PACIENTES COM ÚLCERA POR PRESSÃO INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA E SUA RELAÇÃO COM O SUPORTE E ESTADO NUTRICIONAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA Caroline Severo de Assis; Tainá Gomes Diniz; Luciana Vaz Martinez Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, [email protected], [email protected] RESUMO: Úlcera por pressão (UPP) relaciona-se a uma lesão na pele ou tecidos subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea, resultante de pressão isolada ou pressão combinada com fricção ou cisalhamento. Inúmeros fatores contribuintes podem também estar associados ás úlceras por pressão, tais como o tempo prolongado de internação, a má nutrição, peso inadequado, manejo incorreto de paciente, idade superior a 65 anos é fator de risco, assim como a não cicatrização de feridas. O diagnóstico prévio da úlcera por pressão auxilia em efetuar medidas cabíveis para que o tratamento seja iniciado precocemente, aumentando a chances de progressão do indivíduo para um bom quadro clínico geral. Em grande parte da literatura consultada, mencionou-se a ingesta de proteína como sendo um fator importante no tratamento de úlceras por pressão, tendo sido evidenciado a melhora do quadro clínico de pacientes que consumiam a quantidade adequada de tal macronutriente. Os indicadores bioquímicos do estado nutricional são representados por pré-albumina, albumina sérica, proteínas totais, colesterol total, triglicerídeos, creatinina e a contagem de linfócitos totais. E os indicadores antropométricos de má-nutrição referem-se ao peso corporal (inferior a 80% do peso ideal para cada indivíduo), índice de massa corporal (IMC< 17,6±4,6), prega tricipital (PT <3mm nas mulheres e < 2,5mm nos homens). De tal forma, ao evidenciar-se que um paciente apresente úlcera por pressão ou indícios de seu aparecimento, deve ser acompanhado por equipe multiprofissional, a fim de otimizar seu tratamento e ofertar melhores chances de progressão e de sobrevida. Palavras-chave: Úlcera por pressão, terapia nutricional, desnutrição. (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br Esta identificação é alcançada por meio da INTRODUÇÃO O termo úlcera por pressão (UPP) é definido como sendo uma lesão localizada na pele e/ou no tecido ou estrutura subjacente a estes, geralmente sobre uma proeminência óssea, resultante de pressão isolada ou de pressão combinada com fricção e/ou utilização de instrumentos de avaliação específicos para o problema, como as escalas de risco. Entretanto, o valor preditivo de um teste diagnóstico, ou escala de risco, depende da prevalência da condição na população alvo. Assim, em altos níveis de prevalência, aumenta a probabilidade de um teste positivo cisalhamento (ROLIM JA, et. al, 2013) predizer melhor a condição de tal indivíduo Pacientes submetidos a cuidados (SMITH LN, et.al..2011). intensivos apresentam, geralmente, alto risco Existem algumas escalas preditivas para desenvolver úlceras por pressão devido a limitações ambientais e psicobiológicas, tais como a instabilidade hemodinâmica, restrição de movimentos por período prolongado de tempo, cuidado indevido com a posição do paciente e uso de drogas sedativas e analgésicas, as quais diminuem a percepção sensorial e prejudicam a mobilidade desenvolvidas para avaliação e identificação de pacientes em risco de desenvolver úlcera por pressão (Aguiar JM, Paiva SS, 2013). Na escolha de um método de avaliação de risco, alguns requisitos devem ser levados em consideração, tais como eficácia, alta sensibilidade e especificidade, facilidade de aplicação do instrumento de medida e (GOMES, et al., 2011). presença de critérios claros e definidos O fator idade é considerado um (GOMES, et al., 2011). indicador de risco para UPP, principalmente Atualmente, em pacientes com 65 anos ou mais. A não