MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA COORDENAÇÃO GERAL DE SANGUE E HEMODERIVADOS SAF Sul, Trecho 2– Edifício Premium Torre II - Sala 202 Telefone: (61) 3315-6149 [email protected] Orientações sobre o uso de concentrado de fibrinogênio para o tratamento das deficiências hereditárias de fibrinogênio (afibrinogenemia e hipofibrinogenemia) Brasília, 28 de outubro de 2011. 1. Afibrinogenemia e hipofibrinogenemia A deficiência hereditária de fibrinogênio é uma doença rara, com prevalência estimada de 1 caso para cada 1 milhão de pessoas. A doença é herdada como caráter autossômico recessivo, resultante de mutações em qualquer um dos três genes que codificam as 3 cadeias polipeptídicas do fibrinogênio, que estão localizados no braço longo do cromossomo 4. A doença é mais comumente encontrada em populações com alto índice de uniões consangüíneas. O fibrinogênio, também conhecido como fator I da coagulação, é fundamental na formação do coágulo, sendo convertido em fibrina mediante a presença de trombina. Ainda, o fibrinogênio é importante na hemostasia primária, atuando na agregação plaquetária através da ligação da glicoproteína IIb/IIIa na superfície das plaquetas ativadas. 2. Diagnóstico clínico A afibrinogenemia é frequentemente diagnosticada no período neonatal devido ao sangramento de cordão umbilical, presente em 85% dos casos. Esta é uma manifestação típica da doença, que pode levar a morte por hemorragia grave. Podem também ocorrer sangramentos mucosos, particularmente menorragia, epistaxe e sangramento de cavidade oral. Sangramento músculo-esquelético (inclusive hemartrose) é observado em aproximadamente metade dos pacientes. Sangramento após trauma e procedimentos cirúrgicos também são comuns. Sangramento dos tratos gastrointestinal e urinário é menos freqüente (5%) e sangramento intracraniano é raro. A manifestação clínica da doença é variável. Indivíduos que carreiam a mesma mutação podem apresentar desde poucos a vários episódios de sangramento ao ano. Aborto espontâneo é comum entre a 6ª e 7ª semanas de gestação, o que sugere a importância do fibrinogênio para implantação do embrião. Ainda, são descritos cicatrização deficiente e deiscência de sutura no pós-operatório. Paradoxalmente, eventos trombóticos arteriais e venosos podem ocorrer na afibrinogenemia. A hipofibrinogenemia é uma doença hemorrágica de curso clínico mais benigno, com menor ocorrência de eventos hemorrágicos, sendo raramente espontâneos. É mais comumente diagnosticada após estresse traumático ou cirúrgico (80% dos casos). O principal sintoma hemorrágico é a menorragia, seguido por hematoma muscular e sangramento gastrointestinal. Sangramento de SNC, intraperitonial, aborto e trombose são raros. 3. Diagnóstico laboratorial A afibrinogenemia (paciente homozigoto ou heterozigoto composto) é caracterizada por ausência completa ou muito reduzida de fibrinogênio tanto por ensaio antigênico quanto funcional (Clauss) (menor que 0.1 g/L). Todos os testes de coagulação que dependem de fibrina como produto final encontram-se infinitamente prolongados, tais como: tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA), tempo de trombina (TT) e tempo de reptilase (TR), além do fibrinogênio funcional indetectável. A adesão plaquetária e agregação induzida pelo ADP encontram-se reduzidas, enquanto a agregação com trombina e colágeno é normal. A hipofibrinogenemia (paciente heterozigoto) é caracterizada pela redução dos níveis de fibrinogênio tanto por ensaio antigênico quanto funcional (Clauss) (em geral entre 0.5 g/L a valores abaixo do limite normal). A maioria dos testes que tem como base a formação de fibrina está prolongado sendo o TT o mais sensível (frequentemente prolongado quando atividade de fibrinogênio é menor que 1 g/L). O diagnóstico diferencial deve incluir hipofibrinogenemia adquirida, tais como: coagulopatia de consumo, insuficiência hepática uso de L-asparaginase, dentre outros. Neste caso, o estudo familiar é de grande auxilio. 4. Tratamento com concentrado de fibrinogênio Sangramento agudo: a infusão de concentrado de fibrinogênio (CF) deve ser administrada em dias alternados (mais frequentemente) ou diariamente na dependência da gravidade do sangramento, resposta e monitoramento da atividade do fibrinogênio e seu consumo. Uma vez que a vida-média do fibrinogênio é de aproximadamente 4 dias, a administração em dias alternados é a mais utilizada, sendo, em geral, suficiente na ausência de consumo. Em caso de sangramento espontâneo, o nível de fibrinogênio deve ser mantido acima de 1 g/L até hemostasia completa e acima de 0.5 g/L até cicatrização completa. Cirurgia: previamente a cirurgia, o fibrinogênio deve ser elevado a 1 g/L e mantido neste nível até hemostasia completa e acima de 0.5 g/L até cicatrização completa. Profilaxia secundária: pode ser considerada após sangramento recorrente grave com risco de vida (em geral, sangramento intracraniano) para atingir níveis de fibrinogênio de pelo menos 0.5 g/L. A periodicidade é de 1 infusão a cada 2 semanas. Profilaxia primária: não é recomendada. Gravidez: a reposição com CF deve ser administrada precocemente na gravidez, preferencialmente a partir da 5a semana de gestação, devendo ser mantida durante toda a gestação para manter níveis de fibrinogênio acima de 1.0 g/L. Durante o parto, os níveis de fibrinogênio podem ser elevados acima de 2.0 g/L. O parto pode ser por via vaginal ou cesariana. Atenção: Eventos trombóticos são relatados durante a terapia de reposição na gravidez. 