filosofia

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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
FILOSOFIA
Profª Rúbia
O PENSAMENTO MÍTICO
O homem pode ser identificado e caracterizado como um ser que pensa e cria explicações. Criando
explicações, cria pensamentos. Na criação do pensamento, estão presentes tanto o mito como a racionalidade, ou
seja, a base mitológica, enquanto pensamento por figuras, e a base racional, enquanto pensamento por conceitos.
Esses elementos são constituintes do processo de formação do conhecimento filosófico. Este fato não pode deixar
de ser considerado, pois é a partir dele que o homem desenvolve suas ideias, cria sistemas, elabora leis, códigos,
práticas. Compreender que o surgimento do pensamento racional, conceitual, entre os gregos, foi decisivo no
desenvolvimento da cultura da civilização ocidental é condição para que se entenda a conquista da autonomia da
razão (lógos) diante do mito. Isso marca o advento de uma etapa fundamental na história do pensamento e do
desenvolvimento de todas as concepções científicas produzidas ao longo da história humana.
O INÍCIO DA FILOSOFIA
Entre a herança que os antigos como Sófocles, Aristófanes, Hesíodo e Homero nos legaram estão os
mitos, maravilhosas narrativas sobre a origem dos tempos, que encantam, principalmente, porque fogem aos
parâmetros do modo de pensar racional que deu origem ao pensamento contemporâneo. É certo que as tradições,
os mitos, e a religiosidade respondiam a todos os questionamentos. Contudo, essas explicações não davam mais
conta de problemas, como a permanência, a mudança, a continuidade dos seres entre outras questões. Suas
respostas perderam convencimento e não respondiam aos interesses da aristocracia que se estabelecia na pólis.
Dessa forma, determinadas condições históricas, do século V e IV a.C., como o estabelecimento da vida urbana
na pólis grega, as expansões marítimas, a invenção da política e da moeda, do espaço público e da igualdade
entre os cidadãos gestaram juntamente com alguma influência oriental uma nova modalidade de pensamento. Os
gregos depuraram de tal forma o que apreenderam dos orientais, que até parece que criaram a própria cultura de
forma original. Podemos afirmar que a filosofia nasceu de um processo de superação do mito, numa busca por
explicações racionais rigorosas e metódicas, condizentes com a vida política e social dos gregos antigos, bem
como do melhoramento de alguns conhecimentos já existentes, adaptados e transformados em ciência.
Afinal, o que é polis?
Uma certa extensão territorial, nunca muito grande, continha uma cidade, onde havia o lar com o fogo
sagrado, os templos, as repartições dos magistrados principais, a Ágora, onde se efetuavam as transações; e,
habitualmente, a cidadela na acrópole. A cidade vivia do seu território e a sua economia era essencialmente
agrária. Competiam-lhe três espécies de atividade: legislativa, judiciária e administrativa. Não menores eram os
deveres para com os deuses, pois a ―pólis‖ assentava em bases religiosas e as cerimônias do culto eram ao
mesmo tempo obrigações cívicas desempenhadas pelos magistrados. A sua constituição dependia da
assembléia popular, do conselho, e dos tribunais formados pelos cidadãos.
(PEREIRA, In: GOMES & FIGUEIREDO, 1983 p. 94 - 95)
O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA E OS VALORES HUMANISTAS
Assim como os Mitos, o Teatro na Grécia Antiga possui grande relevância nos registros culturais. A forma
com que os cantos e as poesias eram admirados pelo homem grego, promovia não só momentos de diversão,
mas, sobretudo espaços de educação, pois o mais importante era se aquela mensagem ajudava o indivíduo a se
tronar um melhor cidadão.
Naquela sociedade, que vivia a transição dos valores místicos, baseados na tradição religiosa, para os
valores da polis, isto é, aqueles resultantes da formação do Estado e suas leis, o teatro cumpria um papel político
e pedagógico, à medida que punha em xeque e em choque essas duas ordens de valores e apontava novos
caminhos para a civilização grega. "Ir ao teatro", para os gregos, não era apenas uma diversão, mas uma forma
de refletir sobre o destino da própria comunidade em que se vivia, bem como sobre valores coletivos e individuais.
O teatro, ao representar situações de nossa própria vida - sejam elas engraçadas, trágicas, políticas, sentimentais,
etc. - põe o homem a nu, diante de si mesmo e de seu destino. Talvez na instantaneidade e na fugacidade do
teatro resida todo o encanto e sua magia: a cada representação, a vida humana é recontada e exaltada. O teatro
ensina, o teatro é escola. É uma forma de vida de ficção que ilumina com seus holofotes a vida real, muito além
dos palcos e dos camarins.
“Ao inspirar, por meio da ficção, certas emoções penosas ou malsãs, especialmente a piedade e o
terror, a catarse nos liberta dessas mesmas emoções”. (Aristóteles)
Indicação de leitura: O Mito de Édipo Rei, Prometeu e Medeia.
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COSMOLOGIA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
Por que a filosofia nasceu na Grécia e não em outro lugar qualquer, ou outro tempo?
A Jônia foi o berço dos primeiros filósofos, mais especificamente em Mileto. De acordo com os próprios gregos os
inauguradores do pensamento racional foram: Tales, Anaxímenes e Anaximandro. Contudo, podemos nos
perguntar sobre a existência de um pensamento filosófico ou racional entre os chineses, babilônios ou hindus,
embora houvesse alguma forma de racionalidade entre os diferentes povos antigos, ela nunca se desvencilhou da
religião local e das explicações ligadas às divindades e seres imaginários, que comumente explicava a realidade.
Os filósofos pré-socráticos preocupavam-se em explicar a origem da natureza a partir de um elemento
específico, ao qual chamamos arché. Assim, para cada um deles, o Universo teria surgido a partir de uma arché,
ou seja, a partir de elemento primordial.
Conforme o quadro abaixo, podemos identificar qual era a arché do Universo segundo cada filósofo
da natureza:
Tales de Mileto: Água
Anaxímenes: O ar
Anaximandro: O indeterminado
Heráclito: O fogo
Pitágoras: O número
Xenófanes: A terra
Parmênides: O ser
Zenão: O ser (seguindo os passos de seu mestre Parmênides)
Demócrito: O átomo
Empédocles: defendeu a existência de quatro elementos primordiais: terra, ar, água e fogo, movidos e
misturados de diferentes maneiras, em função de dois princípios universais maiores: o amor e o ódio.
CURIOSIDADE:
Tales de Mileto (640-c. 548 a.C.) é considerado, por Aristóteles, como o "primeiro filósofo", devido à sua
busca de um primeiro princípio natural que explicasse a origem de todas as coisas. Tales é tido como
fundador da escola Jônica e o Pai da Filosofia.
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Cosmologia x Cosmogonia
As cosmogonias são de certa forma, narrativas sobre as origens do mundo. Em geral elas estão
presentes nos mitos, isto quando não são a sua essência. Falam de união sexual entre deuses, que geram o
mundo, ou união sexual entre deuses e humanos, que em geral criam situações complexas e dão o enredo a
uma história que explica divisões, guerras, ciúmes, paixões, disputas sobre a justiça, etc. As cosmologias já
estão mais para o campo do pensamento filosófico do que para o pensamento mitológico.
DIFERENÇAS ENTRE FILOSOFIA E MITO
COMO O MITO NARRA A ORIGEM DO MUNDO E DE TUDO O QUE
NELE EXISTE?
1º) decorrência de relações sexuais entre forças divinas pessoais
2º) Por rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo
3º) Por recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece.
Cosmogonias: Gonia (nascimento) + Cosmos (mundo organizado) e teogonias: Gonia+ Theos (seres divinos)
―A FILOSOFIA, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as
narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação nova e diferente‖. (M. Chauí)
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA REFLEXÃO FILOSÓFICA?
a) é radical: vai a raiz de todas as coisas, busca a origem;
b) é rigorosa: possui um método, caminho;
c) é de conjunto: dialoga com as outras áreas do conhecimento, totalidade, abrangência.
ORIGEM DA FILOSOFIA:
A Filosofia nasce no berço do mundo grego como inauguração da razão que expressa a realidade. Foram fatores
relevantes para o seu surgimento na Grécia:
1. Os gregos tinham uma situação geográfica favorável;
2. Surgimento da polis (organização social);
3. A filosofia grega nasceu procurando desenvolver o logos em contraste com os mitos;
4. Ágora lugar de reuniões, reflexões;
5. Navegação e comércio.
4 - Filosofia antiga
4.1- Pré-socráticos: cosmos / physis.
4.2- Sofistas: ―o homem é a medida de todas as coisas‖ (Protágoras) a verdade é relativa.
4.3- Sócrates, Platão e Aristóteles: o homem, episteme, ética, política, lógica.
ARRASE NO ENEM
1. Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seus maridos Orgulho e raça de Atenas.
BUARQUE, C.; BOAL, A. ―Mulheres de Atenas‖. In: Meus caros amigos,1976. Disponível em:
http://letras.terra.com.br. Acesso em 4 dez. 2011 (fragmento) Os versos da composição remetem à condição
das mulheres na Grécia antiga, caracterizada, naquela época, em razão de
a) sua função pedagógica, exercida junto às crianças atenienses.
b) sua importância na consolidação da democracia, pelo casamento.
c) seu rebaixamento de status social frente aos homens.
d) seu afastamento das funções domésticas em períodos de guerra.
e) sua igualdade política em relação aos homens.
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2. As lendas sempre foram alicerces para os povos antigos. Os gregos, por exemplo, tributavam suas origens
aos heróis que protagonizam a poesia de Homero, e os romanos, aos irmãos Rômulo e Remo, filhos do deus
Marte, eternizados no relato do historiador Tito Livio.
Essas explicações lendárias:
a) Alteram ou reinventaram fatos históricos, justificando alguma condição ou ação posterior
dos homens.
b) Sempre se basearam em acontecimentos reais, com o único propósito de explicar o passado.
c) Confirmaram que as civilizações, em sua origem, não possuem vínculos com seu passado lendário,
denominado idade das trevas.
d) Afirmam uma reação inconsciente de todos os povos, que tem por fundamento o ideal religioso, desligado de
qualquer interesse político.
e) São apenas formas artísticas ou literárias independentes dos interesses políticos, por serem estéticas.
3. Segundo Marilena Chauí, ―a filosofia surge quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade,
insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas
para elas‖. (Convite a Filosofia. 4. ed., Atica, 1995, p. 23).
É legado da Filosofia grega para o Ocidente europeu:
a) A aspiração ao conhecimento verdadeiro, `a felicidade e `a justiça, indicando que a humanidade não
age caoticamente.
b) A preocupação com a continuidade entre a vida e a morte, através da pratica de embalsamamento e outros
cuidados funerários.
c) A criação da dialética, fundamentada na luta de classes, como forma de explicação sociológica da realidade
humana.
d) O nascimento das ciências humanas, implicando em conhecimentos autônomos e compartimentados.
e) A produção de uma concepção de historia linear, que tratava dos fins últimos do homem e da realização de
um projeto divino.
