1 INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA - IBRATI Mestrado em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva - SOBRATI VENTILAÇÃO MECÂNICA EM UTI NEONATAL MARGARETH MENDONÇA CORDEIRO Cuiabá – MT 2011 2 INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA - IBRATI Mestrado em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva - SOBRATI VENTILAÇÃO MECÂNICA EM UTI NEONATAL MARGARETH MENDONÇA CORDEIRO Monografia apresentada ao curso de Mestrado em Terapia Intensiva do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva como um dos requisitos para obtenção do titulo de mestre em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva-SOBRATI. Sob a orientação do Prof. Dr. Douglas Ferrari Cuiabá – MT 2011 3 INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA - IBRATI Mestrado em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI VENTILAÇÃO MECÂNICA EM UTI NEONATAL Monografia apresentada ao curso de Mestrado do Instituto Brasileiro de terapia Intensiva-IBRATI como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva-SOBRATI. ____________________________________________ PROF. DR. DOUGLAS FERRARI Orientador ____________________________________________ 2° Examinador NOTA FINAL: ____________________ Cuiabá,_______ de___________________ 2011. 4 Dedico esta monografia aos meus familiares, pela força, carinho e compreensão durante a realização deste curso. 5 Agradecimentos a todos que contribuíram de alguma maneira na realização deste trabalho. 6 RESUMO O presente estudo é uma revisão de literatura, com o intuito de pesquisar os conhecimentos disponíveis a respeito do uso de ventilação mecânica na UTI neonatal. Esta pesquisa está baseada na busca de livros e artigos nacionais e internacionais, datados de 1985 a 2009, nos idiomas português e inglês. A UTI neonatal é um ambiente hospitalar onde são utilizados técnicas e procedimentos sofisticados, que podem propiciar condições para a reversão dos distúrbios que colocam em risco a vida dos bebês de alto risco. O ambiente da UTIN propicia uma experiência ao recém-nascido de risco bastante diferente daquela do ambiente uterino, uma vez que este é o ideal para o crescimento e desenvolvimento fetal, pois possui características distintas. A introdução da ventilação pulmonar nas unidades de terapia intensiva neonatal aumentou a sobrevida dos recém-nascidos, principalmente daqueles com insuficiência respiratória. Essa diminuição da mortalidade levou paralelamente a uma maior incidência de seqüelas pulmonares, como a doença pulmonar crônica Palavras-chave: Ventilação mecânica, UTIN, distúrbios respiratórios, surfactante. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8 1.1 OBJETIVO ....................................................................................................... 9 1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 9 1.3 METODOLOGIA .............................................................................................. 9 2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 10 3 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 18 4 RESULTADOS .................................................................................................. 23 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 38 8 1 INTRODUÇÃO O nascimento prematuro é uma condição que envolve bebês que nascem com menos de 37 semanas gestacionais, a contar do primeiro dia da última menstruação da mãe, sendo classificada de acordo com critério temporal, com base no peso ao nascer e de acordo com a adequação do peso de nascimento à idade gestacional (MIURA; PROCIANOY, 2007). As doenças que se caracterizam pela presença de dificuldade respiratória do recém-nascido também são as principais causas de internação em Unidades Neonatais, e, em virtude disto, uma vasta literatura relata sobre os inúmeros avanços do cuidado intensivo neonatal que, como a ventilação mecânica, contribuíram para melhorar a sobrevida do mais vulnerável recém-nascido. A medicina intensiva atua com grande importância, promovendo o alívio do desconforto respiratório, o aumento da sobrevida, a melhora da qualidade de vida, diminuindo o número de seqüelas a curto e a longo prazo. Os avanços tecnológicos no campo da neonatologia trazem novas formas de ventilação mecânica, a introdução e o aprimoramento de equipamentos de monitorização, o uso de novas-drogas como o surfactante, entre outros. Todos esses fatores; associados a uma melhora no entendimento da fisiopatologia das doenças e um melhor manuseio hidroeletrolítico e nutricional, têm contribuído significativamente, para a redução da morbimortalidade dos recém-nascidos em geral e, principalmente, daqueles de muito baixo peso ao nascer, dos prematuros e dos que sofreram retardo de crescimento intra-uterino, que anteriormente tinham pouca ou nenhuma chance de sobreviver (MARGOTTO, 2004). 9 1.1 OBJETIVO Realizar uma pesquisa através da literatura pertinente sobre ventilação mecânica em UTI neonatal. 1.2 JUSTIFICATIVA Através deste trabalho pretende-se analisar a importância da ventilação pulmonar mecânica em UTI neonatal, inclusive verificar determinadas medidas assistenciais para minimizar alterações físicas e comportamentais de bebês prematuros. 1.3 METODOLOGIA Esta pesquisa é uma revisão da literatura baseada na busca de livros e artigos nacionais datados de 1985 a 2008 em português. Realizou-se ainda levantamento junto a sites de busca na área da saúde como: Medline, Pubmed, Scielo, Lilacs e Biblioteca Cochrane. Os descritores adotados foram: surfactante, ventilação mecânica, UTI neonatal, prematuridade. 10 2 REVISÃO DA LITERATURA A maioria dos recém-nascidos prematuros com menos de 34 semanas de idade gestacional ao nascer apresenta algum grau de insuficiência respiratória, devido à síntese ainda insuficiente de surfactante pulmonar (LESSA, 2004). Além da prematuridade, alguns distúrbios respiratórios são as principais causas de internação em Unidades Neonatais. As causas podem ser pulmonares, problemas anatômicos comprometendo o sistema respiratório, cardiocirculatórias, sistêmicas ou neuromusculares. O fato é que todos os distúrbios respiratórios apresentam manifestações clínicas semelhantes que refletem o trabalho respiratório do recém-nascido, são de intensidade variável e diferem quanto ao momento de seu aparecimento. A unidade de terapia intensiva neonatal – UTIN – é o local que concentra os principais recursos, humanos e materiais, necessários para dar suporte ininterrupto às funções vitais dos recém-nascidos ali internados. Nela há equipes especializadas de médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, além de outros profissionais de saúde e pessoal de apoio, contando com a retaguarda de exames complementares, laboratoriais e radiológicos, tudo funcionando 24 horas por dia. Equipamentos como incubadoras, respiradores, monitores cardíacos e de oxigenação, entre muitos outros, são obrigatórios neste ambiente, de modo a garantir todos os cuidados que o bebê precisa. O nascimento de um bebê de risco ou prematuro é uma crise imprevista em qualquer família. No caso do recém-nascido prematuro, podemos considerar que os 11 pais também são "pais prematuros" e enfrentam dificuldades ao lidarem com as suas expectativas e com a realidade (LOPES, 2004). A Organização Mundial de Saúde define como Recém-nascido de baixo peso aquele que apresenta peso, ao nascer, igual ou inferior a 2.500g e como prematuro toda criança nascida antes de 37 semanas. É na UTI Neonatal que o bebê de risco e/ou o bebê prematuro recebem os cuidados médicos apropriados à sua recuperação e ao seu desenvolvimento. A introdução da ventilação pulmonar nas unidades de terapia intensiva neonatal aumentou a sobrevida dos recém-nascidos, principalmente daqueles com insuficiência respiratória. Essa diminuição da mortalidade levou paralelamente a uma maior incidência de seqüelas pulmonares, como a doença pulmonar crônica (DAVID, 2006). Os principais objetivos da ventilação mecânica no período neonatal são de reduzir as alterações da relação ventilação/perfusão e melhorar a ventilação alveolar, mantendo a PaCO2 normal; diminuir o trabalho respiratório, evitando a fadiga muscular e reexpandir áreas atelectásicas. A ventilação pulmonar mecânica tenta simular o padrão de ventilação espontânea fisiológica, utilizando freqüência respiratória e volume corrente o mais próximo do normal, aplicando pressão positiva nas vias aéreas ou pressão negativa em torno do tórax. Na ventilação espontânea normal, as trocas gasosas envolvem duas regiões distintas que são: volume do espaço morto anatômico (as vias aéreas condutoras com transporte de gases primariamente convertido) e alvéolo, em que a difusão molecular é o mecanismo predominante do transporte de gases. 12 O sucesso da ventiloterapia depende da manipulação adequada, da concentração de oxigênio oferecida ao recém-nascido, da pressão inspiratória do ventilador, da pressão expiratória final, da freqüência respiratória, dos tempos inspiratório e expiratório, da relação entre estes tempos e do fluxo gasoso do respirador. A fração inspirada de oxigênio (FIO2) interfere na oxigenação alveolar e arterial, corrigindo a hipoxemia e, eventualmente, a acidose metabólica. Deve-se utilizar a FIO2 necessária para manter a PaO2 do paciente entre 50 mmHg e 70 mmHg, e a saturação de oxigênio entre 90 e 94% (LAMY, 2005). A pressão inspiratória (Pinsp) utilizada deve reexpandir as áreas atelectasiadas, aumentar a PaO2 e diminuir a PaCO2. O uso de pressões baixas relaciona-se à hipoventilação alveolar com hipoxemia e hipercapnia. O emprego de pressões inspiratórias excessivas relaciona-se, a curto prazo, ao aparecimento de síndrome de escape de ar e ao aumento da resistência vascular pulmonar, com diminuição do débito cardíaco, e, a longo prazo, com a doença pulmonar crônica (CARVALHO, 2004). A pressão expiratória final (PPEP) é necessária para a manutenção de um recrutamento alveolar mais homogêneo, evitando o aparecimento de áreas atelectásicas e estando diretamente relacionada à correção da hipoxemia. O emprego de pressões expiratórias muito baixas pode ser insuficiente para que se atinjam as metas delineadas, enquanto pressões positivas finais elevadas aumentam muito o risco de lesão pulmonar e comprometimento hemodinâmico (GUINSBURG; MIYOSHI, 2003). 13 Em geral o uso de pressões entre 4 e 6 cm H2O, nas fases iniciais pode ser benéfico para o paciente, mas a monitorização deve ser contínua (CARVALHO, 2004). O diferencial de pressão deverá ser, no mínimo, 10cmH2O para evitar ventilação de espaço morto e vencer a pressão resistiva de tubos endotraqueais finos dos recém-nascidos. O ajuste do tempo inspiratório (Ti) depende da constante de tempo do pulmão do recém-nascido ventilado. A utilização de tempos inspiratórios muito curtos leva à hipoventilação e à hipercapnia. O uso de tempos inspiratórios longos pode corrigir situações de hipoxemia refratária, porém está associado à síndrome de escape de ar e ao aparecimento de doença pulmonar crônica. Recomenda-se a utilização de Ti de cerca de 0,3 a 0,5 segundos (CARVALHO, 2004). O ajuste do tempo expiratório (Te) também depende da constante de tempo do pulmão. Não há um limite superior para o ajuste do tempo expiratório. No entanto, tempos expiratórios muito curtos, em geral abaixo de 0,2 a 0,3 segundos, podem ser insuficientes para o esvaziamento pulmonar adequado, ao final de cada expiração. A relação entre os tempos inspiratório e expiratório (I:E) de maneira geral é utilizada de maneira mais próxima da fisiológica, respeitando-se as constantes de tempo inspiratória e expiratória. A freqüência respiratória (FR) deve ser suficiente para diminuir a PaCO 2 e elevar a PaO2 sempre se respeitando o ajuste prévio dos tempos inspiratório e expiratório, de maneira que sejam levadas em conta as constantes de tempo do pulmão do recém-nascido submetido à ventilação mecânica. O ajuste do fluxo de gás determina a forma de onda de pressão a que o paciente está submetido, durante a ventilação mecânica. Fluxos de 4 a 6 l/min 14 determinam ondas sinusoidais, que, por sua vez, implicam elevação gradual das pressões ao nível alveolar. A onda sinusoidal é mais fisiológica e menos lesiva aos pulmões em crescimento. Fluxos superiores a 6 l/min provocam o aparecimento das ondas quadradas, nas quais o alvéolo é submetido ao pico de pressão por um período de tempo prolongado. Esse tipo de ventilação é mais eficaz para a correção da hipoxemia, porém está associado a uma freqüência maior de lesão pulmonar (CARVALHO, 2004). A pressão média das vias aéreas (MAP) congrega todo o conjunto de pressões a que o pulmão está submetido durante a ventilação mecânica. Os parâmetros ventilatórios determinam uma onda respiratória, sendo que a área no interior dessa onda ou curva se constitui na pressão média de vias aéreas. Para o seu cálculo, são levados em conta, o fluxo de gás no aparelho, a pressão inspiratória, a pressão expiratória e os tempos inspiratório e expiratório. A pressão média das vias aéreas maior que 8 cmH2O são lesivas para o recém-nascido. A indicação da ventilação mecânica deve ser precoce, principalmente nos recém-nascidos com menos de 1500 g e naqueles que sofreram asfixia perinatal, para evitar que a deterioração clínica progressiva dificulte o sucesso da ventiloterapia. As principais indicações são hipoxemia e/ou hipercapnia persistentes apesar da administração de oxigênio e da desobstrução das vias aéreas, condições clínicas pulmonares ou extrapulmonares em que exista um trabalho respiratório aumentado, com risco de fadiga e apnéia, troca gasosa alterada por falta de estímulo central ou diminuição da capacidade muscular. O pulmão apresenta uma substância, chamada surfactante, que atua nesta superfície, diminuindo esta tensão e contribuindo para a função alveolar (WILSON, 2000). 