ISSN 0103-8559 Volume 25 • Nº 4 • Outubro/Dezembro 2015 Avanços no diagnóstico e tratamento das principais arritmias cardíacas A B • Papel do sistema nervoso autônomo nas arritmias cardíacas • Taquiarritmias Atriais: Diagnóstico e Tratamento • Como conduzir pacientes assintomáticos com extrassístoles ventriculares? C • Quais as medicações antiarrítmicas indicadas para o tratamento da taquicardia ventricular no paciente com cardiopatia estrutural? • COMO IDENTIFICAR E ENFRENTAR A TEMPESTADE ELÉTRICA NA PRÁTICA CLÍNICA? • Arritmias genéticas: como investigar e como tratar? • Quando indicar ablação para as principais arritmias atriais e ventriculares? Editor Chefe: Luiz A. Bortolotto www.socesp.org.br TM valsartana+anlodipino+hidroclorotiazida PRIMEIRA COMBINAÇÃO TRIPLA EM UM ÚNICO COMPRIMIDO NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO1 As imagens dos comprimidos são meramente ilustrativas e não refletem a imagem real dos medicamentos. • EFEITO COMPENSATÓRIO DO EDEMA PELO ANLODIPINO2 • COMPENSAÇÃO DA ATIVAÇÃO DO SRA PELO HCT2 VALSARTANA + HIDROCLOROTIAZIDA + ANLODIPINO = 160 mg / 12,5 mg /5 mg 160 mg / 25 mg / 5 mg 160 mg / 12,5 mg / 10 mg 160 mg / 25 mg / 10 mg TRIPLA COMBINAÇÃO SINÉRGICA2 Diferentes opções de doses para melhor flexibilidade no tratamento.3 320 mg / 25 mg / 10mg Contraindicações:hipersensibilidade a qualquer componente do Exforge HCT™ ou derivados de sulfonamida; gravidez; anúria; uso concomitante com alisquireno em pacientes com diabetes tipo 2. Interação medicamentosa: O uso concomitante com outros agentes inibidores do SRA como IECAs ou alisquireno pode aumentar a incidência de hipotensão, hipercalemia e alterações na função renal. É recomendada a monitoração da pressão arterial, função renal e eletrólitos quando houver uso concomitante com estes medicamentos. EXFORGE HCTTM valsartana + hidroclorotiazida + besilato de anlodipino. Forma Farmacêutica e apresentações: comprimidos revestidos de 160/12,5/5 mg, 160/12,5/10 mg, 160/25/5 mg, 160/25/10 mg ou 320/25/10 mg. Embalagens contendo 14 ou 28 comprimidos revestidos. Indicação: tratamento da hipertensão essencial. O medicamento de combinação fixa não é indicado como terapia inicial na hipertensão. Posologia e administração: Adultos: um comprimido de Exforge HCT™ 160/12,5/5 mg ou Exforge HCT™ 160/12,5/10 mg ou Exforge HCT™ 160/25/5 mg ou Exforge HCT™ 160/25/10 mg ou Exforge HCT™ 320/25/10 mg ao dia. Insuficiência hepática: começar com a menor dose disponível de anlodipino. Idoso: começar com a menor dose disponível de anlodipino. A menor concentração de Exforge HCT™ contém 5 mg de anlodipino. Contraindicações: hipersensibilidade a qualquer componente do Exforge HCT™ ou derivados de sulfonamida; gravidez; anúria; uso concomitante com alisquireno em pacientes com diabetes tipo 2. Advertências/Precauções: Evitar o uso em mulheres que planejam engravidar e que estão amamentando. Risco de hipotensão em pacientes com depleção de sódio e/ou hipovolemia. Deve-se ter cautela quando administrar Exforge HCT™ a pacientes com comprometimento renal ou lúpus eritematoso sistêmico. Como com outros diuréticos tiazidicos, a hidroclorotiazida pode causar hipocalemia, a qual pode favorecer o desenvolvimento de arritmias cardíacas induzidas por digitálicos. Deve-se ter cautela em pacientes com hipocalemia, hiponatremia, hipercalcemia ou hiperuricemia sintomática. Não há dados disponíveis em pacientes com estenose da artéria renal unilateral ou bilateral, estenose em rim único ou após transplante renal recente. Alteração no balanço eletrolítico sérico (monitoramento recomendado), na tolerância à glicose e nas concentrações séricas de colesterol, triglicérides e ácido úrico. Não recomendado a pacientes abaixo de 18 anos de idade. Deve-se ter cautela em pacientes com insuficiência hepática ou distúrbios biliares obstrutivos. Cautela em pacientes que apresentaram angioedema com Exforge HCT™ ou com histórico de angioedema com outros fármacos. Descontinuar imediatamente Exforge HCT™ e não readministrá-lo. Cautela em pacientes com insuficiência cardíaca, insuficiência cardíaca crônica grave ou outras condições com ativação do sistema renina-angiotensinaaldosterona. Pode ocorrer comprometimento da função renal. Cautela em pacientes com infarto agudo do miocárdio. Agravamento da angina e infarto agudo do miocárdio podem ocorrer após o inicio ou aumento da dose de anlodipino, particularmente em pacientes com doença arterial coronariana obstrutiva grave. Assim como com todos os outros vasodilatadores, cuidado especial em pacientes que sofrem de estenose mitral ou aórtica ou cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva. Glaucoma agudo de ângulo fechado. Cautela em pacientes com alergia ou asma. Evitar uso concomitante com alisquireno em pacientes com insuficiência renal grave (TFG < 30 mL/min). É necessário precaução na coadministração de Exforge HCT™ com outros agentes inibidores do SRA como IECAs ou alisquireno. Gravidez: contraindicado. Lactação: não recomendado. Interações: O uso concomitante com outros agentes inibidores do SRA como IECAs ou alisquireno pode aumentar a incidência de hipotensão, hipercalemia e alterações na função renal. É recomendada a monitoração da pressão arterial, função renal e eletrólitos quando houver uso concomitante com estes medicamentos. Monitoramento é necessário quando usado concomitantemente com lítio. Cautela quando usado concomitantemente com diuréticos poupadores de potássio (por exemplo, espironolactona, triantereno, amilorida), suplementos de potássio, substitutos do sal contendo potássio ou outros medicamentos que possam aumentar os níveis de potássio (heparina, etc). Monitoramento das concentrações séricas de potássio é recomendado. Monitoramento das concentrações séricas de potássio quando usado com relaxantes musculares (ex.: derivados cumarínicos). Cautela se combinado com outros anti-hipertensivos. Cautela com fármacos que causam hipocalemia (ex.: corticosteroides, ACTH, anfotericina, penicilina G, carbenoxolona, antiarrítmicos). monitoramento do equilíbrio eletrolítico plasmático com medicamentos que causam hiponatremia (por exemplo, antidepressivos, antipsicóticos, anticonvulsivantes). O tratamento concomitante com AINEs, incluindo inibidores da COX-2, pode diminuir os efeitos anti-hipertensivos. Monitoramento da função renal com AINEs e inibidores da COX-2. A dose máxima de sinvastativa é 20 mg quando coadministrada com anlodipino. Cautela no uso concomitante de anlodipino com inibidores da CYP3A4 (por ex.: cetoconazol, itraconazol e ritonavir), pois pode ocorrer aumento das concentrações plasmáticas de anlodipino. Cautela no uso concomitante de anlodipino e indutores da CYP3A4. Monitoramento dos efeitos clínicos é recomendado. A coadministração com inibidores do transportador de captação (rifampicina e ciclosporina) ou transportador de efluxo (ritonavir) pode aumentar a exposição sistêmica à valsartana. Alteração do balanço eletrolítico com glicosídeos digitálicos. Cautela com insulina e agentes antidiabéticos orais. Cautela com resinas de troca aniônica, alopurinol, amantadina, diazóxido, medicamentos citotóxicos, agentes anticolinérgicos, vitamina D, sais de cálcio, ciclosporina, metildopa, aminas pressóricas (por ex.: noradrenalina), barbitúricos, narcóticos e álcool. Reações adversas: anlodipino: reações adversas comuns e incomuns: cefaleias, sonolência, tonturas, palpitações, rubor, dor abdominal, náuseas, edema, fadiga, insônia, alterações de humor incluindo ansiedade, tremor, hipoestesia, disgeusia, parestesia, síncope, alteração visual, diplopia, zumbido, hipotensão, dispneia, rinite, vômitos, dispepsia, boca seca, constipação, diarreia, alopecia, hiperidrose, prurido, erupção cutânea, púrpura, descoloração da pele, fotossensibilidade, dor nas costas, espasmo muscular, mialgia, artralgia, distúrbios urinários, noctúria, polaciúria, ginecomastia, disfunção eréctil, astenia, dor, mal-estar, dor no peito, perda de peso, aumento de peso. Reações adversas muito raras: hiperglicemia, hipertonia, taquicardia ventricular, tosse, gastrite, hiperplasia gengival, icterícia, urticária. Reações adversas muito raras, mas potencialmente graves: trombocitopenia, leucocitopenia, reações alérgicas, neuropatia periférica, arritmia, bradicardia, fibrilação atrial, infarto do miocárdio, vasculite, pancreatite, hepatite, angioedema, eritema multiforme, síndrome de Steven-Johnson, aumento das enzimas hepáticas (principalmente consistente com colestase). valsartana: reações adversas incomuns: vertigem, tosse, dor abdominal, fadiga. Frequência desconhecida: dermatite bolhosa, erupção cutânea, prurido, hemoglobina diminuída, hematócrito diminuído, potássio no sangue aumentado, função hepática anormal, incluindo bilirrubina aumentada, mialgia, creatinina aumentada no sangue. Frequência desconhecida, mas potencialmente grave: hipersensibilidade incluindo doença do soro, vasculite, angioedema, disfunção e insuficiência renal, trombocitopenia, neutropenia. Reações também observadas durante os estudos clínicos, independentemente da sua associação causal com o medicamento em estudo: artralgia, astenia, dor nas costas, diarreia, tontura, dor de cabeça, insônia, diminuição da libido, náuseas, edema, faringite, rinite, sinusite, infecção do trato respiratório superior, infecções virais. hidroclorotiazida: reações adversas muito comuns e comuns: hipocalemia e lipídios no sangue aumentado, hipomagnesemia, hiperuricemia, hiponatremia, urticária e outras formas de erupção cutânea, diminuição do apetite, náuseas leves e vômitos, hipotensão ortostática, disfunção erétil. Adicionais reações adversas potencialmente graves: icterícia ou colestase, desconforto abdominal, reações de fotossensibilidade, hiperglicemia, glicosúria e agravamento do estado metabólico do diabetes, distúrbios do sono, depressão, deficiência visual, arritmias, vasculite necrosante, lúpus eritematoso, necrólise epidérmica tóxica, eritema multiforme, pancreatite, pneumonite, edema pulmonar, erupção cutânea com ou sem dificuldades em respirar (reações de hipersensibilidade), alcalose hipoclorêmica, hipercalcemia, trombocitopenia com ou sem púrpura, agranulocitose, leucopenia, depressão da medula óssea, anemia hemolítica ou aplástica, insuficiência renal aguda, alterações renais, glaucoma de ângulo fechado. Reações adversas adicionais: pirexia, desconforto abdominal, constipação e diarreia, dor de cabeça, tontura, parestesia, espasmos musculares, astenia. USO ADULTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. MS – 1.0068.1053. Informações completas para prescrição disponíveis à classe médica mediante solicitação. 2014-PSB/GLC-0722-s. BSS 03.12.14 Referências: 1.Revista Kairos, maio 2014. 2. Gradman AH, Basile JN, Carter BL, Bakris GL; American Society of Hypertension Writing Group. Combination therapy in hypertension. JASH. 2010;4:42–50. 3. Bula de Exforge HCT TM. 6333631 EV ANUNCIO EXFORGEHCT 1 0115 BR. Destinado a profissionais habilitados a prescrever e/ou dispensar medicamentos. Material destinado exclusivamente à classe médica. A Novartis reserva-se o direito de alterar, suspender ou encerrar o Programa Vale Mais Saúde™ a qualquer momento, mediante comunicado aos participantes através do site: www.valemaissaude.com.br. Material produzido pela Novartis em janeiro/2015. 2015 - © - Direitos Reservados – Novartis Biociências S/A – Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização do titular. Responsável Técnico Dr. Luiz Carlos V. de Andrade – CRM 48277 Sala de cirurgia híbrida cardiovascular, para o tratamento de cardiopatias complexas com imagens tridimensionais altamente apuradas. HCor – Hospital do Coração/Diagnóstico – Unidade Paraíso: Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 147 – São Paulo – SP HCor – Edifício Dr. Adib Jatene: Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 130 – São Paulo – SP HCor Onco – Clínica de Radioterapia: Rua Tomás Carvalhal, 172 – São Paulo – SP HCor Diagnóstico – Unidade Cidade Jardim: Av. Cidade Jardim, 350 – 2º andar – São Paulo – SP Tels.: Geral: (11) 3053-6611 • Central de Agendamento: (11) 3889-3939 • Pronto-socorro: (11) 3889-9944 • www.hcor.com.br Todo o apoio que você precisa: uma equipe multidisciplinar e os mais avançados recursos tecnológicos. O HCor foi o hospital pioneiro na América Latina a conquistar duas certificações pela JCI para os Programas Clínicos de Infarto Agudo de Miocárdio (IAM) e de Insuficiência Cardíaca (IC). Essa mesma excelência também está presente na nova unidade do HCor, o edifício Dr. Adib Jatene. Agora, você e seus pacientes têm uma das mais completas e sofisticadas estruturas totalmente à disposição para que obtenham os melhores resultados em todos os tratamentos. Nós colocamos o coração em tudo. ESTEJA PREPARADO PARA SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA Participe dos cursos do Centro de Treinamento Com objetivo de treinar profissionais da saúde e a população leiga para reconhecer e lidar com situações de emergência cardíaca, os treinamentos ministrados pelo centro utilizam equipamentos e salas modernas, o que garante o máximo realismo à situação simulada. Os instrutores são altamente capacidados e credenciados, de acordo com as regras e especificações da American Heart Association (AHA). Conheça mais sobre os cursos e inscreva-se! ACLS – Suporte Avançado de Vida em Cardiologia ACLS EP (EXPERIENCED PROVIDER) – Total de 6 cursos BLS – Suporte Básico de Vida FIRST AID – Primeiros Socorros e Salva-Corações com DEA / DAE PALS – Suporte Básico de Vida em Pediatria SAVIC – Suporte Avançado de Vida em Insuficiência Cardíaca Saiba mais e inscreva-se em: WWW.SOCESP.ORG.BR/CENTRO_TREINAMENTO/ Credenciamento: ISSN 0103-8559 Indexada em: LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (www.bireme.br) Latindex – Sistema Regional de Información em Línea para Revistas Científicas de América Latina, El Caribe, España y Portugal (www.latindex.unam.mx) Editor Chefe: Luiz A. Bortolotto Álvaro Avezum Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Amanda G. M. R. Sousa Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Angelo Amato V. de Paola Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp São Paulo, SP, Brasil Antonio Augusto Lopes Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Antonio Carlos Pereira-Barretto Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Antonio de Pádua Mansur Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Ari Timerman Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Benedito Carlos Maciel Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto,SP,Brasil Bráulio Luna Filho Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo / Hospital Brasil, ABC São Paulo, SP, Brasil Bruno Caramelli Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Caio de Brito Vianna Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Carlos Alberto Buchpiguel Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Vinculação Acadêmica) São Paulo, SP, Brasil Carlos Costa Magalhães Cardioclin - Clinica e Emergência Cardiologica São José dos Campos , SP, Brasil. Carlos Eduardo Rochitte Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP / Hospital do Coração, HCOR / Associação do Sanatório Sírio, São Paulo, SP, Brasil Carlos V. Serrano Jr. Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Celso Amodeo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Dalmo Antonio R. Moreira Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Daniel Born Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP São Paulo, SP, Brasil Dante Marcelo Artigas Giorgi Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC FMUSP), São Paulo, SP, Brasil Dirceu Rodrigues Almeida Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Edson Stefanini Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Expedito E. Ribeiro Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Fabio B. Jatene Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Fausto Feres Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Felix J. A. Ramires Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Conselho Editorial Fernanda Marciano Consolim Colombo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Fernando Bacal Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Fernando Nobre Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, Ribeirão Preto, SP , Brasil Flavio Tarasoutchi Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Francisco A. Helfenstein Fonseca Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo São Paulo, SP, Brasil Francisco R. M. Laurindo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Henry Abensur Beneficência Portuguesa de São Paulo - Setor de ensino, São Paulo, SP, Brasil Ibraim Masciarelli F.pinto Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Ieda Biscegli Jatene Hospital do Coração - HCOR São Paulo, SP, Brasil João Fernando Monteiro Ferreira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil João Manoel Rossi Neto Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil João Nelson R. Branco Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Jorge Eduardo Assef Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil José Carlos Nicolau Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil José Carlos Pachón Mateos Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Universidade de São Paulo - USP, Hospital do Coração, Hospital Edmundo Vasconcelos, São Paulo, SP, Brasil José Francisco Kerr Saraiva Hospital e Maternidade Celso Pierro, São Paulo, SP, Brasil José Henrique Andrade Vila Hospital de Beneficência Portuguesa, São Paulo, SP, Brasil José L. Andrade Instituto de Radiologia (InRad) - Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina- USP, São Paulo, SP, Brasil José Soares Jr. Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Katashi Okoshi Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, Botucatu, SP, Brasil Kleber G. Franchini Departamento de Clínica Médica UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil Leopoldo Soares Piegas Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Lilia Nigro Maia Faculdade de Medicina de Rio Preto (FAMERP)/Hospital de Base São José do Rio Preto, SP, Brasil Luiz A. Machado César Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Luiz Mastrocola Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio (HCOR) e Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Luiz Felipe P. Moreira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Marcelo Jatene Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Marcelo Chiara Bertolami Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Marcelo Luiz Campos Vieira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Marcus Vinicius Simões Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP - Brasil Maria Cristina Oliveira Izar Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Maria Teresa Nogueira Bombig Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Dra. Maria Virgínia Tavares Santana Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Mauricio Ibrahim Scanavacca Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Max Grinberg Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Miguel Antonio Moretti Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Nelson Kasinsky Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Orlando Campos Filho Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Otavio Rizzi Coelho Disciplina de Cardiologia do Departamento de Clinica Médica da FCM UNICAMP, São Paulo, SP, Brasil Paola Emanuela Poggio Smanio Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Paulo Andrade Lotufo Faculdade de Medicina e Centro de Pesquisa Clínica Epidemiológica da USP, São Paulo, SP, Brasil Paulo J. F. Tucci Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Paulo M. Pêgo Fernandes Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Pedro Silvio Farsky Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Raul Dias Dos Santos Filho Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Renato Azevedo Jr Hospital Samaritano São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Romeu Sérgio Meneghelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia/Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil Rui Póvoa Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Ulisses Alexandre Croti Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto (FUNFARME) / Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto, SP, Brasil Valdir Ambrosio Moises Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/Fleury Medicina e Saúde, São Paulo, SP, Brasil Valter C. Lima Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil William Azem Chalela Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil DIRETORIA DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO / Biênio 2014 - 2015 Presidente Francisco Antonio Helfenstein Fonseca Vice-Presidente Rui Fernando Ramos 1° Secretário Luciano Ferreira Drager 2° Secretário Guilherme Drummond Fenelon 1° Tesoureiro Ibraim Masciarelli Pinto 2° Tesoureiro Rui Manuel dos Santos Povoa Diretor Científico Raul Dias dos Santos Filho Diretor de Publicações Luiz Aparecido Bortolotto Diretor de Regionais Celso Amodeo Diretor de Promoção e Pesquisa Ricardo Pavanello Diretor de Tecnologia da Informação Juan Yugar Toledo Diretor de Qualidade Assistencial Jose Francisco Kerr Saraiva Diretor do Centro de Emergências Agnaldo Pispico Coordenador de Pesquisa José Luiz Aziz Coordenador de Pesquisa Andrei Carvalho Sposito Coordenador de Eventos Hermes Toros Xavier Coordenador de Políticas de Saúde Walter Jose Gomes Coordenador de Estudo Epidemiológicos Otavio Berwanger Coordenador de Hands On João Fernando Monteiro Ferreira A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (INSS 0103-8559) é Órgão Oficial da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, editada trimestralmente pela Diretoria de Publicações da SOCESP. Avenida Paulista, 2073 – Horsa I, 15° andar Conjunto 1512 - Cerqueira Cesar – São Paulo, SP CEP 01311-940 / Tel: (11) 3179-0045 / E-mail: [email protected] Website: www.socesp.org.br As mudanças de endereço, a solicitação de números atrasados e as cartas ao Editor deverão ser dirigidas à sede da SOCESP. É proibida a reprodução total ou parcial de quaisquer textos constantes desta edição sem autorização formal e expressa de seus editores. Para pedidos de reprints, por favor contate: SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo / Diretoria de Publicações Tel: (11) 3179-0045 / E-mail: [email protected] Impressão: Duograf Tiragem: 6.255 exemplares Coordenação editorial, criação, diagramação, revisão e tradução Atha Comunicação e Editora Tel.: 11 5087 9502 - [email protected] Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo São Paulo – SP, Brasil. V . 1 – 1991 – Substitui Atualização Cardiológica, 1981 – 91 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A) 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 4 (supl A), 4 (supl B), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 5 (supl B), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) ISSN 0103-8559CDD16616.105 RSCESP 72594NLM W1 WG100 CDU 616.1(05) DIRETORIA DAS REGIONAIS DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Biênio 2014 - 2015 ABCDM Presidente Rogerio Krakauer CAMPINAS Presidente Aloísio Marchi da Rocha RIBEIRÃO PRETO Presidente Rosana Graziani G. Mendes Diretor Científico Roberto Andres Gomez Douglas Diretor Científico Alessandro Franjotti Chagas Diretor Científico Vamberto Benedito Mansur Foschini 1° Secretário Silvio Cembranelli Neto 1° Secretário Dirceu Thiago Pessoa de Melo 1° Secretário Divino Luiz Rattis Batista 2° Secretário Carla Janice Baister Lantieri 2° Secretário Fernando Piza de S. Cannavan 2° Secretário Nathan Vale Soubihe Junior ARAÇATUBA Presidente Helena Cordeiro Barroso FRANCA Presidente Luiz Alfredo Husemann Patti SANTOS Presidente William da Costa Diretor Científico Eduardo Anseloni Diretor Científico Rodrigo Tavares Silva Diretor Científico Carlos Alberto Cyrillo Sellera 1° Secretário Celso Biagi 1° Secretário Rossini Rodrigues Machado 1° Secretário Rodolfo Leite Arantes 2° Secretário Felipe Camelo Biagi 2° Secretário Rui Pereira Caparelli Oliveira 2° Secretário Arnaldo Teixeira Ribeiro ARARAQUARA Presidente José Geraldo Bonfá JUNDIAÍ Presidente Luíz Anibal Larco Patino SÃO CARLOS Presidente Sergio Luis Berti Diretor Científico Antonio Carlos Braga de Moraes Diretor Científico Paulo Alexandre da Costa Diretor Científico Ana Cândida Arruda Verzola de Castro. 