FACULDADE EVANGÉLICA DO PARANÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA: TERAPIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVA II. Relatório de Pesquisa Habilidades Sociais e Síndrome de Moébius: Um estudo de caso. CURITIBA 2010 1 ANAYNA NARA DE CAMPOS Relatório de Pesquisa Habilidades Sociais e Síndrome de Moebius: Um estudo de caso. Relatório de Pesquisa apresentado ao Curso de Especialização em Psicologia Clínica: Terapia Comportamental e Cognitiva II, da Faculdade Evangélica do Paraná, como requisito à obtenção do título de Especialista. Orientadora: Profa. Dra. Suzane S. Löhr. CURITIBA 2010 2 Habilidades Sociais e Síndrome de Moébius: Um estudo de caso. Introdução: Este estudo descreve a evolução do atendimento psicológico adotando o referencial comportamental de uma criança de cinco anos, do sexo masculino, com dificuldades significativas de interação, com Síndrome de Moébius. Muitas pessoas com Síndrome de Moébius tendem a ter suas funções cognitivas preservadas. As limitações físicas impostas pelo quadro podem passar a imagem de um atraso cognitivo, mas o maior comprometimento consiste na interação com o outro, dificultando as relações interpessoais. Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados obtidos e a análise das intervenções psicológicas realizadas, seguindo o referencial comportamental. O desenvolvimento de habilidades sociais teve como objetivo melhorar a interação da criança com o ambiente, criando assim oportunidades para outros aprendizados. As sessões foram filmadas, além de acompanhadas por registro metódico do comportamento. Classes de comportamento ligadas ao relacionamento interpessoal foram então definidas operacionalmente e passaram a compor registros de evento. Os registros iniciais permitiram construir a linha de base dos referidos comportamentos e avaliar a sua evolução ao longo das intervenções. A editoração das filmagens foi utilizada também como recurso de visualização de princípios da aprendizagem por parte dos pais. Outra função de tais registros foi de ilustrar formas de manejo da criança, dando modelos a ser utilizados pelos pais no ambiente familiar, ou seja, possibilitou aprendizagem de estratégias via modelação favorecendo a generalização das habilidades desenvolvidas no contexto terapêutico para outros ambientes, como na sua própria casa. 3 Revisão de literatura: A Síndrome de Moébius (SM) foi inicialmente descrita por Von Graefe em 1880 e posteriormente por Paul Julius Moebius o qual reuniu e descreveu 44 casos no ano de 1982 (PRIETO DÍAZ J, SOUZA DIAS C. 1986). Segundo Fontenelle e cols. (2001), esta síndrome é caracterizada por paralisia facial congênita e não progressiva do VII e VI nervos cranianos, sendo esta paralisia na maioria dos casos, bilateral podendo ser total ou parcial. São afetados principalmente os movimentos dos olhos e os movimentos da face, que além de outras funções auxiliam na expressão de emoções. A SM produz uma aparência facial pouco expressiva e estrabismo convergente, ocasionando alterações funcionais, afetando os movimentos dos olhos (não os fechando totalmente) e os movimentos da face, acarretando um rosto inexpressivo, com ausência total de mímica facial. Esta síndrome pode apresentar comorbidades tais como ptose palpebral, estrabismo divergente, surdez, distúrbios da sensibilidade nos territórios inervados pelo nervo trigêmeo, disfagia, disfonia e atrofia da língua, que podem ser verificados em Malformações diferentes ósseas combinações, estão presentes até em mesmo grande deficiência número de mental. casos, especialmente pés tortos. Já foram descritas outras anormalidades, como anomalias físicas das extremidades (mãos e pés), na dentição e cardiorrespiratórias, dentre outras menos comuns. Quanto às possíveis causas, os autores afirmam que a origem da SM permanece especulativa. Além de suposições quanto à predisposição genética, alguns fatores ambientais têm sido apontados na ocorrência da SM, tais como: hipertermia, exposição da gestante à infecção, utilização do misoprostol, do álcool, cocaína, talidomida e de benzodiazepínicos, entre outros. Segundo Pupo Filho (1999), a popularização do misoprostol como abortivo, pode ter sido responsável pelo aumento de casos da SM observado nos anos recentes. Uma pesquisa realizada em 1996 comprovou que 49% das crianças portadoras da Síndrome de Moébius estudadas nasceram após tentativas frustradas de aborto com o uso do misoprostol. 4 O diagnóstico pode ser realizado a partir das manifestações clínicas, tais como a incapacidade de sugar e pelo fechamento incompleto das pálpebras durante o sono, bem como a ausência de sorriso e um aspecto de face de máscara no rosto. A face sem expressão faz com que esses pacientes sejam vistos pela sociedade como não tendo desenvolvimento cognitivo dentro da normalidade esperada. Segundo a Associação Moebius do Brasil, estima-se que no Brasil existam em torno de 600 casos e nos Estados Unidos 1000 crianças portadoras de Síndrome de Moebius. Quanto ao prognóstico, segundo pesquisadores da Unifesp (2010), desde que o indivíduo não apresente outras manifestações associadas, como convulsões, alterações ventriculares, hidrocefalia ou lesões no sistema nervoso central, poderá ter uma vida normal. No entanto, poderá apresentar atraso no desenvolvimento motor, devido à presença do pé torto congênito, sendo necessário, em alguns casos, cirurgias ortopédicas para correção. Pelo fato de terem