15 O surfactante é uma substância produzida pelas células alveolares tipo II que atuam reduzindo a tensão superficial no interior dos alvéolos, evitando o seu colapso e baixos volumes. O mesmo compõe-se de uma completa associação de vários fosfolípides, lipídeos neutros e proteínas (TARANTINO, 1997). Desta forma, as principais finalidades do sistema surfactante pulmonar são: diminuir a tensão superficial na interface ar-líquido alveolar e manter a estabilidade alveolar impedindo seu colapso no final da expiração (DINIZ et al., 2000). Para Leone e D’Andrea (2006) a maioria dos recém-nascidos prematuros com menos de 34 semanas de idade gestacional ao nascer apresenta algum grau de insuficiência respiratória, devido à síntese ainda insuficiente de surfactante pulmonar. As primeiras tentativas de reposição do surfactante em neonatais humanos surgiram na década de 60, após o relato de que a deficiência da substância tensoativa seria o principal fator na patogenia nos distúrbios respiratórios. Rebello e Proença (2006) ao estudarem a respeito da fisiopatologia dos distúrbios respiratórios que acometem os recém-nascidos, fortaleceram o conceito de que uma deficiência de surfactante seria um dos principais fatores destes distúrbios. O surfactante pulmonar é uma substância fundamental na mecânica pulmonar. Ele está presente em todas as espécies que respiram através de pulmões, pois, na sua ausência, o líquido presente entre o alvéolo e o ar apresenta uma tensão superficial alta, que exerce uma força de colabamento sobre estas estruturas pulmonares. O surfactante se interpõe às moléculas de água na superfície alveolar, reduz a tensão superficial de maneira dinâmica, de forma que essa tensão 16 aproxima-se de zero no final da expiração quando a superfície do alvéolo está reduzida, evitando assim a atelectasia (TRINDADE, 2000). A experiência pioneira de Fujiwara no Japão, em 1980, associada às de Los Angeles e Canadá evidenciaram os efeitos benéficos do uso de surfactante em UTIs neonatais, como a melhora do padrão respiratório, com redução da necessidade de ventilação mecânica. A demonstração conclusiva de que a terapia com surfactante seria segura e alteraria o curso da doença só foi possível graças aos vários estudos multicêntricos prospectivos randomizados, sendo um dos pioneiros datado da década de 70 neste estudo, coelhos prematuros foram tratados com extrato cru de surfactante natural. Após instilação intra-traqueal, os animais apresentaram melhora acentuada da complacência pulmonar e da sobrevida. Este experimento com surfactante natural demonstrou o primeiro efeito significativo in vivo da terapêutica substitutiva com surfactante (DINIZ et al., 2004). É estabelecida uma estratégia de tratamento com o surfactante para otimizar seus efeitos em recém nascidos e avaliar a sua real eficácia no controle da insuficiência respiratória decorrente de outras condições pulmonares do período neonatal, como a síndrome de aspiração de mecônio, as pneumonias congênitas, a displasia broncopulmonar e a hipoplasia pulmonar, entre outras. Outros estudos visam, ainda, investigar o potencial terapêutico das novas formulações constituídas de fosfolípides e apoproteínas sintéticas nas doenças pulmonares. Sua forma de administração se dá, geralmente, em uma única dose, de 100 mg/kg de peso, apesar de alguns estudos terem proposto doses diferentes. Doses iniciais de 200 mg/kg (pool estimado de surfactante endógeno no RN) foram avaliadas, usando surfactante porcino, mostrando alguns efeitos positivos em 17 relação à dose habitual. Doses adicionais de 100 mg/kg podem ser administradas, se necessário. A resposta ao surfactante pode ser afetada (reduzida) por outras patologias associadas (hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido, edema pulmonar, aspiração de mecônio, etc.), pela distribuição do surfactante, pela composição do surfactante, pelo manejo da ventilação mecânica ou pelo momento em que a terapia é administrada. 18 3 DISCUSSÃO A ventilação mecânica é um suporte de vida extremamente necessário para alguns neonatos. A administração desse recurso deve levar em consideração as características do pulmão do recém-nascido e os reais objetivos, protegendo os pulmões das lesões e diminuindo a resposta inflamatória induzida pela ventilação mecânica. Apesar ser fundamental na manutenção da vida dos recém-nascidos com algum distúrbio respiratório, o dano ao parênquima pulmonar provocado pelos respiradores permanece um problema insolúvel e não existe ainda o padrão ideal de ventilação definido. Dependendo do padrão ventilatório adotado, podem ocorrer lesões pulmonares progressivas. A técnica utilizada para ventilar áreas de “baixa complacência” pode não ser apropriada para ventilar áreas com complacência “normal” (DARQUENNE; PAIVA , 2006). Assim essas regiões são susceptíveis a sofrer dano pulmonar, tais como: barotrauma por pressão excessiva utilizada durante a ventilação mecânica (pneumotórax, enfisema intersticial, pneumo-mediastino); volutrauma quando o volume corrente administrado distende preferentemente áreas de complacência normal ou aumentada, ocasionando estiramento e ruptura tecidual, seguida de extravasamento capilar, edema alveolar, distúrbios na produção e distribuição do surfactante; atelectrauma é a lesão pulmonar relacionada com a abertura e fechamento de unidades alveolares e nesses casos os pulmões são ventilados usando baixos volumes correntes, inferiores ao ponto de inflexão da curva pressão – volume e/ou pressão no final da expiração incapaz de manter os alvéolos 19 distendidos com o progressivo colapso pulmonar, requerendo pressões maiores para reabrir esses alvéolos; biotrauma é o dano celular imposto pelo colapso, estiramento ou ruptura tecidual e aumento dos mediadores inflamatórios (FROESE, 2007). Tem-se buscado formas e técnicas protetoras de ventilação mecânica em pacientes com síndromes respiratórias, com a finalidade