R COLECÇÃO LINGUÍSTICA 4 MARIA JOÃO BROA MARTINS MARÇALO FUNDAMENTOS PARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕES APLICADA AO PORTUGUÊS CENTRO DE ESTUDOS EM LETRAS 4 UNIVERSIDADE DE ÉVORA MARIA JOÃO BROA MARTINS MARÇALO FUNDAMENTOS PARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕES APLICADA AO PORTUGUÊS R PREFÁCIO CARLOS ASSUNÇÃO É V O R A - M M I X FUNDAMENTOS PARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕES APLICADA AO PORTUGUÊS MARIA JOÃO BROA M A RT I N S MARÇALO FUNDAMENTOS PARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕES APLICADA AO PORTUGUÊS COLECÇÃO LINGUÍSTICA 4 CENTRO DE ESTUDOS EM LETRAS UNIVERSIDADE DE ÉVORA É V O R A • M M I X Título: Colecção: Autora: Prefácio Fundamentos para uma gramática de funções aplicada ao Português LINGUÍSTICA 4 Maria João Broa Martins Marçalo Carlos Assunção Edição: Centro de Estudos em Letras Universidade de Évora Depósito Legal: ISBN: Data de saída: Tiragem: Execução Gráfica: 296792/09 978-972-99292-1-2 Julho de 2009 200 exemplares arbosa & Xavier, Lda. - Artes Gráficas B Rua Gabriel Pereira de Castro, 31-A e C 4700-285 BRAGA Tel. 253 618 263 / 253 263 063 • Fax 253 615 230 e-mail: [email protected] Edição apoiada pela Prefácio Dando continuidade ao seu programa de publicações, o Centro de Estudos em Letras, das Universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro e de Évora e do Instituto Superior da Maia, deliberou aceitar a publicação «Fundamentos para uma Gramática de Funções Aplicada ao Português», da Doutora Maria João Martins Marçalo, membro efectivo do referido centro de investigação. Trata-se da sua tese doutoral apresentada à Universidade de Évora, sob a orientação de Salvador Gutiérrez Ordoñez. Tanto na introdução como nos capítulos em que a obra está estruturada dá a Doutora Maria João Marçalo provas claras de conhecimentos da sintaxe funcional de Alarcos através da leitura atenta e rigorosa das obras de Gutiérrez, uma vez que a autora aplica o método funcionalista à sintaxe portuguesa baseando-se nas propostas linguísticas defendidas pelo Académico da Real Academia Española, Salvador Gutiérrez Ordoñez, ao longo de décadas de trabalho de investigação e muitas publicações sem esquecer de que na base desses trabalhos do ilustre académico espanhol está a teoria sintáctica funcionalista de Emilio Alarcos. Como sabemos, as influências de Alarcos e de Martinet, em Portugal, já estão também patentes nas obras de Jorge Morais Barbosa, fundador do chamado funcionalismo português, que por sua vez influenciou as obras de Maria Joana de Almeida Vieira dos Santos e de Isabel Maria do Poço Lopes Pinto, entre outras. A obra, que agora se publica, de Maria João Marçalo, professora auxiliar do Departamento de Linguística e Literaturas da Universidade de Évora, é sem dúvida aquela que melhor consegue analisar os trabalhos da gramática funcionalista iniciada, em Espanha, pelo Professor Emilio Alarcos e continuada por Salvador Gutiérrez Ordoñez. 7 O aparato apresentado pela Doutora Maria João Marçalo, ao testar e aplicar a gramática de funções ao Português, resulta numa obra que marcará a influência do funcionalismo ibérico no Português e por isso mesmo é credora de merecidos encómios pelo seu trabalho inovador, metódico, pleno de rigor e que traz novos contributos para o estudo da sintaxe portuguesa. Parafraseando Secundino Vigón Artos no estudo «Influências do funcionalismo alarquiano em Portugal», em Península, Revista de Estudos Ibéricos, n.º 4, 2007, muitas das questões abordadas pela Doutora Maria João Marçalo não são novas, bem pelo contrário, são questões que sempre interessaram à linguística, mas a novidade advém do facto de a mesma se revelar para o português como uma teoria científica coerente, sistemática, regida por critérios de rigor e simplicidade, dando uma visão de explicação do objecto língua sumamente adequada e de inegável valor descritivo e explicativo que, tendo já demonstrado os seus frutos na aplicação ao espanhol poderá mostrar-se igualmente rica e produtiva como postulado teórico para uma descrição pertinente do instrumento de comunicação que é o português. Certamente que os assuntos tratados nesta obra, ensejam a discussão entre os académicos, o que é de louvar, dado que da sua leitura motivos não faltam para tal. A autora faculta a toda a academia uma lufada de ar fresco nos estudos da sintaxe portuguesa, ultimamente dominados pelo generativismo. UTAD, 6 de Julho de 2009. Carlos Assunção 8 ILLE VOS DOCEBIT OMNIA Nota à presente edição Esta publicação retoma o texto apresentado em provas públicas de doutoramento em Linguística, na Universidade de Évora, em 18 de Março de 2005. Por entendermos que o essencial do texto mantém a sua actualidade e pertinência, apenas se acrescentaram à Bibliografia Geral alguns títulos do campo da Linguística Funcional que têm ultimamente vindo a lume. Agradecemos ao CEL - Centro de Estudos em Letras UTAD/ UE, nas pessoas do seu Ex.mo Sr. Director, o Professor Doutor Carlos Assunção, e da Ex.ma Sr.ª Professora Doutora Elisa Esteves, a possibilidade que agora nos dá de publicar este trabalho, colocando-o ao dispor de um público mais alargado. A Autora 11 Abreviaturas e sinais usados FV: frase verbal ou oração N: núcleo NFV: núcleo da frase verbal ou oração SV: sintagma verbal SN: sintagma nominal Sadj: sintagma adjectival Sadv: sintagma adverbial S: sujeito CD: complemento directo CI: complemento indirecto CC: complemento circunstancial ou aditamento Sup:suplemento ( corresponde ao tradicionalmente designado complemento de regência preposicional) E: enunciado EL: enunciado linguístico EP: enunciado pragmático ATR: atributo CN: complemento de nome CADJ: complemento de adjectivo CADV: complemento de advérbio CCL: complemento circunstancial de lugar CCM: complemento circunstancial de meio CCT: complemento circunstancial de tempo 13 CCF: complemento circunstancial de fim CCC: complemento circunstancial de causa CCCo: complemento circunstancial de concessão CCCd: complemento circunstancial de condição CCMa: complemento circunstancial de matéria CCAg: complemento circunstancial de agente ED (ou ed.): estilo directo EI (ou ei.): estilo indirecto VE: verbo enunciativo VdE: verbo de enunciado T: tema ou base TR: transpositor TOP: tópicos CVE: complemento de verbo enunciativo MO: modificador oracional Sinais usados na visualização sintáctica < > :Insere-se entre ângulos o transpositor que efectua transposição a categoria adjectival [ ] :Insere-se entre parêntesis rectos o transpositor que efectua transposição a categoria nominal / / Transposição a categoria adverbial O elemento à direita da seta determina ou subordina-se ao que fica à esquerda da mesma A seta de dupla ponta indica relação de coordenação, e a unidade de relação, se a houver, será indicada entre parêntesis No extremo de um ângulo situam-se os elementos interdependentes 14 À minha filha, sonho impossível tornado realidade Agradecimentos Em primeiro lugar, agradeço ao orientador deste trabalho, o professor Doutor Salvador Gutiérrez Ordóñez. Sem o seu rigor, acutilante espírito crítico e disponibilidade para me orientar e incentivar ao longo de vários anos, sempre, mesmo quando as dúvidas de percurso ou o desânimo me assaltavam, esta tese não teria sido concluída. Quis o meu percurso académico e peregrinação intelectual que usufruísse dos ensinamentos pessoais de vários mestres antes de começar a trabalhar sob orientação do Professor Salvador Gutiérrez. Cumpre destacar o saudoso Professor Manuel Saraiva Barreto, com quem partilhei as aulas de Fonologia e Morfologia do Português e de Teoria da Linguagem, nesta minha Universidade de Évora e cumpre-me também destacar os seminários de Bernard Pottier, na Sorbonne, os ensinamentos de Eugenio Coseriu, em várias universidades de Espanha, os seminários de Henriette Walter, na École Pratique des Hautes Études, e ainda os de Fernand Bentolila e de Christos Clairis na Université René Descartes, também na Sorbonne. Mas honra-me, sobretudo, dar lugar cimeiro a linguistas insignes como André Martinet e Jorge Morais Barbosa, pela constância da amizade e rigor do saber que sempre me transmitiram. Devo ao grande difusor e impulsionador do funcionalismo em Portugal, o Doutor Jorge Morais Barbosa, a honra de ter conhecido pessoalmente André Martinet 1, no Colóquio da Sociedade Internacional de Linguística Funcional realizado em Praga, em 1991. 