“Nós alienamos nossos talentos e vestimos O uniforme” (hurtmold) Viva Chomsky O que é o padrão, senão uma maneira muitas vezes arbitrária de enquadrar e igualar a todos, não levando em conta as individualidades e diferenças? Se esta regra a ser seguida socialmente discrimina e coloca à margem da sociedade aquelas pessoas que se opõem a determinados paradigmas sociais, o mesmo fenômeno ocorre com a língua falada em nosso imenso e contraditório país. Diminuindo a Língua a um simplório e restrito conceito de certo e errado, como se o correto fossem apenas os rabiscos dogmáticos da “bíblica” gramática normativa, uma certa parte de gramáticos elitistas defendem com unhas e dentes certos mitos e preconceitos linguísticos, como “dignos” donos da verdade e da Língua. Mitos que por sua vez, são discutidos, questionados e derrubados por seres pensantes, de mentes mais amplas e não retroativas. É importante pensarmos o modo de ver e analisar a Língua Portuguesa , bem como seus aspectos de linguagem, para assim, desenvolvermos uma óptica dialética do assunto ao invés de nos fecharmos em uma visão ultrapassada e positivista, completamente imbuída de preconceitos e clichês. Para ilustrarmos esta questão, podemos abordar alguns mitos citados pelo linguista Marcos Bagno, onde fica evidente o lugar comum e o preconceito expressos nessas sentenças enganosas. Uma delas diz respeito a existência de uma unidade linguística no Brasil. Se isto é verdade, como explicar as inúmeras variações existentes, como a diatópica, por exemplo? Sem contar as peculiaridades da língua falada em cada região do país, ou seja, a tese da unidade linguística é facilmente derrubada. Quantas vezes ouvimos que para ler e escrever bem, há a necessidade de se saber gramática? No entanto veremos que a gramática é inata ao falante, encontra-se em seu cérebro, a escrita baseia-se na fala, portanto todos sabem gramática, ou seja, mais um mito é derrubado. Obviamente que neste caso, o “saber gramática” refere-se às regras ditadas pela gramática normativa. Mas vamos pensar, será que para ler bem eu tenho que fazer uma análise gramatical de todas as frases do texto? E para escrever? O que dizer de um dos maiores nomes do modernismo, Mário de Andrade, que escreveu brilhantemente reproduzindo a oralidade na língua escrita? Ou então o anárquico Caio F. Abreu, com suas narrativas abortando vírgulas, travessões, parágrafos, atingindo uma expressiva prosa poéticas? Será que eles ficavam presos às regras gramaticais ao escreverem? Fato é, para se escrever bem é necessário a fluidez livre do texto. Os autores citados acima , com certeza escreviam com o coração e não com as regras enfiadas em baixo do braço, embora as conhecessem. Em linhas gerais, estes mitos servem como instrumento de segregação da Língua, em favorecimento de um elitismo pregado pela classe pseudoculta. Utilizam-se de chavões disseminados pelas mídias e alimentam o senso comum , ignorando as outras faces da Língua, não obstante, de outro lado, a linguística se faz notar mostrando que a Língua não pertence a meia dúzia de gramáticos, e mostra a Língua como algo dinâmico , em movimento, e não como algo estático. No mais, viva Chomsky!!! Luis Roberto Perossi