XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. AMITRAZ – ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS BULAS DO FÁRMACO E A LITERATURA CONSULTADA Jéssica Martins de Andrade1, Mayara Costa de Medeiros2, Rafaela de Melo Tavares², Soraia Alves Buarque², Mariana Lumack do Monte Barretto², Daniela Maria Bastos de Souza³, George Chaves Jimenez4 Introdução O amitraz foi sintetizado na Inglaterra, no ano de 1969, sendo considerado até os dias atuais o princípio ativo mais utilizado no grupo das formamidinas, principalmente no Brasil, pois é o único aprovado para o uso na formulação de inseticida para uso animal. Possui um amplo espectro, apresentando uma ótima ação sobre os artrópodes, de um modo geral. Em caninos, ruminantes e suínos, é utilizado como carrapaticida, sarnicida, piolhicida e pulicida (Adams, 2003; Andrade, 2008; Spinosa et al., 2006). A composição do amitraz comercializado para caninos é de 12,5 g para cada 100 mL (Bula Amitraz 12,5% Biovet, 2012) e para ruminantes e suínos é de 25 g para cada 100 mL (Bula Amitraz 25% Biovet, 2012). Para cães, é indicado apenas para uso externo, sendo sua diluição, com o objetivo de atuação como carrapaticida, de 2 mL de amitraz 12,5% para 1 L de água. Já para a combate da sarna demodécica ou sarcóptica é indicada na diluição de 4 mL de amitraz para 1 L de água. O intervalo de aplicação para a sarna demodécica deve ser semanal, com três aplicações no mínimo. Para a sarna sarcóptica, deve-se realizar uma segunda aplicação após duas semanas (Bula Amitraz 12,5% Biovet, 2012). Em bovinos, é aplicado através da pulverização, diluindo-se 1 mL de amitraz 25% para cada litro de água, utilizando-se em adultos o mínimo de 5 mL em cada diluição. Em ovinos e suínos, deve-se diluir 2 mL de amitraz 25% para cada litro de água (Bula Amitraz 25% Biovet, 2012). Quanto maior o grau da lesão e inflamação da pele, mais elevada é a absorção do amitraz, sendo esta menor na pele íntegra. Pela via oral, é hidrolizado de forma rápida no compartimento estomacal, devido a sua instabilidade em meio ácido. A biotranformação ocorre no fígado e seus metabólitos são excretados na urina e na bile (Spinosa et al., 2006). O mecanismo de ação não está totalmente esclarecido, no entato sabe-se que em larvas de carrapato, ele penetra rapidamente, na forma de amitraz ou do seu metabólito ativo o N-2,4- dimetil-fenil-N’-metilformamidina, inibindo a enzima mitocondrial monoaminoxidase (MAO) (Adams, 2003; Spinosa et al., 2006), responsável pela ação catalisadora no processo de desaminação de catecolaminas, gerando um aumento dos níveis de noradrenalina e serotonina no sistema nervoso central. Também foi observada sua ação direta em canais de sódio da membrana nervosa, ação inibidora sobre a síntese das prostaglandinas e agonista em receptores α-adrenérgicos. Nas teleóginas, o amitraz inibe a liberação dos ovos, impedindo a contração da musculatura genital (Spinosa et al., 2006). Nos artrópodes em geral, as formamidinas agem como agonistas da octopamina, sendo este um neurotransmissor excitatório presente no sistema nervoso periférico dos insetos, ligando-se aos seus receptores e elevando o estado de excitação do organismo-alvo. As formamidinas também possuem uma importante ação como disrruptores comportamentais, condição fundamental no controle de ácaros, lagartas e carrapatos (Andrade, 2008). É contraindicado para animais portadores de diabetes mellitus (Bula Amitraz 12,5% Biovet, 2012; Spinosa et al., 2006), pois interfere no metabolismo da glicose e da insulina ou sob medicação com outros inibidores da MAO (Spinosa et al., 2006). Por causar, em equinos, redução da motilidade intestinal que resulta em sinais de cólica compatíveis com compactação e timpanismo, devido a inibição do peptídeo conhecido como substância “P”, portanto seu uso não é indicado nessa espécie (Spinosa et al., 2006). Os subprodutos gerados pela hidrólise do amitraz são mais tóxicos, justificando a necessidade de utilizá-lo logo após a preparação do mesmo (Bula Amitraz 12,5% Biovet, 2012; Bula Amitraz 25% Biovet, 2012; Spinosa et al., 2006). Solventes