1 Da amizade e dos ensinamentos de André Martinet, continuei a usufruir, privilegiadamente, visitando-o por diversas vezes e a sua esposa, Jeanne Martinet, em Fontenay-aux-Roses. Aí o escutava, e em vivos diálogos, procurava apreender o seu raciocínio límpido e sempre brilhante. Gostaria de dedicar este trabalho ao inesquecível Mestre que para mim foi André Martinet, mas, consciente das muitas imperfeições de que padece este texto, não me atreverei a tal. 17 Creio que não deve haver trabalho intelectual sem risco, risco de dizer coisas novas, risco de pôr em causa os Mestres, risco de não acertar, risco de duvidar, risco de querer perceber, repensar e criticar até o próprio paradigma teórico em que nos movimentamos e no qual existimos cientificamente. Esta quis ser uma tese arriscada. Ao pedir orientação a Salvador Gutiérrez Ordóñez correu-se o risco de confrontar a teoria com o seu teorizador, sabendo, de antemão, que nem sempre o estudo da obra de autores vivos é bem visto nos meios académicos. Não obstante, em boa hora, vencidas as barreiras do espaço geográfico, foi solicitada orientação para o meu projecto de doutoramento. Sempre a liberdade intelectual, o apreço e respeito pelas minhas dúvidas, críticas e ideias, pautaram a actuação de Salvador Gutiérrez Ordóñez aliados a uma enorme sensibilidade humanista. Estou certa que ainda bastante aprenderei com este brilhante linguista, sabendo que os muitos horizontes que me abriu o estudo da sua obra, continuarão a ser alargados pelos seus sempre inteligentes, claros e inovadores livros e artigos com que, certamente, continuará a enriquecer o panorama dos estudos linguísticos. À Universidade de Évora, agradeço todas as facilidades concedidas para a feitura desta tese. Uma palavra é devida aos meus Amigos e à minha Família, em especial profunda gratidão à minha mãe, Maria do Carmo, ao meu marido, José, e à minha filha Luísa Maria pelo entendimento amoroso das minhas muitas ausências. 18 «El objeto teórico de una ciencia no se fija de una vez para siempre. Depende de las posibilidades explicativas y del desarrollo de la disciplina misma. Por eso, a medida que se desarrolla la lingüística, también se amplía el ámbito de los fenómenos que trata de explicar.» Gutiérrez, 2002, De pragmática y semántica, 145 Introdução Esta é uma tese de linguística, especificamente, é uma tese que se insere nos estudos de teoria linguística, ainda que, possa ser considerada uma tese de linguística portuguesa. Na verdade, apesar de toda a exemplificação se centrar no português, o nosso objectivo é apresentar criticamente e testar a aplicação dos fundamentos teóricos propostos por Salvador Gutiérrez Ordóñez para uma gramática de funções. A nossa prioridade é, pois, toda ela, colocada numa abordagem sistemática, clara e coerente da obra deste linguista. É dessa mesma teoria que fazemos ponto de partida e de chegada, ou se preferirmos ponto ad quo e ad quem desta dissertação. No âmbito do nosso trabalho articula-se não só a vertente descritiva, mas sobretudo a vertente interpretativa e explicativa de uma teoria linguística que, não renegando, antes acarinhando e alimentando-se das suas raízes funcionalistas, se abre a novas perspectivas e propostas, integrando-as com coerência e respeito pelo objecto: as línguas enquanto instrumentos de comunicação, usados por falantes concretos, em coordenadas espacio-temporal determinadas, ao serviço de intenções comunicativas explícitas ou implícitas. É este um trabalho sobre uma teoria da linguagem que auto-reconhecendo-se como funcionalista, e reafirmando-se válida dentro desse paradigma científico1, desenvolve espaços epistemológicos que abrem portas ao paradigma comunicacional. Toda e qualquer explicação pertinente, cientificamente aceitável deve obedecer a uma determinado quadro teórico, ainda 1 O conceito de paradigma científico proposto por Thomas Kuhn permanece útil na apresentação e explicitação de uma disciplina, ainda que o próprio autor tenha modificado parcialmente a sua visão original. 21 que isso implique uma visão limitada. Como disse Saussure no seu muito citado Curso de linguística geral, o ponto de vista cria o objecto, e essa visão limitada é a contrapartida necessária ao respeito pelo princípio da coerência. O nosso objectivo será apresentar e submeter a discussão os princípios e magnitudes do funcionalismo linguístico de Gutiérrez Ordoñez. A teoria deve estar aberta a uma confrontação constante com o objecto teórico que pretende descrever, como bem reconhece o próprio Gutiérrez Ordóñez (1997 a: 77). E esse é também um dos nossos percursos investigativos, o ver como e quando se aplica ou não ao português a proposta teórico‑metodológica que Gutiérrez Ordóñez tem aplicado ao espanhol. Como sustentava Karl Popper, não existe teoria científica que não seja falseável; estamos conscientes desse facto e não postulamos aqui uma atitude de subserviência em relação à doutrina estudada, antes defendemos uma humilde observação interpretativa-explicativa, com as devidas críticas a propósito da sua aplicação e adequação ao objecto «língua portuguesa». Como veremos, muitas das questões abordadas por Gutiérrez não são novas, diremos mais, são até, na sua maior parte questões que sempre interessaram à Linguística. A novidade da teoria funcional deste autor, e o seu interesse para nós, advêm do facto de a mesma se revelar como uma teoria científica coerente, sistemática, regida por critérios de rigor e simplicidade, dando uma visão e explicação do objecto língua sumamente adequada e de inegável valor descritivo e explicativo que, tendo já demonstrado os seus frutos na aplicação ao espanhol, poderá mostrar-se igualmente rica e produtiva como postulado teórico para uma descrição pertinente do instrumento de comunicação que é o português. A hipótese central que devemos buscar nesta tese, será precisamente o que acabámos de enunciar: apresentar, submetendo e sujeitando às observações e resultados obtidos em relação ao português, discutir e testar a teoria funcionalista aplicada por Gutiérrez Ordóñez ao espanhol. Trata-se pois, sobretudo, de aplicar um novo método funcionalista à gramática portuguesa, em especial e se quisermos restringir e ser mais especificadores, trata-se de aplicar à sintaxe portuguesa as propostas linguísticas apresentadas e defendidas por Gutiérrez Ordóñez ao longo de décadas de trabalho de investigação e dadas à estampa em inúmeras publicações 2. 2 Entenda-se que um modelo científico será uma representação funcional de um âmbito da realidade, o qual deve reconstruir de forma exaustiva, coerente e simples. O objecto de uma ciência será sempre um constructo, um produto de elaboração teórica. 