Morte celular

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Conceitos e caracterização dos processos envolvendo
a morte celular, com ênfase nas modificações
morfológicas.
Morte celular
e Necrose

Conceito e alterações na morfostase e
homeostase característicos da necrose
 Tipos de necrose
NECROSE
"Morte de uma célula ou de parte de
um tecido em um organismo vivo".
necrose é a manifestação final de uma célula
que sofreu lesões irreversíveis. Segundo Guidugli-Neto
(1997), o conceito de morte somática envolve a "parada
definitiva das funções orgânicas e dos processos
reversíveis do metabolismo". A necrose é a morte
celular ou tecidual acidental em um organismo ainda
vivo, ou seja, que ainda conserva suas funções
orgânicas. Vale dizer que é natural que a célula morra,
para a manutenção do equilíbrio tecidual. Nesse caso, o
mecanismo de morte é denominado de "apoptose" ou
"morte programada".
A etiologia da necrose envolve todos
os fatores relacionados às agressões,
podendo ser agrupadas em agentes
físicos, agentes químicos e agentes
biológicos:
1) Agentes físicos: Ex.: ação mecânica,
temperatura, radiação, efeitos
magnéticos;
2) Agentes químicos: compreendem
substâncias tóxicas e não-tóxicas. Ex.:
tetracloreto de carbono, álcool,
medicamentos, detergentes, fenóis etc.
3) Agentes biológicos: Ex.: infecções
viróticas, bacterianas ou micóticas,
parasitas etc.
Corpo apoptótico (seta) de célula epitelial em neoplasia
maligna em língua. A desrregulação do sistema genético
celular devido à desdiferenciação (volta ao estágio
embrionário), característico do processo neoplásico
maligno, pode explicar a observação da morte programada
dessas células.
Esses agentes provocam o comprometimento dos
níveis celulares de respiração aeróbica, de síntese
protéica, de manutenção da integridade das
membranas celulares e de manutenção da capacidade
de multiplicação celular (RNA e DNA). A ação das
causas sobre esses sistemas provoca a perda da
homeostase e da morfostase celular de tal forma que a
célula perde a sua vitalidade. A necrose, assim,
abrange alterações regressivas reversíveis que, em
algum ponto e por algum estímulo desconhecido,
passam a ser irreversíveis; instalada a irreversibilidade
e a necrose propriamente dita, inicia-se o processo de
desintegração celular (autólise).
As mudanças na morfostase se dão,
principalmente, nos núcleos, os quais
apresentam alteração de volume e de
coloração à microscopia óptica. Essas
alterações são denominadas de:
1) Picnose: o núcleo apresenta um
volume reduzido e torna-se hipercorado,
tendo sua cromatina condensada;
característico na apoptose;
2) Cariorrexe: a cromatina adquire uma
distribuição irregular, podendo se acumular
em grumos na membrana nuclear; há
perda dos limites nucleares;
3) Cariólise ou cromatólise: há
dissolução da cromatina e perda da
coloração do núcleo, o qual desaparece
completamente.
Transformações nucleares e citoplasmáticas observadas
nas células de baço que sofreram necrose por
coagulação. Em A, observam-se as células normais que
compõem o baço; em B, núcleo em picnose, com
diminuição de volume e intensa basofilia
(hipercromatismo); em C, cariorrexe, ou seja,
distribuição irregular da cromatina, a qual se acumula na
membrana nuclear; nessa fase, o núcleo pode se
fragmentar (D); em E, dissolução da cromatina e
desaparecimento da estrutura nuclear. Observa-se
também granulação do citoplasma, o qual se torna
também intensamente eosinofílico (HE, 1000X).
Já as modificações citoplasmáticas
observadas ao microscópio óptico
(essas modificações são secundárias
às nucleares, sendo visíveis mais
tardiamente) consistem na presença de
granulações e espaços irregulares no
citoplasma. Este torna-se opaco,
grosseiro, podendo estar rompida a
membrana citoplasmática. Intensa
eosinofilia é característica, decorrente
de alterações lisossomais e
mitocondriais.
O tecido necrótico é caracterizado por intensa eosinofilia,
devido à diminuição de pH oriunda da autólise. Nesse
campo, ainda é possível visualizar a estrutura celular e
alguns núcleos em diferentes estágios de perda de
estrutura; com a evolução do processo de autodigestão, a
tendência é a estrutura célula desaparecer completamente
(HE, 1000X).
