um número significantemente maior de empresas quando se considera o total de empresas no mercado. Logo, os resultados obtidos têm um valor apenas qualitativo e indicativo da conduta das empresas, não devendo ser considerado como generalizável para o conjunto atuando no mercado. A seguir serão apresentados os resultados observados sobre a estrutura do mercado, conduta das empresas e desempenho obtidos a partir da pesquisa. 2.2.1 – Resultados observados O número de empresas analisadas chegou a 171. Sua distribuição no território nacional é bastante desigual, conforme se pode perceber na Figura 4. Somente no estado René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 41 de São Paulo se concentram cerca de 40% das empresas e na região Sudeste cerca de 65%. Essa distribuição se revela, portanto, bastante assimétrica em relação à distribuição de espécies vegetais pelos biomas brasileiros. A região norte, conhecida por sua biodiversidade, conta apenas com aproximadamente 2% das empresas. Figura 4 - Distribuição das empresas por unidade da Federação 2 2 1 1 1 6 2 3 8 12 69 7 30 8 19 Fonte: Elaboração própria Segundo o modelo adotado para análise do mercado, o Modelo ECD, a sua estrutura pode ser representada pelo número de produtores ou vendedores e número de produtos. A primeira informação relacionada ao volume do mercado (em unidades ou em faturamento) nos fornece informações sobre o grau de competição existente. Quanto maior o número de vendedores e mais igualitário são os seus tamanhos relativos, maior René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 42 é o grau de competição. A segunda informação indica o grau de diferenciação de produtos. Quanto maior o grau de diferenciação maior é a segmentação do mercado e menor a competição entre os produtores. Como visto na metodologia foram identificados 171 laboratórios produtores no mercado de fitoterápicos com a comercialização de 727 produtos ou medicamentos registrados. Em termos de faturamento, as informações referem-se a 86 empresas com informações sobre faturamento na base de dados ANVISA/Sammed e cerca de 476 registros. A Tabela 6 informa a colocação das vinte maiores empresas e suas participações relativas no mercado. Tabela 6 - As maiores empresas por faturamento em fitoterápicos, 2008 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Nome da empresa NYCOMED PHARMA LTDA. MARJAN INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA SANOFI-AVENTIS FARMACÊUTICA LTDA INFAN INDUSTRIA QUIMICA FARMACEUTICA NACIONAL S/A LABORATORIO CATARINENSE S A HERBARIUM LABORATORIO BOTANICO LTDA FARMOQUÍMICA S/A BARRENNE INDUSTRIA FARMACEUTICA LTDA SOLVAY FARMA LTDA DM INDUSTRIA FARMACÊUTICA LTDA PRODUTOS FARMACÊUTICOS MILLET ROUX PROCTER & GAMBLE DO BRASIL S/A EUROFARMA LABORATÓRIOS LTDA ABBOTT LABORATÓRIOS DO BRASIL LTDA QUIMICA FARMACEUTICA NIKKHO DO BRASIL LTDA ACHÉ LABORATÓRIOS FARMACÊUTICOS S.A. LABORATÓRIO WESP LTDA BIOLAB SANUS FARMACÊUTICA LTDA BUNKER INDUSTRIA FARMACEUTICA LTDA CIMED INDÚSTRIA DE MEDICAMENTOS LTDA TOTAL EMPRESAS Participação Relativa (%) Faturamento Quantidade 20,1 9,6 10,1 6,9 7,2 4,8 5,1 3,1 5,1 8,3 4,9 5,9 4,9 4,0 4,8 9,6 4,0 0,6 3,9 2,9 3,7 3,3 3,5 4,0 3,0 1,3 2,0 0,7 1,9 1,1 1,7 0,5 1,6 0,2 1,4 1,5 1,1 5,7 0,8 1,5 91,0 75,3 Fonte: Elaboração própria com base em Anvisa/Sammed (2009) Observa-se que o leque dos tamanhos relativos das 20 maiores empresas por faturamento é enorme, variando de 20% para a primeira colocada e menos de 1% para a última. Além disso, somente cinco empresas apresentam uma participação relativa por faturamento maior do que 5%. Quando a variável considerada é a quantidade, observase que a discrepância entre a primeira e a última colocada é bem menor, mas ainda significativa. Comparando-se a participação relativa em faturamento e quantidade percebe-se também que não há uma correspondência linear entre as colocações. Um exemplo claro é a empresa Barrenne que apesar de ter uma participação relativa em quantidade igual a da Nycomed (9,6%) está colocada na oitava posição em faturamento contra a primeira posição da Nycomed. Outro exemplo é o Laboratório Catarinense que se encontra na segunda posição em quantidade e apenas na quinta em faturamento. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 43 Essas diferenças refletem estratégias de mix de produto e de preços praticados por cada empresa, como desenvolvido a seguir. Um elemento adicional para a análise do mercado é uma medida do grau de concentração das empresas por faturamento e número de unidades vendidas. Ela indica se um mercado está mais próximo da competição (valores próximos de zero) ou do monopólio (valores próximos de 100%). O grau de concentração pode ser mensurado pela taxa de concentração. Essa é calculada pelo somatório das participações relativas de um número qualquer de maiores empresas, denominadas k empresas. Escolheu-se analisar o grau de concentração tomando-se as participações relativas das 4, 8 e 20 maiores empresas do mercado, por faturamento e por quantidade. Os resultados estão apresentados na Tabela 7 e apontam para uma concentração bastante elevada, principalmente considerando as 8 e as 20 maiores empresas, responsáveis por respectivamente 62% e 91% do mercado. Tabela 7 - Grau de concentração, 2008 CR (k) Fat. (R$) % Quant.(un) CR(4) 190.349.968,8 42,5 9.236.414 CR(8) 278.866.034,3 62,3 19.763.488 CR(20) 407.288.197,7 91,0 28.522.702 Fonte: Elaboração própria com base em Anvisa/Sammed (2009) CR (k) = ∑ sk , k < n sk = participação relativa da k ésima empresa n = número total de empresas % 24,4 52,2 75,3 A comparação dos resultados obtidos com os vigentes no mercado farmacêutico mostra uma concentração bem maior. As quatro maiores empresas no mercado de fitoterápicos já respondem por 42,5% do mercado em faturamento, enquanto, no mercado farmacêutico, para atingir uma parcela semelhante há que se considerar as dez maiores empresas (Hasenclever, 2002). Além disso, o mercado farmacêutico é constituído de empresas com participações relativas mais igualitárias. Adicionalmente, é importante ressaltar-se que o indicador tomado para inferir o grau de concentração não considera o conceito de mercado adequado para sua inferência, ou seja, o conceito de mercado relevante, mas sim o mercado como um todo, que certamente superestima o número de empresas concorrentes em cada mercado relevante. Para calcular-se o grau de concentração, adotando-se o conceito de mercado relevante, que inclui apenas produtos substitutos entre si, haveria que se ter informações sobre a classe terapêutica dos fitoterápicos, informações essas que, como visto, nem sempre constam dos dados de registro. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 44 Em resumo, pode-se afirmar que ainda que o número de empresas no mercado seja grande, o mercado é dominado por poucas empresas e com tamanhos muito desiguais. Estas duas características indicam um baixo grau de competição entre as empresas e até sugerem uma segmentação entre dois grupos de empresas: as 20 maiores que seriam as líderes e ditariam o padrão de concorrência no mercado e as 151 restantes que ocupariam uma franja marginal do mercado ainda indefinida e sem condições tecnológicas e financeiras de sustentar uma posição competitiva nesse mercado. O número de produtos no mercado e sua diferenciação podem ser inferidos pelo número de registros e suas espécies. Uma mesma espécie vegetal pode dar origem a mais de 30 diferentes princípios ativos. Isto foi constatado nos 727 registros com a identificação das espécies. Por exemplo, a erva medicinal Ginkgo biloba, primeira colocada em número de citações nos registros como princípio ativo, é a base de 60 registros. A segunda colocada é a erva medicinal Aesculus hippocastanum, tendo sido encontrada como princípio ativo de 34 registros. A empresa com o maior número de registros foi a Herbarium, que, com 61 registros, representa o percentual de 8,39 do total de registros das 171 empresas. As dez primeiras empresas nesse universo são responsáveis por 33,82% dos registros. Entretanto, apesar desta enorme quantidade de produtos (727) e a intensa diferenciação a partir de cada espécie vegetal, observa-se que apenas 15 produtos apresentam uma liderança inconteste: eles absorvem 58% do faturamento das 81 empresas com informações econômicas disponíveis. A Tabela 8 lista esses 15 produtos, no ano de 2008. Um primeiro ponto a se notar é que os laboratórios responsáveis por estes produtos estão também entre os 20 maiores produtores por faturamento, reforçando a idéia de que existe um grupo de empresas líderes, as quais também detêm os produtos campeões de venda nesse mercado. Entretanto, nem sempre o produto melhor colocado corresponde à empresa nas primeiras posições por faturamento. As exceções que confirmam a regra são as empresas Nycomed e Marjan, a primeira colocada em faturamento lidera com cinco produtos colocados na lista dos 15 produtos líderes em vendas, enquanto a segunda aparece com dois produtos. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 45 Tabela 8 – Colocação dos produtos líderes, por faturamento, classes terapêuticas, princípio ativo, espécies vegetais, 2008 Rk Empresa (n) Produtos Classe Terapêutica Princípio Ativo / Espécies Vegetais 1 SANOFI-AVENTIS FARMACÊUTICA LTDA (3) NATURETTI LAXANTES SENNA ALEXANDRINA MILL. / CASSIA FISTULA / TAMARINDUS INDICA L. / GLYCYRRHIZA GLABRA L. / CORIANDRUM SATIVUM 2 NYCOMED PHARMA LTDA. (1) EPAREMA COLAGOGOS E COLECINÉTICOS PEUMUS BOLDUS + RHAMNUS PURSHIANA + RHEUM PALMATUM 3 FARMOQUÍMICA S/A (2) ABRILAR EXPECTORANTES HEDERA HELIX (HERA) 4 BARRENNE INDÚSTRIA FARMACEUTICA LTDA (8) TAMARINE LAXANTES CASSIA ANGUSTIFOLIA, VAHL/ TAMARINDUS INDICA / CASSIA FISTULA / CORIANDRUM SATIVUM / GLYCYRRHIZA GLABRA 5 NYCOMED PHARMA LTDA. (1) PLANTABEN LAXANTE INCREM. BOLO FECAL PLANTAGO OVATA FORSK. 6 NYCOMED PHARMA LTDA. (1) TEBONIN VASOTERAPIA CENTRAL/PERIFÉRICA GINKGO BILOBA L. 7 DM INDÚSTRIA FARMACÊUTICA LTDA (10) MARACUGINA HIPNOT/SEDATIVOS PASSIFLORA ALATA CURTIS / ERYTHRINA MULUNGU MART. / CRATAEGUS OXYACANTHA L. 8 SOLVAY FARMA LTDA (9) PIASCLEDINE OUTROS PRODUTOS COM ACAO NO ÓLEO DE ABACATE / ÓLEO DE SOJA SISTEMA MUSCULO ESQUELETICO 9 MARJAN INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA (2) PASALIX HIPNOT/SEDATIVOS SALIX ALBA L. / EXTRATO SECO DE PASSIFLORA / EXTRATO DE CRATAEGUS OXYACANTHA 10 PROCTER & GAMBLE DO BRASIL S/A (12) METAMUCIL LAXANTES INCREMENTADORES DO BOLO INTESTINAL PLANTAGO OVATA FORSK. 11 MARJAN INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA (2) VECASTEN ANTIVARICOSOS DE ACAO SISTEMICA MELILOTUS OFFICINALIS LAM. 12 PRODUTOS FARMACÊUTICOS MILLET ROUX (11) PASSIFLORI HIPNOT/SEDATIVOS PASSIFLORA INCARNATA / SALIX ALBA L. / CRATAEGUS OXYACANTHA L. / GLUCONATO DE CÁLCIO / COLECALCIFEROL / PEPTÍDEOS DE BAIXO PESO MOLECULAR / HIPOSSULFITO DE MAGNÉSIO 13 LABORATORIO CATARINENSE SA (5) MELAGRIÃO ANTITUSSIGENOS NASTURTIUM OFFICINALE R.BR. / ACONITUM NAPELLUS / MIKANIA GLOMERATA SPRENG. / POLYGALA SENEGA L. / CEPHAËLIS IPECACUANHA ( BROT. ) A.RICH. / MYROXYLON BALSAMUM HARMS 14 NYCOMED PHARMA LTDA. (1) KALOBA OUTROS PRODUTOS PARA O APARELHO RESPIRATORIO PELARGONIUM SIDOIDES DC. 15 NYCOMED PHARMA LTDA. (1) LEGALON COLAGOGOS, COLERETICOS E HEPATOPROTETORES CARDUUS MARIANUS L. TOTAL DE FATURAMENTO 58,34% Fonte: Elaboração própria, a partir de informações de Anvisa/Sammed (2009) (N) = posição na colocação por faturamento em 2008, Tabela 6 Com relação às espécies, há poucas repetições entre os 15 primeiros produtos colocados por faturamento. Mas podemos observar a repetição de diferentes tipos de Passiflora (Passiflora alata curtis, extrato seco de Passiflora, Passiflora incarnata) e da espécie Crataegus oxyacantha, nos três produtos da classe hipnóticos/sedativos. A espécie Plantago ovata também se repete em dois laxantes, enquanto nos outros dois, se repetem as mesmas espécies, entre elas: a Cassia fistula e a Glycyrrhiza glabra. A outra forma de diferenciação dos produtos, além de seus princípios ativos, é a classe terapêutica, que indica o tipo de doença para o qual o medicamento está indicado. Entre os quinze produtos fitoterápicos com o maior faturamento, as classes terapêuticas mais presentes são os laxantes (com 4 produtos), seguidos dos hipnóticos/sedativos (com 3 produtos) e dos colagogos/coleréticos (com 2 produtos). As demais classes aparecem com um produto cada. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 46 Finalmente, ainda que não tenha sido objeto de exploração nesse estudo, os produtos se diferenciam por formas de apresentação. Pode-se, concluir, portanto, que a diferenciação de produtos nesse mercado é tão intensa quanto no mercado farmacêutico, criando um elemento a mais para dificultar a competição no mesmo. A elevada diferenciação torna-se mais uma barreira à entrada no mercado, devido ao baixo grau de substituição entre os produtos, reforçando o grau de concentração conforme constatado pela forte liderança de alguns poucos produtos e empresas. Além da estrutura de mercado, analisou-se também a conduta das empresas. A partir das entrevistas obteve-se um resumo não representativo da opinião das empresas sobre as questões formuladas. Como resultado da opinião dos entrevistados conclui-se que o setor produtivo ainda é frágil. É composto de mais de 50% por empresas pequenas, com baixa capacidade de investimentos em P&D e com fraca e descontínua interação com as instituições de pesquisa. Ainda assim várias delas têm interesse em parcerias com as instituições de pesquisa para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de seus produtos. Com relação aos aspectos legais referentes ao patrimônio genético, uma parcela pequena das empresas entrevistadas possui licenças para acesso a esse patrimônio e várias delas têm dificuldades em atender as normas do CGEN. No que se refere aos aspectos legais relacionados ao registro dos produtos, um terço dos entrevistados tem dificuldades em se adequar às exigências das novas regulamentações da ANVISA. No que diz respeito aos fornecedores e à qualidade da matéria prima, ainda que todos os entrevistados realizem controle de qualidade, apenas um terço disse possuir certificação botânica. A maior parte das plantas medicinais é adquirida de terceiros tanto de fornecedores nacionais quanto de internacionais. Segundo os entrevistados, o bioma mais utilizado é o da Mata Atlântica, refletindo a distribuição geográfica das empresas consideradas na pesquisa sobre os registros. Uma pesquisa adicional realizada na internet para ampliar as informações sobre os principais fornecedores detectou nove empresas fornecedoras de extratos vegetais para a indústria farmacêutica, de cosméticos e alimentos. A maioria dessas empresas tem 25 anos ou menos de fundação e as farmácias de manipulação são mencionadas como clientes de oito delas. Com relação à localização, sete empresas se situam no estado de São Paulo (sendo que uma delas tem também um pólo industrial no estado do Piauí), uma no estado do Paraná e a outra no estado de Goiás. Uma possível explicação para essa concentração no estado de São Paulo seria a importância da proximidade com René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 47 o seu mercado consumidor, ou seja, as empresas farmacêuticas, de cosméticos e alimentos concentram suas plantas industriais nesse Estado. Do total de empresas encontradas, somente duas distribuem apenas extratos vegetais produzidos em suas próprias plantas industriais, ambas localizadas no interior paulista, são elas: Centroflora e Sanrisil. Além disso, essas empresas são as mais antigas no conjunto de empresas fornecedoras, tendo sido fundadas em 1954 e 1949, respectivamente. Essas duas empresas concentram suas atividades na produção de insumos bioativos, matérias primas e extratos botânicos, os fornecendo principalmente para a indústria alimentícia, farmacêutica e de cosméticos. Com relação à Centroflora, é importante destacar que a empresa oferece a garantia de compra da safra e a transferência de tecnologia para pequenos agricultores dos quais ela compra a matéria prima para a fabricação dos extratos, sendo essa parceria estabelecida em atividades de cultivo agrícola e manejo de área nativa em outros treze Estados, além do Estado de São Paulo, onde está localizado seu principal distrito industrial. Outras quatro empresas identificadas como fornecedoras de matérias-primas para o setor, apesar de também produzirem insumos, atuam simultaneamente na distribuição de produtos produzidos por outras empresas, com grande destaque para os de origem estrangeira. Mais uma vez, as indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos são as principais clientes. As outras três empresas identificadas não produzem insumos e trabalham somente com a distribuição, exportação e a importação dos extratos vegetais. Ainda com relação à conduta das empresas através dos dados secundários foi possível também delinear alguns elementos de suas estratégias de preços, fusões e estratégias de P&D e marketing. No mercado de fitoterápicos não existe controle de preços diferentemente do mercado farmacêutico que tem seus preços controlados desde 2003 através da CMED. Tomando-se os preços médios praticados pelas 86 empresas para as quais têm-se informações sobre faturamento e quantidades vendidas, em 2008, percebe-se que os preços variam muito entre os produtos e mostram intuitivamente uma prática de discriminação que pode estar associada à tradição do produto como é o caso do produto Olina, produzido pelo Laboratório Wesp, ou outras formas de discriminação. Assim como no mercado de plantas medicinais e fitoterápicos mundial, o mercado brasileiro tem mostrado movimentações intensas das empresas de fusões e aquisições (F&A), estratégias típicas de movimentos de consolidação de um mercado que começou a nascer nos anos 1990. Além disso, algumas empresas realizaram René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 48 parcerias entre elas visando uma maior especialização. A pesquisa realizada no site das empresas registrou movimentações importantes de fusões e aquisições e parcerias entre as empresas líderes entre 1994 e 2008, conforme Figura 5. Figura 5 – Fusões e aquisições no mercado de fitoterápicos, 1994 a 2008 Byk Química e Farm. Altana Pharma Nycomed Biolab/Searle Biolab-Sanus Asta Médica Aché Merck Knoll Abbott Barrenne Farmasa Hypermarcas Virtus DM Ind Farm. Aventis Pharma Sanofi-Aventis Ativus Nikkho Infabra Cellofarm Hebron Infan Legenda: Aquisições e fusões Parcerias Fonte: Elaboração própria a partir de informações dos sites das empresas As F&A de maior relevância no mercado de fitoterápicos ocorrida entre 1994 e 2008 dizem respeito à compra da empresa Byk Química e Farmacêutica pela empresa Altana Pharma e, por fim, desta pela Nycomed e a união entre, de um lado, a Barrene e a Farmasa e, de outro entre a DM Indústria Farmacêutica e a Virtus que, finalmente, foram adquiridas pela Hypermarcas. Registra-se ainda a entrada no mercado brasileiro da empresa indiana Nikkho, multinacional de propriedade do Grupo Zydus Cadilla, que atua também no mercado farmacêutico, através da compra da Ativus, empresa brasileira. As fusões da Abbot com a Knoll e da Sanofi-Aventis com a Aventis Pharma René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 49 são decorrentes das fusões ocorridas a nível mundial que resultaram em mudanças também no mercado brasileiro já que essas empresas eram empresas estabelecidas no mercado farmacêutico. Finalmente, menciona-se a parceria selada entre o Hebron e a Infan, o primeiro responsável por parcerias de atividades de P&D a partir dos conhecimentos acumulados nas universidades brasileiras e estrangeiras e a segunda responsável pela produção e registro dos medicamentos. Ressalta-se essa parceria pelas vantagens obtidas por ambas as empresas a partir das especializações de cada uma, um sinal de maturidade do mercado. No que diz respeito às estratégias de P&D, Freitas (2000) registrou que os investimentos em P&D no mercado brasileiro de fitoterápicos eram ainda incipientes e reduzidos a um número restrito de empresas. As informações sobre o total do capital requerido como investimento no setor eram ainda esparsas e conflitantes. A principal causa para tal decorre das controvérsias sobre o tempo necessário para realização completa do ciclo de desenvolvimento do produto apresentadas na primeira seção deste trabalho. Ainda segundo a autora, estimava-se que as atividades de P&D, compreendendo desde a descoberta até a colocação do produto no mercado, envolveriam, na Alemanha, na Itália e nos Estados Unidos, cerca de US$ 7 milhões. Considerando que no Brasil o custo das pessoas envolvidas na atividade (doutores e pesquisadores) é bastante inferior ao desses países, estima-se que o custo de todas as etapas seria de US$ 350 mil a US$ 1 milhão (Freitas, 2000, p.68). A atualização dessas informações, por um lado, confirma o observado por Freitas (2000), de que os investimentos internos em P&D, realizados pelas empresas, são muito incipientes, restringindo-se a desenvolvimento analítico, testes de estabilidade e controle de qualidade. Existe uma variabilidade muito grande entre as informações coletadas sobre investimentos em P&D, mas em geral eles se apresentam inferiores a 5% do faturamento das empresas. Todavia, esse percentual é superior ao percentual apresentado pelas empresas farmacêuticas no mercado brasileiro e sugerem que a biodiversidade brasileira, acoplada à competência científica das universidades pode ser uma oportunidade interessante para superar o quadro brasileiro de baixo desenvolvimento tecnológico na área de produtos da saúde. Os gastos mais freqüentes nessa rubrica de investimento são salários, equipamentos, despesas com banco de dados, estudos clínicos e depósito e manutenção de patentes. São raros os funcionários pósgraduados alocados nas atividades de P&D. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 50 Por outro lado, porém, registra-se um aumento das atividades externas de P&D, em parceria com as universidades, principalmente em estudos clínicos. Atribui-se esse resultado às maiores exigências regulatórias de realização de testes para avaliação da segurança e da eficácia dos fitoterápicos feitas pela ANVISA a partir de 2004. Há também uma maior preocupação das empresas com a produção de extratos e com a padronização da matéria prima. Da mesma forma, essas atividades são demandantes de mais investimentos em P&D e justificam o fato de os gastos das empresas de fitoterápicos serem superiores aos das empresas farmacêuticas. Basicamente as mudanças apresentadas nos novos produtos dizem respeito à melhoria de qualidade a partir do uso de espécies clonadas ou da mudança nas formas de administração de alguns produtos (de produtos apresentados somente em via líquida para produtos em cápsulas). O uso de plantas clonadas permite o aumento da padronização dos princípios ativos e, conseqüentemente, a qualidade do produto final. Em relação aos processos a capacitação tecnológica diferencial necessária às empresas de fitoterápicos passa por capacidade de desenvolvimento analítico, capacidade de produção de extratos, capacidade de produção de matéria prima (plantio). A importância dessas capacitações sugere que a integração vertical seja um elemento de diferenciação competitiva relevante no segmento. É através do domínio do plantio e da produção de extratos que estará garantida a capacidade do produto final. Através da análise das estratégias de preços acima fica claro que, entre as práticas de marketing, uma delas é discriminar preços. Esta discriminação de preços está fundamentada na intensa possibilidade de diferenciação tecnológica proporcionada pelas atividades de P&D acima relatadas, mas também fundamentada no próprio marketing praticado pelas empresas. Estima-se que os gastos com marketing por produto correspondam a mais de 20% de suas vendas. Somem-se a esse custo os gastos com vendas, propaganda e salários da equipe de vendas, que chegam a 12% do total das vendas do produto. As maiores empresas tem mais condições de arcar com esses custos dos que as pequenas e, dessa forma, as práticas de marketing funcionam também como um reforço das barreiras à entrada no segmento. A assimetria de informações entre os produtores e os consumidores finais dá margem à provisão de informações que muitas vezes pode se tornar persuasiva e criadora de monopólios. Em suma a fotografia apresentada da estrutura do mercado e da conduta das empresas de fitoterápicos é bastante próxima do mercado farmacêutico. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 51 2.2.2 – Evidências da evolução do mercado A título de trazer uma contribuição adicional à descrição dos resultados acima que desenha uma fotografia estática do mercado no ano de 2008, realizou-se uma análise sobre a evolução das principais empresas, entre 1994, 2000, 2006 e 2008, a fim de evidenciar as principais tendências da evolução do mercado a partir de pesquisas realizadas anteriormente. Essas mudanças resultam da estrutura do mercado de fitoterápicos e das condutas das empresas, em particular, suas estratégias de fusões e aquisições realizadas no período e acima já relatadas. Elas serão evidenciadas aqui através de uma comparação entre as colocações das empresas e dos produtos líderes no período por faturamento. Com relação às principais empresas de fitoterápicos, segundo faturamento (ver Tabela 9), a primeira observação importante se refere à primeira colocação nas quatro anos considerados. A empresa Byk Química e Farmacêutica aparece, nos anos de 1994 e 2000, como a primeira por faturamento. No ano de 2006, a empresa que a adquiriu, a Altana Pharma, ocupa a primeira posição. Já no ano de 2008, após a compra da Altana Pharma pela empresa Nycomed, essa última assume a primeira posição. Pode-se, concluir, portanto, que não houve modificação na primeira posição, quando se compara o ano de 1994, 2000, 2006 e 2008, ainda que a empresa líder tenha se alterado devido às aquisições realizadas no período. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 52 Tabela 9 - Colocação das maiores Empresas, por faturamento, no mercado de fitoterápicos, 1994, 2000, 2006 e 2008 Laboratorio 1994 1 BYK QUÍMICA E FARM. BYK (1) 2 BIOLAB/ SEARLE KNOLL (ABBOTT) (3) 3 KNOLL 4 SANDOZ 5 MERCK SA BARRENNE (8) VIRTUS (DM) (16) AVENTIS PHARMA (Ø) 6 7 8 9 MARJAN (21) MILLET ROUX (7) CATARINENSE (19) KRYS-BELT (Ø) WELLCOME ZENECA MILLET-ROUX BARRENNE STIEFEL 10 ASTA MÉDICA 11 CANNONE 12 MERREL/LEPETIT 13 14 15 16 17 18 FRUMTOST HEBRON INFABRA VIRTUS BIOGALÊNICA BALDACCI 19 20 21 22 23 CATARINENSE BOEHRINGER ANGELI MARJAN ALLERGAN-LOK 2000 NIKKHO (Ø) HEBRON (14) PROCTER & GAMBLE (Ø) ZURITA (Ø) HERBARIUM (Ø) INFABRA (15) MERCK (5) ATIVUS (Ø) BIOLAB-SANUS (2) 2006 ALTANA PHARMA (1) 2008 NYCOMED (1) FARMASA (BARRENNE - 3) MARJAN (6) SANOFI-AVENTIS (5) MARJAN (3) DM IND FARMACÊUTICA (4) HEBRON (11) MILLET ROUX (7) FARMOQUIMICA (Ø) PROCTER & GAMBLE (12) ATIVUS (17) NIKKHO (10) EUROFARMA (Ø) ABBOTT (2) BIOLAB-SANUS (18) ACHÉ (Ø) ZURITA (13) HERBARIUM (14) EMS SIGMA PHARMA (Ø) WESP (Ø) INFABRA (15) SANOFI-AVENTIS (4) INFAN (HEBRON – 6) CATARINENSE (Ø) HERBARIUM (17) FARMOQUÍMICA (7) BARRENNE (FARMASA - 2) SOLVAY (Ø) DM IND FARMACÊUTICA (5) MILLET ROUX (7) PROCTER &GAMBLE (9) EUROFARMA (12) ABBOTT (13) NIKKHO (11) ACHÉ (15) WESP (19) BIOLAB-SANUS (14) BUNKER (Ø) CIMED (Ø) BRISTOL-MEYERS SQUIBB 24 LUITPOLD 25 FONTOVIT Fonte: Elaboração própria como base em Ferreira (2002); Freitas (2002) e (2007); e Anvisa/Sammed (2009) (N) Posição na coluna anterior; (Ø) Não aparece na coluna anterior Algumas empresas aparecem nos quatro anos considerados, ainda em que em diferentes colocações. Estas são: • Biolab-Searle/Biolab-Sanus – que sai da segunda posição, caindo para a décima oitava (após se tornar Biolab-Sanus), subindo para a décima quarta e caindo novamente para a décima oitava; • Knoll/Abbott – que sai da terceira posição, subindo para a segunda (após ser comprada pela Abbott), caindo para a décima terceira e caindo mais uma vez para a décima quarta; • Millet-Roux – que permanece nas três primeiras colocações na sétima posição e cai para décima primeira, na última colocação. • Barrenne/Farmasa – que sai da oitava posição para a terceira, sobe para a segunda (após ter sido adquirida pela Farmasa) e cai para a segunda posição (aparece como Barrenne). René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 53 • Hebron/Infan – que sai da décima quarta posição, sobe para a décima primeira, posteriormente, para a sexta e, finalmente, para a quarta (quando aparece como Infan, a empresa responsável pela produção, enquanto a Hebron realiza a pesquisa e desenvolvimento). • Virtus/DM Ind. Farmacêutica – que sai da décima sexta posição, sobe para a quarta (já como DM Ind Farm), caindo para a quinta posição e, novamente, para décima posição. • Marjan – que, numa trajetória ascendente, sai da vigésima primeira posição, para a sexta, para a terceira, até chegar à segunda. As demais empresas apresentaram um comportamento variado no período de observação. Em 2000, ano de importantes mudanças regulatórias, como visto, entraram sete nove empresas no ranking das 18 maiores denotando uma significativa mudança na liderança das empresas no setor. Entre as novas empresas na colocação destacam-se em ordem decrescente de faturamento a então Aventis Pharma, Kris-Belt, Nikkho, Procter &Gamble, Zurita, Herbarium e Ativus. Em 2006, destaca-se, entre as 22 colocações, o aparecimento de cinco novas empresas em ordem decrescente de faturamento: Farmoquímica, Eurofarma, Ache, EMS Sigma e Wesp. Ressalta-se que três dessas empresas atuam também no segmento de medicamentos farmoquímicos genéricos. Em relação à colocação dos produtos líderes a Tabela 10 resume as informações sobre o produto e a empresa. É importante ressalvar que, para o ano de 2000, a lista refere-se apenas aos 12 produtos mais importantes por faturamento, enquanto nos demais anos são apresentados os 20 mais relevantes segundo o mesmo critério. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 54 Tabela 10 - Colocação dos produtos líderes, por faturamento, no mercado de fitoterápicos, 1994, 2000, 2006 e 2008 1994 2000 2006 EMPRESAS PRODUTOS EMPRESAS PRODUTOS EMPRESAS PRODUTOS 1 BIOLAB/SEARLE VICK VAPORUB LEPM BYK TEBONIN (5) 2 SANDOZ HYDERGINE BARRENNE TAMARINE (7) 2008 EMPRESAS PRODUTOS TAMARINE (2) SANOFI-AVENTIS NATURETTI (3) EPAREMA(6) NYCOMED EPAREMA (2) NATURETTI (5) FARMOQUIMICA ABRILAR (6) TEBONIN (1) BARRENNE TAMARINE (1) PLANTABEN (Ø) NYCOMED PLANTABEN (5) ABRILAR (Ø) NYCOMED TEBONIN (4) METAMUCIL (9) DM IND FCTA MARACUGINA(10) 5 BYK TEBONIN KNOLL AVENTISPHARMA 6 KNOLL VENOCUR TRIPLEX BYK EPAREMA (11) 7 BARRENNE TAMARINE MARJAN PASALIX (Ø) FARMASA ALTANA PHARMA SANOFIAVENTIS ALTANA PHARMA ALTANA PHARMA FARAMOQUIMIC A PROCTER GAMBLE 8 KNOLL TANAKAN COSCARQUE (Ø) MARJAN PASALIX (7) SOLVAY PIASCLEDINE(Ø) 9 ASTA MEDICA TRANSPULMIN KRYS-BELT PROCTER GAMBLE METAMUCIL (15) MILLET ROUX PASSIFLORINE (12) PASALIX (8) VALDA VIRTUS MARACUGINA (Ø) DM IND FCTA MARACUGINA (10) MARJAN PROCTER GAMBLE METAMUCIL (7) MARJAN VECASTEN (Ø) MARJAN VECASTEN (11) ABBOTT TANAKAN(4) MILLET ROUX PASSIFLORINE (9) VENOCUR TRIPLEX 3 MERCK SA 4 FLORATIL WELLCOME ZENECA DIGOXINA 10 CANONNE KNOLL (6) TANAKAN (8) NATURETTI (12) L. DE CACAU 11 BYK EPAREMA MERREL/LEPETI NATURETTI 12 T VIRTUS XAVIER (Ø) PASSIFLORINE MILLET ROUX (13) 13 MILLET-ROUX PASSIFLORINE EUROFARMA EQUITAM (Ø) CATARINENSE MELAGRIÃO(Ø) 14 HEBRON GIAMEBIL HEBRON GIAMEBIL(Ø) NYCOMED KALOBA (Ø) NYCOMED LEGALON (Ø) 15 BIOLAB/SEARLE METAMUCIL BILAB-SANUS SERENUS (Ø) 16 BIOGALENICA NICOTINELL TTS ZURITA NOVARRUTINA(Ø) ABBOTT TANAKAN (12) 17 KNOLL TANAKAN F NIKKHO VALERIANE (Ø) EUROFARMA EQUITAM (13) 18 MILLET-ROUX CHOPHYTOL MARJAN CLIMADIL(Ø) INFAN GIAMEBIL (14) BUSCOPAN ATIVUS CALMAN(Ø) NIKKHO VALERIANE (17) DM IND FCTA HEMOVIRTUS(Ø) WESP OLINA (Ø) 19 BOEHRINGER ANGELI 20 BYK LEGALON Fonte: Elaboração própria como base em Ferreira (2002); Freitas (2002) e (2007); e Anvisa/Sammed (2009) (N) Posição na coluna de produtos anterior; (Ø) Não aparece na coluna de produtos anterior No que se refere aos produtos mais vendidos (faturamento), somando os quatro anos considerados, encontram-se 37 produtos diferentes. Destes, seis produtos se repetem nos quatro anos, três produtos em três anos e sete em dois. Os seis produtos que se repetem em todos os anos considerados, não obrigatoriamente na mesma posição em cada ano, são: • Eparema (Byk / Altana Pharma / Nycomed) – 11ª posição / 6ª posição / 2ª posição / 2ª posição. • Metamucil (Biolab-Searle / Procter & Gamble) – 15ª posição / 9ª posição / 7ª posição / 10ª posição. • Naturetti (Merrel-Lepetit / Aventis-Pharma / Sanofi-Aventis)– 12ª posição / 5ª posição / 3ª posição / 1ª posição. • Passiflorine (Millet Roux) – 13ª posição / 12ª posição / 9ª posição / 12ª posição. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 55 • Tanakan (Knoll / Abbott) – 8ª/17ª posição / 4ª posição / 12ª posição / 16ª posição. • Tebonin (Byk / Altana Pharma / Nycomed ) – 5ª posição / 1ª posição / 4ª posição / 6ª posição. Aparecem em três anos, os seguintes produtos: • Giamebil (Hebron) – 14ª posição / Ø / 14ª posição / 18ª posição. • Maracugina (Virtus / DM Ind. Farmacêutica) - Ø / 10ª posição / 10ª posição / 7ª posição. • Pasalix (Marjan) - Ø / 7ª posição / 8ª posição / 9ª posição. Com ocorrência em apenas dois anos, encontram-se sete produtos: Abrilar (Farmoquímica), Equitam (Eurofarma), Legalon (Byk / Nycomed), Plantaben (Altana Pharma / Nycomed), Valeriane (Nikkho), Vecasten (Marjan), Venocur Triplex (Knoll). Com relação ao número de registros de cada empresa, a comparação com o trabalho de Carvalho et al. (2008) pode ser feita apenas no que diz respeito aos percentuais, uma vez que os autores não disponibilizaram os nomes das empresas que possuíam mais registros. Sendo assim, observamos que, dentro de um universo 512 produtos registrados, em março de 2008, Carvalho et al. (2008) chegaram à conclusão de que a empresa com o maior número de registros obteve 8,6% do total de registros, enquanto 43,8% dos registros pertenciam a apenas dez empresas (entre as 119 empresas com registros para medicamentos fitoterápicos). Considerando que a busca realizada para esse trabalho encontrou um total de 727 registros, conforme já apresentado na seção anterior, a empresa com o maior número de registros foi a Herbarium Laboratório Botânico Ltda., que, com 61 registros representa o percentual de 8,39 do total. As dez primeiras empresas (num universo de 171), segundo esse critério, chegariam a concentrar 33,82% dos registros. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 56 Tabela 11 - Ranking de empresas de fitoterápicos por número de registros, 2009 Empresas Quantidade de Registros % 1 HERBARIUM LABORATÓRIO BOTÂNICO LTDA 61 8,4 2 ATIVUS FARMACÊUTICA LTDA 31 4,3 3 ORIENT MIX FITOTERÁPICOS DO BRASIL LTDA. 22 3,0 4 BRASMED BOTÂNICA E FARMACÊUTICA LTDA 19 2,6 5 LUPER INDÚSTRIA FARMACÊUTICA LTDA 19 2,6 6 LABORATORIO CATARINENSE AS 18 2,5 7 BIONATUS LABORATÓRIO BOTÂNICO LTDA 16 2,2 8 LABORATÓRIO VITALAB LTDA 16 2,2 9 FLORA MEDICINAL J MONTEIRO DA SILVA LTDA 15 2,1 10 KLEY HERTZ S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO 15 2,1 11 LABORATORIO QUIMICO FARMACEUTICO TIARAJU LTDA. 15 2,1 12 MDCPHARMA PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA 15 2,1 13 AS ERVAS CURAM IND FTCA LTDA 12 1,7 14 MARJAN INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA 12 1,7 15 PHARMASCIENCE LABORATÓRIOS LTDA 12 1,7 16 ACHÉ LABORATÓRIOS FARMACÊUTICOS S.A 11 1,5 17 INDUSTRIA E COMERCIO DE COSMESTICOS NATURA LTDA 10 18 INFAN INDUSTRIA QUIMICA FARMACEUTICA NACIONAL S/A 19 LUCIOMED FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA 10 10 1,4 1,4 1,4 9 1,2 348 47,9 379 727 52,1 20 BIOLAB SANUS FARMACÊUTICA LTDA Σ 20 primeiras Σ demais empresas (146) Total (166 empresas) 100 Fonte: Elaboração própria Embora, não possamos comparar exatamente os métodos utilizados em ambas as pesquisas, verifica-se que o mercado de fitoterápicos, a julgar pelo número de registros por empresa, continua sendo bastante concentrado. As dez empresas com mais registros representam, pelo menos, um terço do total dos registros encontrados. Comparativamente, entretanto, o grau de concentração da indústria inferido nas duas pesquisas entre as dez maiores empresas parece estar indicando redução significativa (de cerca de 44% para 34). 2.2.3 – Um retrato das empresas líderes e das inovadoras no mercado Tomaram-se como empresas líderes aquelas colocadas entre o primeiro e o vigésimo lugar por faturamento em 2008. A Tabela 12 resume as características dessas empresas. Diferentemente do mercado farmacêutico, entre as 20 primeiras colocadas, 14 são empresas brasileiras, ou seja, predomina a origem de capital nacional. Ainda que a liderança seja de empresa de capital alemão (Byk/Altana), desde 1994 até 2008, ano em que a empresa foi comprada pelo grupo dinamarquês Nycomed. Entre as 20, sete empresas foram fundadas entre 1916 e 1950 e as outras 13 de 1960 para cá. A empresa mais recente no mercado é a Solvay, de capital belga, e que adquiriu o Laboratório René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 57 Sintofarma como estratégia de entrada. Com exceção de uma única empresa (Infan) que se localiza em Pernambuco, todas as demais estão localizadas no sudeste e no sul do Brasil. A liderança fica com São Paulo, seguido do Rio de Janeiro, localização geográfica semelhante ao do mercado farmacêutico. Tabela 12 - Características das empresas líderes no mercado de fitoterápicos, 2008 Empresas NYCOMED PHARMA LTDA. Origem do capital Dinamarquês/ Alemão Localização Observações/site 1954; 2002 (Altana Pharma) Ano de fundação SP http://www.nycomed.com.br/pt/Menu/ MARJAN INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA Brasileiro 1960 SP Controle de qualidade http://www.marjan.com.br/marjan/cms/cms/ home/ SANOFI-AVENTIS FARMACÊUTICA LTDA Francês 1950 SP Pesquisa clinica (duas unidades no Brasil) http://en.sanofiaventis.com/investors/key_facts_figures/bal ance_sheet/balance_sheet.asp INFAN INDUSTRIA QUIMICA FARMACEUTICA NACIONAL S/A Brasileiro 1984 PE site em construção LABORATORIO CATARINENSE S A Brasileiro 1945 SC http://www.labcat.com.br/index.php/go/basi c/sub/quemsomos/p/_0_0 HERBARIUM LABORATORIO BOTANICO LTDA Brasilleiro 1985 PR www.herbarium.net FARMOQUÍMICA S/A Argentino 1932 RJ Controle de qualidade /http://www.fqm.com.br/Site/br/Publico/Nos saHistoria.aspx BARRENNE INDUSTRIA FARMACEUTICA LTDA Brasileiro SOLVAY FARMA LTDA DM INDUSTRIA FARMACÊUTICA LTDA PRODUTOS FARMACÊUTICOS MILLET ROUX PROCTER & GAMBLE DO BRASIL S/A EUROFARMA LABORATÓRIOS LTDA ABBOTT LABORATÓRIOS DO BRASIL LTDA Belga 1925 RJ 2000 (compra do Lab. Sintofarma) SP www.solvayfarma.com.br 1970 SP Foi comprada por R$ 1,262 Milhões; teve um fat. de mais de R$400 milhões em 2006 Brasileiro Brasileiro Americano 1933 RJ http://www.milletroux.com.br/ 1837/1988Br (Phebo) SP http://www.pg.com/pt_BR/index.html SP/RJ Farmacotecnico e projetos incrementais, mais parcerias com univercsidades, parcerias com Biolab; nanotecnologia/ www.eurofarma.com.br Brasileiro 1972 1890/1937Br RJ www.abbottbrasil.com.br QUIMICA FARMACEUTICA NIKKHO DO BRASIL LTDA Americano Indiano 1960 RJ http://www.zydusbrasil.com.br/zydusbrasil_ b.php ACHÉ LABORATÓRIOS FARMACÊUTICOS S.A. Brasileiro 1965 LABORATÓRIO WESP LTDA Brasileiro 1916 RS Controle de qualidade/ www.olina.com.br BIOLAB SANUS FARMACÊUTICA LTDA Brasileiro 1997 SP 7% do faturamento em P&D /www.biolabfarma.com.br BUNKER INDUSTRIA FARMACEUTICA LTDA Brasileiro 1965 SP Controle de qualidade/ http://www.bunker.com.br/somos.html CIMED INDÚSTRIA DE MEDICAMENTOS LTDA Brasileiro 1977 (adquiriu Honorterápica) SP/MG Lab. De P&D / http://www.grupocimed.com.br/component/o ption,com_frontpage/Itemid,1/ www.ache.com.br Fonte: Elaboração própria com base nos sites das empresas Algumas empresas brasileiras, colocadas entre as líderes ou apenas com estratégias diferenciadas ainda que não estejam entre as líderes, têm sabido aproveitar as oportunidades geradas pelas enormes transformações pelas quais vem passando o setor de fitoterápicos apontadas acima tanto em nível mundial quanto no cenário brasileiro para inovar. Entre essas empresas com atitudes inovadoras destacam-se três exemplos paradigmáticos. Uma grande empresa já estabelecida atuando entre as dez maiores empresas do mercado farmacêutico e entre as vinte maiores do mercado de René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 58 fitoterápicos, uma pequena empresa inovadora, fundada em 2001, e uma empresa de portfólios de projetos de pesquisa. A empresa Aché era o quarto maior laboratório farmacêutico no mercado brasileiro em 2008, segundo IMS Health. Ao vislumbrar as oportunidades do mercado de plantas medicinais e fitoterápicos e as oportunidades de financiamentos à pesquisa oferecidos pelo governo a Ache optou por desenvolver um produto em parceria com a universidade. O resultado foi o registro do primeiro medicamento fitoterápico totalmente desenvolvido no Brasil, em 2004, já de acordo com as novas regras da ANVISA. Trata-se de um antiinflamatório tópico com a marca Acheflan e produzido a partir de uma planta medicinal brasileira (Cordia verbenacea DC). O desenvolvimento desse medicamento levou a empresa a investir US$ 5 milhões em P&D, uma quantia bem mais modesta do que a investida por empresas farmacêuticas para gerarem novos produtos, conforme visto acima. A empresa Austen Farmacêutica, com razão social Phitolabor Laboratórios de produtos Naturais Ltda, localiza-se em Tubarão, Santa Catarina e foi fundada em 2001 com o objetivo de produzir extratos vegetais padronizados de plantas vegetais. Hoje, possui dez funcionários qualificados nas áreas: farmacêutica, de produção e de administração. A empresa passou por uma série de dificuldades para se adequar às novas normas de regulação da indústria de fitoterápicos, a partir de 2004, como a maioria dos pequenos laboratórios brasileiros. Porém recentemente teve seus esforços recompensados por ter sido contemplada e premiada por pesquisas na flora nativa da Mata Atlântica (Valor Econômico, 2008) com financiamento e subvenção econômica da Financiadora de Estudos e Projetos. Com estes investimentos a empresa espera conquistar 2% do mercado de fitoterápicos. Sua estratégia envolve parcerias com a Universidade do Sul de Santa Catarina e agricultores familiares da região. Adicionalmente, merece ser registrada a criação da empresa Ybios, fundada em 2004, para preencher lacuna existente entre o mercado e a universidade. Resultou de uma joint venture entre a Natura (empresa de cosméticos), Centroflora e Orsa Florestal, com o objetivo de gerir portfólios de projetos de pesquisa voltados para a descoberta e o desenvolvimento de produtos originários da biodiversidade brasileira no âmbito da saúde. O registro desta estratégia empresarial mostra como empresas de cosméticos, como é o caso da Natura, também atuando com a pesquisa de plantas, no Brasil, estão interessadas no crescimento do mercado de plantas medicinais e fitoterápicos (Funari e Ferro, 2007, Seidl, 2002). René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 59 2.3 – Os padrões de comércio Em relação ao comércio exterior de mercadorias baseadas em plantas vegetais não foram encontradas muitas informações disponíveis na literatura analisada. Em geral, essa literatura afirma que grande parte dos extratos utilizados para produção local é importada e que entre as espécies vegetais mais utilizadas como insumos ou princípios ativos (plantas medicinais ou simplesmente espécies vegetais) estão as espécies não nativas. O objetivo desta seção é checar este fato estilizado a partir de uma análise dos principais dados de comércio exterior do setor de fitoterápicos com base no levantamento dos valores e quantidades importadas e exportadas pelo Brasil entre 2004 e 2008. A seção contém também a metodologia utilizada e uma breve comparação com outras metodologias presentes na literatura. O levantamento de dados referente ao comércio exterior (importação, exportação e saldo da balança comercial) de produtos fitoterápicos utilizou as bases da Receita Federal e Aliceweb, sendo os dados obtidos tanto em quantidade (toneladas), quanto em valores monetários (US$). O período analisado considerou como início da investigação o ano de 2004, ano em que a legislação sobre o registro de circulação de produtos foi alterada pela Anvisa, como visto na subseção 2.1, até o ano de 2008, último ano para o qual as informações sobre importação e exportação estavam disponíveis. Inicialmente, foi feita a seleção dos capítulos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM)9 nos quais poderiam estar classificados os produtos de interesse do estudo – aqueles produtos produzidos a partir das plantas contidas no Anexo de Espécies Vegetais. No Quadro 1 abaixo são apresentadas as descrições de cada capítulo selecionado. Quadro 1 – Descrição dos capítulos selecionados para estudo Capítulo 12: Sementes e Frutos Oleaginosos; Grãos, Sementes e Frutos Diversos; Plantas Industriais ou Medicinais; Palhas e Forragem Capítulo 13: Gomas, Resinas e Outros Sucos e Extratos Vegetais Capítulo 15: Gorduras e óleos animais ou vegetais; Produtos da sua Dissociação; Gorduras Alimentares elaboradas; Ceras de Origem Vegetal ou Animal Capítulo 29: Produtos Químicos Orgânicos Capítulo 30: Produtos Farmacêuticos Fonte: Elaboração própria a partir da Aliceweb Para cada capítulo selecionado foram levantados os valores e as quantidades totais de importação e exportação para o período 2004-2008. No levantamento dos 9 Denominação adotada pelos países do Mercosul para classificar os produtos importados e exportados, com base em denominação padrão internacional. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 60 dados de importação, três observações merecem destaque: foram excluídas as guias de importação que especificaram seus usos em indústria de cosméticos e alimentos; foram considerados: extratos, sucos, medicamentos, princípios ativos, óleos ou o nome da própria planta; e não foram excluídas associações de plantas quando especificadas. Além disso, obtiveram-se os valores de importação para aqueles itens de cada capítulo (NCMs específicas) que contivessem as espécies vegetais selecionadas. Para essa abertura dos dados foi utilizada a base de dados da Receita Federal, porém tal desagregação se limitou ao ano de 2008 e aos dados de importação. Ao final foram obtidos dados de importação no ano de 2008 para 81 espécies vegetais diferentes (65% do Anexo de Espécies Vegetais), totalizando US$ 28 milhões e 11 mil toneladas de importação. As plantas medicinais e os produtos fitoterápicos mais importados em diferentes formas são Ginseng, Hera, Soja, Ginkgo, Psilium e Alcaçuz, sendo que todos apresentaram valores de importação, em 2008, superiores a US$ 2 milhões. O total importado relativo a esses produtos foi de cerca de US$ 18 milhões, que corresponde a cerca de 64% das NCMs específicas identificadas. A partir desse procedimento de identificação das NCMs específicas, foi possível identificar, nos capítulos selecionados para o estudo, a existência ou não das espécies vegetais selecionadas e assim escolher os itens em cada capítulo das NCMs a serem considerados. A seguir elaborou-se uma retrospectiva (tanto para importação quanto para exportação) para esses mesmos itens no período de 2004-2008, partindo do pressuposto que a presença desses itens permaneceu inalterada ao longo período, em outras palavras, que a ocorrência das espécies vegetais tenha sido a mesma na importação e exportação variando apenas em valores e quantidades em cada ano. O resultado final pode ser visto nas Tabelas 13 e 14, relativas à importação e exportação no período, respectivamente. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 61 Tabela 13 - Retrospectiva da importação de produtos fitoterápicos por capítulos e itens NCM, 2004-2008 Código NCM (caps. e itens) 12 2004 Descrição Sementes e frutos oleginosos, grãos, sementes e frutos diversos; plantas industriais ou medicinais; palhas e forragem 12079999 - OUTS.SEM.E FRUTOS OLEAGINOSOS,MESMO TRITS. 12112000 - RAIZES DE "GINSENG",FRESCAS,SECAS,INCL.CORTAD.TRITUR.PO 12119090 - OUTRAS PLANTAS E PARTES,P/PERFUMARIA,MEDICINA E SEMELHS 12149000 - RUTABAGAS,RAIZES FORRAGEIRAS E OUTROS PRODS.FORRAGEIROS 12079190 - OUTRAS SEMENTES DE DORMIDEIRA OU PAPOULA,MESMO TRITURAD 12076090 - OUTRAS SEMENTES DE CARTAMO,MESMO TRITURADAS 12111000 - RAIZES DE ALCACUZ,FRESCAS,SECAS,INCL.CORTADAS,TRITUR.PO TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 13 Gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais Qtd. (ton.) 2.005 US$ mil 384.532 Qtd. (ton.) 128.416,86 2.006 US$ mil 409.638 Qtd. (ton.) 2.007 US$ mil Qtd. (ton.) 2.008 Qtd. (ton.) US$ mil US$ mil 127.960,05 97.393 75.544,97 136.754 107.282,01 138.844 147.977,73 413,00 40 67,32 4 5,54 241 183,62 254 380,00 276 1 18,20 3 12,13 0 0,00 0 4,00 0 0,03 2.612 3.319,20 2.115 3.438,72 2.039 3.174,69 1.943 3.490,32 1.910 4.095,00 14 5,72 19 11,90 68 42,93 23 12,00 158 109,00 19 16,60 0 0,00 23 19,78 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 18 7,59 0 0,00 0 0,00 21 58,51 2 6,65 2 8,34 0 0,00 0 0,00 2.707 3.485,55 2.143 3.474,94 2.390 3.436,95 2.220 3.886,32 2.344 4.617,03 8.566 46.051,57 10.401 53.634,77 11.314 62.022,83 10.427 63.381,28 10.948 88.889,05 1.051 9.974,00 1.565 11.787,00 1.183 13.727,00 765 15.727,00 782 16.671,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1.570 2.735,00 1.214 3.445,00 359 1.762,00 343 1.639,00 317 1.514,00 329 1.726,00 338 2.425,00 2.586,86 13021999 - OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS 13019090 - OUTS GOMAS,RES.,GOMA- RESINAS,BÁLSAMOS NAT. 13021200 - SUCOS E EXTRATOS,DE ALCACUZ 13021930 - SUCOS E EXTRATOS DE GINKGO BILOBA SECO 20 2.998,00 29 3.404,00 40 3.370,00 39 3.539,00 23 13021940 - SUCOS E EXTRATOS,VALEPOTRIATOS 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 13,00 0 21,00 13021950 - SUCOS E EXTRATOS,DE "GINSENG" 5 572,00 7 641,00 7 562,00 10 556,00 12 624,85 13021960 - SUCOS E EXTRATOS,SILIMARINA 611,00 13022090 - OUTRAS MATERIAS PECTICAS,PECTINATOS E PECTATOS 13023990 - PRODS.MUCILAGINOSOS E ESPESSANTES,DERIV.OUTROS VEGETAIS TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 15 Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação; gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal 3 429,00 3 415,00 3 453,00 5 607,00 7 65 774,00 51 612,00 22 309,00 40 520,00 50 438,00 703 3.186,00 800 3.486,00 1.010 4.745,00 1.042 4.905,00 1.143 7.125,00 2.206 19.695,00 2.798 21.984,00 2.582 24.680,00 3.800 30.328,00 3.569 33.873,00 158.823 191.816,52 165.772 211.541,32 253.373 297.498,70 341.996 460.397,43 431.058 743.279,43 15132910 - OUTROS OLEOS DE "PALMISTE" - - - - - - - - - 121.242,15 15132110 - OLEO DE "PALMISTE",EM BRUTO 2.219 1.527,91 1.371 977,56 500 360,00 971 828,60 3.516 4.245,92 15159090 - OUTRAS GORDURAS E OLEOS VEGETAIS,MESMO REFIN. 851 2.321,86 568 1.887,67 427 1.665,63 552 2.766,97 906 4.229,34 15162000 - GORDURAS E OLEOS,VEGETAIS,HIDROGENS.INTERESTERIFS.ETC. 14.965 21.964,81 16.005 24.523,19 13.697 24.266,69 14.682 24.314,57 14.774 33.910,06 15180090 - OUTS.GORDURAS E OLEOS ANIMAIS/VEGET.COZIDOS,OXIDAD.ETC. TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 29 Produtos Químicos Orgânicos 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 18.035 25.814,58 17.943 27.388,42 14.624 26.292,32 16.205 27.910,14 21.312 2.116 167.735,00 4.107,92 1.912.200 4.073.838,93 2.384.114 4.337.825,86 1.996.381 4.800.533,71 2.538.191 6.376.563,96 2.909.358 8.412.043,23 29322990 - OUTRAS LACTONAS 2.782 24.257,80 3.362 26.099,29 2.722 27.644,16 3.112 34.448,17 4.428 100.453,77 29349999 - OUTROS COMPOSTOS HETEROCICLICOS 2.646 62.693,03 4.179 57.051,66 4.712 66.621,41 4.529 101.266,37 4.366 94.622,87 29061950 - TERPINEÓIS 0 0,00 0 0,00 0 0,00 156 543,80 234 835,19 29071990 - OUTROS MONOFENOIS 806 2.060,27 604 1.645,09 1.093 3.326,09 1.964 5.433,39 1.064 3.359,72 483 4.085,89 501 4.318,80 640 5.134,63 750 6.171,02 567 5.606,44 17 134,12 16 146,44 20 174,87 24 232,43 29 362,42 1.008,82 81 1.087,54 77 623,20 108 1.188,58 96 1.214,21 29072900 - OUTROS POLIFENOIS 29094910 - GUAIFENESINA 29095090 - ETERES-ALCOOIS-FENOIS E SEUS DERIVADOS HALOGENADOS,ETC. 105 29142990 - OUTS.CETONAS CICLANICAS,ETC.N/CONT.OUTS.FUNCOES OXIGEN. 1.719 9.433,66 1.274 9.511,42 1.797 11.648,82 1.619 11.616,33 1.490 13.876,00 29145090 - OUTS.CETONAS- FENOIS E CETONAS CONT.OUTS.FUNCOES OXIGEN. 336 3.631,52 364 4.247,28 525 5.916,48 677 7.210,59 1.023 10.338,63 29146990 - OUTRAS QUINONAS 121 1.350,38 183 2.195,23 217 1.812,63 371 2.269,14 327 2.521,96 29156029 - ACIDO VALERICO E SEUS OUTS.SAIS E ESTERES 82 2.242,17 84 1.151,76 196 1.924,55 315 1.692,01 313 2.026,97 René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 62 Continuação. 29159050 - PEROXIDOS DOS ACIDOS MONOCARBOXILICOS ACICLICOS SATUR. 29182990 - OUTROS ACIDOS CARBOXILICOS FUNCAO FENOL,ANIDRIDOS,ETC. 29189999 - OUTS.ÁC.CARB.C/FUNC.OXIG.SUPL.E S/ANID.,S/DER. 29221999 - OUTROS AMINOALCOOIS,SEUS ETERES,ESTERES E SAIS 29239090 - OUTROS SAIS E HIDROXIDOS DE AMONIO QUATERNARIOS 29242190 - OUTRAS UREINAS,SEUS DERIVADOS E SAIS 29309039 - OUTROS TIOETERES,TIOESTERES,SEUS DERIVADOS E SAIS 29329999 55 205,31 69 252,29 60 219,79 82 305,62 39 132,91 3.359 7.829,57 2.684 6.633,37 2.043 5.634,44 623 2.775,35 470 3.847,18 24.854,73 0 0,00 0 0,00 0 0,00 3.785 22.180,57 3.975 757 6.221,64 624 9.320,87 659 8.113,91 754 7.871,87 927 7.981,73 1.367 5.213,25 2.215 8.401,47 1.833 8.444,97 1.402 7.242,28 1.883 9.855,12 262 14.887,95 258 24.069,52 328 24.229,27 419 42.489,76 510 56.384,75 2.321 50.518,33 2.031 39.473,95 1.400 32.066,03 1.366 26.198,50 2.035 48.408,30 - OUTROS COMPOSTOS HETEROCICL.DE HETEROATOMOS DE OXIGENIO 670 29.250,75 875 31.612,55 1.033 43.526,54 1.567 54.756,96 2.001 57.669,95 29369000 - PROVITAMINAS E VITAMINAS,MISTURADAS 273 4.118,11 339 6.659,52 248 4.759,01 333 5.441,14 482 10.575,87 29389090 - OUTS.HETEROSIDEOS,SEUS SAIS,ETERES,ESTERES E DERIVADOS 30 3.830,30 43 4.722,63 80 6.573,27 94 8.249,98 113 9.308,29 29399990 - OUTROS ALCALOIDES VEGETAIS,NATURAIS,ETC. 92 5.861,16 37 4.869,29 1 6.208,42 1 6.234,07 1 29420000 - OUTROS COMPOSTOS ORGANICOS TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 30 Produtos farmacêuticos 7.344,55 0 0,00 0 0,00 0 0,00 54 2.127,73 41 2.697,87 18.285 238.834,03 19.825 243.469,97 19.683 264.602,49 24.103 357.945,66 26.414 474.279,43 20.183 1.785.064,69 20.247 2.037.156,54 21.447 2.609.454,73 24.884 3.516.266,48 33.868 4.280.213,50 30049099 - OUTROS MEDICAM.CONT.PRODS.P/FINS TERAPEUTICOS,ETC.DOSES 3.419 185.889,87 2.618 207.318,94 2.706 285.105,84 3.714 355.759,08 10.284 354.168,48 30039039 - MEDICAMENTO C/OUTS.ACIDOS CARBOXILICOS,ETC.EXC.EM DOSES 2 1.106,90 183 2.017,96 112 1.500,46 0 0,00 366 3.564,10 30039099 - OUTS.MEDICAM.CONT.PRODS.MISTURADOS,P/FINS TERAPEUT.ETC. 289 12.353,70 234 8.566,29 288 33.669,98 156 9.106,74 126 5.818,88 30044090 - OUTS.MEDICAMENTOS C/ALCALOIDES,S/HORMONIOS,ETC.EM DOSES 242 30.022,38 103 26.320,60 104 18.348,66 123 22.181,67 150 32.574,02 30045090 - MEDICAMENTO C/OUTS.VITAMINAS/PROVITAMINAS,ETC.EM DOSES 1.372 25.148,46 1.066 25.040,81 1.081 28.388,08 1.426 37.614,78 1.327 42.076,75 30049022 - MEDICAMENTO CONTENDO ACIDO DEIDROCOLICO,ETC.EM DOSES 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 5,46 0 1,57 30049039 - OUTROS MEDICAM.C/COMPOSTOS DE FUNCAO AMINA,ETC.EM DOSES 554 31.860,09 514 43.899,80 722 74.423,84 537 114.533,42 594 92.704,20 TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO TOTAL DOS NCMs ESPECÍFICOS TOTAL DOS CAPÍTULOS 539.201,15 12.846 530.908,00 43.693 574.210,56 47.427 609.481,73 44.293 760.448,62 52.286 959.271,27 2.484.304 2.460 6.225.188,57 286.381,40 2.990.173 4.718 6.768.118,54 313.164,40 2.379.907 7.845.054,94 3.052.252 10.523.891,16 66.485 3.524.077 1.211.412,46 13.672.402,94 Fonte: Elaboração própria, a partir da Aliceweb René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 5.014 441.436,86 5.957 63 Tabela 14 - Retrospectiva da exportação de produtos fitoterápicos por capítulos e itens NCM, 2004-2008 2004 Código NCM (caps. e itens) 12 Descrição Sementes e frutos oleginosos, grãos, sementes e frutos diversos; plantas industriais ou medicinais; palhas e forragem 12079999 - OUTS.SEM.E FRUTOS OLEAGINOSOS,MESMO TRITS. 12112000 - RAIZES DE "GINSENG",FRESCAS,SECAS,INCL.CORTAD.TRITUR.PO 12119090 - OUTRAS PLANTAS E PARTES,P/PERFUMARIA,MEDICINA E SEMELHS 12149000 12079190 12076090 12111000 US$ mil 19.415.473 0 Qtd. (ton.) 5.473.852,45 0,00 2006 US$ mil 22.524.053 15 Qtd. (ton.) 5.425.243,42 78,72 2007 US$ mil 25.027.206 50 Qtd. (ton.) 5.753.768,85 22,91 2008 Qtd. (ton.) US$ mil 23.793.614 0 6.818.711,42 0,91 US$ mil 24.573.839 0 11.095.857,69 0,00 0 0,36 0 0,00 0 0,60 1 10,00 2 13,00 1.745 5.705,96 1.589 5.261,54 1.871 6.680,45 1.789 9.115,96 1.858 12.912,00 - RUTABAGAS,RAIZES FORRAGEIRAS E OUTROS PRODS.FORRAGEIROS 5 3,21 2 1,37 0 0,00 3 13,00 166 127,00 - OUTRAS SEMENTES DE DORMIDEIRA OU PAPOULA,MESMO TRITURAD 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,17 0 0,00 - OUTRAS SEMENTES DE CARTAMO,MESMO TRITURADAS 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 - RAIZES DE ALCACUZ,FRESCAS,SECAS,INCL.CORTADAS,TRITUR.PO 3 10,34 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1.753 5.719,87 1.605 5.341,63 1.921 6.703,96 1.793 9.140,04 2.026 13.052,00 41.382 39.356,62 54.720 46.618,04 36.016 47.447,58 32.268 51.583,54 33.618 70.473,84 24.739 16.597,00 36.968 18.195,00 20.279 20.403,00 16.541 16.885,00 18.558 28.654,00 0,00 0 0,00 0 0,00 3.103 2.641,00 8.822 7.065,00 83,00 TOTAL DOS NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 13 Qtd. (ton.) 2005 Gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais 13021999 - OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS 13019090 - OUTS GOMAS,RES.,GOMA- RESINAS,BÁLSAMOS NAT. 0 13021200 - SUCOS E EXTRATOS,DE ALCACUZ 0 0,01 1 10,00 0 0,93 5 33,00 9 13021930 - SUCOS E EXTRATOS DE GINKGO BILOBA SECO 3 51,00 0 16,00 3 57,00 0 0,13 0 8,00 13021940 - SUCOS E EXTRATOS,VALEPOTRIATOS 0 5,00 0 2,00 0 0,00 0 3,00 0 0,00 13021950 - SUCOS E EXTRATOS,DE "GINSENG" 0 5,00 0 4,00 0 3,00 0 0,32 0 13021960 - SUCOS E EXTRATOS,SILIMARINA 0 0,50 0 0,00 0 0,00 0 0,24 0 2,00 13022090 - OUTRAS MATERIAS PECTICAS,PECTINATOS E PECTATOS 0 0,72 1 10,00 1 25,00 1 21,00 6 54,00 13023990 - PRODS.MUCILAGINOSOS E ESPESSANTES,DERIV.OUTROS VEGETAIS TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 15 Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação; gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal 0,00 38 234,00 393 975,00 32 153,00 26 58,00 4 24.781 16.893,23 37.363 19.212,00 20.315 20.641,93 19.676 19.641,69 27.399 35.901,00 35,00 2.992.013,28 2.759.133 1.567.890,87 3.001.893 1.486.877,27 2.613.555 1.396.074,66 2.522.145 1.936.329,73 2.505.928 15132910 - OUTROS OLEOS DE "PALMISTE" 15132110 - OLEO DE "PALMISTE",EM BRUTO 22 31,26 0 0,00 63 79,32 107 113,85 132 233,40 15159090 - OUTRAS GORDURAS E OLEOS VEGETAIS,MESMO REFIN. 90 1.272,76 926 2.380,55 2.704 4.180,21 4.440 5.874,50 1.883 5.292,35 20.304 15.821 13.948,70 13.027 14.587,18 15162000 15180090 - GORDURAS E OLEOS,VEGETAIS,HIDROGENS.INTERESTERIFS.ETC. - OUTS.GORDURAS E OLEOS ANIMAIS/VEGET.COZIDOS,OXIDAD.ETC. TOTAL DOS NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 29 Produtos Químicos Orgânicos 22.345,00 0 0,00 0 0,00 18.131 20.713,41 0 0,00 0 0,00 334 20.417 23.649,02 19.057 23.093,96 18.588 18.208,23 17.575 20.575,53 9.544 7.194 19.889,11 13.598,23 1.841.587 2.830.632,76 765,13 1.542.534,20 2.037.569 1.916.911,15 2.002.078 2.116.368,71 2.198.927 2.661.381,70 2.022.639 29322990 - OUTRAS LACTONAS 13 49,89 13 65,51 123 393,44 16 35,52 44 282,19 29349999 - OUTROS COMPOSTOS HETEROCICLICOS 18 1.107,29 20 1.130,75 12 1.123,42 14 1.684,94 18 1.597,76 29061950 - TERPINEÓIS 0 0,00 0 0,00 0 0,00 35 115,38 33 132,90 29071990 - OUTROS MONOFENOIS 7 35,48 5 22,13 137 737,58 51 177,66 40 168,30 29072900 - OUTROS POLIFENOIS 57 409,07 177 874,96 0 0,00 206 1.366,41 42 253,05 29094910 - GUAIFENESINA 0 2,46 0 0,00 0 0,00 0 0,04 0 2,24 29095090 - ETERES-ALCOOIS-FENOIS E SEUS DERIVADOS HALOGENADOS,ETC. 0 1,09 0 2,40 0 1,90 1 4,21 2 35,19 29142990 - OUTS.CETONAS CICLANICAS,ETC.N/CONT.OUTS.FUNCOES OXIGEN. 7 127,40 2 81,31 0 1,40 0 73,34 0 42,04 29145090 - OUTS.CETONAS- FENOIS E CETONAS CONT.OUTS.FUNCOES OXIGEN. 2 31,48 9 103,10 2 37,36 13 87,07 20 159,04 29146990 - OUTRAS QUINONAS 4 10,89 0 0,00 0 1,53 0 32,81 0 0,78 29156029 - ACIDO VALERICO E SEUS OUTS.SAIS E ESTERES 0 3,23 1 7,83 0 1,93 6 1.619,29 0 1,02 René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 64 Continuação 29159050 - PEROXIDOS DOS ACIDOS MONOCARBOXILICOS ACICLICOS SATUR. 190 1.033,65 140 803,49 147 851,19 29182990 - OUTROS ACIDOS CARBOXILICOS FUNCAO FENOL,ANIDRIDOS,ETC. 1 7,32 6 24,95 51 58,69 5 27,82 3 18,25 29189999 - OUTS.