22 Tendo em conta que o objecto teórico de uma disciplina não é imutável e que «depende de������������������������������������������������������������� las posibilidades explicativas y del desarrollo de la disciplina misma. Por eso, a medida que se desarrolla la lingüística, también se amplía el ámbito de los fenómenos que trata de explicar» (Gutiérrez, 2002 a: 145), Gutiérrez defende a ideia de que «la Lingüística ha entrado en estos últimos años en un nuevo paradigma metodológico: la Lingüística de la Comunicación» (id., ib.: 19) 3. Na verdade, começa a ganhar visibilidade um modo de fazer linguística que tome em consideração todas as instruções do contexto, uma linguística que não force o seu objecto de estudo a adaptações metodológicas, mas antes pelo contrário, uma linguística que não deixe na sombra as condições em que são percebidas as mensagens, isto é, em que decorre o acto de comunicação, o qual tem sempre lugar entre emissores e receptores concretos, que vivem num tempo e num espaço determinados, para daí extrair todos os elementos de pragmática linguística que intervêm no uso da língua. A Linguística tem assim por objecto o estudo das unidades linguísticas quando usadas num acto comunicativo. A análise linguística só terá a ganhar se se fizer também a partir de uma perspectiva pragmática. Em nosso entender, a visão da pragmática poderá ser um novo modo de focalizar todas as tradicionais disciplinas, como a fonologia, a morfologia a sintaxe e a semântica. O contexto comunicativo, a partir de uma visão pragmática, é também tomado em linha de conta nas selecções sintagmáticas e paradigmáticas da unidades linguísticas. A investigação em sintaxe foi desvendando, ultimamente, novas dimensões. Começam a estudar-se novos níveis relacionais, ou domínios, anteriormente na sombra, são agora colocados sob intensos projectores de luz. Além do nível formal dá-se agora particular atenção a diferentes níveis de coesão intraoracional, como o nível semântico, e o nível informativo. A complexificação de níveis e relações acarretou um sentido positivo inverso, ou seja, a referida complexificação proporcionou uma simplificação descritiva e explicativa inesperada. Depois de uma sintaxe da palavra e de uma sintaxe da oração, temos agora uma sintaxe debruçada sobre uma unidade essencial e diferente, 3 André Martinet havia já reconhecido explicitamente a necessidade de uma linguística estritamente formalista necessitar de disciplinas anexas como a pragmática. Cf. Martinet, 1993: 377. 23 entendida como a mensagem mínima, a unidade mínima de comunicação, o enunciado. Esta unidade apresenta duas dimensões de realização, a dimensão linguística e a dimensão pragmática. O enunciado linguístico é composto pelos elementos que sucessivamente ocorrem na mensagem e pelo signo enunciativo que incide sobre o esquema sintagmático. O enunciado pragmático tem em linha de conta os aspectos do acto comunicativo que se combinam com a codificação linguística, como esquematicamente se apresenta em seguida: Enunciado Linguístico Enunciado Pragmático Esquema sintagmático: formado pelos ele- A dimensão pragmática de um mesmo enunmentos sequenciais da mensagem ciado linguístico pode variar Signo enunciativo: manifesta as modalidades Um determinado valor actualiza-se de diferentes modos, de acordo com as circunstâncias e a intencionalidade do falante. Necessitou-se ir além das fronteiras da oração: «Las investigaciones linguísticas de los años sesenta e setenta advirtieron que para la explicación de muchos fenómenos oracionais se necesitaba traspasar las puertas blindadas de la oración» (Gutiérrez, 1997 a: 564). Quando se aborda um texto temos de agir com unidades suprassintagmáticas: a relação essencial de um texto é a coerência: se não há coerência não há texto. A coesão consiste numa série de mecanismos gramaticais e semânticos que são responsáveis pela percepção da interligação e coerência das partes de um texto. Estamos a lidar com uma combinatória de unidades superiores ao sintagma. A sintagmática articula-se em três domínios cada um com as respectivas unidades mínimas. No domínio da sintagmémica as unidades são o monema e o sintagma, na sintaxe oracional temos o sintagma e o enunciado, e na sintaxe de enunciados a unidade mínima será o enunciado e a unidade máxima o texto. Na sintagmémica, sintaxe (oracional) e sintaxe de enunciados, a unidade superior da primeira é a unidade de base da seguinte e assim sucessivamente. As chamadas disciplinas do código não oferecem uma explicação do discurso. No discurso operamos com decisões de probabilidade. Através de um cálculo inferencial, partindo do dado, permite–se construir uma interpretação relevante da mensagem. 24 A inter-relação entre os procedimentos codificados e inferenciais é maior do que previram os próprios criadores da teoria Sperber e Wilson. Gutiérrez afirma de forma explícita essa necessidade de o linguista se socorrer da pragmática para obter explicações mais satisfatórias: «La vía pragmática se hace necesaria asimismo para poder explicar de forma adecuada el funcionamiento comunicativo en las llamadas disciplinas del código» (2002 b: 178). A Pragmática identifica quais os actos de fala actualizados pelos enunciados concretos, quais os sentidos implícitos que se transmitem, ou seja, o que é que o emissor quer dizer ao receptor. A pragmática ocupa-se também em verificar quais os graus de adequação de um enunciado concreto ao ser usado num determinado contexto. A pragmática usa o processo de inferência e não o processo de «codificação-descodificação» específico da Linguística. Digamos então que qualquer enunciado actualizado implica dois ciclos interpretativos: um ciclo linguístico e um ciclo pragmático, sendo neste último pertinente tudo o que permite configurar o sentido e que pode alterar a interpretação adveniente do ciclo linguístico. De um modo contundente, podemos dizer como Gutiérrez que: «Es absolutamente necesaria la presencia del procedimiento inferencial para poder explicar la interpretación sintáctica, morfológica, léxica y fonológica. No se puede hacer Lingüística sin Pragmática, ni construir Pragmática sin Lingüística» (Gutiérrez, 2002 b: 178). Ao tomarmos em linha de conta a pragmática estamos a fazer uma linguística necessariamente diferente, estamos a fazer aquilo que pode ser designado como uma linguística do uso, uma linguística que toma em conta «todos los factores del circuito de la comunicación que intervienen en la «la pragmáconfiguración del sentido» (Gutiérrez, 2002 b: 130). Na verdade, ����������� tica... puede ser definida como la disciplina que tiene por objeto el estudio del lenguaje en su uso, como la lingüística que toma en cuenta todos los factores del circuito de la comunicación que pueden intervenir en la configuración del sentido» (id.: 85). Nas novas prospecções da pragmática evita-se a palavra sintaxe, porém, os fenómenos descritos, as relações e as unidades conectivas estudadas não deixam de ser elementos constitutivos de uma sintagmática em que se combinam unidades superiores. A unidade superior da sintaxe oracional, o enunciado, é a unidade de base deste terceiro nível de combinatória que chamaremos sintaxe de enunciados. Podemos falar de uma linguística da comunicação na medida em que se torna necessário admitir que a pragmática implica ultrapassar as fronteiras 25 mais clássicas da linguística. Agora pretende-se explicar «no sólo el decir, sino el querer decir, no sólo la gramaticalidad de los mensajes, sino también su adecuación a los diferentes tipos de normas imperantes y a los propósitos comunicativos»������������������������������������������������������������ (Gutiérrez, 2002 b: 77). O objecto específico será a competência comunicativa. Esta mudança conceptual nem sempre foi pacífica. Na linha da tradição aristotélica, em que a ciência se concebe como o terreno dos juízos universais, não era fácil aceitar que se deveria descrever cientificamente o que é de índole individual, contextual, ocasional ou efémero. Graças à Sociolinguística, torna-se claro para a comunidade científica que a variação pode e deve ser explicada cientificamente. As fronteiras da competência clássica são agora demasiado estreitas. Trata-se não apenas de uma competência sobre o código, mas algo mais abrangente, que designe qualquer tipo de conhecimento associado ao uso efectivo da língua. Assim surge, em 1972, com Dell Hymes, a expressão «competência comunicativa», usada no artigo��������� «On communicative competence». Partindo do acrónimo SPEAKING, Dell Hymes enumera todos os componentes do acontecimento comunicativo, ou seja, tudo o que pode acontecer na actualização de enunciados: SITUATION Situação espacial, temporal e psicossocial PARTICIPANTS Características socioculturais e relações dos participantes ENDS Finalidades ACT SEQUENCES Sequências de actos em interacção KEY Chave: grau de formalidade da acção INSTRUMENTALITIES Canal, variedades da fala, cinesia e proxémica NORMS Normas de interacção e de interpretação GENDER Género de interacção, sequências discursivas Segundo Gutiérrez, ����������������������������������������������� «La competencia comunicativa abarca todos aquellos conocimientos que le son necesarios al individuo para desarrollar no sólo enunciados gramaticalmente bien construidos (competencia lingüística), sino mensajes apropiados a las circunstancias de uso y a los fines para los que se los construye» (id: 92). Um fenómeno comunicativo entra no ciclo interpretativo linguístico se estiver codificado, caso contrário, é considerado do âmbito da pragmática. O objecto da pragmática é o sentido, a totalidade dos sentidos que se actualizam numa comunicação concreta. 