de reduzir a prevalência de lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica. Em recém-nascidos é comum se observar disfunção do surfactante, com acentuada instabilidade das unidades alveolares, favorecendo o respectivo colabamento (ARNOLD et al., 1994). A estratégia nessa situação quase sempre, baseia-se em aumentar o volume expiratório pulmonar (normalmente com pressão positiva no final de expiração– peep), utilizar baixos volumes correntes para evitar a hiperinsuflação pulmonar, com a conseqüente distensão alveolar, administração de surfactante exógeno, além de outras (ARNOLD et al., 2000). Há na literatura uma extensa variedade de trabalhos que focam o tratamento com reposição de surfactante em recém-nascidos, tanto com objetivo profilático quanto terapêutico. Nos recém-nascidos imaturos, com idade gestacional inferior a 26 semanas, o uso profilático de surfactante tem sido mais aceito, devido à melhor distribuição pulmonar do surfactante, que pode reduzir os riscos de lesão pulmonar e a chance de ocorrer barotrauma, o que contribui para melhorar a sobrevida (LEONE; D’ANDREA, 2006). O uso terapêutico tem a vantagem de selecionar somente os recém-nascidos que terão necessidade real de receber essa terapêutica, evitando-se expor todos os RN aos riscos de intubação endotraqueal e do surfactante. 20 A administração terapêutica precoce nas primeiras 2 horas de vida, associase a menores taxas de mortalidade decorrente de distúrbios respiratórios, além de menor dependência de oxigênio a longo prazo, em comparação aos recém-nascidos que a recebem após essa idade. Com base nessas observações, indica-se o uso terapêutico de surfactante, porém precocemente, após estabilização do recém-nascido nas primeiras 2 horas de vida e naqueles que tiverem indicação de intubação endotraqueal, a fim de obter-se melhores resultados. Diniz et al. (2004) alertam que o uso rotineiro de surfactante ao nascimento, em todos os recém-nascidos com menos de 30 semanas de idade gestacional, pode levar ao tratamento desnecessário em cerca de 37% a 54% dos recém-nascidos. Porém, quando a maturidade pulmonar fetal foi diagnosticada antes do tratamento, somente 18% dos pacientes foram tratados desnecessariamente. A terapêutica profilática tem sido indicada apenas para prematuros de extremo baixo peso. Trindade (2000) observou uma redução na incidência de síndrome do desconforto respiratório, desde o grau mais leve àqueles casos mais graves, nos recém-nascidos que utilizaram surfactantes profiláticos comparados ao grupo terapêutico. O tratamento com surfactante pode estimular a síntese endógena, diminuir o catabolismo dos componentes do surfactante endógeno ou mobilizar a reserva intracelular do surfactante. Em virtude dos efeitos benéficos do surfactante, observase ainda uma melhora radiológica do pulmão, aumento da complacência pulmonar e diminuição na incidência de complicações pulmonares como o pneumotórax e o enfisema intersticial pulmonar. Em recém-nascidos humanos os estudos prospectivos e randomizados mostram melhora da oxigenação e da mecânica 21 pulmonar e redução da necessidade de oxigenadores de membrana extracorpórea (ECMO) nos pacientes que receberam surfactante bovino adicionado, em múltiplas doses. Segundo Trindade (2000) os prematuros que receberam surfactante são retirados do aparelho de ventilação controlada mais precocemente, o que implica assistência mais adequada e, teoricamente, menor possibilidade de apresentar complicações e adquirir infecções sistêmicas. Indiscutivelmente, a reposição com surfactante diminuiu a mortalidade dos prematuros da UTI neonatal. Em todos os RNs da amostra foi utilizada a ventilação mecânica, sendo uma das indicações devido à administração do surfactante exógeno. Lamy (2005) realizou um estudo mostrando que uma das principais indicações para o uso da ventilação mecânica na UTI neonatal é a Síndrome da Membrana Hialina, e que 51,4% dos neonatos que necessitam do auxílio ventilatório mecânico vão a óbito. Este fato leva a inferir que grande parte das complicações encontradas na amostra podem ser em decorrência do uso da ventilação mecânica. Estando de acordo com um estudo de Moretti et al. (1999) que associa a ventilação mecânica em prematuros a um grande número de complicações pulmonares, e preconiza o desmame precoce reduzindo a morbidade pulmonar e subseqüente mortalidade desta população. Os relatos na literatura mostram a que a terapia com surfactante produz melhora da expansibilidade secundária a aumento da complacência pulmonar, da capacidade residual funcional e redução do "shunt" intra alveolar. 22 Estando o paciente em ventilação pulmonar mecânica é possível, devido a esses efeitos, reduzir a PIP com redução do risco de barotrauma e volutrauma, diminuição da PEEP e seus efeitos depressores cardiocirculátorios e redução da FiO2 com menos risco de toxicidade pelo oxigênio. No entanto, Rebello e Proença (2006) relatam uma série de eventos de menor importância, e sem repercussão em longo prazo, podem estar associados à técnica de administração de surfactante, particularmente em volumes maiores. Estes eventos, que incluem cianose transitória, aumento de Pa CO2 taqui ou bradicardia e refluxo do surfactante para o circuito do ventilador entre outros, podem ser evitados, ou são corrigidos sem dificuldades, através da administração do surfactante, utilizando-se técnica adequada e pessoal experiente. A elevação da FiO2 10% acima da necessidade do RN no momento do tratamento, o uso de porta injetora lateral, ou cânula com dispositivo de infusão, associado a uma velocidade relativamente (mas, não excessivamente) lenta de infusão, com monitorização contínua da saturação de oxigênio, pode evitar ou minimizar estes eventos, que talvez não mereçam ser denominados de complicações associadas ao uso do surfactante (REBELLO; PROENÇA, 2006). Uma complicação verdadeira do tratamento com surfactante, embora rara, e de maior gravidade, por estar associada à alta morbidade e mortalidade, é a hemorragia pulmonar. Vários autores relataram um aumento na incidência de hemorragia pulmonar, tanto após tratamento com surfacante sintético como com o natural, sendo um pouco mais elevado no último. Ela ocorre várias horas após o tratamento, tendo sido feita a associação entre sua ocorrência e o aumento do fluxo esquerdo-direito através do canal arterial. 