lábios e língua comprometidos em menor ou maior grau, a fala desses pacientes poderá apresentar alterações passíveis de minimização por processo de reabilitação. A inabilidade para falar, bem como as dificuldades de comunicação e inexpressividade facial possivelmente conduzem a déficits e prejuízos no desenvolvimento de habilidades sociais, dificultando a interação com o ambiente. Portadores da Síndrome de Moébius não conseguem sorrir ou franzir a testa, por exemplo, muitas vezes não podendo piscar ou movimentar os olhos de um lado para outro. A movimentação labial também é comprometida por conta de limitações físicas e fisiológicas. Segundo Tabaquim & Lima (2005), essas alterações de expressão associadas a deformidades físicas acarretam freqüentemente distúrbios emocionais que podem ser confundidos com algum grau de deficiência mental, além de acarretar problemas sociais como discriminação. Entendendo a comunicação como princípio básico para a interação com o ambiente, pessoas com SM ao apresentar dificuldades na comunicação verbal e não-verbal (expressão facial), podem sofrer prejuízos no que diz respeito à socialização. Para Löhr (2004), “a dificuldade em estabelecer e manter relacionamentos interpessoais produtivos está presente na vida de muitas 5 pessoas, constituindo-se em seu problema central.” (p.167). No entanto, afirma a autora que em alguns casos, essa dificuldade é parte do quadro e não o problema central, como pode ser observado nos quadros de Esquizofrenia, Síndrome de Asperger, Autismo ou em outros quadros clínicos. Pessoas com Síndrome de Moebius também parecem estar inseridas nesse grupo visto que a dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais é igualmente presente neste quadro clínico. Ao abordar as habilidades sociais necessárias a pessoas com necessidades especiais, Riches (1996) cita que muitos indivíduos se comportam de forma a permitirem que as pessoas os percebam como socialmente inábeis ao mesmo tempo em que parecem incompetentes para mudar seu comportamento. Este conjunto de fatores pode gerar muita frustração nas tentativas de estabelecer relacionamentos e participar de situações do cotidiano, levando a sentimentos de solidão. Tendo em vista as dificuldades clinicamente relevantes ocasionadas pela sintomatologia da Síndrome de Moébius e o possível déficit em habilidades sociais, torna-se fundamental a realização de intervenções psicoterapêuticas a fim de desenvolver essas habilidades com o objetivo de melhorar a interação com o ambiente, principalmente. Caballo (1997, 2008) conceitua habilidades sociais como um conjunto de habilidades comportamentais aprendidas, ou seja, um padrão de comportamentos que envolvem a expressão habilidosa e assertiva de sentimentos, opiniões e desejos em situações de enfrentamento social ou grupal, favorecendo a resolução de problemas sociais imediatos. De acordo com Murta (2005), habilidades sociais são cientificamente reconhecidas como fator de proteção no curso do desenvolvimento humano. Desta maneira, programas para o desenvolvimento e treinamento de habilidades sociais têm sido desenvolvidos para promover saúde mental. A autora faz referência às intervenções em prevenção terciária que objetivam minimizar conseqüências de déficits acentuados em habilidades sociais já instalados, sem pretensão de cura, como por exemplo, em casos de crianças portadoras de autismo e/ou deficiência mental. Del Prette & Del Prette (2006, 2008), também enfatizam o Treinamento de Habilidades Sociais, compreendo-o 6 como complemento indispensável no atendimento clínico visando a superação de dificuldades interpessoais. Para os autores citados, “a plasticidade do comportamento social na infância justifica a necessidade de investimento na promoção de saúde e bem-estar, por meio de estratégias educativas e terapêuticas” (p.28). As habilidades sociais são fundamentais na garantia da qualidade de vida de pessoas com deficiências físicas, mentais e sensoriais, caracterizando-se como necessidade educativa de aprendizagem (DEL PRETTE; DEL PRETTE 2004). Há poucos trabalhos publicados descrevendo o manejo psicológico de crianças portadoras de Síndrome de Moébius. Em pesquisa realizada em abril de 2010, utilizando as palavras-chave “Moébius” e “Síndrome de Moébius” na base de dados Scielo (Scientific Eletronic Library Online), foram encontrados apenas oito trabalho referentes à síndrome, porém nenhum deles abordando o tema psicologia ou psicoterapia. No Acervo da Biblioteca da Organização Pan-Americana da Saúde (PAHO) e no Sistema de Informação da Biblioteca da OMS (WHOLIS), não foram encontrados artigos sobre o tema. A escassez de literatura aliada ao grau de comprometimento na esfera emocional (auto-estima, habilidades sociais, solidão) de pacientes com Síndrome de Moébius indica a relevância tanto científica quanto social de estudos que possam contribuir para melhor compreensão e manejo de pacientes com SM. 7 Método Pesquisa aplicada de delineamento de sujeito único caracterizando um estudo de caso, no qual o atendimento e processo de psicoterapia serão descritos e analisados. Participante e local da pesquisa: Uma criança de cinco anos, diagnosticada com Síndrome de Moébius que freqüenta Escola de Educação Especial situada no município de Curitiba. Os atendimentos foram realizados em uma sala de atendimento da instituição na qual a criança se encontra matriculada. Procedimento: Os dirigentes da instituição em que a