1° Secretário Mauricio Zangrando Nogueira 1° Secretário Andre Duarte Barral 1° Secretário Jose Cesar Briganti 2° Secretário Hélio Marques Malavolta 2° Secretário João Paulo de Mello Medeiros 2° Secretário Hélio Araújo Cardoso ARARAS Presidente José Joaquim Fernandes Raposo Filho MARILIA Presidente Alexandre Rodrigues SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Presidente Maria Helena Mani Dias Sardilli Diretor Científico Fernando Candido Martins Diretor Científico Pedro Beraldo de Andrade Diretor Científico Maria Christiane Valeria Braga Braile 1° Secretário Antonio Carlos Assumpção 1° Secretário Siderval Ferreira Alves 1° Secretário Adriana Pinto Bellini Miola 2° Secretário Carlos Camargo 2° Secretário Heraldo Joel Benetti 2° Secretário Osana Maria Coelho Costa BAURU Presidente Plinio de Almeida Barros Neto PIRACICABA Presidente Walter Alonso Checoli SOROCABA Presidente Pericles Sidnei Salmazo Diretor Científico Guilherme Jose Guimarães Prates Diretor Científico Pablo Thomé Teixeirense Diretor Científico Fernando Cortes Remisio Figuinha 1° Secretário Nicélio Leite Melo 1° Secretário Humberto Magno Passos 1° Secretário Daniel Fernando Pellegrino dos Santos 2° Secretário Júlio Cesar Vidotto 2° Secretário Marcelo Barbosa Rodrigues Costa 2° Secretário Emerson de Albuquerque Seixas BOTUCATU Presidente Silméia Garcia Zanati PRESIDENTE PRUDENTE Presidente Mozart Alves Gonçalves Filho VALE DO PARAÍBA Presidente José Eduardo Bastos Diretor Científico Meliza Goi Roscani Diretor Científico Fernando Pierin Peres Diretor Científico Augusto Ricardo Barba Urena 1° Secretário Danieliso Renato Fusco 1° Secretário Osmar Marchiotto Junior 1° Secretário Jorge Zarur Neto 2° Secretário Ricardo Mattos Ferreira 2° Secretário Adriano Oliveira Cavalheiro 2° Secretário Bruno Augusto Alcova Nogueira NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo) é o órgão oficial de divulgação da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP). O Suplemento da Revista Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo é parte integrante da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e publica artigos nas áreas de saúde como enfermagem, fisioterapia, educação física, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social, entre outras. Trata-se de uma publicação trimestral indexada no LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e no Latindex (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal). Com o objetivo de disseminar o conhecimento na área de cardiologia e de outras áreas de saúde a Revista da SOCESP e seu Suplemento passam, a partir de 2015, a ter acesso aberto. A publicação segue os requisitos de uniformização recomendados pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (www.icmje.org.br). Os artigos, para serem aprovados, são submetidos à avaliação de uma comissão de revisores (peer review) que recebem o texto de forma anônima e decidem se haverá sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao Editor Chefe. Os conceitos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabilidade dos autores. A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo segue na íntegra a tendência internacional do estilo Vancouver, disponível (www.icmje.org.br). CATEGORIAS DE ARTIGOS A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo recebe para publicação artigos de Revisão, Revisão Sistemática e Meta-análise. O Suplemento da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo recebe para publicação: Artigo Original, Revisão, Revisão Sistemática, Meta-análise, Artigo de Opinião, Artigo de Atualização e Relato de Caso. No caso de estudos clínicos e experimentais deverá haver referência explícita quanto ao cumprimento das normas éticas, incluindo o nome do Comitê de Ética em Pesquisa que aprovou o estudo. Limites por Tipo de Publicação (Extensão): Os critérios abaixo delineados devem ser observados para cada tipo de publicação. A contagem eletrônica de palavras deve incluir a página inicial e texto. Os manuscritos enviados deverão estar em padrão PC com arquivos TXT ou DOC, espaço duplo, com margem larga, acompanhados pela carta de autorização de publicação assi- nada pelo autor, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. Certifique-se de que o manuscrito se conforma inteiramente às instruções. Ensaios Clínicos: O periódico apoia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão aceitos para publicação, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE. Os endereços para esses registros estão disponíveis a partir do site do ICMJE (www.icmje.org). Conflito de Interesses: Conforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000 os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros (comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação. Devem declarar e podem agradecer no manuscrito todo o apoio financeiro ao trabalho, bem como outras ligações para o seu desenvolvimento. Correção de Provas Gráficas: Logo que prontas, as provas gráficas em formato eletrônico serão enviadas, por e-mail, para o autor responsável pelo artigo. Os autores deverão devolver, também por e-mail, a prova gráfica com as devidas correções em, no máximo, 48 horas após o seu recebimento. O envio e o retorno das provas gráficas por correio eletrônico visa agilizar o processo de revisão e posterior publicação das mesmas. Direitos Autorais: Todas as declarações publicadas nos artigos são de inteira responsabilidade dos autores. Entretanto, todo material publicado torna-se propriedade da Revista, que passa a reservar os direitos autorais. Portanto, nenhum material publicado na Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo poderá ser reproduzido sem a permissão por escrito. Todos os autores de artigos submetidos deverão assinar um Termo de Transferência de Direitos Autorais, que entrará em vigor a partir da data de aceite do trabalho. Organização do Arquivo Eletrônico: Todas as partes do manuscrito devem ser incluídas em um único arquivo. O mesmo deverá ser organizado com a página de rosto, em primeiro lugar, o texto, referências seguido pelas figuras (com legendas) e ao final, as tabelas (com legendas). Página de Rosto: A página de rosto deve conter: a) o tipo do artigo; b) o título completo em português e inglês com até 80 caracteres deve ser conciso, porém informativo; b) o nome completo de cada autor (sem abreviações); Recomendações para Artigos submetidos à Revista da SOCESP: Tipo de Artigo Resumo Estruturado com até Original 200 palavras Atualização / Não é estruturado com até Revisão 200 palavras Número de Palavras Referências Figuras Tabelas 2.500 20 10 6 Excluindo o resumo, referências, tabelas e figuras 4.000 60 3 2 Excluindo o resumo, referências, tabelas e figuras Editorial 500 0 0 0 0 e a instituição a que pertence cada um deles; c) o local onde o trabalho foi desenvolvido; d) nome, endereço, telefone e e-mail do autor responsável para correspondência. Resumo: O Resumo deve ser estruturado em caso de artigo original e deve apresentar os objetivos do estudo com clareza, dados históricos, métodos, resultados e as principais conclusões em inglês e português, não devendo ultrapassar 200 palavras. Descritores: Deve conter no mínimo três palavras chaves baseadas nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) -http://decs.bireme.br. No inglês, apresentar keywords baseados no Medical Subject Headings (MeSH) - http://www. nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html, no mínimo três e no máximo seis citações. Introdução: Deve apresentar o assunto e objetivo do estudo, oferecer citações sem fazer uma revisão externa da matéria. Material e Método: Deve descrever o experimento (quantidade e qualidade) e os procedimentos em detalhes suficientes que permitam a outros pesquisadores reproduzirem os resultados ou darem continuidade ao estudo. Ao relatar experimentos sobre temas humanos e animais, indicar se os procedimentos seguiram as normas do Comitê Ético sobre Experiências Humanas da Instituição, na qual a pesquisa foi realizada ou de acordo com a declaração de Helsinki de 1995 e Animal Experimentation Ethics, respectivamente.Identificar precisamente todas as drogas e substâncias químicas usadas, incluindo os nomes genéricos, dosagens e formas de administração. Não usar nomes dos pacientes, iniciais, ou registros de hospitais. Oferecer referências para o estabelecimento de procedimentos estatísticos. Resultados: Apresentar os resultados em sequência lógica do texto, usando tabelas e ilustrações. Não repetir no texto todos os dados constantes das tabelas e ou ilustrações. No texto, enfatizar ou resumir somente as descobertas importantes. Discussão: Enfatizar novos e importantes aspectos do estudo. Os métodos publicados anteriormente devem ser comparados com o atual para que os resultados não sejam repetidos. Conclusão: Deve ser clara e concisa e estabelecer uma ligação entre a conclusão e os objetivos do estudo. Evitar conclusões não baseadas em dados. Agradecimentos: Dirigidos a pessoas que tenham colaborado intelectualmente, mas cuja contribuição não justifica coautoria, ou para aquelas que tenham provido apoio material. Referências: Restritas à bibliografia essencial ao conteúdo do artigo. Numerar as referências de forma consecutiva de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizando-se números arábicos sobrescritos, no seguinte formato: (Redução das funções da placa terminal.1) Incluir os seis primeiros autores seguidos de et al. Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo com o Index Medicus. a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do Periódico. ano;volume:página inicial-final Ex.: Campbell CJ. The healing of cartilage deffects. Clin Orthop Relat Res. 1969;(64):45-63. b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora; ano. Ex.: Diener HC, Wilkinson M, editors. Drug-induced headache. 2nd ed. New York: Spriger-Verlag; 1996. c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo. Editor(es) do livro e demais dados sobre este, conforme o item anterior. Ex.: Chapman MW, Olson SA. Open fractures. In: Rockwood CA, Green DP. Fractures in adults. 4th ed. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1996. p.305-52. d) Resumos: Autor(es). Título, seguido de [abstract]. Periódico ano; volume (suplemento e seu número, se for o caso): página(s) Ex.: Enzensberger W, Fisher PA. Metronome in Parkinson’s disease [abstract]. Lancet. 1996;34:1337. e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto entre parênteses. f) Tese: Autor, título nível (mestrado, doutorado etc.), cidade: instituição; ano. Ex.: Kaplan SJ.Post-hospital home health care: the elderley’s access and utilization [dissertation]. St. Louis: Washington Univ.; 1995. g) Material eletrônico: Título do documento, endereço na internet, data do acesso. Ex: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis. [online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];1(1):[24 screens]. Available from: URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm Tabelas: As tabelas devem ser numeradas por ordem de aparecimento no texto com números arábicos. Cada tabela deve ter um título e, se necessário, uma legenda explicativa. As tabelas deverão ser enviadas através dos arquivos originais (p.e. Excel). Figuras (Fotografias e Ilustrações): As figuras devem ser apresentadas em páginas separadas e numeradas sequencialmente, em algarismos arábicos, conforme a ordem de aparecimento no texto. Para evitar problemas que comprometam o padrão da revista, o envio do material deve obedecer aos seguintes parâmetros: todas as figuras, fotografias e ilustrações devem ter qualidade gráfica adequada (300 dpi de resolução) e apresentar título e legenda. Em todos os casos, os arquivos devem ter extensão .tif e/ou jpg. Também são aceitos arquivos com extensão .xls (Excel); .eps; .psd para ilustrações em curva (gráficos, desenhos e esquemas). As figuras incluem todas as ilustrações, tais como fotografias, desenhos, mapas, gráficos, etc, e devem ser numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. Legendas: Digitar as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações). Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo a cada figura, e na ordem em que foram citadas no trabalho. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto. No rodapé das figuras e tabelas deve ser discriminado o significado das abreviaturas, símbolos, outros sinais e informada fonte: local onde a pesquisa foi realizada. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. Reprodução: Somente a Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo poderá autorizar a reprodução dos artigos nelas contidos. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Os artigos enviados passarão a ser propriedade da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Submissão de Artigos: A partir de janeiro de 2015 os artigos deverão ser enviados para Submissão para a Atha Comunicação e Editora (A/C Flávia M. S. Pires/ Ana Carolina de Assis) - Rua Machado Bittencourt, 190 – 4º andar - CEP: 04044-903 – São Paulo/SP, Brasil Tel: +55 11 5087-9502/ Fax: +55 11 5579 5308 ou via email para [email protected] Caso ocorra a necessidade de esclarecimentos adicionais, favor entrar em contato com a Atha Comunicação e Editora. editorial Caros leitores da Revista SOCESP, Nesta edição, apresentamos revisões atualizadas de uma das áreas da cardiologia onde os avanços diagnósticos e terapêuticos foram dos mais importantes nas últimas décadas: arritmias. O manejo dos principais distúrbios de ritmo do coração exige um constante aprendizado, visto que é uma das condições clínicas mais comuns em nossa prática diária. Os especialistas que elaboraram as revisões deste número da revista são autoridades na área, com grande experiência clínica e científica, proporcionando atualizações de alta qualidade e importante aplicação clínica. Abordamos desde os mecanismos eletrofisiológicos das principais arritmias, destacando o papel do sistema nervoso autônomo até as principais indicações do tratamento intervencionista, incluindo também tópicos do manuseio clínico das principais arritmias atriais e ventriculares e também das arritmias genéticas. Esperamos que todos tenham uma excelente leitura. Luiz Aparecido Bortolotto Editor-chefe SUMÁRIO/CONTENTS Avanços no diagnóstico e tratamento das principais arritmias cardíacas Papel do sistema nervoso autônomo nas arritmias cardíacas.................................................................................................................182 Role of the autonomic nervous system in cardiac arrhythmias Fátima Dumas Cintra Taquiarritmias Atriais: Diagnóstico e Tratamento ..............................................................................................................................................187 Atrial Tachyarrhythmias: Diagnosis and Treatment Frederico Scuotto, Cláudio Cirenza Como conduzir pacientes assintomáticos com extrassístoles ventriculares?.............................................................................194 How to approach asymptomatic patients with premature ventricular contractions ? João Pimenta, Ney Valente Quais as medicações antiarrítmicas indicadas para o tratamento da taquicardia ventricular no paciente com cardiopatia estrutural?.....................................................................................................................................200 WHICH ANTIARRHYTHMIC DRUGS ARE INDICATED FOR THE MANAGEMENT OF VENTRICULAR TACHYCARDIA IN PATIENTS WITH STRUCTURAL HEART DISEASE? Tan Chen Wu, Francisco Darrieux COMO IDENTIFICAR E ENFRENTAR A TEMPESTADE ELÉTRICA NA PRÁTICA CLÍNICA?..................................................................................................207 HOW TO IDENTIFY AND MANAGE ELECTRICAL STORM IN CLINICAL PRACTICE Victor Augusto Poncio, Fernando Piza de Souza Cannavan, Márcio Jansen de Oliveira Figueiredo Arritmias genéticas: como investigar e como tratar?.......................................................................................................................................212 Inherited arrhythmias: how to investigate and how to treat? Luciana Sacilotto, Mauricio Ibrahim Scanavacca Quando indicar ablação para as principais arritmias atriais e ventriculares?.............................................................................219 When is ablation indicated for the principal atrial and ventricular arrhythmias? Eduardo Palmegiani, Adalberto Menezes Lorga, Adalberto Menezes Lorga Filho revisão/review Papel do sistema nervoso autônomo nas arritmias cardíacas Role of the autonomic nervous system in cardiac arrhythmias RESUMO Fátima Dumas Cintra1 1. Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Correspondência: Hospital São Paulo- R. Borges Lagoa, 783- 2°andar. Vila Clementino, São Paulo,SP. [email protected] 182 As arritmias cardíacas apresentam comportamento eletrofisiológico, manifestação clínica, prognóstico e resposta terapêutica diferentes na população. Sendo assim, a compreensão dos mecanismos envolvidos na gênese da anormalidade do ritmo cardíaco é fundamental para nortear a terapêutica. O sistema nervoso autônomo participa ativamente da eletrofisiologia da célula cardíaca e dos mecanismos relacionados ao desencadeamento das arritmias cardíacas. Dentre as arritmias supraventriculares, a fibrilação atrial merece destaque. Estudos avaliando a variabilidade da frequência cardíaca demonstram importante modificação autonômica antecedendo um quadro de fibrilação atrial. Tanto a ativação simpática quanto a estimulação parassimpática podem participar da manutenção dessa arritmia. Além disso, métodos que reduzem a inervação autonômica também reduzem a incidência de arritmias atriais, sugerindo que a neuromodulação possa ser uma ferramenta promissora no controle dessa arritmia. As arritmias ventriculares também se relacionam ao comportamento autonômico. O infarto agudo do miocárdio ocasiona denervação das fibras simpáticas na cicatriz e as áreas de intensa fibrose perdem a capacidade de responderem a estimulação simpática; entretanto as regiões próximas a cicatriz apresentam um encurtamento do período refratário para a estimulação simpática de forma heterogênica predispondo a ocorrência da ectopias ventriculares. Dessa forma, a investigação do sistema nervoso autônomo no desencadeamento e manutenção das arritmias cardíacas é uma linha de pesquisa promissora e a maior compreensão dos mecanismos autonômicos irá propiciar novas ferramentas de controle das anormalidades do ritmo cardíaco. Descritores: Arritmias Cardíacas; Eletrofisiologia; Sistema Nervoso Autônomo. Abstract Cardiac arrhythmias present varying electrophysiological behavior, clinical manifestation, prognosis, and therapeutic response in the population. An understanding of the mechanisms involved in the genesis of heart rhythm disorders is therefore essential for guiding the therapy. The autonomic nervous system plays an active role in the electrophysiology of the cardiac cells and the mechanisms that trigger cardiac arrhythmias. Atrial fibrillation, one of the supraventricular arrhythmias, deserves special attention. Studies to evaluate heart rate variability have demonstrated important modifications preceding an episode of atrial fibrillation. Both sympathetic activation and parasympathetic stimulation can play a role in the persistence of this arrhythmia. Moreover, methods that reduce autonomic innervation also reduce the incidence of atrial arrhythmias, suggesting that neuromodulation can be a promising tool in the control of this arrhythmia. Ventricular arrhythmias are also related to autonomic behavior. Acute myocardial infarction leads to denervation of the sympathetic fibers in the scar tissue, and the areas of intense fibrosis lose their capacity to respond to sympathetic stimulation, while the regions close to the scar tissue present heterogeneous refractory period shortening for sympathetic stimulation, predisposing to the occurrence of ventricular ectopic beats. Thus, the investigation of the autonomic nervous system in the triggering and persistence of heart arrhythmias is a promising line of research, and a better understanding of the autonomic mechanisms involved will provide new tools for the control of heart rhythm disorders. Descriptors: Arrhythmias, Cardiac; Electrophysiology; Autonomic Nervous System. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):182-6 Papel do sistema nervoso autônomo nas arritmias cardíacas INTRODUÇÃO As arritmias cardíacas apresentam comportamento eletrofisiológico, manifestação clínica, prognóstico e resposta terapêutica diversa na população. Sendo assim, a compreensão dos mecanismos envolvidos na gênese da anormalidade do ritmo cardíaco é fundamental para nortear a terapêutica; entretanto essa tarefa nem sempre é fácil na prática clínica. O sistema nervoso autônomo (SNA) participa na eletrofisiologia da célula cardíaca, desencadeamento e manutenção de uma série de arritmias1,2, porém os mecanismos envolvidos nessa modulação permanecem em investigação, possivelmente pela dificuldade de análise e interpretação do comportamento do SNA. A presença de inúmeros fatores confundidores e falta de padronização metodológica para avaliação autonômica prejudicam ainda mais a interpretação dos resultados, que se tornam pouco reprodutíveis. Um exemplo dessa dificuldade relaciona-se a resposta de bradicardia e/ou hipotensão observada na síncope vasovagal. Apesar de todo esse processo estar vinculado ao comportamento autonômico, o papel dos componentes simpático e parassimpático apresentam resultados conflitantes. Em um estudo que avaliou a variabilidade da frequência cardíaca em crianças com síncope vasovagal em repouso e durante o teste de inclinação foi demonstrado maior suscetibilidade à positividade do teste nos pacientes com aumento simpático basal3. Por outro lado, outros autores demonstraram supressão autonômica em ambos os componentes, simpático e parassimpático4 e ainda foi demonstrado supressão simpática durante o sono de pacientes portadores de síncope vasovagal5. Dessa forma a relação entre SNA e arritmias cardíacas ainda é um desafio na prática clínica. INFLUÊNCIA AUTONÔMICA NA CÉLULA CARDÍACA O sistema nervoso autônomo (SNA) é dividido anatômica e funcionalmente em dois componentes (simpático e parassimpático), cujas atribuições involuntárias possuem os objetivos principais de preservar a homeostase do organismo e adaptar as funções viscerais as alterações circunstanciais endógenas e ambientais. Historicamente, os dois sistemas são considerados funcionalmente antagonistas. Porém, evidências atuais sugerem que tais componentes podem ser modulados independentemente6 ou atuar com efeitos de reciprocidade7. Normalmente, a ativação simpática encurta a duração do potencial de ação tanto nos átrios como nos ventrículos8. A ativação parassimpática, por sua vez, prolonga a duração e o período refratário nos ventrículos, entretanto pode reduzir o período refratário nos átrios9,10. Isso, em parte justifica porquê a estimulação parassimpática pode ter efeitos pró-arrítmico ou antiarrítmicos na dependência da câmara cardíaca estudada. ARRITMIAS ATRIAIS E SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO A fibrilação atrial (FA) é a arritmia sustentada mais frequente na prática clínica com alta prevalência na população geral e graves consequências cardiovasculares incluindo acidente vascular cerebral. Devido a sua imporRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):182-6 tância epidemiológica é alvo de inúmeros estudos clínicos. Trata-se de uma arritmia supraventricular em que ocorre uma completa desorganização na atividade elétrica atrial, fazendo com que os átrios percam sua capacidade de contração, não gerando sístole atrial. Os mecanismos relacionados à mudança do ritmo sinusal para o ritmo atrial são complexos, mas, possivelmente incluem três mecanismos essências: substrato atrial; presença de gatilhos e moduladores11. O substrato está relacionado principalmente ao tamanho do átrio esquerdo e a presença de fibrose do tecido atrial12. Recentemente, estudos com ressonância magnética dos átrios demonstraram a correlação entre a quantidade de fibrose no átrio e a ocorrência da arritmia13. Todavia, a fibrose isoladamente não é capaz de ocasionar a mudança do ritmo e a presença de um “gatilho” passa a ser importante. Em 1998 foi demonstrado que a presença de focos elétricos nas veias pulmonares quando disparados sob um tecido atrial susceptível poderiam desencadear a FA14, entretanto seria necessário ainda um terceiro fator denominado “modulador”. O SNA é reconhecido como modulador nos casos de FA sendo responsável pela manutenção da anormalidade do ritmo. Estudos avaliando a variabilidade da frequência cardíaca demonstram importante modificação autonômica antecedendo um quadro de FA15. Tanto a ativação simpática quanto a estimulação parassimpática podem participar dos mecanismos da FA. Além disso, avaliando-se a atividade nervosa no gânglio estrelado e nervo vago foi demonstrado que a interação entre os dois componentes também é importante para a manutenção da fibrilação atrial16,17. Métodos que reduzem a inervação autonômica também reduzem a incidência de arritmias atriais, sugerindo que a neuromodulação possa ser importante no controle da FA18. Em estudos experimentais, a crioablação no gânglio estrelado ocasionou um retardo no desenvolvimento e manutenção de FA após estimulação atrial rápida19. Por outro lado, a estimulação parassimpática também pode exercer papel na prevenção de arritmias atriais. A estimulação nervosa cervical em gatos é capaz de suprimir o tônus simpático e, dessa forma, inibir a ocorrência de arritmias atriais20. Estudos em humanos, apresentam resultados semelhantes. Pappone et al. analisaram a relação entre a modificação autonômica e a recorrência de FA após o isolamento elétrico das veias pulmonares 21. Esse estudo avaliou o benefício da denervação vagal por radiofrequência na prevenção das recorrências de FA através da análise da variabilidade da frequência cardíaca, demonstrando que a denervação vagal associada ao procedimento de ablação contribuiu significativamente para redução de recorrência da arritmia. Recentemente, Stavrakis et al. avaliaram as propriedades antiarrítmicas da estimulação vagal elétrica transcutânea na região auricular da orelha direita durante o estudo eletrofisiológico. Pacientes com FA paroxística submetidos à ablação por radiofrequência foram selecionados. Após a indução de FA por estimulação atrial rápida os pacientes foram randomizados a receber 1 hora de estimulação vagal transcutânea ou controle sham e um novo ciclo de indução foi realizado. A estimulação vagal suprimiu a FA e diminuiu as citoquinas inflamatórias nesses pacientes, sugerido novamente a importância da neuromodulação como uma promissora ferramenta terapêutica nesses pacientes22. 183 RELAÇÃO ENTRE APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO; ARRITMIAS CARDÍACAS E SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO A apneia obstrtutiva do sono (AOS) é caracterizada pela obstrução completa ou parcial, recorrente das vias aérea superiores durante o sono, resultando em períodos de apneia, dessaturação de oxihemoglobina e despertares noturnos frequentes. O reconhecimento dessa anormalidade do sono por parte dos cardiologistas tornou-se fundamental após a publicação do aumento na mortalidade cardiovascular nos pacientes com AOS não tratada23. Vários fatores contribuem para o dano cardiovascular nesses pacientes e, possivelmente, inúmeros mecanismos estejam envolvidos. Entretanto, três fatores principais merecem destaque: hipóxia intermitente, despertares frequentes e alterações na pressão intratorácica. Essas alterações acabam por desencadear hiperatividade do sistema nervoso simpático; disfunção endotelial e inflamação24-27. A ativação simpática observada nesses pacientes é um importante fator que justifica a elevada prevalência de arritmias cardíacas nessa população incluindo a FA. Em um estudo epidemiológico, a ocorrência de arritmias cardíacas noturnas foi mais frequente nos pacientes portadores de AOS mais grave. A perturbação do ritmo foi observada em 53,3% dos indivíduos sem distúrbios respiratórios do sono, enquanto que 92,3% dos pacientes com AOS severa apresentaram arritmia cardíaca. Ambos complexos ectópicos isolados atriais e ventriculares apresentaram-se mais frequentes nos pacientes portadores de AOS moderada/grave quando com05.27:45 710/825 C3/A2 ARRITMIAS VENTRICULARES E SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO As arritmias ventriculares também se relacionam ao comportamento autonômico. O infarto agudo do miocárdio ocasiona denervação das fibras simpáticas na cicatriz, as áreas de intensa cicatriz perdem a capacidade de responderem a estimulação simpática, entretanto as regiões próximas a cicatriz apresentam um encurtamento do período refratário para a estimulação simpática de forma heterogênica predispondo a ocorrência de arritmias ventriculares30-34. Esses estudos demonstram que o infarto agudo do miocárdio origina substrato arritmogênico não somente pela presença de cicatriz, mas também pela ruptura da inervação autonômica levando a uma resposta eletrofisiológica não homogênia, 710/825 C4/A1 02/A1 LOC ROC EKG CHIN REG AIRFLOW CANULA CHEST ABDOM SNORE SAO2 184 paradas aos controles (p<0,001). A fibrilação atrial ocorreu em 1,65% dos casos de AOS severa e 0,2% nos controles (p=0,03). Após controle de potenciais fatores de confusão (idade, IMC, tabagismo, diabetes, hipertensão arterial, e parâmetros de PSG), idade, gênero e IAH foram preditores de arritmia cardíaca noturna28, sugerindo o vínculo da anormalidade do ritmo e com o SNA. A figura 1 demonstra um quadro de apneia obstrutiva do sono e sua repercussão no ritmo cardíaco possivelmente mediado por influência do SNA. Além disso, pacientes submetidos ao isolamento elétrico de veias pulmonares portadores de AOS apresentam maior recorrência quando comparados com pacientes controles ou portadores de AOS adequadamente tratados29. 