ÁC.CARB.C/FUNC.OXIG.SUPL.E S/ANID.,S/DER. 0 0,00 0 0,00 0 0,00 8 192,81 4 45,47 29221999 - OUTROS AMINOALCOOIS,SEUS ETERES,ESTERES E SAIS 4 47,34 11 37,37 10 45,69 17 56,51 14 77,46 29239090 - OUTROS SAIS E HIDROXIDOS DE AMONIO QUATERNARIOS 69 179,18 37 115,66 82 203,19 130 269,70 48 152,45 29242190 - OUTRAS UREINAS,SEUS DERIVADOS E SAIS 0 0,44 9 5,63 0 0,00 0 0,00 0 0,00 29309039 - OUTROS TIOETERES,TIOESTERES,SEUS DERIVADOS E SAIS 0 0,03 0 0,00 0 0,00 0 0,01 0 0,00 29329999 - OUTROS COMPOSTOS HETEROCICL.DE HETEROATOMOS DE OXIGENIO 55 166,34 66 270,17 119 475,77 110 301,93 21 120,75 528 1.679,96 65 1.343,49 89 1.482,55 117 1.450,10 168 2.366,57 33 833,97 29 794,66 24 652,78 10 299,07 6 29369000 - PROVITAMINAS E VITAMINAS,MISTURADAS 29389090 - OUTS.HETEROSIDEOS,SEUS SAIS,ETERES,ESTERES E DERIVADOS 29399990 - OUTROS ALCALOIDES VEGETAIS,NATURAIS,ETC. 29420000 - OUTROS COMPOSTOS ORGANICOS TOTAL DOS NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 30 Produtos farmacêuticos 84 588,72 24 237,76 226,87 1 14,34 0 27,93 0 3,80 0 64,92 0 79,35 12 964,75 0 0,00 0 0,00 127 8.114,31 123 9.082,32 1.001 6.705,60 590 5.711,34 797 6.072,22 950 16.562,57 610 15.081,76 21.360 352.619,37 26.315 474.494,47 28.460 622.128,69 29.739 745.671,81 30.885 961.456,48 11.599 50.691,67 12.935 79.125,21 13.740 108.795,89 12.662 91.352,93 13.641 121.191,27 30049099 - OUTROS MEDICAM.CONT.PRODS.P/FINS TERAPEUTICOS,ETC.DOSES 30039039 - MEDICAMENTO C/OUTS.ACIDOS CARBOXILICOS,ETC.EXC.EM DOSES 0 63,37 1 5,76 0 10,69 0 0,50 1 30039099 - OUTS.MEDICAM.CONT.PRODS.MISTURADOS,P/FINS TERAPEUT.ETC. 15 338,09 11 469,58 4 390,18 1 801,31 1 496,48 30044090 - OUTS.MEDICAMENTOS C/ALCALOIDES,S/HORMONIOS,ETC.EM DOSES 137 4.117,40 125 3.249,63 234 9.356,36 272 15.013,47 345 16.517,33 1.876 16.200,45 2.706 16.466,96 2.676 19.711,60 30045090 - MEDICAMENTO C/OUTS.VITAMINAS/PROVITAMINAS,ETC.EM DOSES 30049022 - MEDICAMENTO CONTENDO ACIDO DEIDROCOLICO,ETC.EM DOSES 30049039 - OUTROS MEDICAM.C/COMPOSTOS DE FUNCAO AMINA,ETC.EM DOSES TOTAL DOS NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO TOTAL DOS NCMs ESPECÍFICOS TOTAL DOS CAPÍTULOS 1.322 5.060,86 0 0,00 0 0,00 595 415 7.978,21 2.011,02 7.613 0 0,00 0 6,76 0 2,48 706 10.839,91 1.031 16.797,85 563 9.202,68 140.439,78 60.713 118.167,48 80.621 141.269,97 58.180 197.219,82 56.667 206.359,61 17.227 56.806 167.143,71 251.067,58 24.078.935 8.976.253,51 27.644.549 9.350.144,35 29.707.315 9.935.788,49 28.576.693 12.213.678,20 29.166.908 17.950.434,05 12.762 65.199,76 22.006 87.911,04 Fonte: Elaboração própria, a partir da Aliceweb René Hasenclever Consultoria Ltda. 21,87 Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 16.559 145.593,48 16.673 65 É importante observar que os resultados obtidos são uma fotografia, entre 2004 e 2008, dos itens selecionados em cada um dos capítulos a partir das importações registradas no ano de 2008. Esta é uma limitação importante da pesquisa realizada e sua principal motivação foi o tempo disponível para o seu desenvolvimento. A alternativa teria sido inspecionar a presença de itens da NCM em cada ano e sua condição de ser ou não planta medicinal ou fitoterápico a partir da lista de espécies inicialmente gerada. Concluindo, os dados sobre importação e exportação são, conforme indicam os títulos das Tabelas 13 e 14, uma retrospectiva das importações e das exportações dos produtos contendo espécies vegetais nos capítulos selecionados que foram importados em 2008. Os saldos da balança comercial dos capítulos e itens selecionados foram obtidos ao final através do cálculo da diferença entre os valores exportados e importados do período 2004-2008. O mesmo foi feito em relação aos dados para quantidade. Os resultados podem ser observados na Tabela 15. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 66 Tabela 15 - Retrospectiva do saldo comercial de produtos fitoterápicos por capítulos e itens NCM, 2004-2008 Código NCM (caps. e itens) 12 2004 Descrição Sementes e frutos oleginosos, grãos, sementes e frutos diversos; plantas industriais ou medicinais; palhas e forragem 12079999 - OUTS.SEM.E FRUTOS OLEAGINOSOS,MESMO TRITS. 12112000 - RAIZES DE "GINSENG",FRESCAS,SECAS,INCL.CORTAD.TRITUR.PO 12119090 - OUTRAS PLANTAS E PARTES,P/PERFUMARIA,MEDICINA E SEMELHS 12149000 - RUTABAGAS,RAIZES FORRAGEIRAS E OUTROS PRODS.FORRAGEIROS 12079190 - OUTRAS SEMENTES DE DORMIDEIRA OU PAPOULA,MESMO TRITURAD 12076090 - OUTRAS SEMENTES DE CARTAMO,MESMO TRITURADAS 12111000 - RAIZES DE ALCACUZ,FRESCAS,SECAS,INCL.CORTADAS,TRITUR.PO TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 13 Gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais 13021999 - OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS 13019090 - OUTS GOMAS,RES.,GOMA-RESINAS,BÁLSAMOS NAT. 13021200 - SUCOS E EXTRATOS,DE ALCACUZ 13021930 - SUCOS E EXTRATOS DE GINKGO BILOBA SECO 13021940 - SUCOS E EXTRATOS,VALEPOTRIATOS 13021950 - SUCOS E EXTRATOS,DE "GINSENG" 13021960 - SUCOS E EXTRATOS,SILIMARINA 13022090 - OUTRAS MATERIAS PECTICAS,PECTINATOS E PECTATOS 13023990 - PRODS.MUCILAGINOSOS E ESPESSANTES,DERIV.OUTROS VEGETAIS TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 15 Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação; gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal Qtd. (ton.) 2.005 US$ mil 19.030.942 Qtd. (ton.) 2.006 US$ mil 5.345.435,59 22.114.415 -40 -67,32 -1 -17,84 -868 Qtd. (ton.) 2.007 US$ mil Qtd. (ton.) 2.008 Qtd. (ton.) US$ mil US$ mil 5.297.283,37 24.929.813 5.678.223,88 23.656.860 6.711.429,41 24.434.994 10.947.879,96 11 73,18 -192 -160,71 -254 -379,09 -276 -413,00 -3 -12,13 0 0,60 1 6,00 2 12,97 2.386,76 -527 1.822,82 -168 3.505,76 -154 5.625,64 -52 8.817,00 18,00 -9 -2,51 -17 -10,53 -68 -42,93 -20 1,00 8 -19 -16,60 0 0,00 -23 -19,78 0 0,17 0 0,00 0 0,00 0 0,00 -18 -7,59 0 0,00 0 0,00 -18 -48,17 -2 -6,65 -2 -8,34 0 0,00 0 0,00 -954 2.234,32 -538 1.866,69 -469 3.267,01 -427 5.253,72 -318 8.434,97 32.817 -6.694,95 44.318 -7.016,73 24.702 -14.575,25 21.841 -11.797,74 22.670 -18.415,21 23.688 6.623,00 35.403 6.408,00 19.096 6.676,00 15.776 1.158,00 17.776 11.983,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1.533 -94,00 7.608 -359 -1.761,99 -342 -1.629,00 -317 -1.513,07 -324 -1.693,00 -329 -2.342,00 -17 -2.947,00 -29 -3.388,00 -37 -3.313,00 -39 -3.538,87 -23 -2.578,86 3.620,00 0 5,00 0 2,00 0 0,00 0 -10,00 0 -21,00 -5 -567,00 -7 -637,00 -7 -559,00 -10 -555,68 -12 -624,85 -609,00 -3 -428,50 -3 -415,00 -3 -453,00 -5 -606,76 -7 -65 -773,28 -50 -602,00 -21 -284,00 -39 -499,00 -44 -384,00 -1.139 -7.090,00 -665 -2.952,00 -407 -2.511,00 -978 -4.592,00 -1.016 -4.847,00 22.575 -2.801,78 34.565 -2.772,00 17.733 -4.038,07 15.876 -10.686,31 23.830 2.028,00 2.600.309 1.376.074,35 2.836.121 1.275.335,95 2.360.183 1.098.575,96 2.180.149 1.475.932,30 2.074.870 2.248.733,85 15132910 - OUTROS OLEOS DE "PALMISTE" - - - - - - - - - -121.242,15 15132110 - OLEO DE "PALMISTE",EM BRUTO -2.197 -1.496,65 -1.371 -977,56 -437 -280,68 -864 -714,75 -3.384 -4.012,52 15159090 - OUTRAS GORDURAS E OLEOS VEGETAIS,MESMO REFIN. -761 -1.049,10 358 492,88 2.277 2.514,58 3.888 3.107,53 977 1.063,01 15162000 - GORDURAS E OLEOS,VEGETAIS,HIDROGENS.INTERESTERIFS.ETC. 5.339 380,19 -16.005 -24.523,19 2.124 -10.317,99 -1.654 -9.727,39 -7.580 -20.311,83 15180090 - OUTS.GORDURAS E OLEOS ANIMAIS/VEGET.COZIDOS,OXIDAD.ETC. 0 0,00 18.131 20.713,41 0 0,00 0 0,00 -1.782 -3.342,79 2.382 -2.165,56 1.113 -4.294,46 3.965 -8.084,09 1.369 -7.334,61 -11.768 -147.845,89 TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO -70.613 -2.531.304,73 -346.545 -2.420.914,71 5.697 -2.684.165,00 -339.263 -3.715.182,26 -886.720 -5.581.410,47 29322990 29 - OUTRAS LACTONAS -2.769 -24.207,91 -3.348 -26.033,78 -2.598 -27.250,72 -3.096 -34.412,65 -4.384 -100.171,58 29349999 - OUTROS COMPOSTOS HETEROCICLICOS -2.629 -61.585,74 -4.159 -55.920,91 -4.700 -65.497,99 -4.515 -99.581,43 -4.349 -93.025,11 29061950 - TERPINEÓIS 0 0,00 0 0,00 0 0,00 -121 -428,42 -202 -702,29 29071990 - OUTROS MONOFENOIS -799 -2.024,79 -599 -1.622,96 -956 -2.588,51 -1.913 -5.255,73 -1.023 -3.191,42 29072900 - OUTROS POLIFENOIS -426 -3.676,82 -325 -3.443,84 -640 -5.134,63 -544 -4.804,61 -525 -5.353,39 29094910 - GUAIFENESINA -17 -131,66 -16 -146,44 -20 -174,87 -24 -232,39 -29 -360,18 29095090 - ETERES-ALCOOIS-FENOIS E SEUS DERIVADOS HALOGENADOS,ETC. -105 -1.007,73 -80 -1.085,14 -77 -621,30 -107 -1.184,37 -94 -1.179,02 - OUTS.CETONAS CICLANICAS,ETC.N/CONT.OUTS.FUNCOES OXIGEN. -1.712 -9.306,26 -1.273 -9.430,11 -1.797 29142990 Produtos Químicos Orgânicos -11.647,42 -1.619 -11.542,99 -1.490 -13.833,96 29145090 - OUTS.CETONAS-FENOIS E CETONAS CONT.OUTS.FUNCOES OXIGEN. -334 -3.600,04 -355 -4.144,18 -523 -5.879,12 -664 -7.123,52 -1.004 -10.179,59 29146990 - OUTRAS QUINONAS -117 -1.339,49 -183 -2.195,23 -217 -1.811,10 -370 -2.236,33 -327 -2.521,18 29156029 - ACIDO VALERICO E SEUS OUTS.SAIS E ESTERES -82 -2.238,94 -83 -1.143,93 -196 -1.922,62 -309 -72,72 -313 -2.025,95 René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 67 Continuação. 29159050 - PEROXIDOS DOS ACIDOS MONOCARBOXILICOS ACICLICOS SATUR. 29182990 - OUTROS ACIDOS CARBOXILICOS FUNCAO FENOL,ANIDRIDOS,ETC. 29189999 - OUTS.ÁC.CARB.C/FUNC.OXIG.SUPL.E S/ANID.,S/DER. 29221999 - OUTROS AMINOALCOOIS,SEUS ETERES,ESTERES E SAIS 29239090 - OUTROS SAIS E HIDROXIDOS DE AMONIO QUATERNARIOS 29242190 - OUTRAS UREINAS,SEUS DERIVADOS E SAIS 29309039 - OUTROS TIOETERES,TIOESTERES,SEUS DERIVADOS E SAIS 29329999 - OUTROS COMPOSTOS HETEROCICL.DE HETEROATOMOS DE OXIGENIO 29369000 - PROVITAMINAS E VITAMINAS,MISTURADAS 29389090 - OUTS.HETEROSIDEOS,SEUS SAIS,ETERES,ESTERES E DERIVADOS 29399990 - OUTROS ALCALOIDES VEGETAIS,NATURAIS,ETC. 29420000 30 - OUTROS COMPOSTOS ORGANICOS TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 828,34 71 551,20 87 631,40 -7.822,25 -2.679 -6.608,42 - 1.992 -5.575,75 -618 -2.747,53 -467 - 3.828,93 0 0,00 0 0,00 0 0,00 -3.776 2 -21.987,76 283,10 -3.971 -15 - 24.809,26 104,85 - 7.904,27 -753 -6.174,30 - 613 -9.283,50 -649 -8.068,22 -737 -7.815,36 -912 - 1.299 -5.034,07 -2.178 -8.285,81 - 1.751 -8.241,78 -1.272 -6.972,58 -1.835 - 9.702,67 -262 -14.887,51 - 249 -24.063,89 -328 -24.229,27 -419 -42.489,76 -510 - 56.384,75 - 2.321 -50.518,30 -2.031 -39.473,95 - 1.400 -32.066,03 -1.366 -26.198,49 -2.035 - 48.408,30 -616 -29.084,41 - 809 -31.342,38 -914 -43.050,77 -1.457 -54.455,03 -1.980 - 57.549,20 255 -2.438,15 - 274 -5.316,03 -159 -3.276,46 -216 -3.991,04 -315 - 8.209,30 3 -2.996,33 - 14 -3.927,97 -57 -5.920,49 -84 -7.950,91 -108 -9.081,42 -91 -5.846,82 - 37 -4.841,36 -1 -6.204,62 -1 -6.169,15 0 - 7.265,20 12 -17.284 964,75 -232.128,43 0 -19.236 0,00 -237.758,63 0 -18.886 0,00 -258.530,27 74 -23.153 5.986,58 -341.383,09 83 6.384,45 -25.804 -459.197,67 1.177 -1.432.445,32 6.068 -1.562.662,07 7.013 -1.987.326,04 4.854 -2.770.594,67 -2.983 -3.318.757,02 30049099 - OUTROS MEDICAM.CONT.PRODS.P/FINS TERAPEUTICOS,ETC.DOSES 8.180 -135.198,20 10.317 -128.193,73 11.034 -176.309,95 8.947 -264.406,15 3.357 -232.977,21 30039039 - MEDICAMENTO C/OUTS.ACIDOS CARBOXILICOS,ETC.EXC.EM DOSES -2 -1.043,53 - 182 -2.012,20 -112 -1.489,77 0 0,50 -365 - 3.542,23 30039099 - OUTS.MEDICAM.CONT.PRODS.MISTURADOS,P/FINS TERAPEUT.ETC. -274 -12.015,61 - 223 -8.096,71 -284 -33.279,80 -155 -8.305,43 -125 - 5.322,40 30044090 - OUTS.MEDICAMENTOS C/ALCALOIDES,S/HORMONIOS,ETC.EM DOSES -105 -25.904,98 22 -23.070,97 130 -8.992,30 149 -7.168,20 195 - 16.056,69 30045090 - MEDICAMENTO C/OUTS.VITAMINAS/PROVITAMINAS,ETC.EM DOSES -957 -23.137,44 1.280 -21.147,82 1.349 - 22.365,15 0 0,00 -19.979,95 0,00 -12.187,63 - MEDICAMENTO CONTENDO ACIDO DEIDROCOLICO,ETC.EM DOSES 256 0 795 30049022 0 0,00 0 1,30 0 0,91 41 10.302 -23.881,88 -221.181,64 7.099 17.289 -43.899,80 -225.253,36 -17 11.546 -63.583,93 -295.843,38 494 10.716 -97.735,57 -398.761,37 -30 - 83.501,52 30049039 Produtos farmacêuticos 135 - 3.357 - OUTROS MEDICAM.C/COMPOSTOS DE FUNCAO AMINA,ETC.EM DOSES TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO TOTAL DOS NCMs ESPECÍFICOS TOTAL DOS CAPÍTULOS 17.020 -456.043,09 33.194 -468.211,76 13.887 -563.228,80 4.381 -752.911,66 21.594.631 2.751.064,94 24.654.377 2.582.025,81 27.327.408 2.090.733,55 25.524.441 1.689.787,04 Fonte: Elaboração própria, a partir da Aliceweb René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 4.381 -363.764,29 -9.679 25.642.831 -960.344,88 4.278.031,11 68 A análise dos resultados apresentados nessas três últimas tabelas será feita na próxima subseção. 2.3.1 - Análise dos dados de comércio exterior (importação, exportação e balança comercial) A Tabela 15 apresenta o saldo da balança comercial do setor de fitoterápicos considerando os capítulos da NCM e os itens selecionados, conforme apresentado na subseção anterior. Em 2008, os produtos fitoterápicos (ou seja, o total dos itens das NCMs selecionadas por capítulo) apresentaram um déficit comercial de US$960 milhões de dólares aproximadamente, demonstrando uma piora de 111% no período 2004-2008. A partir das Tabelas 13 e 14, observa-se que esse resultado é fruto de uma exportação de apenas US$251 milhões enquanto as importações somaram US$1,2 bilhão. Apesar dos dados apresentarem uma evolução de 112,7% na exportação (que passaram de US$118,2 milhões, em 2004, para US$251,1 milhões, em 2008), essa evolução foi apenas ligeiramente superior à observada nas importações que alcançaram uma evolução de 111% (passando de US$ 574 milhões para US$ 1.211 milhões, no mesmo período), sendo insuficiente para impedir um aumento do déficit comercial do setor. Os dados de saldo comercial do ano de 2008 para os itens selecionados da NCM (ver Tabela 16) apontam que os capítulos 15, 29 e 30 são deficitários10, ao contrário dos capítulos 12 e 13 que são superavitários. Porém, o déficit comercial nos capítulos 15, 29 e 30 é muito superior ao superávit registrados nos outros dois capítulos. Comparando os dados de 2008 com os de 2004, com exceção do capítulo 13 que era deficitário e tornouse superavitário, o cenário de déficit, em 2008, nos demais capítulos é o mesmo. As evoluções das exportações, importações e saldo comercial entre 2004 e 2008, apresentada na Tabela 16, mostram que, em termos de valores, todos os capítulos apresentaram expansão, tanto na exportação quanto na importação, com exceção do capítulo 15 que apresentou uma retração de 15% nas exportações. Este capítulo encontra-se em situação oposta aos demais, a expansão das importações foi superior à expansão das exportações. Neste caso, a expansão das exportações foi negativa, frente a um aumento das exportações de 549,7%, ampliando o déficit comercial do capítulo. 10 Considerando apenas o total de itens da NCM selecionados René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 69 Tabela 16 - Variação da importação, exportação e saldo comercial dos produtos fitoterápicos por capítulos e itens NCM, 2004-2008 Variação das quantidades (%) 2004-2008 Código NCM (caps. e itens) 12 Descrição Sementes e frutos oleginosos, grãos, sementes e frutos diversos; plantas industriais ou medicinais; palhas e forragem 12079999 - OUTS.SEM.E FRUTOS OLEAGINOSOS,MESMO TRITS. 12112000 - RAIZES DE "GINSENG",FRESCAS,SECAS,INCL.CORTAD.TRITUR.PO 12119090 Importação 26,57 -63,89 #DIV/0! 595,21 6.566,67 -99,64 Saldo comercial 28,40 Exportação Importação Saldo comercial 102,71 15,23 595,21 #DIV/0! 513,49 513,49 - 246,69 3.511,11 -99,85 -172,71 104,81 6,49 -26,89 - 94,01 126,29 23,37 12149000 - RUTABAGAS,RAIZES FORRAGEIRAS E OUTROS PRODS.FORRAGEIROS 3.220,00 1.019,77 - 187,82 3.856,39 1.805,59 -817,13 12079190 - OUTRAS SEMENTES DE DORMIDEIRA OU PAPOULA,MESMO TRITURAD #DIV/0! -100,00 - 100,00 #DIV/0! -100,00 -100,00 - OUTRAS SEMENTES DE CARTAMO,MESMO TRITURADAS #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! - RAIZES DE ALCACUZ,FRESCAS,SECAS,INCL.CORTADAS,TRITUR.PO -100,00 -100,00 - 100,00 -100,00 -100,00 -100,00 15,58 -13,41 -66,67 128,19 32,46 277,52 -18,76 27,81 -30,92 79,06 93,02 175,06 12076090 12111000 - OUTRAS PLANTAS E PARTES,P/PERFUMARIA,MEDICINA E SEMELHS Exportação Variação em US$ (%) 2004-2008 TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 13 13021999 Gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais - OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS -24,98 -25,59 - 24,96 72,65 67,14 80,93 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 899.900,00 -5,85 - 8,36 1.383.233,33 37,63 32,92 -95,30 15,00 34,46 -84,31 -13,71 -12,49 - SUCOS E EXTRATOS,VALEPOTRIATOS -100,00 #DIV/0! - 264,32 -100,00 #DIV/0! -520,00 - SUCOS E EXTRATOS,DE "GINSENG" -100,00 140,00 156,90 -100,00 9,24 10,20 -33,33 133,33 133,83 297,61 42,42 42,12 5.900,00 -23,08 - 32,20 7.441,90 -43,41 -50,34 13019090 - OUTS GOMAS,RES.,GOMA-RESINAS,BÁLSAMOS NAT. 13021200 - SUCOS E EXTRATOS,DE ALCACUZ 13021930 - SUCOS E EXTRATOS DE GINKGO BILOBA SECO 13021940 13021950 13021960 - SUCOS E EXTRATOS,SILIMARINA 13022090 - OUTRAS MATERIAS PECTICAS,PECTINATOS E PECTATOS 13023990 15 -89,47 62,59 71,28 -85,04 123,63 140,18 TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO - PRODS.MUCILAGINOSOS E ESPESSANTES,DERIV.OUTROS VEGETAIS 10,57 61,80 5,56 112,52 71,99 -172,38 Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação; gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal -9,18 171,41 -20,21 90,83 287,50 63,42 0,00 0,00 #VALOR! 0,00 #VALOR! #VALOR! 494,65 58,43 177,89 15132910,0 - OUTROS OLEOS DE "PALMISTE" 15132110 - OLEO DE "PALMISTE",EM BRUTO 15159090 - OUTRAS GORDURAS E OLEOS VEGETAIS,MESMO REFIN. 15162000 - GORDURAS E OLEOS,VEGETAIS,HIDROGENS.INTERESTERIFS.ETC. 15180090 - OUTS.GORDURAS E OLEOS ANIMAIS/VEGET.COZIDOS,OXIDAD.ETC. TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 29 Produtos Químicos Orgânicos 29322990 - OUTRAS LACTONAS 29349999 - OUTROS COMPOSTOS HETEROCICLICOS 29061950 - TERPINEÓIS 29071990 - OUTROS MONOFENOIS 29072900 - OUTROS POLIFENOIS 29094910 269,41 54,01 646,64 1.987,71 6,39 - 228,41 315,82 82,15 -201,33 -64,57 -1,28 - 241,96 -39,14 54,38 -5.442,55 168,10 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! -53,26 18,17 -594,15 -15,90 549,77 6.727,14 9,83 52,15 1.155,74 83,51 106,49 120,50 227,91 59,16 58,34 465,62 314,11 313,80 0,96 65,01 65,44 44,29 50,93 51,05 #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 473,47 31,89 28,02 374,35 63,07 57,62 -26,43 17,27 23,17 -38,14 37,21 45,60 170,22 173,57 - GUAIFENESINA -80,77 76,47 -8,94 29095090 - ETERES-ALCOOIS-FENOIS E SEUS DERIVADOS HALOGENADOS,ETC. 719,23 -8,77 - 10,58 3.128,44 20,36 17,00 29142990 - OUTS.CETONAS CICLANICAS,ETC.N/CONT.OUTS.FUNCOES OXIGEN. -93,40 -13,33 74,05 - 13,01 -67,00 47,09 48,65 29145090 - OUTS.CETONAS-FENOIS E CETONAS CONT.OUTS.FUNCOES OXIGEN. 200,52 405,21 184,69 182,76 29146990 - OUTRAS QUINONAS -100,00 170,17 178,52 -92,84 86,76 29156029 - ACIDO VALERICO E SEUS OUTS.SAIS E ESTERES -82,05 281,63 283,37 -68,42 -9,60 -9,51 29159050 - PEROXIDOS DOS ACIDOS MONOCARBOXILICOS ACICLICOS SATUR. -87,54 -30,03 - 111,10 -77,00 -35,26 -87,34 1.196,71 205,04 88,22 29182990 - OUTROS ACIDOS CARBOXILICOS FUNCAO FENOL,ANIDRIDOS,ETC. 118,25 -86,00 - 86,08 149,32 -50,86 -51,05 29189999 - OUTS.ÁC.CARB.C/FUNC.OXIG.SUPL.E S/ANID.,S/DER. #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 29221999 - OUTROS AMINOALCOOIS,SEUS ETERES,ESTERES E SAIS 238,21 22,43 21,21 63,62 28,29 28,02 29239090 - OUTROS SAIS E HIDROXIDOS DE AMONIO QUATERNARIOS -30,08 37,70 41,28 -14,92 89,04 92,74 29242190 - OUTRAS UREINAS,SEUS DERIVADOS E SAIS -100,00 94,58 94,61 -100,00 278,73 278,74 29309039 - OUTROS TIOETERES,TIOESTERES,SEUS DERIVADOS E SAIS #DIV/0! -12,36 - 12,36 -100,00 -4,18 -4,18 29329999 - OUTROS COMPOSTOS HETEROCICL.DE HETEROATOMOS DE OXIGENIO -61,00 198,52 221,59 -27,41 97,16 97,87 29369000 - PROVITAMINAS E VITAMINAS,MISTURADAS -68,24 76,89 - 223,45 40,87 156,81 236,70 29389090 - OUTS.HETEROSIDEOS,SEUS SAIS,ETERES,ESTERES E DERIVADOS -83,00 281,05 -3.636,39 -72,80 143,02 29399990 - OUTROS ALCALOIDES VEGETAIS,NATURAIS,ETC. -69,67 -99,10 - 99,49 453,35 25,31 24,26 29420000 - OUTROS COMPOSTOS ORGANICOS 929,22 #DIV/0! 590,98 841,42 #DIV/0! 561,77 -39,05 44,46 49,30 124,91 98,58 97,82 139,78 131,68 TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO 30 -353,53 172,66 30049099 - OUTROS MEDICAM.CONT.PRODS.P/FINS TERAPEUTICOS,ETC.DOSES 17,60 200,75 - 58,96 139,08 90,53 72,32 30039039 - MEDICAMENTO C/OUTS.ACIDOS CARBOXILICOS,ETC.EXC.EM DOSES 256,00 15.801,30 17.697,07 -65,49 221,99 239,45 30039099 Produtos farmacêuticos 44,59 67,80 203,08 - OUTS.MEDICAM.CONT.PRODS.MISTURADOS,P/FINS TERAPEUT.ETC. -92,65 -56,33 - 54,32 46,85 -52,90 -55,70 30044090 - OUTS.MEDICAMENTOS C/ALCALOIDES,S/HORMONIOS,ETC.EM DOSES 150,87 -38,22 - 285,73 301,16 8,50 -38,02 30045090 - MEDICAMENTO C/OUTS.VITAMINAS/PROVITAMINAS,ETC.EM DOSES 544,26 -3,31 - 240,95 880,18 67,31 -3,34 30049022 - MEDICAMENTO CONTENDO ACIDO DEIDROCOLICO,ETC.EM DOSES #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! #DIV/0! 249,64 30049039 - OUTROS MEDICAM.C/COMPOSTOS DE FUNCAO AMINA,ETC.EM DOSES TOTAL DE NCMs ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO -5,24 34,99 7,19 422,15 - 173,59 -57,47 15,35 156,36 190,97 85,38 64,46 TOTAL DOS NCMs ESPECÍFICOS -6,44 52,16 -156,87 112,47 110,97 110,58 TOTAL DOS CAPÍTULOS 21,13 41,85 18,75 99,98 119,63 55,50 Fonte: Elaboração própria, a partir da Aliceweb #DIV/0!: não houve vendas no primeiro ano do período observado Os capítulos 12, 13, 29 e 30 tiveram um aumento nas exportações superior ao aumento das importações, o que permitiu ao primeiro aumentar o seu superávit, e ao segundo inverter seu saldo comercial de deficitário em 2004, para superavitário em 2008. O aumento das exportações nos capítulos 29 e 30 não foi suficiente para impedir ou reduzir os seus respectivos déficits comerciais, apenas reduziu seu ritmo de René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 70 crescimento. Como estes são os dois maiores capítulos referentes ao setor de fitoterápicos, a piora dos seus déficits comerciais acabou por superar as pequenas melhoras nos superávits dos outros capítulos e contribuíram de maneira fundamental para a ampliação do déficit comercial do setor como um todo. O capítulo 29 apresentou um aumento das importações de 98,6% frente aos 124,9% das exportações, mesmo assim o déficit comercial do total dos itens selecionados no capítulo aumentou, passando de US$232,1 milhões, em 2004, para US$459,2 milhões, em 2008, uma piora de 97,8%. Isso coloca o capítulo 29 como responsável por 47,8% do déficit comercial do setor de fitoterápicos, em 2008 (contra 50,9% em 2004). Apesar de responder pelas maiores parcelas das exportações e importações, o capítulo 30 possui um saldo comercial menos deficitário que o capítulo 29. O capítulo 30 apresentou um aumento das importações de 85,4% frente aos 156,4% das exportações. O aumento das exportações mais rápido do que o das importações foi também insuficiente para impedir ou diminuir o déficit comercial do capítulo. Devido ao peso da participação deste capítulo no comércio exterior do setor de fitoterápicos, sua co-responsabilidade pela ampliação do já constatado déficit comercial do setor entre 2004 e 2008 foi importante. O déficit comercial do total dos itens selecionados no capítulo aumentou, passando de US$221,2 milhões, em 2004, para US$363,8 milhões, em 2008, uma piora de 64,4%. Isso o coloca como responsável por 37,9% do déficit comercial do setor de fitoterápicos, em 2008 (contra 48,4% em 2004). Em relação à exportação em 2008, o capítulo 30 é o mais relevante, respondendo por 66,5% dos US$251 milhões do total dos itens específicos, seguido pelos capítulos 13 (14,3%), 15 (7,9%), 29 (6,0%) e 12 (5,2%). Já nas importações de 2008 o quadro apresenta-se diferente. Apesar da liderança dos itens do capítulo 30 com 43,8% dos US$ 1.211 milhões, a ordem dos demais se altera. O segundo mais importante são os itens do capítulo 29 com 39,1%, seguidos pelos itens dos capítulos 15 (13,8%), 13 (2,8%) e 12 (0,4%). Um ponto a se destacar é que as exportações e as importações, em 2008, concentram-se em alguns poucos itens dentro de cada capítulo da NCM. No caso das exportações a concentração é ainda maior tendo apenas um item por capítulo dominando a principal parcela. Por exemplo, no capítulo 30 (o maior em valor exportado), o item 30049099 (outros medicamentos contendo produtos para fins terapêuticos, etc.) possui 72,5% dos US$167,1 milhões de exportações registradas nos René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 71 itens selecionados. No capítulo 13 a concentração em um único item, outros sucos e extratos vegetais, chega a 80%. Nos capítulos 15 e 29 ficam respectivamente em 68,3% e 60,0% e no capítulo 12 em 99%. No capítulo 15 o destaque fica por conta do item “gordura e óleos, vegetais, hidrogenados...”. No capítulo 29, o item que se destaca é “outros compostos orgânicos” e no capítulo 12 “outras plantas e partes para perfumaria, medicina e semelhantes”. O quadro apresentado nas exportações para 2008 é semelhante ao observado em 2004, onde as exportações também se concentravam em um único item por capítulo, sendo estes os mesmos itens observados em 2008. A exceção foi o capítulo 29 onde três itens dividiam quase que igualmente 56,7% das exportações, “provitaminas e vitaminas misturadas”, “outros compostos heterocíclicos” e “peróxidos dos ácidos monocarboxílicos e acíclicos saturados”, sendo que todos os três perderam destaque em 2008. As importações, em 2008, apresentam-se menos concentradas dentro dos capítulos que as exportações, mesmo assim um pequeno grupo de dois ou três produtos são os responsáveis pela maior parcela dentro de cada capítulo. Assim nos dados de importação de 2004 e 2008, para os capítulos 12 e 15, os principais itens selecionados não se diferenciam daqueles registrados nos dados de exportação. Já o capítulo 13 mostra-se mais equilibrado que no caso das exportações, apesar de ter o mesmo item principal que as exportações, “outros sucos e extratos vegetais”, este representa apenas 49,3% das importações do total de itens selecionados (contra 80% nas exportações), seguido pelo item “produtos mucilaginosos e espessantes, derivados de outros vegetais” que responde por 21%. Os capítulos 29 e 30 são os que apresentam as maiores diferenças entre as importações e as exportações, a começar pelo grande saldo deficitário observado na balança comercial, o que coloca o segmento de fitoterápicos como deficitário no geral. Em relação ao capítulo 29, 4 itens do capítulo (“outras lactonas”, “outros compostos heterocíclicos”, “outros compostos heterocíclicos de heteroátomos de oxigênio” e “outros tioéteres, tioéteres, seus derivados e sais”) respondem por 65,2% das importações totais dos NCMs selecionados do capítulo, mostrando um quadro muito menos concentrado do que o observado na exportação. Além disso, estes itens diferem daqueles observados como os mais relevantes na exportação. No capítulo 30, dois itens do NCM destacaram-se nas importações em 2008: “outros medicamentos contendo produtos para fins terapêuticos, etc. doses” e “outros René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 72 medicamentos com compostos de função amina, etc. em doses” que responderam por 66,7% e 17,5%, respectivamente. Apesar da desconcentração, em relação à exportação, ser menor do que o observado em outros capítulos e o principal item ser o mesmo, o segundo item em importações não apresentou a mesma importância no tocante às exportações. Comparando com os dados do ano de 2004 com 2008, os principais itens selecionados dos capítulos 12, 13 e 30, em importação permaneceram os mesmos, apresentando crescimento em termos de valores monetários na maioria dos itens. O capítulo 29 é o único que apresenta grandes alterações entre os principais itens de 2004 e 2008. O principal item em 2004, “outros compostos heterocíclicos”, perdeu importância relativa (apesar de em termos absolutos terem crescido) sendo ultrapassado pelo item “outras lactonas”. Os outros itens de importância no capítulo foram os mesmos observados em 2008, porém com uma alteração no ordenamento entre eles. A análise da origem das importações dos produtos fitoterápicos no ano de 2008, em valor, revelam 34 países diferentes. Os principais países em termos de valores foram: Alemanha (32,6%), Suíça (13,8%), Espanha (8,9%), China (7,5%) e França (7,0%) que juntos representavam 70,5% das importações do setor. Já em termos de quantidade importada, a concentração é ainda maior. Os quatro principais países responderiam por 89% da quantidade importada, o que representa 10,4 toneladas. Nesta ótica, os destaques foram: Suíça e França que respondiam, respectivamente, por 43,7% e 29,1% das importações. Já a Espanha veio em seguida com 10,1% e a Alemanha com 6,4%. A China, que apareceu como grande exportadora para o Brasil em valores, não teve o mesmo destaque em quantidade, respondendo por apenas 1,7%. Quanto às origens das importações por capítulo, pode-se observar que a Alemanha destacou-se como principal país de origem em três dos cinco capítulos analisados (12,13 e 30) e ficou em terceiro lugar no capítulo 29. Em seguida, a China destacou-se nos capítulos 15 e 29 e ficou entre os quatro principais nos capítulos 12 e 13. No capítulo 12 o valor total importado foi de US$2 milhões, sendo a Alemanha (25,7%), a Índia (20,9%), a Turquia (15%) e a China (8,2%) os principais países de origem, em 2008, respondendo juntos por 69,7%. Em termos de quantidade foram importadas 665 toneladas. Nessa ótica, a Turquia perde importância, respondendo por menos de 0,5% da quantidade total, o que demonstra o alto valor dos produtos trazidos desse país. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 73 Através da análise do preço médio11, pode-se observar que as exportações possuem menor preço médio por tonelada que as importações, ou que a relação valor/peso das exportações é menor que das importações. Enquanto cada tonelada exportada valia, em 2008, em média US$4,42, a tonelada importada valia US$18,22 no mesmo ano, ou seja, mais de quatro vezes mais. Apesar dessa diferença, esse cenário ainda é melhor do que o observado em 2004, em que o preço médio da tonelada exportada era de US$1,95, frente a US$13,15 das importações. Em relação ao total dos itens selecionados de cada capítulo, aquele que apresentou o maior preço médio por tonelada importada foi o capítulo 30, com cerca de US$41,33 por tonelada (contra US$9,70 por tonelada exportada). Na exportação o principal capítulo em termos de preço médio foi o capítulo 29 com US$24,72 por tonelada, (contra US$17,95 da tonelada importada). No extremo oposto estão os capítulos 12 e 13 que apresentam os menores preços médios por tonelada, na importação e na exportação, respectivamente. Comparando esses dados com os observados em 2004, não se identifica alterações na ordem de importância do preço médio por tonelada importada e exportada. A comparação dos resultados obtidos nesta pesquisa com outras já realizadas torna-se bastante difícil devido às distintas metodologias utilizadas para cada estudo. Dois exemplos são os estudos realizados por Ferreira (2002) e Rodrigues et al. (2008). O primeiro trabalho foi escrito nos anos 1990 e traz dados dos anos de 1995 e 1996, e por isso baseia-se na classificação de produtos dada ainda pela Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM), que posteriormente foi substituída pela NCM, e que possui algumas diferenças em relação a esta última. Assim, Ferreira (2002) pesquisou a importação e exportação de produtos de origem vegetal aplicados a medicamentos, selecionando os capítulos 12, 13, 29, 30 e 3512 da NBM como sendo os principais relacionados aos produtos em questão. Para cada capítulo o autor apresenta os principais itens relacionados ao comércio desses produtos, porém os dados da base Secex são apresentados apenas em valores monetários. O objetivo do trabalho de Ferreira (2002) era apresentar uma análise sobre o desenvolvimento de medicamentos à base de plantas medicinais no Brasil, sendo um dos pontos abordados a questão da importação e exportação de produtos de origem vegetal. 11 12 Razão entre o valor total da importação ou exportação sobre a quantidade importada ou exportada. O capítulo 35 da NBM refere-se a matérias albuminóides, colas e enzimas. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 74 Já Rodrigues et al. (2008) tiveram por objetivo analisar a cadeia produtiva de produtos medicinais a partir dos indicadores de comércio exterior. A metodologia adotada partiu da apresentada por Ferreira (2002), com a reclassificação dos itens da antiga NBM, selecionados pelo trabalho como sendo os principais relacionados ao tema, para a atual NCM. Após, as classificações e a verificação dos valores de importação e exportação, os itens selecionados foram agrupados por segmentos pré-estabelecidos da cadeia produtiva de plantas medicinais: plantas medicinais e suas partes, sucos e extratos a partir de plantas medicinais, princípios ativos a partir das plantas medicinais e medicamentos e fármacos a partir de plantas medicinais. Posteriormente, foram calculados o saldo comercial geral e das categorias e o preço médio das importações e exportações. O período analisado pelo trabalho vai de 1996 a 2006, tendo como fonte a base de dados Aliceweb. Como no estudo de Ferreira (2002), os dados foram disponibilizados apenas em valores monetários. A comparação entre a metodologia adotada neste trabalho e as outras duas metodologias utilizadas pelos autores supramencionados, como já explicitado, mostrou enormes diferenças. Entre estas se destaca a que diz respeito ao escopo do objeto da pesquisa e a maneira como os dados foram selecionados. A metodologia deste trabalho, além de levantar os valores de importação e exportação dos capítulos, focou em itens selecionados de cada capítulo, onde se encontravam os produtos fitoterápicos. A seleção dos itens foi feita a partir da análise dos dados desagregados por produtos de interesse da pesquisa (produtos fitoterápicos e plantas medicinais) para os dados de importação no ano de 2008. Este procedimento trouxe como resultado valores estimados de importação e exportação menores. É importante destacar, entretanto, que estes valores menores são resultados de uma maior delimitação do escopo dos itens das NCMs consideradas. De fato, a metodologia de Ferreira (2002), ainda que selecione produtos específicos em cada capítulo, utiliza os dados de comércio exterior para produtos naturais. Além disso, as escolhas dos capítulos e da lista de produtos (ou itens) foram feitas a partir da NBM. O escopo da pesquisa de Ferreira (2002) se torna mais amplo porque foca os produtos naturais, abrangendo muito mais do que apenas plantas com atividade terapêutica. Com isso, os dados de importação e exportação do trabalho contêm enzimas, hormônios, vários intermediários que podem ou não ser derivado de produto natural, além de plantas que não constam na lista que foi usada nesta pesquisa (Anexo de Espécies Vegetais). Dessa forma, o autor incluiu várias NBM’s distintas dos NCM’s René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 75 da presente pesquisa. Com isso os valores obtidos não são comparáveis com os presentes neste trabalho. Rodrigues et al. (2008) trabalham a partir da reclassificação dos itens da antiga NBM trabalhados por Ferreira (2002), para a atual NCM e os classificam agrupando-os por segmentos pré-estabelecidos da cadeia produtiva de plantas medicinais. Em suma, usam os capítulos 12, 13, 29 e 30 da NCM, com seleção de itens de cada um desses capítulos semelhante ao de Ferreira (2002). As diferenças no escopo do objeto da pesquisa têm por conseqüência a alteração nos capítulos da NCM abordados. Enquanto este estudo selecionou os capítulos 12, 13, 15, 29 e 30, os outros dois estudos citados não trabalharam com o capítulo 15 e o de Ferreira (2002) ainda utilizou o capítulo 35 não incluído nos demais estudos. Outra diferença entre os estudos é o período dos dados analisados. Ferreira (2002) analisou os dados de 1995 e 1996, Rodrigues et al. (2008) os dados de 1996 a 2006, e esta pesquisa e os dados de 2004 a 2008. 2.3.2 – Considerações finais A análise realizada sobre os dados de comércio exterior (exportação, importação e saldo comercial) do setor de plantas medicinais e fitoterápicos, entre os anos de 2004 e 2008, mostra que realmente a situação do setor não é promissora. O capítulo 30 destacase como o de maior importação no setor, sendo que esta importação é de medicamentos já formulados. Os produtos fitoterápicos mais importados em diferentes formas são Ginseng, Hera, Soja, Ginkgo, Psilium e Alcaçuz, sendo que todos apresentaram importação, em 2008, superiores a US$ 2 milhões. Pode-se, portanto, apontar as seguintes conclusões sobre o comércio exterior no setor de plantas medicinais e fitoterápicos: a balança comercial do setor é deficitária; os principais capítulos da NCM onde se classificam os produtos fitoterápicos são o 30 e 29 (sendo que o capítulo 29 ganha mais importância na questão das importações e do saldo comercial); dentro de cada capítulo, as exportações e importações estão concentradas em alguns itens da NCM; e o preço médio da tonelada exportada é inferior ao da importada, na maioria dos capítulos, porém essa diferença vem se reduzindo no período 2004 – 2008. Em 2008, o setor de fitoterápicos exportou US$251 milhões, importou US$1,2 bilhão, tendo como resultado um déficit comercial de US$960 milhões de dólares. Comparando com o ano de 2004, apesar dos dados apresentarem uma evolução de René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 76 112,7% na exportação (que passaram de US$118,2 milhões para US$251,1 milhões), essa evolução foi inferior à observada nas importações que alcançaram uma evolução de 111% (passando de US$ 574 milhões para US$ 1.211 milhões) demonstrando uma piora de 110,0% no período, o que levou a um aumento do déficit comercial do setor. É importante ressaltar, entretanto, que, apesar de ainda deficitário, e o déficit ter sido crescente ao longo do período 2004-2008, o seu ritmo de crescimento vem se reduzindo, comparado com o ano de 2004, apesar de que os dados tenham apresentado uma evolução de 112,7% na exportação (que passaram de US$118,2 milhões para US$251,1 milhões), ligeiramente superior ao aumento observado nas importações, que alcançaram uma evolução de 111% (passando de US$ 574 milhões para US$ 1.211 milhões). Porém, esse aumento foi insuficiente para reverter o déficit comercial que teve uma piora de 110,0%. O capítulo 30 foi responsável por 66,5% dos US$251 milhões do total dos itens selecionados exportados. Já nas importações de 2008, o quadro apresenta-se diferente e um pouco menos concentrado. Apesar da liderança dos itens do capítulo 30 com 43,8% dos US$ 1.211 milhões, a ordem de importância dos demais capítulos se altera, principalmente com a presença do capítulo 29 como o segundo mais importante com 39,1%. O maior peso do capítulo 29 nas importações faz com que ele se destaque como sendo o principal responsável pelo déficit comercial do setor com uma participação de 47,8% dos US$960 milhões de déficit. Já o capítulo 30 responde por 37,9%. As exportações e as importações, em 2008, concentram-se em poucos itens dentro de cada capítulo da NCM. No caso das exportações a concentração é ainda maior tendo apenas um item por capítulo dominando a principal parcela. No capítulo 30 um único item responde por 72,5% das exportações registradas. No capítulo 13 a concentração em um único item chega a 80%. Nos capítulos 15 e 29 ficam respectivamente em 68,3% e 60,0% e no capítulo 12 em 99%. As importações, em 2008, apresentam-se menos concentradas dentro dos capítulos que as exportações, mesmo assim um pequeno grupo de dois ou três produtos são os responsáveis pela maior parcela dentro de cada capítulo. Nos capítulos 12 e 15, os principais itens selecionados não se diferenciam daqueles registrados nos dados de exportação. Já o capítulo 13 mostra-se mais equilibrado que no caso das exportações, apesar de ter o mesmo item principal que nas exportações representa 49,3% do total de itens selecionados no capítulo. No capítulo 29, 4 itens selecionados do capítulo René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 77 respondem por 65,2% das importações totais. No capítulo 30, dois itens selecionados destacaram-se respondendo por 84,2%. A principal origem das importações, no ano de 2008, é proveniente da Alemanha. Além de outros países europeus responsáveis por 29,7% das importações (Suíça, Espanha e França), destaca-se também a China como uma procedência relevante (7,5%). Referente ao preço médio por tonelada, pode-se observar que as exportações possuem menor preço médio por tonelada que as importações, ou que a relação valor/peso das exportações é menor que das importações. Enquanto cada tonelada exportada valia, em 2008, em média US$ 4,42, a tonelada importada valia US$ 18,22 no mesmo ano. Apesar dessa diferença, esse cenário ainda é melhor do que o observado em 2004, quando o preço médio da tonelada exportada era de US$ 1,95, frente a US$ 13,15 das importações. Esse resultado mostra já um início de mudança promissora nos padrões de comércio do setor. 2.4 – Os padrões de tecnologia Os padrões de patenteamento e comércio de tecnologia dos fitoterápicos e das plantas medicinais também têm sido menos investigados e a literatura pesquisada registrou quase nenhum material bibliográfico a respeito. Em um único artigo foi possível identificar um quadro geral da proteção patentária de produtos fitoterápicos no Brasil. Trata-se do artigo de Vasconcellos et al. (2004), cujo objetivo foi analisar o perfil dos depositantes e a evolução do número de depósitos de patentes de produtos fitoterápicos no Brasil, entre 1996 e 1999. Entre os principais resultados encontrados, os autores ressaltam o expressivo aumento do número de depósitos a partir de 1996, ano em que a nova legislação sobre patentes foi aprovada (ver discussão anterior sobre o assunto acima resumida). Verificou-se também uma expressiva participação dos inventores isolados (46% dos depósitos) ainda que os depósitos das empresas tenham sido em maior número (54%). Aparecem também depósitos em parceria de inventores isolados com centros de pesquisa e de universidades. Dessa forma, novas investigações foram realizadas pela equipe conforme explicado a seguir. Na pesquisa das patentes relativas às plantas medicinais usadas na produção de medicamentos fitoterápicos, foram utilizadas duas bases: a Derwent Innovations Index e a do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A pesquisa se refere ao período de 1998 a 2008 e foi realizada em agosto e setembro de 2009. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 78 Com o objetivo de recuperar a maior quantidade possível de patentes de interesse, utilizou-se a Classificação Internacional de Patentes (CIP)13, instrumento que permite uniformizar a recuperação das informações. Tal Classificação é dividida em, por ordem decrescente: Seção, Subseção, Classes, Subclasses, Grupos e Subgrupos. Para este estudo escolheu-se: • Seção: A - Necessidades Humanas • Subseção: Saúde e Lazer • Classe: A61 – Ciência Médica e Veterinária; Higiene. • Subclasse: A61K – Preparações para finalidades médicas, odontológicas ou higiênicas. • Grupo: A61K-036 - Preparações medicinais contendo materiais de constituição indeterminadas derivados de algas, líquenes, fungos ou plantas, ou derivados dos mesmos, por exemplo, medicamentos tradicionais à base de ervas. • Subgrupo: Varia de acordo com a família da planta. Como exemplo pode-se citar a família Asteraceae que possui classificação A61K-36/28, a alcachofra, a arnica e a camomila são algumas plantas pertencentes a essa família. Algumas plantas possuem um subgrupo específico, como é o caso, por exemplo, do alho que possui a classificação A61K-36/8962. Nesses casos foi utilizado o subgrupo específico da planta e não o de sua família. Nos casos em que não foi localizado um subgrupo com a família da planta, foi utilizada apenas a classificação até o grupo. Além da CIP, foi prospectado no título e/ou resumo da patente o nome da planta de interesse e suas sinonímias botânicas e populares quando disponíveis. Após os primeiros levantamentos de dados, entretanto, foi verificado que o número de patentes encontradas na base do INPI (31 depósitos e/ou patentes) era pouco expressivo, quando comparado com o número encontrado na base Derwent (626 depósitos e/ou patentes). Por essa razão, optou-se por examinar apenas os dados 13 Até 2005, a CIP era revista de 5 em 5 anos para incorporar novos campos tecnológicos e corrigir eventuais imprecisões. Até a sétima edição (vigente até 2005) os fitoterápicos estavam classificados em A61K35/78. A partir da oitava edição a Classificação A61K35/78 desapareceu e foi substituída pelo grupo A61K36/... com inúmeros sub-grupos. Para entender a dinâmica da nova classificação, visite: http://www.wipo.int/export/sites/www/classifications/ipc/en/reform/conops.pdf René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 79 referentes à pesquisa na base Derwent, que disponibiliza uma plataforma de buscas mais amigável14. A partir dos resultados encontrados na base Derwent para a busca no grupo A61K-036 da CIP, foram selecionados os depósitos e/ou patentes que se referem às espécies de plantas medicinais objeto desse estudo (Ver Anexo de Espécies Vegetais). Além disso, foram excluídas as patentes em que havia a menção às plantas de interesse, mas cuja finalidade não se relaciona com o objeto desse estudo, como no caso dos biocidas. Após a análise desses documentos, feita através do software Vantage Point®, o resultado alcançado foi de 224 patentes distintas depositadas no Brasil de 1998 a 2008. As 224 patentes encontradas englobam várias outras áreas ligadas aos medicamentos, tais como cosméticos, cosmecêuticos, alimentos funcionais, suplementos alimentares e produtos de higiene pessoal. É importante ressaltar que cada patente contém pelo menos uma das espécies vegetais foco do estudo na sua composição, além de possuir alguma atividade terapêutica. Por isso, optou-se por manterem-se todas essas 224 patentes, mas examiná-las separadamente. Assim, as patentes foram apresentadas e analisadas em dois grupos diferentes, são eles: Grupo1 – engloba patentes de uso medicinal e medicamentos; Grupo 2 – reúne as patentes de cosméticos, cosmecêuticos, alimentos funcionais, suplementos alimentares e higiene pessoal15. 2.4.1 - Resultados O Grupo 1, referente ao uso medicinal e medicamentos, reuniu o total de 128 patentes, enquanto o Grupo 2, relacionado aos cosméticos, cosmecêuticos, alimentos funcionais, suplementos alimentares e higiene pessoal, ficou composto de 96 patentes. A Tabela 17 mostra um resumo dos resultados das buscas de patentes, tomandose, além da classificação CIP, os nomes das espécies selecionadas, bem como suas sinonímias botânicas e populares localizados no título e/ou resumo da patente. É importante salientar que, embora o número de patentes encontradas seja de 224, no caso 14 Alguns sistemas de informação atualizaram os documentos classificados em A61K35/78 como A61K36/..., como é o caso da base Derwent. Essa é razão da diferença tão grande entre o levantamento da base Derwent e do INPI. Vários documentos brasileiros classificados como A61K35/78 não foram atualizados como A61K36/... na base européia e na Derwent também. Sendo assim, os dados sobre os depósitos de nacionais podem estar subestimados. 15 É importante ressaltar que o Grupo 2 não foi objeto de levantamento específico da área de cosméticos, mas apenas registra aquelas espécies vegetais incluídas na pesquisa (124 espécies de plantas medicinais) que também geraram patentes em outras áreas. Flagrantemente, o resultado é subestimado e apenas representativo dos usos alternativos dessas espécies vegetais. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 80 da Tabela 17, o total chega a 303 documentos, uma vez que o objetivo era verificar em quantas patentes eram mencionadas as espécies em questão. Assim, o número de espécies por patente poderia ser maior que um. Vale ressaltar que para algumas plantas não foram encontradas patentes. Tabela 17 - Resumo da busca de patentes referentes a plantas medicinais de interesse depositadas no Brasil no período de 1998 a 2008 Espécies por número de patentes em que são citadas Número de espécies % Número de patentes que se referem às espécies 20 181 • Espécies que aparecem em mais de 3 25 patentes • Espécies que aparecem em 3 patentes 15 12 45 • Espécies que aparecem em menos de 3 58 46,4 77 patentes • Espécies que não aparecem nas patentes 27 21,6 • Total de menções às espécies nas 224 125 100 303* patentes Fonte: Elaboração própria, a partir das Patentes Grupo 1. *o total se refere a um número maior do que 224 (303 documentos), uma vez que o número de por patente poderia ser maior que um. % 59,7 14,9 25,4 100 espécies As espécies de interesse que aparecem no maior número de patentes depositadas no Brasil foram: a soja (Glycine max) em 20 patentes depositadas, a erva dos burros, também conhecida como óleo de prímula (Oenothera biennis) em 16 patentes, a equinácea (Echinacea purpurea) em 12 patentes e a calêndula (Calendula officialis) em 10 patentes depositadas. A seguir, são apresentadas as análises das 224 patentes, já divididas nos 2 grupos, segundo a sua finalidade. 2.4.1.1 - Patentes de uso medicinal e medicamentos (Grupo 1) O Grupo 1 contém 128 patentes e seus usos estão diretamente relacionados a área medicinal ou a composição e formulação de medicamentos contendo pelo menos uma das espécies selecionadas para estudo.Verificou-se que, nesse Grupo, as plantas que mais se destacaram em número de patentes foram: a calêndula (Calendula officinalis), com 10 documentos de patentes, seguida da erva dos burros (Oenothera biennis), com 9 documentos, e da equinacea (Echinacea purpurea), com 8 patentes. O Gráfico 1 apresenta os países de prioridade dos 128 documentos de patentes depositados no Brasil para as espécies selecionadas com uso direto na área medicinal e/ou medicamentos. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 81 Gráfico 1 - Número de pedidos de depósitos de patentes do Grupo 1 por País de Prioridade, 1998-2008 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da base Derwent Innovations Index. *Organização Européia de Patentes: Organismo Intergovernamental encarregado de emitir títulos de proteção dos direitos de propriedade industrial e prestar serviços relacionados com a propriedade industrial, para cada um dos Estados Membros. Os principais depositantes são aqueles com maior freqüência de depósitos de patentes. De acordo com Tabela 18, o maior depositante, com 4 patentes, é a empresa italiana Indena. Trata-se de uma empresa de desenvolvimento, identificação e produção de princípios ativos derivados de plantas para uso em medicamentos, suplementos alimentares e cosméticos. Dentre os depositantes nacionais destacam-se a Universidade Federal de Minas Gerais, e as empresas Aché Laboratórios Farmacêuticos e Herbarium. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 82 Tabela 18 - Depositantes de patentes do Grupo 1 com mais de 2 patentes depositadas no Brasil, 1998-2008 Número de Patentes Depositadas no Brasil Depositantes 1 INDENA SPA 2 ACHE LAB FARM SA 4 3 COUNCIL SCI & IND RES INDIA 4 ENGELHARD ARZNEIMITTEL GMBH&CO KG 3 5 HERBARIUM LAB BOTANICO 6 JOHNSON & JOHNSON 3 7 NESTEC SA 8 YOO S (Pesquisador) 3 3 3 3 3 9 BIONORICA AG 10 BOEHRINGER INGELHEIM INT GMBH 2 11 BOMSUND GRUPO ASESOR SL 12 BRITTEN N J (Pesquisador) 2 13 CETERIS HOLDING AMSTERDAM OLANDA SUCCURSALE DI LUGANO 14 CMI CENT MEDICAL INNOVATION AG 2 2 2 2 15 CYDEX INC & AL 16 HILTERMAN K (Pesquisador) 2 17 KIMBERLY-CLARK CORP 18 NEW CHAPTER INC 2 19 PANAGIN PHARM INC 20 SQUIRES M (Pesquisador) 2 2 2 2 21 UNIGEN PHARM INC 22 UNIV FEDERAL MINAS GERAIS Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da base Derwent Innovations Index 2 2 O Gráfico 2 mostra a evolução temporal dos depósitos de patentes no Brasil do Grupo 1. Nota-se um crescimento no número de depósitos de patentes, nos anos de 2003 e 2004, mas a partir de 2005, o número de patentes depositadas volta a cair. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 83 Gráfico 2 - Número de patentes do Grupo 1 depositadas no Brasil, 1998-2008 31 35 30 25 17 20 15 10 11 13 11 7 7 19 8 2 5 0 2 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da base Derwent Innovations Index Obs.: O pequeno número de patentes em 2007 e 2008 pode não representar o valor total real, uma vez que os pedidos de patentes só recebem classificação quando são publicados, em geral, após o período de sigilo de 18 meses. A seguir, fazendo a leitura das patentes depositadas (títulos, números, plantas associadas e análise das patentes localizadas e classificadas como medicamento e/ou uso medicinal), verificou-se, conforme Tabela 19, que a maior parte das patentes do Grupo 1 (cerca de 70%) se refere a composição e formulação de medicamentos. Tabela 19 - Patentes do Grupo 1, segundo a finalidade, 1998-2008 Finalidade Uso na área medicinal Composição e formulação de medicamentos Ambos Total Número de patentes 37 90 1 128 % 28,9 70,3 0,8 100 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da base Derwent Innovations Index 2.4.1.2 – Patentes de cosméticos, cosmecêuticos, alimentos funcionais, suplementos alimentares e higiene pessoal (Grupo 2) O Grupo 2 é referente às outras 96 patentes, que possuem atividade terapêutica e que contêm, pelo menos, uma das espécies vegetais do escopo deste estudo. Essas patentes, entretanto, se referem às áreas de cosméticos, cosmecêuticos, alimentos funcionais, suplementos alimentares e ao segmento de higiene pessoal. Como explicado na primeira seção deste trabalho, o interesse por espécies vegetais não é restrito ao uso medicinal e de produção de medicamentos. De fato, muitas empresas além de atuarem no segmento voltado para a produção de medicamentos atuam também nas demais áreas acima referidas. As plantas que apresentaram mais depósitos de patentes no Grupo 2, no Brasil, foram: soja (Glycine max), com 14 patentes, seguida de erva dos burros (Oenothera biennis) e uva-ursi (Arctostaphylus uva-ursi), com 7 patentes cada, e malva (Malva sylvestris), com 6 patentes. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 84 A seguir são apresentados os países de prioridade das patentes, os principais depositantes e a evolução temporal dos depósitos no Brasil. Após a análise dos 96 documentos de patentes, constatou-se, assim como no Grupo 1, que os Estados Unidos foram o país de prioridade do maior número de patentes depositadas no Brasil. Em seguida, se encontra o Brasil, com 12 pedidos de patentes, ou seja, menos da metade dos EUA. O Gráfico 3 apresenta os países de prioridade dos 96 documentos de patentes depositados no Brasil para as plantas de interesse com uso em cosméticos, cosmecêutica, alimentos e higiene. Gráfico 3 - Número de pedidos de depósitos de patentes do Grupo 2 por país de prioridade, 1998-2008 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da base Derwent Innovations Index. *Organização Européia de Patentes: Organismo Intergovernamental encarregado de emitir títulos de proteção dos direitos de propriedade industrial e prestar serviços relacionados com a propriedade industrial, para cada um dos Estados Membros. A Tabela 20 apresenta os principais depositantes dos 96 documentos de patentes do Grupo 2. Observamos que os maiores depositantes, com 6 depósitos cada, foram as empresas multinacionais, com sede no Brasil: Johnson & Johnson e a Nestlé, através da Nestec S.A. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 85 Tabela 20 - Depositantes de patentes do Grupo 2 com mais de 2 patentes depositadas no Brasil, 1998-2008 Depositantes Número de Patentes Depositadas no Brasil 1 JOHNSON & JOHNSON 6 2 NESTEC SA 6 3 KIMBERLY-CLARK WORLDWIDE INC 5 4 L'OREAL SA 5 5 AVON PROD INC 4 6 YAKULT HONSHA KK 3 7 INDENA SPA 3 8 SEIBERG M (Pesquisador) 3 9 AIYAMA R (Pesquisador) 2 10 BARRICA A (Pesquisador) 2 11 BOCKMUHL D (Pesquisador) 2 12 BOMBARDELLI E (Pesquisador) 2 13 COLLE R (Pesquisador) 2 14 CONCEICAO M (Pesquisador) 2 15 DBC LLC 2 16 FABRE DERMO-COSMETIQUE PIERRE 2 17 GIVAUDAN AS 2 18 HENKEL KGAA 2 19 HOHNE H (Pesquisador) 2 20 INNOVADERM SAS 2 21 JACOB O (Pesquisador) 2 22 JASSOY C (Pesquisador) 2 23 JONES B (Pesquisador) 2 24 KAY INC MARY 2 25 MENON G K (Pesquisador) 2 26 MONSANTO TECHNOLOGY LLC 2 27 NAGABHUSHANAM K (Pesquisador) 2 28 OFFORD-CAVIN E (Pesquisador) 2 29 PERFETTI VAN MELLE SPA 2 30 PROCTER & GAMBLE CO 2 31 SALMOIRAGHI G (Pesquisador) 2 32 SATTLER A (Pesquisador) 2 33 SCHOLLYSSEK R (Pesquisador) 2 34 SHAPIRO S S (Pesquisador) 2 35 TOMATIS I (Pesquisador) 2 36 TYRRELL D J (Pesquisador) 2 37 UNILEVER Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da base Derwent Innovations Index. 2 O Gráfico 4 mostra a evolução temporal dos depósitos de patentes do Grupo 2 no Brasil. Nota-se uma variação do número de pedidos de depósitos, por ano, bastante René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 86 pronunciada, sendo que o maior número de depósitos ocorreu no ano de 2004. Não foram encontrados depósitos no ano de 2008. Gráfico 4 - Número de patentes do grupo 2 depositadas no Brasil, 1998-2008 23 25 20 15 15 11 10 5 9 15 8 5 2 5 3 0 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da base Derwent Innovations Index Obs.: O pequeno número de patentes em 2007 e 2008 pode não representar o valor total real, uma vez que os pedidos de patentes só recebem classificação quando são publicados, em geral, após o período de sigilo de 18 meses. A partir da inspeção de cada patente (títulos, números, plantas associadas e análise das patentes) localizadas por área: Cosmecêutica, Cosméticos, Suplementos Alimentares e Higiene Pessoal, foram encontrados números de patentes e seus percentuais conforme Tabela 21. Tabela 21 - Patentes do Grupo 2, por área, 1998-2008 Área Número de patentes Cosmecêutica e Cosméticos Higiene Pessoal Suplementos Alimentares (inclui alimentos funcionais) Mais de uma área Total Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da base Derwent Innovations Index % 45 36 12 3 96 46,9 37,5 12,5 3,1 100 2.5 - Usos Sustentáveis dos Princípios Ativos da Biodiversidade: marco legal, estudos e tecnologias críticas O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo, contando com um número estimado de mais de 20% do número total de espécies do planeta. Vale ressaltar que a diversidade genética vegetal brasileira é muito expressiva: são cerca de 55.000 espécies catalogadas de um total estimado entre 350.000 e 550.00 espécies. Dentro deste leque único de riquezas biológicas, o país também se destaca em outro aspecto no que diz respeito às plantas: as florestas guardam um número significativo de espécies que tem fins terapêuticos e medicinais. O Brasil possui um imenso potencial genético a René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 87 ser explorado e estima-se que esse patrimônio vegetal represente cerca de 16,5 bilhões de genes16. Sendo o Brasil um país rico em bioativos (substâncias biologicamente ativas), a biopirataria sempre foi motivo de alerta por parte de ambientalistas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e outros setores da sociedade civil. Várias já foram as denúncias de cientistas e laboratórios estrangeiros que simplesmente saem do país levando suas riquezas biológicas, registrando patentes e gozando de vantagens econômicas a partir de produtos gerados com plantas brasileiras. Portanto, a biopirataria diz respeito, sobretudo, à importância da conservação e proteção da biodiversidade, à pesquisa de novas substâncias bioativas e aos aspectos relacionados com a propriedade intelectual dessas substâncias. Apesar de toda riqueza de biodiversidade e genética do país e dos crescentes riscos da biopirataria, o Brasil ainda não tem uma legislação que regule o acesso aos recursos genéticos. Nem o fato de ter sido o primeiro país signatário da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), assinada na Rio 92, levou o Governo a criar uma lei específica para controlar o seu imenso patrimônio genético e proteger as populações tradicionais que descobrem e fazem uso das plantas com fins medicinais. A CDB estabeleceu que na utilização dos recursos genéticos, de soberania de um país, deve haver repartição justa e eqüitativa dos benefícios do material utilizado. Como analisado anteriormente este aspecto trouxe uma regulação sobre a propriedade dos recursos naturais, mas deixou o aspecto legal sem uma definição precisa. O que ocorre, muitas vezes, é o registro por parte de profissionais de outros países, principalmente americanos e europeus, de direitos de propriedade industrial sobre compostos usados por populações tradicionais brasileiras ou mesmo resultantes de estudos científicos realizados em nossas instituições de ensino e pesquisa. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) trabalha atualmente no levantamento de quantas e quais espécies de origem brasileira se destinaram a patentes no exterior. É imprescindível, portanto, a criação de uma legislação que regulamente o acesso aos recursos genéticos, a qual garanta os direitos das populações tradicionais e ao mesmo tempo possibilite à comunidade científica, liberdade para a condução dos trabalhos de pesquisa que levem ao amplo conhecimento de nossa biodiversidade. A atual regulamentação é feita com base na Medida Provisória n. 2.186-16, de 23 de 16 Consultar para maiores detalhes http://www.institutoaqualung.com.br/info_plantas43.html René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 88 agosto de 2001, a qual é extremamente criticada pela comunidade científica em virtude de seu caráter “policialesco” e dos entraves burocráticos que gera, levando a maioria dos pesquisadores brasileiros que atuam em áreas do conhecimento que requerem acesso à biodiversidade, a trabalharem de forma irregular, conforme detalhamento na seção a seguir. Apesar dos esforços assistidos, é fato que hoje os recursos naturais biológicos não têm a devida atenção das autoridades. Isso pode ser explicado por esses recursos serem renováveis, diferentemente dos recursos minerais, que são não-renováveis e sobre os quais as nações têm total soberania. No entanto, se a biopirataria continuar crescendo, associada a uma alta taxa de destruição, o país poderá perder suas riquezas biológicas naturais e a chance de um maior crescimento econômico e social. O uso de plantas como cura para males e doenças é um conhecimento tradicional, datado de centenas de anos. Ao procurar plantas para o seu sustento e alimentação, o homem, desde a pré-história, acabou descobrindo espécies de plantas com ação tóxica ou medicinal, construindo assim um conhecimento empírico acerca de suas possíveis ações medicinais. Os homens se alimentavam de determinadas plantas pelo instinto de sobrevivência e observavam que algumas tinham efeitos de minimização de enfermidades. O acúmulo das informações sobre os efeitos das plantas nos organismos levou ao nascimento da cultura da arte de curar, que pode ser considerada a base para o nascimento da medicina. Até meados do século XX, a medicina popular, como é conhecida aquela baseada no conhecimento empírico das plantas medicinais, não tinha em seu uso qualquer comprovação científica. A pesquisa para o desenvolvimento de medicamentos se baseava na síntese química de novas substâncias. No entanto, se percebeu que os produtos de origem natural tinham mais chances de apresentar alguma atividade biológica, uma vez que são sintetizados por organismos vivos. Esse princípio, relativamente simples, é a base para um complexo estudo dessas substâncias e suas atividades sobre os organismos nos dias atuais. Além do mais, não se pode negar a contribuição de populações tradicionais na descoberta de princípios ativos para o desenvolvimento de novos fármacos e medicamentos, uma vez que é muito comum os pesquisadores iniciarem suas pesquisas por extratos, cujo uso popular é feito com sucesso. O Quadro 2 mostra exemplos de algumas plantas consagradas pelo uso René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 89 popular, brasileiras ou originárias de outros países, e suas clássicas indicações medicinais. Quadro 2 - Plantas e seus usos na medicina popular Enfermidade Abcesso de pele Acne Aftas Calos Calvície Cicatrizações Conjuntivites Contusões Dermatites Doenças bucais Doenças de pele Doenças vasculares periféricas Dor de dente Dor ocular Erisipela Escabiose (sarna) Ferimentos Gengivite Glaucoma Gripe Halitose Herpes simples Infecções das vias aéreas superiores Inflamação ocular Inflamações da pele Inflamações orais Laringite Micoses Otite externa Picadas de insetos Piodermites Psoríase Queimaduras Rouquidão Sinusite Soluço Tosse Úlceras varicosas Varizes Verrugas Planta(s) Cirtopódio, erva Mastruço Cajueiro Celidônia, saião Alecrim, alfavaca, arnica, arruda, babosa, bardana, cebola, jaborandi, marapuama, pimentão, quina Agrião, angelicó, babosa, calêndula, camomila, carqueja, centella asiática, cirtopódio, confrei, copaíba, erva Cinerária, eufrásia Alecrim, arnica, boldo, calêndula, castanheiro Guaco, sabina Alfavaca, guaco, malva Agrião, alcachofra, alcaçuz, amor Centella asiática, ginseng Alho, hamamélis, jaborandi, tanchagem-maior Ária, eufrásia ciner Babosa, erva Bardana Saião, barbatimão, baicurú, gervão, grindélia, licopódio, licopódio, loureiro, mastruço, mil Arnica Jaborandi Algodoeiro, alho, assa-peixe, carqueja, erva-cidreira, guaiaco, limoeiro, manjero, marapuama, sabugueiro Alfavaca, erva-doce, funcho, malva Amor Acônito, actaea, alho, benjoin, cajueiro, cebola, eucalipto, framboeseira, gengibre, jamelão, malva, mil-folhas, poejo, saião, cirtopódio, tanchagem-maior, tanchagem-menor, tília, violeta Cinerária, endro, salsa Confrei Endro, carqueja, malva, margaridinha, mulungú, picão, ratânia, romãzeira, sálvia Sabugueiro Guaco Algodoeiro Aveia, calêndula, cebola, saião, sálvia Cebola Copaíba, mil Calêndula, sabugueiro, saião, urucuzeiro Gervão Buchinha-do-norte Endro Erva-doce, gervão, guaco, lobélia, pata-de-vaca, poejo, umbaúba, violeta. Cavalinha, sálvia Abútua , arnica, arruda, castanheiro Celidônia, sabina, saião, túia Fonte: http://www.institutoaqualung.com.br/info_plantas43.html René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 90 O território brasileiro pode ser dividido em seis biomas (zonas biogeográficas distintas), entre eles a maior planície inundável (o Pantanal) e a maior floresta tropical úmida do mundo (a Amazônia). Para o país, a questão da utilização das plantas e seus princípios ativos na produção de fitoterápicos e fitofármacos é especialmente importante, uma vez que o país detém a maior parcela da biodiversidade mundial, em torno de 15 a 20% do total, com destaque para as plantas superiores, nas quais detém aproximadamente 24% da biodiversidade. Entre os elementos que compõem a biodiversidade, as plantas são a matéria prima central para a fabricação de fitoterápicos e outros medicamentos, já que cerca de 48% dos medicamentos são provenientes direta ou indiretamente de produtos naturais, principalmente das plantas medicinais (Carvalho et al., 2007). Além de seu uso como substrato para a fabricação de medicamentos, as plantas são também utilizadas em práticas populares e tradicionais, como remédios caseiros e comunitários, processo conhecido como medicina tradicional. Considerando-se todo o potencial biológico que o país detém, a consolidação das instituições de ensino e pesquisa e ainda, a modernização e ampliação dos parques analíticos e a crescente qualificação de recursos humanos, é possível dizer que o Brasil apresenta todas as condições favoráveis ao desenvolvimento de fitoterápicos. 2.5.1 - Ambiente legal da P&D, autorizações, contratos e anuência prévia Como visto, o acesso à biodiversidade é regulado pela Medida Provisória n. 2.186-16, de 23 de agosto de 2001, que instituiu regras para o acesso, a remessa e a repartição de benefícios, além de estabelecer o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) como a autoridade nacional com função normativa e deliberativa sobre as autorizações de acesso e remessa. O CGEN, órgão de caráter deliberativo e normativo, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente, é integrado também por representantes de outros Ministérios (da Ciência e Tecnologia, da Saúde, da Justiça, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Defesa, da Cultura, das Relações Exteriores, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), de órgãos e entidades da Administração Pública Federal — IBAMA, Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Museu Paraense Emílio Goeldi, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Fundação Cultural Palmares, com direito a voto — e representantes da sociedade civil, com direito René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 91 a voz — Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), Associação Brasileira das Empresas de Biotecnologia (ABRABI), Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Comissão Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais e Quilombolas (CONAQ), Conselho Nacional de Seringueiros (CNS) e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (COIAB) e Ministério Público. O Conselho é presidido pelo Ministério do Meio Ambiente, representado pelo Secretário de Biodiversidade e Florestas, e reúne-se, ordinariamente, uma vez por mês, preferencialmente em Brasília. O Departamento de Patrimônio Genético – DPG, da Secretaria de Biodiversidade e Florestas – SBF, exerce a função de Secretaria-Executiva do CGEN, que, por sua vez, está organizado em cinco câmaras temáticas, de caráter técnico, que subsidiam as suas discussões. São elas: Procedimentos Administrativos, Conhecimento Tradicional Associado, Repartição de Benefícios, Patrimônio Genético Mantido em Condições ex situ, Acesso à Tecnologia e Transferência de Tecnologia (inativa). O CGEN é, portanto, o órgão essencial às questões de acesso ao patrimônio genético nacional, com funções normativas e deliberativas sobre o assunto. O acesso ao patrimônio genético é descrito pela regulamentação como a atividade realizada sobre o patrimônio genético com o objetivo de isolar, identificar ou utilizar informação de origem genética ou moléculas e substâncias provenientes do metabolismo dos seres vivos e de extratos obtidos destes organismos, para fins de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção, visando a sua aplicação industrial ou de outra natureza. O patrimônio genético pode ser acessado para pesquisa científica ou com potencial de uso comercial. Quando for acessado apenas para pesquisa científica, a autorização para acesso é de competência do IBAMA. Quando se tratar de pesquisa com potencial de uso comercial, a competência será do CGEN. Por sua vez, o acesso ao conhecimento tradicional associado está descrito como a obtenção de informação sobre conhecimento ou prática individual ou coletiva, associada ao patrimônio genético, de comunidade indígena ou de comunidade local. Neste ponto cabe fazer uma ressalva quando à questão do conhecimento tradicional. Segundo orientações do CGEN, para se caracterizar o conhecimento tradicional é necessária a identificação de uma comunidade organizada e esta identificação pode ser René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 92 feita por um estudo antropológico prévio, já realizado, para não atrasar e dificultar o andamento do processo de autorização. A competência para concessão de autorização de acesso ao conhecimento tradicional associado é apenas do CGEN. No que diz respeito ao acesso à biodiversidade, a Orientação Técnica n. 6 foi criada pela Câmara Temática do CGEN a fim de atender uma demanda antiga da sociedade civil e da comunidade acadêmica, uma vez que promoveu alterações no enquadramento dos projetos de acesso ao patrimônio genético em suas três fases: pesquisa científica, bioprospecção e desenvolvimento tecnológico. A partir dessa Orientação Técnica, os projetos que envolvam acesso ao patrimônio genético só serão enquadrados como bioprospecção quando se iniciarem as atividades que visam avaliar a viabilidade de produção industrial ou comercial de um produto ou processo. Se os testes, que até então eram realizados em escala de bancada, passam a ser realizados em escala industrial haverá a possibilidade de exploração comercial e, por conseguinte, um potencial de uso comercial. É importante ressaltar que, a partir da Orientação Técnica n. 6, a etapa da bioprospecção só será desvinculada da etapa de desenvolvimento tecnológico em raros casos, como, por exemplo, naqueles em que os testes para produção em escala industrial não forem confirmados ou quando inexistir parceiro para viabilizar a produção. Sendo identificado o “potencial de uso comercial”, os solicitantes deverão comunicar ao CGEN ou à instituição na qual se originou o processo de acesso e de remessa para fins de formalização do contrato com o provedor. Quem autorizará o acesso nestes casos será o CGEN e não o IBAMA. Como já informado, os dois órgãos que possuem competência para concessão de autorização de acesso ao patrimônio genético são o IBAMA e o CGEN. A diferença está no fato de que o IBAMA emite autorizações de acesso ao patrimônio genético apenas nos casos de pesquisa científica, enquanto nos demais casos, a competência é do CGEN. Todavia, se a pesquisa científica previr a presença de pessoa jurídica estrangeira em atividades de coleta ou acesso em território brasileiro, a solicitação deve ser encaminhada ao CNPq, que após deliberar sobre a presença do estrangeiro, remeterá o processo ao IBAMA, para emissão de autorização de acesso/remessa. Outra exceção ocorre no caso de ingresso em terra indígena, situação em que será preciso solicitar autorização específica à FUNAI, inclusive para que seja possível a René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 93 obtenção de anuência prévia da comunidade indígena (pré-requisito para a obtenção de autorização junto ao CGEN). O pedido de autorização de acesso/remessa só pode ser feito por pessoas jurídicas, instituição pública ou privada que se constituiu sob as leis brasileiras e que exerça atividade de pesquisa nas áreas biológicas e afins. Quando há envolvimento de pessoa jurídica estrangeira em pesquisas que prevêem acesso/remessa de componentes do patrimônio genético, estas devem estar sob coordenação de instituição nacional pública, a qual deverá solicitar autorização à autoridade competente (Orientação Técnica n. 3 do CGEN). Existem dois tipos de autorização: simples e especial. A simples de acesso é a autorização para pessoa jurídica desenvolver um único projeto de pesquisa, envolvendo acesso ao patrimônio genético e/ou conhecimento tradicional associado. E a especial de acesso, se refere à autorização para pessoa jurídica desenvolver um portfólio de projetos de pesquisa e atividades de rotina envolvendo acesso ao patrimônio genético e/ou conhecimento tradicional associado. Outrossim, de acordo com o objeto (patrimônio genético e/ou conhecimento tradicional associado) e com a finalidade do acesso (pesquisa científica, bioprospecção ou desenvolvimento tecnológico) variam os requisitos, a documentação a ser apresentada e o formulário de solicitação a ser enviado, bem como a instituição que avalia a solicitação e emite a autorização (CGEN ou IBAMA). Para todo acesso autorizado, uma sub-amostra do patrimônio genético acessado deverá ser depositada em instituição fiel depositária credenciada pelo CGEN, o que não impede que duplicata do material seja depositada, também, em outras coleções não credenciadas como fiéis depositárias. O papel da instituição fiel depositária é de conservar o material testemunho (subamostra), garantir identificação taxonômica correta e permitir o rastreamento do patrimônio genético acessado, embora não esteja obrigada a aceitar o depósito de qualquer sub-amostra. Os investimentos governamentais para estas instituições ainda são muito incipientes. O mapa a seguir indica as instituições credenciadas como fiéis depositárias e suas localizações no território brasileiro. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 94 Figura 6 - Mapa das instituições públicas credenciadas junto ao CGEN como fiéis depositárias Fonte: http://www.mma.gov.br/estruturas/222/_arquivos/mapa_isntituies_fiis_depositatias_222.pdf René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 95 As instituições que realizam coleta de material biológico para fins de pesquisa que não envolva acesso ao patrimônio genético não precisam de autorização de acesso e de remessa de amostra do componente do patrimônio genético, assim como não necessitam depositar sub-amostras. Quando o acesso tiver a finalidade de pesquisa científica, a comprovação dos requisitos qualificação técnica e estrutura disponível para o manuseio de amostra de componente do Patrimônio Genético poderá ser dispensada pelo Conselho de Gestão ou pela instituição credenciada na forma do art. 14 da Medida Provisória n. 2.186-16, de 2001 (incluído pelo Decreto n. 4.946, de 31.12.2003). O Contrato de Utilização do Patrimônio Genético e Repartição de Benefícios é o contrato a ser firmado entre as partes envolvidas em atividades que envolvam acesso e remessa a componente do patrimônio genético ou acesso aos conhecimentos tradicionais providos por comunidades indígenas ou locais, devendo nele constar todos os requisitos básicos de um contrato comum, mais as disposições sobre repartição de benefícios oriundo da exploração do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado. No que se refere à repartição de benefício, esta será possível desde que seja de forma justa e eqüitativa, entre as partes contratantes, conforme dispõem o regulamento e a legislação pertinente. Então é perfeitamente possível a repartição de benefícios entre Instituição Pública, Empresas Privadas (indústria) e Comunidades, no caso de haver conhecimento tradicional associado. De acordo com o art. 25 da Medida Provisória n. 2.186-16/2001, “os benefícios decorrentes da exploração econômica de produto ou processo, desenvolvido a partir de amostra do patrimônio genético ou de conhecimento tradicional associado, poderão constituir-se, dentre outros, de: I - divisão de lucros; II - pagamento de royalties; III - acesso e transferência de tecnologias; IV - licenciamento, livre de ônus, de produtos e processos; e V capacitação de recursos humanos.”. A anuência prévia é um termo, por escrito, concedido pelo proprietário da área onde será colhido o material para o acesso ao patrimônio genético. A Resolução n. 8 do CGEN caracterizou como de relevante interesse público o acesso a componente do patrimônio genético existente em área privada para a pesquisa científica que reunir simultaneamente as condições de “contribuir para o avanço sobre a biodiversidade do país” e “não apresentar potencial de uso econômico previamente identificado”. Apenas nestes casos, fica a instituição requerente dispensada de apresentar anuência prévia de que trata o Artigo 16º, § 9º, da Medida Provisória nº 2.186-16/2001, como pré-requisito à apreciação de solicitações. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 96 2.5.2. Estado da arte da P&D dos estudos em plantas medicinais Esta seção contém as informações dos dados coletados sobre a produção científica brasileira, entre 2004 e 2009, envolvendo plantas biologicamente ativas, originárias dos seis biomas brasileiros. Este mapeamento propicia um maior conhecimento das espécies botânicas farmacologicamente ativas e/ou de seus princípios ativos oriundos da biodiversidade brasileira e, conseqüentemente uma indicação do potencial do desenvolvimento científico e tecnológico nacional para produção e crescimento do mercado de fitofármacos e fitoterápicos. Como critério de padronização ficou estabelecido que as publicações têm que se referir, obrigatoriamente, a plantas coletadas em pelo menos um dos seis biomas e, no mínimo, a um pesquisador vinculado a uma instituição brasileira. As fontes utilizadas foram os periódicos relacionados na página da internet da Divisão de Produtos Naturais da Sociedade Brasileira de Química17 (SBQ), cuja grande maioria possui fator de impacto no Journal Citation Report (JCR) e abreviatura no Institute for Scientific Information (ISI). Os periódicos foram analisados por volume, no período de 2004 a 2009, tendo sido incorporados os abstracts de interesse ao Banco de Dados. A escolha dos periódicos se baseou nos seguintes critérios: foram levantados os principais periódicos relacionados pela Divisão de Produtos Naturais da Sociedade Brasileira de Química, relacionados à química de produtos naturais e demais áreas correlatas (química, biologia, farmacologia, botânica e agricultura), ou seja, aqueles onde artigos relacionados a produtos naturais também são publicados. Além disso, foram levados em conta os fatores de impacto publicados no JCR, 2008. Essa escolha se justifica pelo fato de que a SBQ congrega a grande massa de cientistas do país envolvidos em pesquisas em química e de que sua divisão de Produtos Naturais foca basicamente estudo de plantas envolvendo, entre outras, atividades biológicas. Com base nestes critérios foi obtido um número de periódicos expressivo, cuja qualidade, avaliada por seus fatores de impacto, é incontestável. A abrangência em termos de áreas afins também é significativa, ou seja, dificilmente uma publicação de qualidade deixaria de ser considerada obedecendo a estes critérios. 17 Para mais esclarecimentos, consultar http://www.sbq.org.br/divisoes.php René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 97 Face ao considerável volume de informações coletadas, modelou-se um Banco de Dados dedicado ao levantamento em tela. Foram compilados também, os dados relativos à produção científica ligada ao tema, nos mais relevantes eventos científicos nacionais. Por se tratarem, em sua grande maioria, de trabalhos com menor peso científico dado estarem ainda em versões iniciais, estes dados foram examinados apenas de forma quantitativa. A análise realizada procurou identificar a produção científica brasileira sobre plantas com atividade biológica, o bioma mais estudado, as instituições mais produtivas, as espécies botânicas mais estudadas, as famílias botânicas com maior número de citações e as principais atividades biológicas demandadas pela comunidade científica brasileira. Após a coleta de dados, os mesmos foram analisados a partir dos relatórios gerados pelo sistema do Banco de Dados, compilados e consolidados estatisticamente. As inconsistências, tais como duplicidades e erros ortográficos, foram cuidadosamente revistas e eliminadas. Os dados foram tabelados, ordenados de forma crescente ou decrescente, dependendo do caso, permitindo uma visão dos parâmetros mais demandados pelos pesquisadores. Por fim, são apresentados gráficos acerca da maior freqüência relativa dos seguintes parâmetros: família botânica; espécie botânica; atividade farmacológica; instituição; bioma; pesquisador e/ou grupo de pesquisa; ano de publicação. 2.5.2.1. Resultados Os dados compilados indicam o volume de estudos científicos, entre 2004 e 2009, relacionados a plantas que apresentam atividades biológicas, oriundas dos diversos biomas brasileiros. Estes estudos foram realizados por pesquisadores brasileiros com ou sem colaboração internacional. São relatados também, informações a respeito de quais instituições produziram o maior volume de conhecimento a respeito da flora brasileira e ainda, mapeamento das principais atividades biológicas detectadas nas plantas. A unidade de análise utilizada foi o número de citações de plantas por estudo. Foram catalogados 661 estudos de interesse e em cada estudo pode haver mais de uma citação de planta. A totalidade das espécies citadas nos trabalhos científicos é composto por 594 espécies, e o número de citações dessas espécies totalizou 1.175 citações. O Gráfico 5 expressa as espécies com mais de 7 citações na literatura pesquisada. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 98 Sobre as espécies mais citadas, podemos observar que a primeira delas, a Casearia sylvestris, está na Renisus e existem produtos registrados na Anvisa que a utilizam como matéria prima. Outras espécies mais citadas também estão na Renisus: Mikania glomerata, Baccharis trimera, Achillea millefolium e Anacardium occidentalis. Sendo que destas quatro, as duas primeiras possuem produtos registrados na ANVISA, enquanto as duas últimas ainda não. Outras considerações sobre os estudos das espécies botânicas e o potencial de mercado para seus produtos serão feitas na seção 2.6. Gráfico 5 – Espécies botânicas com mais de 7 citações na literatura, 2004-2009 Fonte: Elaboração própria Com relação às famílias botânicas, foram registradas 116 famílias nos 661 trabalhos pesquisados. O Gráfico 6 apresenta as famílias com mais de 19 citações. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 99 Gráfico 6 – Famílias botânicas com mais de 19 citações na literatura, 2004-2009 Fonte: Elaboração própria Entre os seis biomas citados pelo IBGE, nos 661 trabalhos levantados, apareceram 1.075 citações, predominando os trabalhos relativos à Mata Atlântica e ao Cerrado. A Tabela 22 mostra essa distribuição. Tabela 22 – Número de citações por bioma Bioma Citações Mata Atlântica 344 Cerrado 301 Caatinga 210 Amazônia 144 Pampa 71 Pantanal 5 TOTAL 1.075 Fonte: Elaboração própria As atividades biológicas mais citadas na literatura, entre 2004 e 2009, são: antioxidante, anti-inflamatória, analgésica, antimicrobiana, antibacteriana, antifúngica, antiulcerogênica, citotóxica, antileishmanial, gastroprotetora, larvicida, anti- hipertensiva, antichagásica e hipoglicemiante. Essas atividades estão destacadas estão no Gráfico 7. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 100 Gráfico 7 – Atividades biológicas com mais de 13 citações, 2004-2009 Fonte: Elaboração própria Entre as instituições de ensino e pesquisa responsáveis pela produção científica na área de plantas com atividades biológicas, as mais destacadas estão relacionadas no Gráfico 8. Se observa a importância de instituições localizadas na região sudeste (USP, UNESP, UFRJ, UNICAMP, UFMG, UFSCar, IBT e Fiocruz-RJ), o que pode ser relacionado ao volume de recursos financeiros e humanos que dispõem essas instituições e o que parece afetar a distribuição dos estudos entre os biomas, uma vez que a mata atlântica e o cerrado são predominantes na região. Gráfico 8 – Produção científica das instituições com mais de 15 publicações, 20042009 Fonte: Elaboração própria Foi realizada também uma relação entre autores, vinculados às instituições brasileiras, e publicações. Pode-se observar, através da Tabela 23, que apenas 1,1% dos autores são responsáveis por 11,17% do número total de trabalhos (que, nesse caso, René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 101 chega a 3.279, uma vez que os trabalhos podem ser contados mais de uma vez, sendo uma vez para cada autor). Cerca de 83,5% dos autores publicaram apenas 1 ou 2 trabalhos, o que parece indicar que a pesquisa na área ainda se encontra em nível inicial, com pouco comprometimento dos pesquisadores no desenvolvimento de estudos que levem a um nível mais aprofundado de conhecimento sobre as espécies e a eventuais novos produtos ou indicações terapêuticas. Tabela 23 - Número de trabalhos por autor Número de trabalhos por autor Autores % Trabalhos 10 trabalhos ou mais 26 1,1 366 5 trabalhos ou mais 124 5,24 793 3 trabalhos ou mais 241 10,2 791 1 ou 2 trabalhos 1974 83,5 1329 2365 100 3279* Total % 11,17 24,18 24,12 40,53 100 Fonte: Elaboração própria *o número de trabalhos é maior do que o total de trabalhos encontrados (661), uma vez que pode haver mais de um autor em cada um dos trabalhos. 2.5.2.2. Considerações finais A compilação dos dados, relativos às publicações no período de 2004 a 2009, coletados na literatura em periódicos indexados, nos permite fazer as seguintes análises. O Brasil possui expressiva densidade científica na área de estudos de plantas que apresentam atividade biológica, associando química, farmácia, botânica, entre outras áreas de conhecimento, expresso pelo grande volume de publicações. Apenas no levantamento realizado neste trabalho foram identificadas 661 publicações. As instituições de ensino e pesquisa, notadamente as públicas dominam a grande maioria das publicações, ou seja, 61,11% das instituições citadas nos estudos são públicas e respondem por 89,22% das publicações, refletindo a qualidade dos quadros de docente/pesquisadores, técnicos e a tradição em pesquisa destas instituições. O número de pesquisadores de alta qualificação, envolvidos em trabalhos na área de fitoterápicos é muito expressivo, o que é confirmado pelos 2.365 autores relacionados às 661 publicações cadastradas. As pesquisas revelam grande diversidade de plantas, expressa por 116 famílias botânicas, distribuídas em inúmeros gêneros e 594 espécies. As atividades biológicas relatadas nos estudos abrangem 120 diferentes alvos biológicos, evidenciando a diversidade das pesquisas e a potencialidade da biodiversidade vegetal brasileira. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 102 Seis biomas brasileiros foram e estão sendo estudados, notadamente a Mata Atlântica (344 plantas das 1.075 estudadas) e o Cerrado (301 plantas), refletindo a maior densidade de cientistas e instituições qualificadas no Sudeste, Sul, Centro-Oeste e parte do Nordeste do país. Figura 7 - Mapa dos biomas brasileiros Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/images/169_230_463146.gif Há baixa densidade de patentes citadas nas publicações, apenas duas foram relatadas num universo de 661 publicações, refletindo a política de incentivo a publicação implementada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), como forma de avaliação docente, no bojo das Instituições Federais de Ensino Superior do país. Este resultado confirma e amplia aqueles obtidos sobre patentes depositadas no Brasil. Confirma porque também no levantamento de patentes observou-se uma baixa densidade entre as 124 espécies e amplia porque agora se está considerando 594 espécies. Verificou-se também que o tema plantas medicinais é de amplo interesse científico em face da grande quantidade de trabalhos divulgados em eventos científicos, ainda que não se tenha feito uma análise detalhada desses trabalhos. Esse interesse foi identificado por meio da verificação do número de trabalhos que citam espécies vegetais nos seguintes eventos científicos: 27a a 32 a Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira de Química (correspondentes aos anos de 2004 a 2009), da 1st Brazilian Conference on Natural Product e do XX Simpósio de plantas medicinais do Brasil, do ano de 2008. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 103 Nos trabalhos relacionados nos anais desses eventos, respectivamente por edição, foram contabilizadas, 40, 61, 78, 65, 67, 62, 108 e 598 citações a diferentes espécies vegetais. O país apresenta quadros de pesquisadores e técnicos extremamente competentes para o desenvolvimento de estudos e produtos, desde a coleta e identificação do material botânico, até o isolamento, identificação estrutural e avaliação da atividade biológica dos princípios ativos contidos nas amostras vegetais. As instituições de ensino e pesquisa estão, em sua maioria, muito bem equipadas, contando com tecnologia de ponta para o desenvolvimento dos trabalhos experimentais e vêm sistematicamente recebendo aportes financeiros principalmente das agências governamentais. A produção científica é expressiva e revela grande capacidade de publicação em periódicos de alto nível, com elevado grau de exigência científica, o que reforça a qualidade das pesquisas e o gigantesco potencial da biodiversidade brasileira no que tange a fitoterápicos. O volume de trabalhos envolvendo o tema, apresentados em eventos científicos e com a participação de estudantes, é muito grande, mostrando que a academia vem investindo pesadamente na formação de novos pesquisadores (mestres e doutores) e que, o tema desperta grande interesse entre os estudantes. Os números relativos à produção científica sobre fitoterápicos por unidade da federação revelam a manutenção das desigualdades regionais, onde biomas importantes como o Pantanal e a Amazônia não recebem a devida atenção do setor público. Com relação aos aspectos legais, mais especificamente ao acesso ao patrimônio genético para fins de pesquisa e para fins econômicos, tanto a academia como o setor produtivo demonstram desconhecimento da legislação que rege tal assunto. Atualmente, mesmo com a permanência da Medida Provisória n. 2.186-16, de 23 de agosto de 2001, o CGEN vem gerando notas técnicas visando facilitar a concessão de autorizações de montagem de coleções ex situ e de acesso especial ao patrimônio genético nacional e sempre está disponível para orientar os processos, os quais vem se tornando cada vez mais céleres. Diante do exposto, considera-se extremamente recomendável realizar investimentos consistentes para que redes de pesquisa e desenvolvimento em fitoterápicos se formem, envolvendo os demais atores da cadeia produtiva. Entretanto, a produção de fitoterápicos devido a sua extrema complexidade, pode se constituir em um grande desafio. A sua realização demanda projetos de longo prazo e alto investimento, requer estudos de certificação e padronização dos extratos e princípios ativos e interface de diversas áreas de conhecimento. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 104 Como ficou evidente, a potencialidade da biodiversidade brasileira é muito grande, existe capacidade científica e condições técnicas para o desenvolvimento de produtos seguros e de qualidade e tem-se uma indústria farmacêutica jovem com muito potencial de crescimento. Portanto, o que falta é a criação de instrumentos que possam gerar oportunidades de interações entre os diversos atores da cadeia produtiva e disponibilidade de recursos para pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos, conforme seção desenvolvida a seguir. 