criança estuda foram contatados, informados sobre o estudo e autorizaram a realização do mesmo, desde que a família autorizasse. Foi elaborado o projeto de pesquisa para submissão ao comitê de ética em pesquisa com humanos e após aprovação desta os pais da criança foram convidados a conhecer os delineamentos e objetivos do estudo, bem como receberam o Termo de consentimento livre e esclarecido, estando cientes quanto às questões éticas da pesquisa. O acompanhamento foi iniciado com observação e análise dos comportamentos da criança em ambiente natural, que permitiu definir os comportamentos-alvo da intervenção psicológica relativos à dificuldade de expressão e comunicação da criança. Foram selecionados 13 comportamentosalvo e a evolução destes recebeu acompanhamento durante 32 sessões de atendimento psicoterápico individual de 30 minutos cada, realizadas em média duas vezes por semana. Além dessas, foram feitas entrevistas com pais e professora a fim de avaliar a generalização dos ganhos terapêuticos para outros contextos, assim como para obtenção de dados referentes ao comportamento da criança em outros ambientes. Orientações à mãe e professora também fizeram parte do processo de intervenção. Nas intervenções com a criança procurou-se estimular o desenvolvimento de alternativas para promover a relação interpessoal que compensassem a falta de expressividade facial e da dificuldade de comunicação oral. Realizou-se também acompanhamento da criança em ambientes externos tais como em passeios organizados pela escola. Os 8 comportamentos foram registrados através de filmagens e anotações, sendo posteriormente analisados quanto à freqüência, topografia e funcionalidade. Instrumentos: Observações sistemáticas do comportamento da criança extraídas de filmagens das sessões de psicoterapia, registros das entrevistas com pais e equipe pedagógica. Relato de Caso Foi participante deste estudo uma criança de 5 anos do sexo masculino, matriculada em escola de ensino especial, diagnosticada com SM que para preservar sua identidade, será chamado de G. G. tem três irmãos sendo o mais velho de doze anos, o caçula de dois e uma irmã de dez anos. Seus pais, ambos com idade de vinte e sete anos são casados há doze anos. A mãe é atendente de telemarketing e o pai, montador de móveis. G. nasceu de parto normal, a termo, com apgar 5/7 de uma gestação desejada, tranqüila sem intercorrências. Permaneceu internado em UTI neonatal durante vinte e oito dias após o nascimento, necessitando retornar ao internamento por várias vezes de forma intermitente no decorrer dos primeiros dois anos de vida. Quanto ao desenvolvimento motor, sustentou a cabeça aos sete meses, sentou com um ano, não engatinhou e deambulou com apoio aos dois anos e sete meses; ainda utiliza fraldas. G. teve vários internamentos por pneumopatia secundários à broncoaspiração, sendo a internação de maior gravidade no primeiro ano de vida. Em virtude do atraso neuropsicomotor e dificuldades motoras faciais, gerando prejuízo nas funções de piscar, sorrir, sugar, falar e mímica facial, a família foi orientada a levar G. para atendimentos especializados. Em exame de ressonância cerebral realizado recentemente, constatou-se sinais de atrofia da substância branca frontal, alterações de sinais multifocais na substância branca periventricular e central na região fronto parieto occiptal à direita, sugerindo focos de isquemia. No entanto, sua capacidade cognitiva aparente parece estar preservada. Em avaliação fisioterapêutica, constatou-se leve hipotonia nos membros superiores e déficit de equilíbrio, apresentando 9 marcha com base alargada. A partir de complicações odontológicas, secundárias à síndrome, G. realizou neste ano (2010), três cirurgias com o objetivo de extração de dentes e fechamento do palato. Com relação aos acompanhamentos de saúde, G. realizou estimulação essencial dos dez meses até completar três anos. No ambulatório de saúde da escola, realiza acompanhamento em fisioterapia desde maio de 2008, psicologia desde março de 2009 e acompanhamento com neurologista. Em outra instituição, realiza fonoterapia desde o primeiro mês de idade, sendo ainda acompanhado por geneticista, otorrinolaringologista, odontólogo e cirurgião plástico. Freqüenta escola especial em turma (maternal) desde fevereiro de 2009, ano em que foi confirmado o diagnóstico da síndrome de Moébius. Identificação do problema: Dar-se-á neste estudo, maior atenção ao acompanhamento psicológico da criança, mas considera-se de grande importância o acompanhamento interdisciplinar, como a que vem sendo dispensado a G., para pessoas com Síndrome de Moébius. A partir de observação, entrevistas com familiares e equipe pedagógica, bem como sessões iniciais de psicoterapia, observou-se déficits comportamentais importantes como dificuldades na aquisição de habilidades sociais, de comunicação gestual e verbal essenciais para o relacionamento interpessoal. Constatou-se também excesso comportamental, caracterizado especialmente pela emissão de comportamentos auto lesivos. Análise Funcional: A partir da análise funcional dos comportamentos relevantes e dinâmica familiar, avaliou-se a inabilidade social e isolamento social como principais focos de intervenção. A superproteção familiar é um fator importante que contribui para o agravamento dos déficits, visto que este padrão de interação familiar acaba por reforçar o padrão de inabilidade social da criança uma vez que atende a