4.
―Entre os ‗físicos‘ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do ser. Nada existe que não seja
natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no
mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as
mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e
organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‗no começo‘ de maneira
diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num crivo
agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.‖
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110.)
Com base no texto, assinale a alternativa correta.
a) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia ―no começo‖, ou seja,
no momento original.
b) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais.
c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta
pode ser compreendida racionalmente.
d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade dos mesmos
está além da capacidade humana.
e) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem todas estas
explicações podem ser racionalmente compreendidas.
5.
―Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental
perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas
acriticamente, por força da tradição ou da ‗imposição religiosa‘, é o que mais merece ser destacado entre as
propriedades que definem a filosoficidade.‖
(OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia.Campinas: Papirus, 2000. p. 24.)
a)
b)
c)
d)
e)
Assinale a alternativa que apresenta a ―guinada de atitude‖ que o texto afirma ter sido promovida pelos
primeiros filósofos.
A aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais.
A discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas.
A busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela religião.
A confiança na tradição e na ―imposição religiosa‖ como fundamentos para o conhecimento.
A desconfiança na capacidade da razão em virtude da ―proliferação de óticas‖ conflitantes entre si.
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6. Os poemas de Homero serviram de alimento espiritual aos gregos, contribuindo de forma essencial para
aquilo que mais tarde se desenvolveria como filosofia. Em seus poemas, a harmonia, a proporção, o limite e a
medida, assim como a presença de questionamentos acerca das causas, dos princípios e do porquê das
coisas se faziam presentes, revelando depois uma constante na elaboração dos princípios metafísicos da
filosofia grega. (Adaptado de: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. v. I. Trad. Henrique C. Lima Vaz
e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994. p. 19. )
Com base no texto e nos conhecimentos acerca das características que marcaram o nascimento da filosofia
na Grécia, considere as afirmativas a seguir.
I.
A política, enquanto forma de disputa oratória, contribuiu para formar um grupo de iguais, os cidadãos,
que buscavam a verdade pela força da argumentação.
II.
O palácio real, que centralizava os poderes militar e religioso, foi substituído pela Ágora, espaço público
onde os problemas da pólis eram debatidos.
III.
A palavra, utilizada na prática religiosa e nos ditos do rei, perdeu a função ritualista de fórmula justa,
passando a ser veículo do debate e da discussão.
IV.
A expressão filosófica é tributária do caráter pragmático dos gregos, que substituíram a contemplação
desinteressada dos mitos pela técnica utilitária do pensar racional.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e III.
c) III e IV.
e) I, II e IV.
d) I, II e III.
b) II e IV.
7.
―Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio
originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é
importantíssima... podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que
se costuma chamar civilização ocidental.‖
(REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)
a)
b)
c)
d)
e)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos. De
acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles investigado.
A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.
8.
―Os antigos, ou melhor, os antiqüíssimos, (teólogos), transmitiram por tradição a nós outros seus
descendentes, na forma do mito, que os astros são Deuses e que o divino abrange toda a natureza... Costuma-se
dizer que os Deuses têm forma humana, ou se transformam em semelhantes a outros seres viventes... Porém,
pondo-se de lado tudo o mais, e conservando-se o essencial, isto é, se acreditou que as substâncias primeiras
eram Deuses, poderia pensar-se que isto foi dito por inspiração divina ...‖
(Aristóteles, Metafísica, XII, 8, 1074b, apud Mondolfo, O pensamento antigo, I, São Paulo: Mestre Jou, 1964, p.13).
Com base nesse excerto e no seu conhecimento sobre a questão da origem da filosofia, assinale o que
for correto.
01) Antes de fazerem filosofia, os gregos já indagavam sobre a origem e a formação do universo; e as
respostas a esse problema eram oferecidas sob a forma de mito, isto é, por meio de uma
narrativa alegórica que descreve a origem ou a condição de alguma coisa, reportando a um
passado imemorial.
02) Na Teogonia, Hesíodo descreve a gênese do mundo coincidindo com o nascimento dos deuses;
as forças e os domínios cósmicos não surgem como pura natureza, mas sim como divindades:
Gaia é a Terra, Urano é o Céu, Cronos é o Tempo, aparecendo ora por segregação, ora pela
intervenção de Eros, princípio que aproxima os opostos.
03) Os primeiros filósofos gregos buscaram descobrir o princípio (arché) originário de todas as
coisas, o elemento ou a substância constitutiva do universo; elaborando uma cosmologia, não
se contentavam com doutrinas divinamente inspiradas, mas tentavam compreender
racionalmente o cosmo.
04) Os gregos foram pouco originais no exercício do pensamento crítico racional; apropriaram-se das
conquistas científicas e do patrimônio cultural de civilizações orientais com mínimas alterações.
05) É tese hoje bastante aceita que o nascimento da filosofia na Grécia não foi um “milagre” realizado
por um povo privilegiado, mas a culminação de um processolento, tributário de um passado
mítico, e influenciado por transformações políticas, econômicas e sociais.
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9. A tragédia grega teve seu auge entre os séculos VI e IV a.C. É a expressão de profundas mudanças ocorridas
na ordem sociopolítica e cultural dessa época. A mitologia já não é a única forma de representação do mundo,
mas rivaliza com a concepção filosófica fundamentada na razão (lógos), e as leis de origem divina
confrontam-se com as leis escritas. A tragédia expressa os conflitos e os impasses em que se encontram não
apenas a pólis, mas também a alma (psyché) do homem grego.
Assinale o que for correto.
01) A tragédia grega criticava o povo, era uma arte elitista à qual só a aristocracia podia assistir.
02) Ésquilo, ao escrever Prometeu Acorrentado, defende que todos os homens, inclusive os escravos,
fossem libertados da obrigatoriedade do trabalho, de forma que pudessem gozar a vida no benefício
do ócio e do prazer.
03) Aristóteles, na Poética, afirma que a tragédia nasceu de formas líricas como o ditirambo, isto é,
um canto coral em louvor a Dionísio, o deus do vinho.
04) Sófocles escreveu uma tragédia intitulada Édipo Rei, que trata do patricídio e da prática do
incesto, essa tragédia é utilizada por Sigmund Freud para elaborar a teoria do complexo de
Édipo na psicanálise.
05) É uma das características da tragédia grega representar a vontade e as ações humanas tentando,
em vão, escapar ao destino que impera sobre a vida do homem.
HERÁCLITO E PARMÊNIDES
Uma questão de grande importância já aparecia entre os primeiros filósofos: a diferença entre perceber e
pensar. Por exemplo: certos elementos, como os átomos, são invisíveis aos nossos recursos sensoriais, certo?
Mas o fato de não podermos percebê-los através dos nossos sentidos não impede de conhecê-los através do
pensamento. Assim, podemos dizer que existe uma distinção entre aquilo que conhecemos por meio da
percepção e aquilo que conhecemos apenas pelo pensamento.
Heráclito e Parmênides notaram essa diferença e acreditavam que a percepção nada mais é que pura
ilusão. Mas a concordância desses dois filósofos parava por aí. Para Heráclito, a percepção dos nossos recursos
sensoriais nos dá a ilusão de que as coisas não mudam, quando, na verdade, elas estão em constante
transformação. Já Parmênides pensava de modo contrário: as coisas não mudam, mas a percepção nos dá a
ilusão de que elas estão se modificando sem parar.
No quadro abaixo você verá esse e outros pensamentos que distinguem os dois filósofos:
Apesar de contrárias, as concepções desses filósofos foram muito importantes para formar a base de
novas teorias acerca da relação existente entre o Ser e o pensamento. As proposições de Heráclito, por exemplo,
se desdobraram de maneira significativa no pensamento dialético de Hegel e de Marx.
Já os princípios filosóficos de Parmênides, em maior ou menor grau, tiveram participação no pensamento
de filósofos como Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino, além de Kant e Descartes.
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SÓCRATES
Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado um marco divisório da
história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos e os que o
sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu
pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários. O estilo de vida de Sócrates assemelhavase ao dos sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas,
conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao
pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral. O autoconhecimento
era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. ―Conhece-te a ti mesmo‖, frase inscrita no templo de Apolo,
era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.
Sócrates percebe que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância. ―Só sei que nada
sei‖ é, para Sócrates, o princípio da sabedoria, atitude em que se assume a tarefa verdadeiramente filosófica de
superar o enganoso saber baseado em ideias pré-concebidas.
Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem
ser divididos em dois momentos básicos: a ironia (do grego eironeia, perguntar fingindo ignorar) e a maiêutica (de
maieutiké, relativo ao parto). Na linguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de
zombaria. Mas não é esse o sentido de ironia socrática.
No grego, ironia quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que
pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele. Com
habilidade de raciocínio, procurava evidenciara s contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada
resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a ignorância e a presunção do saber.
A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos a confessarem suas
próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgávamos possuir certezas e clarividências. Libertos do
orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho da reconstrução das
próprias ideias.
Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas
próprias ideias. Essa fase do diálogo socrático, destinada à concepção de ideias, era chamada de maiêutica,
termo grego que significa arte de trazer à luz.
SOFISTAS
A carreira mais popular na Grécia naquela época era a habilidade na política. Assim, os sofistas
concentraram seus esforços no ensino da retórica. Os objetivos dos jovens políticos que eles treinavam eram o de
persuadir as multidões de tudo o que quisessem que elas acreditassem. A busca da verdade não era a sua
prioridade. Consequentemente os sofistas se empenhavam em providenciar um estoque de argumentos sobre
qualquer que fosse o assunto, ou ainda para provar qualquer posição. Vangloriavam-se de sua habilidade de fazer
com que o pior parecesse melhor, de provar que preto era branco. Alguns sofistas, como Górgias, garantiam que
não era necessário ter nenhum conhecimento sobre um determinado assunto para dar respostas satisfatórias em
respeito a ele. Portanto, Górgias respondia com ostentação qualquer questionamento que lhe faziam sobre
qualquer assunto. Para obter seus fins, utilizava de linguagem evasiva.
Dessa maneira, os sofistas tentavam envolver, enredar e confundir seus oponentes e até mesmo, se isso
não fosse possível, derrotá-los por força e violência. Buscavam também sobrepujar-se por intermédio de
metáforas rebuscadas, figuras de linguagem inusitadas, epigramas e paradoxos, isto é, sendo em geral mais
astutos e sagazes ao invés de sinceros e verdadeiros. Através de Platão ficamos sabendo que havia um certo
preconceito sobre o título de "sofista". Na época de Aristóteles, esse título sustenta um significado de insolência à
medida que define "sofista" como uma pessoa que faz uso da razão de maneira falsa para obter lucros.