cicatrização de feridas afeta de três a seis milhões de pessoas com essa idade, e representa 85% desse evento (GUO e DIPIETRO, 2010). Estes pacientes representam um grupo prioritário para o estudo e identificação da ocorrência dessas úlceras, por serem habitualmente mais suscetíveis a desenvolver tal comorbidade. conhecidas são a de www.conbracis.com.br escalas Norton, mais Gosnell, Waterlow e Braden. Esta última, de origem estadunidense, criada em 1987, passou por validação e adaptação para a língua portuguesa, foi adaptada também à população pediátrica na versão Braden Q, e tem sido a mais utilizada e extensivamente testada até o momento (Paranhos WY, Santos VLCG, 2008), (83) 3322.3222 [email protected] as pois é a melhor definida operacionalmente e demonstrou ter maior hipoperfusão tecidual, a otimização do estado sensibilidade e especificidade que as outras geral e nutricional do paciente, e cuidados escalas, já que por meio dela são avaliados locais da úlcera por pressão. Uma das seis fatores de risco (sub-escalas) no paciente abordagens terapêuticas para a UPP é a (Pancorbo-Hidalgo PL, et al., 2008). otimização do estado geral e nutricional do Sendo este um agravante para pacientes críticos, se faz necessário que haja o cuidado nutricional intensivo com tal público, evidenciando-se um possível prognostico para o individuo associando os cuidados médicos com os nutricionais (Paranhos WY, Santos indivíduo (SANT’ANA, SMSC, 2012). A estabilidade e hemodinâmica do enfermo é fundamental para otimizar a perfusão e oxigenação tecidual, essenciais para a cicatrização (CASTRO, 2011). Critérios antropométricos e bioquímicos VLCG, 2008). clínica de má- -nutrição estão associados a um aumento da incidência e METODOLOGIA gravidade das úlceras de pressão, relacionados Foram pesquisados artigos científicos publicados nos últimos cinco anos a partir de consultas ao setor de periódicos de bibliotecas, medline e biblioteca virtual de saúde. Utilizaram-se também livros-textos recentes, considerando a relevância e o valor informativo do material e alguns artigoschave selecionados a partir de citações em diretamente internação com e o maior período de taxas de recomendações da diminuição das sobrevida (SILVA, 2011). Segundo Organização as Mundial da Saúde, para avaliação física dos pacientes são aferidas as Pregas Cutâneas Tricipital (PCT), Bicipital (PCB) e Subescapular (PCSE) com uso de um adipômetro; e as Circunferências de Braço outros artigos. (CB) e Panturrilha (CP) com fita métrica flexível e inelástica, de 150cm de extensão e DESENVOLVIMENTO Uma precoce e regular estratificação do risco de desenvolver uma úlcera por pressão é fundamental para a aplicação de medidas preventivas adequadas e para a implementação de uma estratégia terapêutica em tempo hábil. Esta inclui métodos para redução de fatores predisponentes (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br à 0,1cm de precisão (CAMPOS et al., 2010). Os indicadores bioquímicos do estado nutricional são representados por pré- albumina, albumina sérica, proteínas totais, colesterol total, triglicerídeos, creatinina e a contagem de linfócitos totais. E os indicadores antropométricos de má-nutrição referem-se ao peso corporal (inferior a 80% devendo-se ressaltar algumas causas dessa do peso ideal para cada indivíduo), índice de diminuição como a persistente falta de apetite, massa corporal (IMC< 17,6±4,6), prega a incapacidade de mastigação e/ou deglutição tricipital (PT <3mm nas mulheres e < 2,5mm e as restrições alimentares impostas pelo nos homens). tratamento (ELIAS CMV, 2014). A Terapia Nutricional Enteral (TNE) O estado nutricional deficiente é um utiliza alimento especialmente formulado, dos primeiros fatores que interferem no industrializado ou não, empregado exclusivo aparecimento da UPP e pode acarretar anemia ou e parcialmente