23 4 RESULTADOS Ainda não foi desenvolvida uma classificação universalmente aceita de ventiladores mecânicos. Ao longo do tempo, sucessivas "gerações" de ventiladores ofereceram uma variedade de recursos complexos. A primeira geração de ventiladores ciclados a volume limitava-se a fornecer ventilação no modo assistidocontrolado somente. A segunda geração de ventiladores já dispunha de ventilação mandatória intermitente (VMI), PEEP e maior capacidade de monitorização. Equipamentos posteriores usavam microprocessadores para fornecer uma gama maior de opções, inclusive as modalidades por controle de pressão e com suporte pressórico - ciclada a tempo ou volume - e diversas combinações. Alguns dispõem de circuitos que minimizam o trabalho da respiração e intensificam a capacidade de monitorização com visores gráficos. Os ventiladores mecânicos mais modernos dispõem de modos que permitem que o paciente respire espontaneamente com pressão de suporte e podem fornecer ventilação adicional para atingir os objetivos pré-determinados. 1. Fase inspiratória - Os métodos de ventilação mecânica podem ser classificados em ventiladores mecânicos em que o volume corrente é a principal variável independente pré-determinada (volume pré-determinado), ou ventiladores de pressão na via aérea (pressão pré-determinada). O termo "modo de ventilação" passou a significar o método pelo qual o sistema paciente/ventilador inicia a inspiração. Assim, o início da inspiração pode ser completamente controlado pela máquina (modo controle) ou escolhido pelo paciente (modo assistido-controlado). A velocidade respiratória é determinada pelo clínico, porém no modo assistido, se o 24 paciente decide respirar a uma velocidade mais rápida, isso anula a velocidade determinada pelo clínico. O modo como o ventilador passa da fase inspiratória para a expiratória é conhecido como a maneira pela qual o ventilador é "ciclado". O ventilador pode ser ciclado a volume, ciclado a tempo ou ciclado à pressão, dependendo do que for configurado, se a fase inspiratória deve terminar quando um volume corrente, um tempo inspiratório ou uma pressão do circuito pré-determinados são alcançados, respectivamente. A velocidade e o padrão do fluxo inspiratório podem ser ajustados para fornecer um padrão de fluxo aumentado, diminuído ou sinusoidal durante a inspiração. O volume corrente, a pressão nas vias aéreas, a velocidade do fluxo inspiratório e o tempo inspiratório devem necessariamente ser interativos. Assim, com diferentes métodos de ventilação mecânica, uma ou mais variáveis são prédeterminadas e independentes, enquanto outras são variáveis e dependentes. 2. Fase expiratória - A exalação passiva ocorre porque a retração pulmonar e a retração da parede torácica criam uma pressão positiva no espaço alveolar em relação à pressão atmosférica. Se a exalação for interrompida antes de ser concluída, o volume pulmonar da expiração final se eleva e a pressão expiratória final é positiva em relação à atmosfera. Essa pressão positiva expiratória final (PEEP) muitas vezes é selecionada para estabilizar os alvéolos, evitar o colapso das unidades pulmonares e melhorar a hipoxemia em determinadas situações. Todas as modalidades de ventilação mecânica com pressão positiva descritas a seguir podem receber PEEP, conforme necessário. A ventilação com volume pré-determinado é o método mais freqüentemente usado de ventilação mecânica e adequado para quase todos os tipos de insuficiência respiratória. Basicamente, o ventilador fornece um volume corrente pré- 25 determinado a um fluxo inspiratório constante e a uma freqüência respiratória ajustada na máquina; o paciente pode respirar mais rápido do que essa velocidade, o que faz com que a freqüência respiratória seja mais elevada. No modo assistido-controlado, o profissional seleciona uma freqüência respiratória mínima. Ou seja, o aparelho determina o início da inspiração, mas o ciclo só é iniciado com o esforço inspiratório do paciente. O ventilador "percebe" esse esforço como uma queda na pressão do circuito ventilatório. Se o paciente consegue fazer um esforço inspiratório suficiente para “disparar” o ventilador a uma freqüência maior do que a freqüência respiratória determinada, o paciente estará determinando a velocidade respiratória de maneira eficiente. Se não forem feitos ou detectados esforços inspiratórios, a velocidade respiratória será igual à velocidade pré-determinada. Em geral, a velocidade respiratória pré-determinada deve ser ligeiramente inferior à velocidade espontânea do próprio paciente (se ele estiver respirando espontaneamente). Isso garantirá que o paciente receba uma quantidade relativamente segura de ventilação no caso de ocorrer apnéia ou hipopnéia. A quantidade necessária de esforço que o paciente precisa fazer para disparar o ventilador (sensibilidade) pode ser ajustada no ventilador. Em geral, a sensibilidade escolhida deve ficar entre 1 e 2 cm H2O abaixo da pressão expiratória final. No entanto, a água condensada na tubulação do ventilador, a inevitável espera no mecanismo de disparo e a presença de PEEP intrínseca pode trazer dificuldades para disparar o ventilador. Na ventilação com volume pré-determinado, o volume corrente recomendado durante muitos anos foi de no máximo 10 a 12 mL/kg do peso corporal ideal; porém atualmente recomenda-se usar entre 6 e 8 mL/kg do peso ideal para minimizar a possibilidade de ocorrer barotrauma e diminuir as lesões pulmonares. 26 A ventilação mecânica com volume pré-determinado assistida-controlada, pode ser usada para ventilar a maioria dos pacientes com insuficiência respiratória. A principal vantagem desse modo é fornecer um volume corrente e - caso o sujeito não consiga disparar a máquina - uma freqüência respiratória definidos. O volume corrente não varia com as mudanças na mecânica pulmonar e da parede torácica. Outra vantagem é a familiaridade que a maioria dos clínicos tem com esse modo de ventilação. Na ventilação por controle da pressão (PCV), a pressão máxima das vias aéreas é pré-determinada no ventilador (e não o volume corrente) e o volume corrente toma-se uma variável dependente. Embora a PCV seja considerada muitas vezes como uma forma de proteger os pulmões dos efeitos de uma excessiva pressão alveolar e das vias aéreas bem como evitar barotraumas, a principal vantagem desse modo de ventilação é a melhor distribuição do gás inspirado e uma melhor troca gasosa. A PCV deve ser considerada como uma opção altamente recomendável para portadores de SARA. Grande parte dos dados existentes sobre esse tipo de ventilação refere-se à experiência clínica com esse tipo de pacientes. A PCV não deve ser usada para a ventilação mecânica de sujeitos asmáticos ou com DPOC. Na PCV, o circuito de ventilador fornece ao paciente uma pressão positiva constante pré-determinada