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Protágoras é considerado como o primeiro Sofista. Outros que se destacaram foram Górgias de Leontini, Pródico
de Ceos e Hípias de Elis. Onde quer que eles aparecessem, especialmente em Atenas, eram recebidos com
entusiasmo e muitos se ajuntavam para ouvi-los.
ARRASE NO ENEM
10. Sócrates representa um marco importante da história da filosofia; enquanto a filosofia pré-socrática se
preocupava com o conhecimento da natureza (physis), Sócrates procura o conhecimento indagando
o homem.
Assinale o que for correto.
01) Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante dos seus juízes, os princípios éticos da sua
filosofia.
02) Discípulo de Sócrates, Platão utilizou, como protagonista da maior parte de seus diálogos, o seu
mestre.
03) O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutica e a ironia.
04) Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro pelos seus ensinamentos.
05) Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria, com isso, sinalizar a necessidade de
adotar uma nova atitude diante do conhecimento e apontar um novo caminho para a sabedoria.
11. Assim como a filosofia, a política nasceu na Grécia antiga e esteve relacionada ao surgimento da cidadeestado, a pólis. Os primeiros formuladores da ideia de política foram os sofistas, contra os quais se
pronunciaram Platão e Aristóteles. No âmbito das controvérsias acerca da política, é correto dizer que:
a) o caráter divino da pólis e da justiça é explicado por Platão e Aristóteles.
b) os sofistas consideram a cidade o lugar onde alguns homens impõem sua vontade sobre outros por meio
da força.
c) a "virtude" do homem não se realiza na cidade, local da oratória persuasiva e falaciosa, de acordo
com Aristóteles.
d) a justiça é entendida como concórdia entre os filósofos, os guerreiros e os produtores, que, na visão de
Platão, têm como interesse comum o bem da pólis.
e) a pólis e as suas leis são estabelecidas por convenção entre os seres humanos, segundo os sofistas.
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12. Sócrates foi considerado um dos maiores sábios da humanidade. Nada deixou escrito. Suas ideias foram
divulgadas por dois de seus discípulos, Xenofonte e Platão. O ponto de partida da filosofia socrática encontrase no fato de que:
a) A verdadeira filosofia encontra-se na physis, na natureza, cabendo ao homem buscá-la com todos os
seus esforços.
b) A verdade não está ao alcance dos seres humanos.
c) O primeiro passo em direção à verdade é o reconhecimento da ignorância.
d) A aquisição do conhecimento se dá por meio da retórica.
e) A natureza é o ponto central da sua filosofia.
13. Sócrates era um cidadão comum de Atenas, até o oráculo de Delfos indicar que ele era o homem mais sábio
de seu tempo. A partir daí, ele tomou como missão a Maiêutica, que significava a ―arte de trazer à luz‖ (―parto
das ideias‖), através de longas conversas com interlocutores de todas as classes sociais. O QUE
SIGNIFICAVA ESSA ARTE?
a) Sócrates, que também era médico, auxiliava nos partos de Atenas.
b) A luz do pensamento de Sócrates ofuscava todo o conhecimento da outra pessoa.
c) Nenhuma das anteriores está correta.
d) Através do diálogo promovido por Sócrates, a pessoa podia formular suas ideias e pensamentos.
e) A luz indicava que a pessoa não precisava se esforçar para adquirir conhecimento
14. Sócrates foi um dos mais importantes filósofos da antiguidade. Para ele, a filosofia não era um simples
conjunto de teorias, mas uma maneira de viver. Sobre o pensamento e a vida de Sócrates, assinale o que
for incorreto.
a) Sócrates acreditava que passar a vida filosofando, isto é, a examinar a si mesmo e a conduta moral
das pessoas.
b) Nas conversações que mantinha nos lugares públicos da Atenas do século V a.C., Sócrates repetia nada
saber para, assim, não responder às questões que formulava e motivar seus interlocutores a darem conta de
suas opiniões.
c) Em polêmica com Aristóteles, para quem a cidade nasce de um acordo ou de um contrato social,
Sócrates escreveu a República, na qual demonstra ser o homem um animal político.
d) O exercício da filosofia, para Sócrates, consistia em questionar e em investigar a natureza dos princípios e
dos valores que devem governar a vida. Assim se comportando, Sócrates contraiu inimizades de poderosos
que o executaram sob a acusação de impiedade e de corromper a juventude.
e) A maiêutica socrática é a arte de trazer à luz, por meio de perguntas e de respostas, a verdade ou os
conhecimentos mais importantes à vida que cada pessoa retém em sua alma.
15.
a)
b)
c)
d)
e)
Os sofistas, diante da pluralidade e do antagonismo das filosofias anteriores, concluíram que a verdade:
Pode ser conhecida, mas devemos afastar as ilusões.
Pode ser alcançada com uma purificação intelectual
Pode ser obtida com uma purificação intuitiva.
É uma questão de opinião
É o conhecimento que nossos sentidos nos oferecem
16. (UFU) De acordo com o pensamento do filósofo Parmênides de Eléia, marque a alternativa correta.
a) A identidade é uma característica inerente ao domínio da opinião, uma vez que a pluralidade das opiniões é o
que atesta a identidade de cada indivíduo.
b) Segundo Parmênides, um mesmo homem não pode entrar duas vezes em um mesmo rio, posto que a
mutabilidade do mundo impede que o mesmo evento se repita.
c) Uma das leis lógicas, presente no pensamento de Parmênides, é o princípio de identidade, segundo o qual
todas as coisas podem ser e não ser ao mesmo tempo.
d) O caminho da verdade é também a via da identidade e da não contradição. Nesse sentido, somente o
Ser – por ser imóvel e idêntico – pode ser pensado e dito.
17. (UFU) Leia atentamente o seguinte verso do fragmento atribuído a Parmênides. ―Assim ou totalmente é
necessário ser ou não.‖ SIMPLÍCIO, Física, 114, 29, Os Pré- Socráticos. Coleção Os Pensadores. São Paulo:
Abril Cultural, 2000, p. 123. A partir do fragmento apresentado, escolha a alternativa que representa
corretamente o princípio parmenediano da verdade.
a) O Ser é e o Não-Ser é Não-Ser. Ambos podem ser pensados e afirmados, pois é possível pensar e dizer
falsidades e o que não existe.
b) Somente o Ser é, pode ser pensado e afirmado. O Ser coincide com o pensamento e com a verdade. O
Não-Ser não é e não pode nem ser pensado, nem exprimido.
c) O Ser é (existe) necessariamente na Natureza, mas pode não existir no pensamento, enquanto não é
pensado. A relação entre o Ser e o pensamento não é necessária.
d) O caminho da verdade é a via da opinião, que comporta ao mesmo tempo o Ser e o Não-Ser. Afirmar
totalmente o Ser e o Não-Ser implica a opinião verdadeira.
9
2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
18. (UFU) Heráclito nasceu na cidade de Éfeso, região da Jônia, e viveu aproximadamente entre 540 e 480 a.C.
Ficou conhecido como ―o obscuro‖, porque seus escritos eram, em geral, aforismos, isto é, frases enigmáticas
que condensam a idéia transmitida. Dentre suas idéias mais destacadas está a do ―eterno devir‖. A partir
dessas informações, marque a alternativa que descreve corretamente o significado de ―eterno devir‖.
a) O princípio de que tudo é água ou o elemento úmido.
b) A permanência do ser.
c) Transformação incessante das coisas.
d) O Mundo das Ideias.
19. (UFU 2010 - adaptada) Em um importante trecho da sua obra Metafísica, Aristóteles se refere a Sócrates nos
seguintes termos: ―Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua totalidade, mas
buscava o universal no âmbito daquelas questões, tendo sido o primeiro a fixar a atenção nas definições.‖
(Aristóteles, Metafísica, A6, 987b 1-3, trad. Marcelo Perine, São Paulo: Loyola, 2002.)
Com base na Filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, assinale a alternativa correta:
a) O método utilizado por Sócrates consistia em um exercício dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor
do erro e do preconceito – com o prévio reconhecimento da própria ignorância – , e levá-lo a formular
conceitos de validade universal (definições).
b) Sócrates era, na verdade, um filósofo da natureza. Para ele, a investigação filosófica é a busca pela ―Arché‖,
pelo princípio supremo do Cosmos. Por isso, o método socrático era idêntico aos utilizados pelos filósofos que
o antecederam (Pré-socráticos).
c) O método socrático era empregado simplesmente para ridicularizar os homens, colocando-os diante da
própria ignorância. Para Sócrates, conceitos universais são inatingíveis para o homem; por isso, para ele, as
definições são sempre relativas e subjetivas, algo que confirmou com a máxima ―O Homem é a medida de
todas as coisas‖.
d) Sócrates desejava melhorar os seus concidadãos por meio da investigação filosófica. Para ele, isso implica
não buscar ―o que é‖, mas aperfeiçoar ―o que parece ser‖. Por isso, diz o filósofo, o fundamento da vida moral
é, em última instância, o egoísmo, ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado momento de
sua existência.
e) Aristóteles como um continuador das ideias de Sócrates e Platão, principalmente das ideias ligadas ao
âmbito do conhecimento, assemelhava-se e reconhecia-se na afirmação de que o que é verdadeiro é
universal, portanto, um conceito, a definição de um objeto deve dar-se de forma universal, e o que tem
de mais universal no mundo de que o homem tem acesso é a razão.
20. Qual a diferença que existe no pensamento de Heráclito e Parmênides e como isso influenciaria hoje?
a) Heráclito acredita que o principio de tudo é a água e Parmênides o ar, sendo assim, damos mais importância
hoje a água que o ar para a vida do ser humano, demonstrando como o pensamento de He-ráclito foi
escolhido como o mais importante até os tempos de hoje.
b) Parmênides acredita que o principio de tudo é a água e Heráclito o ar, sendo assim, damos mais importância
hoje a água que o ar para a vida do ser humano, demonstrando como o pensamento de Parmênides foi
escolhido como o mais importante até os tempos de hoje.
c) Parmênides pensa que tudo o que existe, existe e sempre existiu como é, enquanto que Heráclito acredita que tudo flui, tudo muda, assim sendo, o pensamento de Parmênides instaura uma certa comodidade nas pessoas, e o de Heráclito incita as lutas por mudança social, por exemplo.
d) Heráclito pensa que tudo o que existe, existe e sempre existiu como é, enquanto que Parmênides acredita que
tudo flui, tudo muda, assim sendo, o pensamento de Heráclito instaura uma certa como-didade nas pessoas, e
o de Parmênides incita as lu-tas por mudança social, por exemplo.
PLATÃO
Platão (427 – 347 a. C.) foi o maior discípulo de Sócrates, e era um homem de família aristocrática e
influente na política. Como todo jovem ateniense, era um entusiasta do regime democrático até conhecer seu
mestre aos vinte anos de idade. Sob influência de Sócrates passou a ser também crítico do regime, e depois de
sua morte deixou de acreditar na possibilidade de uma vida justa e feliz.
