Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA Capítulo 1 – Princípios Este capítulo apresenta os seis princípios que orientaram a elaboração deste Guia. O primeiro princípio diz respeito a um conceito abrangente de saúde que considera todas as dimensões físicas, mentais, emocionais e espirituais do bem-estar humano, e não apenas a ausência de doenças. O segundo diz respeito a um conceito abrangente de alimentação que, além de nutrientes, leva em conta alimentos e combinações de alimentos e as dimensões sociais e culturais do ato de comer. O terceiro princípio reconhece a interdependência entre padrões saudáveis de alimentação e sistemas alimentares sustentáveis. O quarto princípio defende que o acesso a informações sobre atributos e determinantes da alimentação saudável é fundamental para que consumidores façam melhores escolhas no ambiente em que vivem e para que cidadãos atuem politicamente para conformar ambientes que promovam a alimentação saudável. O quinto princípio reconhece que o conhecimento relevante para a construção de guias alimentares tem origem em evidências de várias naturezas, é obtido de várias fontes e é gerado por diferentes disciplinas. Por fim, o sexto princípio postula que guias alimentares devem ser consistentes com e contribuir para a garantia do direito humano à alimentação. Toda ação humana estruturada é implícita ou explicitamente guiada por princípios. A formulação de guias alimentares não foge a esta regra. Os princípios que orientaram a elaboração deste Guia são apresentados neste capítulo. SAÚDE É MAIS DO QUE A AUSÊNCIA DE DOENÇAS Saúde diz respeito ao pleno bem-estar físico, mental e social Um conceito abrangente de saúde, que considere todas as dimensões físicas, mentais e sociais do bem-estar das pessoas, e não apenas a ausência de doenças, é indispensável para orientar a elaboração de recomendações sobre alimentação saudável. Várias dimensões do bem-estar - e, portanto, da saúde - são influenciadas pela alimentação. Além de prevenir ou causar doenças, a alimentação afeta a identidade, o sentimento de pertencimento social, o estado de humor, o prazer, a aptidão, a autonomia e várias outras dimensões centrais do estado de bem-estar das pessoas. Comentário ABIA: Inicialmente, se faz importante ressaltar que, as doenças crônicas não transmissíveis advêm de causas multifatoriais. Além disso, sugerimos a inclusão da palavra “certas” à redação, conforme segue: “Além de prevenir ou causar certas doenças, a alimentação....”. Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA Neste sentido, pode-se dizer que a alimentação alimenta nosso corpo, nossa mente e nosso espírito. Comentário ABIA: Acreditamos que a intenção do Ministério da Saúde era esclarecer que a alimentação afeta o estado de “espírito” no sentido sensorial, isto é, sensação de prazer. O texto como exposto encontra-se simplista demais, generalizando o ato de se alimentar para a mente e espírito, algo que não há comprovação científica. A alimentação se dá principalmente por necessidade fisiológica do organismo, sendo que o prazer pode estar associado, entretanto não seria uma condição indispensável. Por adotar um conceito abrangente de saúde, este Guia leva em conta em suas recomendações sobre alimentação a relação que esta mantém com o risco de doenças e com as várias dimensões do bem-estar humano. ALIMENTAÇÃO É MAIS DO QUE A INGESTÃO DE NUTRIENTES A alimentação envolve nutrientes, alimentos, combinações de alimentos e as dimensões sociais e culturais do ato de comer (e todos esses aspectos influenciam a saúde o bemestar) A alimentação diz respeito obviamente à ingestão de nutrientes, mas igualmente importantes para a nutrição e para a saúde e o bem-estar das pessoas são os alimentos específicos que fornecem os nutrientes, as inúmeras possíveis combinações entre esses alimentos e as dimensões sociais e culturais do ato de comer. A ciência da nutrição surge com a identificação e o isolamento de nutrientes presentes nos alimentos e com estudos do efeito de nutrientes individuais sobre a saúde humana e a incidência de doenças. Esses estudos foram fundamentais para informar políticas e ações destinadas a prevenir ou controlar carências nutricionais específicas (como a de proteínas ou vitaminas) e doenças cardiovasculares associadas ao consumo excessivo de sódio ou de gorduras de origem animal. Comentário ABIA: A ocorrência de doenças cardiovasculares não está isoladamente associada apenas ao