100% 60% 20% Figura 1: Exemplo gráfico de uma época mostrando evento de apneia obstrutiva do sono. As 3 primeiras linhas demonstram o registro encefalográfico característico do sono REM. O quarto e quinto canal correspondem ao oculograma demonstrando a movimentação ocular típica dessa fase do sono (setas). O canal eletrocardiográfico exibe período de pausa sinusal seguido de taquicardia sinusal imediatamente após a abertura da via aérea. Observe a ausência de fluxo aéreo (canal airflow) seguido da abertura das vias aéreas superiores com reestabelecimento do fluxo. As cintas posicionadas na região torácica (canal chest) e abdominal (canal abdomen) documentam o esforço respiratório durante todo o evento. Finalmente, o ronco é registrado após a abertura da via aérea (canal snore). Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):182-6 Papel do sistema nervoso autônomo nas arritmias cardíacas contribuindo para a gênese de arritmias ventriculares35. De fato, estudos em pacientes com infarto agudo do miocárdio demonstram que a baixa variabilidade da frequência cardíaca foi preditor independente de mortalidade após ajuste para potenciais fatores de confusão e fração de ejeção36,37. Pacientes com miocardiopatia dilatada e baixa variabilidade da frequência cardíaca também apresentam maior probabilidade de arritmias ventriculares severas38. Por outro lado, a atividade física é conhecida por alterar a atividade autonômica resultando em aumento no tônus parassimpático e diminuição simpática39,40. Estudos experimentais em cães demonstram que o exercício físico exerce papel protetor na indução de arritmias ventriculares malignas, revertendo a remodelação autonômica induzida pelo infarto agudo do miocárdio e aumentando a estabilidade elétrica do coração41. Os efeitos do exercício na incidência de arritmias ventriculares e morte cardíaca súbita não foi investigado em um número grande de pessoas, entretanto existem várias evidências associando o nível de atividade física a redução na mortalidade cardiovascular, sugerindo um efeito modulador do exercício e a forte participação autonômica no desencadeamento dessas arritmias42-44. CONSIDERAÇÕES FINAIS A investigação do sistema nervoso autônomo no desencadeamento de arritmias é uma linha de pesquisa extensa na literatura médica. Tanto as arritmias atriais, especialmente a fibrilação atrial, quanto as arritmias ventriculares apresentam fortes influência autonômicas. Atualmente, as técnicas de modulação autonômica estão sendo estudadas como forma adjuvante de prevenção das arritmias e podem constituir ferramenta promissora na prática clínica. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 1. Arora R. Recent insights into the role of the autonomic nervous system in the creation of substrate for atrial fibrillation: implications for therapies targeting the atrial autonomic nervous system. Circ Arrhythm Electrophysiol. 2012;5(4):850-9. 2. Brack KE, Winter J, Ng GA. 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Serviço de Eletrofisiologia Clínica Invasiva da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM) ), São Paulo, SP, Brasil. Correspondência: Rua Leopoldo de Bulhões 35, apto 1101, Vila Clementino, São Paulo, SP. CEP 04022-020. [email protected], [email protected] As taquiarritmias atriais representam um grupo heterogêneo de arritmias dentro das taquicardias supraventriculares, que apresentam como característica comum a ausência do nó atrioventricular como parte integrante do circuito destas arritmias. Dentre elas, destacam-se as taquicardias atriais, que podem ser focais ou macrorreentrantes. O eletrocardiograma é uma ferramenta importante nesta diferenciação, assim como o estudo eletrofisiológico, valendo-se de técnicas de mapeamento eletroanatômico (MEA), cada vez mais apuradas para este diagnóstico. As taquicardias atriais focais representam especial desafio diagnóstico e terapêutico. Padrões eletrocardiográficos, avaliação dos padrões da arritmia durante monitorização eletrocardiográfica prolongada, avaliação dos padrões de resposta a fármacos e avaliação da ativação atrial e da resposta a manobras durante estudo eletrofisiológico constituem a base do seu diagnóstico. Com o desenvolvimento de novas técnicas e taxas de sucesso crescente, a ablação por radiofrequência tem se tornado, nos últimos anos, o tratamento de escolha para pacientes com taquicardia atrial focal sintomática, especialmente nos casos de taquicardia atrial incessante, pelo risco potencial de desenvolvimento de taquicardiomiopatia. Este artigo tem por objetivo realizar revisão da literatura quanto aos aspectos mais atuais no diagnóstico e tratamento das principais taquiarritmias atriais. Descritores: Taquicardia Atrial; Tratamento; Ablação por Cateter. Abstract Atrial tachyarrhythmias are a heterogeneous group within the supraventricular tachycardia group that share in common the absence of the atrioventricular node as an integral component of the arrhythmia circuit. Among them, special attention is given to atrial tachycardias (AT), which may present as focal or macroreentrant. The electrocardiogram (EKG) is an important tool in this differentiation, as is the electrophysiological study using techniques of electroanatomical mapping (EAM), both of which are becoming increasingly accurate in this diagnosis. The diagnosis and treatment of focal atrial tachycardias are challenging. The diagnosis is based on electrocardiographic patterns, evaluation of the patterns of arrhythmia during prolonged electrocardiographic monitoring, evaluation of the patterns of response to drugs, and evaluation of the atrial activation and the response to maneuvers during electrophysiological testing. With the development of new techniques, and the increasing success rates, radiofrequency ablation (RFA) has become the gold standard therapy in recent years for patients with symptomatic focal atrial tachycardia, particularly in cases of incessant atrial tachycardia, due to the potential risk for the development of tachycardia-induced cardiomyopathy. The objective of this article is to present a review of the literature, emphasizing the current aspects of diagnosis and therapy for atrial tachyarrhythmias. Descriptors: Tachycardia, Ectopic Atrial; Therapy; Catheter Ablation. INTRODUÇÃO O termo taquiarritmias atriais engloba uma série de subgrupos de taquicardias supraventriculares que se originam nos átrios e não requerem o nó atrioventricular (NAV) para sua manutenção1. Dentre estas, destaca-se a taquicardia Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):187-93 atrial (TA) focal que, apesar de ser causa incomum de taquicardia supraventricular (TSV), representa, na maioria dos casos, desafio diagnóstico e terapêutico especialmente quando comparada às outras formas de TSV. Na literatura, exis- 187 188 tem poucos estudos que se propuseram a realizar avaliação dos métodos diagnósticos e da eficácia do tratamento neste grupo de arritmias, seja pela heterogeneidade populacional, pelo seu caráter inconstante, ou pela dificuldade na definição precisa de determinadas arritmias, com marcadas diferenças entre os estudos1. O objetivo deste artigo é realizar uma revisão da literatura avaliando as principais características clínicas e eletrocardiográficas das taquicardias atriais, com enfoque no seu diagnóstico e manejo clínico. Respondem por 5-10% das indicações de EEF na maioria das séries clínicas em adultos, chegando até a 15% na população pediátrica3. Modificações do substrato atrial pelo envelhecimento, bem como a maior prevalência de doença cardíaca estrutural, levam ao aumento das taxas de TA na população geriátrica, chegando até a 23% dos casos2,3. Idosos tendem ainda a apresentar TA de átrio direito e TA multifocal com maior frequência1. A taquicardia atrial geralmente apresenta distribuição igual entre os sexos1. CLASSIFICAÇÃO APRESENTAÇÃO CLÍNICA As taquicardias atriais podem ser focais ou macrorreentrantes. TA focal é definida como ritmo atrial regular iniciado numa pequena área, com propagação centrífuga para os átrios, e atividade elétrica atrial ausente durante a maior parte do ciclo da arritmia2,3. Pode ser causada por automaticidade anormal, atividade deflagrada ou microreentrada. O eletrocardiograma (ECG) caracteristicamente apresenta ondas P separadas por linha isoelétrica. A presença de frequência atrial progressivamente maior no início (warm up) e desaceleração antes do término da taquicardia (cool down), sugere mecanismo automático. Como a TA por atividade deflagrada e por microreentrada apresentam várias características eletrofisiológicas em comum, alguns autores sugerem a divisão em taquicardia atrial automática e não automática1,2. Padrões de mapeamento eletroanatômico (MEA) durante estudo eletrofisiológico (EEF) confirmam a presença de local de origem da ativação com propagação centrífuga do estímulo aos átrios, com a atividade elétrica atrial ocupando pequena parte do ciclo da taquicardia3. Já TA macrorreentrante é definida como arritmia cuja atividade atrial pode ser observada durante grande parte do ciclo da taquicardia, sendo que a reentrada ocorre geralmente através de grandes obstáculos centrais, com vários milímetros de diâmetro2,3. Seus principais exemplos são o flutter atrial típico, flutter atrial típico reverso, reentrada de alça inferior, reentrada de dupla alça, taquicardias macrorreentrantes do átrio esquerdo e taquicardias macrorreentrantes incisionais ou cicatriciais3. O ECG caracteristicamente não apresenta linha isoelétrica entre as deflexões atriais, apresentando, no caso do flutter atrial típico, padrão clássico em serrilhado, com as ondas F sendo melhor observadas nas derivações inferiores e em V1. Apresentam frequência atrial média de 240-300 bpm, com ciclo entre 200-250 milissegundos (ms). Padrões de MEA durante EEF demonstram atividade elétrica atrial durante grande parte do ciclo da taquicardia, com proximidade entre o primeiro e último locais de ativação atrial3. As taquicardias atriais macrorreentrantes não serão abordadas adiante, não fazendo parte do escopo desta revisão. Neste artigo serão abordados o diagnóstico e o manejo clínico das taquicardias atriais focais, seus subtipos, e avaliação dos principais diagnósticos diferenciais. Os pacientes podem apresentar grande espectro clínico, variando desde a ausência de sintomas até quadros incapacitantes1,2. Quando sintomáticas, as taquicardias atriais podem apresentar-se através das formas paroxística ou incessante. Na forma paroxística o paciente apresenta os sintomas característicos de episódios de taquicardia paroxística supraventricular, cursando com palpitações, tontura, dor torácica, dispneia, e pré-síncope. No entanto, os sintomas podem ser mais severos nesse tipo de arritmia, pela maior possibilidade de doença cardíaca estrutural subjacente1,2. TA incessante é definida como aquela presente em mais de 50% do tempo. Neste caso, o paciente pode desenvolver insuficiência cardíaca (IC) por taquicardiomiopatia2,4. Ainda, a TA focal pode se apresentar como forma repetitiva, com episódios frequentes de taquicardia interrompidos por breves períodos de ritmo sinusal. Esta forma pode ser bem tolerada por anos, no entanto, se presente durante longo período, pode levar a taquicardiomiopatia2,4. Nos lactentes, os principais sintomas incluem dificuldade de amamentação, episódios de vômito, e taquipneia1,2. EPIDEMIOLOGIA TA não sustentada é achado comum em Holters, especialmente na população idosa, e raramente está associada com sintomas1,3. Já as taquicardias atriais sustentadas, conforme já descrito, são causa incomum de taquicardia supraventricular. HISTÓRIA NATURAL A TA focal geralmente apresenta curso benigno. Estudo realizado por Poutiainen et al. demonstrou que, num seguimento de pacientes com diagnóstico de TA realizado entre 3 e 16 anos antes da análise, 26% dos pacientes mantiveram o ritmo ectópico atrial, sendo que apenas 22% dos pacientes estavam em uso de medicação antiarrítmica. Isto levou os autores a propor que o foco da TA pode degenerar e/ou alentecer com o tempo5. Em outras séries clínicas, remissão espontânea foi observada em 24-63% dos casos1. Estudo realizado por Klersy et al. observou os fatores preditores para o término espontâneo da TA focal. O único preditor independente foi a idade de início da TA. TA apresentou remissão em 55% dos pacientes que apresentaram início da arritmia antes dos 25 anos, comparada a 16% dos pacientes que apresentaram início com 26 anos ou mais. Isso pode ser atribuído à TA causada por automaticidade anormal, mecanismo mais comum em pacientes mais jovens, com maior possibilidade de alentecimento ou degeneração do foco arrítmico6. Chen et al. observaram que 63% dos pacientes com TA focal apresentavam algum grau de disfunção ventricular esquerda. Destes, 73% apresentavam cardiomiopatia7. Observaram ainda que a taquicardiomiopatia é causada por TA por automatismo anormal em 80% casos. Outro achado importante foi que pacientes com frequência cardíaca (FC) mais rápida estão mais propensos a desenvolver a disfunção ventricular7. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):187-93 Taquiarritmias Atriais: Diagnóstico e Tratamento Já o estudo de Medi et al. observou alguns resultados contraditórios em relação ao realizado por Chen. Neste estudo, a incidência de taquicardiomiopatia foi de 10% em pacientes com TA focal, sendo que aqueles pacientes que desenvolveram a taquicardiomiopatia geralmente eram mais jovens, com maior incidência no sexo masculino, e apresentavam ciclo da taquicardia mais longo e menor frequência ventricular4. A correção da TA geralmente leva ao reestabelecimento da função ventricular4. Eventos embólicos raramente são descritos em pacientes com TA focal1,4. APRESENTAÇÃO ELETROCARDIOGRÁFICA A TA focal é marcada pela presença de ondas P discretas, geralmente numa faixa de frequência entre 130-240 bpm, podendo variar entre 100 bpm e 300 bpm. Drogas antiarrítmicas podem diminuir a frequência da TA sem abolir a arritmia1,2. A frequência atrial no período do sono pode ser até 40 bpm mais lenta do que na vigília1. Classicamente, existem linhas isoelétricas entre as ondas P em todas as derivações. No entanto, na presença de ritmo atrial muito rápido, distúrbios da condução intra-atrial, ou ambos, as ondas P podem ser mais largas, não havendo linha isoelétrica entre elas. Nesses casos, o ECG demonstrará padrão de flutter atrial1,2,3. A presença de intervalo RP longo é típico da TA focal, uma vez que o ritmo é dirigido pelos átrios e conduzido normalmente aos ventrículos. A onda P geralmente se insere no final da onda T precedente8. Outras taquicardias que cursam com intervalo RP longo são a taquicardia por reentrada nodal (TRN) atípica e a taquicardia por reentrada atrioventricular mediada por via acessória com condução decremental retrógrada, ou taquicardia de Coumel2,8. Pode ocorrer intervalo RP curto durante a taquicardia atrial na dependência de alentecimento da condução pelo nó atrioventricular (prolongamento do intervalo PR) durante a taquicardia2,3. A morfologia do QRS durante a TA é, em geral, a mesma do QRS em ritmo sinusal. No entanto, aberrância funcional pode ocorrer durante frequências atriais muito rápidas2. A relação P/QRS geralmente é 1:1, no entanto, periodicidade de Wenckebach ou bloqueio AV 2:1 pode ocorrer durante frequências atriais muito altas, doença do NAV, ou na presença de drogas que diminuam a condução pelo NAV2. Na presença de bloqueio atrioventricular, o diagnóstico de TA se torna muito provável, excluindo taquicardia por reentrada atrioventricular (TRAV) ortodrômica e tornando improvável, embora ainda possível, o diagnóstico de TRN2,3. O ciclo da TA usualmente apresenta oscilações acima de 15 a 20 milissegundos, ao contrário da TRAV ortodrômica e da TRN, que apresentam ciclos mais estáveis2. Morfologia da onda P e localização da TA A morfologia da onda P pode fornecer dados importantes sobre o local de origem da taquicardia. Esta é determinada pelo local de origem da atividade atrial, bem como pelo padrão de ativação atrial. A análise da morfologia da onda P, Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):187-93 na maioria dos casos, fica comprometida pela onda T precedente. Desse modo, é importante tentar analisar a onda P claramente precedida por linha de base isoelétrica9,10. De um modo geral, para a avaliação da origem, utilizamos as derivações V1 e aVL. Estudos utilizando técnicas de mapeamento intracardíaco durante EEF demonstram que a presença de onda P positiva em V1 sugere foco no átrio esquerdo com sensibilidade de 93% e especificidade de 88%9. Outro estudo demonstrou que onda P positiva ou bifásica com deflexão inicial negativa seguida por positiva em V1 apresenta sensibilidade de 100% para origem no átrio esquerdo10. Já a onda P negativa ou bifásica com deflexão inicial positiva seguida por negativa em V1 apresenta 100% de especificidade para origem no átrio direito, destacando-se que este critério perde acurácia para arritmias originadas na região do septo interatrial. A derivação aVL também é útil para esta finalidade, uma vez que ondas P negativas em aVL sugerem origem no átrio esquerdo, enquanto que ondas P positivas em aVL sugerem origem da TA no átrio direito9,10. No átrio direito, um local comum de ocorrência da taquicardia atrial é ao longo da linha da crista terminalis (CT). Este local apresenta anisotropia importante devido ao menor acoplamento celular no sentido transverso, propiciando a ocorrência de microreentrada. Caracteristicamente, o ECG apresenta onda P negativa em aVR pela sua localização mais posterior no átrio direito. TA de crista terminalis superior apresenta onda P semelhante à onda P sinusal, fazendo diagnóstico diferencial com a taquicardia sinusal2,10. Outros locais comuns de ocorrência da TA focal são o septo interatrial, os ânulos tricúspide e mitral, a base dos apêndices atriais esquerdo e direito, o seio coronário, e as veias pulmonares, sendo a TA de átrio direito mais comum do que a de átrio esquerdo8,10. Algoritmos conhecidos para localização da taquicardia atrial, dentre eles os descritos por Ellenbogen e Kistler, auxiliam na avaliação do provável local de origem da TA, crucial no planejamento da terapêutica, especialmente no caso da estratégia invasiva3,10. As figuras 1 e 2 demonstram o eletrocardiograma de pacientes com taquicardia atrial focal esquerda e direita, respectivamente. AVALIAÇÃO INICIAL E DIAGNÓSTICO Na TA focal, especial atenção deve ser dada à presença de doença cardíaca estrutural. Desse modo, além da anamnese, exame físico, e eletrocardiograma, é fundamental a realização do ecocardiograma transtorácico para determinar a função cardíaca2,3. TA focal geralmente ocorre em pacientes idosos com doença cardíaca estrutural. Nesta população, a doença arterial coronariana deve ser excluída2,9. Em pacientes com a forma paroxística, pode-se lançar mão do Holter para o diagnóstico, permitindo, além da detecção do evento, a análise de algumas características da taquiarritmia, como por exemplo fenômenos de warm up e cool down, apontando para o diagnóstico de taquicardia atrial automática, permitindo também a avaliação de irregularidades no ciclo da taquicardia ou na condução atrioventricular. O Holter pode ainda ser utilizado nas formas 189 Serviço de Eletrofsiologia Clínica e Invasiva - Escola Paulista de Medicina Version WINDOWS XP: EPTRACER V1.05 Serviço de Eletrofsiologia Clínica e Invasiva - Escola Paulista de Medicina 6290 I Version WINDOWS XP: EPTRACER V1.05 6193 ll I lll ll AVR lll AVL AVR AVF AVL V1 AVF V2 V1 V3 V2 V4 V3 V5 V4 V6 10 mm/mV 25mm/s 190 Figura 1. Taquicardia atrial focal de átrio esquerdo – Onda P positiva em V1 e negativa em aVL. Paciente com IC dilatada com FE = 20% na fila de transplante cardíaco. Após detecção da taquicardia atrial focal incessante, paciente encaminhada para o procedimento invasivo em nosso serviço. Realizada ablação por cateter na base do apêndice do atrial esquerdo, com sucesso no término da arritmia. Paciente recuperou gradualmente a função ventricular. repetitiva e incessante para avaliar a resposta ventricular e a frequência cardíaca média nas 24 horas11. Em pacientes com sintomas mais raros, pode ser utilizado o Loop Recorder para detecção dos episódios sintomáticos2,11. Uma vez que o diagnóstico diferencial com as outras formas de taquicardia supraventricular paroxística pode ser difícil, a abordagem de certeza pode requerer EEF, com avaliação intracardíaca das característica da arritmia, bem como suas respostas às manobras eletrofisiológicas e a fármacos2,3,9. TRATAMENTO O tratamento das taquicardias atriais tem progredido rapidamente. Antigamente, o tratamento medicamentoso era a base do manejo clínico. Mais recentemente, com o desenvolvimento de técnicas avançadas de mapeamento eletroanatômico e ablação, a terapia invasiva tem assumido papel importante no tratamento desta condição9. Tratamento agudo Não existem estudos bem delineados e randomizados para avaliação do tratamento num cenário agudo de emergência quanto à taquicardia atrial. Os dados advêm principalmente de pequenas séries de estudos observacionais9. Manobras vagais, como a massagem do seio carotídeo ou a manobra de Valsalva, apresentam efetividade no término das taquicardias paroxística supraventriculares em torno de 27%8. Geralmente não apresentam sucesso no V5 V6 10 mm/mV 25mm/s Figura 2. Taquicardia focal de átrio direito – Ondas P positivas em aVL e tendência positiva em V1 . Isto se deve ao eixo superior da onda P e sua origem mais septal. Foi realizada ablação por cateter na região do óstio do seio coronário, com sucesso no término da arritmia. término da TA focal, mas podem facilitar seu diagnóstico de certeza promovendo bloqueio aátrioventricular transitório e, assim, permitir a visualização de ondas P previamente mascaradas pelo complexo QRS-T anterior8,9. A última diretriz norte-americana, recém-aceita, ainda não publicada, estabelece como primeira linha de terapia para TA focal o uso de betabloqueadores (BB) ou bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) não di-hidropiridínicos (diltiazen e verapamil) endovenosos, em pacientes estáveis e sem disfunção ventricular (recomendação classe I)8. Esses fármacos são moderadamente eficazes, tendo 30-50% de efetividade no término da arritmia ou controle da resposta ventricular, e baixo perfil de efeitos colaterais8,9. Em pacientes que apresentam critérios de instabilidade clínica, a cardioversão elétrica sincronizada (CVE) deve ser realizada rapidamente (indicação classe I), embora o sucesso do procedimento no caso de TA automática seja limitado2,8. A adenosina é efetiva em 96% das taquicardias paroxísticas supraventriculares que dependem do NAV8. No entanto, quanto à TA focal, os resultados são controversos. O estudo de Chen et al. demonstrou término da TA focal em 89% daquelas causadas por microreentrada, 100% daquelas causadas por atividade deflagrada e 57% de supressão transitória da TA focal automática, sem o término da mesma7. Já o estudo de Kall et al. demonstrou término de 44% das TA focais automáticas e 38% das TA por atividade deflagrada e microreentrada12. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):187-93 Taquiarritmias Atriais: Diagnóstico e Tratamento Além destes, importante estudo realizado por Markowitz et al. avaliou o efeito da adenosina na TA focal em 85 pacientes. 