Relação entre ocorrência de síndrome metabólica e alimentação

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A
Relação entre ocorrência de síndrome metabólica e alimentação inadequada em adultos: uma breve revisão de literatura
Artigo de Revisão
Relação entre ocorrência de síndrome metabólica
e alimentação inadequada em adultos: uma breve
revisão de literatura
Relationship between metabolic syndrome and inadequate nutrition in adults: a brief review of the
literature
Amanda Dantas Vitor1
Tatiana Souza Alvarez2
Unitermos:
Diabetes Mellitus. Nutrição. Dieta.
Keywords:
Metabolic syndrome. Nutrition. Diet.
Endereço para correspondência:
Amanda Dantas Vitor
Rua Francisco Jorge da Silva, 233 – São Paulo, SP,
Brasil – CEP: 08280-430
e-mail: [email protected]
Submissão:
26 de março de 2013
Aceito para publicação:
10 de julho de 2013
1.
2.
RESUMO
A síndrome metabólica pode ser descrita pela associação da obesidade, resistência à insulina
ou diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia. Os principais fatores de
risco para desenvolvimento dessa doença são dieta inadequada, ausência de atividade física
e comorbidades associadas. Esta revisão bibliográfica dos últimos 10 anos em bases de dados
nacionais e internacionais analisa a incidência e a prevalência da síndrome metabólica em
adultos e relaciona a mesma com a dieta não saudável consumida por adultos com essa
afecção. A alimentação inadequada que hoje é adotada pela maioria da população contribui
para o desenvolvimento dessa afecção. No Brasil, a síndrome metabólica vem crescendo
concomitantemente e pode ser considerada um problema de saúde pública. Pessoas com
essa afecção possuem um risco de morte duas vezes maior. A adoção de uma dieta saudável
com baixo teor de sal, açúcar e alimentos industrializados pode não só prevenir a doença
como também auxiliar no tratamento.
ABSTRACT
Metabolic syndrome can be described by the association of obesity, insulin resistance or
diabetes mellitus, hypertension and dyslipidemia, major risk factors for developing this disease
is improper diet, lack of physical activity and associated comorbidities. This literature review of
the last 10 years in national databases and international analyzes the incidence and prevalence
of the metabolic syndrome in adults and relates it to the poor diet that seen in adults with this
disease. The inadequate diet that is now adopted by a majority of the population contributes
to the development of this pathology. In Brazil, the metabolic syndrome has grown concomitantly and can already be considered a public health problem, people with this condition have
a death risk 2 times higher. The adoption of a healthy diet low in salt, sugar and processed
foods can not only prevent disease but also assist in treatment.
Nutricionista graduada na Universidade Nove de Julho, São Paulo, SP, Brasil.
Mestre em Ciências da Saúde. Professora do curso de nutrição da Universidade Nove de Julho, São Paulo, SP, Brasil.
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Vitor AD & Alvarez TS
INTRODUÇÃO
atividade física e medicação (se necessário). A reeducação
alimentar juntamente com a prática de exercícios físicos regulares são as principais alternativas para o tratamento dessa
doença, porém, em muitos casos, é necessário o tratamento
medicamentoso, no qual podem ser administrados fármacos
para controle das afecções associadas. Todos pacientes devem
ser avaliados individualmente para que haja maior adesão
ao tratamento3.
A síndrome metabólica também pode ser denominada como
síndrome X, síndrome da resistência à insulina, síndrome plurimetabólica ou quarteto mortal. Foi descrita inicialmente por G.
Reaven do Departamento de Medicina Cardiovascular, em uma
conferência no ano de 1988, como síndrome de resistência à
insulina1.Esta é descrita, de acordo com a World Health Organization (WHO), pela associação de algumas afecções, como
hipertensão arterial sistêmica, obesidade e resistência à insulina
ou diabetes mellitus. Os valores que determinam a existência
da síndrome são: superiores a 140/90 mmHg (para pressão
arterial), índice de massa corporal (IMC) maior que 30 kg/m2,
circunferência do abdome, maior que 102 cm para homens e
88 cm para mulheres, hipertrigliceridemia com concentrações
plasmáticas maiores do que 150 mg/dL e/ou concentrações
séricas de lipoproteína de alta densidade (HDL-c) menores
que 35 mg/dl para indivíduos do sexo masculino e 39 mg/dL
para indivíduos do sexo feminino, taxa de excreção de urinária
de albumina (microalbuminúria) maior ou igual a 20 µg/min
ou razão albumina: creatinina maior ou igual a 30 g/mg. De
acordo com a American Diabetes Association(ADA) o ponto
de corte para a glicemia de jejum é de 100 mg/dL, sendo
que valores maiores que 126 mg/dL já podem determinar a
existência de diabetes2,3.