consumo excessivo de nutrientes como o sódio ou gorduras de origem animal, mas sim a causas multifatoriais, que vão desde a predisposição genética, raça, sexo e idade a fatores ambientais como estresse, estilo de vida e sedentarismo. Neste sentido, o Guia Alimentar para a População Brasileira de 2006 apresenta o que segue: “Evidências científicas mais recentes mostram que a saúde pode estar muito mais relacionada ao modo de viver das pessoas do que à ideia, anteriormente hegemônica, da sua determinação genética e biológica. O sedentarismo e a alimentação não saudável, o consumo de álcool, tabaco e outras drogas, o ritmo da vida cotidiana, a competitividade, o isolamento do homem nas cidades são condicionantes Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA diretamente relacionados à produção das chamadas doenças modernas. Por isso, a resolução ou redução de riscos associados aos problemas alimentares e nutricionais ampara-se na promoção de modos de vida saudáveis e na identificação de ações e estratégias que apoiem as pessoas a ser capazes de cuidar de si, de sua família e de sua comunidade de forma consciente e participativa”. O estudo “Association of Dietary, Circulating, and Supplement Fatty Acids With Coronary Risk: A Systematic Review and Meta-analysis” apresenta o que segue: “A review of more than 72 clinical studies has raised further questions over current guidelines relating to fat intake - which generally restrict the consumption of saturated fats and encourage consumption of polyunsaturated fats to prevent heart disease” A meta-análise, publicada na revista Annals of Internal Medicine, re-analisou dados a partir de 72 estudos de coorte e ensaios clínicos randomizados que investigaram o risco de doença cardíaca e ingestão de ácidos graxos - com os dados obtidos a partir de mais de 600.000 pessoas mostram que a evidência atual não suporta diretrizes de limitar o consumo de gorduras saturadas, a fim de prevenir as doenças cardíacas. Fonte: Annals of Internal Medicine Volume 160, Number 6, Pages 398-406, doi: 10.7326/M13-1788 "Association of Dietary, Circulating, and Supplement Fatty Acids With Coronary Risk: A Systematic Review and Meta-analysis" Authors: Rajiv Chowdhury, Samantha Warnakula, et al. Entretanto, nas últimas décadas, a ênfase na relação entre nutrientes individuais e doenças específicas foi se mostrando progressivamente insuficiente para explicar a relação entre alimentação e saúde. Vários estudos têm mostrado, por exemplo, que a proteção que o consumo de frutas ou de hortaliças confere contra doenças do coração e certos tipos de câncer não se repete com intervenções baseadas na suplementação medicamentosa dos nutrientes individuais presentes naqueles alimentos. Tais estudos indicam que o efeito benéfico sobre a saúde advém do alimento em si, e das combinações de nutrientes que ele possui, mais do que de nutrientes isolados. Em outras situações, como no caso dos efeitos positivos sobre a saúde de padrões tradicionais de alimentação, há indicações de que mais do que alimentos individuais o que importa é a combinação de alimentos. Há igualmente evidências de que as dimensões sociais que envolvem o ato de se alimentar – por exemplo, comer sozinho, sentado no sofá e diante da televisão ou compartilhar uma refeição, sentado à mesa com familiares ou amigos – são importantes para determinar quais alimentos serão consumidos e, mais importante, em que quantidades. A dimensão cultural do ato de comer, refletida no valor simbólico que alimentos, combinações específicas de alimentos e preparações culinárias singulares assumem em cada sociedade, está fortemente relacionada com a identidade e o sentimento de pertencimento social das pessoas e Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA com a satisfação que elas terão com a alimentação. Por adotar um conceito abrangente de alimentação, em suas recomendações, este Guia leva em conta nutrientes, alimentos, combinações de alimentos e preparações culinárias e dedica especial atenção às dimensões sociais e culturais que envolvem o ato de comer. ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL DERIVA DE SISTEMA ALIMENTAR SUSTENTÁVEL Padrões saudáveis de alimentação são possíveis apenas em sistemas alimentares que protegem e respeitam o ambiente natural de onde os alimentos são obtidos Sistemas de produção e distribuição de alimentos são fundamentais para todas as sociedades humanas. Civilizações floresceram ou sucumbiram em função de como elas utilizaram seus recursos para criar, desenvolver e sustentar sistemas alimentares. Estes recursos envolvem essencialmente solo, água, fontes de energia e trabalho humano. A evolução recente dos sistemas alimentares na maior parte do mundo indica convergência para um sistema altamente industrializado, globalizado e dominado por poucos agentes econômicos. Muitas das características deste sistema colocam em risco sua sustentabilidade. O uso intensivo de terra, água e energia, o emprego indiscriminado de agrotóxicos, o transporte por longas distâncias e a geração de toneladas de lixo provenientes de embalagens descartáveis ameaçam o ambiente e saúde. Outra tendência preocupante é a redução do número de espécies e variedades de plantas e animais, determinada em grande parte por razões comerciais. A redução da biodiversidade aumenta o risco de pragas e de epidemias que podem afetar os estoques de alimentos causando insegurança alimentar, e possibilitando, no caso de doenças animais, que elas se espalhem para os seres humanos. É uma responsabilidade moral humana e um compromisso com as futuras gerações a proteção do ambiente e das outras espécies e da biodiversidade em geral. O bem-estar e a sobrevivência da espécie humana dependem mais do que nunca da busca de um relacionamento cuidadoso e respeitoso com todas as formas de vida e com a preservação de recursos naturais preciosos. Este Guia leva em conta os efeitos que escolhas alimentares têm sobre os recursos naturais e sobre a biodiversidade das espécies e privilegia em suas recomendações alimentos que não ameacem a alimentação das futuras gerações. Comentário ABIA: O Guia levanta uma realidade que apesar de verdadeira não é única e exclusivamente causada pela agricultura ou processamento de alimentos. Neste sentido esta unilateralidade confere ao setor produtivo de alimentos algo que é também fruto da indústria petroquímica, têxtil, automobilística, de energia, eletrônica e farmacêutica. Ainda, quando a autor se refere ao “emprego indiscriminado de agrotóxicos”, deve ser considerada a necessidade de citar a referência desta informação, pois, o Brasil dispõe de normas oficiais que Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA regulam o uso de agrotóxicos em alimentos, assim como a adoção de boas praticas agrícolas estabelecidas especialmente pelo Ministério da Agricultura. A INFORMAÇÃO ESCLARECE CONSUMIDORES E EMPODERA CIDADÃOS A informação é essencial para que consumidores façam melhores escolhas e para que cidadãos atuem politicamente para conformar ambientes promotores da alimentação saudável O acesso a informações corretas sobre os atributos e determinantes de uma alimentação saudável é essencial para que as pessoas possam fazer escolhas alimentares adequadas. Contudo, adotar uma alimentação saudável não é meramente uma questão de escolha para o indivíduo. Muitos fatores do ambiente - de natureza física, econômica ou social - podem tornar escolhas saudáveis bastante difíceis. Por exemplo, a moradia em bairros onde não haja mercados ou outros pontos de vendas que comercializem frutas, verduras e legumes e outros alimentos frescos torna menos factível a adoção de padrões saudáveis de alimentação. Outras condições que dificultam escolhas alimentares adequadas incluem a baixa renda familiar, sobretudo quando os alimentos saudáveis são mais dispendiosos do que os demais, a obrigatoriedade de fazer refeições em locais onde não são oferecidas opções saudáveis de alimentação e a exposição à publicidade de alimentos não saudáveis. Comentário ABIA: Não existem alimentos saudáveis e não saudáveis e sim uma “alimentação balanceada e equilibrada” onde todos os alimentos se encaixam. - A Organização Mundial da Saúde define em seu documento “Preparation and Use of Food-Bases Dietary Guidelines” que nenhum alimento é completo, isto é, fornece todos os nutrientes necessários para o crescimento, manutenção da saúde e prevenção de doenças. WHO Technical Report Series. Preparation and Use of Food-Bases Dietary Guidelines 1998 (Pag 7). “No single food, other than breast milk for infants, provides all the required nutrients. For optimal growth, health and avoidance of disease, a range of nutrients is needed in amounts that change through-out life. The various diets that people eat, made up of many different foods in a variety of national patterns and combinations, have proved over the ages to be able to provide adequate nutrients.” - A alimentação saudável é entendida como aquela que faz bem, promove a saúde e deve ser orientada e incentivada desde a infância até a vida adulta. No entanto, nem sempre depende apenas de opção individual. Mas também de questões como baixa renda, exclusão social, baixa escolaridade e Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA falta ou má qualidade da informação disponível podem restringir a adoção e a prática de uma alimentação saudável. Para ser considerada saudável, a alimentação deve ser planejada com alimentos de todos os tipos, de procedência segura e conhecida. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. Barueri, SP: Manole; 2008. Alimentação saudável e a pirâmide dos alimentos; cap. 1, p. 3-29. - A Organização Mundial da Saúde no documento Diet, Nutrition and the Prevention of Chronic Diseases (Geneva 2003), afirma que a dieta alimentar e todos os seus influenciadores são responsáveis pela determinação de um ambiente promotor de saúde. A afirmação transmite a mensagem de que a dieta é variada culturalmente e que fatores externos influenciam as escolhas alimentares. Report of a Joint WHO/FAO Expert Consultation. WHO Technical Report Series. Diet, Nutrition and the Prevention of Chronic Diseases. Geneva 2003. Pg. 30. “The diets people eat, in all their cultural variety, define to a large extent people’s health, growth and development. Risk behaviors, such as tobacco use and physical inactivity, modify the result for better or worse. All this takes place in a social, cultural, political and economic environment that can aggravate the health of populations unless active measures are taken to make the environment a health-promoting one”. - O artigo “A life course approach to diet, nutrition and the prevention of chronic diseases” aborda os principais fatores que interferem na gênese de doenças crônicas ao longo da vida. Neste contexto há menção de dietas não saudáveis. A life course approach to diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. I Darnton-Hill, C Nishida and WPT James. Public Health Nutrition: 7(1A), 101–121 (2004). “From all the above, it is clear that, although there is a vast volume of scientific evidence addressing a life course approach to chronic disease prevention and control, the final picture is still not complete, and even sometimes contradictory. However, from the available evidence, it is possible to state the following: ”unhealthy diets, physical inactivity and smoking are confirmed risk behaviors; the biological risk factors of hypertension, obesity and dyslipidemia are firmly established as risk factors for CHD, stroke and diabetes; globally, risk factor trends are rising, especially obesity, and in the developing countries particularly, smoking; the major biological risk factors emerge and act in early life, and continue to have a negative impact throughout the life course; they can continue to effect the health of the next generation; an adequate and appropriate postnatal nutritional environment is important; and, interventions are effective but must extend beyond individual risk factors and continue throughout the Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA life course”. The most significant risk factors in terms of the life course are diet, physical activity and smoking. However, the effects of global transition and changing environments are critical and also need to be addressed.” - O Guia Alimentar Americano recomenda que ha liberdade de escolha da alimentação diária desde que ela atenda as necessidades nutricionais dos indivíduos. http://www.health.gov/dietaryguidelines/dga2010/DietaryGuidelines2010.pdf Pag. 17 “Americans should move toward more healthful eating patterns. Overall, as long as foods and beverages consumed meet nutrient needs and calorie intake is appropriate, individuals can select an eating pattern that they enjoy and can maintain over time”. Ambientes que não favorecem padrões saudáveis de alimentação, de modo algum incomuns, implicam a necessidade de que a educação sobre alimentação não se restrinja a informar as pessoas sobre os atributos daqueles padrões. Igualmente importante é capacitar as pessoas, neste caso como cidadãos, a identificar os obstáculos que dificultam a prática de uma alimentação saudável, as ações capazes de remover esses obstáculos e os caminhos e as estratégias para concretizar essas ações. Este Guia foi elaborado com o objetivo de informar consumidores sobre opções