84% responderam a adenosina, 2 casos apresentaram resposta inespecífica e 8% eram insensíveis. TA focal com insensibilidade à adenosina, na maioria dos casos, se origina nas veias pulmonares ou no átrio direito. No estudo eletrofisiológico, eletrogramas de casos de TA focal insensível à adenosina apresentaram fragmentação importante, e tiveram maior duração e menor amplitude comparados àqueles sensíveis a adenosina, ou pelo menos suprimidos temporariamente pela mesma13. A diretriz norte-americana recém-aceita determina o uso de adenosina na TA focal como indicação classe IIA, podendo ser útil no diagnóstico diferencial entre TA e outras formas de taquicardia supraventricular8. O uso de amiodarona para pacientes que apresentam disfunção ventricular ou história de IC tem indicação classe IIB8. As recomendações para o manejo agudo da TA focal estão resumidas na tabela 1. Tratamento crônico A eficácia do tratamento medicamentoso é pouco conhecida devido à ausência de estudos sobre os efeitos das terapias não invasivas na TA focal. Ainda, em estudos observacionais, as diferenças na definição clínica da TA, e características clínicas díspares nos grupos avaliados torna ainda mais difícil uma avaliação precisa. Séries de casos mais antigos relatam controle de 10-20% dos casos com quinidina e procainamida9. Flecainida, antiarrítmico da classe IC disponível nos EUA, apresenta as melhores taxas de controle da TA focal, chegando a 53%9. Tabela 1. Recomendações para tratamento agudo da TA focal8. Recomendação Classe de Nível de Recomendação Evidência BB, diltiazen, ou verapamil endovenoso para pacientes hemodinamicamente estáveis com TA focal I C CVE sincronizada para pacientes hemodinamicamente instáveis com TA focal I C Adenosina para restaurar o ritmo sinusal ou diagnosticar o mecanismo da taquicardia, em pacientes estáveis hemodinamicamente com suspeita de TA focal IIA B Amiodarona endovenosa para pacientes estáveis hemodinamicamente, a fim de restaurar o ritmo sinusal ou controlar a resposta ventricular da TA focal IIB Ibutilide para restaurar o ritmo sinusal em pacientes estáveis hemodinamicamente com TA focal IIB Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):187-93 C C O estudo eletrofisiológico apresenta taxas de sucesso entre 80-100%, com baixas taxas de complicações, atingindo no máximo 1-2%8. Desse modo, a diretriz norte-americana indica como classe I a realização de ablação por cateter para pacientes com TA focal sintomática8. A indicação é especialmente válida para pacientes com taquicardiomiopatia induzida por TA incessante, onde, o controle da arritmia apresenta taxas de normalização da fração de ejeção (FE) na absoluta maioria dos casos8. A indicação da terapêutica medicamentosa no manejo crônico da TA focal sintomática apresenta atualmente classe de recomendação IIA. Os BB e BCC são a primeira escolha, principalmente pelo baixo perfil de efeitos colaterais8. Flecainida e propafenona podem ser efetivas naqueles pacientes sem doença cardíaca estrutural, ou sinais de doença arterial coronariana8, sendo a propafenona indicada no tratamento da TA focal na população pediátrica. Esses fármacos, quando combinadas a BB ou BCC, têm sua eficácia aumentada (classe IIA) 8. Amiodarona e sotalol apresentam alguma utilidade no tratamento da TA focal em crianças8. Amiodarona ainda apresenta indicação no tratamento da TA focal para pacientes com disfunção ventricular esquerda (classe IIB)8. As recomendações para o manejo crônico da TA focal estão resumidas na tabela 2. TAQUIARRITMIAS ATRIAIS ESPECIAIS Taquicardia Sinusal Inapropriada (TSI) TSI é definida como taquicardia sinusal inexplicada pela demanda fisiológica em repouso, com mínimo exercício, ou na fase de recuperação do exercício. É crucial para o seu diagnóstico a presença de sintomas como fraqueza, tontura, fadiga, e sensação de desconforto do tipo “aceleração cardíaca”2,8. Pacientes com TSI geralmente apresentam FC em repouso superior a 100 bpm, e superior a 90 bpm na média de 24 horas. A causa é desconhecida, e mecanismos relacionados a disautonomia, perda da regulação neurohormonal, e hiperatividade intrínseca do NAV tem sido propostas2,8. É importante distinguir de causas secundárias de taquicardia, como hipertireoidismo, anemia, desidratação, dor, uso de substâncias exógenas, e drogas de abuso. Ansiedade é um gatilho importante nesses pacientes. A Tabela 2. Recomendações para tratamento crônico da TA focal8. Classe de Nível de Recomendação Recomendação Evidência Ablação por cateter para o tratamento da TA focal sintomática I B BB, diltiazen, ou verapamil oral para pacientes com TA focal sintomática IIA C Flecainida ou propafenona para pacientes sem doença cardíaca estrutural no tratamento da TA focal sintomática IIA C Amiodarona ou sotalol para pacientes com TA focal sintomática IIB C 191 192 presença de doença cardíaca estrutural deve ser excluída, uma vez que o desenvolvimento de taquicardiomiopatia por TSI é extremamente raro. TSI também deve ser distinguida de outras formas de taquicardia, incluindo TA de crista terminalis superior e taquicardia por reentrada sinoatrial. Também é importante distinguir TSI da síndrome da taquicardia postural ortostática (POTS). Pacientes com POTS tem sintomas relacionados a alterações posturais e o tratamento para alentecer a FC sinusal pode levar a hipotensão ortostática severa. Portanto, TSI é um diagnóstico de exclusão8. Não existem recomendações para o tratamento de episódios agudos. Uma vez que o prognóstico é benigno, o tratamento se baseia no controle dos sintomas e pode não ser necessário. O tratamento da TSI pode ser difícil e deve ser reconhecido que a diminuição da FC sinusal pode não aliviar os sintomas. Terapia com BB ou BCC geralmente é inefetiva e mal tolerada pelos efeitos colaterais, como hipotensão. Treinamento para o exercício pode ser efetivo, mas o benefício real é desconhecido8. Ivabradina é um inibidor dos canais I funny, responsáveis pela automaticidade normal do NSA. Portanto, a ivabradina reduz a atividade de marcapasso, o que leva ao alentecimento da frequência sinusal. Essa medicação foi recentemente aprovada para o tratamento da IC sistólica. Os estudos BEAUTIFUL e SHIFT demonstraram queda benéfica da FC em 6-8 bpm. A medicação não apresenta outros efeitos hemodinâmicos a não ser a redução da FC. Desse modo, tem sido proposto para o tratamento da TSI8. Ablação por radiofrequência para modificação da FC sinusal pode reduzir a taxa de disparo sinusal, com efetividade de 76-100%. Ablação é realizada com MEA, alvejando locais de ativação sinusal precoce durante a infusão de isoproterenol. Apesar do procedimento, os sintomas geralmente recorrem com o passar dos meses, com recorrência da TSI em 27% dos casos e recorrência dos sintomas em 45% dos casos8. As complicações são significativas e podem incluir bradicardia sinusal ou juncional sintomática, com necessidade de marcapasso definitivo. Pode ocorrer ainda lesão do nervo frênico com paralisia diafragmática direita, e edema de membros superiores e face por estenose da veia cava superior. Tendo em vista os modestos benefícios do procedimento e seu grande potencial de lesões significativas, a modificação do NSA deve ser reservada para pacientes extremamente sintomáticos e que não podem ser tratados adequadamente com medicação8. Taquicardia por reentrada sinoatrial Subtipo específico de TA focal, decorrente de microrreentrada na região do complexo do NSA, caracterizada por início e término abruptos, resultando numa onda P com morfologia indistinguível da onda P sinusal8. Pode ser induzida e terminada com estimulação atrial programada e apresenta ciclo em torno de 350-550 ms. Entretanto, o diagnóstico de taquicardia por reentrada sinoatrial é geralmente de exclusão, uma vez que taquicardias automáticas de CT superior podem apresentar as mesmas manifestações clínicas e características eletrocardiográficas2,8. Além disso, reentrada ao redor da região do NSA nunca foi demonstrada claramente e tem suas evidências questionadas por alguns autores2,8. O tratamento medicamentoso geralmente é realizado com betabloqueadores. O tratamento definitivo é realizado com estudo eletrofisiológico e ablação de foco na região da CT superior, valendo-se das mesmas recomendações e riscos para o tratamento da TSI, ficando o procedimento indicado para casos extremamente sintomáticos que não podem ter sintomas controlados clinicamente, em pacientes que aceitam os riscos do procedimento1,2,8. Taquicardia atrial multifocal (TAM) TAM é uma taquiarritmia que deriva da presença de mais de um foco atrial, ou um único foco com diferentes saídas do estímulo atrial. Apresenta caracteristicamente mais de três morfologias diferentes de onda P na mesma derivação eletrocardiográfica, com variações nos intervalos P-P, PR, e R-R. Seu mecanismo de ação é desconhecido, com alguns autores advogando que ocorre por atividade deflagrada por pós-potenciais tardios e outros advogando que decorre de automaticidade anormal, ou sobreposições dos dois mecanismos2,8. TAM geralmente está associada à patologia de base, seja ela pulmonar, cardíaca ou metabólica, bem como ao uso de algumas medicações. Dentre as condições mais comuns estão a doença pulmonar obstrutiva crônica, hipertensão pulmonar, doença arterial coronariana, doenças valvares, hipomagnesemia, e uso de teofilina2,3,8. O tratamento da condição de base geralmente é suficiente para o controle da arritmia. Alguns autores recomendam a reposição de magnésio, mesmo em pacientes com níveis séricos normais8. Medicações antiarrítmicas geralmente não são efetivas e o tratamento se baseia no controle da resposta ventricular, alentecendo a condução pelo NAV. Embora as medicações antiarrítmicas geralmente não sejam efetivas, verapamil pode ser utilizado em pacientes sem disfunção ventricular esquerda (classe IIA), assim como amiodarona. Betabloqueadores devem ser utilizados com cuidado, especialmente em pacientes com doença pulmonar. No cenário agudo, cardioversão elétrica não tem efetividade8. CONSIDERAÇÕES FINAIS As taquiarritmias atriais correspondem a uma gama de condições que apresentam mecanismo e comportamento clínico diverso. Dentre estas arritmias, destaca-se a taquicardia atrial focal, pelo diagnóstico diferencial com outras formas de taquicardia supraventricular, constituindo, dentre estas, desafio tanto diagnóstico quanto terapêutico. Como base do seu diagnóstico destacam-se os padrões eletrocardiográficos, o comportamento destas arritmias durante a monitorização cardíaca prolongada, as respostas a manobras vagais e fármacos, bem como a avaliação durante o estudo eletrofisiológico. Nos últimos anos, com o desenvolvimento de técnicas de mapeamento intracardíaco cada vez mais apuradas, como as novas técnicas de mapeamento eletroanatômico, as taxas de sucesso do procedimento de ablação por cateter tem se mostrado cada vez mais elevadas, apreRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):187-93 Taquiarritmias Atriais: Diagnóstico e Tratamento sentando, ainda, baixas taxas de complicações, fazendo desta a principal alternativa terapêutica para os pacientes com TA focal sintomática, especialmente naqueles com TA incessante, pela possibilidade do desenvolvimento de taquicardiomiopatia. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. 193 REFERÊNCIAS 1. Roberts-Thomson KC, Kistler PM, Kalman JM. Atrial Tachycardia : Mechanisms, Diagnosis and Management. Curr Probl Cardiol. 2005;30:529-73. 2. Issa ZF, Miller JM, Zipes DP. Clinical Arrhythmology and Electrophysiology – A Companion to Braunwald´s Heart Disease. 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Nas últimas décadas surgiram evidências relatadas em trabalhos com grande número de pacientes e em diretrizes de várias sociedades de que as EV em indivíduos sem cardiopatia estrutural, após avaliação por métodos diagnósticos disponíveis, não necessitam de maiores preocupações, já que os riscos de morte se equivalem a uma população normal ou mesmo aos coronarianos com lesões arteriais discretas. Isso equivale a dizer, os assintomáticos não necessitam de nenhum tratamento específico, e se apresentarem sintomas decorrentes da arritmia, apenas terapia com β-bloqueadores e aconselhamento médico. Porém, assintomáticos portadores de EV com possibilidades de desenvolver quadros clínicos mais severos, devem ter uma abordagem mais criteriosa. Assim, devem submeter-se a avaliação clínica detalhada e talvez emprego de terapia específica, com medicamentos antiarrítmicos e até ablação por cateter, portadores de EV assintomáticos quanto à arritmia, quando esta for frequente – acima de 500 EV por hora – com cardiopatia estrutural, eletrocardiograma com evidências de alterações eletrogenéticas, miocardiopatia dilatada e hipertrófica, possibilidade de indução de arritmias ventriculares malignas e fração de ejeção em fase de deterioração. Descritores: Arritmias ventriculares; Extrassistolia ventricular; Arritmias em assintomáticos. ABSTRACT Premature ventricular contractions (PVC) were first described in the 7th Century BC, but until now, there are doubts among medical professionals, and even among many cardiologists, as to how to address them, or the best conduct for their treatment. In recent decades, evidence has emerged from large clinical trials, and the guidelines of various societies, that PVC in individuals without structural heart disease, after evaluation by the available diagnostic methods, are not a cause for major concern, as the risk of death is equivalent to that of the normal population, or even coronary patients with mild arterial lesions. This means that asymptomatic patients do not require any specific treatment, and if they present symptoms resulting from the arrhythmia, therapy with β-blockers alone, and medical guidance, are advised. However, asymptomatic patients with PVC with the possibility of developing more severe clinical conditions should be more carefully investigated. Patients with asymptomatic PVC in terms of arrhythmia should therefore be submitted to a detailed clinical evaluation, possibly with specific therapy, with antiarrhythmic medications and even catheter ablation, in cases where the arrhythmia is frequent – above 500 PVC per hour – with structural heart disease, electrocardiogram with evidence of electrogenetic alterations, dilated and hypertrophic myocardiopathy, possibility of induction of malignant ventricular arrhythmias, and ejection fraction in the deterioration phase. Descriptors: Ventricular arrhythmias; Ventricular extrasystoles; Asymptomatic arrhythmias. INTRODUÇÃO Define-se extrassístole ventricular (EV) como um batimento prematuro, que se origina abaixo da bifurcação do feixe de His, exibindo-se no eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações com QRS alargado (≥0,12s), com morfologia de bloqueio de ramo. Existem batimentos prematuros que se originam antes da bifurcação do tronco do feixe de His que tem duração <0,12s e são englobadas como EV, Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):194-9 Como conduzir pacientes assintomáticos com extrassístoles ventriculares? como por exemplo, as extrassístoles juncionais. Podem ser isoladas, pareadas, bigeminadas, em salvas, interpoladas, etc1. Também podem ser monomórficas ou polimórficas e serem identificadas pelo local de origem, como EV da via de saída do VD, do ventrículo esquerdo, as fasciculares e as juncionais. As EV já foram observadas na milenar medicina chinesa pelo médico Pien Chio aproximadamente no ano 600 AC, conhecido como um mestre na palpação do pulso e nos diagnósticos. Ele observou o pulso com falha intermitente, interpretando que esse fato não impedia de o indivíduo ter uma vida normal, mas uma evolução mais sombria se houvesse uma falha a cada 10 batimentos, que correspondia a aproximadamente 500 EV por hora2. Apesar do tempo que se passou, até o século passado não se tinha uma percepção correta da importância desses batimentos tão comuns, observados em 1% num ECG de 12 derivações de uma população considerada normal, e em 40 a 75% no Holter de 24 ou 48h3 (Figura 1). Porém, Lown et al4, na introdução das unidades coronarianas, propôs tratamen- to para as EV que surgiam nas síndromes coronarianas agudas, observações transportadas para qualquer EV que fosse documentada num ECG de rotina, principalmente as interpretadas como “R sobre T”, pois eram indícios potenciais de mortalidade em curto prazo, de onde se originou a conhecida mas já em desuso, a classificação de Lown para as EV. Felizmente, com estudos e metodologias mais modernas, esses conceitos evoluíram. Na atualidade, a abordagem de portadores de EV se reveste de grande importância, pois, ainda se observa, principalmente entre a comunidade médica, mesmo de cardiologistas, uma tendência em tratar esses pacientes com medicamentos que muitas vezes causam mais problemas que eficácia terapêutica, como os efeitos proarrítmicos. Todavia, alguns desses enfoques já estão bem definidos como EV em indivíduos sem cardiopatia estrutural evidente ou com arritmias ventriculares malignas desencadeadas por EV. Porém, até 1976 a presença desses batimentos ectópicos era uma incógnita quanto a sua etiologia e significado clínico, conforme observações de Kennedy e Underhill5. Já nos 195 Figura 1 – EV isolada e interpolada em traçados de Holter. Em A, EV isolada clássica, com batimento precoce, QRS alargado, não interferindo no ritmo sinusal. Observar que a soma do acoplamento com a pausa pós-extrassistólica é aproximadamente igual ao dobro da média dos ciclos sinusais seguintes. Em B, o mesmo batimento prematuro, com acoplamento 50ms menor, num momento de frequência cardíaca ligeiramente mais lenta, caracterizando uma EV interpolada e alterando a condução AV do batimento sinusal subsequente, com intervalo PR prolongado devido a condução retrógrada oculta para a junção AV. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):194-9 anos 1980 surgiam evidências de que EV, em portadores ou não de cardiopatia, tinham diferentes rumos quanto à sua evolução6. Assim, em 1985 uma publicação do mesmo grupo de pesquisadores sobre a mortalidade em portadores de EV, com muito impacto científico, provocou uma maior reflexão sobre o assunto, questionando a correlação entre a simples presença de EV vs. mortalidade em longo prazo7. Foi avaliada uma população de 73 indivíduos sadios e assintomáticos portadores de EV frequentes e complexas [pareadas ou taquicardia ventricular não sustentada (TVNS)] registradas em Holter de 24h. A média dos batimentos ectópicos foi de 566 por hora, multifocais em 63% e TVNS em 26%. Após o seguimento de 70 pacientes por um período entre 3 a 9,5 anos (média 6,5) foi registrada uma morte súbita e uma por neoplasia. O estudo concluiu que após um período longo de observação, indivíduos sem coronariopatia importante ou lesões coronarianas consideradas discretas têm a mesma evolução, favorável, quando comparados à população americana saudável, e que essas arritmias não oferecem riscos. Porém, parece que essa evolução estaria ligada a outros fatores, principalmente doença de base8,9. Dessa forma, a primeira observação a ser feita antes de tomar conduta após abordagem de um paciente com EV é definir se esta arritmia aparece num indivíduo com ou sem cardiopatia estrutural documentada. PACIENTES SEM CARDIOPATIA ESTRUTURAL 196 A primeira observação bem conduzida, mostrando que o tratamento de EV isoladas, em indivíduos de alto risco de morte súbita carecia de embasamento científico, foi relada por Chamberlain et al8 em 1980. Analisando os resultados em 344 pacientes – mexiletine em 181 vs 163 sob placebo–, os autores conseguiram demonstrar que o tratamento diminuía o número de batimentos ectópicos já no primeiro mês, mas aumentava os efeitos adversos e não interferia na mortalidade global, concluindo pela ineficácia desse fármaco quando usado como antiarrítmico. Estes achados foram confirmados pelo Impact Research Group, que demonstrou uma maior mortalidade, embora sem significância estatística, no grupo com mexiletine em relação ao placebo10. Somado às observações anteriores de que o uso de antiarrítmicos poderia provocar arritmias11, havia necessidade urgente de verificar e comprovar estas observações. Mas, o que causou maior impacto foi um estudo multicêntrico, conhecido como CAST (Cardiac Arrhytmia Supression Trial) com 1.498 pacientes alocados sob flecainida, encainida e placebo, concluindo-se que houve um excesso de mortalidade nos pacientes que usaram as substâncias ativas12. Entretanto, devido às evidências da ação dos medicamentos, dois anos antes o conselho de segurança desse ensaio interrompeu o estudo e liberou uma comunicação preliminar, mostrando os efeitos deletérios desses antiarrítmicos sobre o coração, aconselhando a evitar o seu uso em arritmias ventriculares assintomáticas13. Estas publicações foram o marco divisório para o uso ou não de fármacos antiarrítmicos em pacientes portadores de arritmias ventriculares consideradas não malignas, sendo cunhada, a partir daí, a palavra proarritmia, indicando que substâncias tidas como antiarrítmicas podiam provocar arritmias ou piorar as já existentes. Múltiplas publicações recentes, como investigações com grandes grupos de pacientes bem como revisões e diretrizes enfatizam a não malignidade das EV isoladas ou agrupadas até três batimentos ectópicos naqueles indivíduos sem cardiopatia estrutural evidente e eletrocardiograma sem sinais de síndromes eletrogenéticas14-17, orientando para evitar o uso de antiarrítmicos, ou então, quando sintomáticos, apenas β-bloqueadores. EV desencadeadas pelo esforço físico Já é fato bem estabelecido que mesmo em assintomáticos, as EV que surgem durante esforço, merecem uma abordagem mais criteriosa. Um estudo conduzido em indivíduos do sexo masculino com batimentos ectópicos ventriculares desencadeados pelo esforço físico mostrou uma maior mortalidade de causas cardíacas durante período de seguimento acima de vinte anos, à semelhança dos indivíduos apenas com teste ergométrico isquêmico, fato corroborado pelo estudo de Framingham18,19. Do mesmo modo, quando surgem na fase de recuperação pós-esforço também é um fator de risco aumentado de mortalidade20. Quando a morfologia das EV apresenta bloqueio do ramo direito, sugerindo origem no ventrículo esquerdo, parecem representar maior índice de malignidade21. Dessa forma, EV que surgem durante esforço físico em indivíduos adultos ou na recuperação, após o esforço, têm uma forte correlação com isquemia miocárdica revelada pelo teste de esforço, provavelmente a causa de maior mortalidade, embora a Diretriz Brasileira sobre Esportes não configure malignidade a essas condições, quando o teste ergométrico mostrar-se não isquêmico, principalmente em jovens e atletas, pois, isso pode ser explicado apenas pelo aumento do tono simpático durante o esforço, sem caracterizar uma cardiopatia 22. Neste contexto, há casos de indivíduos sadios e portadores de EV que mostram uma melhora da densidade arrítmica durante e pós esforço físico intenso23. Assim, EV relacionadas com esforço físico merecem uma investigação mais criteriosa no sentido de avaliar a presença de isquemia miocárdica que irá guiar a conduta. EV muito frequentes e miocardiopatia Está comprovado que EV pode levar à miocardiopatia dilatada, principalmente quando é frequente (Figura 2). A primeira menção sobre esse fato foi divulgada por Chugh et al 24, mostrando que a eliminação de EV num paciente portador de disfunção ventricular esquerda pode reverter a condição miocárdica, restabelecendo à normalidade. Este fato foi comprovado por Sekiguchi et al25 com uma série de 47 pacientes. Outras contribuições, clínicas e experimentais têm auxiliado a comprovar esta entidade nosológica cardíaca, até pouco tempo não conhecida e que se acreditava não existir. Atualmente há evidências documentadas de que batimentos ventriculares prematuros muito frequentes podem induzir à deterioração da função ventricular esquerda, principalmente quando a densidade extrassistólica for >24% dos batimentos em 24h, ou quando os batimentos ectópicos são de origem epicárdica ou têm duração aumentada >150ms26,27. Baseando-se nessas evidências, mesmo Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):194-9 Como conduzir pacientes assintomáticos com extrassístoles ventriculares? assintomáticos, esses indivíduos devem ser seguidos com controles mais amiúdes para avaliar a função ventricular esquerda e intervenção farmacológica ou invasiva, por meio de ablação das EV, para evitar uma “taquicardiomiopatia”, embora na maioria das vezes seja uma situação reversível28-30. Esta situação também já foi demonstrada em portadores de ressincronizador cardíaco, considerados não responsivos e que tiveram melhor evolução após eliminação das EV31. EV na hipertrofia miocárdica A existência de EV na presença de hipertrofia ventricular devido à hipertensão arterial sistêmica se reveste de risco aumentado de morte em longo prazo32. Do mesmo modo, a miocardiopatia hipertrófica idiopática per si já é um fator de mortalidade aumentada, incrementada com a presença de EV33. Assim, estes indivíduos devem ser clinicamente acompanhados e na primeira manifestação de sintomas relacionados à cardiopatia de base ou às EV devem ser cogitados para tratamento medicamentoso ou invasivo, por carregar probabilidade aumentada de morte. EV isoladas desencadeando arritmias malignas Este tópico ainda carece de maiores estudos. O encontro de indivíduos portadores da síndrome do QT longo, do QT curto, síndrome de Brugada, taquicardia ventricular catecolaminérgica, displasia arritmogênica do ventrículo direito, sinais eletrocardiográficos sugestivos de repolarização precoce ou algum outro tipo de síndrome genética que sabidamente possa induzir a arritmias malignas já é intrigante por si só. Com a presença de EV mesmo sem induzir arritmias torna-se uma situação desafiadora, pois, o primeiro episódio arrítmico poderá ser fatal. Assim, a necessidade do tratamento medicamentoso ou invasivo deste batimento ectópico ainda não está estabelecido, embora seja incomum o aparecimento de pacientes nestas condições que sejam assintomáticos. 197 Figura 2. EV que desencadeia taquicardia ventricular. Paciente de 29 anos com episódios de taquicardia ventricular não sustentada e moderada disfunção ventricular esquerda, mas que era assintomático quanto à presença de EV. Em A, presença de EV bigeminadas, com morfologia de bloqueio do ramo direito e hemibloqueio anterior esquerdo, sugestiva de origem no fascículo posteroinferior do ramo esquerdo. Em B, após mapeamento e pace mapping, a aplicação de radiofrequência aboliu os batimentos ectópicos. Quatro meses após, sem EV e totalmente assintomático, houve normalização da função ventricular. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):194-9 Quando se comprova que a EV desencadeia arritmias malignas esta situação deve ser abordada de forma determinante para eliminá-la. Sabe-se que nos estudos eletrofisiológicos, as arritmias podem ser induzidas por meio da estimulação atrial ou ventricular programada. Quando se documenta que uma arritmia ventricular é desencadeada por uma EV, e a reprodução ocorre com a estimulação ventricular com extraestímulos, esta arritmia pode ser eliminada por meio de métodos invasivos. Esta possibilidade coloca novos ânimos na comunidade de eletrofisiologistas devido à possibilidade de “cura” desses episódios34,35. É bem verdade que não se trata de uma atuação sobre o verdadeiro substrato arritmogênico, e sim, apenas no mecanismo deflagrador, mas já é um grande avanço, principalmente quando o indivíduo é portador de um CDI (Cardioversor Desfibrilador Implantável), submetido a contínuas descargas devido a uma arritmia incessante, que pode ser aliviada com a eliminação do fator indutor. A ablação de potenciais da rede de Purkinje, responsáveis por EV também já foi relatada com sucesso na prevenção de arritmias malignas36. EV originadas no feixe de His provocando pseudobloqueio AV 198 Embora seja de ocorrência rara e difícil de ser caracterizada e diagnosticada, este tipo de batimento ectópico talvez possa ser classificado como supraventricular, e quando frequente pode levar a ondas P sem condução atrioventricular, provocando quadros eletrocardiográficos de pseudobloqueio atrioventricular. Nem sempre estas EV merecem abordagem terapêutica, mas em casos de batimentos ectópicos muito frequentes e que provocam bradicardias devido ao grande número de ondas P não seguidas de resposta ventricular, a possibilidade de eliminação desta arritmia é imperiosa. Este tratamento embora com riscos de provocar destruição do feixe de His e consequente bloqueio AV de alto grau, pode ser feito por meio de ablação com cateter. Recente publicação mostrou que o uso da crioablação é um procedimento seguro sem riscos de complicação37. TRATAMENTO Por se tratar de EV assintomática, este tópico carece de extensos comentários. Contudo, algumas considerações devem ser mencionadas. Quando o médico optar pelo tratamento, mesmo em assintomáticos, é clássico o emprego de β-bloqueadores, grupo de fármaco embasado em vários ensaios terapêuticos e endossado por várias diretrizes. Quando sintomáticas, pode ser usado um β-bloqueador amparado a uma orientação firme e segura ao paciente para aumentar a confiança, não só no tratamento, mas principalmente na atitude do médico. Quando não há cardiopatia estrutural documentada pelos métodos não invasivos disponíveis e ECG normal, praticamente todas as diretrizes orientam para o uso de β-bloqueadores com o intuito de reduzir a ansiedade e o tono simpático, levando a um bom controle da arritmia. Os bloqueadores dos canais de cálcio também são úteis em suprimir EV com corações estruturalmente normais, principalmente quando a morfologia dos batimentos ectópicos sugerir bloqueio do ramo direito com hemibloqueio anterior esquerdo, talvez desencadeantes da taquicardia ventricular verapamil sensitiva. Outros fármacos poderiam ser tentados, principalmente a amiodarona, a propafenona e o sotalol, principalmente nos pacientes não responsivos e com carga elevada de batimentos ectópicos, após monitorar a função ventricular e evitar a instalação de uma miocardiopatia dilatada. Não é prudente o uso de antiarrítmicos que sabidamente incorporam propriedades proarrítmicas largamente descritas nas publicações médicas. A ablação por cateter para tratamento de EV é um método ainda de exceção, reservada para aqueles casos que realmente necessitem da eliminação do batimento ectópico e quando outras tentativas foram infrutíferas. Juntamente, medidas não farmacológicas como controle do tabagismo, do uso abusivo de bebidas alcoólicas, de drogas ilícitas, café, chá e outras substâncias sabidamente estimulantes, devem ser evitadas. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 1. Pastore CA, Pinho C, Germiniani H, Samesima N, Mano R, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos (2009). Arq Bras Cardiol. 