O plano alimentar deve visar à redução de peso corporal
efetivo de 5% a 10%. No início, a melhor escolha é uma dieta
hipocalórica, diminuindo de 500 kcal a 800 kcal do gasto
energético total (GET) baseado no peso atual, o que pode
promover uma perda semanal de 0,5kg a 1kg, dietas que
possuem menos de 800 kcal por dia, ou seja, menos que a
taxa de metabolismo basal (TMB) devem ser evitadas, pois
podem reduzir inicialmente o peso, porém a longo prazo não
são eficazes, promovendo aumento de peso3.
Com esta revisão será possível relacionar a influência da
alimentação na aquisição de afecções relacionadas à síndrome
metabólica, podendo assim auxiliar no tratamento precoce
dessas comorbidades.
O objetivo deste trabalho é realizar levantamento bibliográfico da incidência e prevalência da síndrome metabólica em
adultos e relacionar o aparecimento da síndrome metabólica
com a dieta realizada por adultos diagnosticados com essa
patologia.
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da
síndrome metabólica são: adoção de uma dieta alimentar
inadequada, falta de atividade física e comorbidades (diabetes
mellitus, hipertensão arterial sistêmica e obesidade)3.
MÉTODO
A globalização contribuiu para o aumento nos números de
casos da doença, por influência da mídia, aumento do consumo
de alimentos industrializados e falta de administração do tempo,
fazendo com que os indivíduos consumam cada vez mais calorias de fontes não saudáveis, e como o corpo humano não está
preparado para a ingestão exacerbada de alimentos associada
com o sedentarismo, essa reserva acaba se acumulando em
forma de gordura, podendo levar à obesidade.
Realizou-se uma revisão de literatura dos últimos 10 anos
em bases de dados nacionais e internacionais sobre o tema
em questão, relacionando a alimentação inadequada com a
ocorrência de síndrome metabólica em adultos.
SÍNDROME METABÓLICA
No nosso país, a síndrome metabólica vem crescendo e já
pode ser considerada um novo problema de saúde pública.
Apesar dos muitos estudos realizados sobre esse tema, ainda
não é possível precisar a prevalência da síndrome metabólica
no Brasil; no momento, um projeto está sendo desenvolvido
em busca desse número6.
Quando a gordura se acumula na região central do
abdome, as chances de que ocorram distúrbios metabólicos
e riscos cardiovasculares se torna ainda maior, pois a gordura
acumulada nesta região leva à resistência à insulina, que
desencadeia maior quantidade de ácidos graxos livres que
chegam ao sistema porta, isto por sua vez leva à estimulação
na gliconeogênese e compromete a depuração hepática de
insulina, elevando, assim, a glicemia, a insulinemia e a resistência insulínica. Para a constatação da obesidade central,
podemos utilizar medidas regionais de obesidade, entre
elas, a circunferência da cintura que demonstra a estimativa
de gordura visceral (responsável pelo aumento da glicemia,
resistência insulínica e insulinemia)4,5.
A região Sudeste do Brasil é a que apresenta maior
número de mortes devido a doenças do sistema circulatório.
De acordo com o Ministério da Saúde, o número de óbitos
causados por doenças cardiovasculares no Brasil em 2006
era de 149,4 para cada 100 mil habitantes, na população
de 20 a 74 anos7,8.
Estudos indicam que a síndrome metabólica é prevalente
em adultos de ambos os sexos, porém, hoje existe um número
maior de homens que possuem a afecção. Isso talvez possa
ser devido aos homens apresentarem índice de massa corporal
O tratamento da síndrome metabólica deve ser focado na
mudança do estilo de vida do paciente, como alimentação,
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(IMC) maior que mulheres, devido ao IMC ser um dos determinantes para diagnóstico da síndrome9.
Tabela 1 – Recomendação dietética para pacientes com síndrome metabólica.
Pessoas que têm essa síndrome possuem um risco de morte
duas vezes maior. A possibilidade de que ocorra um acidente
vascular cerebral ou um infarto do miocárdio aumenta três
vezes e ainda ficam 5 vezes mais propensas a desenvolver
diabetes mellitus tipo II, quando são comparadas a indivíduos
que não possuem o mesmo diagnóstico. Quando a síndrome
é associada a outras doenças cardiovasculares, as taxas de
mortalidade geral podem vir a crescer aproximadamente 1,5
vez10.
