TRATAMENTO E EVOLUÇÃO DA DEMODICOSE CANINA – RELATO DE CASO Taiane Maria de Lima Rodrigues, Pedro Henrique Galvão Pacheco 2, Paulo Víctor Rodrigues de Azevedo Lima ², Bárbara Nogueira da Silva ², Manoela Passos Côrreia Santa Cruz ², Maria Virgínia de Freitas Barbosa Lima ², Michelle 4 4 Suassuna de Azevedo Rêgo ³, Marília Aragão de Sousa Ferreira ³, Eduardo Ferreira Cole , Evilda Rodrigues de Lima Introdução A demodicidose canina é uma dermatose primária causada pela excessiva proliferação do Demodex canis, ácaro comensal da pele normal, decorrente de quadro herdado de imunodepressão mediada celularmente DELAYTE [1] Geralmente os ácaros habitam os folículos pilosos, mas também tem sido encontrados em glândulas sebáceas e apócrinas adjacentes HARVEY [2]. A demodicidose pode ser classificada segundo sua distribuição corpórea (localizada ou generalizada) e faixa etária de ocorrência das primeiras manifestações (juvenil ou adulta) SCOTT [3]. O curso e prognóstico dos dois tipos são amplamente diferentes. A demodicidose localizada ocorre como uma a diversas áreas de alopecia, pequenas, eritematosas, circunscritas, escamosas, pruriginosas ou não, mais comumente na face e nas pernas dianteiras. O curso é benigno e a maioria dos casos resolve-se espontaneamente MEDLEAU [4] porém pode ser feito o tratamento aplicando-se um gel de peróxido de benzoíla 2,5%, nas áreas alopécicas, uma vez ao dia SCOTT [3] A demodicidose generalizada é a forma mais grave da doença, e se apresenta como uma dermatite crônica com liquenificação, descamação, formação de crostas, hiperpigmentação, piodermatite severa e alopecia, cobrindo grandes áreas do corpo, mas o estabelecimento dessa patologia é rara em adultos. Em cães mais idosos, as desordens imunossupressoras podem aumentar a suscetibilidade a esta dermatopatia MEDLEAU [4]. A demodicidose generalizada é considerada uma das mais severas doenças de pele canina e fequentemente envolve infecções bacterianas secundarias MUELLER [5] PARADIS [6]. O diagnóstico positivo pode ser realizado basicamente através da observação de raspados cutâneos em lâmina de microscopia, com aumento de 40X e 100X. A pele afetada, previamente depilada, deve ser comprimida para facilitar a extrusão dos ácaros dos folículos pilosos, e o raspado deve ser feito com lâmina de bisturi, umedecida com óleo mineral. O movimento de raspagem deve ser feito na direção do crescimento dos pêlos, friccionando a lâmina de bisturi com força leve a moderada contra a pele, até que haja sangramento do local determinando procedimento profundo e extenso SCOTT [3]. Ao raspado profundo se faz necessário para atingir os ácaros que se encontram nos folículos e glândulas as áreas extremamente frágeis devem ser evitadas porque a hemorragia resultante geralmente torna difícil a interpretação dos resultados SCOTT [3]. O diagnóstico pode ser confirmado pela demonstração de grande quantidade de ácaros adultos ou pela observação de formas imaturas (ovo, larvas e ninfas), em maior quantidade em proporção aos adultos. A avaliação de hemograma de cães apresentando demodicidose generalizada mostra que mais de 50% destes animais apresenta anemia normocítica ou normocrômica arregenerativa. SCOTT [3]. O uso de amitraz tópico é o tratamento mais indicado, entretanto, nem sempre efetivo e bem tolerado. Como alternativas terapêuticas às situações de insucesso no tratamento com o amitraz, novas drogas têm sido preconizadas para a terapia de casos de demodicidose generalizada, tais como ivermectina, milbemicina oxima, moxidectina e lufenuron PARADIS [6]. Esteróides sistêmicos nunca devem ser usados no tratamento da sarna demodécica, pois seus efeitos imunossupressores exarcebam a infestação HARVEY [2]. O trabalho teve como objetivo relatar de tratamento em cão com sarna demodécica, tendo em vista a importância das dermatopatias para o bem estar animal. Material e métodos Foi atendida no Hospital Veterinário da UFRPE, uma cadela, sem raça definida, de aproximadamente 2 anos, 5,100 Kg, que estava abandonada nas ruas. De acordo