influências filosóficas de jonh dewey e sócrates no programa de

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INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS DE JONH DEWEY E SÓCRATES NO PROGRAMA
DE FILOSOFIA PARA CRIANÇAS DE MATTHEW LIPMAN
Jaeliton Francisco da Silva
[email protected]
RESUMO
Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma pesquisa bibliográfica para refletir sobre as
influências filosóficas de Sócrates e Jonh Dewey no “Programa de Filosofia para Crianças” do
professor norte americano Mathew Lipman. Para isso, é feito uma revisão bibliográfica de alguns
autores que pesquisam sobre o programa de Lipman e como este professor propôs o uso do diálogo
socrático e dos ensinamentos por meio da refutação e da maiêutica para desenvolver o pensamento
crítico das crianças. Além disso, são apresentados os conceitos de Dewey sobre educação,
democracia e a importância de fazer uso das experiências dos estudantes em sala de aula, que
também foram utilizados pelo professor norte-americano em seu programa.
PALAVRAS-CHAVE: Influências filosóficas. Filosofia para crianças. Jonh Dewey e Sócrates.
1 INTRODUÇÃO
Filosofia para Crianças foi um programa criado nos anos 60 pelo professor
norte americano Matthew Lipman, com o objetivo de despertar o pensamento crítico
nos infantes a partir do ensino de filosofia com crianças.
Esse programa surgiu a partir das preocupações de Lipman com o ensino de
Lógica e de Filosofia que eram ministrados nas universidades. Como professor
dessas disciplinas, ao fazer uma autoavaliação sobre o seu ensino, percebeu que os
estudantes ao chegarem à universidade apresentavam algumas dificuldades de
raciocínio e por isso não conseguiam ter bons rendimentos nas aulas.
A partir disso, ele constatou que era necessário ensinar lógica e filosofia
desde as primeiras séries escolares, para que os estudantes ao longo de suas vidas
escolares pudessem desenvolver pensamentos mais racionais.
O programa de Lipman tem por base desenvolver o que ele denomina de
“pensamento de ordem superior” a partir de leituras das “novelas filosóficas” em uma
“comunidade de investigação” formada na sala de aula.
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Portanto, é partindo desses pressupostos que o presente trabalho objetiva-se
em apresentar uma discussão teórica sobre as influências filosóficas de Sócrates e
Dewey presentes no programa de Lipman, a saber, o diálogo socrático e seus
ensinamentos por meio da refutação e da maiêutica; e dos conceitos sobre
democracia, educação e experiência do filósofo pragmatista John Dewey
Sendo assim, este artigo se caracteriza como uma revisão bibliográfica de
alguns autores que pesquisam sobre o programa de Lipman, bem como de uma
análise das ideias de Dewey e Sócrates utilizadas por Lipman em seu programa.
2 INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS NO PENSAMENTO DE MATTHEW LIPMAN
Na construção do Programa de Filosofia Para Crianças, Lipman sofreu
influência
de
diversos
filósofos.
No
entanto,
destacaremos
aqueles
que
consideramos mais importantes, a saber: o pragmatista John Dewey e o filósofo
grego Sócrates. Os pensamentos desses filósofos estão presentes na proposta de
ensino de filosofia com crianças, principalmente no “coração” do programa, que é a
“comunidade de investigação”.
2.1 INFLUÊNCIA DE JOHN DEWEY NO PROGRAMA DE FILOSOFIA PARA
CRIANÇAS DE MATTHEW LIPMAN
O primeiro contato que Lipman teve com a leitura de John Dewey foi no
período da Segunda Guerra Mundial, quando leu pela primeira vez o livro
“Inteligência no mundo moderno”. Apesar de Lipman não ter tido muito contato
“visual” com Dewey, foi deste filósofo que o criador do programa de Filosofia para
crianças teve a maior e mais significativa influência (KOHAN, 2000, p. 113).
Vejamos, a seguir, nas palavras de Kohan, como Dewey influenciou
significativamente o projeto de Lipman em levar a filosofia para os estudantes a
partir da mais “tenra idade” até o ensino médio.