solicitação da criança ao emitir comportamentos de custo de resposta baixo, tais 10 como apontar para um objeto para que lhe seja entregue; emissão de comportamentos com topografia sutil, como compreender e atender a movimentações de cabeça na sinalização de “sim” e de “não” de baixa amplitude tornando-se quase imperceptíveis, identificadas apenas por observadores muito atentos e treinados, como os familiares. Por vezes, os pais supersolícitos, os quais proporcionam à criança vigilância, proteção e assistência excessivas podem aumentar ou perpetuar a dependência da criança. Os pais de G. apresentam uma relação de superproteção, exigindo pouco do filho e este não é estimulado a aprender outras formas de comunicação além das funcionais emitidas no ambiente familiar. Como por exemplo, a mãe comenta sobre deixar tudo ao alcance de G. tais como bolachas, água e brinquedos. Se por um lado estimula a independência da criança, por outro, impede que desenvolva e exercite a comunicação e a variabilidade desta, visto que no ambiente escolar, o padrão de comunicação evidenciado por G., acaba por não ter conseqüências positivas imediatas, gerando respostas de inadaptação ao ambiente tais como isolamento social e por vezes comportamentos auto lesivos quando contrariado (morde e bate sua mão contra o queixo e/ou boca repetitivamente ao mesmo tempo em que emite som). Tal comportamento cessa no momento em que G. recebe atenção do adulto, ou quando sua solicitação é compreendida e/ou atendida. O som emitido nessas situações é similar ao que emite em situações de descontração ou em que está brincando, o que dificulta o reconhecimento da emoção presente por parte das pessoas que convivem com G.. A mãe desenvolveu observação acurada de mudanças sutis na expressão facial do filho, dizendo identificar respostas de choro e alegria. Segundo ela é possível discriminar se é choro ou risada a partir da observação da região da testa de G. Quando se trata de uma resposta de choro, a região central da testa, logo acima dos olhos, fica avermelhada, diferentemente das reações de alegria. Comparado ao padrão de imobilidade corporal com movimentos gestuais mínimos e ausência de expressão facial durante uma interação, o comportamento auto-lesivo de G. torna-se impactante no ambiente e atrai a atenção das pessoas que estão presentes nesse ambiente. 11 Algumas micro-análises funcionais realizadas a partir de comportamentos problema de G. serão esquematizadas a seguir: Antecedente G. é contrariado. Comportamento Conseqüente G. se auto agride. Pessoas ao redor dão atenção a G. Criança se aproxima de G. G. responde com brinquedo e pergunta imobilidade se G. quer brincar. com Criança se afasta de G. corporal e inexpressividade facial. Criança mostra interesse G. tenta se comunicar Criança observa G. e se em brincar com G. emitindo gestos diversos afasta posteriormente. aparentemente sem significados. Descrição das Intervenções- definindo as classes de respostas a serem trabalhadas: As classes de respostas focadas durante o processo terapêutico foram selecionadas considerando sua importância para o desenvolvimento de habilidades que favoreçam as relações interpessoais de G. sendo elas: realizar contato visual, aproximação, afastamento, esboçar expressão facial, realizar movimento gestual de cabeça sinalizando respostas de sim e não, realizar movimentos gestuais tais como apontar para objeto ou pessoa, olhar-se no espelho, imitar a terapeuta, verbalizar sons, brincar e/ou Interagir com objeto, seguir instruções da terapeuta. Alguns comportamentos foram acrescentados à lista quando emitidos pela criança ao longo dos atendimentos, tais como pular e bater palmas e outros comportamentos referentes à comunicação gestual. Além de registrada em termos de comportamentos, as sessões também foram filmadas a fim de proporcionar 12 maior fidedignidade aos registros, bem como permitir a observação da evolução da topografia e funcionalidade dos comportamentos emitidos na sessão. Os comportamentos selecionados como foco de intervenção foram operacionalizados a fim de possibilitar o registro e posterior análise. A descrição operacional de cada classe encontra-se no apêndice 1. Repertório comportamental inicial e metas estabelecidas: Padrão de resposta interativo inicial: Na avaliação inicial G. em interação com outros colegas e/ou com educadores no ambiente escolar, apresentou grande dificuldade na comunicação. Nos primeiros registros realizados G. não brincava com outras crianças e dificilmente interagia com adultos, com exceção de familiares. Respondia a convites para brincar com imobilidade corporal e inexpressividade facial, embora mantivesse contato visual com as pessoas próximas. Metas estabelecidas e intervenções realizadas: Para alguns indivíduos como no caso de G., o processo de interação pode significar uma tarefa de grande dificuldade e complexidade. No entanto, como afirma Riches (1996), apesar dessa complexidade, torna-se importante para qualquer indivíduo aprender sobre algumas normas e rotinas associadas ao dia-adia dos contextos sociais em que estão inseridos, ou seja, “indivíduos podem aprender a exercer algum controle sobre seus próprios comportamentos e passar a desenvolver competências relacionais.” (p.27). Após a identificação de classes de comportamento de G. presentes em seu repertório inicial e que pudessem contribuir para a aprendizagem de novos comportamentos e competências relacionais, as