Deixou Atenas para fazer uma longa viagem, quando voltou e fundou a Academia, onde pôde desenvolver suas
teorias e repassá-las a seus vários discípulos. Na busca de um conhecimento verdadeiro, buscou um meio de
contornar o beco sem saída deixado por Heráclito e Parmênides. Grande parte de suas ideias estão escritas em
sua mais famosa obra, a República.
METAFÍSICA
O constante devir que Heráclito afirmava ser a realidade foi chamado de mundo sensível (material) por
Platão. Esse mundo captado pelos sentidos, a causa de nossos erros e ilusões, era uma cópia imperfeita do
mundo das ideias (inteligível), que
correspondia à permanência de Parmênides, um mundo captado apenas pelo pensamento, e, portanto, perfeito.
10
2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
Tudo que existe nesse mundo material é porque tem sua ideia no mundo superior. Apesar da
multiplicidade com que ela possa aparecer no mundo sensível, a ideia é uma só, indestrutível e eterna. Segundo
Platão, apesar de existirem diferentes tipos de cavalo, a ideia de cavalo é uma só. Quando pensamos em cavalo,
pensamos a ideia e não determinado cavalo.
Mas como foi que aconteceu essa cópia? Platão nos diz que
foi um demiurgo (construtor) que plasmou do mundo das ideias esse
mundo imperfeito.
Tudo que existe nesse mundo em que vivemos, já existe no
mundo superior das ideias. Seguindo esse raciocínio, a pólis deveria
ser organizada de acordo com a pólis ideal, para que seus cidadãos
pudessem viver de acordo com o supremo bem e a justiça. Mas como
fazer isso? Como conhecer esse mundo ideal e verdadeiro para viver
de acordo com o que é bom e justo nesse mundo de erros, se eu
estou nesse segundo e tudo que percebo vem dele?
Platão afirma que somente pela dialética é possível alcançar gradativamente o que é verdadeiro, e passar
das ilusões ao real. Importante deixar claro que a dialética Platônica é o que a etimologia da palavra sugere um
diálogo crítico em busca da verdade que se passa do senso comum ao conhecimento verdadeiro.
Ele explica essa passagem do falso ao real pela alegoria do mito da caverna, ilustrada na figura abaixo.
Aqueles caras deitados no chão nasceram e cresceram ali, e a única coisa que eles viam eram aquelas
sombras. Por nunca terem visto outra coisa, eles julgavam que aquelas sombras eram os objetos verdadeiros. Só
que um dia, um deles consegue se soltar e sair da caverna. Lá fora, ele não consegue enxergar nada porque é
quase cegado pela luz do sol. Aos poucos ele vai conseguindo ver as coisas e se dá conta que aquilo que viam na
caverna eram apenas as sombras, que eles tomavam por verdadeiro aquilo que era falso. Depois, ele volta para
alertar os outros de sua condição, mesmo sabendo que eles podem não acreditar no que ele estava dizendo.
Alguns dizem que ele está louco e outros decidem acompanhá-lo.
Política Platão não via a democracia como um bom regime, foi a democracia que matou o mais sábio dos
homens. E foi a democracia que levou Atenas à guerra e à ruía. Como é que pessoas não instruídas sobre valores
como o bem comum, amizade, virtudes, justiça, podem governar? Já imaginou dar poder de governar àqueles
caras acorrentados na caverna que só veem sombras? Seria um desastre. Como de fato foi. Por isso que ele
defende que quem deve governar a cidade são os filósofos, aqueles que saíram da caverna (mundo sensível) e
conheceram a realidade (mundo das ideias). Só eles possuem as virtudes e o conhecimento necessário (as
ideias) para dar à pólis uma estrutura bem ordenada de forma que o bem e a justiça possam reger as relações
entre seus cidadãos. Esses filósofos não pertenceriam a classe social alguma. Em, A República, ele apresenta um
processo de educação , sendo que todos participam, independente da classe social e do sexo. Isso mesmo,
Platão defendia que as mulheres poderiam ser educadas para participar da vida pública.
ARISTÓTELES
Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos
assuntos, como física, metafísica, poesia, teatro, música, lógica, retórica, governo, ética, biologia e zoologia.
Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como uma das figuras mais
importantes, e um dos fundadores, da filosofia ocidental.
11
2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
O PENSAMENTO ARISTOTÉLICO
A tradição representa um elemento vital para a compreensão da filosofia aristotélica. Em certo sentido,
Aristóteles via o próprio pensamento como o ponto culminante do processo desencadeado por Tales de Mileto. A
filosofia pretendia não apenas rever como também corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores. Ao
mesmo tempo, trilhou novos caminhos para fundamentar as críticas, revisões e novas proposições. Aluno de
Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental da filosofia. Platão concebia dois mundos existentes:
aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo abstrato -, o das ideias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material.
Aristóteles, ao contrário, defende a existência de um único mundo: este em que vivemos. O que está além de
nossa experiência sensível não pode ser nada para nós.
LÓGICA
Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma introdução para as ciências e para o conhecimento e
baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente estruturado que supõe certas premissas colocadas
previamente para que haja uma conclusão necessária. O silogismo é dedutivo, parte do universal para o particular;
a indução, ao contrário, parte do particular para o universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a
conclusão, logicamente, também será.
METAFÍSICA
O termo "Metafísica" não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles
de filosofia primeira. Esta é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas que
possuem fácil e imediata apreensão sensorial. O conceito de metafísica em Aristóteles é extremamente complexo
e não há uma definição única. O filósofo deu quatro definições para metafísica:
A ciência que indaga e reflete acerca dos princípios e primeiras causas;
A ciência que indaga o ente enquanto aquilo que o constitui, enquanto o ser do ente; A ciência que investiga
as substâncias;
A ciência que investiga a substância supra-sensível, ou seja, que excede o que é percebido através da
materialidade e da experiência sensível.
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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
QUATRO CAUSAS.
Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo:
1. A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);
2. A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);
3. A causa eficiente (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem
trabalha a argila);
4. A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).
ESSÊNCIA E ACIDENTE
A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual
aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele mesmo.
O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza-se o ser
por sua falta.
POTÊNCIA, ATO E MOVIMENTO.
Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência).
Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato).
A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica como Bem. Esse Ato não é nada
em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de
coisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "Ato Puro".
Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai
sempre da potência ao ato, da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um
ser em potência enquanto está em potência. O ato é ,portanto, a realização da potência, e essa realização pode
ocorrer através da ação (gerada pela potência ativa) e perfeição (gerada pela potência passiva).
ÉTICA
No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que se ocupa com
assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas
daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes
e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquista da felicidade.
POLÍTICA
Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a
unidade do que Aristóteles chamava de filosofia prática. Se a ética está preocupada com a felicidade individual do
homem, a política se preocupa com a felicidade coletiva da Pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e
descobrir quais são as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se,
portanto, de investigar a constituição do estado. Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política
originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre, o Grande.
ARRASE NO ENEM
21. Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se desprezar
as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles, nenhum homem honesto pode ignorar
que uma outra atitude intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em razões e evidências e
questionar tudo o mais a fim de descobrir seu sentido último. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da
filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002. Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do
pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado importante aspecto filosófico de ambos os autores que, em
linhas gerais, refere-se à
a) adoção da experiência do senso comum como critério de verdade.
b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante de evidências empíricas.
c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade.
d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se pensar a verdade.
e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente.
13
2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
22. Quanto à deliberação, deliberam as pessoas sobre tudo? São todas as coisas objetos de possíveis
deliberações? Ou será a deliberação impossível no que tange a algumas coisas? Ninguém delibera sobre
coisas eternas e imutáveis, tais como a ordem do universo; tampouco sobre coisas mutáveis, como os
fenômenos dos solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas pode ser produzida por nossa ação.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007. (adaptado). O conceito de deliberação tratado
por Aristóteles é importante para entender a dimensão da responsabilidade humana. A partir do texto,
considera-se que é possível ao homem deliberar sobre
a) coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre os acontecimentos da natureza.
b) ações humanas, ciente da influência e da determinação dos astros sobre as mesmas.
c) fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob seu controle.
d) fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte dela.
e) coisas eternas, já que ele é por essência um ser religioso.
23.
―Sócrates: Imaginemos que existam pessoas morando numa caverna. Pela entrada dessa caverna entra a luz
vinda de uma fogueira situada sobre uma pequena elevação que existe na frente dela. Os seus habitantes estão lá
dentro desde a infância, algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de modo que não conseguem moverse nem olhar para trás, e só podem ver o que ocorre à sua frente. (...) Naquela situação, você acha que os
habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos outros, consigam ver outra coisa além das sombras que o
fogo projeta na parede ao fundo da caverna?‖.
(PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo Perine]. São Paulo: Editora Scipione, 2002. p. 83).
Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele representa, assinale o que for correto.
01) No mito da caverna, Platão pretende descrever os primórdios da existência humana, relatando como
eram a vida e a organização social dos homens no princípio de seu processo evolutivo, quando habitavam
em cavernas.
02) O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, isto é, realidade e aparência, que
marca o pensamento filosófico desde sua origem e que é assumido por Platão em sua famosa teoria
das Idéias.
03) O mito da caverna simboliza o processo de emancipação espiritual que o exercício da filosofia é
capaz de promover, libertando o indivíduo das sombras da ignorância e dos preconceitos.
04) É uma característica essencial da filosofia de Platão a distinção entre mundo inteligível e mundo
sensível; o primeiro ocupado pelas Idéias perfeitas, o segundo pelos objetos físicos, que participam
daquelas Idéias ou são suas cópias imperfeitas.
05) No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla a realidade fora da caverna, devendo
voltar à caverna para libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na concepção platônica,
conhecedor do Bem e da Verdade, é o mais apto a governar a cidade.
24. (Uncisal 2012) No contexto da Filosofia Clássica, Platão e Aristóteles possuem lugar de destaque. Suas
concepções, que se opõem, mas não se excluem, são amplamente estudadas e debatidas devido à influência
que exerceram, e ainda exercem, sobre o pensamento ocidental. Todavia é necessário salientar que o produto
dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e
que influenciou, direta ou indiretamente, entre outros, os racionalistas, empiristas, Kant e Hegel. Observando o
cerne da filosofia de Platão, assinale nas opções abaixo aquela que se identifica corretamente com
suas concepções.
a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível X mundo inteligível) se opõe radicalmente as concepções de caráter
empírico defendidas por Platão.
b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo e pragmatismo, afastando-se do misticismo e de conceitos
transcendentais. c) Segundo Platão a verdade é obtida a partir da observação das coisas, por meio da
valorização do conhecimento sensível.
c) Para Platão, a realidade material e o conhecimento sensível são ilusórios.
d) As concepções platônicas negam veementemente a validade do Inatismo.