[...] Embora Lipman não tenha tido um intenso contato direto com Dewey, a
marca deste é notável, tanto nos seus interesses temáticos quanto em
pontos cruciais do seu pensamento. [...] é importante ressaltar que a
comunidade de questionamento e investigação, como prática educativa,
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filosófica e social, nada mais é que uma ressonância criativa do modo como
Lipman “leu” algumas das propostas de Dewey sobre democracia e
educação [...] (KOHAN, 2000, p. 113).
Para entender a influência de Dewey no pensamento de Lipman, faz-se
necessário fazermos um breve histórico sobre esse filósofo que influenciou
consideravelmente o Programa de Filosofia para Criança (PFC), bem como uma
breve análise de sua filosofia, destacando os principais pontos que influenciaram
Lipman.
O filósofo pragmatista norte-americano John Dewey nasceu em 20 de outubro
de 1859, em Burlington, cidade do estado de Vermont, nos Estados Unidos. Sua
família pertencia a uma comunidade religiosa congregacionista, que “defendiam a
autonomia para os membros de suas igrejas”. Nessa comunidade religiosa, os fiéis
eram tratados como iguais, sem qualquer “ordem hierárquica” e os membros
superiores eram escolhidos por meio de votação (SOUZA e MARTINELI, 2009, p.
161).
Sendo assim, havia nessa comunidade religiosa um “espírito de igualdade”
perante seus membros que Souza e Martineli (2009, p. 161) interpretam “como uma
forma de democracia religiosa”. Foram esses princípios pregados pela religião
congregacionista que influenciaram significativamente o pensamento político e o
conceito de democracia de Dewey, ou seja, foi através da religião que Dewey obteve
seu primeiro contato com a “experiência democrática”.
Sua experiência com a educação começou desde sua juventude, tendo como
primeira formação o título de bacharel em Artes, pela Universidade de Vermont,
onde teve seu primeiro contato com a filosofia. Como bacharel em artes, Dewey
começou a lecionar essa disciplina nas escolas próximas da região. Mais tarde, por
influência de seu orientador e professor H. Torrey, aos poucos foi deixando o ensino
de artes e passou a se dedicar aos estudos da Filosofia (SOUZA e MARTINELI,
2009).
Em 1882, Dewey entrou para a Universidade Johns Hopkins, em Baltimore,
onde, em 1884, concluiu seu doutorado em filosofia, com uma tese sobre a
psicologia de Kant.
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Depois desse pequeno histórico sobre a vida de Dewey, vamos analisar seu
pensamento filosófico em relação às suas concepções de democracia, experiência e
educação, concepções estas que muito influenciaram Lipman ao desenvolver o seu
programa de filosofia com crianças. Ao passo em que vamos apresentando a
filosofia de Dewey, relacionaremos o pensamento deste filósofo com a influência
sofrida por Lipman.
Quanto à experiência, Dewey a considera importante por ela ser essencial
para o desenvolvimento do conhecimento, ou seja, ela é “parte imprescindível ao
processo educativo” (MOURA; MEIRE, 2012, p. 638). É por meio dela que podemos
alcançar o conhecimento de alguma coisa.
Em Dewey, a educação e a experiência andam juntas, uma é parte da outra.
É por meio da experiência que a nossa educação é formada, pois adquirimos o
conhecimento à medida que vamos experienciando os fatos nas nossas vidas.
Assim, a educação é para Dewey “[...] o processo de reconstrução e reorganização
da experiência, pelo qual lhe percebemos mais agudamente o sentido, e com isso
nos habilitamos a melhor dirigir o curso de nossas experiências futuras” (TEIXEIRA,
1980, p. 116). Sendo assim, para Dewey, a educação consiste em reconstruir as
experiências vividas pelos estudantes.
Sua proposta de educação consistia em transformar a educação tida como
“escola clássica”, ou seja, a educação tradicional, por uma nova educação capaz de
acompanhar as mudanças sociais, políticas e econômicas enfrentados pelos
Estados Unidos naquela época. Assim como Dewey defendia essas ideias nos EUA,
Anízio Teixeira, por sua vez, defendeu a escola nova aqui no Brasil. Mais tarde,
Lipman, influenciado pelo filósofo norte-americano, também passou a defender uma
reformulação na educação dos EUA.