As mudanças na homeostase ainda
constituem capítulo obscuro na
patologia segundo Guidugli-Neto
(1997). Estudos moleculares têm
mostrado que o primeiro evento
observado é a alteração na bomba de
sódio e potássio, provocando edema
intracelular. O metabolismo celular é
mantido graças à glicólise; acabandose a reserva de glicogênio, ácidos são
acumulados no interior da célula
(principalmente ácido lático), o que
leva à diminuição do pH. A acidez
provoca a liberação de enzimas
lisossomais, o que gera a hidrólise de
proteínas essenciais para a célula
(processo denominado de autólise)
(Guidugli-Neto, 1997).Observa-se que
a perda da homeostase envolve o
sistema respiratório celular (as
mitocôndrias), o sistema enzimático
(os lisossomas) e o sistema de
membranas, o qual parece ter um
papel crucial para o estabelecimento
de lesões irreversíveis na célula.
TIPOS DE NECROSE
iante das diversas formas de manifestação da
necrose, existem inúmeras classificações para os seus
diferentes tipos. Segundo Guidugli-Neto (1997), as
necroses podem ser:
1) Necrose por coagulação (=
isquêmica): causada por isquemia do
local. É freqüentemente observada nos
infartos isquêmicos. Há perda da nitidez
dos elementos nucleares e manutenção
do contorno celular devido à
permanência de proteínas coaguladas
no citoplasma, sem haver rompimento
da membrana celular.
Necrose por coagulação em infarto isquêmico de baço.
Nesse tipo de necrose, é possível ainda visualizar o
contorno celular (setas), apesar de a célula já estar
sofrendo um processo de lesão irreversível. Observam-se
nesse campo núcleos com diferentes estágios de alteração
morfológica (HE, 1000X).
2) Necrose por liquefação: o tecido
necrótico fica limitado a uma região,
geralmente cavitária, havendo a
presença de grande quantidade de
neutrófilos e outras células inflamatórias
(os quais originam o pus). É comum em
infecções bacterianas. Pode ser
observada nos abscessos e no sistema
nervoso central, bem como em algumas
neoplasias malignas.
3) Necrose caseosa: tecido
esbranquiçado, granuloso, amolecido,
com aspecto de "queijo friável".
Microscopicamente, o tecido exibe uma
massa amorfa composta
predominantemente por proteínas. É
comum de ser observada na
tuberculose, em neoplasias malignas e
em alguns tipos de infarto. Na sífilis, por
ter consistência borrachóide, é
denominada de necrose gomosa.
4) Necrose fibrinóide: o tecido
necrótico adquire uma aspecto hialino,
acidofílico, semelhante a fibrina. Pode
aparecer na ateroesclerose, na úlcera
péptica etc.
Necrose fibrinóide (NF) em úlcera péptica (estomacal). O
tecido necrosado apresenta um aspecto hialino e está
rodeado por infiltrado inflamatório (IC) (HE, 100X).
5) Necrose gangrenosa: provocada por
isquemia ou por ação de microrganismo.
Pode ser úmida ou seca, dependendo da
quantidade de água presente. A úmida
freqüentemente envolve a participação
de bactérias anaeróbias, as quais
promovem uma acentuada destruição
protéica e putrefação. Comum em
membros inferiores e em órgãos internos
que entraram em contato com o exterior,
como pulmões e intestino.
Necrose enzimática (NE) em pâncreas. É evidente a perda
de estrutura tecidual do parênquima do órgão, decorrente
da lise de adipócitos. Observe o material amorfo amarelado
(NE), o qual se forma devido à liberação anormal de lipases
6) Necrose enzimática: ocorre quando
há liberação de enzimas nos tecidos; a
forma mais observada é a do tipo
gordurosa, principalmente no pâncreas,
quando pode ocorrer liberação de
lipases, as quais desintegram a gordura
no órgão. Clique sobre a foto e veja o quadro
histopatológico. Note a desorganização do tecido adiposo
(NE) (HE, 100X).
neutra dos adipócitos desse órgão.
7) Necrose hemorrágica: quando há
presença de hemorragia no tecido
necrosado; essa hemorragia às vezes
pode complicar a eliminação do tecido
necrótico pelo organismo.
O tecido necrótico pode evoluir para
calcificação distrófica, cicatrização ou
mesmo regeneração.
Necrose caseosa em tuberculose pulmonar. Nesse tipo, os
contornos celulares praticamente não são visíveis ou
apresentam-se extremamente irregulares, com o
citoplasma exibindo vacuolizações (setas) (HE, 1000X).
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