26 A magnitude mínima capaz de assumir valor comunicativo não é o texto mas sim o enunciado. Desde Aristóteles que as teorias da comunicação se baseiam no modelo semiótico, de acordo com o qual a comunicação é feita através da codificação e descodificação das mensagens. O modelo inferencial, proposto pela pragmática, não é incompatível com o modelo semiótico. Ambos os modelos podem ser tomados como complementares na explicação do fenómeno comunicativo. Para além da codificação e descodificação das mensagens, a comunicação processa-se também de modo inferencial. Temos assim comunicação codificada e comunicação inferencial em qualquer processo de comunicação verbal. Acresce ainda que um processo inferencial pode ser usado como parte de um processo de descodificação. A propósito da relação entre Linguística e Pragmática, as próprias palavras de Salvador Gutiérrez expressam claramente a sua postura teórico-metodológica: «Siem������ pre dentro del relevantismo, siempre servidor de los esquemas funcionales, intento mostrar que Lingüística e Pragmática se hallan entreveradas. Han de convivir en la explicación de los fenómenos lingüísticos de la misma forma que conviven y cooperan en la comunicación» (2002 b: 19). A Linguística tem agora por objecto o significado e o sentido: «Si el conocimiento lingüístico que era objeto de descripción en el paradigma estructural-generativista se ceñia al saber sintáctico, morfológico, fonológico y semántico (la llamada competencia lingüística), ahora nuestra disciplina incorpora a su objeto de descripción y explicación, no sólo la gestión del significado, sino del sentido» (Gutiérrez, 2002 b: 145). Teremos de concluir que a visão da pragmática e da linguística coexistem em todas as dimensões da linguagem. Gutiérrez destaca o facto de cada vez ser mais difícil estudar de modo autónomo as disciplinas linguísticas (Gutiérrez, 2002 a: 49). A sintaxe, para além de estar interrelacionada com a morfologia como assinala a maior parte dos gramáticos, está também muito ligada à fonologia, à semântica e à pragmática. Por exemplo, no caso das orações ditas compostas, há uma série de conceitos pragmáticos, como o de enunciado pragmático, o de relevância e inferências, ou o de valor argumentativo, indispensáveis para a sua adequada descrição e interpretação. Com a complexidade dos níveis oracionais, articula-se a teoria da transposição. Na teoria da transposição usada por Gutiérrez há a considerar a 27 transposição operada por relativos, a operada pelo estilo directo, estilo indirecto, pelas oblíquas não indirectas e pelas chamadas orações causais, onde, nestas últimas, se faz a partir do verbo enunciativo. Em 1978, no IV Colóquio de Linguística Funcional (Actas, 1978: 264) Gutiérrez defende que no estilo directo se verifica a transposição de um segmento oracional à categoria dos substantivos (cf. 1999 b): «en el estilo direto: la entonación y/o el orden son entonces responsables directos de la transposición». Corroboramos as ideias de Gutiérrez no que respeita à necessidade de submeter à reflexão crítica os conceitos fundamentais da teoria: «creo que someter de vez en cuando a una reflexión crítica los conceptos fundamentales de la teoría es una actividad que se justifica por sí misma» (2002 a: 19). Nas suas indagações sintácticas, Salvador Gutiérrez reexamina noções como função, categoria, transposição, classe, relação, núcleo, interdependência, enunciado. Gutiérrez não hesita em submeter a apertados critérios interpretativos e explicativos alguns dos dogmas mais enraizados da gramática tradicional, e sempre que o percurso hermenêutico a isso o conduza, abdica dos mesmos, como acontece, por exemplo, com a noção de «oração subordinada». Sobre as unidades, diremos que o sintagma é para Gutiérrez a magnitude mínima capaz de desempenhar uma função sintáctica (1997 a: 23). Nesta perspectiva funcionalista originária da escola de Oviedo, concebe-se o sintagma não como o resultado da combinação de elementos, mas como um functivo sintáctico elementar: é a «unidade de função sintáctica». Enquanto o monema é a unidade mínima de significação, o sintagma é a unidade mínima de função sintáctica. Os monemas enquanto tal contraem relações intra-sintagmáticas. São os sintagmas que contraem relações intersintagmáticas, ainda que esses sintagmas possam ser constituídos por um único monema (1997 a: 402). A transposição é uma operação que produz mudanças de categoria funcional e modificações na valência sintáctica de um segmento (1997 a: 405). As construções categoremáticas são formadas por dois ou mais categoremas, as entidades que podem contrair função sintáctica. Uma magnitude é um categorema quando se inscreve numa categoria funcional, a saber, nome, adjectivo, verbo e advérbio. É importante clarificar que a sintaxe é uma combinatória que se estabelece não só ao nível da forma mas também do conteúdo. 28 Não estamos aqui perante uma gramática categorial; metodologicamente a proposta de Gutiérrez é funcional. É uma gramática de funções no sentido em que as funções se sobrepõem em importância e determinam as categorias e ainda no sentido em que a incorporação de níveis como o pragmático, o argumentativo, o conversacional ou o textual é defendida na medida em que ajuda a explicar melhor o valor comunicativo das mensagens. A presente dissertação está estruturada em cinco capítulos. No capítulo I abordamos os conceitos básicos. Aí se distinguem a sintagmática, a sintaxe e a sintagmémica. Aí também, distinguem-se funções e categorias, não sem antes se ter abordado o essencial sobre gramáticas funcionais versus gramáticas categoriais. Ainda neste primeiro capítulo, abordam-se as diferentes categorias e classes, a saber, respectivamente, categorias funcionais ou sintácticas, categorias morfológicas ou sintagmémicas e classes sintácticas, morfológicas e formais. No âmbito das relações sintácticas, referem-se as relações de coordenação, de subordinação e de interdependência, a questão do núcleo e os fenómenos de elipses e catálise, não esquecendo a teoria da transposição. Este primeiro capítulo é, de certo modo, um capítulo introdutório, na medida em que, grande parte dos temas nele abordados é alvo de atenção mais pormenorizada em capítulos subsequentes. No capítulo dois abordamos as questões relativas ao enunciado linguístico e ao enunciado pragmático, a frase verbal e o diferentes sintagmas, ou seja, as categorias funcionais e os seus tipos, nomeadamente nominal, adjectival e adverbial e os mecanismos de transposição. As funções são retomadas no capítulo três, que se articula respectivamente em «funções sintácticas», funções semânticas» e funções informativas». Neste capítulo tratam-se apenas as funções argumentais e não argumentais, as mais próximas sendo as funções periféricas tratadas no capítulo quarto. Depois das funções sintácticas, aborda-se o plano semântico. Aí, consideram-se as diferentes funções e os tipos de modificações valenciais que podem ocorrer.O plano informativo é alvo do ponto 3.3, onde se abordam as estruturas sintácticas de focalização, temas, remas, tópicos e comentários. No capítulo quatro, como já referido, trata-se da periferia oracional, sendo aí revistas questões ligadas aos diferentes tipos de complementos que podemos encontrar nesta órbita funcional, nomeadamente circunstantes e tópicos, atributos de modalidade e complementos de verbo enunciativo. Por fim, no capítulo cinco abordamos questões relativas à sintaxe de enunciados, as relações entre pragmática e gramática, as estruturas argumentativas e os conectores textuais. 