Consumir
Evitar
Água*
Alimentos com alto teor de açúcar
Alho
Biscoitos (principalmente recheados)
Arroz integral, selvagem
Aveia
Bolos prontos com cobertura e/ou
recheio
Carnes gordas
Aves (grelhadas ou cozidas)
Creme de leite
Azeite extra-virgem (frio)
Embutidos (salame, mortadela, linguiça, salsicha)
Enlatados
A população brasileira vem modificando sua dieta
alimentar nas últimas três décadas. Houve um aumento
da ingestão de alimentos industrializados e diminuição do
consumo de alimentos provenientes de fontes naturais, como
frutas e hortaliças11.
Carnes magras
(grelhadas ou cozidas)
Cebola
Os hábitos alimentares inadequados em brasileiros são
mais prevalentes na população de baixa renda, isso talvez
se deva ao grau instrução e zelo pela saúde dos indivíduos
de classes econômicas mais elevadas. Em contrapartida, o
crescimento da obesidade na pobreza evidencia que esse
grupo possui menor acesso a uma alimentação de qualidade,
adequada e saudável12.
NUTRIÇÃO E SÍNDROME METABÓLICA
Um dos principais fatores para que ocorra a síndrome é a
alimentação inadequada, que hoje é adotada pela maioria da
população adulta, dietas com alto aporte calórico relacionadas
ao sedentarismo acabam por afetar negativamente os seres
humanos. Os alimentos que consumimos nos conferem energia
para que possamos realizar nossas atividades cotidianas; quando
esse consumo é maior que o necessário, a energia se acumula
em forma de gordura no corpo humano. Isso interfere no funcionamento natural do organismo, o que desencadeia distúrbios
metabólicos que, com o passar dos anos, podem culminar em
afecções. Uma das mais recorrentes atualmente na sociedade
brasileira é a síndrome metabólica. Na Tabela I, podemos visualizar os alimentos que devem ser consumidos e quais devem
ser evitados por indivíduos que possuem síndrome metabólica13.
Fast-food
Centeio
Frituras
Ervas e especiarias
Leite condensado
Feijões
Macarrão instantâneo
Frutas (se possível com casca)
Maionese
Iogurte desnatado
Manteiga
Legumes
Margarina
Leite desnatado e de soja
Massas folhadas
Macarrão integral
Molhos prontos
Pães integrais
Peixes (grelhados ou cozidos)
Queijos amarelos (cheddar, prato,
parmesão)
Refrigerantes
Queijos magros
Sal
Quinoa
Sopas prontas
Soja
Sorvetes
Verduras
Temperos prontos (cubinhos, sache)
*Com exceção para pacientes com ascite e/ou edema.
contribuem para o aumento da glicemia e pressão arterial,
agravam o quadro de obesidade, dificultam a perda e manutenção do peso corporal, e tendem a elevar os níveis de colesterol
total, triglicérides e LDL, e diminuem os níveis de HDL14.
Indivíduos que se alimentaram grande parte da vida
com carboidratos refinados como açúcar branco, gorduras
saturadas (frituras) e industrializados e consumiram baixas
quantidades de alimentos ricos em fibras, como alimentos
integrais, grãos e frutas, possuem uma predisposição maior
a desenvolver a síndrome metabólica15.
Alimentos naturais, com baixo teor de gordura, alta quantidade de fibras, devem ser consumidos com maior frequência,
pois estes, quando consumidos na quantidade adequada,
não tendem a agravar o quadro de obesidade, hipertensão,
dislipidemia e diabetes, bem como podem, ainda, vir a auxiliar no controle do quadro patológico. Alguns pacientes com
síndrome metabólica podem apresentar ascite e/ou edema,
nesses casos é recomendado que o médico indique a quantidade de água a ser consumida por cada pessoa, tendo em
vista que a quantidade de água pode agravar a doença14.
Em contrapartida, estudos mostram que o consumo de
frutas, legumes, grãos integrais, vitamina E, ácido fólico e
magnésio pode reduzir o risco do desenvolvimento de síndrome
metabólica. Isso pode ser explicado devido a esses alimentos
serem lentamente digeridos e absorvidos, diminuindo, assim,
a resistência à insulina16.
Os alimentos fontes de carboidratos simples, com alto teor
de gordura, sal, e industrializados devem ser evitados, pois estes
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O consumo de carnes deve ser controlado, principalmente
as carnes bovinas e suínas devem ser ingeridas com menos
frequência.Indivíduos diagnosticados com síndrome metabólica devem dar preferência a aves e peixes com baixo teor de
gordura, lembrando sempre que o modo de preparação tem
grande influência na quantidade de gordura que esse tipo de
alimento pode fornecer ao organismo. Por isso, é necessário
que seja retirada toda a gordura aparente no caso das carnes
vermelhas e pele no caso do frango e nestes devem ser aplicados um meio de cocção que se acrescente o menor teor
de óleo possível19.