2.6. Estado da arte da P&D em fitofármacos e fitoterápicos A análise do estado da arte da P&D em fitofármacos e fitoterápicos foi feita através do cruzamento das espécies mais importantes para o mercado atual e potencial (aquelas que aparecem nas Renisus, na Instrução Normativa 05/08, e as que aparecem na lista de espécies vegetais com registros de fitoterápicos simples presentes em Carvalho et al., 2008), chegando a um total de 124 espécies, com o levantamento da literatura científica que alcançou um total de 594 espécies. A partir desse cruzamento, verificou-se que 57 espécies estavam na interseção entre o interesse da academia e do mercado. Portanto, percebe-se que apenas 21% das espécies estudadas, que representam 9,5% dos estudos, têm interesse para o mercado. A partir desse cruzamento, foi identificado o grau de contribuição de cada artigo para o conhecimento das espécies. Uma primeira observação é que provavelmente o critério de escolha dos estudos não esteja considerando o mercado atual e potencial como um dos elementos para determinação de sua relevância, ou seja, está orientado apenas pela relevância científica do tema. A partir desse cruzamento, foi identificado o grau de contribuição de cada artigo para o conhecimento das espécies em termos de seu benefício para o desenvolvimento de novos produtos ou adequação às exigências regulatórias atuais. Os estudos foram divididos em três classes, de acordo com o estágio em que se encontra a P&D, mais perto ou mais longe de se atingir resultados concretos no que tange ao desenvolvimento de produtos. As classes foram criadas considerando-se o conjunto dos resultados observados na classificação inicial. Verificou-se que a maior parte dos estudos se encontra, de modo geral, ainda em fases anteriores ao início do desenvolvimento do produto: (1) trabalhos mais acadêmicos, cuja pesquisa ainda se encontra no início, no nível de suposições e identificações; René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 105 (2) trabalhos no nível intermediário, que incluem pesquisas in vitro, em animais, etc.; (3) trabalhos com pesquisas mais avançadas e, portanto, mais próximos do mercado. O resultado da classificação mostrou que a maior parte dos estudos referentes às 57 espécies em que se identificou um interesse potencial da academia e do mercado se encontra na classe 2, quer dizer, num nível intermediário entre os estudos mais acadêmicos e os mais próximos do mercado. Dos 135 artigos classificados, 72 artigos estavam nessa classe, ou seja, cerca de 53,3 % dos trabalhos. Os outros 46,7% estão divididos em aproximadamente 22,2% para os estudos classificados como mais acadêmicos e os outros 24,5% como mais próximos ao mercado. A análise foi feita a partir dessa classificação, considerando-se os estudos relativos a cada espécie como no nível mais alto em que foi encontrado pelo menos um artigo classificado (conforme Tabela 24). Foi observado que, entre as 57 espécies de interesse, 8 espécies possuem apenas artigos na classe 1, 25 espécies possuem artigos na classe 2 (ou 1 e 2), e 24 espécies na classe 3 (ou 1 e 3; ou 2 e 3; ou 1, 2 e 3). Além disso, considerando a importância da Renisus como indicadora de um mercado potencial para os novos produtos a serem desenvolvidos a partir desses estudos, foram feitas comparações entre os resultados da classificação dos mesmos e a presença das espécies na lista em questão. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 106 Tabela 24. Classificação dos estudos por grau de contribuição para o desenvolvimento de produtos fitoterápicos 6 espécies constam da Renisus* Acadêmico (10 artigos classe 1; 8 espécies) 4 espécies com registros (2 da Renisus) 4 espécies sem registros (todas da Renisus) 19 espécies que constam da Renisus* Intermediário (38 artigos classe 2; 8 classe 1; 25 espécies) 14 espécies com registros (9 da Renisus) 11 espécies sem registros (10 da Renisus) 20 espécies que constam da Renisus* Próximo do mercado (33 artigos classe 3, 35 classe 2 e 11 classe 1; 24 espécies) 11 espécies com registros (7 da Renisus) 13 espécies sem registros (todas da Renisus) Fonte: Elaboração própria * a espécie está presente na Renisus, mas pode fazer parte também das listas da IN 05/08 e/ou Carvalho et al., 2008 Entre as 8 espécies que possuem artigos classificados apenas como no nível acadêmico, podemos verificar que 6 delas constam da Renisus e somente 4 já são utilizadas em medicamentos fitoterápicos registrados na Anvisa. Sobre essas espécies se pode dizer que há uma demanda potencial para a metade delas, uma vez que estão na Renisus, mas não existem ainda produtos registrados que as utilizem. No nível intermediário, se encontram os estudos sobre 25 espécies e a maior parte dos trabalhos classificados. Dentre essas espécies, observamos que 19 fazem parte da Renisus, sendo que apenas 9 delas já contam com produtos registrados na Anvisa. Porém, quando consideramos o total de espécies que têm estudos na classe 2 como nível mais alto da classificação, notamos que são 14 espécies utilizadas como base para a fabricação de fitoterápicos registrados na Anvisa. Portanto, das 11 espécies desse grupo que não servem como base para produtos registrados, 10 fazem parte da Renisus. Logo, verificamos que há também um mercado potencial para essas 10 espécies, uma vez que há indicação clara de interesse do SUS no desenvolvimento de produtos a partir das mesmas. Seria necessário, portanto, que os estudos sobre elas fossem intensificados e aprofundados, de forma a atingir esse mercado potencial. Sobre as espécies que já possuem produtos registrados na Anvisa, estudos mais avançados poderiam indicar novas atividades terapêuticas ou atender exigências regulatórias, caso necessário. Com relação às 24 espécies sobre as quais existem estudos classificados como mais próximos do mercado (quando consideramos a existência de pelo menos um René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 107 estudo nessa classe), se observa que 20 espécies constam da Renisus, sendo que apenas 7 delas estão relacionadas a produtos registrados como fitoterápicos na Anvisa. Todas as espécies que pertencem a esse grupo e não estão na relação de registros da Anvisa fazem parte da Renisus. Sendo assim, podemos supor que, ainda que haja interesse do mercado e da academia, falta a participação da indústria na etapa que lhes cabe no desenvolvimento desses produtos, uma vez que a academia já avançou de forma mais significativa no estudo dessas espécies. Diante da classificação dos estudos das espécies selecionadas se conclui que, mesmo para aquelas em que há um claro potencial de mercado, ainda faltam trabalhos que possam se traduzir concretamente no desenvolvimento de novos produtos. Com relação aos estudos mais avançados, acredita-se que a barreira esteja justamente na parte do investimento e desenvolvimento que caberia às empresas interessadas ou às parcerias entre instituições de pesquisa e essas empresas. III - Desafios e oportunidades para o desenvolvimento e o incremento da competitividade do setor de fitoterápicos no Brasil O mercado mundial de plantas medicinais e fitoterápicos está se expandindo muito e provocando grandes transformações na estrutura e evolução desse setor. O resultado tem sido uma convergência dos padrões de funcionamento e competitividade com a indústria farmacêutica da qual ela é um segmento, conforme explicado na primeira seção. A crescente demanda por produtos fitoterápicos, o dinamismo do mercado, seja por seu crescimento, seja pelas oportunidades tecnológicas que se apresentam ou ainda pelas políticas públicas voltadas para o seu desenvolvimento são fatos que colocam os investimentos nessa área como oportunidades imperdíveis. Alguns autores salientam inclusive que seria através desse segmento que poderíamos superar as desvantagens já tão decantadas do setor farmacêutico em termos de dependência tecnológica, através do aproveitamento de nossa biodiversidade. Não só existe espaço para o crescimento da participação relativa desses produtos no mercado, como as estruturas moleculares das plantas medicinais servem como excelentes modelos de pesquisa para desenvolvimento de novos medicamentos fitoterápicos e sintéticos. No Brasil, como desenvolvido na seção dois, a indústria de fitoterápicos é bastante antiga, mas a construção institucional desse mercado, incluindo as políticas públicas específicas para o seu desenvolvimento a nível nacional e integradas a outras René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 108 políticas de saúde e de desenvolvimento econômico são datadas da década de 2000. Isto explica, em parte, a intensa movimentação de várias empresas do mercado, ou porque não tem conseguido acompanhar as novas exigências de padrões de registro e qualidade da produção ou porque tem buscado consolidar melhores posições no mercado. Mas, explica também a expansão de empresas já estabelecidas no setor farmacêutico ou de cosméticos para o segmento. Estas são capazes de lançar novos produtos mia rapidamente devido a seu melhor desempenho para atendimento dos requisitos regulatórios. A entrada de novas empresas no setor de fitoterápicos, que têm aproveitado as novas oportunidades de desenvolvimento de produtos em parceria com universidades e sua maior capacidade financeira decorrente da atuação em genéricos a partir de 1999, tem sido também uma estratégia relevante. Finalmente a movimentação de fusões e aquisições, desde 1994, de empresas locais que têm sido adquiridas por empresas de fora do mercado brasileiro parece ter sido outra estratégia relevante de entrada no setor de fitoterápicos. Este dinamismo do mercado não tem sido acompanhado pelo desenvolvimento correspondente dos fornecedores locais, já que grande parte da demanda nacional de insumos para medicamentos fitoterápicos é preenchida através da sua importação. Mesmo as empresas locais fornecedoras de insumos atendem essa demanda, em parte, através de parcerias com fornecedoras estrangeiras. A organização do elo agrícola local, primeira etapa da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos, tem sido praticada por algumas das empresas atuando nesse mercado, mas ainda há uma grande lacuna neste elo da cadeia produtiva não atendida pelo setor público. A investigação sobre artigos acadêmicos e patentes deixou clara também a distância entre, de um lado, a produção científica das universidades e, de outro, a incorporação desse conhecimento em invenções e patentes. De fato, o grau de contribuição dos artigos científicos para o desenvolvimento de novos produtos ainda é baixo, somente uma pequena parte atende a demanda potencial e atual do mercado brasileiro em termos de conhecimento e encontra-se em uma etapa da P&D anterior ao desenvolvimento experimental de produtos e processos. Simetricamente, o número de patentes depositadas, no Brasil, ainda é muito pequeno. Frente a essas tendências quais seriam os rumos desejáveis para o setor no Brasil? Que outras ações de política nacional, além das já em curso, poderiam ser adotadas? Nas subseções seguintes será feita uma apresentação das políticas desde a segunda metade da década de 2000, seguida de um diagnóstico síntese dos desafios e René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 109 oportunidades da cadeia produtiva das plantas medicinais e fitoterápicos, finalizando com a proposição de uma agenda de ações. 3.1. Quadro de políticas na segunda metade da década de 2000 A análise dos principais pontos do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, instituído pelo Decreto 5.813/2006, demonstra que o mesmo contempla ações que vão, na sua maioria, ao encontro do indicado nas análises realizadas nas seções precedentes sobre os principais desafios do setor no Brasil (seção 2) que refletem o padrão de mudanças do setor no mundo (seção 1). Entretanto, é preciso deixar claro que muitas das ações propostas pelo Programa são de caráter geral sem um maior detalhamento de sua implementação e dos instrumentos escolhidos para a sua realização, conforme relato a seguir. O Programa está dividido em 11 capítulos (ver Quadro 3), são eles: Regulamentação; Recursos Humanos; Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação; Informação/Comunicação; Sistema Único de Saúde; Conhecimento Tradicional e Popular; Manejo e Produção/Cultivo de Plantas Medicinais; Produção de Fitoterápicos; Comercialização; Recursos/Financiamento; Outras Ações Relacionadas à Cadeia Produtiva. Os capítulos apresentam diretrizes, sub-diretrizes e ações. No conjunto das sub-diretrizes, está mencionado um total de 12 instituições entre gestores e Ministérios envolvidos na implementação do Programa. As instituições mencionadas são: o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Ministério da Cultura, o Ministério da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério da Integração, a Casa Civil, a Fundação Oswaldo Cruz e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Uma primeira observação a ser feita é sobre a dificuldade de coordenação dessas diversas instâncias e níveis hierárquicos envolvidos na execução das metas do Programa. As ações propostas exigem para sua execução o concurso de diferentes ministérios, agências e instituições podendo gerar sérios conflitos de interesse. Cada um dos participantes pode considerar que é de sua competência estabelecer definições e regras para o setor. A ausência de comunicação entre os diferentes atores contribui fortemente para falta de definição de critérios não ambíguos. A relevância de um órgão coordenador dessas várias instâncias para dirimir os conflitos e as superposições será René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 110 imprescindível para a implementação das metas do Programa. Ainda que esteja previsto um Conselho para monitorar essas metas desde 2006, ele só foi implantado em setembro de 2009. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 111 Quadro 3 – Resumo do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos Capítulos (11) Regulamentação Síntese das diretrizes Regulamentação do cultivo, manejo, produção, distribuição e uso de plantas MMA, MAPA, MDA, medicinais e fitoterápicos, segundo os eixos agro-fito-industrial e das MinC, MS, tradições, incluindo as Boas Práticas Agrícolas e Boas Práticas de FIOCRUZ, ANVISA Manipulação/Fabricação de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Capacitação técnico-científica dos profissionais, incluindo mudanças nas diretrizes e conteúdos curriculares do Ensino Médio e Superior e apoio a Recursos Humanos grupos de pesquisa (através de recursos financeiros, convênios e da estruturação de centros de pesquisa). Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Informação/ Comunicação Sistema Único de Saúde Conhecimento Tradicional e Popular Manejo e Produção/Cultivo de Plantas Medicinais Produção de Fitoterápicos Comercialização Instituições envolvidas (12) Fomento à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e à inovação, além da promoção da interação setor acadêmico e produtivo. Incentivo a projetos cooperativos para alavancar as pesquisas sobre as espécies nativas e o desenvolvimento no setor privado (incluindo nessa parceria o desenvolvimento de equipamentos e tecnologias para o controle de qualidade, a potencialização do sistema de produção e o desenvolvimento de mecanismos de monitoramento e avaliação de incorporação de tecnologia). MAPA, MDS, MinC, MMA, MS, MCT, MDA, ANVISA, FIOCRUZ MDA, MMA, MAPA, MDIC, MCT, MS, FIOCRUZ, ANVISA, Casa Civil, MDS, MI, MinC Incentivar o compartilhamento do conhecimento, para que haja a expansão da MDA, MI, MinC, base de pesquisa, o fortalecimento da tecnologia e a utilização correta, segura MMA, ANVISA, e responsável das plantas medicinais e dos fitoterápicos. FIOCRUZ, Casa Civil, MCT, MAPA, MDIC, MDS, Garantia de acesso a plantas medicinais e fitoterápicos, com segurança, MS, MDA, ANVISA, eficácia e qualidade, nos diferentes níveis de complexidade do Sistema. MDIC, FIOCRUZ Promover o resgate, o reconhecimento e a valorização das práticas tradicionais e populares de uso de plantas medicinais e remédios caseiros e implementar medidas de esclarecimento quanto aos mecanismos governamentais de proteção à propriedade do conhecimento tradicional associado e à propriedade intelectual. MDA, ANVISA, FIOCRUZ, MAPA, MinC, MS, MCT, MMA Utilização da agricultura familiar, observando-se os diferentes sistemas de MAPA, MI, MMA, produção, técnicas e experiências desenvolvidas pelas diferentes regiões e MDA, MinC, MS, comunidades. MCT, ANVISA, FIOCRUZ Estimular a produção de fitoterápicos em escala industrial (por meio do apoio à pesquisa, desenvolvimento e inovação, às parcerias entre entidades e órgãos do setor, e desenvolvimento de uma política com incentivos financeiros), incluindo a dos laboratórios públicos. MDIC, MS, MDA, MinC, ANVISA, FIOCRUZ, MAPA, MCT, MI, MMA Para favorecer as exportações, devem ser estabelecidos mecanismos de MDIC, MDA, MS, identificação de demandas comerciais, desenvolvimento de projetos e acordos ANVISA, FIOCRUZ, de cooperação técnica, especialmente com o MERCOSUL. MAPA, MCT, MI, MMA Recursos/ Financiamento Criação de linhas de financiamento e de mecanismos de incentivos fiscais e desoneração tributária para insumos e produtos fabricados a partir de plantas medicinais, com a definição de critérios para alocação e distribuição dos recursos orçamentários e financeiros e para investimento em projetos pilotos, a identificação da capacidade instalada nas diferentes regiões brasileiras e a utilização do poder de compra do Estado e de produtos prioritários ao Ministério da Saúde. Casa Civil, MS, MAPA, MI, MCT, MDA, MDS, MDIC, MinC, MMA, ANVISA, FIOCRUZ Outras Ações Relacionadas à Cadeia Produtiva Integração de toda a cadeia produtiva, abrangendo a regulamentação, a capacitação de recursos humanos, a adoção de boas práticas de cultivo e manipulação/fabricação, o fomento à pesquisa, a interação entre o setor público e privado e, a incorporação de novas tecnologias para o processo produtivo. MS, MAPA, MCT, MDA, MI, MMA, FIOCRUZ, Casa Civil, MDIC, MDS, MinC, ANVISA, Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos No Capítulo I, que se refere à regulamentação, podemos observar que o que se pretende é estabelecer níveis diferenciados que contemplem tanto a manipulação e a produção de medicamentos fitoterápicos baseados em controle de qualidade, segurança René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 112 e eficácia, quanto o manejo e o cultivo de plantas medicinais, cujo uso está baseado em conhecimentos tradicionais. Seriam, portanto, envolvidos diferentes níveis da cadeia produtiva: o do cultivo, o da produção de insumos, o da manipulação e o da industrialização. Além disso, e relacionado com a necessidade de regulamentação dos diferentes níveis da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos, é importante que se estabeleça uma regulamentação que seja capaz de combinar a utilização de produtos industrializados com a utilização tradicional de plantas medicinais in natura ou pouco processadas. Como prevista, uma regulamentação que estabeleça “Boas Práticas de Cultivo” e “Boas Práticas de Produção” permite que haja a manutenção de atividades econômicas de diferentes graus de complexidade sem prejuízo de atingir padrões de qualidade e segurança em todas elas, dentro dos limites estabelecidos. Em outras palavras permitir que tanto os produtos in natura, principalmente comercializados pelas menores empresas, quanto os fitoterápicos possam conviver e coexistir no mercado. Neste sentido, é importante enfatizar que as consultas públicas que estão sendo realizadas pela ANVISA este ano e que foram descritas na seção 2.1.2 tem perseguido o espírito de permitir o funcionamento dos dois segmentos de mercado. No Capítulo II, dedicado aos Recursos Humanos, estão previstas ações para a qualificação dos produtores/fornecedores primários. A partir das seções precedentes, constatou-se também essa demanda, mas registrou-se ainda a demanda para recursos humanos treinados na realização de pesquisas. São exemplos as sub-diretrizes: “2.1. Fortalecer e integrar as redes de assistência técnica e de capacitação administrativa de apoio à cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos”; e “2.2. Promover a integração com o sistema de ensino técnico, pós médio, na área de plantas medicinais e fitoterápicos, articulação com o Sistema S, com universidades e incubadoras de empresas, fortalecimento da ATER - Assistência Técnica e Extensão Rural por meio de ações do governo e da iniciativa privada” (MS, 2008). As ações se dividem em apoio à formação de técnicos e tecnólogos, à capacitação para a pesquisa e dos profissionais de saúde. Embora esteja prevista a articulação com a extensão rural, nesse sentido, as ações parecem insuficientes, diante da carência de projetos voltados para esse objetivo, observada na literatura, sobre o cultivo de plantas medicinais no país. Sobre a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a inovação, objetos do Capítulo III, encontram-se referências a ações para incentivar pesquisas etnofarmacológicas (na sub-diretriz 5.1) e à criação de centros de pesquisa especializados para a realização de exames de toxicidade (sub-diretriz 3.2), o que pode René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 113 resultar numa diminuição dos custos relativos da pesquisa, do desenvolvimento tecnológico e da inovação e na maior disponibilidade de pessoal qualificado, além de incentivar a necessária interação universidade-empresa. Essas seriam ações que viabilizariam algumas condições necessárias para o fortalecimento da cadeia produtiva nacional, já que possibilitariam um maior conhecimento do potencial do país na produção e cultivo de plantas nativas, mas também permitiriam que a indústria nacional (fragilizada diante da competição internacional e com dificuldades no cumprimento das exigências regulatórias) pudesse atingir níveis de qualidade, segurança e eficácia com custos reduzidos. Nos diversos pontos abordados nesse Capítulo III - que é extenso, prevê integrações de diversos tipos e inclui desde o fomento a projetos e grupos de pesquisa até a transferência e validação de tecnologias para a produção – pode-se perceber que o Programa procura promover a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação de forma ampla, incluindo institutos de pesquisa, de pós-graduação, de extensão rural, o setor produtivo e o sistema de saúde. Cabe salientar a previsão de ação que favoreça o depósito de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. O ponto previsto ainda no Capítulo III de estimular a inovação a partir do uso de plantas medicinais parece ser o mais importante de todas as metas do Programa. Leva em consideração uma fragilidade detectada entre os elos das empresas e da universidade. Como visto na seção dois deste trabalho há um avanço dos investimentos em P&D voltados para o cumprimento dos requisitos de regulação, entretanto, os resultados obtidos na introdução de inovações ainda são frágeis e restritos a poucas empresas quando esse resultado é inferido por número de patentes depositadas ou por artigos científicos, ambos, respectivamente, depositadas e realizados, no Brasil. Esses últimos, como visto, limitam-se, muitas vezes, a caracterizar as plantas não avançando em seu desenvolvimento e reprodução industrial. O tema tratado no Capítulo IV é a comunicação e a informação. As metas referem-se essencialmente à produção de material, realização de eventos e à divulgação de informações sobre o uso racional das plantas medicinais e dos fitoterápicos. A seguir, o Capítulo V, relativo ao Sistema Único de Saúde, tem como principais objetivos promover esse uso racional, incluindo o acesso com segurança e eficácia, e promover a inserção das plantas medicinais e dos fitoterápicos nas listas de compras e no atendimento básico do SUS. Com relação ao uso tradicional e popular, tema analisado no Capítulo VI, visa-se a promoção da valorização dos conhecimentos tradicionais, inclusive com a garantia de repartição de benefícios, e das parcerias com a sociedade René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 114 civil. A propriedade intelectual também é citada nesse capítulo como relevante para a proteção desse conhecimento. Sobre o manejo e cultivo das plantas medicinais (Capítulo VII), além do que já foi mencionado, é importante salientar a escolha feita pelo Programa de incentivar a agricultura familiar, considerando que a mesma possui características que se configuram como vantagens para esse tipo de cultivo, entre elas, “a disponibilidade de terra e trabalho, detenção de conhecimentos tradicionais, longa experiência com práticas agro-ecológicas” (MS, 2008, p. 43). Sobre esse ponto, embora pareça louvável a tentativa de fortalecer a agricultura familiar, poderíamos, entretanto, argumentar que as características heterogêneas das propriedades, dos modos de cultivo, em geral, tradicionais, do nível de conhecimento dos agricultores e mesmo das possibilidades de transporte seriam obstáculos para o estabelecimento de uma produção industrial, baseada nesses insumos, que atenda a critérios rígidos de controle de qualidade, segurança e eficácia. Portanto, dentro da mudança observada no panorama mundial de produção de fitoterápicos de um padrão artesanal para um padrão industrial, incluir a agricultura familiar como fornecedora de insumos será, sem dúvida, um grande desafio. O tema da produção de fitoterápicos está contemplado no Capítulo VIII. Um dos primeiros pontos que chamam a atenção é o incentivo à estruturação de laboratórios oficiais para a produção de fitoterápicos (sub-diretriz 14.1), cujo papel seria produzir aqueles que fossem de “interesse em saúde pública”. Com relação à indústria farmacêutica nacional não há muita especificação das ações a serem postas em práticas, mas há a descrição das seguintes ações: “Realizar análise prospectiva da capacidade instalada da indústria farmacêutica nacional, nas diferentes regiões, brasileiras, para desenvolver e produzir plantas medicinais e fitoterápicos. (17.3); Realizar um diagnóstico setorial de fitoterápicos, identificando as demandas para produção nas diferentes regiões brasileiras. (17.3); Buscar ajustar o PROFARMA/BNDES às necessidades da indústria de fitoterápicos, principalmente, no que se refere à adequação de boas práticas de fabricação e certificação de laboratórios para a realização de ensaios de controle de qualidade. (14.2); Construir parcerias entre organizações da Agricultura Familiar e indústria. (14.2); Avaliar os resultados da chamada de bioprodutos e propor uma nova chamada adequada à cadeia produtiva de fitoterápicos. (14.2)” (MS, 2008, p. 48) Algumas dessas ações serviriam como subsídios para propor novas ações, como a análise prospectiva e o diagnóstico setorial, portanto, ainda é cedo para avaliar se os meios escolhidos para fortalecer a indústria nacional, através dos laboratórios públicos, serão os mais adequados, uma vez que existem no setor empresas privadas nacionais de porte e com iniciativas de inovação relevantes, mas as políticas industriais e tecnológicas voltadas para o setor privado ainda são incipientes. Sobre a parceria com a René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 115 agricultura familiar, como já adiantado, ela traz enormes desafios, ainda que seja um alvo relevante a ser perseguido se o objetivo for inclusão social. Os Capítulos XI e X tratam da comercialização e dos recursos e financiamento, respectivamente. No caso da comercialização, observa-se a presença de temas que fazem parte da discussão atual acerca do fortalecimento da indústria farmacêutica nacional em geral, como o aumento do valor agregado dos produtos, a pretensão de estabelecer fortes incentivos para as exportações e a utilização do poder de compra do Estado (inclusive com a meta de “trabalhar na aprovação do projeto de Lei de Compras Governamentais”, de acordo com MS, 2008, p. 50). No caso dos recursos e financiamento, a previsão é de que haja a “criação de linhas de financiamento e de mecanismos de incentivos fiscais e desoneração tributária para insumos e produtos fabricados a partir de plantas medicinais, considerando toda a cadeia produtiva” (MS, 2008, p. 51). Esse capítulo se refere a provisão de recursos para a realização de subdiretrizes e ações mencionadas ao longo de todo o Programa. O último capítulo se intitula “Outras Ações Relacionadas à Cadeia Produtiva” e se refere principalmente a sub-diretrizes e ações que se dirijam a integração da cadeia produtiva (MS, 2008, p. 57). Além disso, em diversos pontos, o Programa se refere a estudos de demanda, sejam no que se refere a demanda da população seja no que se refere aos insumos e produção de fitoterápicos. A partir do detalhamento do Programa que se acaba de realizar, observa-se que, com relação aos desafios apontados nas seções precedentes, muitos estão contemplados no mesmo, direta ou indiretamente, como a necessidade de qualificação dos produtores ou fornecedores primários; de introdução de apoio técnico, científico e de legislação (em diferentes níveis para cada tipo de matéria prima); de que haja a difusão do conhecimento etnofarmacológico; de que sejam realizados estudos de demanda e produção em cada região do país; de que haja ações para diminuir os custos dos equipamentos utilizados no controle de qualidade e nos testes exigidos pela regulamentação (através da disponibilização dos testes pelas universidades, por exemplo) e para valorizar o potencial da biodiversidade brasileira; e da contribuição da universidade para que sejam reunidos os diversos conhecimentos necessários para o desenvolvimento da pesquisa e produção nacional na área. Destaca-se entre esses pontos, que a criação da regulamentação específica, abrangendo toda a cadeia produtiva, e o estímulo à realização de estudos nas diversas áreas correlatas e ao desenvolvimento de novas tecnologias para o controle de René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 116 qualidade, se levados adiante, devem resultar numa melhora significativa desse controle. Por sua vez, com relação à distribuição e a sua regulamentação, o Programa deixa transparecer a intenção de resolver a questão através do controle das plantas medicinais desde o cultivo e colheita, de modo a exercer um controle também sobre as matérias primas para a indústria. Sendo assim, as diretrizes e ações propostas pelo Programa compõem uma estratégia para fortalecer o setor, de forma a aproveitar a janela de oportunidade que se apresenta a partir da biodiversidade. Se não houver agilidade nessas ações, a probabilidade de que as empresas do setor se adaptem às regras mais rígidas é pequena e corre-se o risco de vivenciar no setor de fitoterápicos o mesmo fenômeno ocorrido com a indústria nacional de medicamentos sintéticos. Considerando que o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos a quem cabe o monitoramento e a avaliação do Programa foi instituído apenas em setembro do ano de 2009, acredita-se que esse risco não esteja de todo afastado. 