29 Incluímos um pequeno anexo com exemplos de visualizações sintácticas. Estamos perante ferramentas descritivas que têm um forte potencial e que falta explorar devidamente na descrição da língua portuguesa. Como sublinhou Martinet, a linguística, como qualquer outra ciência, trata dos factos apreendidos pelo ser humano e não dos factos por si: «A experiência humana é tudo o que o homem pode sentir ou apreender. Enquanto linguistas essa experiência só nos interessa na medida em que queremos comunicá-la. (...) É uma natureza onde se impõem as pertinências humanas». A ciência não trata do mundo em si, trata do mundo tal como é apreendido, do mundo da nossa experiência. A linguística não constitui excepção» (Martinet, 1995: 19-20). Nesta linha de ideias, entendemos que uma teoria é um sistema lógico e coerente, capaz de orientar o pensamento e a acção na investigação científica, teoria que não deve ser nem pode ser entendida como a verdade absoluta. Uma teoria reflecte sempre o estado do conhecimento sobre determinado facto, num espaço e tempo determinados. O mesmo acontece com qualquer trabalho académico. Gostaria que o estilo simples, escolhido para redigir esta dissertação, não fosse entendido como menosprezo nem pela importância da matéria em apreço, nem pelos leitores a quem se destina. A simplicidade da escrita foi eleita na convicção profunda de que o obscurantismo da forma não deve ser apanágio obrigatório dos trabalhos académicos, sob pena de se fazer confundir qualidade científica com estruturas pesadas, características de certas teorias, que nelas se parecem entrincheirar, como se medo houvesse de clarificar os princípios e as teorias no momento de confrontá-los com o objecto estudado. Precisão, meticulosidade e honestidade intelectual conjugam-se facilmente, assim creio, com a clareza e a simplicidade do estilo não embelezado por flores retóricas. Cremos que o retomar de um tema, ainda que tal tipo de investigação não se paute, à primeira vista, pelo factor inovação, contribui, contudo, para uma renovação do conhecimento científico, daí que corroboremos a afirmação de Gutiérrez: «La actitud del científico se asemeja a la de Josué, que sólo después de dar vueltas y más vueltas en torno a la fortificación consigue derribar la muralla y conquistar la ciudad de Jericó. Cada giro, cada replanteamiento en torno a un problema implica progreso en este asalto a la razón» (2002 a: 272). 30 Todos los elementos que intervienen en el proceso comunicativo, hasta los en apariencia más insignificantes, pueden ser esenciales. Gutiérrez, 2002 b: 20 Una solida hipótesis dirige esta trayectoria: si, como sostenía Martinet, el lenguaje es ante todo un instrumento (relacional y funcional) de comunicación, no existirá descripción más explicativa que la que desvele de forma nítida el entramado de sus funciones y la telaraña de sus relaciones. Gutiérrez, 1997 a: 14 «Hermoso es el riesgo» Píndaro Hemos de finalizar parafraseando la Medea de Séneca: Grammatica superest. Gutiérrez, 1997 a: 513 Conclusão A teoria linguística aqui apresentada e discutida é, como sublinhámos logo na introdução e se anuncia no próprio título deste trabalho, uma teoria que se insere no âmbito de uma linguística funcional: «La lengua es un “organum para comunicar uno a otro algo sobre las cosas”», como referiu Bühler (1934: 63). Para descrever e explicar uma língua, enquanto instrumento funcional de comunicação, nenhuma perspectiva se revela mais pródiga que aquela mesma que considera a função como a pedra ancilar de uma linha epistemológica. Como se sabe, as descrições funcionalistas adoptam um pressuposto implícito: sendo as línguas objectos funcionais, não há descrição mais adequada do que aquela que considera as funções. É certo que dois conceitos se têm digladiado frequentemente. Referimo-nos precisamente aos conceitos de função e natureza, ou seja, função e categoria. Na óptica de Gutiérrez, a primazia teórica pertence ao conceito de função; esse é também, inequivocamente, o princípio que defendemos para uma descrição linguística adequada. Trata-se de reclamar rigorosamente o primado teórico de uma gramática de funções e não de uma gramática de categorias. A definição de língua de Martinet, que refere que a língua é «um instrumento de comunicação segundo o qual a experiência humana se analisa de modo diferente em cada língua, em cada comunidade em unidades dotadas de um conteúdo semântico e de uma expressão vocal – os monemas» (Martinet, 1995: 18), é uma definição que deixa um imenso campo teórico ao crescimento da pragmática e como tal legitima a inclusão dos estudos de pragmática linguística no seio da linguística funcional. Como discípulo de Emilio Alarcos, Salvador Gutiérrez constrói uma linguística alicerçada nos princípios do funcionalismo europeu, com algumas características metodológicas de análise próprias da Escola de Oviedo. 259 No campo da sintaxe, partindo de uma concepção clássica em que todos os complementos verbais se inserem no mesmo nível, Salvador Gutiérrez evoluiu para uma visão que considera os complementos verbais como estando alojados em diferentes órbitas que se posicionam mais ou menos distantes do seu centro que é o verbo. Quando em 1969 Alarcos separa do aditamento o conceito de atributo oracional, abre portas a um novo caminho para o estudo de uma quantidade significativa de fenómenos situados nos extra-muros da frase. Na obra de investigação de Gutiérrez há a preocupação em estudar e honrar os seus antecessores, nomeadamente o seu Mestre Alarcos Llorach, mas não se abdica do propósito de conduzir mais além a investigação quer abrindo novos âmbitos de análise, quer retomando temas menos trabalhados, quer lapidando ou criando instrumentos e ampliando critérios com que se opera, submetendo‑os a rigorosa selecção e hierarquização. Cremos que é essa vontade de avançar na investigação que transparece quando afirma: «Siempre he defendido la audacia frente a la inercia». Não foi objecto deste trabalho o estudo das variações teóricas nos textos de Gutiérrez Ordóñez, ao longo dos anos. O desenvolvimento da obra de Gutiérrez é bastante constante. Não falamos de uma postura estática, mas sim de uma constância metodológica que sempre tem acompanhado a evolução dos seus trabalhos desde os primeiros aos mais recentes. Considerando, que a língua é um instrumento de comunicação, Gutiérrez toma este postulado como guia incontestável da sua trajectória de investigador. A sua preocupação com os conceitos básicos de uma gramática de funções foi também para nós um ponto fundamental, ponto que forma e conforma a matéria analisada e explorada em relação ao português. Conceitos como função, categoria, classe, transposição, catálise e elipse são aqui reapreciados e exemplificados. O português é tomado como a língua que permite contradizer ou corroborar a teoria: as teses são confrontadas com a demonstração, é nesta medida que falamos de uma aplicação ao português. Do que anteriormente ficou dito, depreende-se que uma gramática de funções deve ocupar-se das funções informativas para além das «mais clássicas» funções sintácticas e semânticas. Será, pois, dentro destes parâmetros, que se devem desenvolver