2009;93(3 supl.2):1-19. 2. Kostis JB. The prognostic significance of ventricular ectopic activity. Am J Cardiol. 1992;70(7):807-8. 3. Ng GA. Treating patients with ventricular ectopic beats. Heart. 2006;92(11):1707–12. 4. Lown B, Fakhro AM, Hood HB, Thorn GT. The coronary care unit. New perspectives and directions. JAMA. 1967;199(3):156-66. 5. Kennedy HL, Underhill SJ. 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Setor de Tilt Test do Hospital Sírio Libanês, São Paulo,SP, Brasil. 3. Núcleo de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz., São Paulo, SP, Brasil. Correspondência: Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 Pinheiros, São Paulo - SP, 05403-900 [email protected] 200 As taquicardias ventriculares são as arritmias cardíacas com maior potencial de instabilidade clínica e mortalidade cardíaca. Embora possam ocorrer no contexto de pacientes sem cardiopatia estrutural demonstrável, quase sempre ocorrem em coração estruturalmente alterado, com substrato anatômico para reentradas. As alterações cardíacas podem ser isquêmicas e não isquêmica. A distinção entre as etiologias é importante por terem diferentes mecanismos e origens de taquicardia ventricular, que irá determinar a escolha do tratamento adequado das arritmias ventriculares e prevenção de morte súbita. Os principais objetivos no manejo destes pacientes são: a reversão imediata da taquicardia, a prevenção de recorrências e a redução da mortalidade cardiovascular. Atualmente os fármacos com eficácia e perfil de segurança mais utilizados para tratamento de taquicardia ventricular em pacientes com cardiopatia estrutural são os betabloqueadores, amiodarona e sotalol. Com exceção dos betabloqueadores, os antiarrítmicos não possuem a eficácia em manejo primário ou na prevenção de morte súbita demonstrada em estudos clínicos randomizados atuais de forma consistente. Em portadores de cardiodesfibrilador implantável, os antiarrítmicos podem atuar na supressão das taquicardias ventriculares não sustentadas e sustentadas, na lentificação das taquicardias ventriculares com intuito de facilitar a reversão por antitachycardia pacing e prevenir sincopes, além de controlas as taquicardias supraventriculares. Devido aos efeitos colaterais e potencial efeito pró-arrítmico, devem ser utilizados com precaução e com controle adequado. Descritores Arritmias Cardíacas; Cardiomiopatias; Isquemia Miocárdica; Taquicardia ventricular; Antiarrítmicos. Abstract Ventricular tachycardia is the cardiac arrhythmia with the most potential to result in clinical instability and cardiac mortality. Although it can occur in patients without structural heart disease, it tends to occur where there is underlying heart disease, with anatomical substrate for reentry. It can be subdivided into ischemic and non-ischemic. This is an important distinction, because the mechanisms and origins of ventricular tachycardia may differ between the two, which will determine the choice of treatment for the ventricular arrhythmia and help prevent sudden death. The objective in clinical management of these patients includes: immediate reversal of tachycardia, prevention of relapses, and reducing cardiovascular mortality. The beta-blockers amiodarone and sotalol are currently the most commonly used antiarrhythmic agents, with the best efficacy and safety profile for treating ventricular tachycardia in patients with structural heart disease. With the exception of beta-blockers, currently available antiarrhythmic drugs have not been shown, in randomized clinical trials, to be effective in the primary management of patients with life-threatening ventricular arrhythmias or in the prevention of sudden cardiac death. In patients with implantable cardioverter-defibrillators, the potential beneficial effects of antiarrhythmic drugs may be the suppression of non-sustained and sustained ventricular tachycardias, slowing of ventricular tachycardia rate to facilitate pace termination or prevent syncope, and control of atrial tachyarrhythmias. Due to potential adverse effects of antiarrhythmic drugs and the risk of proarrhythmia, close monitoring of the patient is recommended. Descriptors: Arrhythmias; Cardiomyopathy; Ischemic heart disease; Ventricular tachycardia; Anti-Arrhythmia Agents. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):200-6 Quais as medicações antiarrítmicas indicadas para o tratamento da taquicardia ventricular no paciente com cardiopatia estrutural? INTRODUÇÃO As taquicardias ventriculares são as arritmias cardíacas com maior potencial de sintomas de instabilidade clínica e mortalidade cardíaca. Embora possam ocorrer no contexto de pacientes sem aparente cardiopatia estrutural demonstrável, na grande maioria das vezes estão associadas a doenças cardíacas relacionadas às cicatrizes, tanto no ventrículo esquerdo como no ventrículo direito. Devido à etiologia variável, o substrato anatômico que resulta na ocorrência destas taquicardias ventriculares é sempre complexo e individualizado, com um principal denominador comum, que é o mecanismo de reentrada anatômica. Como as taquicardias ventriculares secundárias à cardiopatia estrutural possuem causas diversas, o tratamento clínico precisa ser também individualizado. Os principais objetivos, quando nos deparamos com estes perfis de pacientes, são: a reversão imediata da taquicardia, a prevenção de recorrências e a redução da mortalidade cardiovascular. Estes objetivos são geralmente alcançados numa espécie de “força-tarefa” que inclui o uso de fármacos antiarrítmicos, tratamento da doença de base, procedimentos de ablação por cateter e o implante de dispositivos de estimulação cardíaca, como os cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) e ressincronizadores. Neste capítulo serão abordadas as principais terapias farmacológicas antiarrítmicas utilizadas no tratamento das taquicardias ventriculares no paciente com cardiopatia estrutural, com ênfase nos aspectos estratégicos desta escolha de tratamento. ETIOLOGIAS E MECANISMOS As taquicardias ventriculares quase sempre ocorrem em coração estruturalmente alterado, em cerca de 85% dos casos, com substrato anatômico para reentradas (Figura 1). As alterações cardíacas podem ser classificadas em isquêmicas e não isquêmicas1 (Quadro 1). A distinção entre as etiologias é importante por terem diferentes mecanismos e origens de taquicardia ventricular (TV). A TV monomórfica é Quadro 1. Etiologia das taquicardias ventriculares. A principal diferenciação consiste em identificar as causas isquêmicas e não-isquêmicas. Cardiopatia isquêmica - Cicatriz de infarto do miocárdio (IM) com fração de ejeção preservada - Miocardiopatia isquêmica - Coronária anômala Cardiopatia não-isquêmica - Doença de Chagas - Valvulopatias - Cardiopatias congênitas (incluindo pós-operatório cicatricial) - Miocardiopatia dilatada - Cardiomiopatia hipertrófica - Displasia arritmogênica do ventrículo direito - Cardiomiopatia não compactada - Miocardiopatias restritivas - Miocardites - Miscelânea mais comum em cardiopatia isquêmica. A cicatriz do infarto envolve região subendocárdica ou transmural, preferencialmente no ventrículo esquerdo. Nas formas não isquêmicas, a morfologia e distribuição das cicatrizes podem apresentar de forma variável, com localização endocárdica, mesocárdica ou epicárdica, com predomínio no ventrículo direto no caso de displasia arritmogênica do ventrículo direito. Assim, a determinação da causa é fundamental, já que a escolha do tratamento adequado das arritmias ventriculares e prevenção de morte súbita são baseadas na arritmia apresentada, na doença de base, nas comorbidades associadas e no risco imposto pela arritmia para avaliação do potencial de risco/benefício da terapêutica imposta. CARACTERÍSTICAS DAS TAQUICARDIAS VENTRICULARES DE ACORDO COM CARDIOPATIA ESTRUTURAL DE BASE Cardiopatia isquêmica Figura 1. Demonstração histológica da fisiopatologia das taquicardias ventriculares relacionadas à cardiopatia estrutural. O mecanismo de reentrada anatômica é o principal fator para a ocorrência destas taquicardias. Note que independente da etiologia, há um substrato anatômico em comum: fibrose (ou outro tecido inerte), tecido sadio e circuito crítico para a reentrada. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):200-6 A principal causa de TV sustentada nos países ocidentais é a cardiopatia isquêmica. A isquemia aguda frequentemente causa TV polimórfica e fibrilação ventricular, ao passo que a TV monomórfica acontece na fase crônica, após infarto do miocárdio. Pelo menos 90% dos pacientes com TV monomórfica sustentada tem coronariopatia crônica2. O mecanismo envolvido neste tipo de arritmia (TV monomórfica) é a reentrada, que ocorre em áreas de cicatriz ventricular ou aneurisma, entremeadas por tecido miocárdico preservado. A presença de isquemia miocárdica sempre deve ser lembrada em situações com ocorrência de TV polimórfica. Assim, além da terapia com antiarrítmico, medidas para melhora da perfusão coronariana precisam também ser instituídas no manejo da TV. 201 Cardiomiopatia dilatada 202 A cardiomiopatia dilatada é caracterizada pela dilatação ventricular esquerda ou biventricular, associada à diminuição da função sistólica. Os fatores etiológicos mais frequentemente envolvidos são: as valvopatias, ingesta abusiva de etanol, hipertensão arterial, gravidez e infecções. Na cardiomiopatia dilatada idiopática nenhum agente etiológico está determinado, no entanto causas genéticas, autoimunes, virais e metabólicas estão envolvidas. Não é possível determinar um único mecanismo responsável pelas arritmias ventriculares, mas há múltiplos fatores envolvidos. A fibrose intersticial predispõe a arritmias reentrantes; já a tensão na parede ventricular ocasiona diminuição da refratariedade e condução, resultando em automatismo anormal e atividade deflagrada; a ativação simpática decorrente da disfunção ventricular também promove automatismo anormal e precipita atividade deflagrada3. Na cardiomiopatia dilatada idiopática a reentrada pelos ramos pode ser responsável pela TV monomórfica, em aproximadamente 41% destes pacientes4. Este mecanismo é denominado de reentrada ramo-a-ramo; seu pré-requisito é a condução prolongada no sistema His–Purkinje, que é representado por um distúrbio de condução intraventricular ou bloqueio de ramo esquerdo. O diagnóstico é confirmado pelo estudo eletrofisiológico. A macrorreentrada mais comum envolve uma condução anterógrada pelo fascículo direito e retrógrada pelo ramo esquerdo, proporcionando um padrão eletrocardiográfico de TV com morfologia de bloqueio de ramo esquerdo. Se a reentrada for reversa, a morfologia resultante da TV será de bloqueio de ramo direito. A TV pelos ramos geralmente ocorre em pacientes com fração de ejeção diminuída (<35%). Cardiopatia chagásica A TV sustentada é o principal mecanismo de morte súbita na cardiopatia chagásica crônica5. A maioria das taquicardias ventriculares sustentadas é monomórfica e origina-se na região ínfero-látero basal do ventrículo esquerdo, conferindo a esta arritmia o padrão eletrocardiográfico de bloqueio de ramo direito (Figura 2). Em cerca de 45% dos casos, o circuito prevalente mais comum tem sido observado na região epicárdica, ao contrário da miocardiopatia isquêmica, cujo circuito das taquicardia ventriculares sustentadas geralmente é endocárdico. Amiodarona é o antiarrítmico mais efetivo e utilizado em pacientes com doença de Chagas, principalmente naqueles pacientes com TV e disfunção ventricular que não tem indicação ou não tem acesso ao CDI6. Mesmo nos paciente com CDI, a amiodarona, isolada ou associada ao betabloqueador, tem sido útil na redução de choques apropriados na evolução. desta doença. Os pacientes com displasia arritmogênica do ventrículo direito podem apresentar ao eletrocardiograma frequentes extrassístoles monomórficas (padrão de bloqueio de ramo esquerdo) ou polimórficas, alterações da repolarização nas derivações precordiais direitas (ondas T negativas de V1 a V4) e presença de onda epsílon, que simula um padrão de bloqueio de ramo direito, mas trata-se na verdade de um potencial tardio macroscópico, denotando uma propensão às arritmias ventriculares por mecanismo de reentrada. A presença de fibras miocárdicas em áreas de substituição adiposa constitui o substrato anatômico para a ocorrência de circuitos reentrantes7. Betabloqueadores, sotalol (em pacientes sem disfunção ventricular) e amodarona, têm sido os antiarrítmicos mais utilizados em pacientes com displasia arritmogênica do ventrículo direito, porém não há dados que demonstram a melhora na sobrevida e devem ser utilizados como tratamento adjunto na prevenção de morte súbita, associado ao CDI8. Cardiomiopatia hipertrófica A cardiomiopatia hipertrófica é uma doença primariamente miocárdica, herdada geneticamente, com padrão autossômico dominante. O fenótipo é caracterizado por hipertrofia ventricular esquerda (e/ou) direita, que pode ser intensa, média ou estar ausente. O padrão de hipertrofia pode ser assimétrico septal, concêntrico ou predominantemente apical9. O mecanismo responsável pelas taquicardias ventriculares monomórficas é o desarranjo das células miocárdicas e a fibrose, que constituem o substrato arritmogênico para as reentradas. Betabloqueadores e amiodarona podem ser utilizados para tratamento de taquicardias ventriculares, associados ou não ao implante de CDI. Cardiopatias congênitas As taquicardias ventriculares sustentadas são raras em pacientes com cardiopatia congênita. Porém, os pacientes que são submetidos à correção cirúrgica de cardiopatias congênitas envolvendo abordagem ventricular, como a comunicação interventricular, dupla via de saída de ventrículo direito Displasia arritmogênica do ventrículo direito A displasia arritmogênica do ventrículo direito é caracterizada pela substituição progressiva do miocárdio ventricular por tecido fibroadiposo. Estudos genéticos comprovam que é uma doença com herança autossômica dominante. Portadores de displasia arritmogênica do ventrículo direito podem ser assintomáticos ou apresentar queixas de palpitações, não sendo rara a ocorrência de síncope por TV rápida. A parada cardiorrespiratória pode ser a primeira manifestação Figura 2. Taquicardia ventricular na cardiopatia chagásica crônica. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):200-6 Quais as medicações antiarrítmicas indicadas para o tratamento da taquicardia ventricular no paciente com cardiopatia estrutural? e truncus arteriosus, estão mais predispostos às arritmias ventriculares. Nos pacientes submetidos à correção cirúrgica, como na Tetralogia de Fallot, o mecanismo proposto para a arritmia é a reentrada, que pode estar localizada nas linhas de suturas, incisões e cicatrizes ventriculares, no septo ventricular e no trato de saída do ventrículo direito10. Tabela 1. Efeitos colaterais e precauções no uso dos principais fármacos antiarrítmicos utilizados na cardiopatia estrutural. Fármaco antiarrítmico Contraindicações Dose via oral Efeitos adversos ou (mg/dia) precauções FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DAS TAQUICARDIAS VENTRICULARES Com exceção dos betabloqueadores, os fármacos antiarrítmicos não possuem a eficácia em manejo primário ou na prevenção de morte súbita demonstrada em estudos clínicos randomizados atuais de forma consistente11. Como regra, os fármacos antiarrítmicos podem ser uma terapia adjunta no manejo das arritmias ventriculares. Em portadores de CDI, os antiarrítmicos podem atuar na supressão das taquicardias ventriculares não sustentadas e sustentadas, na lentificação das taquicardias ventriculares com intuito de facilitar a reversão por antitacardia pacing (ATP), amenizar sintomas e prevenir síncopes, além de controlar as possíveis taquicardias supraventriculares12. Devido aos efeitos colaterais e potencial efeito pró-arrítmico (Tabela 1), devem ser utilizados com precaução e com controle adequado, especialmente no grupo de pacientes em questão, com cardiopatia estrutural, que podem propiciar e aumentar o efeito pró-arrítmico no uso destas medicações13. Em alguns casos, o uso de fármacos antiarrítmicos é permitido somente em portadores de CDI com retaguarda para segurança14. Os antiarrítmicos de Classe IC (flecainide e propafenona) não devem ser utilizados em pacientes isquêmicos ou com disfunção ventricular de qualquer etiologia pelos resultados obtidos no estudo CAST que demostrou aumento excessivo na mortalidade total como também das arrítmicas naqueles que utilizaram o antiarrítmico. O mexiletine, Classe IB, mostrou ser inferior ao amiodarona e sotalol na prevenção secundária de taquicardia ventricular/fibrilação ventricular em pacientes pós-infarto do miocárdio. Pode ser utilizado em associação com outros agentes de Classe III, com experiências limitadas com pouco dados sobre a eficácia/segurança. A lidocaína, outro agente Classe IB, não parece aumentar a mortalidade, de acordo com estudos GUSTO-I e GUSTO IIB, podendo ser utilizado em casos refratários a amiodarona em emergências. A quinidina, procainamida e disopiramida, Classe IA na classificação de Vaughan Williams, com ação intermediário no bloqueio dos canais de sódio quando comparados aos agentes de classe IC, além de prolongar potencial de ação via bloqueio dos canais de potássio, são pouco utilizados pelo risco de torsades de pointes (visto em 0.5-8%) e pela baixa tolerabilidade aos efeitos colaterais15. O novo antiarrítmico dronedarona, classe III na classificação de Vaughan Williams, bloqueador multicanal semelhante ao amiodarona na estrutura, aprovado inicialmente para tratamento da fibrilação atrial, não mostrou resultados favoráveis quando utilizado para tratamentos de arritmias ventriculares em pacientes com disfunção ventricular moderado a importante, em estudo ANDROMEDA que sugerem piora dos sintomas de disfunção ventricular e aumento em duas vezes da mortalidade nesta população, contraindicando o seu uso em pacientes com disfunção ventricular16. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):200-6 Betabloqueador Variável Amiodarona Sotalol Distúrbios do nó sinusal/nó atrioventricular, fase aguda Broncoespasmo, do infarto agudo hipotensão, blo- do miocárdio com queio atrioven- bradicardia, hipotricular, fadiga, tensão ou disfundepressão, dis- ção ventricular, infunção sexual. suficiência cardíaca descompensada, angina de Prinzmetal. Fibrose pulmonar, hipo/ hipertireoidismo, neuropatias, depósi- QT longo, bradicarto na córnea, fo- dia sinusal, distúrbio 200-600mg tossensibilidade, do nó sinusal ou nó hepatotoxicida- atrioventricular. de, bradicardia sinusal, prolongamento do QT. Distúrbio do nó sinusal/ nó atriovenBradicardia, tricular, disfunção fadiga, broncoventricular imporespasmo, insufitante, angina de 160 –320mg ciência cardíaca, Prinzmetal, síndroprolongamento me de QT longo ou do QT com tormedicações consades de pointes. comitantes que prolongam QT. Outro agente de Classe III, a dofetilide, bloqueador seletivo de corrente de potássio de retificação retardada do tipo rápida, também aprovado para tratamento de fibrilação atrial, tem sido utilizado para tratamento de taquicardia ventricular/fibrilação ventricular em pacientes isquêmicos e com disfunção ventricular com arritmias refratárias ao amiodarona e/ou sotalol, com base em dados clínicos limitados. Pelo risco do aumento de intervalo QT e desenvolvimento de torsades de pointes, a impregnação inicial deve ser em regime hospitalar com monitorização eletrocardiográfica e dose corrigida de acordo com função renal. Betabloqueadores Classe II na classificação de Vaughan Williams, os mecanismos antiarrítmicos dos betabloqueadores incluem bloqueio beta-adrenérgico competitivo de mecanismos mediados por estímulos simpáticos, redução da frequência sinusal e possível inibição da liberação do excesso de cálcio pelo receptor de rianodina. Os betabloqueadores são eficazes em suprimir as ectopias ventriculares e reduzir MS em várias cardiopatias com ou sem disfunção ventricular. A sua eficácia foi demonstrada em uma sub-análise do estudo MADIT-II na qual os pacientes em uso de altas doses 203 de betabloqueadores tiveram uma redução significativa de risco de taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular demandando terapia com CDI, com melhora também na sobrevida17. Pela sua ação benéfica em doença coronariana e insuficiência cardíaca, aliada ao seu perfil de segurança, pode ser considerada medicamento de primeira escolha na terapia das taquicardias ventriculares18. Amiodarona 204 A amiodarona, apesar de ser classificada como Classe III na classificação de Vaughan Williams apresenta mecanismos antiarrítmicos englobando todas as classificações de Vaughan Williams, com bloqueio de correntes de despolarização de sódio e canais de potássio e cálcio, além do bloqueio da atividade beta-adrenérgica, ações que levam a inibição ou término das arritmias ventriculares por efeitos na automaticidade ou reentrada. Diferente dos canais de sódio, a amiodarona pode ser utilizada em pacientes com disfunção ventricular sem aumento da mortalidade19. Entretanto, o estudo SCD-HeFT falhou em demonstrar benefício na sobrevida do amiodarona comparado ao placebo em paciente com FEVE<35%20. Em metaanálise com 8522 pacientes pós-infarto do miocárdio ou com disfunção ventricular sistólica, comparando amiodarona versus placebo/ controle, mostrou que para cada 1000 pacientes tratados com amiodarona, 5 mortes por todas as causas, 24 mortes cardiovasculares e 26 MS foram prevenidos, porém a redução de risco absoluto de 1,5% na mortalidade de todas as causas não alcançou diferença estatística21. Ainda assim, a amiodarona é o antiarrítmico mais utilizado na supressão de taquicardias ventriculares em pacientes com doença cardíaca estrutural e CDI. Em pacientes portadores de CDI, a terapia combinada com betabloqueadores mostrou ser superior ao monoterapia com sotalol ou betabloqueador na redução de choques. Mesmo com pouco efeito pró-arrítmico, os seus efeitos colaterais no uso crônico levam a descontinuação de uso em 10% dos pacientes comparado com placebo. Monitorização regular da função tireoidiana, hepática e pulmonar é recomendável durante o tratamento. Sotalol Classe III na classificação de Vaughan Williams, com propriedades de betabloqueador (L-sotalol) e inibitor de corrente de potássio de retificação retardada do tipo rápida (D-sotalol), que prolonga a duração do potencial de ação, o sotalol pode ser utilizado em pacientes com cardiopatia isquêmica, sem disfunção ventricular22. Nestes pacientes foram observados redução na incidência ou recorrência das taquicardias ventriculares, sem melhora da sobrevida, quando comparado aos pacientes que não faziam uso de antiarrítmicos23,24. O efeito adverso mais temido do sotalol é a indução de torsades de pointes, visto em 2-3% dos pacientes, principalmente em mulheres e aqueles com disfunção ventricular ou doença renal crônica, pela eliminação predominantemente renal do fármaco. Em pacientes com hipertrofia do ventrículo esquerdo (septo ou parede >1,4cm) o uso de sotalol foi mais associado ao efeito pró-arritmico. Em pacientes com disfunção ventricular após infarto do miocárdio, o sotalol levou ao aumento da mortalidade, provavelmente devido ao efeito pró-arrítmico. Assim, não deve ser utilizado nestes pacientes a menos que tenha CDI e a monitorização eletrocardiográfica, visando intervalo QT e bradicardia, é mandatória, principalmente em pacientes com baixo peso corporal ou disfunção renal. Terapias associadas e eletrólitos Dosagem e reposição de potássio quando deficiente pode auxiliar no controle das taquicardias ventriculares. Em taquicardias ventriculares polimórficas e/ou torsades de pointes, a infusão de magnésio pode ajudar na supressão destas arritmias. Em pacientes com alterações estrutural e com disfunção ventricular em uso de diuréticos, a monitorização de eletrólitos pode ser ainda mais importante pela espoliação crônica de eletrólitos promovidos pelo uso de diuréticos de alças ou tiazídicos, muitas vezes em altas doses. A farmacoterapia associada com inibidores de enzima conversora de angiotensina ou bloqueadores de receptor de angiotensina II associada aos antagonistas de receptores de mineralocorticoides melhoram o remodelamento reverso, diminuindo modificações estruturais com as alterações de canais iônicos que podem aumentar o potencial para desenvolvimento de eventos arrítmicos, reduzindo assim risco de morte súbita na evolução destes pacientes25. MANEJO FARMACOLÓGICO NO TRATAMENTO DAS TAQUICARDIAS VENTRICULARES NA EMERGÊNCIA Em um paciente que é atendido em caráter de emergência por taquicardia ventricular (TV), as principais questões a serem feitas são: O paciente com TV encontra-se estável do ponto de vista hemodinâmico? Se não, seguramente o tratamento mais seguro é partir imediatamente para a cardioversão elétrica sincrônica, da mesma forma nos casos de fibrilação ventricular com desfibrilação em modo assíncrono. A administração da dose de ataque e manutenção do antiarrítmico associada à reversão elétrica é fundamental tanto na reversão como na manutenção do ritmo sinusal após o tratamento inicial. O uso de amiodarona tem demostrado ser mais efetivo na sobrevida quando comparado à lidocaína. A amiodarona é a droga de escolha em pacientes com cardiopatia estrutural. Pode iniciar com dose de ataque ou 150 mg via intravenosa no intervalo de 10 minutos, mantendo dose de manutenção após com 1 mg/min por 6 horas iniciais passando para 0.5mg/min após. Os betabloqueadores podem ser utilizados em associação a amiodarona para estabilização do ritmo. O uso de esmolol, o beta-bloqueador de curta duração, pode ser uma alternativa em pacientes com risco para instabilidade hemodinâmica ou hipotensão arterial. A lidocaína pode ser opção ao amiodarona em recorrência, principalmente em casos de tempestade elétrica na cardiopatia isquêmica, com dose de 1mg/kg em bolus, em doses repetidas de 0.5mg/kg até o limite de 3mg/kg26. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):200-6 Quais as medicações antiarrítmicas indicadas para o tratamento da taquicardia ventricular no paciente com cardiopatia estrutural? A TV é monomórfica ou polimórfica? Caso a TV seja polimórfica, a principal hipótese a ser considerada é a doença isquêmica ativa/recente ou se o paciente possui uma canalopatia (como síndrome do QT longo congênito). Neste caso, deve ser ter cuidado no uso de fármacos que prolongam o intervalo QT. Se a TV for monomórfica, mais relacionada à cicatriz, pode ser revertida com fármaco antiarrítmico como a amiodarona intravenoso. É importante o registro eletrocardiográfico da TV, pois a morfologia pode auxiliar na localização do foco e estabelecer a melhor estratégia de investigação diagnóstica e terapêutica posterior. Ex. Um paciente jovem que se apresenta com TV com morfologia de bloqueio de ramo esquerdo e eixo superior, que ao ser revertida resulta num ECG basal com onda épsilon e ondas T negativas de V1 a V3, direciona ao diagnóstico de displasia arritmogência do ventrículo direito, cujo tratamento pode incluir o uso de amiodorona ou sotalol, mais CDI e ablação com cateter. Uma vez que as etiologias são diversas, o tratamento a posteriori também é individualizado. Existe a possibilidade desta TV estar relacionada a uma cicatriz de infarto pregresso? A doença coronária está controlada? Costuma-se ter o jargão da eletrofisiologia, em que se um paciente for isquêmico e a TV for monomórfica estável, seguramente ele não está tendo um “primeiro infarto”, mas “já teve infarto prévio”, em virtude da necessidade de criação do substrato para a reentrada. Por isso, sempre é importante averiguar o “status coronário” mais recente para definir as condutas subsequentes. Existe a possibilidade desta TV estar relacionada a outras cicatrizes miocárdicas, como miocardiopatia chagásica (ainda muito prevalente em nosso meio), miocardiopatia hipertrófica, displasia de ventrículo direito, etc. Também nas demais etiologias, como Doença de Chagas e nas outras miocardiopatias, o substrato comum é a presença de bloqueio unidirecional (pelas fibroses cicatriciais ou doenças infiltrativas), uma área de condução lenta e o circuito resultante. Após a estabilização inicial do quadro, a determinação da causa é fundamental, já que a escolha do tratamento adequado das arritmias ventriculares e prevenção de morte súbita são baseadas na arritmia apresentada, na doença de base e no risco imposto pela arritmia para avaliação do potencial de risco/benefício da terapêutica imposta. CONSIDERAÇÔES FINAIS Em resumo, as taquicardias ventriculares quase sempre ocorrem em coração estruturalmente alterado, com substrato anatômico para reentradas. As alterações cardíacas podem ser isquêmicas e não isquêmica, como chagásica, hipertrófica, displasia arritmogênica de ventricular direito, cardiomiopatia dilatada e outros. A distinção entre as etiologias é importante por terem diferentes mecanismos e origens de taquicardia ventricular, que irá determinar a escolha do tratamento adequado das arritmias ventriculares e prevenção de morte súbita e no risco imposto pela arritmia para avaliação do potencial de risco/benefício da terapêutica imposta. Atualmente os fármacos com eficácia e perfil de segurança mais utilizados para tratamento de taquicardia ventricular em pacientes com cardiopatia estrutural são os betabloqueadores, amiodarona e sotalol. Com exceção dos betabloqueadores, os fármacos antiarrítmicos não possuem a eficácia em manejo primário ou na prevenção de morte súbita demonstrada em estudos clínicos randomizados atuais de forma consistente, atuando como uma terapia adjunta no manejo das arritmias ventriculares. Devido aos efeitos colaterais e potencial efeito pró-arrítmico, devem ser utilizados com precaução e com controle adequado. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. REFERÊNCIAS 1. Yousuf O, Chrispin J, Tomaseelli GF, Berger RD. Clinical Management and prevention of sudden cardiac death. Circ Res. 2015;116:2020-40. 2. Myerburg RJ, Interian A Jr, Mitrani RM, Kessler KM, Castellanos A. Frequency of sudden cardiac death and profiles of risk. 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HOW TO IDENTIFY AND MANAGE ELECTRICAL STORM IN CLINICAL PRACTICE RESUMO Victor Augusto Poncio Fernando Piza de Souza Cannavan1,2 Márcio Jansen de Oliveira Figueiredo1,2 1,2 1. Departamento de Clínica Médica, Disciplina de Cardiologia, FCMUNICAMP, Campinas, SP, Brasil. 2. Irmandade Santa Casa de Misericórdia, Araras, SP, Brasil Correspondência: Universidade Estadual de Campinas, Hospital das Clínicas, Departamento Médico. Cidade Universitária Zeferino Vaz.13083-970 - Campinas, SP, Brasil. [email protected], mjofig@gmail,com O uso na prática clínica de novas formas de terapia dos portadores de cardiopatia vem aumentando a sobrevida e melhorando sua qualidade de vida ao longo dos anos. O advento dos cardioversores-defibriladores implantáveis foi um marco no tratamento dos pacientes com cardiopatias graves e mais propensos a morte súbita, com redução da taxa de mortalidade nesses pacientes. Porém, surgiram novas questões no manejo desses pacientes, especialmente no que concerne o seguimento dos portadores desses dispositivos em relação à sua otimização para redução de terapias inapropriadas, melhora de qualidade psicossocial e a conduta frente a situações emergenciais representadas por arritmias frequentes, repetitivas e refratárias, como no caso da Tempestade Elétrica. O objetivo do presente trabalho é revisar as definições, epidemiologia e especialmente a conduta frente a esse grupo de pacientes, que deve aumentar nos próximos anos, com a maior prevalência das cardiopatias, especialmente a isquêmica, e o maior número de implantes de dispositivos cardíacos eletrônicos. Descritores: Cardiomiopatias; Cardioversores-desfibriladores implantáveis; Taquicardia ventricular; Fibrilação ventricular. ABSTRACT The use of new forms of therapy in patients with heart disease has increased the survival and quality of life of these patients in recent years. The advent of implantable cardioverter-defibrillators was a landmark in the treatment of patients with severe heart disease, who were more prone to sudden death, and led to a reduction in mortality rates among these patients. However, new issues emerged in the management of these patients, especially concerning the follow-up of cardioverter-defibrillator patients in terms of reducing inappropriate therapies, improving their quality of life, and managing emergency situations represented by frequent, repetitive and refractory arrhythmias, such as Electrical Storm. The purpose of this paper is to revise the definitions, epidemiology, and above all, the management of this group of patients, which is expected to grow in the coming years, with the greater prevalence of heart disease, especially ischemic heart disease, and the increased use of electronic heart implants. Descriptors: Cardiomyopathy; Implantable Cardioverter-Defibrillator; Ventricular Tachycardia; Ventricular Fibrillation. INTRODUÇÃO Ultimamente, com a melhoria progressiva no tratamento das síndromes isquêmicas e da insuficiência cardíaca, e com o melhora conhecimento e tratamento das arritmias graves, potencialmente fatais, os portadores dessas condições clínicas têm sido beneficiados com maior sobrevida, porém, por vezes, às custas de uma pior qualidade de vida. O pacientes portadores de dispositivos cardíacos, especialmente os cardioversores desfibriladores implantáveis (CDI), isolados ou associados a ressincronizadores (CDI-R), Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):207-11 podem apresentar arritmias e terapias desses dispositivos de forma recorrente, o que se caracteriza como tempestade elétrica (TE), constituindo uma emergência médica, com grande impacto na qualidade de vida e morbidade desses pacientes. Dos pacientes submetidos ao implante desses dispositivos, apresentarão episódio de taquicardia ventricular ou terapia apropriada, 20-35% dos pacientes em prevenção primária e até 45% em prevenção secundária dentro de três 207 anos após o implante. Os CDI reduzem em até 60% o risco de morte súbita cardíaca, porém os choques são associados com sintomas progressivos de IC, declínio significativo da qualidade de vida e aumento de 2-5 vezes na mortalidade1–4. DEFINIÇÃO E QUADRO CLÍNICO 208 O termo TE refere-se à síndrome caracterizada por episódios recorrentes de arritmias ventriculares (taquicardia ou fibrilação)4. A definição mais aceita e atual para tempestade elétrica (também chamado como tempestade arrítmica) consiste em três ou mais episódios de taquicardia ou fibrilação ventricular sustentadas ou ainda terapias apropriadas de um CDI que ocorrem em um período de 24 horas5,6. Pode ocorrer durante a fase aguda do infarto agudo do miocárdio, em pacientes com cardiopatia estrutural e canalopatias, em portadores ou não de um CDI e manifesta-se usualmente com palpitações, tonturas, pré-sncope e síncope. Há também apresentações mais dramáticas com parada cardíaca ou morte súbita. Portadores de CDI, normalmente apresentam como manifestação a ocorrência de múltiplos choques entregues pelo dispositivo6. Normalmente, se desenvolve quando algum substrato vulnerável sofre ação de um gatilho, que pode ser representado por extrassístoles ventriculares, isquemia, alterações eletrolíticas, dentre outros. Apresenta-se como taquicardia ventricular (TV) monomórfica na maioria dos casos e normalmente associada a cicatrizes fibróticas, TV polimórfica, no cenário das canalopatias e na fase aguda de isquemia miocárdica, ou ainda como fibrilação ventricular (FV), que quando ocorrem de forma repetida como no caso da TE atingem taxa de mortalidade entra 85% a 97%, sendo o mecanismo primário a isquemia miocárdica6. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS E PROGNÓSTICO A prevalência da TE é variável, de acordo com dados publicados na literatura, com índices que variam de 4 a 30% de acordo com a publicação e o tipo de paciente estudado6–8. Fatores predisponentes e indicadores de maior risco raramente são identificados, tornando difícil a identificação dos pacientes mais vulneráveis, porém foi observada maior ocorrência em pacientes com indicação de implantes de CDI para profilaxia secundária, já portadores de algum grau de cardiomiopatia com fração de ejeção mais rebaixada ou classe funcional mais elevada, com idade mais avançada9 Esses pacientes apresentam pior prognóstico quando comparados aos pacientes portadores de CDI sem episódios de TE. Em pacientes com cardiomiopatia isquêmica, pós-infarto, a chance de mortalidade encontrada foi 7,4 vezes maior nos pacientes que apresentaram múltiplas arritmias, em relação aos que não apresentaram a TE10. Outros dados apontam a TE como fator de risco independente para mortalidade, que chega aos 38% em pacientes com esse tipo de manifestação, contra 15% dos pacientes que apresentaram FV ou TV mais esporádicos7. MANEJO TERAPÊUTICO Diversas formas de tratamento vêm sendo descritas para a abordagem dos pacientes com TE, desde medidas preventivas, até a utilização de drogas antiarrítmicas e procedimentos invasivos e cirúrgicos. Vale ressaltar que, em virtude de se tratar de uma emergência médica, com riscos imediatos à vida do paciente, as medidas não devem ser tomadas isoladamente, mas sim em conjunto, visando a cessação das arritmias e consequentemente das terapias de choque (Figura 1). Tempestade Elétrica • Medidas do ACLS • Sedação Avaliação de um Eletrofisiologista Avaliação do ECG TV Monomórfica • Amiodarona • b-bloq • Lidocaina • Sedação • Anestesia Geral • DVA, BIA • Ablação da TV TV Polimórfica QT normal • Lidocaína • Amiodarona • b-bloq • BIA / CRM • BGEE QT longo • Isoproterenol • Magnésio • Correção de Potássio • ‟OverdrivePacingˮ FV Isquemia Iniciada por ES • Amiodarona • b-bloq • Lidocaína • BIA / CRM • BGEE • Amiodarona • b-bloq • Ablação Brugada • Isoproterenol • Quinidina • BCCa b-bloq = betabloqueadores; DVA = drogas vasoativas; BIA = balão intra-aórtico; ES=extrassístole; CRM=cirurgia de revascularização miocárdica ; BGEE=bloqueio do Gânglio Estrelado esquerdo; BCCa = Bloqueadores de canais de cálcio. Figura 1. Fluxograma para o manejo dos pacientes com tempestade elétrica de acordo com a apresentação clínica e possível etiologia. Adaptada referência 6. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):207-11 COMO IDENTIFICAR E ENFRENTAR A TEMPESTADE ELÉTRICA NA PRÁTICA CLÍNICA? O tratamento também deve ser guiado pela apresentação clínica das arritmias ventriculares e pela condição subjacente, guiando-se sempre pelos protocolos vigentes de suporte cardiológico avançado (Diretrizes do ACLS)6. Um paciente com TE deve ser admitido em setor de terapia intensiva e monitorizado continuamente. A avaliação inicial mais importante diz respeito à estabilidade hemodinâmica e sinais agudos de insuficiência cardíaca, que quando presentes, indicam a pronta reversão da arritmia em questão. Quando algum fator desencadeante for identificado, este deve ser prontamente corrigido, assim, está indicada a realização de investigação laboratorial, com pesquisa de distúrbios eletrolíticos e isquemia miocárdica11. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Bloqueio adrenérgico Um dos principais fatores desencadeantes da TE é a isquemia miocárdica12. Além disso, a TE ativa o sistema nervoso simpático, levando à liberação de catecolaminas que são pró-arrítmicas e podem exacerbar arritmias ventriculares. Assim, a utilização de agentes betabloqueadores se justifica por ser eficaz na diminuição do consumo de oxigênio pelo miocárdio, reduzindo a isquemia e como efeito antiarrítmico, bloqueando a ação das catecolaminas circulantes. Em relação ao agente utilizado, é dada preferência ao uso de propranolol, porém qualquer agente pode ser utilizado6,11,13. Altas doses foram testadas, sem piora significativa dos sintomas de insuficiência cardíaca. A combinação dos betabloqueadores com medicações sedativas, tais como os benzodiazepínicos parece ser eficaz11. Fármacos antiarrítmicos Amiodarona Comumente utilizada no tratamento das arritmias ventriculares, bloqueia canais de sódio, inibe a liberação de norepinefrina e bloqueia canais de cálcio, sem prolongar o período refratário ventricular (no uso endovenoso). Melhorou a sobrevida em pacientes com TE que envolvem FV ou TV sem pulso e pode ser eficaz quando outras medicações foram ineficazes, como por exemplo a lidocaína e procainamida6. Outros antiarrítmicos A lidocaína, antiarrítmico da Classe I, pela classificação de Vaughan-William, atua bloqueando os canais de sódio. Tem sua ação principal nas taquicardias ventriculares associadas a isquemia miocárdica, com pequena taxa de reversão para ritmo sinusal em outras circustâncias6. Pode ser útil quando a associação de betabloqueador e amiodarona não teve sucesso, como uma terceira droga11. Agentes anestésicos Todos os pacientes com TE devem ser sedados, com uso de propofol, benzodiazepínicos e analgésicos opioides. Essas medidas auxiliam na redução do estímulo adrenérgico, atuando de forma sinérgica com uso de betabloqueadores6. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):207-11 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Envolvem desde tratamento para suporte hemodinâmico até procedimentos invasivos como ablação endocárdica ou epicárdica, denervação autonômica ou renal. O tratamento de arritmias malignas é uma indicação de utilização de balão intra-aórtico (BIA) ou dispositivos de assistência ventricular4. Atuam melhorando a perfusão coronariana e o desempenho cardíaco, sendo efetivos, especialmente o BIA, mesmo em pacientes não isquêmicos, provavelmente por reduzir a pós-carga, diâmetro do ventrículo esquerdo e tensão da parede miocárdica6. Ablação por cateter A ablação por cateter de forma isolada ou associada ao implante de CDI vem sendo adotada com sucesso na redução de eventos arrítmicos. Apresentou melhores resultados após o advento do mapeamento eletroanatômico3,4,14–16. O mapeamento intracardíaco e a ablação pode alterar o substrato anatômico responsável pelo mecanismo de reentrada associado à gênese da arritmia. Pode ser realizado durante a arritmia, quando esta é bem tolerada, ou durante ritmo sinusal, guiada pela presença de potenciais elétricos sugestivos de tecido cicatricial (baixa amplitude, potenciais fracionados) e, mais atualmente, com o auxílio de estratégias de mapeamento eletroanatômico (ativação, propagação e voltagem) que permitem identificar os circuitos de reentrada e as áreas cicatriciais envolvidas3,4,14–16. Estudos realizados não foram capazes de demonstrar melhora em índices de sobrevida e mortalidade, porém tiveram sucesso em permitir a redução das arritmias e das terapias dos CDI, quando implantados2,7,14,16,17. Série de casos relatou a utilização da ablação em pacientes com ES, após falência do tratamento medicamentoso com antiarrítimicos e bloqueio adrenérgico, em pacientes com cardiopatia isquêmica, objetivando a eliminação das arritmias, com sucesso após mapeamento de ativação ou substrato num período mínimo de seis meses após o procedimento18. Estudo que avaliou a ablação profilática em pacientes com indicação de CDI, após o implante do dispositivo demonstrou redução significativa no número de choques apropriados, sem aumento da mortalidade nos pacientes submetidos ao procedimento ablativo16. Publicação mais recente avaliou a realização da ablação por cateter guiada por mapeamento eletroanatômico em pacientes isquêmicos antes do implante de um CDI, com redução do número de ocorrência de TV ou FV num período de até um ano após a ablação (59% dos pacientes submetidos a ablação permaneceram livres dessas arritmias contra 40% no grupo sem o procedimento)14. Outras publicações demonstraram redução no número de eventos e choques apropriados em diversas séries de caso, sem impacto na mortalidade e sem complicações ou aumento da morbidade decorrentes do procedimento ablativo, destacadamente nos casos em que gatilhos específicos, por exemplo, extrassístoles ventriculares, podem ser tratados6,11. Assim, de acordo com as publicações, julgamos que a ablação por radiofrequência, especialmente guiada por mapeamento eletroanatômico (Figura 2) e com indução da 209 A B 210 Em pacientes sob sedação foi demonstrado, através de relatos de caso, a diminuição na incidência de episódios de FV e TV com o uso de anestesia epidural torácica, porém com efeitos em curto prazo. Aventou-se então a hipótese da realização da denervação simpática cardíaca, da mesma maneira já utilizada no tratamento da angina refratária, através da ressecção parcial do gânglio estrelado, com resultados favoráveis, porém apenas como ponte para algum procedimento mais efetivo, como a ablação, revascularização miocárdica ou até transplante cardíaco, e com índice de complicações não desprezível19. Com a melhoria progressiva das técnicas de ablação por rádiofrequencia, junto aos avanços nas investigações da denervação das árterias renais para o tratamento de doenças cardiovasculares mediadas pelo sistema nervoso autônomo simpático, foi proposta a ablação das artérias renais para o tratamento das arritmias ventriculares refratárias, com resultados promissores na diminuição e modulação dessas arritmias, com baixo índice de complicações. Porém, estudos com maior número de pacientes são necessários para avaliar o real benefício desse procedimento20. De acordo com a experiência de gurpo brasileiro, a denervação renal atráves de ablação por radiofrequência das artérias renais foi eficaz na redução do número de terapias de CDI em paciente com TE21 e em, recentemente publicada, série de dez casos, com pacientes portadores de cardiomipatia dilatada de diferentes etiologias, a ablação da artéria renal foi capaz de diminuir a ocorrência de choques, em seguimento de um e seis meses, demonstrando, apesar das limitações do estudo, resultados relevantes acerca dessa nova técnica em desenvolvimento22. CONSIDERAÇÕES FINAIS Figura 2. Imagens obtidas durante ablação de taquicardia ventricular em paciente portador de cardiopatia. A) Mapeamento endocárdico de voltagem demonstrando ventrículo esquerdo em incidência anteroposterior com obtenção da voltagem da região anteroapical demonstrando zona de cicatriz (em cinza) e áreas de transição (vermelho ao azul) e de miocárdio saudável (roxo). B) Locais de aplicação de radiofrequência (pontos vermelhos) objetivando a modificação do substrato da arritmia. arritmia ventricular clínica, quando possível, deve sempre ser considerada nos pacientes com TE a fim de reduzir a densidade da arritmia e as terapias dos cardiodesfibriladores implantáveis, especialmente o número de choques apropriados, mesmo que de forma precoce. DENERVAÇÃO AUTONÔMICA O papel do sistema nervoso autônomo é conhecido na geração e manutenção de arritmias ventriculares, motivo pelo qual o uso dos beta-bloqueadores é bem estabelecido em seu tratamento. Porém, frente à refratariedade de alguns pacientes ao tratamento clínico, novas técnicas foram idealizadas e desenvolvidas para tratamento dessas arritmias, especialmente das formas repetitivas, como na TE. Na era do implante dos CDI e da melhoria das terapias farmacológicas e não farmacológicas dos pacientes portadores e cardiopatias, temos observado uma maior sobrevida destes, com consequente aumento de comorbidades e surgimento de novas situações clínicas, como o aumento da incidência dos episódios de arritmias ventriculares complexas e da TE, impondo novos desafios aos clínicos e arritmologistas. Pouco se conhece até o momento para guiar o tratamento da TE, demonstrando sua complexidade e gravidade, mesmo em pacientes já portadores de CDI. Os pacientes com essa entidade devem ser considerados como emergência médica, admitidos em unidades de terapia intensiva e receber o tratamento mais otimizado possível para a cardiopatia de base e encaminhados para avaliação de especialista e para procedimento invasivos quando necessário. Avanços ainda são esperados no que tange o tratamento das arritmias ventriculares e a neuromodulação para o manejo das cardiopatias e arritmias. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):207-11 COMO IDENTIFICAR E ENFRENTAR A TEMPESTADE ELÉTRICA NA PRÁTICA CLÍNICA? Referências 1. Callans DJ. Patients with hemodynamically tolerated ventricular tachycardia require implantable cardioverter defibrillators. Circulation. 2007;116(10):1196-203. 2. Passman R, Kadish A. Sudden death prevention with implantable devices. Circulation. 2007;116(5):561-71. 3. Aliot EM, Stevenson WG, Almendral-Garrote JM, Bogun F, Calkins CH, Delacretaz E, et al. EHRA/HRS Expert Consensus on Catheter Ablation of Ventricular Arrhythmias. Developed in a partnership with the European Heart Rhythm Association (EHRA), a Registered Branch of the European Society of Cardiology (ESC), and the Heart Rhythm Society (HRS); i. Hear Rhythm. 2009;6(6):886-933. 4. Zipes DP, Camm a J, Borggrefe M, Buxton AE, Chaitman B, Fromer M, et al. ACC/AHA/ESC 2006 guidelines for management of patients with ventricular arrhythmias and the prevention of sudden cardiac death--executive summary: A report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force and the European Societ. Eur Heart J. 2006;27(17):2099-140. 5. Credner SC, Klingenheben T, Mauss O, Sticherling C, Hohnloser SH. Electrical Storm in Patients With Transvenous Implantable Incidence , Management and Prognostic Implications. J Am Coll Cardiol. 1998;32(7):1909-15. 6. Eifling, M; Razavi, M; Massumi A. The Evaluation and Management of Electrical Storm. Tex Hear Inst J. 2011;38(2):111-21. 7. Exner D V, Pinski SL, Wyse DG, Renfroe EG, Follmann D, Gold M, et al. Electrical storm presages nonsudden death: the antiarrhythmics versus implantable defibrillators (AVID) trial. Circulation. 2001;103(16):2066-71. 8. Hohnloser SH, Al-Khalidi HR, Pratt CM, Brum JM, Tatla DS, Tchou P, et al. 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Electrical storm in patients with transvenous implantable cardioverter- defibrillators: Incidence, management and prognostic implications. J Am Coll Cardiol. 1998;32(7):1909-15. 13.Nademanee K, Taylor R, Bailey WE, Rieders DE, Kosar EM. Treating Electrical Stor : Sympathetic Blockade versus Advanced Cardiac Life Support-Guided Therapy. Circulation. 2000;102(7):742-7. 14.Kuck K-H, Schaumann A, Eckardt L, Willems S, Ventura R, Delacrétaz E, et al. Catheter ablation of stable ventricular tachycardia before defibrillator implantation in patients with coronary heart disease (VTACH): a multicentre randomised controlled trial. Lancet. 2010;375(9708):31-40. 15.Lemery R. Interventional treatment of ventricular tachycardia and electrical storm: from ablation of substrate and triggers to autonomic modulation by renal denervation. Heart Rhythm. 2014;11(4):547-8. 16.Reddy, VY; Reynolds, MR; Neuzil P, Richardson AW, Taborsky M, Jongnarangsin K, et al. 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[email protected] As arritmias hereditárias são responsáveis por uma proporção significante de mortes cardíacas súbitas em indivíduos jovens aparentemente saudáveis. As canalopatias, como síndrome de Brugada, síndrome do QT longo/curto e taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica, contribuem com essa incidência e não são marcadas por anomalias estruturais. A cardiomiopatia genética, como cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito e cardiomiopatia hipertrófica, também são causas de morte súbita por arritmia. Novos consensos têm sido publicados para orientar melhor as ferramentas de diagnóstico, os escores de estratificação e o tratamento. Os testes genéticos têm papel importante no diagnóstico, na estratificação de risco e no tratamento de pacientes e de suas famílias. Os avanços da genética molecular nas duas últimas décadas revelaram a base genética subjacente da doença, e podem levar a tratamentos mais personalizados. Descritores: Arritmias cardíacas; Doenças genéticas inatas; Abstract Inherited arrhythmias account for a significant proportion of sudden cardiac deaths in apparently healthy and young individuals. Ion channelopathies such as Brugada syndrome, long/short QT syndrome and catecholaminergic polymorphic ventricular tachycardia contribute to this incidence and are marked by no structural abnormalities. Genetic cardiomyopathy such as Right Ventricular Arrhythmogenic Cardiomyopathy and Hypertrophic Cardiomyopathy are also causes of arrhythmogenic sudden death. New consensuses are published to better guide the diagnostic tools, stratification scores and treatment. Genetic testing plays somehow an important role in the diagnosis, risk-stratification and treatment of patients and family members. Molecular genetic advances in the last 2 decades have revealed the underlying genetic basis and these may lead to a personalized medicine. 212 Descriptors: Arrhythmias, cardiac; Genetic diseases, inborn; INTRODUÇÃO As arritmias geneticamente determinadas podem ocorrer por defeitos nos canais iônicos (canalopatias), nas proteínas sarcoplasmáticas (rianodina e calsequestrina), nas proteínas sarcoméricas ou miofilamentar (cardiomiopatias hipertróficas) e nas junções musculares (displasia de ventrículo direito). Os defeitos proteicos levam a arritmias atriais ou ventriculares, que podem se manifestar por palpitações taquicárdicas, síncope de característica arrítmica ou morte súbita (MS). O risco cardiovascular estimado nessa população é muito variável e não existe um exame complementar que os estratifique adequadamente. Na Síndrome do QT longo congênito (SQTLc) o intervalo QT corrigido aumentado está mais relacionado a eventos arrítmicos1; na miocardiopatia hipertrófica (MCH) pode ser a medida do septo, do átrio esquerdo e outras variáveis discutidas a seguir2. Por outro lado, na síndrome do QT curto (SQTCc) e na síndrome de Brugada (SB) os exames para estratificação são controver- sos e a indicação de cardiodesfibrilador implantável (CDI) para profilaxia primária é incerta3,4. Atualmente, nos Estados Unidos, estima-se que 1000 a 5000 jovens entre 1 e 35 anos, apresentem MS e a autópsia convencional não esclarece até 50% das causas5. As arritmias genéticas, como síndrome do QT longo, taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica, síndrome do QT curto e síndrome de Brugada são frequentemente associadas a essa condição e podem ser diagnosticadas através da autopsia molecular6. Há aproximadamente 25 anos, Marcos Keating e et al demonstraram a base molecular da síndrome do QT longo congênito (SQTLc)7. O avanço no diagnóstico molecular dessa e das outras arritmias hereditárias permitiu a correlação do substrato genético com a manifestação clínica e o tratamento otimizado. Dessa maneira, os testes genéticos se efetivaram da pesquisa ao uso clínico cotidiano. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):212-8 Arritmias genéticas: como investigar e como tratar? SÍNDROME DO QT LONGO CONGÊNITO Recentemente atualizado pela diretriz europeia de morte súbita, a síndrome do QT longo é definida na presença de intervalo QTc prolongado (>480ms) em eletrocardiograma seriado, na ausência de causa secundária (miocardiopatia, interação medicamentosa e distúrbio eletrolítico). O diagnóstico é também realizado quando o intervalo QTc é intermediário (>460 e <480ms), associado aos sintomas síncope inexplicada ou PCR recuperada. No rastreamento familiar de pacientes com SQTLc comprovada pelo diagnóstico molecular, podemos encontrar parentes com a mesma mutação, porém com o intervalo QTc normal, chamados de carreadores silenciosos, também considerados com diagnóstico de SQTLc. A síndrome do QT longo é, atualmente, dividida em três categorias, com base no padrão de herança genética (autossômica dominante ou recessivo) e na presença de fenótipo extra-cardíaco8: 1. Síndrome de Romano-Ward, autossômica dominante, com prevalência de 1:2500, inclui a SQTLc subtipos de 1 a 6 e de 9 a 13; 2. SCTLc autossômica dominante, com fenótipo extracardíaco: SQTLc tipo 7 (Andersen Tawil), apresenta ondas U proeminentes, taquicardia ventricular polimórfica ou bidirecional ao repouso e esforço, associada a dismorfismos faciais, paralisias periódicas hiper/hipocalemica (Figura 1); a SQTLc tipo 8 (Timothy), caracterizada por sindactilia, malformação cardíaca, dismorfismos e autismo. 3. Síndrome de Jervell e Lange-Nielsen, acompanhada pela surdez neurosensorial, geralmente relacionada com as mutações nos genes KCNQ1 e KCNE1. Os subtipos de QT longo se diferenciam pelo trigger dos eventos arrítmicos, a morfologia da onda T, o comportamento do intervalo QT ao estresse adrenérgico, a resposta ao tratamento e o gene envolvido. Cerca de 70% dos casos, se enquadram clinicamente nos subtipos 1, 2 e 3 e podem ser mais precisamente classificadas com o teste genético (Tabela 1 e Figura 2)9. Os pacientes devem ser orientados a evitar os fatores desencadeantes específicos, a depender do seu subtipo clínico ou genético, quando disponível. Principalmente, evitar esportes aquáticos na SQTLc tipo 1 e evitar exposição a despertadores ou barulho na SQTL tipo 28. As mulheres com SQTL tipo 2 comprovada pela avaliação molecular, tem um risco de evento arrítmico aumentado no primeiro ano pós-parto, principalmente se o intervalo QTc for maior que 500ms, mesmo as assintomáticas10. Tabela 1: Descrição de SQTL tipo 1, 2 e 3 Tipo Canal Afetado Gene ECG*1 Desencadeante *2 SQTL1 IKs KCNQ1 Base alargada SQTL2 IKr KCNH2 Bífida Esforço físico, natação Emoção, puerpério, alarme SQTL3 Nav SCN5A Início tardio Repouso, sono *1 característica da onda T no eletrocardiograma de 12 derivações*2 situações que habitualmente desencadeiam o evento arrítmico A B C 213 Figura 2. Subtipos de SQTLc conforme fenótipo eletrocardiográfico. A) SQTL tipo1: Onda T de base alargada, B) SQTL tipo 2: Onda T bífida, C) SQTL tipo 3: ST retificado, com início tardio da onda T (Fonte: Wild AA, Circ J. 2014). I aVR V1 V4 II aVL V2 V5 III aVF V3 V6 II Figura 1. Arritmia Ventricular em paciente com SQTL tipo 7. Observa-se QRS estreito e polimórfico, em eletrocardiograma de repouso (InCor-HCFMUSP). Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):212-8 214 Independente do subtipo de QT, a consciência do diagnóstico da SQTLc é fundamental para que o paciente e seus familiares diagnosticados ou com suspeita clínica, evitem situações que possam expô-los a riscos, como uso de medicações que prolonguem o intervalo QT e distúrbios hidroeletrolíticos como hipocalcemia, hipocalemia e hipomagnesemia. O tratamento antiadrenérgico é indicado para todos os pacientes com SQTLc, tanto com intervalo QT prolongado ou com intervalo QT normal (na presença de diagnóstico molecular, descobertos por rastreamento familiar com teste genético) 8. O propranolol é a medicação mais aconselhável disponível no Brasil, já que não temos disponível o nadolol11. Os pacientes que não toleram o uso do propranolol, podem ser submetidos à simpatectomia esquerda. Se, apesar do betabloqueio, houver síncope, a simpatectomia e/ou uso do CDI estão indicados8. A taxa anual de morte súbita em pacientes assintomáticos com SQTLc é cerca de 0.9% ao ano, com aumento de 5 vezes em pacientes com síncope arrítmica. Os pacientes recuperados de PCR apresentam risco aumentado de recorrência de evento cardíaco, com 14% de terapia pelo CDI em 5 anos, mesmo com uso de betabloqueadores12. Logo, o uso do CDI está claramente indicado8. A pesquisa molecular tem contribuído para a individualização do tratamento, de modo que, em algumas situações, existe a terapia gene-específica com bloqueadores dos canais de sódio. A mexiletina, flecainida ou a ranolazina podem ser efetivas em portadores de SQTL tipo 313. Os dados clínicos, eletrocardiográficos e genéticos devem se compor para melhor estratificação e tratamento dos pacientes. A B C Figura 3. Padrões eletrocardiográficos de Síndrome de Brugada A) Tipo 1: supradesnivelamento do segmento ST maior que 2mm, seguido de onda T descendente e negativa - barbatana dorsal do golfinho; B) Tipo 2: segmento ST e onda T ascendente e positiva – em sela; C) supradesnivelamento do segmento ST menor que 2mm (InCor-HCFMUSP). A B SÍNDROME DE BRUGADA A prevalência de síndrome de Brugada varia de 1:1000 a 1:1000014, conforme etnia, havendo predomínio em indivíduos de origem asiática. É uma doença autossômica dominante, com manifestação clínica na fase adulta e fenótipo mais expressivo em homens15. A manifestação clínica usual é palpitação, síncope arrítmica, respiração agônica noturna e morte súbita ou PCR recuperada. Os sintomas habitualmente são desencadeados por sono ou repouso, febre, libação alcoólica ou refeições copiosas16. Na presença de sintomas ou antecedentes familiares da doença, o eletrocardiograma tipo 1 espontâneo define a síndrome de Brugada. Os demais padrões eletrocardiográficos, tipos 2 e 3 (Figura 3), atualmente reagrupados em tipo 2, sugerem a canalopatia, mas exigem uma monitorização seriada. O eletrocardiograma de 12 derivações deve ser analisado com os canais precordiais em posição superior (Figura 4) e, desse modo, classificados como tipo 1 ou tipo 2 (demais tipos)17. Apenas a alteração eletrocardiográfica sem sintomas ou antecedentes familiares não definem o diagnóstico sindrômico. Pelo menos 14 genes foram associados a Síndrome de Brugada, sendo o SCN5A a e CACN1Ac os mais prevalentes. Diferentemente da SQTLc, o diagnóstico molecular não influencia o prognóstico ou tratamento18. Uma metanálise recente demostrou que a incidência anual de eventos arrítmicos (TV/FV sustentada ou terapia pelo CDI) em pacientes com Brugada tipo 1 é de 13,5% em C Figura 4. A) V1 e V2 no 4o espaço intercostal; B) V1 e V2 no 2 o espaço intercostal; C) Localização das derivações precordiais para investigação do padrão eletrocardiográfico de Brugada (InCor-HCFMUSP). recuperados de PCR, 3,2% em pacientes com síncope arrítmica e menor que 1% em assintomáticos. Assim, a estratificação clínica consiste basicamente em identificar a síncope arrítmica no paciente com Brugada tipo 1 espontâneo. O uso da estimulação ventricular tem resultados conflitantes, tanto como valor preditivo positivo, quanto negativo19. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):212-8 Arritmias genéticas: como investigar e como tratar? O tratamento comportamental da síndrome de Brugada pode ser recomendado para pacientes com ambos os padrões eletrocardiográficos (1 ou 2), pois consiste em adequações saudáveis como evitar ingesta excessiva de álcool ou evitar grandes refeições, tratar a febre prontamente e evitar drogas que aumentem o supradesnivelamento de ST nas precordiais direitas8. Os medicamentos de escolha são a quinidina e o isoproterenol, o primeiro adequado para tratamento de arritmias atriais, ventriculares ou terapia pelo CDI; o segundo, pela administração endovenosa, pode ser utilizado na urgência20,21. O CDI é indicado na profilaxia secundária (PCR recuperada ou síncope arrítmica); o uso profilático do dispositivo é controverso, mas pode ser feito quando o paciente com tipo 1 espontâneo apresenta FV sustentada em estudo eletrofisiológico com até 3 extra estímulos em dois sítios8. A cautela quanto ao uso do CDI em jovens é o índice de complicações, principalmente choques inapropriados, bem como o impacto na qualidade de vida, com alta taxa de transtornos depressivos22. Recentemente, foi observada área de fragmentação (ou cicatriz) na parede anterior da via de saída de ventrículo direito em pacientes com síndrome de Brugada, podendo perpetuar a arritmia e desencadear TV/FV sustentada. A ablação desse local, através do acesso pericárdico, se mostrou eficaz na redução de terapias pelo CDI em algumas séries de caso23. SÍNDROME DO QT CURTO CONGÊNITO A SQTCc é muito rara, caracteriza-se pela redução do período refratário atrial e ventricular e, consequentemente, maior suscetibilidade a fibrilação atrial e ventricular. O intervalo QTc < 330ms tem ocorrência muito baixa na população, estimada em <0.02% em jovens atletas24. Quando o intervalo QT é curto, sem uma causa metabólica identificável, mesmo em indivíduos assintomáticos e sem outros comemorativos, deve-se considerar o diagnóstico de SCTCc. Recomenda-se realizar ECG seriado para confirmar o diagnóstico eletrocardiográfico. O intervalo QTc limítrofe (340<QTc<360) também indica a presença da doença quando 1 ou mais fatores acompanham a alteração eletrocardiográfica, como história familiar ou diagnóstico molecular da SCTCc, MS em familiares menores de 40 anos e a ocorrência da FV espontânea ou PCR recuperada8. Os pacientes com diagnóstico de SCTCc devem ter orientação sobre as medidas comportamentais, como evitar esporte competitivo, prevenir e diagnosticar os distúrbios eletrolíticos. As medicações que prolongam o intervalo QT, como sotalol e quinidina, pode ser indicadas em pacientes assintomáticos e de baixo risco ou aqueles com terapia pelo CDI23. O estudo eletrofisiológico não deve ser indicado para estratificação de risco25. O CDI está indicado para prevenção secundária. Pela raridade da doença, não há dados que suportem a indicação de CDI como profilaxia primária, logo os casos devem ser considerados individualmente8. TAQUICARDIA VENTRICULAR POLIMÓRFICA CATECOLAMINÉRGICA A taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica (TVPC) é uma arritmia potencialmente fatal, que acomete principalmente indivíduos com menos de 40 anos, com Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):212-8 manifestação de síncope convulsiva ou MS aos esforços e PCR recuperada. A taxa de mortalidade atinge 30 a 50% dos indivíduos aos 35 anos26. Além disso, a TVPC é diagnosticada em 15% das vitimas de MS com autopsia normal27. A mutação no gene da Rianodina (RyR2) é responsável por um terço da doença e tem padrão autossômico dominante. Os demais genes envolvidos são o CASQ2, a TRDN, KCNJ2 e CALM128. A arritmia ventricular bidirecional ou polimórfica, induzida ao esforço, com intervalo QTc de repouso < 460ms, sem cardiopatia estrutural associada, é sugestiva de TVPC. Os pacientes sabidamente de maior risco de MS são os sintomáticos (síncope ou PCR) e, portanto, estes tem indicação de CDI, além do tratamento otimizado com propranolol8. A simpactectomia esquerda também se mostrou eficiente em TVPC, quando há pouca tolerância ao betabloqueador29. O conhecimento do diagnóstico molecular, além de auxiliar na identificação de carreadores assintomáticos, pode sugerir alguns diagnósticos diferenciais como a síndrome de Andersen-Tawil (SQTLc tipo 7), quando se descobre a mutação no gene KCNJ2. Essa doença apresenta prognóstico clínico melhor que a TVPC e pode ser acompanhada de manifestações extracardíacas, como paralisia periódica e alterações miofasciais30. CARDIOMIOPATIA HIPERTRÓFICA A cardiomiopatia hipertrófica (CH) caracteriza-pela hipertrofia ventricular esquerda assimétrica sem uma causa identificável clinicamente, como as doenças metabólicas de depósitos ou as condições que levam a sobrecarga cardíaca esquerda (hipertensão arterial ou obstrução congênita da via de saída do ventrículo esquerdo)8. Tem uma prevalência estimada de 1:500 pessoas, e é a causa mais comum de morte súbita em jovens, particularmente no atleta31,32. Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentarem dor torácica, dispneia relacionada aos esforço, síncope arrítmica, intolerância progressiva ao exercício, ou morte súbita como o primeira manifestação da doença. O fenótipo anatômico da CH varia em relação a característica da hipertrofia (curva inversa, sigmoidal, e variante apical), à obstrução do trato de saída do ventrículo esquerdo e a presença de fibrose com maior risco de arritmias33. As modificações no estilo de vida do paciente com CH incluem contraindicar o esporte competitivo, desencorajar a atividade física recreacional8. O uso de antiarrítmicos não tem clara associação com a redução de eventos, mas a amiodarona pode ser usada para tratar TVNS diagnosticada em Holter 24hrs, principalmente quando associada a sintomas de palpitação. Pacientes com obstrução sintomática de via de saída de ventrículo esquerdo podem se beneficiar da disopiramida e de betabloqueadores34. A cirurgia miectomia ou a alcoolização do septo também podem ser alterativa para o tratamento da obstrução sintomática, mas não previnem morte súbita35. A estratificação de risco na CH era baseada em fatores clássicos, relacionados a maior probabilidade de evento arrítmico, como espessura do septo, hipotensão arterial ao esforço, taquicardia ventricular não sustentada (TVNS), antecedente familiar de morte súbita, além de outros fatores que se somavam à impressão clínica, como a presença de mutações genéticas de alto risco e a presença de fibrose 215 demonstrada na ressonância cardíaca (realce tardio pelo gadolínio). A diretriz Europeia atual8, propõe o uso de um cálculo baseado em análise multivariada de vários fatores como a idade, espessura do septo, diâmetro do átrio esquerdo, gradiente de repouso da via de saída do ventrículo esquerdo, história familiar de morte súbita cardíaca precoce, TVNS e síncope inexplicada (http://doc2do.com/hcm/ webHCM.html). O modelo pode ser usado para pacientes maiores de 16 anos, sem doenças infiltrativas (Doença de Fabry) ou sindrômicas (Doença de Noonan) e sem miectomia prévia. O estudo eletrofisiológico não é recomendado para avaliação de risco na doença36. O CDI é indicado para a profilaxia secundária: pacientes com PCR recuperada ou TV sustentada documentada e mal tolerada. Na prevenção primária, o risco estimado > 6% em 5 anos, utilizando a análise supracitada, também pode sugerir a necessidade do CDI8. CARDIOPATIA ARRITMOGÊNICA DE VENTRÍCULO DIREITO 216 A cardiomiopatia arritmogênica de ventrículo direito (CAVD) ocorre pela substituição das células miocárdicas por tecido fibroadiposo do ventrículo direito no chamado “triângulo da displasia”, que compreende as porções inferior, apical e infundibular do VD. Inicialmente, ocorre uma deposição fibrogordurosa no epicárdio ou miocárdio, podendo evoluir com extensão transmural, levando ao afilamento e até dilatação da parede com formação de pequenos aneurismas37. Trata-se de uma doença progressiva, podendo também afetar o septo e o ventrículo esquerdo, geralmente, em estágios mais avançados. A CAVD é uma das causas mais frequentes de morte súbita (dependendo da casuística estudada), principalmente em indivíduos jovens do sexo masculino e com menos de 35 anos38. Entretanto, as manifestações clínicas podem surgir em qualquer idade, com maior prevalência em atletas, uma vez que o exercício pode desencadear arritmias ventriculares ou até acelerar o desenvolvimento de anormalidades estruturais39. Estima-se que a prevalência desta doença seja cerca de 1:2500 a 1:5000, sendo mais comuns entres norte-italianos e alemães40. Os principais sintomas da doença são palpitações, síncope, taquicardia ventricular estável ou instável, insuficiência cardíaca e morte súbita40. As palpitações podem ser decorrentes de arritmias ventriculares, mais temidas pelo risco de morte súbita, entretanto também podem ocorrer por arritmias supraventriculares. A taquicardia atrial, flutter ou fibrilação atrial, estão presentes em até 30% dos pacientes com CAVD, em geral sintomáticas, quase sempre denotando envolvimento mais extenso da doença e podem ser responsáveis por choques inapropriados nos portadores de CDI 41. O diagnóstico clínico da doença é baseado na análise de alterações estruturais, morfológicas, arritmias ventriculares e histórico familiar para C/DAVD ou morte súbita em indivíduos com idade inferior a 35 anos. Deste modo, os critérios diagnósticos são baseados na proposição feita pela International Task Force Criteria em 1994, que foram atualizados em 201042. As principais características para a suspeição diagnóstica CAVD são: ondas T invertidas nas precordiais direitas, arritmias ventriculares com padrão morfológico de bloqueio do ramo esquerdo (principalmente com eixo superior), graus variáveis de dilatação do VD (na ausência de hipertensão pulmonar), ondas épsilon (Figura 5) e história familiar de CAVD confirmada. A CAVD é geneticamente herdada, na maioria dos casos, por um padrão autossômico dominante, embora já tenham sido descritos alguns casos de herança recessiva, com menor frequência e relacionados às mutações em outros genes que não os mais comuns (Doença de Naxos). As mutações mais comumente relacionadas à CAVD estão em genes chamados desmossomais, sendo que até o presente momento, I aVR V1 V4 II aVL V2 V5 III aVF V3 V6 II Figura 5. Atraso final de condução em V1 peculiar à CAVD (onda épsilon) (InCor-HCFMUSP). Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):212-8 Arritmias genéticas: como investigar e como tratar? aproximadamente 800 variantes genéticas foram identificadas em 12 genes principais (entre os mais comuns, são a plakofilina, placoglobina TMEM43), mas apenas 300 destas foram consideradas prejudiciais43. A interação entre mutações de outros genes não-desmossomais (RYR2) e a CAVD tem sido descritos em casos familiares e associados à taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica (TVPC) 44. No geral, há uma grande variabilidade fenotípica em indivíduos com a mesma mutação, devido à penetrância incompleta da doença e sua expressão variável. Esse padrão de herança influencia as diversas alterações morfofuncionais citadas, bem como a idade do início da manifestação clínica, reforçando a influência de fatores ambientais, interações genéticas e de genes moduladores40. O tratamento curativo ainda não existe e visa atenuar os sintomas, prevenir a morte súbita e a progressão da doença. A atividade física intensa, competitiva ou não, deve ser evitada, devido ao risco de arritmias fatais e da comprovada progressão da doença (deposição fibrogordurosa, dilatação e disfunção) 45. Os fármacos antiarrítmicos são recomendados para controle dos sintomas e das terapias do CDI. O betabloqueador é recomendado, pela natureza adrenérgica da arritmia. A associação com amiodarona é eficaz quando a arritmia é refratária ao primeiro fármaco. Além de reduzir a ocorrência de arritmias ventriculares e supraventriculares, reduz a frequência da taquicardia, favorecendo o uso de terapias antitaquicardia para evitar os choques. O sotalol se mostrou eficaz no controle dos sintomas em alguns estudos observacionais e pode ser uma alternativa em pacientes sem disfunção ventricular importante8. Os pacientes com FA em CAVD tem risco aumentado de eventos cardioembólicos, principalmente quando há disfunção ventricular e aneurismas de ventrículo direito. Nesses casos, devem receber terapia anticoagulante46. O estudo eletrofisiológico e ablação podem ser realizados em pacientes com arritmias ventriculares sintomáticas ou choques pelo CDI. Pode ser necessário o mapeamento epicárdico para melhor abordagem da cicatriz da CAVD. Entretanto, a ablação bem sucedida também deve ser considerada paliativa e não é suficiente para prevenção de morte súbita, já que a CAVD é uma doença progressiva47,48. A indicação de CDI para prevenção primária não está bem estabelecida e deve ser realizada individualmente. Pacientes com síncope inexplicada, taquicardia ventricular não sustentada no Holter ou eletrocardiograma, história familiar de morte súbita, doença extensa com envolvimento de ventrículo esquerdo e/ou com mutações de alto risco, são potenciais candidatos ao implante do CDI. Já na prevenção secundária, a indicação do CDI está mais respaldada8. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. 217 Referências 1. Priori SG, Schwartz PJ, Napolitano C, Bloise R, Ronchetti E, Grillo M, et al. Risk stratification in the long-QT syndrome. N Engl J Med 2003;348:1866–74. 2. Maron BJ, Casey SA, Chan RH, Garberich RF, Rowin EJ, Maron MS. Independent Assessment of the European Society of Cardiology Sudden Death Risk Model for Hypertrophic Cardiomyopathy. Am J Cardiol. 2015;116(5):757-64. 3. Adler A, Rosso R, Chorin E, Havakuk O, Antzelevitch C, Viskin S. Risk stratification in Brugada syndrome: Clinical characteristics, electrocardiographic parameters, and auxiliary testing. Heart Rhythm. 2015; pii: S1547-5271(15)01128-5. 4. Mazzanti A, Kanthan A, Monteforte N, Memmi M, Bloise R, Novelli V, et al. Novel insight into the natural history of short QT syndrome. J Am Coll Cardiol. 2014;63:1300–8. 5. 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As duas principais opções de tratamento são o medicamentoso, considerado de segunda linha devido à baixa eficácia, necessidade de uso por longa data, efeitos colaterais, interação medicamentosa e potencial efeito proarrítmico; e o invasivo com ablação, atualmente o padrão ouro devido a baixa complicação e alta eficácia. As arritmias ventriculares são menos comuns, podendo estar associadas a prognóstico e risco de morte súbita cardíaca diferentes, de acordo com a presença ou não de alteração estrutural cardíaca. A ablação por cateter possui papel diferente no tratamento das arritmias ventriculares nestes dois grupos de pacientes. O objetivo desta revisão é avaliar o papel da ablação por cateter, resumindo as principais indicações deste procedimento no manuseio das arritmias supraventriculares e ventriculares. Descritores: Ablação por cateter, Arritmias cardíacas, Taquicardia Ventricular, Taquicardia Supraventricular. ABSTRACT Supraventricular arrhythmias are common rhythm disturbances in daily clinical practice. The two main treatment options are pharmacological, and catheter ablation. Pharmacological treatment is considered the second line option due to its low efficacy, the need for long-term adherence, the risk of side effects, drug interactions, and potential proarrhythmic effects. Catheter ablation is currently the gold standard therapy, due to its low complications and high efficacy. Ventricular arrhythmias are less common, and may be associated with different prognoses and levels of risk of sudden cardiac death, depending on the presence or absence of structural heart disease. Catheter ablation has a different role in the treatment of ventricular arrhythmias in these two groups of patients. The objective of this review is to evaluate the role of catheter ablation, summarizing the main indications of this procedure in the management of supraventricular and ventricular arrhythmia. Descriptors: Catheter Ablation; Arrhythmias, Cardiac; Tachycardia, Ventricular; Tachycardia, Supraventricular. INTRODUÇÃO Arritmias supraventriculares são distúrbios do ritmo comuns na prática clínica diária que raramente estão associadas a um elevado risco de morte súbita cardíaca (MSC). Embora o tratamento medicamentoso possa ser utilizado, este é considerado de segunda linha devido à baixa eficácia, necessidade de uso por longa data, efeitos colaterais, interação medicamentosa e potencial efeito pró-arrítmico. A ablação constitui-se atualmente na principal modalidade de tratamento, associando baixa complicação à alta eficácia, frequentemente representando a cura definitiva1. As arritmias ventriculares são menos comuns, sendo que podem estar associadas a prognóstico e risco de MSC difeRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):219-26 rentes, de acordo com a presença ou não de alteração estrutural cardíaca (Ex: doença coronariana, insuficiência cardíaca, doenças congênitas, cardiomiopatia hipertrófica, doença de Chagas, etc.). Pacientes com arritmias ventriculares associadas a doença cardíaca possuem pior prognóstico e maior risco de MSC2 e representam a maioria dos pacientes que procuram atendimento médico com tal alteração do ritmo. Já os pacientes que não tem alterações estruturais cardíacas ou alterações primárias do ritmo cardíaco (Ex: síndrome do QT longo congênito, síndrome de Brugada, taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica), arritmias ventriculares raramente estão associadas com mau prognóstico e aumento de MSC3, sendo classificados como portadoras de Arritmias ventriculares idiopáticas. A ablação 219 com cateter tem papel diferente no tratamento das arritmias ventriculares nestes dois grupos de pacientes, como será discutido adiante neste capítulo. Por definição, arritmias supraventriculares são aquelas que possuem como parte fundamental do seu circuito uma estrutura anatômica localizada acima do feixe de His. Didaticamente, tais arritmias podem ser divididas em dois grupos: arritmias nó atrioventricular (AV) dependentes (Ex: taquicardia por rentrada nodal AV, taquicardia por reentrada atrioventricular) e nó AV não dependentes ou restritas ao átrio (Ex: taquicardias sinusais, taquicardia atrial focal, taquicardia atrial por macrorreentrada/flutter, fibrilação atrial). A figura 1 demonstra algoritmo para diagnóstico diferencial das diferentes causas de taquicardia supraven- 220 tricular baseado no ECG. Abaixo, descreveremos as principais indicações e contraindicações da ablação no manuseio destas arritmias, de maneira específica. A tabela 1 resumirá as principais indicações e nível de evidência de ablação nas arritmias supraventriculares. TAQUICARDIAS ENVOLVENDO O NÓ SINUSAL Os três principais subtipos são a taquicardia sinusal fisiológica, inapropriada e taquicardia por reentrada sinoatrial. Na primeira, a elevação da frequência cardíaca é condizente com um estresse físico, emocional, pato- Tabela1: Características da ablação por cateter nas arritmias supraventriculares. Arritmia Indicação TS Inaprop. Classe IIB (NE: C) TRN Classe I - Ablação da via lenta nodal AV em pacientes com TRN (NE: B) TRAV Classe I - Presença de TRAV e/ou FA pré-excitada (NE: B) Classe IIA - Pré-excitação em pacientes assintomáticos com EEF demonstrando via acessória de alto risco (NE: B). - Pré-excitação em pacientes assintomáticos com profissão de alto risco (NE: B). TA focal Classe I - TA recorrente sintomática (NE:B). - TA incessante (com ou sem sintomas) (NE: B). Classe III - TA não sustent./assintomática (NE: C). FlutterAtrial (FlA) Classe I - Ablação do ICT em pac c/ FlA típico sintomático ou refratário ao tto farmacológico (NE: B). - FlA atípico recorrente, sintomático e refratário a pelo menos 1 antiarrítmico (NE: C). - FlA típico IC / III (após uso de antiarrítmico). Classe IIA - FlA típico resultante de tratamento com antiarrítmicos classe IC ou III para FA (NE: B). - Ablação do ICT em pacientes que serão submetidos a ablação de FA e tenham FlA típico documentado (NE: C) - FlA atípico, recorrente, sintomático como primeiro tto (NE: C). Classe IIB - Pacientes assintomáticos com FlA recorrente (NE: C). FA Classe I (isolamento - FA paroxística refratária ao tto com antiarrítmico classe IC ou antral das VVPP) III (NE: A). Classe IIA - FA persistente refratária ao tto com antiarrítmico classe IC ou III (NE:B). - FA paroxística como 1ª opção de tto (NE: B). Classe IIB - FA persistente longa data refratária ao tto c/ antiarrítmico classe IC ou III (NE: C). - FA persistente/persistente longa data como 1ª opção de tto (NE: C). Ref 1 6 Sucesso1,4-6 (%) 66-76% 96% Complic1,4-6 (%) 6 ±95% 2-4% 86-100% 0-8% 88-100 2,5-3,5 0,5-1% 6 6 6 1 1 6 6 6 6 6 6 5 60-80 6-10 5 5 5 5 FA= Fibrilação Atrial, NE= nível de evidência, Ref: referência; TA= Taquicardia Atrial, TRAV= Taquicardia por Reentrada Atrioventricular, TRN= Taquicardia por Reentrada nodal atrioventricular, TS= Taquicardia Sinusal, tto= tratamento, VVPP= veias pulmonares Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):219-26 Quando indicar ablação para as principais arritmias atriais e ventriculares? FC≥100 bpm QRS<120 ms RR regular RR irregular Onda P? Com onda P sem onda P P > QRS? sim não avaliar RP/PR FIA/TA RP<PR QRS>120 ms TRN TJ TA TAV TVS TSV com aberrância TSV pré-excitada Taquicardia com MP FA TA/FIA cond AV variável TAM RP>PR RP<70 ms RP>70 ms TRN TJ TA TAV TRN TA Taq. Coumel TRN atípica TA RP PR FA= Fibrilação atrial, FlA= Flutter atrial, MP= marcapasso, TA= Taquicardia atrial, TAV= Taquicardia por reentrada Atrioventricular, TJ= Taquicardia juncional, TRN= Taquicardia por reentrada nodal, TSV= Taquicardia supraventricular, TVS= Taquicardia ventricular sustentada. Modificado de . J Am Coll Cardiol. 