para substituir ou redução de oxigênio aos tecidos, complementar a alimentação, conforme as contribuindo assim para a diminuição a necessidades nutricionais do paciente, e tem tolerância tissular á pressão. As úlceras por por objetivo a síntese ou manutenção dos pressão desenvolvem-se mais rapidamente e tecidos, órgãos ou sistemas (MINISTERIO são mais resistentes ao tratamento em DA SAÚDE, 2013). indivíduos que apresentam distúrbios nutri- Com o objetivo de prevenir e tratar as cionais. A desnutrição interfere com a UPP, foram desenvolvidos comercialmente cicatrização diversos TNE suscetibilidade do indivíduo à infecção e (suplementação nutricional oral, via sonda contribui para uma maior incidência de nasogástrica, nasoenteral ou percutânea – complicações, internações mais longas e gastrostomia). Essas fórmulas são compostas repouso prolongado do paciente ao leito principalmente (BLANK et al., 2014). suplementos por para a proteína, arginina, glutamina, vitamina C, zinco, ferro e vitamina E(14) e são classificadas feridas, aumenta a Estudos mais recentes ressaltam a à importância de alguns nutrientes em cada complexidade dos nutrientes em fórmulas etapa do processo de cicatrização, sendo estas poliméricas, oligoméricas, monoméricas e inflamatória, proliferativa e de remodelação dietas modulares(SHERMAN, 2011). (ARCENIO, Recomenda-se uma quanto de dieta geral 2014). Em uma revisão sistemática e de metanálise, constatou-se que equilibrada com reforço da ingestão protéica a (1,25-1,50 g/Kg/dia) com um teor calórico suplementação nutricional oral com alto teor diário 30-40Kcal/Kg/dia (CORREIA, 2011). protéico, pode diminuir significativamente o O aporte calórico-protéico reduzido pode risco de desenvolvimento das úlceras por predizer pressão (BLANK et al., 2014). o desenvolvimento (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br de UPP, terapia nutricional, particularmente a Foi realizada uma pesquisa apoiada pela instituição na qual o paciente se encontra Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e internado. (WAITZBERG D, et al., 2011). Enteral sobre o estado nutricional dos doentes internados em hospitais de todo o Brasil. Este estudo ficou conhecido como Brasileiro de Avaliação CONCLUSÃO Inquérito Nutricional Pode-se afirmar que algumas variáveis Hospitalar - Ibranutri. Os dados colhidos pelo nutricionais têm sido consideradas preditoras inquérito sobre o tempo de permanência de risco para o desenvolvimento de ulceras hospitalar identificaram um tempo médio de por pressão. Não foi observado nos estudos internação de seis dias para os pacientes afirmações sobre a eficácia da terapia eutróficos, enquanto os pacientes desnutridos nutricional na cura da ulcera por pressão, mas ficaram em média treze dias internados. No é quase unânime nos estudos a fala sobre Ibranutri também foi evidenciado que os importância da proteína em seu tratamento, pacientes com o devido acompanhamento feito por hospitalizados desnutridos apresentavam risco de complicações e óbito Nutricionista. de duas a vinte vezes maiores do que a tratamento da úlcera por pressão não se da população eutrófica. A explicação para este basicamente pela nutrição, porém, esta se faz achado se deve a um conjunto de condições necessária e de grande valia, necessitando-se encontradas no ambiente hospitalar, podendo também de outros cuidados paliativos dados ter causas relacionadas ao próprio paciente, por outros profissionais como, por exemplo, o tipo e extensão da conjugados com a terapia nutricional, farão doença de base, ocasionando maiores perdas e com que o paciente tenha o melhor tratamento catabolismo. Estes dados, apesar de não em seus ferimentos e otimização de seu qualificarem estado geral de saúde os tipos de patologias, Conclui-se então que o da saúde que comprovam que o estado nutricional está diretamente relacionado ao tempo de REFERÊNCIAS internação, sendo este reduzido quando o paciente é eutrófico, e aumentado quando se encontra em risco nutricional, acarretando maior tempo de internação e consequentemente maiores gastos para a (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br CORREIA MITD, RENOFIO JR, SERPA L, REZENDE R, PASSOS RM. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PORTADORES DE ÚLCERAS POR PRESSÃO. In: Projeto Diretrizes. Associação Médica Brasileira e conselho Federal de Medicina. São Paulo. 2011. v.IX, p. 437-446. Sherman AR, Barkley M. Nutrition and wound healing. J Wound Care. 2011; v. 20, n. 8, p. 357-67. 2011. FRANTZ, C. B.; BENDER, B.; OLIVEIRA, A. B. A.; TONDO, E. C. Avaliação de registros de processos de quinze Unidades de Alimentação e Nutrição. Revista Alimentação e Nutrição, Araraquara, v. 19, n. 2, p. 167-175, abr./jun., 2008. Acesso: 27 de Abril de 2016. Guo S, Dipietro LA. Factors affecting wound healing. J Dent Res. v. 89, n. 3, p. 219-29. 2010. Acesso: 27 de Abril de 2016. Castro EM. Assistência de enfermagem e risco para úlceras por pressão medido pela escala de braden em unidade de terapia intensiva. 2011. 92f. Dissertação (mestrado em enfermagem)- Universidade federal do Rio Grande do Norte. Blanc, G.; Meier, M.J. Stocco, J.G.D.; Roehrs, H.; Crozeta, K.; Barbosa, D.A. Efetividade da terapia nutricional enteral no processo de cicatrização das úlceras por pressão: revisão sistemática. Rev Esc Enferm USP. v. 49, n.1, p.152-161, 2015. Paranhos WY, Santos VLCG. Avaliação de risco para úlceras de pressão por meio da escala de Braden, na língua portuguesa. Rev Esc Enferm USP. 2008;33(1):191-206. Elias, C.M.V.; Golçalves, N.P.C.; Sales, J.C.S.; Galvão, I.O.G.C.; Carvalho, M.L.; Carvalho, L.K.C.A.A. Complicação de evidências científicas acerca da prevenção da úlcera por pressão. R. Interd. v. 7, n. 1, p. 183-192, jan. fev. mar. 2014. Pancorbo-Hidalgo PL, Garcia-Fernandez FP, Lopez-Medina IM,Alvarez-Nieto C. Risk assessment scales for pressure ulcer prevention:a systematic review. J Adv Nurs. 2008; 54(1):94-110. Gomes, F.S.L.; Bastos, M.A.R.; Matozinhos, F.P.; Temponi, H.R.; Velásquez-Meléndez, G. Avaliação de risco para úlceras por pressão em pacientes críticos. Rev Esc Enferm. USP. v. 45, n. 2, p. 313-18, 2011. Smith LN, Booth N, Douglas D, Robertson WR, Walker A, Durie M, et al. A critique of “at risk” pressure sore assessment tools. J Clin Nurs. 2011;4(3):153-9. Rolim, J.A.; Vasconcelos, J.M.B. Caliri, M.H.L.; Santos, I.B.C. Prevenção e tratamento de úlceras por pressão no cotidiano de enfermeiros intensivistas. Rev Rene. v. 14, n. 1, p. 148-57, João Pessoa, 2013. Aguiar JM, Paiva SS. Escala de Braden: avaliação dos fatores de risco para úlcera de pressão em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva. Revista Hospitalar da Universidade do Maranhão/ UFMA. 2013;1(1/2):39-44. Paraíba. Arcenio CM. a relevância da nutrição no processo de cicatrização. Campina Grande/PB. 2014. Acesso em : 27 abril 2016. Porto Alegre. Silva, C.H. Perfil nutricional e úlcera por pressão em pacientes hospitalizados. Porto Alegre, 2011. Acesso em : 27 abril 2016. (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br Sant’Ana, S.M.S.C.; Bachion, M.M.; Santos, Q.R.; Nunes, C.A.B.; Malaquias, S.G.; Oliveira, B.G.R.B. Úlceras venosas: caracterização clínica e tratamento em usuários atendidos em rede ambulatorial. Rev Bras Enferm. v. 65, n. 4, p. 637-44. Brasilia. jul-ago, 2012. Brasil. Ministério da Saúde; Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 36, de 25 de Julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências [Internet]. Brasília; 2013 [citado 2014 jan. 31]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvi sa/2013/rdc0036_25_07_2013.html esse aqui (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br