orgânicos, nos quais o produto é diluído, favorecem o aumento da absorção, elevando assim os efeitos tóxicos (Spinosa et al., 2006), já que é um composto muito lipossolúvel e de rápida absorção pela pele e mucosas, tornando-o altamente perigoso para animais e seres humanos (Andrade, 2008). O amitraz concentra-se na pele, fígado, olhos, bile, rins, cerebelo, pulmões, baço e gônadas (Andrade, 2008). Durante uma intoxicação, o amitraz atua principalmente como agonista α2-adrenérgico, com baixa ação inibitória da MAO. Além de envolver a inibição da síntese de prostaglandinas. Perifericamente, estimula os receptores α1adrenégicos, gerando uma vasoconstrição (Andrade, 2008). 1 Primeiro Autor é discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, CEP 52171-900, Recife, Pernambuco. E-mail: [email protected] 2 Segundo Autor é discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, CEP 52171-900, Recife, Pernambuco. 3. Terceiro Autor é Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos. CEP 52171-900, Recife, Pernambuco. 4. Quarto Autor é Professor Associado do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos. CEP 52171-900, Recife, Pernambuco. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Os sinais clínicos devido ao agonismo α2-adrenérgico são observados pela preseça de sedação, letargia, incoordenação motora, midríase, prolapso da terceira pálpebra, hipotermia e vocalização. Além de bradicardia, hipotensão, bloqueio atrioventricular, bradipnéia, êmese, sialorréia, impactação intestinal e poliúria (Andrade, 2008). Em cães, após a aplicação do amitraz, podem surgir eritema, hemorragia e prurido, sendo o último causado pela presença de parasitos mortos na pele (Spinosa et al., 2006). O tratamento, em caso de intoxicação, deve ser sintomático, sendo necessário banhar o animal; como também recomendado o uso de iombina na concentração de 2 mg/mL e dose de 0,1 mg/Kg ou de atipamezole na concentração de 5 mg/mL e dose de 0,2 mg/Kg, ambos por via intravenosa (Spinosa et al., 2006). Deve-se também realizar um tratamento de suporte através de fluidoterapia, acidificação da urina com cloreto de amônio ou ácido ascórbico, além de aquecimento do animal em caso de hipotermia e controle das bradiarritmias utilizando atropina, quando houver necessidade (Andrade, 2008). Objetivou-se com este trabalho realizar uma análise comparativa entre as informações, sobre o fármaco amitraz, presente nas bulas pesquisadas e na literatura especializada. Material e métodos As informações sobre o fármaco amitraz, foram obtidas através de duas bulas, uma para animais de grande porte e outra específica para caninos, ambas provenientes de medicamentos comercializados por laboratório nacional. Também foi utilizada como fonte de pesquisa a literatura especializada sobre o medicamento, bem como livros e artigos científicos, possibilitando assim a realização de uma análise comparativa entre as informações presentes nas bulas e na literatura. O foco principal das pesquisas sobre o amitraz envolveu algumas de suas principais características, dentre elas a composição, as doses recomendadas, o mecanismo de ação, as restrições do seu uso, os efeitos adversos, as contraindicações, as recomendações referentes ao seu armazenamento e uso e, por fim, as orientações em situações, nas quais ocorram casos de intoxicação do animal. Resultados e Discussão Inicialmente é importante assinalar que o nome comercial dos produtos, bem como do fabricante foram omitidos na intenção de se preservar a idoneidade do mesmo uma vez que a intenção deste trabalho foi de chamar atenção para os desencontros informacionais ocorridos na dimensão técnica; que muitas vezes afeta de forma significativa a transposição de informações em circunstâncias de ensino e aprendizagem, como também no treinamento de profissionais que visam a aplicação técnica do produto. Ao se realizar uma análise da literatura consultada e das informações disponibilizadas pelas bulas, foi percebida uma ausência de dados relacionadas à necessidade de repetir a aplicação do fármaco, pois nas bulas pesquisadas, apenas aquela referente