Nessa proposta nova de educação, Dewey destaca a importância de se
motivar o pensamento reflexivo dos estudantes. No livro Como pensamos, de 1959,
ele defende que a escola deve incentivar os estudantes a desenvolverem bons
pensamentos,
salientando
que
temos
que
“aprender
como
pensar
bem,
especialmente como adquirir o hábito geral de refletir” [grifo do autor], (DEWEY,
1959, p. 43).
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Lipman, em seu programa de filosofia com crianças, também defende a
importância de desenvolver nas crianças um pensamento reflexivo, que é
considerado por ele como um “pensamento de ordem superior”.
Lipman, assim como Dewey, defende que a criança pode pensar por si só,
cabendo ao professor ser uma “guia, um diretor”. Nesse sentido, o filósofo também
afirma que o professor “pilota a embarcação, mas a energia propulsora deve partir
dos que aprendem”, ou seja, dos estudantes (DEWEY, 1959, p. 43).
Para Lipman, com a reforma na educação proposta por Dewey, a função do
professor passa por uma transformação:
[...] O professor não poderia mais ser entendido como um jardineiro que
pode cuidar e manter as flores em canteiros, ajudando-as a tornarem-se
aquilo a que já estavam geneticamente determinadas a ser desde o início.
Em vez disso, o professor tornou-se parte de uma intervenção adulta cuja
intenção era liberar o processo de pensamento no aluno, para que este
começasse a pensar por si próprio, em vez de papaguear o pensamento do
professor ou do livro texto (LIPMAN, 1990, p. 163-164).
Lipman utiliza essa nova função destinada ao professor em seu programa.
Dessa forma, o campo de atuação do professor é na comunidade de investigação,
na qual o mesmo irá levar os estudantes a refletirem sobre seus modos de pensar.
Ele propõe que o professor seja uma fonte de consulta e mediador entre os diálogos
dos estudantes. Tanto o professor como os estudantes, na comunidade de
investigação, são “co-investigadores”. Nesse sentido, cabe ao professor também
incentivar a troca de informações e conhecimentos entre os membros dessa
comunidade, ou seja, entre os estudantes e o professor.
Com essas ideias, o educador norte-americano rompe com a função de
professor na escola tradicional, na qual ele era visto como autoridade máxima na
sala de aula e tinha como única função transmitir conhecimento (SILVEIRA, 2001, p.
81-82).
Nas palavras de Lipman (1990, p. 117): “[...] Em uma comunidade de
investigação, professores e alunos encontram-se juntos como co-investigadores e o
professor tenta facilitar isso encorajando trocas de aluno-aluno, assim como de
professor-aluno”.
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Apesar de o professor assumir outra função no programa de filosofia com
crianças, isso não quer dizer que o professor perde o papel de “autoridade de
instrução”. O que Lipman defende é que ele perde o “papel de autoridade de
informação”, pois, segundo o educador americano, é papel do professor na
comunidade de investigação “estabelecer” as “condições” que levam os estudantes
a desenvolverem “uma investigação discursiva”, além de “mais produtiva” e “mais
autocorretiva” (LIPMAN, 1990, p. 117).
Como já foi mencionado anteriormente, o professor se torna um guia para
desenvolver a discussão no ambiente escolar; ele tem que está sempre atento,
observando as discussões para ver se algum estudante está tendo alguma “conduta
ilógica” sobre os temas trabalhados em aula. Caso isso ocorra, ele deve orientar
para que a discussão tome outra direção. Na hipótese de o professor necessitar
tomar essa posição, Lipman defende que “O professor não precisa conduzir com
estrito rigor”, ele pode consultar os estudantes para saber se suas observações são
relevantes ou não (LIPMAN, 1990, p. 117).
Depois dessa análise sobre a importância da experiência e da educação no
pensamento de Dewey e sua influência no pensamento de Lipman, abordaremos
outro aspecto fundamental da filosofia de Dewey – a importância da democracia.
