a analogia do ser como termo médio entre univocidade e

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Trabalho Submetido para Avaliação - 27/08/2012 10:58:20
A ANALOGIA DO SER COMO TERMO MÉDIO ENTRE UNIVOCIDADE E
EQUIVOCIDADE APLICADO À EDUCAÇÃO
GRÉGORI LOPES SIQUEIRA ([email protected]) / Filosofia/UNIFRA, Santa Maria - RS
ORIENTADOR: VALDEMAR ANTONIO MUNARO ([email protected]) / Filosofia/UNIFRA,
Santa Maria - RS
Palavras-Chave:
Analogia; Educação; Equivocidade; Univocidade.
Pretende-se investigar acerca da noção de analogia contida nos escritos de Santo Tomás de Aquino, como
termo médio entre univocidade e equivocidade ao formular sua teoria de conhecimento que se torna um
método possível de ser aplicado à educação. Na obra Suma Contra os Gentios (SCG), Aquino descreve que
o ser é a primeira evidência a ser conhecida e “Deus não é só primeiro ente, como também o princípio de
todas as coisas” (SCG, III, 1, 1). Neste sentido, a analogia tomista é compreendida dentro de uma visão
ontológica na qual sua filosofia está centrada. Segundo ele, todos os entes existem de maneira análoga, com
características, ora semelhantes, ora diferentes (Cf. RUBIN, 2001). A analogia tem a ver com uma visão
racional de caráter investigativo que relaciona os seres sensíveis-materiais com o Ser e acaba por se tornar
um método de conhecimento que não se limita à metafísica, mas é possível conhecer as diversas realidades
por meio duma visão análoga. A analogia unifica o ser, entre os extremos da univocidade e da equivocidade.
Por unívoco se compreende o termo que se refere a uma e mesma coisa, como no caso da palavra homem,
que se refere sempre ao mesmo ser, tendo um único significado, enquanto que equívoco é um termo
ambíguo que tem dois ou mais significados, como a palavra macaco, que pode se referir ao animal ou ao
objeto mecânico que eleva o carro para trocar os pneus. Já a analogia abarca estes dois extremos,
conciliando objetos distintos, tornando o termo em parte semelhante e em parte diferente. Exemplo disso
pode ser os nomes atribuídos a Deus (Deus é a rocha, Deus é a luz ou Deus é a força) que não são
unívocos, nem equívocos, mas análogos (Cf. AQUINO, 1988). A univocidade nos remete, na antiguidade, a
Parmênides que afirmava uma visão imobilista do ser, ao conceber que o cosmos é eterno, único e um todo.
Eterno porque não tem começo e nem fim, único porque é idêntico somente a ele mesmo e um todo porque
tudo existe nele. Por outro lado, a equivocidade nos remete a Heráclito que concebe o ser como devir, como
movimento. Heráclito entende que as coisas não são estáticas, mas estão em constante movimento, pois
tudo se move e se modifica, e mesmo se entrássemos uma segunda vez num rio, este não seria mais o
mesmo e o sujeito que se banha também já se modificou. Na verdade, o rio e todas as coisas existentes
consistem no devir que é o vir-a-ser, o tornar-se novo e o renovar-se, onde há a harmonia dos contrários.
Podemos constatar, neste momento, que a univocidade de Parmênides e a equivocidade de Heráclito estão
em extremos e se colocam em posições radicais. Assim, a teoria da analogia torna-se uma solução frente às
posições antagônicas para compreender melhor o que é o ser e como se dá o conhecimento dos seres. A
analogia tomista não é apenas semelhança, mas concilia semelhança e dessemelhança. Ainda se pode dizer
que a analogia inclui semelhança e ‘comparação’, pois ainda que haja uma diferença infinita entre Deus e a
criatura, esta lhe imita de modo finito as perfeições infinitas (Cf. GILSON, 1982). Pelo que se vê, a analogia
consegue ser um instrumento para se adentrar em diferentes campos de conhecimento como na educação,
pois todas as pessoas possuem algo semelhante e distinto ao mesmo tempo (o fato de existir e o fato de
existir sob a condição de individualidades diferentes). Pode-se aqui inferir algumas implicações da analogia
na educação, como visualização de diferenças e semelhanças entre os entes envolvidos no processo
educativo. O termo educação em Tomás de Aquino se refere a um eduzir o conhecimento em ato a partir da
potência. De outro modo, pode-se dizer que ensinar é uma condução da potência ao ato que só o próprio
aluno pode fazer, ou ainda, que ensinar é apresentar sinais para que o aluno possa por si mesmo fazer a
edução do ato de conhecimento (Cf. LAUAND in: AQUINO, 2000). Mas, podemos nos perguntar o quê este
ensinar tem a ver com a analogia? Ora, no ambiente de uma sala de aula é possível observarmos que os
alunos não aprendem de uma única e mesma forma, pois a capacidade de filosofar repete-se em proporções
distintas e, portanto, de forma analógica (Cf. RUBIN 2001). Da mesma forma não é conveniente conceber
numa sala de aula que para cada aluno o professor deverá utilizar um método, pois cairia na univocidade.
Assim, podemos inferir que numa sala de aula cada aluno aprende e se expressa de jeitos diferentes, pois
nenhum estudante é igual a outro, e esta relação entre professor e aluno ou entre alunos, deve ser vista a
partir de uma visão analógica, onde há semelhanças e dessemelhanças. Isto implica que os critérios de
avaliação não podem ser os mesmos e analisados sempre quantitativamente. E, finalmente, pela analogia,
Aquino consegue não apenas levar o homem a conhecer Deus, mas adentrar em diversas áreas de
conhecimento, como a educação, que deve ser vista de maneira análoga, em que professor e alunos devem
ter comunhão integrada entre suas semelhanças e dessemelhanças.
REFERÊNCIAS:
AQUINO, Santo Tomás de ; Compêndio de Teologia. In: Seleção de textos: Sto Tomás de Aquino, Dante
Alighieri. [Coleção os pensadores]; São Paulo; Nova Cultura; 1988.
AQUINO, Santo Tomás de; Sobre o ensino (De magistro) e Os sete pecados capitais; São Paulo; Martins
Fontes; 2000.
AQUINO, Santo Tomás de; Suma contra os gentios; Porto Alegre; Sulina; 1990.
GILSON, Etienne; BOEHNER, Philotheus; História da filosofia cristã; Petrópolis; Vozes; 1982.
RUBIN, Achylle Alexio; Minha pequena Filósofa. Minha pequena filosofia; Santa Maria; Pallotti; 2001.
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