25. (Uncisal 2011) Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer
perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o diálogo, Sócrates
colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de
sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de corromper a juventude,
desobedecer às leis da cidade e desrespeitar certos valores religiosos. Considerando essas informações
sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que
sua filosofia
a) transmitia conhecimentos de natureza científica.
b) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade.
c) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população ateniense.
d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão. e) procurava
transmitir às pessoas conhecimentos de natureza mitológica.
14
2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
ESCOLAS DO HELENISMO
O helenismo refere-se ao conhecimento filosófico produzido
entre a morte do Alexandre e o início da filosofia medieval.
Principal característica do helenismo: fusão entre a tradição
grega e a cultura oriental. Disseminação do pensamento grego pela
região da Síria, Egito, Babilônia, dentre outras.
O ESTOICISMO, de Zenão de Cítio (263 a.C) – os representantes desta
escola, conhecidos como estóicos, defendiam uma atitude de completa
austeridade física e moral, baseada na resistência do homem ante os
sofrimentos e os males do mundo. Seu ideal de vida, designado pelo
termo grego apathéia (que costuma ser mal traduzido por "apatia"), era alcançar uma serenidade diante dos
acontecimentos fundada na aceitação da "lei universal do cosmos", que rege toda a vida;
O EPICURISMO, de Epicuro (324-271 a.C) – propunha a ideia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida.
No entanto, distinguia, entre os prazeres, aqueles que são duradouros e aqueles que acarretam dores e
sofrimentos, pois o prazer estaria vinculado a uma conduta virtuosa. Para Epicuro, o supremo prazer seria de
natureza intelectual e obtido mediante o domínio das paixões. Os epicuristas procuravam a ataraxia, termo grego
que usavam para designar o estado em que não havia dor, de quietude, serenidade, imperturbabilidade da alma.
O epicurismo, posteriormente, serviu de base ao hedonismo, filosofia que também defende a busca do prazer,
mas que não diferencia os tipos de prazeres, tal como faz Epicuro;
O CETICISMO (pirronismo), de Pirro de Élida (365-275 a.C) - segundo suas teorias, nenhum conhecimento é
seguro, tudo é incerto. O pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o
imediato captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena, pois
seria impossível ao homem saber se as coisas são efetivamente como aparecem. Assim, o pirronismo é
considerado uma forma de ceticismo, que professa a impossibilidade do conhecimento, da obtenção da
verdade absoluta;
O CINISMO - o termo cinismo vem do grego kynos, que significa "cão", e designa a corrente dos filósofos que se
propuseram a viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a
filosofia de Sócrates, segundo a qual o homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens
materiais. Por isso Diógenes, o pensador mais destacado dessa escola, é conhecido como o ―Sócrates demente‖,
ou o ―Sócrates louco‖, pois questionava os valores e as tradições sociais e procurava viver estritamente conforme
os princípios que considerava moralmente corretos. Sãos inúmeras as histórias e acontecimentos na vida desse
filósofo que o tornaram uma figura instigante da história da filosofia.
ARRASE NO ENEM
26. (UEM – Inverno 2008) O Período Helenístico inicia-se com a conquista macedônica das cidades-Estado
gregas. As correntes filosóficas desse período surgem como tentativas de remediar os sofrimentos da
condição humana individual: o epicurismo ensinando que o prazer é o sentido da vida; o estoicismo instruindo
a suportar com a mesma firmeza de caráter os acontecimentos bons ou maus; o ceticismo de Pirro orientando
a suspender os julgamentos sobre os fenômenos.
Sobre essas correntes filosóficas, assinale o que for correto.
01) Os estóicos, acreditando na idéia de um cosmo harmonioso governado por uma razão universal,
afirmaram que virtuoso e feliz é o homem que vive de acordo com a natureza e a razão.
02) Conforme a moral estóica, nossos juízos e paixões dependem de nós, e a importância das coisas
provém da opinião que delas temos.
03) Para o epicurismo, a felicidade é o prazer, mas o verdadeiro prazer é aquele proporcionado pela
ausência de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.
04) Para Epicuro, não se deve temer a morte, porque nada é para nós enquanto vivemos e, quando ela
nos sobrevém, somos nós que deixamos de ser.
05) O ceticismo de Pirro sustentou que, porque todas as opiniões são igualmente válidas e nossas
sensações não são verdadeiras nem falsas, nada se deve afirmar com certeza absoluta, e da
suspensão do juízo advém a paz e a tranqüilidade da alma.
15
2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
27. (2014) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem
naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos
não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou
parecem geradores de dano. EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V.F. Textos de
filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974. No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim
a) alcançar o prazer moderado e a felicidade.
b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.
d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.
e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.
28. Observe as afirmações sobre ceticismo e assinale a alternativa correta.
a) O ceticismo é sempre ingênuo, pois colocar tudo em dúvida e suspender as certezas já implica uma certeza:
duvidamos e, por isso, existimos.
b) O ceticismo afirma que não podemos ter conhecimento sobre a natureza e que só uma psicologia empírica
poderia explicar o conhecimento, sobretudo, a partir da noção de hábito.
c) Toda forma de ceticismo se constitui como uma luta contra posições ideológicas e dogmáticas.
d) O ceticismo é indubitavelmente um traço mais marcante da filosofia, por não acreditar em nenhuma forma de
conhecimento segura.
e) Toda forma de ceticismo se constitui como corrente a favor de posições ideológicas e dogmáticas.
29. O Carpe Diem, o ócio, o cultivo da alma, são características dessa escola que se preocupa com a vida
humana bem vivida, longe das perturbações da política e das atitudes viciosas, proclamando uma ―retirada‖ do
exterior para dentro de si:
a) Epicurismo
c) Pirronismo
e) Orfismo
b) Estoicismo
d) Cinismo
30. No livro ―A arte de viver: uma nova interpretação de Sharon Lebell‖ busca-se resgatar os pensamentos do
filósofo Epicteto.
Sabemos que Epicteto viveu grande parte de sua vida como escravo em Roma por volta do século I d.C., mas
nem em sua condição de escravo ele deixou de filosofar e representar a escola à qual o seu pensamento
está ligado.
Vejamos abaixo um trecho do livro escrito em aforismos:
HARMONIZE SUAS AÇÕES COM A MANEIRA COMO A VIDA É:
(...) Comporte-se, em todas as questões, grandes e públicas, pequenas e domésticas, de acordo com as leis
da natureza. Harmonizar sua vontade com a natureza deveria ser o seu maior ideal. Onde você pode praticar esse
ideal? Nos detalhes de sua vida diária, com suas tarefas e deveres pessoais e específicos. Quando você realizar
essas tarefas, tais como tomar banho, por exemplo, faça-o tanto quanto lhe for possível, faça-o em harmonia com
a natureza. E assim por diante.
O que fazemos é menos importante do que a maneira como o fazemos. Quando compreendemos realmente
este princípio e vivemos de acordo com ele, embora as dificuldades continuem a surgir – já que também são parte
da ordem divina – , ainda assim será possível ter paz interior.” (EPICTETO, 2006, p.18)
Diante do trecho lido, onde podemos identificar um apelo moral à conformar a vida particular à ordem da
natureza, é possível dizermos que Epicteto pertenceu à escola:
a) Cínica
c) Epicurista
e) Platônica
b) Estóica
d) Pirrônica
FILOSOFIA MEDIEVAL
Durante a Idade Média a Igreja, grande detentora do poder ideológico, explicava através da fé todos os
fenômenos e acontecimentos. Na grande maioria das vezes estes eram castigos divinos ou milagres, verdades
inquestionáveis escritas na Bíblia. O bom homem na Idade Média era aquele que não questionava a submissão a
Deus, aceitava todas essas verdades e por elas, se preciso fosse, lutaria e morreria bravamente.
Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1227-1274) foram, respectivamente, os maiores
pensadores da Patrística e da Escolástica. Santo Agostinho valeu-se da filosofia de Platão, enquanto Santo
Tomás de Aquino da de Aristóteles. Com isso, cada qual, em sua época, pode influenciar não só a religião católica
como muitos pensadores cristãos que lhes sucederam.
Tanto Santo Agostinho como Santo Tomás de Aquino afirmam que Deus, sendo eterno, transcendente,
todo bondade e todo sabedoria, criou a matéria do nada e, depois, tudo o que existe no universo. Para Santo
Agostinho, as idéias ou formas estavam no Espírito de Deus (Teoria da Iluminaçao). Santo Tomás de Aquino
acrescenta a noção dos universais em seus raciocínios. Dizia que Deus é a causa da matéria e dos universais.
Além disso, Deus está continuamente criando o mundo ao unir universais e matéria para produzir novos objetos.
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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
Nenhum deles colocava em dúvida a imortalidade da alma. Santo Agostinho dizia que alma e corpo são
distintos, mas não soube explicar como a alma se liga ao corpo. De acordo com Santo Tomás, a alma humana —
princípio imaterial, espiritual e vital do corpo — foi criada por Deus. Acreditava que a alma espiritual é agregada ao
corpo por ocasião do nascimento, e continua a existir depois da morte do corpo, formando, pois, por si mesma, um
novo corpo, um corpo espiritual, por meio do qual atua por toda a eternidade.
Em suas teorias, reportam ao "desprezo do mundo". Contudo, Santo Agostinho mostra-se incapaz de
decidir entre o mundo e desprezo por ele. A despeito dessa dúvida, apega-se firmemente à idéia de que a Igreja,
como a encarnação mundana da cidade de Deus, deve ter supremacia sobre o Estado. Santo Tomás de Aquino,
da mesma forma que Aristóteles, doutrinava que o homem é naturalmente um ser político e procura estar em
sociedade. Este homem deve tributar lealdade à Igreja e a Deus, mas tem, também, que obedecer ao Estado
porquanto este, por sua vez, recebeu o seu poder da Igreja.
Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho demonstra
claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e
compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito
equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando
necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia
utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada
na revelação.
A obra As Confissões se destaca como uma das principais obras de Agostinho. Nela, ele explora extensamente os
estados interiores da mente humana e a relação mútua existente entre a graça e a liberdade, que são temas
dominantes na história da filosofia e da teologia ocidentais.
Sua finalidade original deve ter sido a de descrever a conversão de Agostinho do maniqueísmo ao cristianismo
católico, tendo em conta as acusações donatistas de que ele seguia sendo um maniqueu disfarçado.
Maniqueísmo: Foi uma doutrina dualista, que dividia o mundo em bem (Deus) e mal
( Diabo). A junção do
reino das trevas com o reino da luz teria gerado o mundo material, que por consequência é mal. Caberia aos
homens, se salvarem buscando o caminho da luz.