De acordo com os estudos feitos por Kohan (2000), Dewey usa “dois
sentidos” para o termo democracia, sendo um “político” e um “social”. No que diz
respeito ao sentido político, temos a democracia como “uma forma de governo ou
um sistema de instituições políticas para regular a vida em comum”. Assim, para
Dewey, nesse sentido de democracia, os diferentes grupos sociais são tratados
como iguais, pois “o interesse está centrado no bem-estar da totalidade das pessoas
que a compõem”. Com isso, nesse tipo de democracia se faz necessário que os
interesses dos grupos sociais sejam ouvidos. Porém, para que isso ocorra, é
necessário que os cidadãos participem ativamente nas escolhas de seus
governantes (KOHAN, 2000, p. 114).
Quanto ao sentido social da democracia, Dewey a utiliza como um “modo de
vida”, seja na “vida pessoal” ou nas “experiências coletivas”, vividas nos diferentes
grupos sociais, como os grupos familiares, religiosos, na escola ou no trabalho
(KOHAN, 2000, p. 114).
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Nesses grupos sociais, é possível encontrar “dois critérios” que possibilitam
“determinar o caráter democrático do modo de vida” dos membros ali envolvidos. Um
faz relação com “o grau de ligação entre as ações e os interesses das diferentes
pessoas” que formam um determinado grupo social. O outro “critério” faz relação ao
“modo em que a livre interação entre seus membros possibilita a reacomodação e a
retificação e correção dos hábitos e práticas sociais”. Nesse último critério, podemos
perceber a importância do diálogo em comunidade para se autocorrigir, fato este que
está presente no programa de filosofia com crianças de Lipman, especificamente na
“comunidade de investigação”, na qual, com a ajuda dos colegas, as crianças podem
perceber as falhas no seu pensamento e com isso buscar o seu aperfeiçoamento
(KOHAN, 2000, p. 114).
Sendo assim, consideramos que a principal contribuição de Dewey para o
programa de filosofia com crianças consiste, principalmente, no uso da democracia
em uma comunidade de investigação, na qual, por meio do diálogo democrático, as
crianças aprendem a aceitar as opiniões do próximo, bem como superar todo tipo de
preconceito. Nas palavras de Lipman (1995, p. 369):
A comunidade de investigação é um processo altamente promissor através
do qual o pensar estereotipado pode ser substituído pelo pensar que é mais
justo para com as outras pessoas, que aceita mais as outras pessoas, sem
que sejam destruídas as auto-imagens positivas dos participantes. À
medida que o julgamento é aperfeiçoado e fortalecido, substituímos as
opiniões e tendências distorcidas por convicções e atitudes menos
preconceituosas em relação as quais éramos, até então, tão defensivos.
Como vimos no decorrer dos estudos sobre a democracia de Dewey, tanto
Lipman como o filósofo pragmatista, consideram “a democracia muito mais que um
sistema político”; para eles, ela é “um ideal de vida social ao qual todo grupo
humano deveria tender” (KOHAN, 2000, p. 128-129).
Portanto, após esses apontamentos sobre a filosofia de Dewey, percebe-se
que Lipman se interessou pelo pensamento pragmatista do referido filósofo
principalmente por ele ter tratado de maneira “geral e complexa sobre a educação
de sua época” (BROCANELLI, 2010, p. 17).
2.2 A INFLUÊNCIA DO DIÁLOGO SOCRÁTICO EM LIPMAN
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De Sócrates, Lipman herdou a importância do ensino por meio do diálogo.
Sabemos que essa era a principal forma que Sócrates usava para fazer com que as
pessoas refletissem sobre suas vidas. O diálogo socrático levava as pessoas a
descobrirem as verdades que estavam presentes em suas almas.
Segundo Brocanelli, o método de investigação socrática é formado pela
“refutação” e pela “maiêutica”. Assim, é por meio desses métodos que Sócrates usa
o “não saber” e a “ironia” para levar seus discípulos ou um ouvinte ao conhecimento,
possibilitando que eles tivessem um pensar de forma crítica e um refletir sobre o
próprio pensamento, ou seja, pensar sobre o pensar, pensar sobre o já pensado.
Portanto, o que liga o pensamento de Lipman com o de Sócrates são os métodos da
“refutação” e da “maiêutica”.