a caninos citava possíveis repetições da mesma dosagem aplicada inicialmente, de acordo com o tipo de parasito, o qual deve ser eliminado (Bula Amitraz 12,5% Biovet, 2012). Com relação à presença de registros sobre repetição da dose terapêutica do fármaco, não foi possível identificá-los, nas fontes consultadas. Encontrou-se uma divergência relacionada à concentração do amitraz, já que a concentração indicada na bula para ruminantes e suínos é de 25% (Bula Amitraz 25% Biovet, 2012), sendo esta o dobro da indicada para caninos, a qual é de 12,5% (Amitraz 12,5% Biovet, 2012), no entanto a literatura indica uma mesma concentração de 12,5% para todas as espécies citadas anteriormente (Spinosa et al., 2006). Outra divergência de informações observada, foi a indicação da administração de amitraz por via oral citada na literatura (Spinosa et al., 2006), entretanto ambas as bulas analisadas indicaram apenas o uso tópico do mesmo (Bula Amitraz 12,5% Biovet, 2012; Bula Amitraz 25% Biovet, 2012). É válido ressaltar que a aplicação de amitraz em equideos não é recomendada, pois ele pode causar depressão do sistema nervoso central, ataxia, diminuição da motilidade intestinal, gerando impactação do intestino grosso. Apesar dessas condições, segundo Duarte et al. (2003) o fármaco continua sendo aplicado em equideos, utilizando-se a dose terapêutica apropriada para ruminantes. Apesar de não haver indicação, na literatura e na bula, para a administração de amitraz em felinos domésticos, estudos revelam que é viável sua utilização, por via tópica, em concentração terapêutica, em gatos hígidos, sendo esta uma alternativa eficaz no tratamento da escabiose e da demodicose felina; no entanto o seu uso é contraindicado para felinos diabéticos, com problemas cardíacos ou de hipotermia (Andrade, 2008). Estudos recentes têm indicado o uso do amitraz, através da via epidural, em bovinos, em uma dose de 0,4 mg/Kg associado com o dimetil sulfóxido, com a finalidade de aumentar a latência da resposta a um estímulo nociceptivo térmico, sem gerar severos efeitos colaterais (Almeida et al., 2005). Outros autores têm sugerido a administração epidural, em equinos, diluído em emulsão lipídica, promovendo sedação, miorrelaxamento e antinocicepção, com mínimas alterações cardiorrespiratórias (Guirro et al., 2009). Em linhas gerais, percebe-se um certo desencontro de informações entre bulas e literatura, que acreditamos poder ser minimizado a partir do momento em que sejam estimulados encontros entre a academia, produtores e fabricantes de produtos de interesse comercial, a fim de puder ajustar o conhecimento e servirá de base para nortear as ações no âmbito das aplicações técnicas junto aos proprietários dos animais. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Referências Amitraz 12,5%. São Paulo: Biovet, 2012. Bula de remédio. Amitraz 25%. São Paulo: Biovet, 2012. Bula de remédio. Adams, H.R. Farmacologia e Terapêutica em Veterinária. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2003, 858p. Almeida, R. M.; Valadão, C. A. A.; Farias, A.; Duque, J. C. M.; Souza, A. H. Avaliação dos efeitos do amitraz por via epidural em vacas. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. v. 42, n. 6, 2005, p. 419-428. Andrade, S. F; Laposy, C. B.; Cardoso, C. S.; Sakamoto, K. P.; Motta, Y. P. Uso tópico do amitraz em concentração terapêutica em gatos. Revista Ciência Rural. v. 37, n. 4, 2007, p. 1027-1032. Andrade, S. F. Manual de terapêutica veterinária. São Paulo: Editora Rocca, 2008, p. 638-640. Duarte, M. D.; Peixoto, P. V.; Bezerra Júnior, P. S.; Olveira, K. D.; Loretti, A. P.; Tokarnia, C. H. Intoxicações natural e experimental por amitraz em eqüídeos: aspectos clínicos. Revista Pesquisa Veterinária Brasileira. v. 23, n. 3, p. 105-118, 2003. Guirro, E. C. B. P.; Roberto Sobrinho, G.; Ferreira, I. M. M.; Valadão, C. A. A. Injeção epidural preventiva de xilazina ou amitraz, em eqüinos: efeito antinociceptivo. Revista Ciência Rural. v.39, n.1, 2009, p.104-109. Spinosa, H.S.; Górniak, S.L.; Bernardi, M.M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2006, p. 572-576.