investigações futuras. As gramáticas tradicionais são uma fonte inesgotável de indícios e pistas. A linguística desenvolvida por Salvador Gutiérrez ao realizar um exame 260 imanente da língua, faz uso de tais gramáticas sempre que se encontre para tal uma justificação formal no comportamento da língua em análise. Gutiérrez compara as variações em ciência às variações musicais que se desenvolvem sobre uma determinada melodia. Porém, enquanto estas são um género musical menor, aquelas são de grande importância, na medida em que se assumem como um dos modelos mais comuns do avanço cognoscitivo. A investigação, como as variações, baseia-se num saber previamente construído, parte de uma melodia já existente. As rupturas, em ciência, não são indispensáveis, na medida em que o avanço científico é continuidade e inovação. Ainda que no início da sua carreira de investigador, Gutiérrez se mantenha dentro do estrato das funções formais, uma vez que esse era o principal âmbito de que se ocupava a corrente funcional acarinhada por Emílio Alarcos na Escola de Oviedo, Gutiérrez é atraído pela possibilidade de usar recursos explicativos de diferente cariz. Ou seja, actualmente na obra do nosso linguista, defende-se como princípio, que não se pode ignorar a possibilidade de usar recursos explicativos de ordem semântica e também informativa. Por exemplo, no que respeita à tematização, verifica-se que a mesma é independente das funções e da hierarquia sintácticas. É o reflexo da estratégia do emissor no momento em que ordena os núcleos de informação. É pela interpretação não só do código, mas pela capacidade inferencial que o ser humano compreende as mensagens. O saber enciclopédico, ou seja, as informações de que dispõe, sejam conhecimentos antigos ou pertençam ao contexto imediato conjugadas com a mensagem propriamente dita, permitem responder a uma dupla questão: Que diz? e Que quer dizer? À primeira informação, o significado linguístico, chega-se descodificando a mensagem. À segunda questão pode dar-se resposta por meio de deduções, trata-se de compreender o sentido pragmático, ao qual se chega por inferência. Ao comunicarmos, além do conteúdo literal acrescentamos sempre informação implícita. O significado é o conteúdo codificado, constante. O sentido, ao contrário, inclui também a intencionalidade. A linguística estuda o código da língua, as leis de codificação e descodificação do significado. A pragmática procura mostrar os princípios e os mecanismos que nos permitem captar o sentido. Este pode distanciar-se de tal modo do significado ao ponto de o negar, como acontece quando se produz um enunciado irónico. 261 Significado Linguística Sentido Pragmática Pode existir uma grande diferença entre o que se diz e o que se quer dizer, entre o significado e o sentido. Esta é uma questão que deve continuar a ser investigada com o objectivo de, cada vez melhor, percebermos de modo mais global o funcionamento das estruturas linguísticas. O problema da interrogação tem sido um dos núcleos mais inexpugnáveis da explicação linguística. A ponte existente actualmente entre linguística e pragmática começa a possibilitar resolver, se não totalmente, pelo menos uma parte considerável das dificuldades que se apresentavam neste âmbito ao investigador. A equivalência entre interrogação e pergunta impedia que se vislumbrassem, respectivamente, um valor linguístico e um acto pragmático. De um ponto de vista pragmático, as interrogações além de serem usadas para fazer perguntas, realizam ainda pedidos, queixas, convites, repreensões e até afirmações, no caso das interrogações retóricas. Refere Martinet que «qualquer elemento linguístico só tem realmente valor quando integrado em contexto ou em situação; em si mesmo, um monema ou um signo mais complexo comporta unicamente virtualidades semânticas, das quais só algumas se realizam efectivamente em determinado discurso» (Martinet, 1985 b: 40). Não há, portanto, ruptura de paradigma, mas sim continuidade e inovação quando Salvador Gutiérrez inclui nos seus estudos funcionalistas aspectos atinentes à dita linguística da comunicação. Sobre linguística e pragmática, defende Gutiérrez nos seus trabalhos, que as mesmas se inter-relacionam e que, tal como convivem e cooperam na comunicação, assim devem conviver na explicação dos fenómenos linguísticos. Diremos ainda, que estão por fazer inúmeras operações de micro‑cirurgia sintáctica que, certamente, requererão inevitáveis aprimoramentos teóricos. Muito há a fazer, por exemplo, no que respeita ao entrecruzar de considerações relativas ao ponto de incidência de um complemento e o nível funcional em que se movimenta. Além destes, podemos ainda necessitar de outros parâmetros explicativos, nomeadamente a argumentação. Na verdade, as nossas trocas linguísticas são uma concatenação de actos dialógicos explícitos e implícitos que tomam como base de sustentação supostos culturais. 262 A descoberta da multiplicidade de níveis de pontos de inserção funcional permite oferecer uma solução explicativa para os diferentes comportamentos que se verificam nos advérbios em -mente e em expressões equivalentes. Como se demonstrou no capítulo sobre a periferia oracional, não obstante a identidade formal e o valor arquilexemático de «modo» destes advérbios ou expressões similares, estamos perante funções diferentes, que hão-de ser devidamente exploradas em trabalhos posteriores, mas das quais as principais são, indubitavelmente os complemento circunstanciais de modo, os tópicos de ponto de vista, os atributos de modalidade e os circunstanciais. Do edifício teórico de Salvador Gutiérrez, diremos, em alguns casos, que apenas espreitámos e tempo não houve, com muita pena nossa, de reconstruir as problemáticas, aplicando-as à língua portuguesa. Sobretudo vazio ficou o espaço dedicado às relações semânticas e às suas repercussões na configuração sintagmática. Esperamos que trabalhos futuros sobre a língua portuguesa se possam ocupar das relações sintagmáticas referenciais, onde se inclui a correferência e a inclusão designativa, das relações de determinação sémica e relações de restrição designativa e ainda determinações epitéticas, fazendo posteriormente a apreciação da repercussão sintáctica de tais relações semânticas. Dos princípios que conduzem o modus operandi da obra de Gutiérrez Ordóñez, destacamos a uniformidade e constância na arquitectura sintáctica e o princípio de cientificidade que sempre determina o seu percurso. Procuraram-se neste trabalho, mais os pontos comuns dos conteúdos epistemológicos do que as dissonâncias, integrando esta teoria, que aqui se aplica ao português, no âmbito do funcionalismo europeu. Diremos, sobre a teoria funcionalista de Salvador Gutiérrez, destacando e valorizando os seus aspectos agregadores da tradição e da inovação linguística, o que, mutatis mutandis, escreveu Maria do Céu Fonseca a propósito da teoria saussureana1: a teoria de Salvador Gutiérrez, sobre ser mutação epistemológica, reassumiu com métodos e em contexto científico diferentes, o conjunto de saberes atinentes a uma concepção funcionalista dos factos linguísticos, herdeira, sobretudo, de Emilio Alarcos e de André Martinet 2. 1 «A teoria saussureana, sobre ser mutação epistemológica, reassumiu com métodos e em contexto científico diferentes, saberes antigos sobre a linguagem» (Fonseca, 2002: 19). 