Era por meio da refutação que Sócrates levava seus interlocutores a
perceberem os erros presentes nos seus argumentos, levando-os a perceberem a
sua ignorância. Quando uma pessoa consegue perceber sua ignorância, por
consequência, purificam suas falsas certezas, deixando para trás um conhecimento
falso e encontrando um novo conhecimento, livre de toda incerteza (BROCANELLI,
2010, p. 40).
Sabemos que na filosofia de Sócrates as verdades já existem dentro de nós,
elas estão apenas escondidas, esperando o momento certo para que possamos dar
à luz essas verdades. Sócrates compara a pessoa que tem um conhecimento
verdadeiro presente em sua alma como uma mulher grávida prestes a dar à luz, que
necessita de um médico para ajudá-la a parir. Sendo assim, as pessoas já
contemplam um conhecimento verdadeiro no seu intelecto, necessitando de alguém,
neste caso, de um professor para colocar esse conhecimento para fora. Aqui se
encontra a importância do professor como orientador no programa de Lipman,
importância esta herdada de Sócrates.
Vejamos abaixo um trecho do diálogo Teeteto, no qual o próprio Sócrates, ao
dialogar com Teeteto e Protágoras, nos mostra como a arte de dar à luz, ou seja, da
maiêutica ocorre.
Sócrates – Por isso mesmo, tinhas carradas de razão, quando disseste que
o conhecimento não passa de sensação, o que vem a dar, precisamente,
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nisto de Homero e de Heráclito e de toda a tribo de seus acompanhantes:
Tudo se movimenta como um rio; ou, segundo a fórmula do sapientíssimo
Protágoras: O homem é a medida de todas as coisas, que é também a de
Teeteto, o qual concluiu disso que há perfeita identidade entre
conhecimento e sensação. Não é assim mesmo, Teeteto? Não estamos
autorizados a dizer que nisso tudo temos um feto dado por ti à luz agora
mesmo, com a ajuda dos meus conhecimentos de parteiro? Ou como te
parece?
Teeteto- Necessariamente, Sócrates, terá de ser como disseste. (PLATÃO.
Teeteto, 160 e).
Podemos, por meio de Brocanelli, identificar outro ponto fundamental da
filosofia socrática para o programa de Lipmam, o “conhece-te a ti mesmo”, fazendo
referência à importância de uma pessoa identificar o objetivo de sua vida.
Comparando o pensamento de Sócrates com a “comunidade de investigação”
de Lipman, podemos verificar que o diálogo entre os membros da comunidade leva
as crianças a aperfeiçoarem seus pensamentos. Nesse ambiente, os participantes
escutam e trocam ideias com outros, apesar de cada participante ter suas próprias
visões e posições. Eles discutem e reestruturam-nas dentro dos padrões de verdade
estabelecidos.
Para Lipman, o método de diálogo na comunidade de investigação não é
simplesmente uma imitação do diálogo de Sócrates, mas sim, um método capaz de
levar as crianças a pensarem por “métodos próprios e de acordo com a realidade, ou
seja,
criar
instrumentos
e
métodos
que
funcionem
na
educação
atual”
(BROCANELLI, 2010, p. 41).
Nesse sentido, Lipman, no seu livro Filosofia na sala de aula, aponta quatro
tipos de “lições” para os professores que querem “aprender com Sócrates” o seu
método de dar à luz os conhecimentos já existentes nas pessoas:

Todos os conceitos importantes devem ser operacionalizados, e essa
operacionalização deve ser adequadamente sequencial.

A investigação intelectual deve se iniciar com os interesses do
estudante.

Um dos melhores meios de estimular as pessoas a pensarem é
envolvê-las no diálogo.

O bom pensamento é lógico e fundado na experiência (e também,
segundo Platão, imaginativo). Os programas de habilidades de pensamento
devem, portanto, enfatizar tanto o raciocínio formal como o raciocínio crítico
(LIPMAN, 1997, p. 14).