O LIVRE-ARBÍTRIO
Na concepção agostiniana, "O Livre - arbítrio" é um Dom de Deus, concedido às criaturas racionais que as
permite agir livremente de acordo com a sua vontade. É o uso consciente da liberdade. Esse Dom de Deus é
guiado pela vontade destas criaturas, que pela razão o usarão, devidamente, proporcionando o bem e pela paixão
o tornará causador do mal, pois estarão privando-o e sua privação consiste no mal; já que ele é o bem. Mas como
pode um bem concedido por Deus, que por sua vez é o Bem Supremo e criador de tudo o que existe no mundo,
ser causa do mal?
O livre arbítrio torna-se causa do mal, por meio daqueles que o receberam, pois estes não o usaram
devidamente, ou seja, privaram-no. Logo, se o mal é a privação do bem, e o livre arbítrio sendo um bem, sua
privação é causa do mal; é o mal.
SANTO AGOSTINHO
A CIDADE DOS HOMENS E A CIDADE DE DEUS
A fundação das duas cidades está ligada aos dois amores, um ligado ao amor a si próprio e ao desprezo a
Deus, e outro ao amor a Deus e desprezo a si próprio.
A Cidade de Deus é a cidade perfeita e imortal apontada, por Agostinho, como a verdadeira cidade que
um cristão deveria buscar para a morada eterna.
A cidade terrestre, que ele denomina de Cidade dos homens, é marcada pelo pecado original, perecível,
concupiscível e submetida às paixões humanas.
A filosofia de Tomás de Aquino (1226-1274) – o tomismo – parece ter nascido com objetivos bem claros:
não contrariar a fé. De fato, sua finalidade era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender
as revelações do cristianismo. Assim, Tomás de Aquino reviveu em grande parte o pensamento aristotélico em
busca de argumentos que explicassem os principais aspectos da fé cristã. Enfim, fez da filosofia de Aristóteles um
instrumento a serviço da religião católica, ao mesmo tempo em que transformou essa filosofia numa
síntese original.
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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
SÃO TOMÁS DE AQUINO
AS CINCO CAUSAS
A prova da existência de Deus é demonstrada por Tomás de Aquino através de cinco vias:
1. Via do movimento/primeiro motor: causa-efeito; Deus como primeiro motor.
2. Via da causa eficiente: Se existem efeitos no mundo, é preciso que exista uma causa eficiente primeira,
sendo ela Deus.
3. Via do contingente e do necessário: as coisas poderiam ser ou não ser/existir ou não existir, é preciso
uma causa primeira (Deus).
4. Via dos graus de perfeição: a existência de um ser máximo, e todos os seres presentes no mundo em
diferentes graus de perfeição.
5. Via do governo das coisas/da finalidade ser: um ser inteligente que governa, coordena e atribui as
devidas finalidades aos demais.
ARRASE NO ENEM
31. Assim como os primeiros padres da Igreja, Santo Agostinho é herdeiro da filosofia de Platão, a qual buscou
adaptar à fé cristã. É correto afirmar que para o bispo de Hipona:
a) a razão (logos) inspiradora dos filósofos pagãos não fora a mesma que se revelouemCristo.
b) a sabedoria perfeita e acabada só se daria através da revelação divina.
c) a fé não deve preceder a razão, embora essa seja inútil sem aquela.
d) a verdade é extrínseca ao homem, que possui uma natureza corrompida.
e) as ideias existem num mundo à parte da mente divina.
32. Principal expoente da filosofia escolástica medieval, São Tomás de Aquino retomou o problema mais
importante da Patrística, a conciliação entre fé e razão. Em sua "Suma teológica", procurou dar provas
racionais da existência de Deus com base em Aristóteles. São Tomás de Aquino converge com o filósofo
grego ao:
a) perceber o corpo como obstáculo à atividade da alma.
b) adotar o raciocínio lógico-dedutivo.
c) considerar o homem inapto a viver em sociedade, dada sua malignidade natural e espontânea.
d) negar a felicidade terrena como fim a ser atingido por todos os homens.
e) conceber o universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam os inferiores.
33. (2011) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e
sobre o espaço geográfico, através de pesquisa científica e da invenção tecnológica, os cientistas também
iriam se atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a
expressão e o sentimento. SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984. O texto apresenta
um espírito de época que afetou também a produção artística, marcada pela constante relação entre
a) fé e misticismo.
c) cultura e comércio.
e) astronomia e religião.
b) ciência e arte.
d) política e economia.
34. (UFU – 2009) Segundo o texto abaixo, de Agostinho de Hipona (354-430 d. C.), Deus cria todas as coisas a
partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões seminais, como
também são chamadas, não existem em um mundo à parte, independentes de Deus, mas residem na própria
mente do Criador, [...] a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas as coisas, conhecia aquelas
primeiras, divinas, imutáveis e eternas razões de todas as coisas, antes de serem criadas [...]. Sobre o
Gênese, V Considerando as informações acima, é correto afirmar que se pode perceber:
a) que Agostinho modifica certas ideias do cristianismo a fim de que este seja concordante com a filosofia de
Platão, que ele considerava a verdadeira.
b) uma crítica radical à filosofia platônica, pois esta é contraditória com a fé cristã.
c) a influência da filosofia platônica sobre Agostinho, mas esta é modificada a fim de concordar com
a doutrina cristã.
d) uma crítica violenta de Agostinho contra a filosofia em geral.
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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
35. (UFU – 2009) A filosofia grega se expandiu para além das fronteiras do mundo helênico e influenciou outros
povos e culturas. Com o cristianismo não foi diferente e, aos poucos, a filosofia foi absorvida. Conforme
Chalita, um dos motivos dessa absorção foi: [...] a necessidade de organizar os ensinamentos cristãos, de
reunir os fatos e conceitos do cristianismo sob a forma de uma doutrina e elaborar uma teologia rigorosa.
(CHALITA, G. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática, 2006, p. 94.) Uma das características da patrística é a
busca da conciliação entre a fé e a filosofia, e Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho (354 d.C. – 430 d.C.),
influenciado pelo neoplatonismo, tornou-se uma referência para a filosofia cristã. Em relação ao
desenvolvimento das ciências naturais, porém, o pensamento de Agostinho não deu grande impulso uma vez
que sua filosofia – tal como a do mestre Platão – não adotava os fenômenos naturais como objeto de reflexão.
Com base nos textos acima e em seus conhecimentos sobre a obra de Agostinho de Hipona, assinale a
alternativa INCORRETA.
a) Agostinho de Hipona criou a doutrina da iluminação divina baseado na teoria da reminiscência de Platão,
conciliando de modo original a fé cristã e o pensamento filosófico.
b) A observação, a experimentação e a aplicação dos princípios da geometria sobre os fenômenos
naturais foi uma das principais características da filosofia de Santo Agostinho.
c) Conforme Agostinho de Hipona, a filosofia grega é um instrumento útil para a fé cristã.
d) As verdades eternas e imutáveis, que têm sua sede em Deus, só podem ser alcançadas pela
iluminação divina
36. (UFU – 2008) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês: foi
nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximálo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas
últimas resistências (de tornar-se cristão). PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In:
CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p. 77. Apesar de ter
sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho
apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão. Assinale a alternativa que apresenta,
corretamente, uma dessas diferenças.
a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a
verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.
b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para Agostinho não
existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos.
c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma
do corpo.
d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias que ela
contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina,
a centelha de Deus que existe em cada um.
37. (Faap) A doutrina de Platão influenciou os primeiros filósofos medievais, Santo Agostinho, bispo de Hipona
(354 a 430) e Boécio (480 a 524), autores de "Confissões" e "Consolação da Filosofia", respectivamente. Mas
a Filosofia que predominou na Idade Média foi a:
c) Escolástica
a) Sofística
e) Fenomenológica
b) Epicurista
d) Existencialista
FILOSOFIA MODERNA
FILOSOFIA DE DESCARTES
A Idade Moderna é marcada por uma série de transformações tanto na área cultural, religiosa, política e
social quanto na área econômica. Tais transformações possibilitaram um novo modo do homem europeu conceber
o mundo. O Período Moderno da história do pensamento filosófico marca uma reviravolta, tanto na maneira de se
produzir o conhecimento e as técnicas, quanto na maneira de as nações se organizarem comercial e socialmente.
René Descartes (1596 – 1650) é ―o‖ filósofo da modernidade. Ele sintetiza o espírito do seu tempo e problematiza
o que será discutido a partir dele. Ele nasceu na França e estudou no melhor colégio daquele país, que
obviamente era jesuíta e onde se ensinava a doutrina escolástica aristotélico-tomista, é claro.
A MISSÃO DE DESCARTES
Insatisfeito com os conhecimento ultrapassados que recebeu e que ainda eram ensinados nas instituições
de ensinos oficiais, conhecimentos desconexos, sem um princípio unificador, sem sistematicidade, ele decide
viajar para conhecer o que o mundo tinha a ensinar. Em uma das noites de sua viajem, sonhou que deveria erigir
um novo conhecimento, sistemático, lógico, e totalmente fundamentado na razão, portanto, universal. Foi então
que decidiu se fixar em um lugar para mergulhar nos estudos. Queria ficar em Paris, mas a vida agitada, e o medo
das perseguições da Igreja fez com que ele se mudasse para um lugar onde houvesse tolerância de pensamento,
e parte, então, para a Holanda. Descartes tinha o projeto de abarcar a totalidade do conhecimento e organizá-lo
de forma sistemática, a começar por princípios seguros sobre os quais todas as áreas pudessem partir, de modo
que se pudesse chegar a conhecimentos complexos progredindo dos simples, tal como uma equação matemática.
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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
A DÚVIDA METÓDICA
Desse modo, para decompor seu pensamento no intuito de chegar ao primeiro princípio verdadeiro, claro
e distinto, Descartes se utiliza da dúvida metódica, que é o processo de duvidar de tudo, das coisas mais simples
que me chegaram pelos sentidos até as evidências matemáticas. E para duvidar da matemática Descartes usa o
artifício do gênio maligno, que segundo ele é um deus enganador que nos faz acreditar que estamos certo quando
dizemos que dois mais dois são quatro, quando na verdade estamos errados e o resultado talvez seja outro.
COGITO, ERGO SUM
Dessa forma, ao duvidar de tudo, não posso ter certeza de nada. Mas desse processo, pode-se tirar um
certeza, que nem mesmo a dúvida metódica pode me fazer duvidar. É a certeza de que se eu duvido. E se eu
duvido, eu penso, e se penso, eu existo.
Descartes encontrou o primeiro princípio fundador de sua filosofia: ―penso, logo existo‖. O problema agora
é partir desse princípio para saber se as coisas existem e como podemos conhecê-las. E esse não é um problema
simples. Ele toma consciência que duvida, que pensa, que existe, mas esse existir é como pensamento puro,
como uma coisa pensante (res cogitam), uma substância pensante, e não como o indivíduo Descartes, com um
corpo, com essa cabeleira que parece uma peruca e com esse bigodinho ridículo. Como ele vai provar
logicamente, como ele vai deduzir a existência do mundo, incluindo seu próprio corpo, a partir dessa única certeza
que tem de que existe, mas somente como substância pensante? Ele sabe que não pode ser a causa das coisas,
então como elas existem?