metas terapêuticas foram inseridas gradualmente visando fortalecer seu repertório social em busca de estabelecer novas contingências e reforçadores na relação interpessoal. Preocupou-se também em realizar as estimulações de forma lenta e gradual de forma a respeitar as limitações de G. evitando que o 13 excesso de exigências tornasse a terapia uma situação aversiva, ou ainda pudesse comprometer a relação terapêutica. Objetivou-se de forma geral melhorar a interação, possibilitando acesso de G. a novos reforçadores além de ampliar o repertório social de G. Para atingir tal meta, foram trabalhadas várias classes ligadas à interação: respostas corporais de sim, passividade frente à agressividade dos outros, movimentos gestuais de comunicação, verbalização de sons, entre outros. Selecionou-se como meta inicial, inserir no repertório de G., respostas corporais de “sim”, visto que estas são importantes ao estabelecer uma interação e eram inicialmente apresentadas por G. em amplitude mínima, sendo praticamente imperceptíveis ao interlocutor. Propôs-se então trabalhar a topografia de uma resposta já existente. Outro fato importante a ser mencionado é quanto à inassertividade de G. frente a uma interação aversiva. Como G. não demonstrava expressões faciais, nem verbalizações referentes a situações de desagrado, apresentava-se como uma criança passiva sendo vítima constantemente de agressividade por parte de outras crianças que por sua vez também apresentam dificuldades de interação. A utilização generalizada de um mesmo gesto para diferentes funções dificultava a comunicação, além de impedir respostas para situações simples do dia-a-dia, como por exemplo, responder afirmativamente ou negativamente a uma pergunta. As intervenções foram selecionadas a partir do repertório inicial apresentado por G. indicativo de dificuldades em interagir socialmente. As intervenções tiveram por meta contextualizar movimentos gestuais a partir de reforçamento diferencial; modelagem de resposta corporal referente ao aceno de cabeça ao sinalizar “sim” e “não”, verbalização de sons, comportamentos imitativos de expressões faciais e gestuais. Outras classes de respostas tais como o treino de higiene tinham como objetivo diminuir os efeitos negativos ocasionados pela sialorréia. O procedimento básico utilizado nas intervenções foi a modelação, sendo os comportamentos de G. trabalhados a partir do modelo oferecido pela terapeuta. A modelagem, fazendo uso de reforço diferencial das respostas 14 emitidas permitiu complementos do processo de desenvolvimento das novas habilidades. Para viabilizar a generalização do novo repertório da criança, contingências específicas foram sendo manejadas de forma a promover situações nas quais G. foi exposto gradativamente a variados estímulos sociais e diferentes ambientes, maximizando a possibilidade de generalizar repertórios comportamentais adquiridos em ambiente protegido (sessão de psicoterapia) para outros contextos (passeios promovidos pela escola e encontros com outras pessoas da instituição). Estratégias combinadas de intervenção foram programadas e realizadas a ponto de permitir que respostas de G. adquiridas e mantidas em sessões individuais pudessem também ser emitidas em outros contextos tais como em sala de aula, no hall da escola e até mesmo no parquinho, havendo nessas situações a presença de terceiros. Para que o comportamento em processo de aquisição fosse mantido, era necessário colocá-lo sob controle de contingências naturais de reforçamento. A inclusão de pessoas presentes no ambiente natural tais como a professora e familiares, orientados sobre os princípios da aprendizagem possibilitou a generalização e a posterior manutenção dos comportamentos. A equipe pedagógica e os familiares foram orientados com o objetivo de reforçar diferencialmente determinadas respostas previamente treinadas em ambiente de terapia, promovendo assim a sua generalização para outros contextos. Uma classe de comportamentos que recebeu tal tratamento foi a sinalização de resposta a perguntas simples direcionadas a G. O comportamento responsivo de G. deveria ser consequenciado com reforço social, tais como atenção e elogios. Seguindo o princípio da modelagem, as exigências quanto à emissão de comportamentos em sessões de terapia bem como em ambiente natural foram ampliadas gradualmente. Assim, comportamentos inicialmente genéricos foram refinados. Um exemplo nesse sentido seria um movimento gestual qualquer reforçado inicialmente que passou por exigências de variações específicas tais como aceno de cabeça sinalizando respostas de “sim” para a liberação do reforçamento. Além das respostas terem sofrido variação, foram mantidas em 15 contextos diferentes, também de forma gradual. A resposta que era emitida apenas em ambiente protegido (sala de atendimento) foi transposta para outros ambientes, expondo G. a novos estímulos sociais, inserindo e manejando situações em que G. pudesse emitir as respostas previamente treinadas (aceno de cabeça sinalizando resposta de “sim”, gestos e verbalizações) na presença de terceiros, diminuindo o isolamento e a ansiedade experienciada nos padrões iniciais de interação de G. Durante observações posteriores da interação de G. com colegas, observou-se intermitência na freqüência das respostas solicitadas a G. para liberação do reforço, provavelmente em decorrência da dificuldade de interação social apresentada por estas crianças que por sua