saudáveis de alimentação e, sempre que essas opções não estiverem a seu alcance, capacitá-los para que, como cidadãos, atuem politicamente para tornar factíveis aquelas opções. Comentário ABIA: O objetivo do guia precisa contemplar aspectos mais globais sobre o conceito de vida saudável, discutindo elementos além do alimento, como acesso a prática de atividades físicas, lazer, educação, entre outros. Esta dupla perspectiva é estendida a profissionais de saúde, a pessoas que preparam refeições para coletividades e a todos aqueles que têm como responsabilidade a proteção e promoção da saúde e do bemestar da população. GUIAS ALIMENTARES SÃO BASEADOS EM MÚLTIPLAS EVIDÊNCIAS Recomendações feitas por guias alimentares se apoiam no conhecimento proveniente de várias fontes e gerado por diferentes disciplinas Como toda política pública, a formulação de guias alimentares deve estar baseada em evidências. Em face das várias dimensões da alimentação e da complexa relação entre essas Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA dimensões e a saúde e o bem-estar das pessoas, as evidências necessárias para apoiar guias alimentares têm origem em múltiplos tipos de estudo. Estudos experimentais e estudos clínicos em nutrição fornecem a base para se entender como diferentes componentes dos alimentos interagem com a fisiologia e o metabolismo humanos. Graças a esses estudos sabemos sobre as várias funções dos nutrientes na bioquímica humana. Mas, neste terreno e em outros, há ainda muito por saber. Por exemplo, não conhecemos ainda os efeitos sobre a saúde de todos os constituintes dos alimentos que possuem atividade biológica no organismo, em particular de compostos bioativos que possuem propriedades antioxidantes e antiinflamatórias (esses compostos são encontrados em pequenas quantidades em frutas, legumes, verduras, grãos, castanhas e nozes). Também é ainda incompleto o conhecimento acerca dos efeitos dos inúmeros aditivos alimentares utilizados na formulação de produtos prontos para consumo. Comentário ABIA: Não há em que se falar dos efeitos dos aditivos alimentares, devido a sua comprovação de uso, conforme vastamente demonstrado abaixo: Na legislação brasileira, sob a Portaria 540/1997, temos: 2 Princípios fundamentais referentes ao emprego de aditivos alimentares: 2.1 A segurança dos aditivos é primordial. Isto supõe que antes de ser autorizado o uso de um aditivo em alimentos este deve ser submetido a uma adequada avaliação toxicológica, em que se deve levar em conta, entre outros aspectos, qualquer efeito acumulativo, sinérgico e de proteção, decorrente do seu uso. Os aditivos alimentares devem ser mantidos em observação e reavaliados quando necessário, caso se modifiquem as condições de uso. As autoridades competentes devem ser informadas sobre dados científicos atualizados do assunto em questão. 2.2 Restrição de uso dos aditivos: o uso dos aditivos dever ser limitado a alimentos específicos, em condições específicas e ao menor nível para alcançar o efeito desejado. 2.3 A necessidade tecnológica do uso de um aditivo deve ser justificada sempre que proporcionar vantagens de ordem tecnológica e não quando estas possam ser alcançadas por operações de fabricação mais adequadas ou por maiores precauções de ordem higiênica ou operacional. 2.4 O emprego de aditivos justifica-se por razões tecnológicas, sanitárias, nutricionais ou sensoriais, sempre que: 2.4.1 Sejam utilizados aditivos autorizados em concentrações tais que sua ingestão diária não supere os valores de ingestão diária aceitável (IDA) recomendados. 2.4.2 Atenda às exigências de pureza estabelecida pela FAO-OMS, ou pelo Food Chemical Codex. Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA 2.5 É proibido o uso de aditivos em alimentos quando: 2.5.1 houver evidências ou suspeita de que o mesmo não é seguro para consumo pelo homem; 2.5.2 interferir sensível e desfavoravelmente no valor nutritivo do alimento; 2.5.3 servir para encobrir falhas no processamento e/ou nas técnicas de manipulação; 2.5.4 encobrir alteração ou adulteração da matéria prima ou do produto já elaborado; 2.5.5 induzir o consumidor a erro, engano ou confusão; Ainda, segundo CODEX STAN 192-1995 – Princípios gerais para aditivos alimentares, afirma que o uso dos aditivos alimentares precisa atender: - Os aditivos alimentares serão aprovados por evidência atualmente disponível a partir do JECFA quando não apresentarem qualquer risco para a saúde dos consumidores nos