VENTILAÇÃO MECÂNICA (VM) A indicação da ventilação mecânica é a presença de insuficiência respiratória grave. A decisão de iniciar a ventilação mecânica é baseada em parâmetros clínicos e de avaliação respiratória funcional. As manifestações clínicas constituem o fator decisivo, sobretudo em pacientes crônicos, onde os valores numéricos não refletem o grau de comprometimento respiratório. *Manifestações clínicas SNC: agitação, cefaléia, tremores e convulsões; Respiração: alteração da amplitude, freqüência, ritmo, expiração prolongada; Ausculta: roncos, sibilos, estertores, ausência de murmúrios vesiculares; Hemodinâmica: arritmia, hipotensão, hipertensão. *Objetivos Reverter a hipoxemia; Tratar a acidose respiratória; Prevenir e tratar atelectasias; Reverter a fadiga dos músculos respiratórios; Permitir sedação ou bloqueio neuromuscular; Diminuir o consumo de oxigênio sistêmico e miocárdico; Reduzir a pressão intracraniana; Estabilizar a parede torácica. Instalação do ventilador O ventilador é ligado às redes de ar comprimido, de oxigênio e á rede elétrica. Antes de utilizá-lo deve-se verificar a montagem do circuito, as conexões, válvulas e tubos. O ventilador mecânico é conectado a um pulmão teste para avaliação final e ajuste dos parâmetros. *Parâmetros: É importante que a enfermeira conheça e acompanhe a evolução do paciente. Após 20 minutos é recomendado verificar os gases sanguíneos arteriais e à luz dos resultados ajustar os parâmetros. Modalidades Ventilação controlada: volume corrente, freqüência e fluxo predeterminados no ventilador mecânico; Ventilação assistida/controlada: a freqüência respiratória é controlada pelo paciente, ou seja, o ciclo é iniciado quando o paciente gera uma pressão negativa alcançando um valor imposto pelo mecanismo de sensibilidade do respirador; volume corrente e fluxo são predeterminados. Caso não haja o esforço do paciente, o ventilador fornece a ciclos controlados; Ventilação mandatória intermitente sincronizados ou SIMV: combina ciclos espontâneos com um determinado o número de ciclos assistidos, portanto sincronizados com o esforço respiratório do paciente; Ventilação com pressão de suporte ou PSV: os esforços inspiratórios espontâneos do paciente são assistidos com uma pressão positiva nas vias aéreas; o paciente controla a freqüência respiratória, o fluxo, o tempo inspiratório e a relação I:E; o paciente deve ter as necessidades ventilatórias estáveis; Pressão positiva contínua nas vias aéreas ou CPAP: o paciente respira espontaneamente dentro do circuito pressurizado do ventilador, uma pressão positiva predeterminada é mantida constante durante o ciclo respiratório. Fração de oxigênio inspirado (FiO2): É usada inicialmente 100%, devendo ser reduzida a um valor necessário para manter uma oxigenação adequada; Volume: É regulado em 6 a 10 ml/kg de peso corporal. Deve-se evitar oxigênio em excesso devido ao risco de lesões pulmonares; Freqüência: Inicialmente 10 a 14 ciclos/min. Mantendo um determinado volume corrente, a freqüência respiratória é ajustada; Fluxo: O fluxo é regulado 5 a 6 vezes o volume/minuto, geralmente abaixo de 40l/min; Relação I:E: É geralmente 1:2. O tempo inspiratório, e consequentemente, a relação I:E podem ser aumentados para melhorar a oxigenação; Sensibilidade: Deve ser regulada no nível mais sensível, sem que haja auto-ciclagem do aparelho, em geral -0,5 a -2 cmH2O de pressão negativa; PEEP: É a manutenção de pressões positivas nas vias aéreas ao final da expiração, após a fase inspiratória ter ocorrido a cargo de um ventilador mecânico. Mantém os alvéolos abertos durante todo o ciclo respiratório. Devido a intubação ou traqueostomia há perda da pressão positiva fisiológica, que deve ser substituída por uma PEEP de 3 a 5 cmH20; Alarmes: Assinalam situações potencialmente perigosas para os pacientes. Os limites de pressão são em geral regulados em 10 cm (pressão mínima) e 40 cm H20 (pressão máxima). Além do alarme disparar, a insuflação é interrompida caso o valor da pressão ultrapasse o valor máximo. *Cuidados relacionados à via aérea artificial Respiração -A aparência geral, a coloração das mucosas e a pele devem ser elementos de observação rotineira do paciente. A cianose periférica é relacionada com a má perfusão. A sudorese é um sinal de alarme e sua causa deve ser avaliada (agitação, febre, edema agudo de pulmão, hipoglicemia); -Observar os movimentos respiratórios: amplitude torácica, ausculta pulmonar, simetria da expansão torácica (pode acontecer assimetria por intubação seletiva, atelectasia, derrame