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Para explicar e justificar que as crianças podem fazer filosofia, Lipman faz
uma diferença entre o que é “aplicar filosofia e fazer filosofia”. Para ele, Sócrates
não queria aplicar a filosofia e sim praticá-la. Sendo assim, a filosofia é vista como
“obra”, como forma de vida, a filosofia é então algo ao qual qualquer um de nós pode
dedicar-se (LIPMAN, 1990, p. 28). Nessa perspectiva, podemos inferir que qualquer
um, inclusive a criança, pode fazer ou praticar a filosofia, pois, segundo o criador do
programa, “fazer filosofia não é questão de idade, mas de refletir escrupulosa e
corajosamente sobre o que a gente considera importante” LIPMAN (apud KOHAN,
2000, p. 84).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi exposto percebe-se o quanto a filosofia socrática e de Jonh
Dewey foi importante para a construção do Programa Filosofia para Crianças de
Mattew Lipman.
Quando Lipman usou a filosofia de Jonh Dewey estava preocupado em
possibilitar um maior envolvimento dos estudantes transformando a sala de aula em
um ambiente democrático no qual todos os presentes debatiam e contribuíam com o
conhecimento do outro, principalmente fazendo uso da experiência como facilitadora
do conhecimento.
Portanto tanto Lipman como Dewey estavam preocupados com uma
educação que estivesse relacionada com a realidade dos estudantes. Isso se deu
por conta das mudanças atuais que estavam acontecendo com a sociedade dos
Estados Unidos em suas épocas.
Já as contribuições de Sócrates para o pensamento de Lipman permite uma
reflexão acerca de uma educação baseada nos princípios da investigação e do
diálogo para aprimorar o pensamento das crianças.
Nesse processo de
investigação, o professor é tido como mediador, que usa o método dialógico de
Sócrates para “promover e facilitar a busca das respostas, gerando condições para
que o outro aprenda a percorrer um caminho de perguntas e perguntar-se” (KOHAN,
2000, p. 101).
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Sendo assim, Lipman fez uso das ideias desses filósofos para mostrar o
quanto é importante ensinar filosofia desde as primeiras séries escolares, para com
isso contribuir com o desenvolvimento do pensamento críticos das crianças.
REFERÊNCIAS
BROCANELLI, Cláudio Roberto. MATTHEW LIPMAN: educação para o pensar
filosófico na infância. Petrópolis: Vozes, 2010.
DEWEY, John. Como Pensamos. São Paulo/SP: Nacional, 1959.
KOHAN, Walter Omar; WUENSCH, Ana Miriam. Filosofia para crianças: a tentativa
pioneira de MathewLipman. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
LIPMAN, Matthew. A Filosofia vai à escola. Trad. Maria Elice de B. Prestes e Lúcia
Maria S. Kremer. São Paulo: Summus, 1990.
______. O Pensar na Educação. Trad. Ann Mary Fighiera Perpétuo. Petrópolis:
Vozes, 1995.
______. SHARP, Ann Margaret; OSKANIAN, Frederich. A Filosofia na sala de
aula. Trad. Ana Luíza F. Falcone. 2. ed. São Paulo. Nova Alexandria, 1997.
MOURA, Matheus da Trindade; MEIRE, Francisco Diniz de Andrade. Bases da
Filosofia da Educação em John Dewey: Por Uma Educação DEMOCRÁTICA In:
Anais do 2º Congresso Brasileiro de Professores de Filosofia. Recife, PE:
FASA, 2012. p.631-642.
PLATÃO. Teeteto Crátilo. Tradução de Carlos Alberto Nunes. 3. ed. rev. Belém:
EDUFPA, 2001.
SILVEIRA, Renê José Trentin. A Filosofia Vai à Escola?: Contribuição para a
crítica do Programa de Filosofia para Crianças de Matthew Lipman. Campinas/SP:
Editora Autores Associados, 2001.
SOUZA, Rodrigo Augusto de; MARTINELE, Telma Adriana Pacífico. Considerações
Históricas Sobre A Influência De John Dewey No Pensamento Pedagógico
Brasileiro. In: Revista HISTEDBR On-line. Disponível em: <
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/35/art11_35.pdf> Acesso em: 04
abr. 2013
TEIXEIRA, Spínola. Anísio. Pedagogia de Dewey: esboço da teoria da educação de
Jonh Dewey. São Paulo: Abril Cultura, 1980. (Col. Os pensadores).
11
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