2003;42(8):1493-15311 221 Figura 1: Algoritmo para diagnóstico diferencial das taquiarritmias de QRS estreito no ECG de 12 derivações. Em detalhe, no quadro tracejado em vermelho, como fazer avaliação da relação RP e PR; no exemplo, uma taquicardia com RP longo (ou PR curto). lógico, farmacológico (drogas lícitas e ilícitas)7 e o tratamento baseia-se no diagnóstico e correção da causa desencadeante. Betabloqueadores são importantes para tratamento sintomático e melhor prognóstico em pacientes com taquicardia sinusal pós-infarto do miocárdio8 e pacientes com insuficiência cardíaca (IC)9,10, além de serem importantes nos casos de taquicardia associada a estresse emocional e distúrbios de ansiedade11-13. Na taquicardia sinusal inapropriada, a elevação da frequência cardíaca não está relacionada com estresses acima descritos, sendo geralmente secundária a um automatismo aumentado ou regulação autonômica anormal do nó sinusal. Possui excelente prognóstico e o risco de taquicardiomiopatia, complicação mais temida em pacientes não tratados, parece ser baixo. Em pacientes sintomáticos, o principal tratamento é medicamentoso (betabloqueadores, verapamil, diltiazen). Devido ao bom prognóstico, modificação do nó sinusal através da ablação figura como uma opção secundária, devido a uma taxa de sucesso em longo prazo de aproximadamente 66%1, com possíveis complicações importantes como lesão do nervo frênico, necessidade de implante de marcapasso por bradicardia sinusal e síndrome da veia cava superior. Na taquicardia por reentrada sinoatrial, a ablação é considerada como principal tratamento, principalmente naqueles pacientes com crises frequentes, mal toleradas e refratárias ao tratamento medicamentoso, apresentando Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):219-26 poucas complicações e alta taxa de sucesso14. TAQUICARDIA POR REENTRADA NODAL ATRIOVENTRICULAR (TRN) A fisiopatologia desta arritmia é uma reentrada em duas vias com propriedades funcionais e anatômicas distintas no nó AV: a via rápida e a lenta. Durante a TRN típica, a via lenta funciona como a alça de condução anterógrada (atrioventricular), enquanto a via rápida funciona como a alça retrógrada (ventriculoatrial). A decisão de optar por tratamento medicamentoso ou ablação deve ser orientada pelos sintomas, frequência, refratariedade ao tratamento clínico e desejo do paciente. Pacientes com crises frequentes ou mal toleradas, refratárias ao tratamento clínico, que não querem fazer uso crônico de medicação ou que querem controle total da arritmia deveriam ser submetidos ao estudo eletrofisiológico (EEF) e ablação. Atualmente, a ablação consiste na eliminação ou modificação da via lenta nodal, na região posteroseptal do anel tricúspide, que possui índice de cura de até 98% com baixo risco de complicações, além de manter a fisiologia normal da condução anterógrada pelo nó AV durante ritmo sinusal. A complicação mais temida é o bloqueio atrioventricular total (BAVT), que possui risco aproximado de 1% nas diferentes séries de casos descritos15,16. TAQUICARDIA POR REENTRADA ATRIOVENTRICULAR (TAV) 222 Neste tipo de taquicardia supraventricular, o principal componente do circuito é uma conexão músculo-muscular entre os átrios e ventrículos conhecido como via acessória, ou feixe anômalo átrio ventricular ou também feixe de Kent. Nas TAV via acessória funciona como alça anterógrada ou retrógrada do circuito reentrante atrioventricular, onde a outra alça depende do Nó AV e Sistema His-Purkinje. Na maioria das vezes a TAV se instala descendo aos ventrículos pela junção AV e subindo de volta aos átrios pela via acessória o que caracteriza uma taquicardia ortodrômica. Raramente a TAV inverte seu circuito e desce pela via acessória aos ventrículos subindo retrogradamente pela junção AV aos átrios, manifestando-se como taquicardia com QRS largo, sendo denominada taquicardia antidrômica. Outras vias acessórias mais raras foram descritas conectando os átrios ou os ventrículos a parte do sistema de condução AV (vias atriofasciculares, nodofasciculares, nodoventriculares ou fasciculoventriculares). Dentre essas a via de Mahaim é a mais frequente, estabelecendo uma conexão apenas anterógrada e com condução alentecida entre o átrio direito e o ramo direito do Sistema His-Purkinje. Essa via só gera taquicardia de QRS largo e padrão de bloqueio de ramo esquerdo, uma vez que só apresenta condução atrioventricular e inicia a ativação ventricular pelo ramo direito. As vias acessórias podem ser manifestas quando apresentam condução anterógrada durante ritmo sinusal, caracterizada pela pré-excitação ventricular no ECG (intervalo PR curto, onda delta alargando o QRS e alteração da repolarização ventricular), ou podem ser ocultas, quando não apresentam condução anterógrada e consequentemente não tem sinais de pré-excitação ventricular. Essas últimas manifestam-se apenas nas crises de taquicardia ortodrômicas onde são a alça de condução ventriculoatrial (condução retrógrada). O diagnóstico de Síndrome de Wolff-Parkinson-White (SWPW) é reservado para os pacientes que tem pré-excitação ventricular associada à taquicardia, o que quase sempre implica na presença de condução anterógrada e retrógrada pela via acessória. A ablação das vias acessórias é realizada pelo mapeamento do anel tricúspide e/ou mitral, sendo o local ideal determinado pela maior precocidade e continuidade entre os eletrogramas atrial e ventricular. Possuem uma taxa de sucesso de aproximadamente 95%, com até 5% de recidiva e taxa de complicações total variando de 2-4%15,17. As principais complicações são: exposição à radiação, lesões vasculares nos sítios de punção, tamponamento cardíaco, tromboembolia e bloqueios atrioventriculares. Nos pacientes com pré-excitação ventricular e taquicardia (SWPW) ou fibrilação atrial pré-excitada com alta resposta ventricular, o tratamento de escolha é a ablação por cateter6. Para os pacientes com pré-excitação ventricular assintomáticos, estratificação de risco com EEF é recomendado como classe IIA, sendo indicado ablação das vias acessórias estratificadas como sendo de alto risco no exame invasivo (classe IIA). Pacientes assintáticos com pré-excitação intermitente ou que apresentem perda súbita da onda delta no teste ergométrico, poderiam ser acompanhados clinicamente6. Pacientes com via acessória oculta e taquicardia devem ser tratados como os pacientes com TRN, já discutidos acima. TAQUICARDIA ATRIAL FOCAL (TA) De maneira arbitrária, TA focal é definida como uma frequência atrial entre 100 e 250bpm1, regular, com linhas isoelétricas entre as ondas P e que se espalham de maneira centrífuga a partir de uma pequena região. Os mecanismos fisiopatológicos mais comuns são: microreentrada, atividade deflagrada e automatismo aumentado, sendo que os focos arritmogênicos tendem a distribuir-se em determinados locais típicos nos átrios esquerdo e direito. Independente do mecanismo fisiopatológico, ablação de tais focos conseguem ser realizadas com uma eficácia próxima a 90%, com uma recidiva de aproximadamente 8%. Taxa de complicações importantes é baixa, variando entre 1 e 2%1. A técnica de ablação mais utilizada é o mapeamento por precocidade para definição do foco arritmogênico. Os pacientes que mais se beneficiam da ablação são aqueles com episódios frequentes de TA, muito sintomáticos e/ou mal tolerados que não responderam bem ao tratamento clínico. Pacientes com TA incessante, independente de ter sintomas ou não, beneficiam-se do tratamento invasivo com cateter, a fim de se evitar ou tratar taquicardiomiopatia. Ectopias atriais muito frequentes no Holter e sintomáticas, também beneficiam-se do tratamento com cateter, se forem unifocais (apresentarem sempre a mesma morfologia de P na ECG). Aqueles indivíduos com episódios não sustentados, pouco frequentes e assintomáticos não se beneficiam do tratamento invasivo, devido à dificuldade de reprodução de tais arritmias no EEF, o que diminui a chance de sucesso do procedimento. TAQUICARDIA ATRIAL POR MACROrREENTRADA OU FLUTTER ATRIAL Sua definição, assim como na TA, é mais didática do que propriamente prática, sendo consideradas taquicardias atriais por macrorreentrada aqueles circuitos que ocupam grandes áreas do átrio (direito ou esquerdo), possuam atividade elétrica em algum ponto dos átrios em quase a totalidade do ciclo atrial (normalmente não tendo linha isoelétrica entre as ondas F) e apresentem frequência variando de 250 a 350 bpm. No átrio direito, quando o circuito envolve o istmo cavotricuspídeo (ICT), é denominado de flutter atrial típico. Outros circuitos no átrio direito que não utilizam o ICT e no átrio esquerdo, normalmente são relacionados a cicatrizes atriais pós-cirurgia cardíaca, sendo denominados de flutters atriais atípicos. Outro mecanismo fisiopatológico de flutter atrial atípico em átrio esquerdo, são os circuitos de reentrada formados após isolamento de veias pulmonares para ablação de fibrilação atrial, como é o exemplo do flutter atrial perimitral. Flutter atrial típico São todos os circuitos no átrio direito que utilizam o ICT que é uma porção de tecido atrial no assoalho do átrio direto delimitado pelo anel tricúspide e óstio da veia cava inferior, que afunila a passagem da corrente elétrica no circuito do Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):219-26 Quando indicar ablação para as principais arritmias atriais e ventriculares? flutter. O circuito macrorreentrante mais comum é aquele que roda em torno da valva tricúspide no sentido anti-horário. O mesmo circuito pode rodar no sentido horário, recebendo a denominação de flutter atrial típico inverso. No flutter atrial típico (anti-horário), as ondas F(s) tem aspecto serrilhado, sendo negativas em D2, D3, AVF, V6 e positivas em V1. No flutter atrial típico inverso (horário), as ondas F(s) são positivas D2, D3, AVF, V6 e negativas em V1. O diagnóstico eletrocardiográfico de flutter atrial típico é de fundamental importância para a definição do tratamento destes pacientes, que a despeito da baixa taxa de sucesso com tratamento clínico com antiarrítmicos (em torno de 50%), possuem uma grande chance de cura com ablação (90 a 100%)18,19, com uma taxa de recidiva em torno de 8%. A técnica mais aceita de ablação atualmente para tais arritmias é a realização de uma linha de bloqueio bidirecional pelo ICT, procedimento relativamente simples e seguro. A taxa de complicações total é de 2,5 a 3,5 %4. Os pacientes que mais beneficiam-se da ablação de flutter atrial são aqueles com episódios recorrentes da arritmia a despeito do tratamento clínico, pacientes com episódio único porém associada a instabilidade clínica e aqueles pacientes que originalmente tinham FA, e que após o tratamento antiarrítmico para controle de ritmo, evoluíram predominantemente com flutter atrial típico recorrente (flutter atrial tipo Ic ou III, dependendo do tipo da classe de droga antiarrítmica utilizada). Flutter atrial atípico Como dito anteriormente, este tipo de arritmia normalmente é secundário a circuitos de reentrada que se formam nos átrios após cirurgia cardíaca1 (Ex: correção de doenças congênitas, troca valva Mitral, atriotomia ou cirurgia de Maze para tratamento de FA), e mais recentemente, após ablação para tratamento de FA18. A ablação para tratamento de tais arritmias é mais complexa do que a realização da linha no ICT, e geralmente depende do diagnóstico correto de um circuito reentrante e a realização de uma lesão linear que possa interrompê -lo. Algumas tecnologias atuais como a utilização de mapeamento eletroanatômico facilitaram o diagnóstico de tais circuitos e cicatrizes atriais, através da realização de mapas de voltagem e ativação durante a arritmia. As taxas de sucesso variam entre as diferentes séries de casos, podendo chegar até 80% com uma taxa de complicação (Ex: lesão frênica, tamponamento cardíaco) inferior a 5%20. Ablação está indicada para os indivíduos com episódios recorrentes sintomáticos e refratários ao tratamento clínico medicamentoso e o sucesso dependerá sempre da complexidade do substrato arritmogênico e circuito envolvido na arritmia FIBRILAÇÃO ATRIAL A fibrilação atrial (FA) é a arritmia sustentada mais frequente atualmente, com prevalência entre 1 e 2 % na população mundial e que tenderá a dobrar com o envelhecimento da população. Está associada a uma chance maior de mortalidade por cardioembolia, cinco vezes maior de acidente vascular cerebral (AVE) (um em cada 5 AVE isquêmico está relacionado com cardioembolia), piora na função ventricular esquerda e qualidade de vida21. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):219-26 A fisiopatologia da FA é multifatorial, sendo os principais responsáveis: alterações atriais anatômicas (dilatação e fibrose) secundárias às cardiopatias, remodelamento eletroanatômico secundário à própria FA (“FA gera FA!”), gatilhos locais (principalmente em veias pulmonares), microcircuitos de reentrada, rotores e atividade ganglionar parassimpática. Estes fatores associam-se de maneiras e intensidades diferentes de acordo com as diferentes etiologias, resultando em FA. O tratamento da FA, assim como para o flutter atrial, é baseado em uma estratégia de prevenção de eventos cardioembólicos (através de uso de fámacos anticoagulante nos paciente considerados de alto risco para cardioembolia) e adoção de uma estratégia de controle de ritmo ou frequência cardíaca (FC). A princípio, sempre que possível deve-se tentar a restauração do ritmo sinusal, sem que se exponha o paciente a uma relação risco-benefício desfavorável. O controle do ritmo será mais eficiente em pacientes mais jovens, que se manifestem preferencialmente com FA paroxística, que não tenham átrio esquerdo aumentado no ECO e não apresentam outras comorbidades como hipertensão, diabetes, IC, etc. Isso não significa que a presença de um desses fatores contraindique a tentativa de reversão da FA, entretanto todos eles devem ser considerados e pesados para que se tome a decisão mais adequada. O controle do ritmo com drogas antiarrítmicas, além da limitação imposta pela reduzida gama de medicamentos disponíveis no mercado, ainda apresenta baixa efetividade. Assim sendo a ablação por cateter vem se estabelecendo com uma boa opção nos casos bem selecionados. Na indicação da ablação por cateter para FA os mesmo fatores citados acima devem ser considerados. A principal técnica para ablação de FA com finalidade de se evitar recorrência é a ablação circunferencial antral com isolamento elétrico das veias pulmonares com aplicações de radiofrequência, que além de eliminar gatilhos localizados no interior das veias pulmonares, tem a capacidade de modificação de substrato eletroanatômico comumente instalados ao longo do antro das veias pulmonares. Utilização e eficácia de novas técnicas como mapeamento e ablação de rotores, lesões lineares no teto do AE, isolamento da parede posterior do AE, aplicações no seio coronário e isolamento de veia cava superior são motivos de intenso debate atualmente, e parecem não diminuir recorrência, além de aumentar tempo de escopia, do procedimento e possíveis complicações. Novas tecnologias de ablação estão sendo empregadas e avaliadas quanto à eficácia e segurança para isolamento das veias pulmonares como novas fontes de energia (Ex: crioablação, ultrassom, laser), cateteres com múltiplos eletrodos de ablação ou com monitorização da força de contato5. A eficácia da ablação, após um ano do procedimento, varia de acordo com o tempo de duração da FA, sendo mais efetiva nos pacientes com FA paroxística (em torno de 70-80%) do que nos pacientes com padrão persistente (60-70%) ou persistente de longa data. Estas taxas de sucesso tendem a subir com a repetição do procedimento. As taxa de complicações maiores situam-se em torno de 6%4. As mais temidas, e também de incidência bem menor, são: eventos tromboembólicos, tamponamento cardíaco, estenose de veias pulmonares e fístula atrioesofágica. Complicações mais comuns e de menor risco são: lesão do nervo frênico e complicações locais nos sítios de punção. 223 Atualmente, a ablação de FA é recomendada para aqueles pacientes com FA refratária ao tratamento medicamentoso com pelo menos uma droga de classe IC ou III, sendo maiores as evidências para FA paroxística5. Para os pacientes que não desejam utilizar antiarrítmicos, a ablação de FA pode ser feita como primeira opção, porém o nível de recomendação e grau de evidência é menor nestes indivíduos, do que naqueles que tiveram falha com tratamento antiarrítmico (Tabela 1). Outro método de ablação que pode ser utilizado para controle de sintomas, por ser altamente eficaz no controle da frequência cardíaca, é a realização de bloqueio atrioventricular total através da ablação do nó AV ou do feixe de His, após implante de marcapasso definitivo. Tal técnica não objetiva o controle de ritmo, já que o paciente normalmente mantém-se em FA. Esta técnica é indicada (Classe IIA, nível de evidência B)22 para pacientes sintomáticos e/ou que apresentem taquicardiomiopatia, que apresentem FA de alta resposta, refratária a medicação e que não tiveram sucesso ou está contraindicado a tentativa de controle do ritmo. Em pacientes com FA e IC com indicação de terapia de ressincronização cardíaca, a realização de BAVT deve ser considerada, com a finalidade de garantir a maior taxa de batimentos ressincronizados ao longo do dia (>96%). ARRITMIAS VENTRICULARES 224 Arritmias ventriculares trazem implicações prognósticas e estão associadas a maior risco de MSC em pacientes com alteração estrutural cardíaca23. Frequentemente, tais pacientes são portadores de cardioversores/desfibriladores implantáveis (CDI), apresentando terapias adequadas de repetição, que limitam a qualidade e expectativa de vida. Com exceção dos pacientes com canalopatias ou doenças elétricas primárias, arritmias ventriculares monomórficas em pacientes com coração estruturalmente normal e sem doença coronariana, chamadas de arritmias ventriculares idiopáticas, possuem ótimo prognóstico e normalmente não estão associadas a risco elevado de MSC24. Logo, avaliação com estudo eletrofisiológico e ablação possui papéis diferentes no tratamento das arritmias ventriculares nestes dois grupos de pacientes, como será discutido adiante. As recomendações de ablação estão listada na tabela 2. Pacientes com doença estrutural cardíaca Taquiarritmias ventriculares em pacientes cardiopatas representam a maioria (aproximadamente 90% dos casos) dos pacientes que procuram cuidado médico por tais distúrbios do ritmo cardíaco25. A taquicardia ventricular de repetição, além de expor o paciente ao constante risco de morte súbita, é importante causa de piora na qualidade de vida nos pacientes com cardiopatia estrutural (Ex: IC isquêmica e não-isquêmica, doença de Chagas, coronariopatia, cardiomiopatia hipertrófica, displasia arritmogênica de ventrículo direito), sendo motivo para internações recorrentes para sua reversão e choques apropriados de repetição nos portadores de CDI. Logo, a ablação desempenha papel importante na melhora da qualidade de vida, reduzindo internações e terapias do CDI. Nos quadros de tempestades elétricas, quando pacientes apresentam TVS incessante e múltiplos choques Tabela 2. Indicações para ablação de arritmias ventriculares. Arritmia Indicação Nível de evidência Arritmia Classe I Ventricular - TVS monomórfica em paciente com baixo risco de MSC, refratária, intolerante ou em indivíduos que não desejam tto clínico. - TVS ramo-a-ramo. - Como terapia adjuvante em pac. portadores de CDI com choques múltiplos devido a TVS. - Pac. c/ SWPW recuperados de MSC. Classe IIA - TVNS monomórfica em paciente com baixo risco de MSC, refratária, intolerante ou em indivíduos que não desejam tto clínico. - EV(s) monomórficas em pacientes com baixo risco de MSC, sintomáticas, refratárias, intolerantes ou em indivíduos que não desejam tto clínico. Classe IIB - Ablação de potenciais de Purkinje em pacientes com tempestade elétrica desencadeadas por EV(s) c/ morfologia semelhante a TVS. - Ablação de EV(s) assintomáticas e frequentes para evitar ou tratar taquicardiomiopatia. Classe III - Ablação de EV(s) assintomáticas e pouco frequentes. C C C B C C C C C Modificado de Circulation 2006, 114:e385-e484 CDI= cardioversor/desfibrilador implantável, EV= ectopia ventricular, MSC= morte súbita Cardíaca, SWPW= Síndrome de Wolff-Parkinson-White, TVNS= Taquicardia ventricular não-sustentada, TVS= Taquicardia ventricular sustentada, tto= tratamento apropriados do CDI em um curto intervalo de tempo, a ablação é um armamento importante para o seu controle. As principais modalidades de ablação são por cateter ou cirúrgica, sendo esta última muito pouco utilizada nos dias de hoje devido ao grande desenvolvimento dos métodos por cateter. A ablação cirúrgica limita-se principalmente aos pacientes em que o tratamento farmacológico ou ablação por cateter tenham falhado, ou naqueles com indicação cirurgia cardíaca por outro motivo (Ex: revascularização miocárdica). A TVS no paciente com cardiopatia é geralmente causada por mecanismo de reentrada em regiões cicatriciais que podem estar localizadas no endocárdio, miocárdio ou epicárdio26. Em chagásicos, a prevalência de circuitos epicárdicos é maior que nos pacientes não chagásicos, dessa forma a abordagem conjunta endo- e epicárdica para mapeamento desses circuitos aumenta a eficácia do método27. Quando o paciente apresenta TVS bem tolerada, o mapeamento do foco da arritmia pode ser realizado durante a taquicardia, com chance desta ser interrompida em 60-80% dos casos, porém com recorrência da arritmia em até 50% dos pacientes26. Nos casos de indução de múltiplas taquicardias ventriculares ou presença de instabilidade hemodinâmica, a ablação deve ser realizada com auxílio de mapeamento eletroanatômico e fora de arritmia, visando a modificação dos substratos responsáveis pela manutenção da taquicardia (áreas cicatriciais e de condução lenta), com sucesso de até 80% e taxa de recorrência de 15%28. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(4):219-26 Quando indicar ablação para as principais arritmias atriais e ventriculares? Arritmias ventriculares idiopáticas As arritmias ventriculares idiopáticas, ou seja, aquelas presentes em indivíduos com coração estruturalmente normais e sem doença coronariana, podem ser subdivididas em dois grupos: as polimórficas, raras e geralmente associadas a doenças elétricas primárias ou canalopatias, prognóstico ruim e elevado risco de MSC; e as monomórficas associadas a focos arritmogênicos em via de saída ventricular ou reentrada nos fascículos do ramo esquerdo do Sistema His-Purkinje (taquicardias fasciculares). A ablação desempenha papel importante no grupo das arritmias ventriculares idiopáticas monomórficas, grupo que compreende aproximadamente 10% dos casos de arritmias ventriculares que procuram auxílio médico25. Destes 10%, a maioria dos casos (85-90%) tem origem nas vias de saída ventriculares, sendo mais comum na via de saída de ventrículo direito (VD) do que na do ventrículo esquerdo (VE). O restante dos casos, normalmente tem origem nos fascículos do ramo esquerdo (TV fasciculares ou sensíveis ao verapamil). As principais indicações de ablação nestes pacientes são episódios repetidos de taquicardia ventricular sustentada sintomática refratária ao tratamento medicamentoso ou episódio único porém com instabilidade clínica e/ou síncope2. Os pacientes podem apresentar também ectopias ventriculares muito frequentes, sintomáticas, refratárias ao tratamento clínico ou que podem estar associadas a piora da função ventricular (taquicardiomiopatia). Nestes casos, a ablação também está indicada. No grupo das canalopatias a ablação por cateter ainda não apresenta recomendação estabelecida. Entretanto na síndrome de Brugada, com choques de repetição pelo CDI, a modificação do substrato epicárdico da via de saída de VD está sendo avaliada para prevenção de arritmias ventriculares e choques recorrentes29. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 1. Blomström-Lundqvist C, Scheinman MM, Aliot EM, Aliot EM, Alpert JS, Calkins H, et al. ACC/AHA/ESC guidelines for the management of patients with supraventricular arrhythmias—executive summary. J Am Coll Cardiol. 2003;42(8):1493-531. 2. Zipes DP, Camm AJ, Borggrefe M, Buxton AE, Chaitman B, Fromer M, et al. ACC/AHA/ESC 2006 guidelines for management of patients with ventricular arrhythmias and the prevention of sudden cardiac death: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force and the European Society of Cardiology Committee for Practice Guidelines (Writing Committee to Develop Guidelines for Management of Patients With Ventricular Arrhythmias and the Prevention of Sudden Cardiac Death). Circulation. 2006;114:e385– e484. 3. Kennedy HL, Whitlock JA, Sprague MK et al. 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