A relação entre conceito, objeto e coisa em Tomás de Aquino

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A relação entre conceito, objeto e coisa em Tomás de Aquino
Antonio Janunzi Neto*
* Professor assistente de Filosofia da Universidade Estadual de Feira de Santana, doutorando em
Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em Filosofia pela mesma
Universidade.
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É de se notar que ao longo do século XX, dentro e fora da escola tomista, houve uma
multiplicidade de propostas hermenêuticas, principalmente sobre as teses gnosiológicas
do Aquinate, e, sobretudo, as que fazem referência à relação do conceito com a coisa
enquanto objeto conhecido. A principal causa aparente destas distintas atitudes
interpretativas pode ser entendida como uma tentativa resolutiva dos problemas idealistas
herdados da filosofia moderna – principalmente das proposições cartesianas sobre a
função da ideia. De acordo com o autor das Meditações metafísicas, a ideia é um
elemento nocional representativo da realidade, da coisa. E o sentido cartesiano de
representação é que só se pode ter conhecimento de uma coisa fora do sujeito mediante
a ideia que o próprio sujeito tem dela ou, em outros termos, que a função da
representação é “tornar presente à consciência uma coisa que está ali no lugar de outra
coisa.” Com isto, poderia se inferir parcialmente que tanto o sistema cartesiano quanto o
tomista são baseados na função representativa do conceito ou da ideia para a explicação
do conhecimento intelectivo da coisa. Pois, de acordo com o Aquinate, o conceito também
é uma similitude da coisa e similitude por representação. Com isso, haveria uma
concordância teórica entre os dois referidos sistemas gnosiológicos neste ponto?
Neste sentido, alguns autores propõem que mesmo que seja aparentemente estranha
para a perspectiva tomista uma conciliação parcial com a função da ideia no sistema
cartesiano, a noção de similitude como representação deve ser aplicada à interpretação
dos textos de Tomás e, em certo e específico sentido, ele pode ser dito como um
representacionalista.
Alguns tomistas responderam negativamente à questão da identificação da função do
conceito tomista com a função das ideias cartesiana – e, independentemente das motivações
teóricas, isto foi feito de modo enfático e exaustivo. Pode-se dizer que as principais razões
levantadas são: 1) o representacionalismo não tem fundamento textual necessário e suficiente e
2) o fato de que se o conceito for descrito pelos moldes da noção de representação, a intelecção
humana está fadada aos supostos problemas do idealismo moderno, ou seja, não parece ser
possível qualquer tido de representacionalismo em Tomás de Aquino, dada a preocupação tanto
com o ceticismo quanto com o idealismo. Historicamente, esta última razão parece ter sido o
motor propulsor de vários tomistas tradicionais, pois o realismo de Tomás somente se sustentaria
se se afirmasse o conhecimento intelectual da coisa sem qualquer mediação representativa
(Realismo Direto), dado que se fosse o contrário, o primeiro conhecido seria o conceito e não a
própria coisa enquanto objeto do pensamento.
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