com o exame dermatológico, foram evidenciados pele espessa com hiperpigmentação, ________________ 1. Estudante de Graduação em Medicina Veterinária , Departamento de Medicina Veterinária,Universidade Federal Rural de Pernambuco.Rua Dom Manuel de Medeiros,s/n.CEP5214-900,Recife-PE.E-mail:[email protected] 2. Estudantes de Graduação em Medicina Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel Medeiros, s/n.CEP5214-900 3. Residentes em clínica médica de pequenos animais do Hospital Veterinário, Departamento de Medicina veterinária, Universidade Federal de Pernambuco.Rua Dom Manuel Medeiros,s/n.CEP5214-900,Recife-PE 4. Professores Adjuntos do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros,s/n.CEP5214-900 descamação, alopecia extensa em diversas áreas, lesões úmidas e hemorrágicas. Tais lesões localizavam-se principalmente no dorso, região cervical e patas. Realizou-se raspado de pele profundo, onde foram visualizados ácaros Demodex canis em grande quantidade em todas as áreas avaliadas. O tratamento foi realizado com a administração oral de Ivermectina 0,5/kg/VO/SIF/30 dias. Banhos com Peróxido de benzoíla 2,5 % e Cefalexina 30 mg/kg/VO/BID/20dias. Resultados e Discussão Os sintomas observados no animal foram: animal estava caquético, apático, com aumento dos linfonodos mandibulares e edema de face, estando o restante dos padrões dentro do limite fisiológico. No exame específico dermatológico foram observadas lesões inflamatórias intensas, presença de eritema, alopecia, crostas, escoriações, pústulas e drenagem de exsudato generalizados. Como exames complementares o hemograma resultou em leucocitose com neutrofilia e no raspado de pele foi observado formas jovens e adultas do Demodex canis. O paciente foi medicado com cefalexina (25mg/kg) por via oral a cada 12 horas por 30 dias e também foi administrado Ivermectina 0,5/kg/VO/SID/30 dias. Ivermectina 0,5/kg/VO/SIF/30 dias. O raspado de pele foi repetido no trigésimo dia de tratamento com resultado ainda positivo. Após 60 dias de tratamento fez-se 3 raspados consecultivos com intervalo de 15 dias entre eles e todos deram negativos. O animal recebeu alta e foi adotado. Após dois meses de tratamento o animal não apresentava mais as lesões decorrentes da infecção secundária e o pêlo já estava crescendo. Apesar de o tratamento ter sido eficiente, pode haver recidivas, já que a doença ocorre devido à resposta celular imunológica anormal que permite a proliferação descontrolada dos ácaros na pele. Neste trabalho chamamos a atenção para a importância dos raspados de pele em todos os casos de dermatopatias cutâneas, além da realização de exames complementares para avaliação do comprometimento de nosso paciente. Agradecimentos Antes de tudo a Deus, a todos que contribuíram direta e indiretamente para a realização deste trabalho, a Profª. Evilda Rodrigues de Lima, ao Prof. Eduardo Cole,a residente Michele Suassuna, e,em especial a residente Marília de Aragão Sousa Ferreira, pela ajuda, paciência e dedicação em todos os momentos ao decorrer deste trabalho. Referências . [1] DELAYTE E. H.; OTSUKA M.; LARSSON, C.E.; CASTRO, R.C.C. Eficácia das lactonas macrocíclicas sistêmicas (ivermectina e moxidectina) na terapia da demodicidose canina generalizada. Arquivo Brasileiro de Medicina Vetererinária e Zootecnia. Belo Horizonte vol.58 no.1 Feb. 2006 Manual [2] HARVEY, R.G; MCKEEVER P.J. colorido de Dermatologia do cão e do Gato – Diagnóstico e 206-209 [3] SCOTT, D.W.; MILLER, W.H.; GRIFFIN, C.E. Müller & Kirk: Dermatologia de pequenos animais. 5a ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. 1130p. [4] MEDLEAU, L.; WILLEMSE, T. Efficacy of daily amitraz therapy for refractory, generalized demodicosis in dogs: two independent studies. J.Am. Anim. Hosp. Assoc., v.31, p.246-249, 1995. [5] MUELLER, G.H. Amitraz treatment of demodicosis. J. Am. Anim. Hosp. Assoc., v.19, p.1426-1429, 1983. [6]PARADIS, M. New approaches to the treatment of canine demodicosis. Vet. Clin. North Am.: Small Animal Practice, v.29, p.1425-1436, 1999. .