5. Concentrado de fibrinogênio 5.1. Introdução Haemocomplettan® P é comercializado como fibrinogênio (fator I) liofilizado derivado do plasma e inativado pelo calor (+60ºC por 20 horas em solução aquosa). Cada frasco contém de 900 a 1300mg de fibrinogênio. Todo plasma utilizado na fabricação do Haemocomplettan® P é testado para HbSAg, e anticorpos para HCV e HIV-1/2. Adicionalmente, o plasma é submetido ao NAT (Nucleic Acid Testing) para HCV, HAV, parvovírus B19 e HIV-1, cujos resultados devem ser necessariamente não reativos. O CF passa a ser ofertado pelo Programa Nacional de Coagulopatias Hereditárias do Ministério da Saúde a todos os centros de tratamento de coagulopatias que tenham pacientes cadastrados no sistema HEMOVIDAWEB Coagulopatias com deficiência de fibrinogênio (afibrinogenemia e hipofibrinogenemia). 5.2. Dose O Haemocomplettan® P é de uso intravenoso, sendo necessário diluir antes de usar. Uso somente sob prescrição e supervisão médica. A dose, duração e frequência devem ser individualizadas e de acordo com a gravidade do sangramento, valores laboratoriais e condições clínicas do paciente. Quando o nível basal de fibrinogênio é conhecido, usa-se a seguinte formula para o cálculo da dose. Esta leva em conta o nível alvo de fibrinogênio que se deseja atingir, o nível plasmático de fibrinogênio mensurado e peso corporal do paciente. Assim: Dose (mg/kg de peso) = [nível que se deseja atingir (mg/dL) – nível dosado (mg/dL)] 1.7 (mg/dL por mg/kg de peso) Quando o nível basal de fibrinogênio é desconhecido, a dose recomendada é de 70mg por kg de peso, endovenoso. Recomenda-se monitorar o nível de fibrinogênio durante o tratamento com Haemocomplettan® P. 5.3. Modo de administração Cada embalagem do produto consiste de uma caixa de papelão contendo um frasco Haemocomplettan® P para uso único. A reconstituição deve ser realizada à temperatura ambiente e em condições assépticas. Reconstitua conforme apresentado a seguir: 1. Remover a tampa do frasco a fim de expor a porção central da rolha de borracha. 2. Limpar a superfície da rolha de borracha com uma solução antisséptica e deixar secar. 3. Usando um equipamento apropriado para transferência ou uma seringa, transferir 50 ml de solução para injeção (50 ml para 1 g). 4. Agitar suavemente o frasco do produto para assegurar que o produto seja totalmente dissolvido sem formação de espuma. Não agitar o frasco. Após a reconstituição, a solução deve ser quase incolor e clara ou levemente opalescente. Antes da administração, inspecionar visualmente em busca de partículas de material e descoloração. Recomenda-se que Haemocomplettan® P seja administrado à temperatura ambiente por injeção endovenosa lenta, numa velocidade que não exceda 5 ml por minuto (aproximadamente 100 mg/minuto). Após a reconstituição do produto, utilizar em até 24 horas o produto reconstituído. Meiavida em torno de 3 a 4 dias. 5.4. Armazenamento Quando armazenado apropriadamente a temperatura de 2-25°C Haemocomplettan® P é estável pelo período indicado na data de validade marcada no produto (até 30 meses). O produto deve ser mantido em sua caixa original até o momento do uso. Não deve ser congelado e deve ser protegido da luz. 5.5. Reações adversas Em geral, Haemocomplettan® P é tolerado sem reações adversas. Em casos raros são observadas reações alérgicas/anafiláticas (do tipo urticária generalizada, rash, queda da pressão arterial, dispnéia) e/ou elevação da temperatura. Se ocorrerem reações alérgicas/anafiláticas, a administração de Haemocomplettan® P deve ser interrompida imediatamente e o tratamento apropriado deve ser iniciado. O tratamento padrão para choque deve ser seguido. Há um risco potencial de episódios tromboembólicos, incluindo infarto do miocárdio e embolia pulmonar, após a administração de CF plasmático humano. No caso de pacientes com história de tendência para alergias (com sintomas do tipo urticária generalizada, erupção cutânea, queda da pressão arterial, dispnéia), anti-histamínicos e corticosteróides podem ser administrados profilaticamente. Os pacientes que recebem Haemocomplettan® P devem ser observados de perto para sinais e sintomas de trombose ou coagulação intravascular disseminada. Devido ao risco potencial de complicações tromboembólicas ou coagulação intravascular disseminada, recomenda-se cautela quando Haemocomplettan® P é administrado em pacientes com história de doença coronariana ou de infarto do miocárdio, com doença hepática, no período pós-operatório, a neonatos ou a pacientes sob risco de apresentar tromboembolia. Em cada uma dessas situações, o potencial benefício do tratamento com Haemocomplettan® P deve ser pesado contra o risco dessas complicações. A segurança de Haemocomplettan® P para uso em gestantes ou mulheres amamentando não foi estabelecida em estudos clínicos controlados. Estudos experimentais em animais são insuficientes para avaliar a segurança em relação a reprodução, desenvolvimento do embrião ou feto, curso da gestação e desenvolvimento peri-natal e pós-natal. Entretanto, Haemocomplettan® P é usado, freqüentemente, no tratamento de complicações obstétricas. Não há experiência negativa com relação ao tratamento durante a gravidez e a amamentação. No entanto, Haemocomplettan® P só deve ser usado durante a gravidez e a amamentação após avaliação cuidadosa. 5.6. Outras observações Interações Medicamentosas: Até o momento, não são conhecidas interações entre o concentrado de fibrinogênio humano e outros medicamentos. Superdosagem: A superdosagem aumenta o risco de complicações decorrentes da tromboembolia no caso de pacientes em risco.