2 Em Espanha, primeiro país onde foram dedicados Estudos de Homenagem a André Martinet, por ocasião do seu quinquagésimo aniversário, Alarcos teve a iniciativa de realizar um colóquio da SILF na Universidade de Oviedo, em 1977. Dos discípulos que Alarcos formou, 263 Resumindo, propõe-se aqui uma apresentação que se quis clara, sistemática e argumentada dos fundamentos para uma gramática de funções. O presente estudo mostra um modelo teórico de descrição sintáctica, que permite, enquadrando-se numa perspectiva funcional, fazer uma interpretação explicativa global das várias estruturas da língua portuguesa. As teorias não são verdades absolutas, mas sim relativas, são verdades relativas ao estado do conhecimento, são hipóteses verificadas por um número considerável de factos, susceptíveis de serem discutidas e renovadas. A teoria funcionalista aqui discutida é confrontada com um dos objectos concretos que permite interpretar explicativamente, a língua portuguesa. Sendo um estudo predominantemente teórico, que se situa no âmbito dos estudos de teoria da linguagem actuais, fez-se uma aplicação à língua portuguesa, a qual beneficiou do contraste e semelhança com o castelhano, língua usada na obra de Gutiérrez Ordóñez. Não deixamos de assumir o peso da certeza de que inúmeros aspectos deveriam ter sido tratados com mais tempo e maior profundidade, e que o que aqui se apresenta, como termo de um percurso, mais não é do que um ponto de partida, para um outro percurso. Mas também se guarda a satisfação de se terem tratado com a humildade e a determinação necessárias as múltiplas questões metodológicas e teóricas que, no âmbito de uma gramática funcional, são propostas por Salvador Gutiérrez, efectuando uma aplicação crítica e explicativa à língua portuguesa. Escreve Maria do Céu Fonseca que «o princípio, que se afigura válido no domínio das ciências humanas e sociais, é o de que o conhecimento científico evolui por acúmulo de informações que cada época sintetiza de criação e tradição» (Fonseca, 2002: 19) Corroboramos inteiramente a sua perspectiva e assim, esperamos que este trabalho de investigação tenha o seu lugar no percurso dos estudos linguísticos, especificamente no campo da teoria da linguagem e assim contribua, ainda que muito modestamente, para evolução do conhecimento científico. Martinet escreve em Mémoires d’un linguiste (1993: 128) «il a tout de même formé deux élèves, Gutiérrez et Rodríguez que je sens dans ma ligne». O segundo colóquio da SILF realizado em Espanha, o XVII, teve lugar em 1990, na Universidade de León, onde Gutiérrez continua a ensinar. Malogradamente, Bonifácio Rodríguez faleceu em 2003 (aqui deixamos uma singela palavra de homenagem em sua memória). 264 Apêndice 1 Ela fugiu porque sabia demais. S: ela N: fugiu CC: (por) [que] sabia CC: demais 2 O Duarte e a Carlota regressaram terminada a vindima. o Duarte S: N: regressaram CC: a Carlota Tema: a vindima ATR: terminada 3 Os estudantes da Universidade fecharam os portões todos. S: os estudantes CN <de> a Universidade CD: os portões CN: todos N: fecharam 267 4 Os espertos usaram cadeados fortes. S: [os] espertos N: usaram CD: cadeados CN: novos 5 Os de Évora usaram cadeados fortes. S: [os] <de> Évora N: usaram CD: cadeados CN: fortes 6 Os estudantes explicaram a sua posição aos jornalistas. S: os estudantes N: explicaram CD: a posição CI: (a) os jornalistas 268 CN: sua 7 Os avós e os pais transmitem às crianças e aos jovens os valores morais. S: N: transmitem os avós e pais CD: os valores CI: CN: morais (a) as crianças e (a) os jovens 8 Os meus colegas descobriram um óptimo restaurante nessa zona. S: os colegas N: descobriram CD: restaurante meus CN: um CN: óptimo CCL: (em) zona 269 CN: essa 9 Em Portugal sabe-se que a presidente foi condenada. CCL: (em) Portugal N: sabe-se (Pas. Refl.) S: [que] foi S: a presidente ATR: condenada 10 Aqui é proibido fumar. S: fumar N: é proibido CCL: aqui 11 O polícia disse-lhe que o passageiro da frente não tinha o cinto bem posto. S: o polícia N: disse CI: lhe S: o passageiro CD: [que] tinha CD: o cinto Neg: não 270 CN: <de> a frente Bibliografia Geral Aarslef, Hans, 1982, «Bréal, «la sémantique», and Saussure», in From Locke to Saussure – Essays on the Study of Language and Intellectual History, London, Athlone, pp. 382‑398. 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Xavier, Maria Francisca, 1989, Argumentos preposicionados em construções verbais, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, dissertação de doutoramento. 316 Índice Geral PREFÁCIO . ............................................................................................................................. 7 NOTA À PRESENTE EDIÇÃO .............................................................................................. 11 ABREVIATURAS E SINAIS USADOS .................................................................................. 13 AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 17 INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 21 Capítulo 1 – CONCEITOS BÁSICOS .................................................................................... 33. 1.1 Sintagmática. Sintaxe. Sintagmémica......................................................................... 33 1.2 Gramáticas funcionais / gramáticas categoriais.......................................................... 35 1.3 Funções e níveis funcionais........................................................................................... 40 1.3.1 Funções. Relações. Functivos................................................................................. 40 1.3.2 Valores e polissemia do termo função.................................................................... 43 1.3.3 A estrutura funcional articula-se em vários níveis................................................ 50 1.4 Categorias. Categorias funcionais. Categorias sintagmémicas ............................. 55 1.4.1 Sobre o conceito de categoria ............................................................................... 55 1.5 Classes. Classes sintácticas, classes semânticas e classes formais ........................ 58 1.6 Relações sintácticas ....................................................................................................... 60 60 1.6.1 Tipos de relações .................................................................................................... 317 1.7 Núcleo .............................................................................................................................. 65 1.8 Elipse e catálise............................................................................................................... 66 1.9 A transposição................................................................................................................. 69 1.9.1 Conceito e componentes......................................................................................... 70 1.9.2 Funcionamento do mecanismo da transposição................................................... 70 1.9.3 Condições da transposição..................................................................................... 71 1.9.4 Economia . .............................................................................................................. 71 1.10. Conclusão ............................................................................................................... 72 Capítulo 2 – ENUNCIADO, FRASE VERBAL OU ORAÇÃO E NÍVEIS ORACIONAIS. CATEGORIAS FUNCIONAIS........................................................................... 73 2.1 Enunciado linguístico e enunciado pragmático........................................................ 73 2.1.1 O enunciado linguístico.......................................................................................... 74 2.1.2 O enunciado pragmático......................................................................................... 78 2.2 A oração ou frase verbal ............................................................................................... 78 2.2.1 Conceitos e terminologia........................................................................................ 78 2.2.2 Uma definição de enunciado.................................................................................. 82 2.3 Níveis oracionais ............................................................................................................ 