níveis de uso proposto. - A inclusão de um aditivo alimentar deve ter levado em conta a ingestão diária aceitável ou avaliação de segurança equivalente estabelecida para o aditivo pelo JECFA (Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives) e sua provável ingestão para todos os alimentos propostos. - A utilização de aditivos alimentares só se justifica quando tal utilização tem uma vantagem, não apresenta risco à saúde dos consumidores, não engana o consumidor, e atende uma ou mais das funções tecnológicas estabelecidas pelo Codex. - Os aditivos alimentares precisam ser utilizados sob as boas práticas de fabricação. O JECFA é o comitê científico internacional de especialistas em aditivos alimentares administrado pela FAO e pela OMS. O JECFA se reúne desde 1956 e realiza a avaliação do risco associado ao consumo de aditivos alimentares, contaminantes, toxinas de ocorrência natural e resíduos de medicamentos veterinários em alimentos, assessorando o Codex Alimentarius em suas decisões. Com base em estudos toxicológicos, o JECFA estabelece, quando possível, a Ingestão Diária Aceitável (IDA) dos aditivos. A IDA é quantidade estimada do aditivo alimentar, expressa em miligrama por quilo de peso corpóreo (mg/kg p.c.), que pode ser ingerida diariamente, durante toda a vida, sem oferecer risco apreciável à saúde, à luz dos conhecimentos científicos disponíveis na época da avaliação. A IDA pode ser: IDA não especificada ou não limitada - Atribuída a um aditivo quando o estabelecimento de um valor numérico para a IDA é considerado desnecessário face às informações disponíveis sobre o mesmo e ao seu emprego de acordo com as Boas Práticas de Fabricação, ou seja, a substância não representa risco à saúde nas quantidades necessárias para obter o efeito tecnológico desejado. Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA IDA não alocada - Atribuída a um aditivo quando os dados toxicológicos disponíveis não são suficientes para se estabelecer a segurança de uso do mesmo. IDA temporária - Atribuída a um aditivo quando os dados são suficientes apenas para concluir que o uso da substância é seguro por um período limitado de tempo, até que os estudos toxicológicos sejam concluídos e avaliados. Caso as informações adicionais solicitadas não sejam apresentadas no prazo estipulado a IDA temporária é retirada. IDA aceitável - Atribuída a um aditivo quando: seu uso é aceitável para certos propósitos, seu emprego não representa preocupação toxicológica ou quando a ingestão é auto limitante por razões tecnológicas ou organolépticas. Nesses casos, o aditivo em questão deve ser somente autorizado de acordo com as condições especificadas. Questionar a segurança dos aditivos alimentares regulamentados e usados atualmente no Brasil é questionar a atuação da agência sanitária reguladora no Brasil, assim como trazer para a população uma informação não baseada na ciência atual. Isso seria trazer dúvida para aquilo que a luz da ciência atual é seguro. Por fim, vale destacar a publicação pela ANVISA do “GUIA DE PROCEDIMENTOS PARA PEDIDOS DE INCLUSÃO E EXTENSÃO DE USO DE ADITIVOS ALIMENTARES E COADJUVANTES DE TECNOLOGIA DE FABRICAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA”, vinculado a documento atual do Codex/ JECFA. Assim, é natural, e necessário, que guias alimentares sejam revistos periodicamente à luz do conhecimento mais recente. Estudos populacionais em alimentação e nutrição são essenciais para determinar a relevância prática de conhecimentos obtidos por estudos experimentais e clínicos e, às vezes, para gerar hipóteses que serão investigadas por aqueles estudos. Além disso, combinados a estudos antropológicos, estudos populacionais provêm preciosas informações sobre padrões vigentes de alimentação, sua distribuição social e tendência de evolução. Essas informações são essenciais para assegurar recomendações sobre alimentação que sejam consistentes, apropriadas e factíveis. O estudo de padrões tradicionais de alimentação transmitidos ao longo de gerações é outra fonte valiosa de conhecimento na medida em que esses padrões refletem resultados de experimentos naturais e a seleção dos alimentos que melhor se adaptaram às necessidades humanas. Sociedades que floresceram por longos períodos herdaram, desenvolveram e acumularam conhecimentos empíricos sobre condições do clima e do solo e sobre as variedades de plantas e animais que melhor se adaptavam àquelas condições. Esses conhecimentos permitiram