XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL DISTRIBUIÇÃO ECOLÓGICA DO CARANGUEJO ARANHA Libinia spinosa (CRUSTACEA: DECAPODA: MAJOIDEA) NO LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. Jeniffer Natália Teles; Aline Nonato de Sousa; Camila Hipolito Bernardo; Thiago Elias da Silva; Israel Fernandes Frameschi; - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Botucatu, Departamento de Zoologia, Botucatu, SP. [email protected] Vivian Fransozo - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Departamento de Ciências Naturais, Vitória da Conquista, BA. INTRODUÇÃO O zoneamento da fauna em habitats marinhos não-consolidados, está relacionado com diversos fatores físicos e biológicos, que oscilam entre diferentes áreas. De acordo com Borg & Schembri (1999) as variações na composição das comunidades bentônicas estão associadas com o gradiente de profundidade. Os organismos marinhos que se instalam em áreas com condições ambientais favoráveis têm uma desenvoltura morfofisiológica mais eficiente, estando melhores adaptados para comportamentos típicos da espécie, além de defesa contra a predação (Pinheiro et al. 1996). Uma das variáveis que são consideradas de extrema importância na distribuição de espécies de organismos marinhos, por exemplo para os crustáceos bentônicos é a textura de sedimentos, podendo pode favorecer ou limitar a presença de muitas destas espécies, pelo fato do comportamento de se enterrar (Abele1974). O caranguejo de aranha Libinia spinosa (Milne-Edwards, 1834) é encontrado do Espirito Santo (Brasil) até Chubut (Argentina) (Melo, 1996). Na região sudeste do Brasil é muito abundante nas águas costeiras, e tem um papel importante na cadeia trófica marinha, e é um dos crustáceos capturado como fauna acompanhante da pesca de camarões no litoral norte do estado de São Paulo (Bertini & Fransozo, 2004). Mesmo com sua representatividade, são escassos os estudos acerca da distribuição espacial e temporal de Libinia spinosa. OBJETIVO O objetivo do presente estudo foi analisar a distribuição espaço-temporal de Libinia spinosa, assim como a relação da espécie com os fatores ambientais em diferentes profundidades, na região de Ubatuba, litoral norte de São Paulo. MATERIAL & MÈTODOS Mensalmente, durante o ano de 2000, os indivíduos foram coletados nas profundidades de 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40 metros, na região de Ubatuba, com o auxílio de um barco de pesca comercial, equipado com duas redes do tipo “double-rig. Amostras de água de superfície e fundo foram coletadas para mensuração dos parâmetros ambientais de cada área durante o período de estudo, como temperatura de fundo e superfície, salinidade, composição granulométrica do sedimento e teor de matéria orgânica. O sexo foi determinado através da análise da morfologia abdominal. No caso das fêmeas, a presença de ovos nos pleópodos também foi verificada. Os animais foram separados em machos, fêmeas e fêmeas ovígeras. Análises de variância (Kruskal-Wallis test) foram utilizada para a comparação das variáveis ambientais, assim como a abundância dos espécimes. Correlações de Spearman foram realizadas a fim de avaliar possíveis relações entre variações de fatores ambientais (temperatura, salinidade, textura do sedimento, tamanho médio do grão e matéria orgânica) com abundancia dos indivíduos. 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL RESULTADOS Foram capturados um total de 363 indivíduos, sendo 181 machos, 148 fêmeas e 34 fêmeas ovígeras. A maior abundancia foi registrada durante as estações do verão e outono, para ambos os sexos. Em relação a distribuição espacial, a espécie ocorreu a partir dos 15 metros, com maior abundancia na profundidade de 25m. Na relação com os fatores ambientais a maior relação foi observada com significância para a temperatura de fundo e o tamanho médio do grão (r > 0.50; P < 0.05), seguido pela salinidade. DISCUSSÃO Os resultados do presente estudo indicam que o padrão de distribuição espaço-temporal está principalmente relacionado com as características sedimentológicas. Em enseadas, com condições abrigadas, as partículas de silte + argila, e de sedimentos mais finos se depositam, caracterizando a região até os 25 metros, onde L. spinosa foi mais capturado, justificando a forte relação com o tamanho médio do grão. Tal fato, já foi relatado nos estudos com caranguejos efetuados por Bertini & Fransozo (2004) em condições abrigadas. As variações ambientais temporais observadas neste estudo são justificadas pela influência da entrada da massa de agua chamada Água Central do Atlântico Sul (ACAS), principalmente durante o verão, na qual L. spinosa apresentou maior ocorrência. A abundância de crustáceos nesta região está diretamente ligada a intensidade desta massa de água (Pires-Vanin, 1993). CONCLUSÃO A distribuição de L. spinosa oscilou entre as estações e profundidades amostradas. Os indivíduos destacaram-se durante o verão, e na região de entrada da enseada (25 m), onde podemos inferir que estes estão relacionados aos fatores ambientais, tais como temperatura e tipo de sedimento. REFERÊNCIAS Abele, L.G. 1974. Species diversity of decapod crustaceans in marine habitats. Ecology, 156-161. Bertini, G. & Fransozo, A. 2004. Bathymetric distribution of brachyuran crab (Crustacea, Decapoda) communities on coastal soft bottoms off southeastern Brazil. Marine Ecology Progress Series, 193-200. Borg, J.A. & Schembri, P.J. 1999. Bathymetric distribution of decapods associated with a Posidonia oceanica meadow in Malta (Central Mediterranean). In: Klein J.C.V.V. & Schram, F.R. (eds) The biodiversity crisis and crustacea. Crustacean Issues Vol. 12, AA Balkema, Rotterdam, p 119–130. Melo, G.A.S. 1996. Manual de identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. Plêiade/FAPESP Ed., São Paulo. Pinheiro, M.A.A.; Fransozo, A. & Negreiros-Fransozo, M.L. 1996. Distribution patterns of Arenaeus cribrarius (Lamarck,1818) (Crustacea, Portunidae) in Fortaleza Bay, Ubatuba (SP), Brazil. Revista Brasileira de Biologia, 56:705–716. Pires-Vanin. A.M.S. 1993. A macrofuna bêntica da plataforma continental ao largo de Ubatuba, São Pauo, Brasil. 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Publicação esp. Inst. Oceanogr. (10):137-158. 3