durante toda a inspiração. O padrão do fluxo inspiratório é complexo e depende da diminuição do gradiente de pressão entre as vias aéreas e a pressão alveolar durante a fase inspiratória. A duração da inspiração é prédeterminada, configurando-se o tempo inspiratório ou a relação I:E e a velocidade respiratória. O volume corrente é uma função do padrão de fluxo e do tempo inspiratórios. A ventilação por controle de pressão pode ser usada no modo 27 assistido-controlado, em que a velocidade respiratória é escolhida pelo paciente ou, na falta de estímulo respiratório suficiente, pelo ventilador. Ao contrário da ventilação ciclada a volume, em que o volume corrente é pré-determinado, o volume corrente é determinado pelo tempo e o fluxo inspiratórios. A pressão nas vias aéreas deve ser cuidadosamente selecionada, levando-se em consideração a complacência pulmonar e da parede torácica, bem como a resistência das vias aéreas. Na maioria dos pacientes em UTI neonatal, é desejável limitar a pressão nas vias aéreas de 15 à 25 cm H2O, podendo de acordo com a patologia chegar a 35 cm H2O, ou a um volume corrente máximo de 6 a 8 mL/kg de peso ideal. Em comparação com a ventilação por controle de volume pré-determinado, as possíveis vantagens da ventilação por controle de pressão são uma menor pressão de pico nas vias aéreas e uma melhor distribuição do gás inspirado. Teoricamente, para um mesmo volume corrente, a pressão de pico nas vias aéreas pode não diferir entre os dois modos. Na prática, entretanto à medida que o volume corrente é fornecido durante a ventilação por controle de pressão, diminui a diferença entre a pressão nas vias aéreas e a pressão alveolar, provocando uma redução progressiva na velocidade do fluxo - ao contrário do fluxo constante da ventilação por controle de volume. Esse mecanismo é responsável também pela melhora teórica na distribuição do gás. O fluxo mais elevado e a maior proporção do volume corrente são fornecidos no início da respiração aumentando o tempo disponível para que o gás desloque-se para as regiões de ventilação insuficiente. Diversos estudos realizados com pacientes portadores de hipoxemia grave causada por SARA indicaram que a mudança de ventilação por controle de volume convencional para ventilação por controle de pressão foi associada a um melhor nível de PaO2 e menor concentração de oxigênio na inspiração. 28 A ventilação por controle da pressão é comumente usada com ventilação de relação inversa (lRV) e alguns estudos não diferenciam claramente os efeitos fisiológicos e clínicos de cada aspecto. A IRV é determinada escolhendo-se um tempo inspiratório prolongado (ou tempo expiratório abreviado), de forma que o tempo gasto na inspiração exceda o tempo expiratório. Isto é, a relação I:E varia de 2: I a 4: I e não de 1:2 a 1:4 como na relação convencional. Os defensores da IRV argumentam que o tempo expiratório abreviado aumenta o volume expiratório final, evitando ou reduzindo a atelectasia ao passo que o tempo inspiratório prolongado melhora a distribuição de gás. No entanto, aumentar o tempo em que a pressão positiva é aplicada aos pulmões deveria previsivelmente comprometer o débito cardíaco. A IRV deve ser usada de modo bastante criterioso e apenas em determinados indivíduos portadores de SARA que demonstrem hipoxemia refratária quando submetidos a outras formas de tratamento. A IRV pode também ser usada em conjunto com ventilação por controle de volume mais convencional. Uma desvantagem da IRV é que os pacientes, via de regra, precisam ser medicados com relaxantes musculares ou sedativos de potência média. A ventilação com suporte pressórico (PSV) é o outro tipo principal de ventilação com pressão pré-determinada, o qual fornece ao paciente que esteja respirando espontaneamente uma quantidade selecionada de assistência ventilatória mecânica durante a inspiração. Basicamente, quando o paciente inicia uma inspiração, o ventilador gera uma pressão positiva pré-determinada no circuito ventilatório. Enquanto o paciente estiver inalando ar, a pressão é mantida nesse nível constante; quando o paciente para de inalar, de imediato a pressão cai para o 29 valor inicial. Assim, o esforço inspiratório do paciente é "apoiado" durante toda a inspiração. A pressão de estímulo líquida é igual ao suporte pressórico menos a pressão alveolar (negativa) produzida pelo paciente. O volume corrente é determinado pela pressão de estímulo líquida e a duração da inspiração selecionada pelo paciente. A ventilação com suporte pressórico (PSV) permite que o paciente inspire volumes correntes que não poderiam ser obtidos apenas por seu próprio esforço, embora seja o paciente e não o ventilador, quem determine a velocidade e o volume corrente. A PSV pode ser usada tanto durante o desmame da ventilação mecânica quanto como modo primário de ventilação. As possíveis vantagens durante o desmame são: a possibilidade de os músculos inspiratórios retomarem ao seu comprimento normal, de reduzir a velocidade respiratória (uma vez que o volume corrente é mantido) e de os pacientes conseguirem tolerar o suporte pressórico por um tempo prolongado. Os músculos respiratórios passam por uma pós-carga menor e, conseqüentemente, estão menos propensos a apresentar fadiga muscular precoce. A ventilação com suporte pressórico pode ser usada como modo primário de ventilação em pacientes com pneumopatia de gravidade moderada, que estejam despertos alertas e que tenham estímulo respiratório adequado. A principal vantagem é que a pessoa e o sistema ventilatório quase sempre trabalham em maior sincronia: diversos estudos relataram que os pacientes sentiam menos desconforto e ansiedade quando submetidos a ventilação com suporte pressórico. O nível de ventilação com suporte pressórico é selecionado levando-se em consideração a complacência do sistema respiratório o esforço que o paciente tem de fazer o volume corrente desejado e o volume-minuto bem como a gravidade da 30 doença pulmonar. A pressão pode ser ajustada em 10 a 15 cm H2O como ponto inicial, e o volume corrente e a velocidade medida podem ser usadas como base para decidir se a pressão deve ser aumentada ou diminuída. Um outro método é ajustar o suporte pressórico em cerca de dois terços da pressão do ventilador necessária durante a ventilação mecânica convencional para se atingir um volume corrente de 6 a 8 mL/kg. A pressão da ventilação com suporte pressórico também pode ser ajustada para se obter o volume-minuto desejado ou para fornecer suporte suficiente para inibir as contrações do músculo respiratório acessório. Na ventilação