pleural); freqüência respiratória; presença de tiragem intercostal; contração/uso de musculatura acessória; batimento da asa do nariz. Atentar para sincronia entre o ventilador mecânico e o paciente. A assincronia pode ser causada por secreção na via aérea, tubo obstruído, mal posicionamento no leito. A permeabilidade e o posicionamento do tubo traqueal devem ser verificados frequentemente, bem como a quantidade, coloração e viscosidade da secreção aspirada. Avaliação cardiovascular -A VM tem importantes repercussões sobre a função circulatória. A monitorização contínua do ECG é necessária em todos os pacientes. Controles periódicos da PA e da PVC devem ser realizados. Pode ser de forma não invasiva, ou nos casos de pacientes com comprometimento cardíaco ou respiratório importante de maneira invasiva. Controle Neurológico -A observação inclui o nível de consciência, a orientação no tempo e no espaço, sinais neurológicos de midríase e miose, fotorreação das pupilas, reflexo de tosse e córneopalpebral, agitação. A agitação pode ser devido à hipóxia cerebral conseqüente à hipoxemia, distúrbios de ofertas de O2. A depressão da consciência pode ser conseqüência da hipoxemia ou hipercapnia. Função renal -A VM tem repercussões na função renal, com diminuição do débito urinário. Estes efeitos estão ligados a fatores diretos como redução do débito cardíaco e alterações da PA. Um controle rigoroso da diurese deve ser realizado pela equipe, além de balanço hídrico periódico. O peso diário permanece como indicador de retenção ou perda de líquidos; verificar edema. Controle da oxigenação -PaO2: pressão parcial do oxigênio no sangue arterial: medida de O2 dissolvido no sangue arterial (mínimo de 60) -SaO2: é uma porcentagem que exprime a quantidade de oxigênio que a hemoglobina transporta em relação a quantidade que poderia carregar (mínimo de 90 a 92%). A oximetria de pulso é um método não invasivo que permite uma avaliação contínua da saturação em oxigênio da hemoglobina através de sensor colocado no dedo. Umidificação e aquecimento -A umidificação e o aquecimento dos gases inalados são indispensáveis para prevenir e hipotermia, o aumento da viscosidade das secreções e a destruição do epitélio das vias aéreas. A mistura gasosa deve ter uma temperatura de aproximadamente 33ºC, não podendo ultrapassar 37ºC. O umidificador é um acessório que aquece um reservatório contendo H2O e satura os gases em vapor d’agua. Esta água deve ser trocada frequentemente, assim como o circuito que varia de 48 horas à 7 dias. -Outro método de umidificação e aquecimento é a colocação de um umidificador descartável, que devolve na inspiração a água e o calor exalado pelo paciente. Esses permutadores de calor e umidade estão contra indicados no caso de secreção abundante, espessa, hipotermia, perda de volume corrente por fístula ou ao redor do circuito. -Devem ser retirados quando da nebulização e trocados a cada 24 horas ou quando contaminados. Profilaxia de infecção respiratória Pacientes intubados têm risco alto de infecção respiratória. A colonização da orofaringe é importante precursor da pneumonia; a colonização gástrica, o refluxo e a aspiração aumentam o risco para o paciente em VM. A elevação da cabeceira é uma medida profilática simples de aspiração do conteúdo gástrico. Nutrição enteral -É usada sempre que possível. Sumas complicações mais temidas são a aspiração pulmonar e a administração das fórmulas nas vias respiratórias. Verificar a posição correta da sonda é fundamental, assim como administração contínua em bomba de infusão; elevação da cabeceira em 30 a 40º e verificação de 4 em 4 horas de distensão abdominal, de RIH, resíduo gástrico e da posição da sonda. Mobilização -A prevenção de úlceras por pressão e deformidades musculoesqueléticas às quais os pacientes acamados estão suscetíveis devem ser prevenidas. O posicionamento adequado no leito favorece também a expansão pulmonar. A mobilização e as mudanças de decúbito melhoram a higiene brônquica e as atelectasias. Os olhos do paciente em VM necessitam de higienização e cuidados para evitar ressecamento, úlcera ou trauma de córnea. *Complicações associadas à VM Cardiovasculares: redução do débito cardíaco, hipotensão, arritmia, aumento da pressão intracraniana, isquemia cerebral; Infecção: pneumonias, sinusites; Alterações da função renal: retenção de água e sódio; Complicações gastrointestinais: distensão, hipomotilidade gastrointestinal Pulmonares: atelectasia, edema pulmonar, barotrauma, lesão por toxicidade do oxigênio