vez também apresentam déficits e igualmente freqüentam escola especial. O reforço intermitente é produtivo, aumentando a força da resposta, ou seja, tornando-a menos suscetível à extinção. Porém em se tratando de um repertório que está em processo de aquisição, o reforço contínuo seria mais apropriado, auxiliando G. a sedimentar o padrão de resposta desejada, para então ocorrer mudança para algum esquema de reforçamento. Como já foi exposto, não foi possível obter este grau de cooperação por parte das demais crianças. Assim, G. foi mantido desde o início pelos colegas em esquema de reforçamento intermitente, mesmo não sendo o ideal em um repertório em processo de aquisição. Resultados e Discussão: O registro de eventos realizado a cada sessão permitiu a observação e análise da evolução dos comportamentos de G. ao longo do processo terapêutico. Os dados apresentados na figura 1 são referentes ao registro de freqüência acumulada de resposta de 14 classes de comportamentos pré- selecionados e avaliados durante o processo terapêutico. 16 Fig. 1- gráfico representativo da evolução de classes de comportamento de G. durante a intervenção, em freqüência acumulada. A partir da figura 1, observa-se que respostas de contato visual foram emitidas desde a primeira sessão facilitando a interação inicial do cliente e terapeuta, permitindo a realização das intervenções propostas. Segundo Riches (1996), assim como expressões faciais, o contato visual pode ser usado para transmitir mensagens afetivas tais como sentimentos, aceitação, simpatia, empatia, vergonha, timidez, tédio, agressividade, hostilidade e passividade. Basicamente, o contato visual é importante por sinalizar atenção e disponibilidade para interagir. Embora a resposta de contato visual tenha sofrido fortalecimento no decorrer das sessões e ser emitida com ampla freqüência, observam-se déficits de outros comportamentos e habilidades sociais básicas fundamentais para que uma interação seja contemplada satisfatoriamente. Segundo Riches (1996), “a face é a maior fonte de comunicação não verbal” (p. 123). Emoções básicas e mais sutis são demonstradas através de expressões faciais usando as sobrancelhas, olhos, ângulo da cabeça e maxilares. As diferentes combinações permitem a revelação 17 de emoções e sentimentos tais como felicidade, medo, raiva, nojo, preocupação, tristeza e interesse. As expressões faciais provém informações importantes e feedback ao outro durante a interação. Além das expressões faciais, mensagens também podem ser comunicadas através de gestos e movimentos corporais tais como inclinação do corpo para trás ou para frente, mãos nos quadris, coçar o queixo, balanços e acenos de cabeça ou inclinação para um lado ou para outro são usados freqüentemente durante a fala e a escuta. Esses são componentes do comportamento social que podem variar de acordo com a cultura e são essenciais nas interações. Segundo Skinner (2003) “o comportamento social surge porque um organismo é importante para outro como parte de seu ambiente” (p. 326). O autor lembra ainda que o comportamento verbal sempre acarreta reforço social e no campo do comportamento social pode-se citar a atenção, aprovação e afeição. Dessa maneira, esses reforçadores requerem a presença de outras pessoas, visto que os reforçadores sociais requerem a mediação de outro organismo. Embora G. não apresente os recursos de expressões faciais em decorrência dos comprometimentos e limitações ocasionados pela Síndrome de Moébius, os gestos associados a movimentos corporais e verbalizações podem constituir um importante recurso alternativo para interagir e se comunicar. A grande dificuldade que G. encontra nas tentativas de interação com pares referese a não fornecer feedback seja verbal ou não, para esses. Portanto, avaliou-se que o desenvolvimento de comunicação gestual, como apontar para objetos ou para si mesmo e outros movimentos gestuais contextualizados compreendidos em dar tchau, mandar beijo com as mãos e outras gesticulações constituíram-se como fatores importantes para facilitar o processo de comunicação e interação de G. Verifica-se que a freqüência da classe de comportamentos referentes a movimentos gestuais não contextualizados não sofreu alteração relevante por não haver funcionalidade comunicativa no ambiente. No entanto, permanecem presentes no repertório provavelmente por consistirem em tentativas de comunicação para G., associados à sua história de aprendizagem, já que a mãe e os familiares tentam entender formas sutis de comunicação de G. em vez de atuar 18 seguindo os princípios da modelagem, exigindo gradualmente formas comunicativas mais complexas. Fig. 2- gráfico representativo da evolução de classes de comportamento de G. referentes à comunicação, durante a intervenção, em freqüência acumulada. Avalia-se como fator relevante de evolução no caso, o refinamento da topografia de resposta pré-existente do aceno de cabeça na sinalização de “sim” à medida que foi ampliada tornando-se mais perceptível, consistindo em fonte importante de feedback. Essa resposta (movimento de cabeça-sim) foi emitida por G. pela primeira vez na 11ª sessão, ressurgindo na 16ª tendo sua freqüência aumentada a partir da 19ª sessão, sendo mantida ao longo do processo. Entre a 15ª e 16ª sessão G. permaneceu por aproximadamente três meses sem intervenção em psicoterapia por motivo de cirurgia e férias escolares. No entanto, a maioria dos comportamentos manteve-se