mandatória intermitente (IMV), em geral empregada durante o desmame da ventilação mecânica e, esporadicamente, também como forma de fornecer suporte primário, o ventilador libera volume corrente a uma velocidade fixa pré-determinada. Entre as inspirações fornecidas pelo ventilador, o paciente consegue respirar espontaneamente por meio de um circuito paralelo, em qualquer velocidade, volume corrente ou padrão. Nos ventiladores mecânicos mais modernos, o número de inspirações espontâneas pode ser utilizado com o aumento da pressão inspiratória em combinação com as inspirações fornecidas pelo ventilador. Para fins de desmame, a velocidade do ventilador é reduzida progressivamente à medida que se observa que a velocidade e o volume corrente da respiração espontânea do paciente aumentam. Progressivamente, o paciente assume um maior controle sobre o fornecimento do volume-minuto. Alguns pesquisadores crêem que, como modo primário de suporte, a IMV é particularmente bem tolerada por indivíduos que conseguem, durante as inspirações espontâneas, ajustar seu volume-minuto e sincronizar seu padrão de respiração mais facilmente do que com a ventilação do tipo assistida-controlada, ciclada a volume. Em casos de 31 difícil desmame, o benefício da IMV não é nítido. Não existem estudos que corroborem que a IMV seja superior a outros métodos de desmame. Além disso o circuito de respiração IMV de alguns ventiladores mecânicos pode aumentar o trabalho respiratório. Na ventilação não-invasiva, os dispositivos de assistência ventilatória nãoinvasiva (que variam de ventiladores mecânicos pressão negativa à pressão positiva administrada por meio de máscara nasal ou facial) têm a vantagem de não exigir o uso tubo endotraqueal ou de traqueostomia. Assim, os pacientes não ficam sujeitos às possíveis complicações associadas à entubação, perda dos mecanismos de defesa proporcionados peIas vias aéreas e extubação. Por outro lado, ao contrário do que ocorre quando a ventilação é fornecida por via endotraqueal, modos nãoinvasivos não protegem as vias aéreas nem permitem acesso às secreções respiratórias. Além disso, o escape de ar - comum quando se utiliza esses dispositivos pode ser de difícil identificação e correção , possível de causar um volume corrente ou nível de pressão menor do que o desejado ou esperado. De qualquer forma, à medida em que aumenta o número de experiências com ventiladores não-invasivos (principalmente os dispositivos que fornece pressão positiva), tem ficado claro que tais dispositivos podem ser úteis para determinados pacientes com insuficiência respiratória aguda ou crônica. Na ventilação com pressão positiva, os dispositivos administram pressão positiva às vias aéreas por meio de um circuito nasal ou nasal-oral, com uma válvula sem reinalação próxima ao paciente para minimizar o espaço morto. Atualmente é possível encontrar uma grande variedade de circuitos - que variam de prong nasal a máscara nasal, naso-oral e facial - em diversos tamanhos e formas. A ventilação 32 com pressão positiva pode ser fornecida por certos ventiladores mecânicos convencionais (aqueles capazes de tolerar e compensar os escapes de ar) ou, o que é mais comum, por dispositivos de pressão positiva de dois níveis, desenvolvidos para uso não-invasivo. Os dispositivos mais modernos fornecem pressões mais elevadas e funções de monitorização e alarme mais eficazes o que os torna mais adequados para o tratamento de insuficiência respiratória aguda. O sucesso desses dispositivos em geral, depende da colaboração do paciente e da adaptação perfeita entre o circuito e o dispositivo (máscara), para maximizar o conforto e minimizar o risco de possíveis escapes de ar. Mostram-se mais adequados para sujeitos que não necessitam de assistência ventilatória contínua ou prolongada, uma vez que a pressão pode causar lesões mesmo com máscaras bem adaptadas. Outras possíveis complicações incluem congestão nasal, sinusite, secura nos olhos e distensão gástrica causada pela deglutição de ar. Em comparação com a ventilação mecânica endotraqueal, o uso de métodos não-invasivos aumenta o nível dos cuidados a serem dispensados por enfermeiros e terapeutas respiratórios no início do tratamento (ajuste de máscaras monitorização e regulagens do ventilador). O tratamento de escolha para a maioria dos pacientes que sofre da síndrome da apnéia obstrutiva do sono é o CPAP (Sistema de Pressão Positiva Contínua das Vias Aéreas), porém este sistema pode ser útil também no tratamento de outros pacientes internados em UTI. O sistema CPAP administrado por meio de máscara nasal ou naso-oral pode melhorar a troca gasosa em pacientes com edema pulmonar; tem também a vantagem de reduzir a pós-carga no ventrículo esquerdo e melhorar o débito cardíaco de pacientes com cardiomiopatias congestivas. 33 Embora a aplicação de CPAP possa ser útil para tratar outras causas da insuficiência respiratória (além da apnéia), a assistência ventilatória não-invasiva em geral é mais eficiente quando as pressões inspiratória e expiratória podem ser reguladas de forma independente (p. ex., com os dispositivos de dois níveis). Os dispositivos de pressão positiva das vias aéreas de dois níveis permitem regular de forma independente a pressão inspiratória e a expiratória. Quando operam no modo "espontâneo", tais dispositivos podem ser considerados como similares à pressão de suporte inspiratória fornecida pela PEEP. O fluxo liberado para o circuito do paciente é ajustado automaticamente para manter os níveis de pressão pré-determinados. Como resultado, em geral esses dispositivos conseguem compensar os escapes de ar que inevitavelmente ocorrem nos sistemas que utilizam máscaras. As inspirações iniciadas pelo paciente são "percebidas" como a necessidade de aumentar o fluxo para o circuito do sujeito, que então deflagra o ciclo para o nível IPAP mais elevado. O nível lPAP é mantido até que o fluxo necessário retome ao nível mais baixo quando a pressão retoma para o nível EPAP determinado. O volume corrente real liberado durante uma determinada inspiração dependerá da pressão diferencial (IPAP-EPAP), da complacência do sistema respiratório e da quantidade de esforço inspiratório gerado pelo paciente. Alguns dispositivos oferecem também um modo "cronometrado" (similar à IMV controlada por pressão) e um modo "espontâneo ou cronometrado" (similar à IMV por controle de pressão acrescida de suporte pressórico). No entanto, esses modos, em geral, são menos eficazes para o tratamento de pacientes com insuficiência respiratória aguda. A ventilação não-invasiva também pode ser