criar combinações de alimentos produzidos de maneira sustentável e agradáveis ao paladar humano. Não por coincidência, estudos experimentais, Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA clínicos e populacionais vêm mostrando que essas combinações de alimentos são também nutricionalmente equilibradas. Guias alimentares precisam fazer sentido também em termos de evolução da espécie humana. Embora o organismo humano tenha a capacidade de se adaptar a vários ambientes e a vários padrões de alimentação, é provável que haja limites além dos quais a biologia humana não consiga se adaptar. A probabilidade de ultrapassagem de limites é certamente maior quando predominam na oferta alimentar produtos cuja composição e natureza são profundamente diferentes dos alimentos aos quais os seres humanos se adaptaram no passado. Comentário ABIA: De maneira geral, o raciocínio pode estar correto pensando em algumas situações clínicas. No entanto, alimentos da cultura e naturais também podem ser nocivos em determinadas situações patológicas, não podendo ser generalizada as diversas situações/possibilidades. Ainda, deve ser considerado que este parágrafo comenta uma hipótese que parece estar baseada em um ponto de vista particular. Seria importante citar a fundamentação científica em que está embasada. O texto desvaloriza as criações e inovações tecnológicas trazidas aos alimentos pelas indústrias, conforme a evolução da sociedade. Recomendações sobre alimentação dependem, portanto de uma combinação de vários tipos de conhecimentos obtidos de diversas fontes por diferentes disciplinas. Este Guia baseia suas recomendações em múltiplas evidências, incluindo conhecimentos de natureza universal e conhecimentos aplicáveis especificamente ao contexto do Brasil e da população brasileira. Comentário ABIA: Entendemos que o Guia Alimentar pode usar como base o conhecimento universal, mas necessariamente precisa ser fundamentado na ciência atual. GUIAS ALIMENTARES PROMOVEM SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Recomendações feitas por guias alimentares devem ser consistentes com e contribuir para a garantia do direito humano à alimentação Como todos os instrumentos de políticas públicas, guias alimentares devem contribuir para a construção de sociedades igualitárias e justas, nas quais todas as pessoas tenham oportunidades para concretizar o seu potencial de desenvolvimento como indivíduos, como membros de famílias e comunidades e como cidadãos. Explicitar o compromisso deste Guia com a garantia do direito humano à alimentação é especialmente importante no Brasil. Embora em declínio, a extrema pobreza e todas as suas Legenda: Azul – Comentários/Sugestões ABIA consequências, incluindo a insegurança alimentar e a desnutrição, persistem em nosso país como legado do período colonial, de uma longa era de escravidão e de uma sucessão de governos que negligenciaram os interesses da maioria da população. Em sintonia com a Política Nacional de Alimentação e Nutrição e com o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para Políticas Públicas, este Guia advoga e é consistente com políticas e ações que propiciem o suprimento seguro e sustentável de alimentos em quantidade e qualidade adequadas para todos. OS SEIS PRINCÍPIOS QUE ORIENTAR AM A ELABORAÇÃO DESTE GUIA Saúde é mais do que a ausência de doenças Saúde diz respeito ao pleno bem-estar físico, mental e social Alimentação é mais do que a ingestão de nutrientes A alimentação envolve nutrientes, alimentos, combinações de alimentos e as dimensões sociais e culturais do ato de comer (e todos esses aspectos influenciam a saúde e o bem-estar Alimentação saudável deriva de sistema alimentar sustentável Padrões saudáveis de alimentação são possíveis apenas em sistemas alimentares que protegem e respeitam o ambiente natural de onde os alimentos são obtidos A informação esclarece consumidores e empodera cidadãos A informação é essencial para que consumidores façam melhores escolhas e para que cidadãos atuem politicamente para conformar ambientes promotores da alimentação saudável Guias alimentares são baseados em múltiplas evidências Recomendações feitas por guias alimentares se apoiam no conhecimento proveniente de várias fontes e gerado por diferentes disciplinas Guias alimentares promovem segurança alimentar e nutricional Recomendações feitas por guias alimentares devem ser consistentes com e contribuir para a garantia do direito humano à alimentação