84 2.3.1 Nível dos Argumentos. Características. Determinação......................................... 88 2.3.2 Nível dos circunstanciais. Multiplicidade funcional............................................. 91 2.3.3 Nível dos tópicos ou circunstantes......................................................................... 95 2.4 As categorias funcionais. Os sintagmas....................................................................... 95 2.4.1 O sintagma nominal . ............................................................................................. 95 2.4.2 Outras classes de SN............................................................................................... 99 2.5 O sintagma adjectivo. Conceito. Tipos de sintagmas adjectivais .......................... 102 2.5.1 Tipos de relações adjectivais................................................................................... 104 2.5.2 Transposições adjectivais........................................................................................ 105 2.6 O sintagma adverbial. Advérbios nominais ............................................................... 106 2.7 Enunciado, frase verbal, níveis e categorias: síntese conclusiva............................ 108 318 Capítulo 3 – FUNÇÕES .......................................................................................................... 109 3.1 Funções sintácticas ........................................................................................................ 109 3.1.1 A função sujeito....................................................................................................... 110 3.1.2 Complemento directo.............................................................................................. 112 3.1.3 A função complemento indirecto........................................................................... 114 3.1.4 A função «suplemento» . ........................................................................................ 114 3.1.5 Os complementos circunstanciais.......................................................................... 115 3.1.6 Tópicos e outras funções periféricas...................................................................... 117 3.1.7 Atributos.................................................................................................................. 119 3.2 Funções semânticas ....................................................................................................... 128 3.2.1 Necessidade de atender ao plano semântico......................................................... 128 3.2.2 Definição e descrição das funções semânticas...................................................... 128 3.2.3 Modificações valenciais........................................................................................... 131 3.3 Funções informativas .................................................................................................... 139 3.3.1 Introdução .............................................................................................................. 139 3.3.2 «Tema» ou informação conhecida e «rema» ou informação nova . .................... 139 3.3.3 Foco e focalizações. Estruturas sintácticas de focalização.................................. 149 3.3.4 Tópicos e comentários............................................................................................ 155 3.3.5 Síntese conclusiva .................................................................................................. 161 Capítulo 4 – A PERIFERIA ORACIONAL............................................................................. 165 4.1 Tipos de complementos de nível 2 e de nível 3.......................................................... 165 4.1.1.Complementos de causalidade.............................................................................. 165 4.1.2 Condicionais............................................................................................................ 186 4.1.3 Aditamentos e circunstantes concessivos.............................................................. 187 4.1.4 Complementos locativos: Espaço e tempo............................................................ 189 4.1.5 Tópicos ou complementos de referência ou marco e complementos de perspectiva............................................................................................................... 195 4.2 Complementos de modalidade linguística ou atributos oracionais ..................... 203 4.2.1 Marcadores ou atributos de modalidade axiológica, epistémica e emotiva ....... 204 4.2.2.Complementos de modalidade pragmática........................................................... 205 319 4.3 Complementos de verbo enunciativo: comportamento funcional e pontos de incidência......................................................................................................................... 206 4.4 A periferia oracional: síntese conclusiva..................................................................... 210 Capítulo 5 – SINTAXE DE ENUNCIADOS........................................................................... 215 5.1.Pragmática e Gramática. Conceitos necessários....................................................... 215 5.1.1 Aspectos introdutórios............................................................................................ 215 5.1.2 Actos linguísticos..................................................................................................... 217 5.1.3 Tipologia dos actos ilocutórios............................................................................... 218 5.1.4 As máximas conversacionais.................................................................................. 218 5.1.5 Pressupostos e implicaturas................................................................................... 221 5.1.6 Actos de fala indirectos........................................................................................... 222 5.1.7 A teoria da relevância.............................................................................................. 223 5.1.8 Significado linguístico, referencial e ilocutivo...................................................... 224 5.1.9 O processo inferencial............................................................................................. 226 5.2 Estruturas argumentativas. Orações de causalidade ............................................... 231 5.3 Causais ............................................................................................................................. 231 5.4 Combinatória interenunciativa e codificação ........................................................... 238 5.4.1 Estilo directo........................................................................................................... 239 5.5 A pragmática e os marcadores . ................................................................................... 245 5.5.1 Coerência e coesão ................................................................................................. 245 5.5.2 Os marcadores e o conceito de coesão ................................................................. 246 5.5.3 Os marcadores e o conceito de conexão ............................................................... 247 5.5.4 Os marcadores e os enunciados ............................................................................ 248 5.6 Síntese conclusiva: Pragmática e gramática ............................................................. 254 CONCLUSÃO............................................................................................................................ 259 APÊNDICE .............................................................................................................................. 265 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 271 320