3.2. Diagnóstico dos principais desafios e oportunidades da cadeia produtiva das plantas medicinais e fitoterápicos A análise da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos brasileira inicia-se pelos produtores agrícolas, primeira atividade dessa cadeia produtiva. As dificuldades nesta etapa da cadeia produtiva são inerentes à heterogeneidade dos modos de cultivo agrícola da economia brasileira, mas que representam um grande desafio para o setor devido aos altos níveis de qualidade exigidos para a utilização de plantas medicinais. De forma geral, registra-se falta de qualificação desses produtores ou fornecedores primários. A situação tende a se perpetuar com a ausência de apoio técnico, científico e de legislação ou parâmetros específicos para cada matéria prima, como apontado. Os produtores agrícolas são muito dependentes de fatores climáticos e apoio econômico para o plantio e a safra. Ainda que a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos tenha estabelecido diretrizes para o uso racional de plantas medicinais estimulando a formação de redes, ainda é necessário o reforço de apoio técnico aos agricultores, a difusão do conhecimento etnofarmacológico e a realização de estudos de demanda e produção em cada região do país. O grande desafio parece ser produzir plantas com controle de qualidade (ausência de presença de metais pesados, de pesticidas, etc..). Realizar este controle de qualidade parece inacessível aos produtores agrícolas devido ao alto custo dos equipamentos (cromatógrafo líquido e gasoso, por exemplo) e de pessoal qualificado. Alguns produtores privados de insumos realizam René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 117 esta atividade de estabelecimento de parcerias com agricultores e promoção de consultoria técnica para os mesmos, como visto. O desenvolvimento de atividades de extensão rural públicas, com a parceria e o envolvimento da Embrapa, voltado para as plantas medicinais é estratégico nessa área, uma vez que esta ainda não é uma meta já perseguida pela Instituição. A segunda etapa da cadeia produtiva refere-se à produção e distribuição dos insumos para a produção de fitoterápicos in natura ou padronizados. Na área de distribuição dos insumos parecem ser necessários alguns ajustes na regulamentação, uma vez que as empresas distribuidoras atendem a vários mercados (laboratórios farmacêuticos, farmoquímicos, de essência e aromas; indústrias de alimentos, bebidas, cosméticos e chás; farmácias de dispensação, homeopáticas e de manipulação, entre outros) e estão reguladas pela RDC n. 204, que as classifica como distribuidoras de insumos farmacêuticos. Seria interessante revisar e verificar as necessidades de cada um dos setores atendidos pelas distribuidoras. O controle de qualidade da preparação da matéria prima para distribuição também muitas vezes não é realizado a partir de monografias das plantas, por estas serem inexistentes, usando-se o método de validação retrospectiva ou “especificação interna”. Além do problema da falta dos estudos mencionados, a dificuldade de padronização também pode estar relacionada à falta de tecnologias adequadas para a identificação da composição das plantas que estão na origem dos fitoterápicos. Ainda que existam, atualmente, poderosas ferramentas de processamento, a tarefa de identificar de que forma os princípios ativos atuam em conjunto pode gerar um impasse no momento da padronização dos medicamentos fitoterápicos. A terceira etapa da cadeia produtiva é composta pelas atividades de P&D, produção e circulação. Na área de pesquisa e desenvolvimento as oportunidades são enormes, mas os problemas são vários. Entre as oportunidades muitos autores mencionam como característica decisiva para o investimento no desenvolvimento de novos medicamentos fitoterápicos, o fato de que este seria muito menos custoso do que o desenvolvimento de um novo medicamento sintético. Yunes et al. (2001), por exemplo, elencam entre as vantagens dos medicamentos fitoterápicos, frente aos sintéticos, os “menores custos de pesquisa” (Yunes et al., 2001, p. 150). Segundo Barata (2005, p.4), o custo de desenvolvimento do primeiro medicamento ético, originado de uma planta brasileira, foi de cerca de US$ 5 milhões (quando a literatura René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 118 sobre o tema traz estimativas em torno de 500 milhões de dólares para o desenvolvimento de um novo medicamento sintético). Embora a afirmativa acima seja relativamente comum nos trabalhos sobre medicamentos fitoterápicos, é difícil encontrar de forma explícita os motivos pelos quais existiria uma redução significativa dos custos de pesquisa e desenvolvimento dos mesmos. Segundo Pereira et al. (2009), a literatura especializada aponta um custo de cerca de US$ 70 milhões para o desenvolvimento de medicamentos a partir de plantas (Pereira et al., 2009). De fato, como visto, essa redução se mostra muito significativa quando comparamos com os gastos para o desenvolvimento de um novo medicamento sintético. O fato de as plantas que dão origem aos medicamentos terem seus efeitos conhecidos “através do uso” pelas comunidades tradicionais parece ser a justificativa mais utilizada pelos autores que defendem o argumento dos menores custos. Isto significaria um ponto de partida mais seguro para a pesquisa e o menor dispêndio de recursos em busca de um novo medicamento em potencial. Entretanto, relacionada ao uso dos conhecimentos tradicionais sobre as plantas medicinais na pesquisa está a enorme dificuldade de transferência desse conhecimento devido ao seu caráter tácito. Além disso, a absorção desse conhecimento envolve estudos multidisciplinares para a validação científica do mesmo tais como a antropologia, a etnobotânica, a agricultura e tantos outros estudos de difícil realização, devido à organização disciplinar das universidades e o baixo investimento em P&D realizado pelas empresas públicas e privadas, bem como a inexistência de Institutos de pesquisas voltados para a solução de problemas na área de fitoterápicos. Se considerarmos as etapas do desenvolvimento de um fitomedicamento, de fato, a seleção da planta parece ser simplificada pelos conhecimentos e usos populares. Calixto (2005) defende a idéia de que os fitoterápicos padronizados exigem menores recursos financeiros para o seu desenvolvimento e, por isso, podem ser uma excelente oportunidade para os investimentos em P&D nos países em desenvolvimento (Calixto, 2005, p. 133). Neste ponto, as plantas medicinais e os medicamentos a partir delas desenvolvidos desempenham um papel não só importante para a saúde, mas também para o desenvolvimento econômico (OMS, 1993). Ainda com relação ao argumento dos menores custos de pesquisa e desenvolvimento, a biodiversidade brasileira poderia ser considerada uma vantagem potencial para o crescimento da indústria no país. Muitas das plantas nativas são utilizadas tradicionalmente pelas populações locais e poderiam servir de matérias René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 119 primas para o estudo de novos possíveis medicamentos fitoterápicos. Entretanto, Heinzmann e Barros, (2007, p. 43) indicam que “apenas 8% das espécies vegetais da flora brasileira foram estudadas em busca de compostos bioativos e 1.100 espécies vegetais foram avaliadas em suas propriedades medicinais”, num universo que varia entre 350.000 e 550.000 espécies. Simões e Schenckel (2002) chamam a atenção, nesse ponto, para a necessidade de promoção da interação entre indústrias e universidades para a identificação das plantas com potencial para o desenvolvimento de fitoterápicos, enquanto Calixto (2005) ressalta a sua importância para a realização dos testes de segurança, qualidade e eficácia. Diante desses argumentos, os baixos custos relativos de pesquisa e desenvolvimento no setor, aliados à grande biodiversidade brasileira, poderiam se caracterizar como o seu principal fator de competitividade. Ocorre, entretanto, que estes custos reduzidos não seriam aplicáveis, em princípio, a todo e qualquer medicamento fitoterápico, devendo ser avaliados caso a caso. Os medicamentos fitoterápicos, embora, muitas vezes, tenham as suas descobertas inspiradas na medicina tradicional, precisam ser padronizados e apresentar características estáveis e reprodutibilidade. A pesquisa e o desenvolvimento podem também encontrar obstáculos na tentativa de padronização. Por exemplo, Balunas e Kinghorn (2005) enfatizam que os medicamentos sintéticos também podem ser derivados de plantas medicinais, mas que, neste caso, a síntese pode ser extremamente complexa e demorada. Mesmo que o esforço de síntese não seja necessário para a produção dos fitomedicamentos, o cumprimento das exigências de realização de estudos que comprovem a sua qualidade, eficácia e segurança e da padronização da matéria prima pode esbarrar na dificuldade de se reproduzir materiais cuja composição não se conhece exatamente. Pode-se supor, então, que a pesquisa e o desenvolvimento de um medicamento fitoterápico não são necessariamente mais fáceis do que os de uma nova droga sintética. Apesar do uso tradicional das plantas medicinais, os estudos comprobatórios de eficácia e segurança ainda são poucos. Este ponto foi constatado pela classificação da literatura científica pesquisada. A maior parte dos estudos de interesse econômico apresentou um grau de avanço bastante pequeno em direção ao desenvolvimento de um fitoterápico a partir de plantas medicinais. Ainda que haja identificação da atividade de várias espécies na maior parte dos artigos selecionados como de interesse para mercado potencial e atual, ao contrário do que se imagina, muitas vezes, não há comprovação de René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 120 eficácia no uso de muitas plantas com o propósito medicinal, nem conhecimento suficiente de seus efeitos adversos e interações medicamentosas. Outro problema levantado por Balunas e Kinghorn (2005), e diretamente relacionado com o fim do status público dos recursos biológicos, já mencionado acima, diz respeito à repartição de benefícios devido à origem das plantas utilizadas como matérias primas. Para resolvê-lo, os autores chegam a cogitar o deslocamento das coleções de plantas para territórios dos Estados Unidos (Balunas e Kinghorn, 2005, p.438). No caso brasileiro, as dificuldades relacionadas ao tema da repartição também podem levar a dificuldades no momento da definição de quem será beneficiado pela utilização de conhecimentos tradicionais no desenvolvimento de novos medicamentos e tornar insegura a realização de novas pesquisas. Ainda com relação às dificuldades para a pesquisa e o desenvolvimento, o tema da propriedade industrial também é relevante. O monopólio temporário garantido pelas patentes permite o retorno financeiro dos investimentos realizados pelas empresas necessários à descoberta de novas drogas ou, no caso dos fitoterápicos, à realização dos estudos de eficácia e segurança. Embora passíveis de proteção, em alguns casos, pela legislação vigente nos Estados Unidos e na União Européia (para os materiais isolados, segundo Vasconcellos et al., 2004), a lei que regula a propriedade industrial no Brasil (Lei nº. 9.279/96) explicita que não são considerados invenção nem modelo de utilidade: “o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais” (Lei nº. 9.279/96, art. 10, IX), e estabelece que não são patenteáveis: “o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta.” (Lei nº. 9.279/96, art. 18, III). Esta restrição poderia ser vista como uma limitação para o desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos, no Brasil. Mas, como indicado por Vasconcellos et al. (2004) “as invenções envolvendo extratos de planta e/ou moléculas isoladas de plantas” e os processos para a obtenção das preparações farmacêuticas podem ser patenteados no país (Vasconcellos et al., 2004, p.52). Esta posição é reforçada por Heinzmann e Barros (2007), que demonstram que, embora haja a possibilidade de patenteamento, o percentual de pedidos de patente por nacionais referentes a plantas de origem brasileira é muito reduzido (Heinzmann e Barros, 2007, p.47). Desta forma, se conclui que a legislação de propriedade intelectual não é empecilho aos investimentos em pesquisa e René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 121 desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos no Brasil, mas conforme desenvolvido na seção dois há muito poucas patentes depositadas no Brasil, ainda que a literatura científica sobre o tema seja bastante numerosa. Especula-se aqui sobre a possibilidade da interação empresa-universidade suprir os principais desafios e permitir a valorização dos conhecimentos etnofarmacológicos e a diversidade da flora brasileira. De acordo com Calixto (2005) é inegável a evolução da produção científica latino-americana nos últimos 25 anos nos principais periódicos da área de plantas medicinais e fitoterápicos, entretanto, até agora, como visto, poucos novos medicamentos fitoterápicos tem sido lançados no mercado. No sentido de melhorar esse desempenho é muito importante a cooperação entre a empresa e a universidade. Ainda que o Programa tenha várias metas neste sentido, acredita-se que seja necessária uma melhor definição dessa agenda e também que seja feita uma avaliação da ordem de grandeza dos recursos necessários para implementá-la. Esta é também a opinião de Di Stasi et al. (2002) e Schenkel e Simões (2002) segundo argumentos abaixo desenvolvidos. Segundo Di Stasi et al. (2002) os estudos etnofarmacológicos e a realização de surveys para acumular o conhecimento tradicional das plantas são muito importantes para permitir a formação de coleções de plantas documentadas, salvando recursos botânicos tropicais e permitindo seu uso posterior e a conservação dos ecossistemas, assim como a seleção de plantas para futuros estudos farmacológicos, fitoquímicos, toxicológicos e ecológicos. Sem a contribuição da universidade esses conhecimentos tradicionais sobre as plantas medicinais e a riqueza da biodiversidade estão dispersos e dificilmente poderão ser aproveitados, correndo o risco de o Brasil importar plantas, extratos e medicamentos fitoterápicos, como foi realmente constatado no que tange ao comércio exterior de plantas medicinais e fitoterápicos relatados na seção 2.3.5. Da mesma forma, Simões e Schenkel (2002) afirmam que a contribuição da universidade é fundamental na elaboração de monografias oficiais sobre plantas medicinais, mas que para isso é preciso juntar conhecimentos de várias áreas tais como botânicos, agronômicos, químicos, farmacológicos, e toxicológicos e esse se torna o grande desafio. Na segunda parte da terceira etapa da cadeia produtiva, produção e circulação, o calcanhar de Aquiles parece ser a adaptação às novas regras de registro e produção, como discutido anteriormente, e a consolidação do mercado público de medicamentos. A exemplo do que ocorreu com a produção de medicamentos sintéticos, o Brasil corre o René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 122 risco de perder mais uma janela de oportunidade criada pelo dinamismo do mercado (expansão e oportunidades tecnológicas) e pelas políticas nacionais. Se os produtores locais não se adaptarem aos novos custos regulatórios expandindo seus negócios para aproveitamento das oportunidades através de investimentos na descoberta de novos medicamentos, estarão fortemente ameaçados. Ainda que não tenham sido feitos estudos dos impactos gerais das compras públicas e dos programas de fitoterápicos sobre o mercado como um todo, estudos específicos sobre o perfil de utilização de fitoterápicos nas farmácias comunitárias ou a utilização de fitoterápicos nas unidades básicas de atenção à saúde da família dos municípios, importantes oportunidades de comercialização dos fitoterápicos, trazem questões para hipóteses sobre esses impactos e as oportunidades e desafios que surgem para o desenvolvimento futuro do mercado. Ribeiro et al. (2005) realizaram um estudo para saber em que medida a RDC 48, voltada para o funcionamento do mercado o influenciava. A principal conclusão dos autores é que existe uma tendência de mercado para a utilização de plantas exóticas, oriundas de países desenvolvidos, como base dos medicamentos fitoterápicos. Isto porque a maioria das obras da literatura colocada como referência pela agência reguladora não contempla as plantas da flora brasileira utilizadas na medicina popular. A legislação optou por privilegiar, como visto, os resultados de segurança e eficácia para o registro dos produtos. A não compilação de uma série de estudos realizados sobre a flora brasileira é responsável pela inclusão de plantas que não pertencem à biodiversidade brasileira. Esses achados levam à conclusão de que as normas de registro de medicamentos fitoterápicos criam barreiras à entrada de plantas nativas como base principal desses medicamentos. Em outras palavras, nossa maior oportunidade é perdida pelo não desenvolvimento da pesquisa de medicamentos com plantas nativas no próprio país. As recentes consultas públicas realizadas pela ANVISA têm a intenção de inverter um pouco essa tendência e estimular o uso de produtos naturais para os quais o uso já pode ser comprovado por tradição. Outro estudo na mesma direção de avaliação, ainda que pontual, das novas políticas de plantas medicinais e fitoterápicos foi realizado por Silva et al. (2006). O objetivo foi avaliar a implantação do Programa de Fitoterapia em um município do Ceará (Maracanaú) a partir dos medicamentos produzidos pelo Programa de Farmácias Vivas. Entre os 15 medicamentos produzidos apenas três deles contém espécies vegetais presentes na lista da ANVISA, não precisando ter a sua eficácia e segurança René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 123 comprovada e validada através de levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documentações técnico-científicas em publicações ou ensaios clínicos de fase 3. Em relação à adesão aos medicamentos fitoterápicos verificou-se uma taxa de apenas 20,6% das prescrições contendo esses medicamentos. Segundo Torres (2009), o número de municípios brasileiros com introdução de fitoterapia no SUS, de acordo com dados do Departamento de Atenção Básica (da Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde), aumentou de 116, em 2004, para 342, em 2008. Esse aumento representou também uma mudança no número de unidades da Federação que incluem municípios atendidos de 22 para 24. Ainda citando os dados de Torres (2009), vale ressaltar que dos 342 municípios que dispunham de serviço de fitoterapia (apenas 6,15% do total de municípios brasileiros), em 2008, cerca de 85% tinha mais de 50.000 habitantes e, em 56% desses municípios, os medicamentos fitoterápicos são “garantidos pelo Estado ou Município”. Dos medicamentos fornecidos pelo Estado ou Município, 46,87% são provenientes de farmácia de manipulação própria, 35,42% de farmácia de manipulação conveniada, e 20,31% são fitoterápicos industrializados. Embora a cobertura em percentual de municípios brasileiros ainda seja pequena (o percentual cai para aproximadamente 3,45% do total de municípios, quando consideramos somente aqueles em que há fornecimento público de medicamentos), esses números apontam para o desafio e a oportunidade representados pela consolidação da introdução dos medicamentos fitoterápicos no sistema público de saúde, com a garantia de seu fornecimento, e, portanto, com a compra pública dos mesmos. Isso fica claro, quando observa-se a distribuição dos municípios com serviço de fitoterapia pelas regiões brasileiras. A região com a maior diversidade de espécies, a região Norte, conta somente com 35 municípios, perdendo apenas para o Centro-Oeste, com 27 municípios. As regiões com o maior número de municípios onde a terapia fitoterápica já é oferecida são Sul, Nordeste e Sudeste, com 127, 91 e 67 municípios, respectivamente (Torres, 2009). Além disso, outro aspecto muito relevante relacionado com o aproveitamento da biodiversidade é que a Convenção da Diversidade Biológica, em 1992, decretou o fim do status de bem público para os recursos biológicos, definindo o material encontrado dentro das fronteiras dos países como um patrimônio nacional. Entretanto, se isto definiu melhor o direito de propriedade internacional, deixou sem definições uma série de questões nacionais sobre direitos territoriais e étnicos e condições sócio-econômicas René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 124 de populações locais. Tais indefinições contribuem para dificultar o uso das espécies nativas. Pertinente a estas questões destaca-se a propriedade dos materiais coletados em determinados lugares: ela seria propriedade, por extensão, da comunidade de onde foram coletados (Seidl, 2002)? Essas indefinições são sérios empecilhos à realização de estudos etnofarmacológicos, muito importantes, como visto, para avançar na realização de pesquisas com as plantas nativas. Outro ponto importante a ser observado é que a maioria dos estudos encontrados sobre as plantas medicinais se refere aos medicamentos fitoterápicos derivados de espécies vegetais estrangeiras. A necessidade de realização de estudos sobre a eficácia e a segurança da utilização de plantas nativas aparece como essencial para o desenvolvimento do setor no Brasil. Ademais, a utilização maciça de plantas estrangeiras não cumpre as funções, mencionadas diversas vezes como justificativas para a utilização dos medicamentos fitoterápicos, de propiciar um melhor acesso e a mais fácil aceitação por parte da população (em virtude do conhecimento prévio dos efeitos de determinada planta medicinal), nem de promover o desenvolvimento econômico de países a partir de sua própria biodiversidade. No caso brasileiro em particular, há o problema, ainda, da equivocada compreensão da regulamentação em vigor pelos produtores. Um exemplo das dificuldades na aplicação da legislação vigente está demonstrado em estudo realizado por Freitas e Romano-Lieber (2007). Os autores verificaram que: “empresas produtoras de fitoterápicos, suplementos alimentares e produtos oficinais se abstiveram de implantar programas de monitorização de eventos adversos, alegando que seus produtos não necessitam passar pelo processo de vigilância pós-comercialização” (Freitas e Romano-Lieber, 2007, p. 171). Segundo os mesmos autores, esta seria uma interpretação incorreta das normas relativas à farmacovigilância para estes medicamentos. Um desafio em relação à circulação dos produtos e sua regulação é a falta de monitoração ex-post do seu registro. Vários produtos com registro vencido continuam circulando normalmente no mercado, conforme constatado na seção dois. Essa deficiência leva a uma concorrência desleal entre os produtores de medicamentos. Além dos desafios acima diagnosticados as empresas do setor, através de sua representação Abifisa, destacam outros desafios como importantes para a melhoria do desempenho do mercado de fitoterápicos. O primeiro deles refere-se ao custo de produção, podendo-se enfatizar o custo da mão de obra especializada, da matéria prima, da infra-estrutura de produção e controle de qualidade. Em segundo lugar, a carga René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 125 tributária elevada e a falta de incentivos nesta área por parte do governo. Em terceiro lugar, a concorrência desleal de algumas empresas que continuam comercializando produtos sem os parâmetros de segurança, eficácia e qualidade. Em quarto lugar, o desconhecimento por parte dos profissionais médicos e consumidores sobre o uso adequado de fitoterápicos e até mesmo sobre a existência de vários de seus produtos. Em quinto lugar, dificuldade de acesso aos canais de distribuição varejista (50% dos principais canais varejistas não se interessam por produtos fitoterápicos). Finalmente, mas não menos importante, os recursos para o desenvolvimento tecnológico são ainda muito escassos (Velani, 2009). 3.3 – Proposta de agenda de ações Apresentam-se abaixo os quadros de propostas para ações no setor de fitoterápicos construídos a partir dos gargalos e oportunidades verificados no diagnóstico, além das inovações apontadas como necessárias para superar os problemas constatados. Uma primeira versão foi apresentada na oficina de trabalho realizada pelo CGEE para apresentação desse estudo e posteriormente revisada em reunião com especialistas em Brasília, ambas no mês de setembro. Os produtos foram divididos em já existentes no mercado e novos, uma vez que as oportunidades, desafios e ações relativos aos mesmos se encontram em esferas diferentes. Os quadros abrangem também uma síntese do diagnóstico, que inclui os desafios principais, as recomendações e a relação com as ações já propostas pelo Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. A intenção principal é a de subsidiar as ações das políticas para o setor, considerando o esforço já realizado na elaboração do Programa e sua posterior execução. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 126 Quadro 4 - Oportunidades, gargalos, inovações e proposta de ações para os produtos já existentes PRODUTOS EXISTENTES Etapas da cadeia produtiva Oportunidades do setor fitoterápico Gargalos do setor Produção agrícola e distribuição Qualificação dos produtores agrícolas ou fornecedores primários Cultivo e manejo adequados para produção das plantas com fins de obtenção do princípio ativo em grande escala Realização de monografias que permitam um melhor controle de qualidade da preparação da matéria prima para distribuição Implementação de um controle de qualidade eficiente (ausência de presença de metais pesados, de pesticidas, etc..), especialmente produção agrícola Produção agrícola e distribuição Adequação da regulamentação da Anvisa para os diferentes usos da matéria prima Quais requerem inovação e/ou ação? Tipo de inovação necessária para o desenvolvimento do setor ? Sugestões finais Envolver a Embrapa como parceira, tendo em vista que ela possui o know-how necessário Produção de mudas certificadas Envolvimento de profissionais da área agrícola (para cultivo) e da área farmacêutica (com foco no princípio ativo) Envolver também as farmáciasvivas como parceiras (conhecimento popular) Domesticação de plantas Promover o desenvolvimento de atividades de extensão rural, com a parceria e o envolvimento da Embrapa, voltado para as plantas medicinais Regulamentação atual não diferencia exigências por tipo de uso que terá a matéria prima Construir infra-estrutura científica e tecnológica para facilitar demanda de serviços tecnológicos Formular e implementar legislação e/ou parâmetros específicos para os diferentes tipos de matéria prima Sistema de manejo sustentável (dentro de áreas nativas) e cultivo agro ecológico Estudos de estabilização da matéria prima Como conseqüência, em longo prazo, teremos o aumento das exportações e a redução das importações dos princípios ativos Síntese Desafios Principais Recomendações Relação com o Programa 1. Domesticação de plantas 1. Estruturação de redes científicas e tecnológicas nacionais para domesticação, garantindo o fortalecimento das infraestruturas e competências locais Diretriz 13 2. Certificação de mudas 3. Formação de cultivares Maior produção no país Diretriz 13 (p. 55) 2. Rede de infraestrutura, por exemplo nos moldes da ANP Reforçar o apoio técnico aos agricultores e a difusão do conhecimento etnofarmacológico Estabelecer protocolos para colheita sustentável das plantas medicinais Diferenciar a regulação das plantas medicinais utilizadas como insumos conforme usos finais Debater com o setor produtivo e os órgãos de regulação as falhas de regulação ao longo da cadeia produtiva René Hasenclever Consultoria Ltda. Observações Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever Auxiliar a capacitação dos produtores para adequação à legislação vigente Através das instituições de extensão rural Diretriz 3 127 Continuação. Produção industrial e distribuição Crescimento da demanda através da nova política pública Baixa demanda Compra governamental Renafito Desconhecimento dos prescritores Divulgação da qualidade dos fitoterápicos junto aos prescritores Inclusão nos currículos de medicina, odontologia e farmácia, entre outros, informações sobre vantagens e desvantagens dos fitoterápicos como opção para tratamentos Incentivo à prescrição de plantas medicinais e fitoterápicos por parte dos profissionais ligados aos serviços de saúde público e privado Utilizar a compra governamental para estabelecimento de demanda e de cultura de utilização de fitoterápicos Mapear e identificar uma organização para o setor produtivo para as espécies indicadas pelos programas do SUS, para que ele possa atender as compras governamentais Diretriz 17 Substituir 127mportações 1. Mapear os produtos nacionais equivalentes aos importados para aplicação de alíquotas inibidoras Diretrizes 8 e 16 Divulgar o incentivo governamental ao uso de fitoterápicos no SUS Divulgar junto a classe médica a legislação de fitoterápicos e estudos clínicos de segurança e eficácia existentes Formar recursos humanos envolvidos na cadeia de plantas medicinais e fitoterápicos com inclusão de matérias na grade curricular, principalmente nos cursos de medicina Produção industrial e distribuição Substituição das importações de plantas medicinais e extratos Ausência de produtores nacionais de matéria prima vegetal medicinal com qualidade Aumentar os impostos para a importação de plantas e extratos, incentivando o seu desenvolvimento interno 2. Adequar a competência científica, tecnológica para substituição de importação 3. Agregar valor aos plantas medicinais locais René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 128 Continuação Produção industrial e distribuição Adequação às novas regras de registro e de boas práticas de manufatura Necessidade de adaptação às novas regras de registro e de boas práticas de manufatura Custo de adequação incompatível com o tamanho das empresas Criar mecanismos de financiamento e de parcerias para que os produtores locais possam se adaptar aos novos custos regulatórios Criar redes de pesquisa com capacitação na prestação de serviços para atender às exigências regulatórias Auxiliar a capacitação das empresas produtoras de fitoterápicos para adequação à legislação vigente 1. Fortalecimento da Rede de Pesquisas Clínicas 2. Capacitar as instituições para realização de testes de toxicidade, clínicos, conforme Diretriz 3 (3.3.1) Disseminar estas possibilidades de serviços entre os produtores Produção industrial e distribuição Monitoramento maior da Anvisa junto as empresas produtoras de fitoterápicos Concorrência desleal entre as empresas devido ao baixo monitoramento das empresas já atuando no mercado, ainda que o controle na entrada seja elevado Garantir a qualidade do produto fitoterápico Melhorar a imagem do produto fitoterápico junto ao público consumidor Agilizar a emissão e a renovação dos registros dos medicamentos Retirar produtos com registro vencido do mercado Retirar do mercado as empresas sem condições de produzir segundo boas práticas de manufatura Fonte: Elaboração própria a partir da oficina de trabalho realizada pelo CGEE para apresentação desse estudo e reunião com especialistas em Brasília, em setembro de 2009. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever Diretriz 3 129 Quadro 5 - Oportunidades, gargalos, inovações e proposta de ações para os produtos novos PRODUTOS NOVOS Etapas da Pesquisa Prospecção de mercado Oportunidades do setor fitoterápico Gargalos do setor Identificação de novos negócios para o setor (novos produtos) Falta de valorização da indústria privada nacional Inadequação dos laboratórios públicos para realizarem pesquisa de novos produtos Falta de priorização dos recursos de pesquisa Quais requerem inovação e/ou ação? Tipo de inovação necessária para o desenvolvimento do setor ? Sugestões finais Adequação dos laboratórios públicos e privados nacionais à pesquisa Utilizar a infra-estrutura dos NITs para identificação das potencialidades de pesquisa para novos produtos Concentrar-se em poucos produtos Realizar plano de negócios para identificação dos produtos com maior potencial de mercado Lançamento de editais de pesquisa envolvendo desde o cultivo até o medicamento pronto para registro Criação de um bando de dados com informações sobre a oferta e a demanda de fitoterápicos (portal eletrônico) Abertura de linhas de crédito do governo federal para equipamentos e modernização da estrutura dos laboratórios René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever Observações Síntese Desafios Principais Recomendações Relação com o Programa Capacitar os NIT e Incubadoras e Parques Tecnológicos para apoio à inovação do setor 1. Ampliar e incentivar a infra-estrutura de NITs, Incubadoras e Parques Tecnológicos para identificação de oportunidades no setor de fitoterápicos Diretriz 14 2.Lançamento de editais para pequenas e médias empresas envolvendo desde o cultivo até o medicamento pronto para registro (PRIME) 3. Criação de um observatório do setor de fitoterápicos 130 Continuação Prospecção de mercado Produção de novos medicamentos Falta de diretrizes Falta de mão de obra qualificada na transposição de escala Visão de curto prazo dos empresários, não havendo interesse em aguardar o crescimento da planta (3 anos para ter o princípio ativo) Fortalecimento dos arranjos produtivos locais e das redes Estudos de Estabilidade Parceria Universidade + conhecimento popular + empresa + Governo Conhecimento das RDC’s por parte dos pesquisadores (para registro) Incentivo ao cultivo de plantas herbáceas, rústicas de ciclo vegetativo curto, tais como espinheira-santa e guaco (parte agrícola) Scale up da bancada do piloto (parte industrial) Fortalecer a pesquisa em domesticação e escalonamento de acordo com o ciclo vegetativo da planta (curto, médio e longo prazo) Utilizar a massa crítica de 130ecém doutores para realizar o scale up nas ICTs Resoluções da Anvisa inadequadas ao setor de fitoterápicos SELEÇÃO DE PLANTAS COLETA, IDENTIFICAÇÃO BOTÂNICA Transposição do uso popular de plantas medicinais em medicamentos ESTABILIZAÇÃO E EXTRAÇÃO DOS CONSTITUINTES DA PLANTA Controle de Qualidade ISOLAMENTO DE COMPOSTOS DOS EXTRATOS Estudos fitoquímicos Falta de estudos clínicos Falta de investimento e verba nas pequenas empresas Toxicidade Dificuldade em se estabelecer controle das plantas (reprodutibilidade) Criação de um fundo setorial específico para fitoterápicos Realização de estudos que possibilitem registros novos Modelo CODETEC Atendimento às exigências da ANVISA e CGEN Financiamento da FINEP Incentivar laboratórios universitários com competência através de fomento governamental Estudo sazonal das espécies botânicas Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever Implementar uma ação transversal dos fundos setoriais a partir dos CTs já existentes, por exemplo do CT-Saúde Incentivo a formação de recursos humanos com treinamento especifico para atendimento dos marcos legais da Anvisa e do CGEN, dentre outros Ver o mesmo para produtos já existentes Direcionamento das pesquisas já existentes para os estudos fitoquímicos sazonais Identificação e quantificação dos marcadores químicos René Hasenclever Consultoria Ltda. Transposição do uso popular de plantas medicinais em medicamentos Criação de editais específicos para as plantas de interesse do SUS Diretriz 9 131 Continuação PREPARAÇÃO DO MATERIAL TESTEMUNHA Bioprospecção Atual legislação Criação de bancos de germoplasmas (in situ e ex situ) TECNOLOGIA FARMACÊUTICA, TESTES CLÍNICOS Novas indicações terapêuticas Necessidades epidemiológicas apontadas pela RENISUS não disponíveis entre as indicações existentes Comprovação das novas indicações epidemiológicas Coleta e conservação da variabilidade genética em bancos de germoplasma (in situ e ex situ) Reunião de especialistas na conservação de recursos genéticos de plantas medicinais Lançar editais de pesquisa Identificar essas novas indicações terapêuticas Fonte: Elaboração própria a partir da oficina de trabalho realizada pelo CGEE para apresentação desse estudo e reunião com especialistas em Brasília, em setembro de 2009. René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 132 Bibliografia ADAME, Alcione; JACCOUD, Cristiane Vieira; COBRA, Elton Abreu. Biodiversidade, biopirataria e aspectos da política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Sem data. Disponível em http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/manaus/propried_intelectual_alcione_ad ame_e_outros.pdf . Acesso em: 5 agosto 2009. AKERELE, O. Summary of WHO guidelines for the assessment of herbal medicines. HerbalGram, v. 28, Winter 1993. Disponível em <http://content.herbalgram.org/iherb/herbalgram/articleview.asp?a=274>. Acesso em: 28 maio 2009. ALEXANDRE, R. F.; GARCIA, F. N.; SIMÕES, C. M. O. Fitoterapia Baseada em Evidências. Parte 1. Medicamentos Fitoterápicos Elaborados com Ginkgo, Hipérico, Kava e Valeriana. Acta Farm. Bonaerense, Buenos Aires, vol. 24, n. 2, 2005. Disponível em <http://www.latamjpharm.org/trabajos/24/2/LAJOP_24_2_7_1_YS0CRS9CK3.pdf> Acesso em: 21 junho 2009. ALVES, Flávia Neves Rocha. 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Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 140 Anexo de Espécies vegetais Nome Vulgar Nomenclatura Botânica Família Lista Parte Usada da planta Indicação Abacate Persea americana Lauraceae RENISUS Fruto Dores reumáticas, tratamento capilar, máscara facial, cicatrixantes, diurético, diarréia Abacaxi Ananas comosus Bromeliaceae RENISUS Fruto Obesidade, pancreatite, afecções da pele, psoríase Açafrão da terra Curcuma Longa Zingiberaceae RENISUS Estigmas da flor secos Atividade antineoplástica, antiofídico, digestivo, laxante, regulador da tireóide, antiflamatório, sedativo, afrodisíaco, antiespasmódico Agnocasto Vitex agnuscastus Cynara scolymus Verbenaceae Asteraceae Carvalho et al., 2008 Registro Simplese RENISUS Folhas secas e Disturbios menstruais fruto Folhas, Bráteas Afecções hepato-biliares, colesterol, e Caule ácido úrico, obesidade, diabetes, hipertensão, afecções reumáticas Alcaçuz Glycyrrhiza glabra Leguminosae Papilonacea Registro Simples Raiz Afecções pulmonares, afecções gástricas, antiinflamatório, menosaupa e TPM, anti-séptico Alecrim Rosmarinus officinalis Lamiaceae Carvalho et al., 2008 Folhas, flores, óleo essencial cefaléias; contusões, anticancerígeno, antiespasmódico, antimicrobiano Alecrim Pimenta Lippia sidoides Verbenaceae RENISUS Talo Anti-séptica, antiinflamatória e cicatrizante AlfavacaCravo Alho Ocimum gratissimum Allium sativum Lamiaceae RENISUS Folha Anti-séptico e expectorante Liliceae Registro Simples e RENISUS Bulbos Anticancerígeno, intoxicação nicotínica, problemas circulatórios, afecções da pele, afecções respiratória, anti-séptica, afecções genito-urinárias Amora Morus Moraceae RENISUS Casca da raiz, folhas e fruto Diurético, afecções na boca e pele, antiinflamatória, laxante Andiroba Carapa guianensis Meliaceae RENISUS Casca, folha e óleo da semente Afecções na pele, antiinflamatória, relaxante muscular, repelente, emoliente, febrífuga, bactericida, anticancerígeno Arnica Arnica montana Asteraceae Raiz e flores Analgésico, doenças cardiocirculatórias ArnicaBrasileira Solidago microglossa Asteraceae Registro Simples RENISUS Folhas e Flores frescas Contusões, edemas, traumatismo, estiramento muscular, lesões cutâneas, antiinflamatório, diurético Aroeira Anarcadiaceae RENISUS Casca Afecções da pele, antiinflamatório, afecções renais, bactericida Arroz Schinus terebinthifolius ou Schinus aroeira Oryza sativa Gramineae Carvalho et al., 2008 Semente Anorexia, digestivo, diarréia crôncia, hipoglicemiante, insônia, calmante Arruda Ruta graveolens Rutaceae RENISUS Folhas e flores Aumenta a resistência dos vasos sangüíneos, evitando rupturas e, sendo indicada no tratamento contra varizes. Seu uso é indicado para restabelecer ou aumentar o fluxo menstrual e para combater vermes. O azeite de arruda é aplicado para aliviar dores reumáticas e para aliviar dores de cabeça Assapeixe Vernonia polianthes Asteraceae RENISUS Folhas Afecções pulmonares, diurético, afecções da pele, dores musculares e reumáticas Babaçu Orbignya speciosa Palmae RENISUS Fruto Babosa Aloe vera ou Aloe Liliaceae barbadensis Registro Simples e RENISUS Folha anti-inflamatórias e analgésicas, combate prisão de ventre, colite e obesidade Tratamento de queimaduras térmicas (1o e 2o graus) e de radiação Alcachofra René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 141 Nome Vulgar Nomenclatura Botânica Família Lista Parte Usada da planta Indicação Barbatimão Stryphnodendron barbatiman Leguminosae RENISUS Casca e Folhas Leucorréia, corrumentos uretrais e vaginais, adistringente, hemoptíases, ajuda na cicatrizaçõa, antiinflamatória Batata de purga Beladona Operculina alata Convolvulacea e Solanaceae Carvalho et al., 2008 Carvalho et al., 2008 Raiz tuberosa Laxante, hemostático Talo e Folha Midriático, antiespasmódico, antisecretor, relaxante muscular, nevralgias faciais, cólicas renais. Atropa belladonna Beldroega Portulaca pilosa Portulacaceae RENISUS Folhas com talos e sementes Diurético, antiinflamatório, emoliente, vermífugo, laxantes, afecções da pele e renais Boldo Peumus boldus Monimiaceae Registro Simples Digetivo, afecções hepáticas, antiinflamatório, antioxidante Boldo Brasileiro Plectranthus barbatus Lamiaceae RENISUS Folhas, Frutos e óleo essencial Folhas Boldo da Bahia Vernonia condensata Asteraceae RENISUS Folha e raiz Abre o apetite, malária, inflamações em geral Borragem Borago officinalis Boraginaceae Carvalho et al., 2008 Flores, caule, flores, semente Afecções respiratórias, reumatismo, febre, depressão, nervosismo, afecções da pele, afecções urinárias Butterbur Petasites hybridus Asteraceae Carvalho et al., 2008 Folha rinite alérgica como: espirros, coriza, obstrução e prurido nasal, vermelhidão e prurido ocular, lacrimejamento e inflamação do palato e garganta Cajuçara = Sacaca Croton cajucara Piperaceae RENISUS Folha e casca Auxiliar no tratamento das afecções hepáticas e estomacais Cajueiro Anacardium occidentale Anarcadiaceae RENISUS Folhas, cascas, fruto e pseudofruto Diabetes, diarréias, hemorragias, impotência sexual, regime de emagrecimento, afecções da pele Calêndula Calendula officinalis Asteraceae Flores e folhas frescas Cicatrizante, antiséptico, antiviral, analgésico, antiinflamatório Camomila Matricaria recutita Asteraceae Flores e óleo essencial Inflamações da pele, inalações ara inflamações, digestivo Cana de Macaco Costus spicatus Zingiberaceae Registro Simples e RENISUS Registro Simples e RENISUS RENISUS Afecções urinárias, doenças venéreas, tosse, amenorréias CardoMariano Silybum marianum Asteraceae Carvalho et al., 2008 Rizomas, hastes e folhas frescas Raízes folhas e frutos Carqueja Baccharis trimera Arasteraceae RENISUS Hastes floridas Dispesias inespecífica, antiespasmódico, antiviral, constipação intestinal, obesidade e diabetes Cáscara Sagrada Rhamnus purshiana Rhamnaceae Cascas Digestivo, laxante Castanha da Índia Aesculus hippocastanum Hippocastanea ceae Registro Simples e RENISUS Registro Simples Sementes Varizes e hemorróidas, adistringente e hemostático, anorexia, febrífuga Cava-cava Piper methysticum Equisetum arvense Centella asiatica Bignoniaceae Registro Simples RENISUS Raiz e cascas Sedativo, relaxante muscular, Umbelliferae Registro Simples Caules estéries e raiz Folha sem o pecíolo Diurético, adistringente, tuberculostática Afecções da pele, estimulante cutâneo, ativa o metabolismo da gordura Cimicífuga Cimicifuga racemosa Ranunculaceae Registro Simples Rizoma e raiz Reposição hormonal, tratamento de HIV, hipercolesterolemia Cinerária marítima Senecio cineraria Asteraceae Carvalho et al., 2008 Folha e flores Catarata, inflamação, cicatrizante, descongestionante Cipó Cruz Arrabidaea chica Asteraceae RENISUS Cipó Diurética, purgativa, febrífugos, antiasmáticos Cavalinha Centela Equisetaceae René Hasenclever Consultoria Ltda. Afecções hepáticas, afecções gástricas, calmante Afecções hepáticas, antioxidante, antiinflamatório, anticancerígeno Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 142 Nome Vulgar Nomenclatura Botânica Família Lista Parte Usada da planta Indicação Colônia Alpinia speciosa Zingiberaceae RENISUS Doenças reumáticas, analgésico e antiinflamatório, cólicas renais, afecçoes gástricas Confrei Symphytum officinale Copaifera reticulata Asteraceae Registro Simples RENISUS Rizoma sem a raiz, folhas, flores e sementes Folhas Cicatrizante e anti-inflamatória Óleo extraido do tronco Afecções da pele, doenças do aparelho genito-urinário Crataegos Crataegus oxyacantha Rosaceae Carvalho et al., 2008 Folhas, flores e frutos Doenças cardíacas, analgésico, antihipertensivo, antitumoral, afecções uterinas Cravo de Defunto Tagetes minuta Asteraceae RENISUS Planta inteira Reumatismo articular, antiinflamatório, vermífuga Equinácea Echinacea purpurea Asteraceae Registro Simples Raiz e Rizoma Infecções das vias aéreas superiores, cicatrizante, imunoestimulante Erva Baleera Cordia curassavica Verebenaceae RENISUS Casca e folha Reumatismo, artrite, reumatóide, gota, nevralgias, contusões; adstringente, cicatrizante, antiinflamatório Erva de Bicho Polygonum acre Polygonaceae RENISUS Folha e talo Estimulante, febrífugo, para crises hemorroidárias; hemorragias internas, varizes, congestão cerebral, distúrbios de memória, dificuldade de raciocínio Erva de Santa Maria Chenopodium ambrosioides Chenopodiacea RENISUS e Folhas e flores Parasitoses e vermes intestinais; parasitas da pele, escabiose e nematóides; tônica, reguladora e fortalecedora do fígado; tônica, reguladora e fortalecedora do estoma e intestino; tosse, asma, bronquite; amebicida, laxante suave; inseticida Erva Doce Foeniculum vulgare Apiaceae Registro Simples e RENISUS Sementes Usado no tratamento de envenenamentos; afecções gastrintestinais; galactagogo; emenagogo Erva dos burros = Pímula Oenothera biennis Onograceae Carvalho et al., 2008 Planta inteira sem as raizes Artrite reumática, neuropatia diabética, mastalgia pré mestrual, fogachos e sintomas vasomotores menopausicos, doenças inflamatórias Erva-Cidreira = Melissa Melissa officinalis Lamiaceae Registro Simples Parte aérea e óleo essencial Hipertiroidismo, antiespasmódico, sedativo, calmante, digestivo, agente tópico para herpes labial EspinheiraSanta Maytenus ilicifolia Celastraceae Folha Tônico, analgésico, anti-séptico, cicatrizante, anti-úlcera gástrica Eucalipto Eucalyptus globulus Mirtaceae Registro Simples e RENISUS RENISUS Folhas e óleo Gripes, bronquites, asma, sinusite, doenças reumáticas Folha da Fortuna Kalanchoe pinnata Crassulaceae RENISUS Folha seca Fucus Fucus vesiculosus Algae Carvalho et al., 2008 Alga Inflamações diversas, antiinfeccioso, bactericida, leishmaniose, dores no ouvido, resfriado, reações alérgicas como bloqueadora histamínica, erisipela, abescessos, picadas de insetos Obesidade, para doenças do sistema linfático Fumária Fumaria officinalis Papaveraceae Carvalho et al., 2008 planta inteira sem as raizes Copaíba LeguminosaeCesalpiniaceae René Hasenclever Consultoria Ltda. laxante, diurético, afecções dermatológicas, desordens hepatobiliares, distúrbios do sistema cardiovascular, atntitóxico hepático, cólicas biliares e do trato gastrointestinal Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 143 Nome Vulgar Nomenclatura Botânica Família Lista Parte Usada da planta Indicação Garcinia Garcinia cambogia Clusiaceae Carvalho et al., 2008 Fruto Laxante. Age metabolicamente acelerando a queima de gorduras, auxilia em regimes de emagrecimento Garra do diabo Harpagophytum procumbens Pedaliceae RENISUS Raiz Doenças reumáticas, artrites, artrose, gota e reumatismo Gengibre Zingiber officinale Zingiberaceae Registro Simples e RENISUS Rizoma e óleo essencial Carminativo, cólicas, para rouquidão, catarros, atnitóxico nas intoxicações alimentares, antioxidante, anti bacteriano, aumenta a glicose no sangue, afecções reumáticas Gilbarbeira Ruscus aculeatus Liliaceae Carvalho et al., 2008 Raizes Antiinflamatória, diurética,, depurativa, vasoconstritora Ginkgo Ginkgo biloba Ginkgoaceae Registro Simples Folhas, frutos e sementes Doença de Raybaud, insuficiência cerebral, ansiedade, estresse, zumbidos, demência, desordens circulatórias, asma, efeito positivo na memória e em doenças associadas com a produção de radicais livres Ginseng Panax ginseng Araliaceae Registro Simples Raiz Estimulante, afrodisíaco, fadiga, stress, deficiências sexuais, afecções do fígado, anemia, antidepressivo, diabetes tipo 2, aumento da função imunológica em pacientes com câncer e HIV, menopausa, hipertensão arterial Goiaba Psidium guajava Myrtaceae RENISUS Casca do diarréias, bactericida, fungicida, tronco, brotos e amebicida, antile-vedura, analgésico, frutos antiespasmódico, combate os radicais livres, vasoconstritora, cicatrizante, emenagoga Guaçatonga Casearia sylvestris Rubiaceae RENISUS Folha e talo Febrífugo, depurativo nos reumatismos, eczemas, úlceras Guaco Mikania glomerata Compositae/Eu phatoriaceae Registro Simples e RENISUS Folha Depurativo, febrífugo, peitoral, desperta o apetite, afecções pulmonares, expectorante, antitérmico, antireumático Guaraná Paullinia cupana Sapindaceae Registro Simples Semente torrada fadiga, cansaço, estresse, perda de memória, dificuldade de raciocínio, afrodisíaco, diarréia crônica, afecções gástricas, analgésico nas dores musculares, nevralgias, enxaquecas Hamamelis Hamamelis virginiana Hamamelidace ae Registro Simples Casca e Folhas Adstringente, hemostático, tônico, descongestivo, anti-hemorrágico, varizes, hemorróidas, diarréia Hera Hedera helix Araliaceae Carvalho et al., 2008 Folhas Uso apenas extreno: ferimentos, calosidades, dores nevrálgicas e reumáticas, tratamento pós-flebites, celulites, escurecedor dos cabelos Hiperico Hypericum perforatum Gutiferae/Hiperi Registro caceae Simples Folha, Talo e Flor Anti-séptico, diurético, balsâmico, vasodilatador, anti-helmíntico, antidepressivo, sedativo Hortelã Peluda Mentha crispa Lamiaceae Folhas e ramos Sindrome do intestino irritável, afecções gástricas, preparações para infecções respiratóricas, analgésico, antiespasmódico, anti septico no tratamento de câncer René Hasenclever Consultoria Ltda. RENISUS Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 144 Nome Vulgar Nomenclatura Botânica Família Lista Parte Usada da planta Indicação HortelãPimenta = hortelã Miúda Mentha piperita Lamiaceae Registro Simples e RENISUS Folhas e ramos Sindrome do intestino irritável, afecções gástricas, preparações para infecções respiratóricas, analgésico, antiespasmódico, anti septico no tratamento de câncer Ipê Roxo Tabebuia avellanedeae Bignoniaceae RENISUS Casca e flor Depurativo, afecções da boca, antitumoral, reumatismo, estomatite, anemia e analgésico Jambolão Syzygium jambolanum Myrtaceae RENISUS Casca e semente Adstringente, antidiabético, usado nas diarréias, inflamações da pele, hemorragias, afecções no pâncreas Jurubeba Solanum paniculatum Solanaceae RENISUS Raiz, caule e folhas Tônico, febrífugo, atonia gástrica, afecções hepáticas, icterícias, feridas na pele, cicatrizante e antipruriginoso, malária, anemia Kaloba Pelargonium sidoides Geraniaceae Carvalho et al., 2008 Raiz Infecções agudas e crônicas do trato respiratório e da região do ouvidonariz-garganta Losna Artemisia absinthium Compositae RENISUS Folha e talo Tônica, estimulante, vermífuga e emenogoga, adistringente, afecções gástricas, vomitos e anemia Malva Malva sylvestris Malvaceae RENISUS raiz, folha e flor Bronquites, tosses, tumores, emoliente Mama-cadela Brosimum gaudichaudii Maracujá Passiflora alata Moraceae Folha, fruto e raiz Folha, fruto e arilo Antigripal, antioxidante, cicatrizante Sedativo, neurastenia, útil nas perturbações da menopausa Marupazinho Eleutherine plicata Melão de São Momordica Caetano charantia Iridaceae Carvalho et al., 2008 Registro Simples e RENISUS RENISUS Bulbos Diarréia, amebíase, hemorróidas Curcubitaceae RENISUS Planta inteira, frutos e sementes Febrífugo, anti-reumático, febres reumáticas, anti-hermíntico, expectorante, hipoglicemiante, antitumoral Mil Folhas Achillea millefolium Asteraceae RENISUS Folhas, flores, Sudorífero, anti hemorrágico, diminui o caules e rizoma sangramento mestrual pesado e dores associadas, desordens gastrintestinais, tromboses cerebrais e coronárias, melhora a circulação e o tônucs das veias varicosas, antimicrobiano Mirtilo Vaccinium myrtillus Ericaceae Carvalho et al., 2008 Fruto Melhora a visão dos que leem muito, melhora a circulação sanguínea nas artérias, veias e capilares, pré-diabético Mulungu Erythrina mulungu LeguminosaePapilonatae RENISUS Casca Hipnótico e sedativo, dores reumáticas, afecções hepáticas, nevralgias crónicas, útil nas bronquites, asma Olíbano Boswellia serrata Burseraceae Carvalho et al., 2008 Óleo essencial adstringente, anti-séptico, aromático, estimulante, rejuvenescedora, tônico Ortosifão Orthosiphon stamineus Papaver somniferum Bauhinia forficata Lamiaceae Folha Rico em sais minerais Folha Sedativo Febaceae Carvalho et al., 2008 Carvalho et al., 2008 RENISUS Raíz, casca, folhas e flores Hipoglicemiuante, purgativo, diurético, depurativo do sangue, redutor de cloesterol e triglicérides, anti-oxidante Febaceae RENISUS Casca Febrífugo, antidiarreico, propriedades antidiabéticos, depurativo, adstringente Asteraceae RENISUS Planta inteira Bactericida, antiviral, antifermentativo, diabetes, diurético, anti-oxidante, antiinflamatório, antiulceroso, controla acidez estomacal, estimula a digestão Papoula Pata de Vaca Pau Ferro Picão Preto Apuleia ferrea ou Caesalpinia ferrea Bidens pilosa Passifloraceae Papaveraceae René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 145 Nome Vulgar Nomenclatura Botânica Família Lista Parte Usada da planta Indicação Pimentão Capsicum annum Solanaceae Carvalho et al., 2008 Fruto Antiflogístico, rubefaciente, resolutivo; usado como estimulante estomacal, como específico contra o enjôo do mar; empregado na incontinência urinária; como anti-hemorroidal, aplicada em fricções contra o reumatismo Pinhão Roxo Jatropha gossypiifolia Euphorbiaceae RENISUS látex e sementes Hemorragia, diarréias, feridas e purgativo Pitanga Eugenia uniflora Myrtaceae RENISUS Folhas e Frutos Febres, afecções estomacais, hipertensão, obsedidade, reumatismo, bronquite, calmante, antinflamatório,atioxidante Poejo Mentha pulegium Rubiaceae RENISUS Planta inteira Carminativo e emenagogo, flatulências, dispepsias, aftas, tosses Polígala Polygala senega Polygonaceae Registro Simples Raiz Diurético, expectorante, bronquite asmática Psilium Plantago psyllium Plantaginaceae Carvalho et al., 2008 Semente Obstipação crônica, laxante suave, emoliente. Ingerido antes das refeições dá sensação de saciedade Pygeum Pygeum africanum Rosaceae Carvalho et al., 2008 Casca Enfermidades urinárias e como afrodisíaco, propriedades antiinflamatória, antiedematosa, estimulam a secreção prostática e promovem aumento da capacidade eretora. Quebra Pedra Phyllanthus niruri Euphorbiaceae RENISUS Parte aérea Afecções no trato urinário, diabetes, distúrbios prostáticos, analgésico, antiinflmatório, afecções hepáticas, coletérico, hepatoprotetor Raiz de Ouro Rhodiola rosea Crassulaceae Carvalho et al., 2008 Planta inteira Melhora desempenho mental, combate o estresse, propriedades antitumorais e cardio protetoras, combate a depressão Romã Punica granatum Punicaceae/Lyt hrceae RENISUS Casca do Fruto Antidisentérica, adstringente, antihelíntica, leucorréia, gengivites e faringites Sabugueiro Sambucus nigra Adoxaceae Registro Simples Flor Febre, bronquite, asma, emoliente, reumatismo, constipação, depurativo, expectorante Salgueiro Branco Salix alba Salicaceae Casca e Folha Previne ou reduz a febre, reumatismo, gota Salsinha = Salsa Petroselinum sativum Apiaceae/Umb eliferae Registro Simples e RENISUS RENISUS Folhas, talo e raíz Fonte de vitaminas e minerais, tratamento de próstata, afecções do fígado e baço, indigestão, flatulênia, tônico capilar, anemia, artrite, infecções microbianas, diurético e laxante Registro Simples Registro Simples Fruto Hiperplasia benigna da próstata Folha Constipação por inércia intestinal. Laxante, herpes simples, candida RENISUS Broto, caule, flor, folha, raíz, semente Fonte de fibra, proteína e minerais; osteoporose, sintomas da menopausa, disturbios gastrointestinais, hipercolesterolemia Saw palmetto Serenoa repens Arecaceae Sene = Fedegoso Cassia senna Fabaceae Soja Glycine max Fabaceae Tanaceto = Matricária Tanacetum parthenium Asteraceae/Mat Registro ricariaceae Simples Flor e talo Digestivo, emenagogo, vermífugo, insecticida Transagem Plantago major Plantaginaceae Folha e Talo Expectorante, antinflamatória, depurativa, antidiarréia René Hasenclever Consultoria Ltda. RENISUS Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 146 Nome Vulgar Nomenclatura Botânica Família Lista Parte Usada da planta Indicação Trevo Cheiroso Melilotus officinalis Leguminosae Carvalho et al., 2008 Folha e flor Traumatismo, edemas inflamatórios e congestivos, reumatismo, afecções venosas, má digestão, azia, hiper acidez estomacal, amenorréia, anúria, tosse, resfriado Trevo dos Prados Trifolium pratense Fabaceae RENISUS Flores Sedativo, depurativo do sangue, afecções resporatórias, afecções da pele, psoríase, eczema, acelera cicatrização, melhora a densidade óssea TrevoCumaru Justicia pectoralis Acanthaceae RENISUS Parte aérea Afecções respiratórias, aftas, dermatites, cortes, feridas, afecções nervosas, insônia, gastralgia Tribulus Tribulus terrestris Zygophyllaceae Carvalho et al., 2008 Folhas Combate a infertilidade, e é utilizada como agente anabólico para os atletas Trigo Triticum vulgare Poaceae Unha de Gato Uncaria tomentosa Semente Complemento nutricional Bignoniaceae Carvalho et al., 2008 RENISUS Casca de cipó Tratamento e prevenção de artrite e reumatismo, diabetes, câncer, acne, hemorróidas, tratamento de herpes e AIDS. Antioxidante Urtiga Branca Lamium album Lamiaceae RENISUS Flores Afecções genitais femininbas, regulariza o intestino nas constipações e diarréias, inflamações via urinárias, tosse, bronquite, inflamações da boca e da faringe Uva-ursi Arctostaphylus uva-ursi Ericaceae Registro Simples Folha Inflamações renais crônicas, diarréia aguada, uretrite, cistite aguda Valeriana Valeriana officinalis Valerianaceae Registro Simples Raiz e Rizoma. Taquicardia, fadiga, cefaléia, parasitoses, histeria, potente sedativo, combate a ansiedade Verônica Dalbergia subcymosa Scrophulariace ae RENISUS Parte aérea Úlcera gástria, afecções pulmonares, turbeculose, afecções gastrintestinais, litíase biliar, afecções dos rins e do trato urinário inferios, litíase renal, gota Videira Vitis vinifera Vitaceae Carvalho et al., 2008 Frutos e óleo essencial Benéfico ao coração, antiviral, antibacteriano, laxante suave, remineralizante e nutritivo Fonte: Elaboração própria a partir das listas Renisus, da Instrução Normativa n.5/2008 da ANVISA e da lista de espécies vegetais com registros de fitoterápicos simples presentes em Carvalho et al. (2008) René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 147 Anexo Questionário Questionário para a coleta de informações do CGEE que visa futura ação do Ministério da Ciência e Tecnologia de incentivo do uso da biodiversidade brasileira para a produção de fitoterápicos. Prezados Senhores, O questionário a seguir visa coletar dados para um estudo que vem se desenvolvendo pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, para subsidiar futura ação do Ministério da Ciência e Tecnologia a qual incentivará o uso da biodiversidade brasileira para a produção de fitoterápicos. Assim, gostaríamos de contar com a colaboração de sua empresa através de respostas às questões formuladas. As informações serão compiladas estatisticamente e farão parte de um relatório do CGEE. As questões são genéricas não envolvendo informação pontual ou de caráter sigiloso. O objetivo é levantar o estado da arte da indústria farmacêutica no país e avaliar a possibilidade de interações com o setor acadêmico. Muito obrigado Informações, contatos e dúvidas: - Consultor responsável: Professor Alberto Cardoso Arruda - Instituição: Universidade Federal do Pará - Contatos: [email protected] (91) 8111-2108 (91) 3201-7436 (fone/fax – Central de Extração) Questionário: As questões que não forem pertinentes, deixe em branco. Se quiser faça comentários sobre cada item no final do documento indicando o número do item. 1. Empresa: 2. CNPJ: 3. Unidade da Federação: 4. A empresa pode ser classificada como: ( )Familiar ( )Municipal ( )Estadual René Hasenclever Consultoria Ltda. ( )Nacional ( )Multinacional Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 148 5. A empresa atua no ramo farmacêutico? ( )Sim ( )Não 6. Trabalha com matéria prima vegetal? ( )Sim ( )Não 7. Tem produtos no mercado com princípios ativos de plantas? ( )Sim ( )Não - quantos? - quais? (opcional) 8. Tem interesse em trabalhar com matéria prima vegetal? ( )Sim ( )Não 9. Investe em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos? ( )Sim ( )Não 10. Percentualmente ao lucro, quanto é investido? ( ) menos de 1% ( )até 10% ( )até 20% ( )acima de 20% 11. Tem ou teve parcerias com universidades ou institutos de pesquisa? ( )Sim ( )Não 12. Tem interesse em firmar parcerias com o setor acadêmico? ( )Sim ( )Não 13. Tem dificuldades em atender as normas legais exigidas pela ANVISA? ( )Sim ( )Não 14. No caso de matéria prima vegetal, utiliza espécies botânicas originárias dos biomas brasileiros? ( )Sim ( )Não Quais biomas: ( )Mata Atlântica; ( )Cerrado; ( )Caatinga; ( )Amazônia; ( )Pantanal; ( )Pampa; 15. Utiliza espécies vegetais originárias de outros países? ( )Sim ( )Não 16. Adquire matéria prima vegetal de fornecedores nacionais? ( )Sim ( )Não 17. Adquire matéria prima vegetal de fornecedores internacionais? ( )Sim ( )Não 18. Tem dificuldades com fornecedores? ( )Sim ( )Não – quais: 19. Produz a própria matéria prima vegetal? (cultivo) René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever 149 ( )Sim ( )Não 20. Realiza controle de qualidade da matéria prima vegetal comprada ou produzida? ( )Sim ( )Não 21. Tem certificação botânica das espécies vegetais utilizadas (apoio de botânicos e herbários credenciados) ( )Sim ( )Não 22. Tem licença de acesso ao patrimônio genético nacional? ( )Sim ( )Não – este item não será divulgado por empresa somente em caráter estatístico 23. Tem dificuldade em atender as normas legais exigidas pelo CGEN? ( )Sim ( )Não - Por favor, faça comentários sobre qualquer dos itens deste questionário ou de outros assuntos relacionados ao tema fitoterápicos. Utilize quanto espaço for necessário. Obrigado por sua colaboração René Hasenclever Consultoria Ltda. Responsável Técnica: Prof. Lia Hasenclever