A EXISTÊNCIA DE DEUS E DO MUNDO
A única ideia que ele tem que não depende dele é a de que existe um ser perfeito, que é Deus. Ele chega
a essa conclusão porque ele sozinho, como ser imperfeito, não poderia ter a ideia de perfeição, pois o perfeito não
pode vir do imperfeito, mas o contrário. E ainda, sendo ele imperfeito, não poderia conceber essa ideia, portanto,
ele já foi criado com ela, ou seja, ela é uma ideia inata. A existência de Deus é a segunda certeza no fundamento
do conhecimento verdadeiro empreendido por Descartes. Daí que se existe esse ser perfeito, ele não pode ser
enganador, então, o mundo realmente existe. As ideias que tenho do mundo sempre estiveram em minha mente,
pois foram colocadas por Deus. Mas se esse mundo exterior chega ao pensamento por meio de ideias, e eu como
ser imperfeito que sou, posso me enganar quanto a elas, cabe ao próprio pensamento descobrir quais dessas
ideias são claras e distintas, ou seja, verdadeiras.
ARRASE NO ENEM
38. René Descartes é considerado o mestre do racionalismo, corrente filosófica moderna que atribui à razão
humana a capacidade exclusiva de conhecer e estabelecer a verdade. É correto dizer que o
racionalismo cartesiano:
a) utiliza o método indutivo a posteriori.
b) admite parte dos saberes já existentes e consagrados.
c) recusa todo tipo de premissa, por mais evidente e lógico que possa parecer.
d) está fundado na intuição intelectual.
e) nega a capacidade humana de discernir por completo o certo do errado, o verdadeiro do falso, dada a
falibilidade natural à espécie.
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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
39. (2014) É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo
o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma
gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por
essa mesma dúvida. SILVA, F.L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001
(adaptado). Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter
positivo por contribuir para o(a)
d) surgimento do conhecimento inabalável.
a) dissolução do saber científico.
b) recuperação dos antigos juízos.
e) fortalecimento dos preconceitos religiosos.
c) exaltação do pensamento clássico
40. (2013)
TEXTO I
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões
como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão
mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as
opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme
e inabalável.
DESCARTES, R. Meditacoes concernentes a Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
TEXTO II
É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o
espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela
própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa
mesma dúvida.
SILVA, F.L. Descartes. a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
a)
b)
c)
d)
e)
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do
conhecimento, deve-se
retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.
questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.
investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.
buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.
41. (2012)
TEXTO I
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar
inteiramente em quem já nos enganou uma vez.
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
TEXTO II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum
significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível
atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação
sobre o entendimento.
São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
a)
b)
c)
d)
e)
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos
excertos permite assumir que Descartes e Hume
defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.
entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.
concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.
atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.
42. René Descartes, francês nascido em 1596 e morto em 1650, notabilizou-se sobretudo por seu trabalho
revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão
da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva
o seu nome. Ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica.
Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é
conside-rado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou
contempo-râneos e várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi
uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que
a partir de Descartes inaugurou-se o:
a) Racionalismo da Idade Moderna.
c) Cientificismo do Renascimento.
e) Ceticismo.
b) Empirismo da Idade Moderna.
d) Naturalismo.
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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
EMPIRISMO
Os defensores do empirismo afirmam que a razão, a verdade e as ideias racionais são adquiridos por nós
através da experiência.
Antes da experiência, dizem eles, nossa razão é como uma ―folha em branco‖, onde nada foi escrito; uma
―tábula rasa‖, onde nada foi gravado, como uma cera sem forma e sem nada impresso nela, até que a experiência
venha escrever na folha, gravar na tábula, dar forma à cera.

Maior representante é John Locke.

Emperia / experiência.

―Nada vem à mente sem antes ter passado pela experiência‖
JOHN LOCKE
A obra que trata sobre a capacidade de conhecermos é Ensaios acerca do entendimento humano, onde
defende o empirismo afirmando que ao contrário do que dizia Descartes, não temos ideias inatas, nosso
conhecimento é adquirido por meio dos sentidos através da experiência. Seu objetivo nessa obra é investigar, não
o que conhecemos, mas o que, como, e os limites do processo de conhecer. Sua preocupação é em saber como a
mente funciona. Segundo ele, a mente do ser humano ao nascer é como um folha de papel em branco/tábula
rasa, onde vão sendo impressos conhecimentos/ideias ao longo da vida, que nos chegam por meio dos sentidos.
―Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel branco desprovido de todos os caracteres,
sem quaisquer ideias; como ela será suprida?
De onde lhe provem este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com
uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os matérias da razão e do conhecimento?
A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado e dela
deriva fundamentalmente o próprio conhecimento.‖ (Ensaio sobre o entendimento humano. Livro II, cap. I, sec. 2).
Esse conhecimento nos chega através de uma experiência sensível imediata/sensação e é processado
internamente por meio da reflexão. Adquirimos ideias simples pelos sentidos e elaboramos as complexas através
da reflexão. Mas por entender que a matemática é um conhecimento válido em termos lógicos, Locke não pode
ser considerado um empirista radical.
HUME
Hume é um empirista radical, para ele, não existe conhecimento que não tenha sido adquirido pelos sentidos.
Não existem ideias inatas, todas elas vão se formando em nossa mente desde quando nascemos e durante toda a
nossa experiência de vida. Na experiência reside a fonte de nosso conhecimento. E como fazer para verificar se o
que pensamos saber é falsa ou verdadeira?
Segundo ele, o que existe em nossa mente são percepções, que são de dois tipos:
1. impressões, que são percepções fortes. Quando queimamos pela primeira vez a ponta do dedo em algo
quente, temos a percepção do calor e da dor. Quando isso acontece novamente, não temos mais a
percepção, por que ela já está em nossa mente, o que temos é uma impressão, que é o sentir a
percepção novamente.
2. ideias/pensamentos, que são percepções mais fracas. São as lembranças que temos das percepções.
Quando lembramos do dedo queimando, temos apenas uma ideia (percepção mais fraca) do que aconteceu,
mas não sentimos novamente a dor e o calor. Nossas ideias, portanto, são apenas cópias das impressões.
De posse disso, podemos agora perceber quando uma ideia é verdadeira ou falsa. Somente as
verdadeiras tem origem na experiência. E para saber quais delas se originam na experiência temos que decompor
as ideias complexas até chegarmos às simples, se essas tiverem por base a experiência, são verdadeiras, e se da
sua união surgir uma ideia complexa que também tem por base a experiência, então, ela também é verdadeira.
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2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
Imaginemos um pégaso, ele é um cavalo com asas. Temos a ideia de cavalo unida a ideia de asas. As
duas ideias provêm de percepções reais, pois cavalo e asa existem, todos já vimos na realidade. Mas quando
essas ideias se juntam, não há qualquer correspondente disso no mundo empírico, real. Portanto, só podemos
concluir que pégaso é uma ideia falsa. Esse processo de decomposição é importante porque nossa mente pode
nos enganar com seus truques que a razão não pode controlar. Por isso que um conhecimento, proveniente
somente da razão não pode ser confiável, ele deve ter a experiência como base de verificação.
ARRASE NO ENEM
43.
―Tudo o que sabemos existir nos é dado pelas sensações e percepções, portanto, pela experiência. Visto
que a experiência nos mostra e nos dá a conhecer apenas as coisas particulares e singulares, somente elas
existem. Por conseguinte, as ideias gerais ou universais não correspondem a realidades ou a essências
existentes, mas são nomes que instituímos por convenção para organizar nosso pensamento e nossos discursos.‖
(CHAUÍ, 2010, p. 50).
Esta afirmação representa o pensamento:
a) De Platão.
c) Do Racionalismo em geral.
d) Do Empirismo em geral.
b) De Descartes.
e) Dos filósofos modernos.
44. Jhon Locke escreve no seu ―Ensaio sobre o Entendimento Humano‖:
“Visto que o entendimento situa o homem acima dos outros seres sensíveis e dá-lhe toda vantagem e todo
domínio que tem sobre eles, seu estudo consiste certamente num tópico que, por sua nobreza, é merecedor de
nosso trabalho de investigá-lo. O entendimento, como o olho, que nos faz ver e perceber todas as outras coisas,
não se observa a si mesmo; requer arte e esforço situá-lo a distância e fazê-lo seu próprio objeto.”
O que queria dizer?
a) Que o ser humano é mais importante que os outros seres, pois é óbvio a sua possibilidade de
mudança e de adaptação da natureza para sua vida.
b) Que todo homem deve ser encarado como nobre, diferente do que acreditava a classe da nobreza dos
Estados Modernos, que eram profundamente segregadores e tinham receio do povo subir ao poder.
c) Que é preciso estudar o pensamento, porém para isso é preciso um método rígido e preciso por ser difícil usar
o pensamento para pensar o próprio. Iniciando assim a Teoria do Conhecimento.
d) Que, assim como Aristóteles, o conhecimento deveria partir da sensibilidade, tendo assim um ―passo-a-passo‖
para se chegar ao conhecimento verdadeiro sobre as coisas.
e) Que o entendimento é o olho que vê o que acontece ao redor no mundo e em si, sendo, portanto, muito
complicado enxergar tudo de maneira universal.
23
2016 – APOSTILA DE FILOSOFIA
"Se fosse adequado incomodá-lo com a história deste Ensaio, deveria dizer-lhe que cinco ou seis amigos
reunidos em meu quarto, e discorrendo acerca de assunto bem remoto do presente, ficaram perplexos, devido às
dificuldades que surgiram de todos os lados. Após termos por certo tempo nos confundido, sem nos aproximarmos
de nenhuma solução acerca das dúvidas que nos tinham deixado perplexos, surgiu em meus pensamentos que
seguimos o caminho errado, e, antes de nós nos iniciarmos em pesquisas desta natureza, seria necessário
examinar nossas próprias habilidades e averiguar quais objetos são e quais não são adequados para serem
tratados por nossos entendimentos."
(John Locke. Ensaio acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999)
45. A qual corrente filosófica pertenceu John Locke?
a) Empirismo.
c) Estoicismo.
b) Metafísica.
d) Existencialismo.
e) Teoria crítica.