administrada por meio de máscara nasal ou facial conectada a um ventilador ciclado ao volume convencional, passível de oferecer pressões inspiratórias mais elevadas (os dispositivos de 34 pressão positiva das vias aéreas de dois níveis, em geral, geram uma pressão máxima de 20 a 35 cm H2O) e ter um pouco mais de controle sobre o volume corrente liberado. Ao contrário do que ocorre com a ventilação através de um tubo endotraqueal, porém, a pressão positiva é "percebida" em toda a extensão das vias aéreas superiores, quase sempre reduzindo a tolerância do paciente e aumentando as complicações. Além disso, os escapes do ar inspiratório em geral aumentam proporcionalmente à pressão liberada pela máscara. É quase sempre fornecida a pacientes com apnéia obstrutiva do sono incapazes de tolerar os níveis de CPAP necessários para manter a permeabilidade das vias aéreas, ou àqueles com hipoventilação central superimposta. Para esses quadros, a EPAP deve ser aumentada até que a apnéia obstrutiva seja eliminada e a IPAP seja regulada para cima, conforme necessário, para reduzir ou eliminar as hipopnéias, a dessaturação do oxigênio e o ronco. Esse tipo de ventilação também provou ser útil para determinados pacientes com insuficiência respiratória causada por doença obstrutiva das vias aéreas ou doença pulmonar restritiva. Diversos estudos randomizados, controlados, realizados com portadores de exacerbação aguda de DPOC demonstram que a administração precoce de assistência ventilatória não-invasiva melhora a troca gasosa, os sinais vitais e a dispnéia, além de reduzir a necessidade de se recorrer à ventilação mecânica invasiva. Esses estudos sugerem também que a ventilação mecânica não-invasiva possa reduzir as taxas de morbidade e mortalidade, assim como o número de dias de permanência na UTI e de internação total. O benefício provavelmente diz respeito à assistência inspiratória fornecida pela IPAP e os baixos níveis de EPAP (3 a 6 cm H2O), que reduz a quantidade de contração isométrica dos músculos inspiratórios 35 necessários para sobrepujar a PEEP intrínseca. A ventilação não-invasiva também se mostrou útil para o tratamento da insuficiência respiratória aguda causada por pneumonia e outros distúrbios, com benefícios tais como menores taxas de entubação, menor número de dias de permanência na UTI e redução no número de infecções nosocomiais (em comparação com a ventilação mecânica endotraqueal). Por fim, a ventilação não invasiva pode ser usada para facilitar o desmame da ventilação invasiva, garantindo taxas mais elevadas de desmame total, duração mais curta da assistência ventilatória, menor permanência na UTI e menor taxa de mortalidade num período de 60 dias em comparação com o desmame convencional. Os indivíduos que mais provavelmente podem se beneficiar da ventilação mecânica não-invasiva são aqueles com dispnéia de moderada a grave acompanhada de taquipnéia, utilização do músculo acessório, respiração paradoxal e anormalidades na troca gasosa. Pacientes gravemente doentes bem como aqueles com quantidades excessivas de secreção ou perda de proteção das vias aéreas serão mais beneficiados pelo tratamento com entubação e ventilação mecânica. Além disso, pessoas agitadas ou que não colaboram, bem como aquelas com lesões faciais ou anormalidades que interferem no ajuste da máscara, em geral, não são candidatas à ventilação não-invasiva. Métodos menos comuns de ventilação mecânica em áreas de terapia intensiva são ventilação de alta freqüência, ventilação com pressão negativa e oxigenação extracorpórea por membrana ou eliminação de CO 2. A ventilação de alta freqüência utiliza volumes correntes muito pequenos - às vezes menores do que o volume do espaço morto anatômico - e freqüências respiratórias > 1/s (> 1Hz). 36 O volume corrente é fornecido por um dos diversos meios, que incluem um aparelho gerador de pulsos de alta pressão, uma válvula inspiratória de alta freqüência, ou um oscilador mecânico ou eletromagnético. O mecanismo de deslocamento do gás é desconhecido, embora tenha se estipulado a facilitação da difusão de gás. Há muitos anos, ocorria um interesse considerável por esses ventiladores para o tratamento de insuficiência respiratória hipoxêmica grave, porém os vários estudos clínicos empreendidos não conseguiram demonstrar as vantagens de tais dispositivos. Uma recente revisão do uso da ventilação de alta freqüência em SARA e em lesão pulmonar aguda concluiu que a oscilação da alta freqüência I HFO I é promissora porém por ora deve ser considerada como experimental. A ventilação com pressão negativa pode ser útil para tratamento temporário ou prolongado de alguns pacientes, porém esse modo geralmente é de uso limitado na UTI. O modo de ventilação mecânica e os ajustes a serem usados devem ser decididos em conjunto por clínicos e terapeutas respiratórios, com experiência no tratamento da insuficiência respiratória. 37 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A ventilação mecânica pode ser necessária em neonatos como suporte de vida, mas pode também causar lesão pulmonar e conseqüências a longo prazo, sendo um grande fator de risco para o desenvolvimento da doença pulmonar crônica. A ventilação mecânica inicial em um pulmão prematuro com estratégias ventilatórias diferentes influencia a resposta à lesão. Devido a isso ela deve ser usada no menor tempo possível sendo gentil ao neonato. O uso de surfactantes foi relatado com sucesso pela literatura, no entanto, ainda precisam ser realizados mais pesquisas a respeito das contra-indicações dos mesmos. Os modos de ventilação são diversos, sendo utilizados de acordo com o quadro clínico específico do paciente. As técnicas fisioterapêuticas relacionadas à ventilação mecânica são variadas, mas sempre respeitando os princípios terapêuticos de expiração, inspiração e um posicionamento favorável, proporcionando assim um desmame mais rápido e uma respiração espontânea mais efetiva. 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, L. C.; OLIVEIRA, A. G; COLOMBARI, E; COLOMBARI, D. S. A. Surfactante pulmonar: ontogênese, metabolismo e fisiologia. Caderno UniABC de Fisioterapia, n. 25, p. 51-64, 2000. ARNOLD, J.H.; ANAS, N.G.; LUCKETT, P.; CHEIFETZ, I.M.; REYES, G.; NEWTH, C.J.; KOCIS, K.C.; HEIDEMANN, S.M.; HANSON, J.H.; BROGAN, T.V.; BOHN, D.J. High-frequency oscillatory ventilation in pediatric respiratory failure: a multicenter experience. Crit Care Med, v. 28, p. 3913-3919, 2000. ARNOLD, J.H.; HANSON, J.H.; TORO-FIGUERO, L.O.; GUTIERREZ, J.; BERENS, R.J.; ANGLIN, D.L. 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