presente no repertório de G. após esse período de intervenção, o que aponta para um processo de aquisição de novo repertório consistente em que novos padrões de resposta já estão bem estabelecidos no repertório da criança. O comportamento de movimentar a cabeça 19 na sinalização de não ainda se encontra em processo de aquisição, uma vez que G. apresenta resposta gestual similar com as mãos. Segundo Fontenelle e colaboradores (2000), a pobreza de expressões faciais associada com a sialorréia e com as dificuldades relacionadas à fala resultam em sérias conseqüências para o desenvolvimento psicossocial da criança. No caso G., observa-se determinadas respostas de esquiva dos pares e até mesmo de adultos com relação à aproximação de G. em virtude da inexpressividade facial e sialorréia apresentada pela criança. O treino de higiene realizado ao longo das sessões fez com que respostas de esquiva emitidas por pares fossem minimizadas, desenvolvendo em G. respostas que favorecem a aproximação de outras pessoas oportunizando interações e ainda aumentando a probabilidade de ocorrência de respostas esperadas para esse contexto. De acordo com Tabaquim & Lima (2005), a comunicação verbal enquanto veículo para a interação humana é muito valorizada pela sociedade. Sendo assim, quando a oralidade se mostra deficitária, a criança com SM poderá expressar-se por meio de recursos alternativos para a sua comunicação, como o toque, gesto, escrita, informática, etc. Desde o início das intervenções, percebeu-se facilidade de G. em emitir respostas imitativas a partir de modelos oferecidos pela terapeuta. Entende-se que esta habilidade de G. ocasionada principalmente pela resposta fortalecida e mantida pelo contato visual foi fundamental para a aquisição de novas respostas e fortalecimento de outras já existentes a partir de procedimentos de modelação e modelagem de comportamento. Como G. ainda não está alfabetizado e suas habilidades gráficas não foram desenvolvidas, recursos alternativos para a sua comunicação foram enfatizados nesse processo. Se por um lado exista a constatação de limitações desfavoráveis à aprendizagem da fala para pessoas com SM, por outro existe a possibilidade de desenvolver a fala e comunicação oral através de estimulação e reabilitação. Sendo assim, priorizou-se neste caso intervenções focadas em comportamento imitativo de comunicação oral por considerar a verbalizações de sons de G. como mais um recurso a ser utilizado por esta criança a fim de estabelecer uma interação. Recorreu-se ainda a recursos lúdicos com o objetivo de facilitar a relação terapêutica, bem como as 20 intervenções e avalia-se que a utilização desses materiais permitiu a dessensibilização de G. para o processo terapêutico, uma vez que “o brincar constitui-se como uma ferramenta potencialmente eficiente na prática clínica da análise do comportamento infantil” (MIRANDA, 2007, p.86) porque permite o estabelecimento de vínculos afetivos e também implica na ampliação de repertórios comportamentais por envolver aspectos sociais, verbais, motores e cognitivos (SOARES; ZAMBERLAN, 2003 apud MIRANDA, 2007). Uma classe de comportamentos que apresentou mudança importante no decorrer das sessões foi a de aproximações de G. a outras crianças e dessas à G. Em conseqüência, a diminuição de respostas de inexpressividade e isolamento. Constataram-se novas tentativas de comunicação a partir de gestos mais contextualizados e de verbalização, também confirmados a partir de relatos verbais da mãe e professora que também averiguaram que G. melhorou significativamente sua forma de interagir sendo possível interpretar alguns de seus gestos e movimentos corporais. Além disso, houve alteração na topografia do movimento de aceno assertivo de “sim”, sendo esta resposta nitidamente perceptível após as intervenções de modelagem. Observou-se também, alteração importante no que diz respeito ao desenvolvimento de esboço de expressões faciais, oferecendo mais uma possibilidade de intervenção com G. ao desenvolver mais uma forma de comunicar e expressar espontaneamente sentimentos e emoções. A diminuição da freqüência de comportamentos auto lesivos ocorridos de forma freqüente em ambiente escolar e familiar, segundo relatos, mostra que o desenvolvimento de habilidades sociais também interfere na diminuição dos fatores de risco, uma vez que este comportamento não teve intervenção direta por não ocorrer em sessões de psicoterapia. O comportamento auto lesivo aparece no gráfico com freqüência 5 (5 emissões) por ter sido registrado durante observação (25ª sessão) em situação particular (passeio organizado pela escola) em ambiente desconhecido. O avanço significativo da comunicação de G. com o ambiente leva à conclusão de que estimulações realizadas nas sessões de terapia encontram-se 21 em processo de generalização para outros contextos, atingindo os objetivos propostos. Entende-se por generalização o processo pelo qual o comportamento treinado se transfere do ambiente de treinamento para o ambiente natural; quando o treinamento favorece o desenvolvimento de um novo comportamento que não foi especificamente treinado; ou quando o comportamento treinado se mantém no ambiente natural ao longo do tempo (MARTIN; PEAR, 2009). Segundo Guilhardi & Bagaiolo (2002), a manutenção do comportamento adquirido depende da necessidade de que o comportamento continue a ser reforçado, ou seja, a mudança do comportamento do cliente no ambiente natural