46. (Ufsj 2012) Ao investigar as origens das ideias, diversos filósofos fizeram interferências importantes no
pensamento filosófico da humanidade. Dentre eles, destaca-se o pensamento de John Locke. Assinale a
alternativa que expressa as origens das ideias para John Locke.
a) ―Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência […] mas embora todo o nosso
conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele pode ser atribuído a esta, mas à imaginação
e à ideia.‖
b) ―O que sou eu? Uma substância que pensa. O que é uma substância que pensa? É uma coisa que duvida,
que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que sente, uma ideia em
movimento.
c) ―Quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre
descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias de uma sensação ou sentimento anterior,
calcado nas paixões.‖
d) “Afirmo que essas duas, a saber, as coisas materiais externas, como objeto da sensação, e as
operações de nossas próprias mentes, como objeto da reflexão, são, a meu ver, os únicos dados
originais dos quais as ideias derivam.”
47. (UEL) Leia o texto a seguir: Certamente, temos aqui ao menos uma proposição bem inteligível, senão uma
verdade, quando afirmamos que, depois da conjunção constante de dois objetos, por exemplo, calor e chama,
peso e solidez, unicamente o costume nos determina a esperar um devido ao aparecimento do outro. Parece
que esta hipótese é a única que explica a dificuldade que temos de, em mil casos, tirar uma conclusão que
não somos capazes de tirar de um só caso, que não discrepa em nenhum aspecto dos outros. A razão não é
capaz de semelhante variação. As conclusões tiradas por ela, ao considerar um círculo, são as mesmas que
formaria examinando todos os círculos do universo. Mas ninguém, tendo visto somente um corpo se mover
depois de ter sido impulsionado por outro, poderia inferir que todos os demais corpos se moveriam depois de
receberem impulso igual. Portanto, todas as inferências tiradas da experiência são efeitos do costume e não
do raciocínio. (HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. tradução de Anoar Aiex. São Paulo:
Nova Cultural, 1999. pp. 61-62.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de David
Hume, é correto afirmar:
a) A razão, para Hume, é incapaz de demonstrar proposições matemáticas, como, por exemplo, uma proposição
da geometria acerca de um círculo.
b) Hume defende que todo tipo de conhecimento, matemático ou experimental, é obtido mediante o uso da
razão, e pode ser justificado com base nas operações do raciocínio.
c) É necessário examinar um grande número de círculos, de acordo com Hume, para se poder concluir, por
exemplo, que a área de um círculo qualquer é igual a ð multiplicado pelo quadrado do raio desse círculo.
d) Hume pode ser classificado como um filósofo cético, no sentido de que ele defende a impossibilidade de se
obter qualquer tipo de conhecimento com base na razão.
e) Segundo Hume, somente o costume, e não a razão, pode ser apontado como sendo o responsável
pelas conclusões acerca da relação de causa e efeito, às quais as pessoas chegam com base
na experiência.
IMMANUEL KANT
Responde à questão de como é possível o conhecimento afirmando o papel constitutivo de mundo pelo
sujeito transcendental, isto é, o sujeito que possui as condições de possibilidade da experiência. O que equivale a
responder: "o conhecimento é possível porque o homem possui faculdades que o tornam possível". Com isso, o
filósofo passa a investigar a razão e seus limites, ao invés de investigar como deve ser o mundo para que se
possa conhecê-lo, como a filosofia havia feito até então.
Mas quais são exatamente, segundo Kant, estas faculdades ou formas a priori no homem que o permitem
conhecer a realidade ou, em outros termos, o que são essas tais condições de possibilidade da experiência? Em
Kant, há duas principais fontes de conhecimento no sujeito:
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A sensibilidade, por meio da qual os objetos são dados na intuição.
O entendimento, por meio do qual os objetos são pensados nos conceitos.
Kant define sensibilidade como o modo receptivo - passivo - pelo qual somos afetados pelos objetos, e
intuição, a maneira direta de nos referirmos aos objetos. Funciona assim: tenho uma multiplicidade de sensações
dos objetos do mundo, como cor, cheiro, calor, textura, etc. Estas sensações são o que podemos chamar de
matéria do fenômeno, ou seja, o conteúdo da experiência. Mas para que todas estas impressões tenham algum
sentido e entrem no campo do cognoscível (daquilo que se pode conhecer), elas precisam, em primeiro lugar,
serem colocadas em formas a priori da intuição, que são o espaço e o tempo.
Estas formas puras da intuição surgem antes de qualquer representação mental do objeto; antes que se
possa pensar a palavra "cadeira", a cadeira deve ser apresentada, recebida, na forma a priori do espaço e do
tempo. Este é o primeiro passo para que se possa conhecer algo.
Assim, apreendemos daqui duas coisas: primeiro, o conhecimento só é possível se os objetos da
experiência forem dados no espaço e no tempo; e, segundo, espaço e tempo são propriedades subjetivas, isto é,
atributos do sujeito e não do mundo (da coisa-em-si). Espaço é a forma do sentido externo; e tempo, do sentido
interno. Isto é, os objetos externos se apresentam em uma forma espacial; e os internos, em uma forma temporal.
Como Kant prova isso? Pense em uma cadeira em um espaço qualquer, por exemplo, em uma sala de
aula vazia. Agora, mentalmente, retire esta cadeira da sala de aula. O que sobra? O espaço vazio. Agora tente
fazer o contrário, retirar o espaço vazio e deixar só a cadeira. Não dá, a menos que sua cadeira fique flutuando em
uma dimensão extraterrena.
E o tempo? Ele é minha percepção interna. Só posso conceber a existência de um "eu" estando em
relação a um passado e a um futuro. Só concebemos as coisas no tempo, em um antes, um agora e um depois.
Voltemos ao exercício mental anterior: podemos eliminar a cadeira do tempo - ela foi destruída, não existe mais.
Porém, não posso eliminar o tempo da cadeira - eu sempre a penso em uma duração, antes ou depois.
A conclusão é de que é impossível conhecer os objetos externos sem ordená-los em uma forma espacial e de que nossa percepção interna destes mesmos objetos fica impossível sem uma forma temporal. Além disso,
espaço e tempo preexistem como faculdades do sujeito - e, portanto, são a priori e universais - quando
eliminamos os objetos da experiência. Por isso, segundo Kant, espaço e tempo são atributos do sujeito e
condições de possibilidade de qualquer experiência.
Chegamos, portanto, a uma síntese que Kant faz entre racionalismo e empirismo. Sem o conteúdo da
experiência, dados na intuição, os pensamentos são vazios de mundo (racionalismo); por outro lado, sem os
conceitos, eles não têm nenhum sentido para nós (empirismo). Ou, nas palavras de Kant: "Sem sensibilidade
nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são
vazios, intuições sem conceitos são cegas."
Considerações finais É um lugar-comum dizer que Kant é um divisor de águas na filosofia, mas é
verdade. O sistema kantiano foi contestado pelos filósofos posteriores. No entanto, suas teorias estão na raiz das
principais correntes da filosofia moderna, da fenomenologia e existencialismo à filosofia analítica e pragmatismo.
Por esta razão, sua leitura é obrigatória para quem se interessa pela história do pensamento moderno.
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ARRASE NO ENEM
48. (2012) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade
é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio
culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão
e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio
entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão
grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha,
continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é
esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento,
fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido
empregado por Kant, representa:
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.
b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas.
c) a imposição de verdades matemáticas, como caráter objetivo, de forma heterônoma.
d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento.
e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão
49. (2012) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas
para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento malogravam-se com esse
pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica,
admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura.
Lisboa: Calouste-Guibenkian, 1994 (adaptado). O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido
como revolução copernicana da filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que
a) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento.
b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo.
c) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica.
d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos.
e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant.
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50. Kant, embora alemão, tendo vivido no século XVIII foi um grande entusiasta da Revolução Francesa. Ele
procurou não só unir, mas, sobretudo ultrapassar, no sentido de responder aos anseios deixados pelos limites
das correntes que propunham o estudo do pensamento humano, o Racionalismo de Descartes e Leibniz e o
Empirismo de John Locke. Kant procurou uma saída tanto para o Racionalismo extremado que afirmava que o
conhecimento sobre as coisas seria puramente de ordem racional, como para o Empirismo, onde afirmava
que as experiências são o caminho para o conhecimento. Nesta saída Kant propunha:
a) Tanto o Racionalismo como o Empirismo estavam equivocados e era preciso criar uma nova forma de
entender como se constrói o conhecimento, esta nova forma seria o da Razão Pura Prática.
b) Tanto o Racionalismo como o Empirismo tinham sua parcela de verdade, o primeiro no que dizia que o
conhecimento é racional, e o segundo, no que dizia que o conhecimento é experiencial, porém para
Kant haveria estruturas prévias no sujeito, estruturas cognitivas a priori, que só se completavam com
a experiência, a posteriori.
c) Kant propunha o Idealismo Transcendental, que consiste na negação da realidade física a favor da realidade
do pensamento puro prático, aproximando assim as duas correntes citadas.
d) Kant na verdade não conseguiu afirmar uma outra saída para o impasse entre Racionalismo e Empirismo.
e) Kant encontra a resposta para o impasse na afirmação do Imperativo Categórico, que tinha a Boa Vontade
como primeiro princípio de toda ação, portanto, tanto Descartes quanto Locke estavam corretos.
51. Segundo Kant, em seu texto ―Resposta à Pergunta: O que é o Esclarecimento?‖, diz que a saída do homem
de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado significa:
a) A capacidade de guiar-se por si mesmo após completar 18 anos.
b) O Esclarecimento
c) A Iluminação
d) O pleno desenvolvimento da Razão.
52. (UFF-2010) Immanuel Kant, além da Filosofia, dedicou-se também às questões científicas, tendo sido pioneiro
na afirmação de que as ―nebulosas‖ não são apenas gases, mas conglomerados de estrelas. Sua tese de
1755 sobre a formação do Sistema Solar antecipou ideias semelhantes às do francês Laplace. A chamada
―hipótese de Kant-Laplace‖ explica o surgimento do Sol e dos planetas a partir de uma ―nebulosa primitiva‖,
em movimento de rotação constante e cujos gases aos poucos se acumulam no centro, adensando-se e
gerando o Sol, enquanto ao redor desse criam-se núcleos de matéria concentrada, dando nascimento aos
planetas. Embora essa concepção já tenha sido superada, ela foi importante para o desenvolvimento das
teorias cosmogônicas contemporâneas, inclusive a mais famosa, a do bigbang. 3) Marque a opção que melhor
exprime a relevância das teorias cosmogônicas de Kant e de Laplace.
a) É possível conceber a origem e a evolução do Universo por meio da razão e dos
conhecimentos científicos.
b) A busca do conhecimento é uma tarefa inglória, pois há sempre uma teoria nova se sobrepondo à atual.
c) Como o ser humano não estava presente na origem do mundo, ele não pode ter qualquer conhecimento do
que então aconteceu.
d) O conhecimento sobre a origem do Universo e as causas dos fenômenos naturais de nada serve para o ser
humano e é pura vaidade.
e) Só podemos conhecer aquilo que experimentamos diretamente.
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