Como o tratamento da doença visa à redução de peso, o
consumo de calorias energéticas deve ser reduzida, o que por
sua vez reduz os níveis de glicemia, triglicérides e colesterol,
além de promover a redução da pressão sistólica e diastólica16.
Dietas que possuem grande quantidade de gorduras
podem levar a um balanço positivo (o consumo é maior que
a oxidação do nutriente no organismo), pois o consumo de
lipídios não estimula a oxidação no organismo, o que leva ao
acúmulo indesejado de gorduras no corpo.
Para que se mantenha um equilíbrio, deve-se ajustar o
consumo de cada macronutriente comparando-os com sua
oxidação, para que não haja ganho de peso indesejado17.
O índice glicêmico dos alimentos também deve ser observado, pois o consumo de produtos com um índice glicêmico
elevado está positivamente associado com a prevalência da
síndrome metabólica. Dietas com carga glicêmica menor
promovem baixa resistência à insulina, apesar desse efeito ser
inesperado, já que alimentos com elevado índice glicêmico
promovem concentrações de glicose pós-prandial maiores do
que outros alimentos com menor índice; isto a longo prazo irá
gerar uma demanda maior de insulina. Pesquisas mostram que
pessoas que ingerem alimentos com um baixo índice glicêmico possuem 40% menos chance de desenvolver síndrome
metabólica quando comparadas a pessoas com dietas com
alto teor glicêmico20.
A ingestão de alguns tipos de carboidratos deve ser
controlada, especialmente os refinados e frutose.A ingestão
de carboidratos promove uma grande saciedade, porém, estes
prejudicam a circulação dos lipídios, aumentando o nível de
triglicerídeos e diminuindo os níveis de colesterol bom (HDL).
A alta ingestão de frutose, como frutas, cereais matinais,
condimentos e sobremesas, pode contribuir para o aumento
da obesidade e distúrbios metabólicos, em contrapartida, as
fibras quando acrescidas na dieta, ajudam na sensação da
saciedade e aumentam a excreção fecal, diminuem a secreção
de insulina, além de reduzir o colesterol plasmático17.
Alguns estudos demonstram que indivíduos que consomem
maior quantidade de proteínas que carboidratos podem promover
a redução de peso, além de melhorar a glicemia, porém a curto
prazo; a efetividade não é comprovada a longo prazo17.
CONCLUSÕES
Estudos mostram que a adoção de uma dieta rica em frutas
e vegetais e pobre em gorduras no período de seis meses pode
contribuir significativamente para redução do risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, auxiliar na perda de peso
e melhorar a intolerância à glicose devido aos antioxidantes
presentes nas frutas que podem ajudar na secreção da glicose,
prevenindo, assim, a diabetes tipo 2 e a resistência à insulina18.
Pode-se concluir que a alimentação inadequada constituída de alimentos com alto teor de açúcar, sal, gordura
e industrializados contribui para desenvolvimento da
obesidade, diabetes mellitus, hipertensão e dislipidemia,
ou seja, afecções que integram a síndrome metabólica.
Por isso,é de suma importância que sejam realizados mais
estudos relacionando essa afecção com a alimentação em
indivíduos adultos brasileiros, para que estes possam auxiliar na prevenção e no controle dos casos de SM no Brasil.
Algumas pesquisas mostram que o consumo de produtos
lácteos se ingeridos frequentemente pode reduzir a prevalência
da síndrome metabólica e seus componentes, como sobrepeso,
hipertensão e hipercolesterolemia.Isto está relacionado ao
cálcio, ácido linoleico conjugado e, ainda, alguns componentes não identificados no leite podem proteger os indivíduos
da hipertensão e hiperlipidemia, e ainda promover redução da
obesidade. Em contrapartida,outros pesquisadores associam
negativamente o consumo de leite e seus derivados, mostrando
que estes podem contribuir para obesidade18.
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Os cereais podem ser associados tanto positiva quanto
negativamente com a síndrome metabólica, isso depende
do tipo de cereal e como este foi processado.Trigo, milho e
aveia, são criticados pelo seu alto teor de carboidratos, já os
cereais minimamente processados tendem a ter alto teor de
fibras, o que diminui o risco de diabetes e resistência à insulina,
obesidade e hipertensão18.
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85
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