depende da possibilidade de reforçamento de classes de respostas funcionalmente similares nesse ambiente. No caso G. o alcance dos resultados foi possível a partir da colaboração e contribuição de um trabalho interdisciplinar focado no desenvolvimento de habilidades sociais a fim de promover a qualidade da interação social e comunicação da criança nos diferentes contextos. A família de G. apresentou-se de forma colaborativa e participativa ao longo do processo terapêutico, sendo igualmente responsáveis enquanto agentes participantes do processo de mudança de G. Ao visualizar as filmagens editadas, a mãe de G. surpreendeu-se ao constatar a capacidade e o potencial que seu filho apresenta além de perceber a importância da estimulação para aprendizagem de novos comportamentos seguindo os princípios de modelagem e modelação, bem como diminuir a proteção excessiva. “Eu jamais colocaria o G. num touro mecânico” (sic): relatou a mãe ao assistir o vídeo referente a um passeio organizado pela escola. Ao comentar sobre a manutenção de habilidades adquiridas e continuidade do processo de aprendizagem no ambiente familiar, relata: “eu fico com G. a tarde toda. Agora posso aproveitar esse tempo que estamos juntos para trabalhar a estimulação” (sic). Embora avanços importantes quanto ao processo de ampliação de repertório comportamental no caso G. tenham sido constatados, avalia-se a necessidade da continuidade das intervenções e estimulações, uma vez que o cliente se encontra em processo de desenvolvimento e aquisição de habilidades. 22 Cogita-se o desenvolvimento em G. de habilidade comunicativa mediada por LIBRAS, uma vez que a oralidade da criança é comprometida pela síndrome, mas os movimentos motores de membros superiores tem se mostrado útil para modelagem de novas formas comunicativas. Conclusões O desenvolvimento desse estudo visou analisar uma proposta de intervenção psicológica comportamental para o desenvolvimento de habilidades sociais de uma criança portadora de Síndrome de Moébius. Mesmo com complicações motoras e atraso geral do desenvolvimento neuropsicomotor, e comprometimentos sérios graves secundários à síndrome, o desenvolvimento dessa pesquisa possibilitou avaliar o sucesso das intervenções comportamentais adaptadas para este caso em especial, visto que promoveu a G. novas possibilidades de interação com o ambiente, melhorando sua qualidade de vida. Além disso, considera-se o campo de estudos em habilidades sociais como de significativa contribuição ao embasar as intervenções, uma vez que as habilidades desenvolvidas por G. enquanto fatores de proteção foram capazes de minimizar efeitos de natureza anatômica e fenotípica conseqüentes à Síndrome de Moébius. G. não aprendeu a sorrir, nem a franzir a testa, mas tem desenvolvido habilidades e competências alternativas que de forma diferenciada, porém eficaz, permitiu que ele expressasse suas emoções, ou seja, passou a emitir comportamentos motores com funcionalidade. Assim como G., outras crianças com dificuldades importantes de interação podem se beneficiar com as intervenções propostas pela Análise do Comportamento. Estudos sobre habilidades sociais para melhorar auto-estima, desenvolver habilidades e promover qualidade de vida, constituem também importante foco de atuação, especialmente no manejo de indivíduo com necessidades especiais, que muitas vezes é discriminado socialmente em decorrência de suas limitações, sejam elas anatômicas ou cognitivas. 23 Referências: CABALLO, V.E.. El papel de las habilidades sociales en el desarrollo de las relaciones interpersonales. Sobre Comportamento e Cognição: a aplicação da análise do comportamento e da terapia cognitivo-comportamental no hospital geral e nos transtornos psiquiátricos. Santo André: ARBytes, p. 229-233, 1997. CABALLO, V. E. Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais. São Paulo, Santos, 2008. DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. 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Acesso em 10 fev. 2010. 25 Apêndice 1: Lista de comportamentos e suas operacionalizações: 1- Contato visual: Manter o olhar dirigido à terapeuta podendo variar entre 1 e 3 segundos. 2- Aproximação: Aproximar-se no mínimo um passo da terapeuta ou de objeto disponibilizado por esta. 3- Afastamento: Afastar-se no mínimo um passo da terapeuta ou de objeto disponibilizado por esta. 4- Esboço de expressão facial: Qualquer alteração de expressão facial visivelmente notável. 5- Movimento de cabeça-sim: Movimentar a cabeça verticalmente durante 1 segundo para cima e para baixo. 6- Movimento de cabeça-não: Movimentar a cabeça horizontalmente durante 1 segundo para a direita e esquerda. 7- Apontar: Utilizar-se de movimento gestual de apontar na direção de um objeto ou pessoa. 8- Olhar-se no espelho: Manter contato visual na direção do espelho, olhando na direção da sua imagem refletida no espelho, podendo variar entre 1 e 3 segundos. 9- Imitar a terapeuta: Emitir qualquer comportamento semelhante ao comportamento recém emitido pela terapeuta. 10- Verbalização de som: Qualquer emissão sonora emitida pela criança. 11- Brincar/ Interagir com objeto: Explorar, tocar, brincar com objetos e/ou brinquedos por no mínimo 2 segundos. 12- Movimentos gestuais: Qualquer movimentação que indique comunicação gestual. 13- Seguir instrução: Realizar qualquer comportamento compatível com instrução ou solicitação prévia da terapeuta como por exemplo: “Jogue a bola”. 26