USO DE TOXINA DE ARANHA DO GÊNERO

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1
USO DE TOXINA DE ARANHA DO GÊNERO Phoneutria NO TRATAMENTO DA
2
DISFUNÇÃO ERÉTIL
3
Giliardi Anício Alves1
4
Maria Esther Macedo2
5
6
7
RESUMO
8
A disfunção erétil atinge milhares de homens ao redor do mundo. No
9
tratamento da doença, o medicamento mais utilizado é o Sildenafil, que
10
comprovadamente pode causar efeitos colaterais graves em pessoas com
11
cardiopatias. Na tentativa de desenvolver medicamentos que não causassem os
12
mesmos efeitos colaterais, cientistas começaram a pesquisar toxinas presentes no
13
veneno de aranha para tratar a disfunção erétil. Os resultados se mostraram
14
animadores nos testes já realizados, permitindo que a possibilidade de
15
desenvolvimento de novos métodos de tratamento da doença sejam desenvolvidos
16
em breve.
17
PALAVRAS CHAVE: Phoneutria; disfunção erétil; TX2-6; hipertensão
18
19
ABSTRACT
20
Erectile dysfunction affects millions of men around the world. In the treatment
21
of disease, the most common medication is Sildenafil, which demonstrably can cause
22
serious side effects in people with heart disease. In trying to develop drugs that
23
would not cause the same side effects, scientists began researching toxins in spider
24
venom to treat erectile dysfunction. The results were encouraging the tests already
25
carried out, allowing the possibility of developing new methods of treating the disease
26
will be developed soon.
27
KEYWORDS: Phoneutria; erectile dysfunction; TX2-6; hypertension
28
1
Graduando do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix
Doutora em Biologia Parasitária
2
29
O Sildenafil (Viagra) revolucionou o tratamento da disfunção erétil, isso
30
porque apresentou características farmacocinéticas muito vantajosas em relação a
31
medicamentos produzidos anteriormente no tratamento desta doença. Por ter tais
32
características novas, no momento em que chegou ao mercado foi seguido de um
33
número muito grande de vendas tendo um forte apelo da mídia no que dizia respeito
34
aos benefícios do medicamento (WANNMACHER, 2006).
35
O uso do medicamento indiscriminadamente e sem acompanhamento médico
36
adequado
evidenciou
uma
realidade
inesperada.
Pacientes
que
possuem
37
cardiopatias ou que fazem uso de medicamentos que tem em sua composição
38
nitratos poderiam sofre de graves efeitos colaterais após o uso do Sildenafil
39
(GUIMARÃES et al, 1999).
40
Guimarães et al (1999) descreveram vários casos de homens que morreram
41
após fazerem o uso do medicamento. Analisando os dados a respeito das mortes
42
ficou clara a relação do uso do medicamento com as mortes.
43
Do problema descrito surgiu então a necessidade de se produzir
44
medicamentos que não causassem os mesmos efeitos colaterais que o Sildenafil e
45
seus similares. Foi daí então que pesquisadores descobriram que o veneno de
46
aranhas poderia ser utilizado no tratamento da disfunção erétil (RAVELLI 2011).
47
Homens com cardiopatias podem apresentar reações adversas após tomar
48
medicamentos contra impotência sexual, havendo casos de morte já registrados
49
devido ao uso do medicamento associado a outros tipos de medicamento, porém
50
suspeita-se que mesmo não fazendo o uso de outros medicamentos, cardiopatas
51
podem apresentar efeitos colaterais prejudiciais à saúde (GUIMARÃES et al, 1999).
52
Torres et al (2010) dizem que medicamentos contra disfunção erétil
53
produzidos a partir do veneno de aranhas do gênero Phoneutria poderiam ser
54
usados por pacientes com problemas cardíacos, podendo ser um substituto para os
55
medicamentos disponíveis no mercado atualmente.
56
Como objetivo, este trabalho busca fazer uma revisão bibliográfica a respeito
57
dos estudos e trabalhos já desenvolvidos a respeito do uso de veneno de aranhas
58
do gênero Phoneutria no tratamento da disfunção erétil.
59
Estudos revelaram que em 1998 cerca 130 homens morreram após ter sido
60
prescrito Sildenafil para que eles tratassem a disfunção erétil. Oitenta desses 130
61
homens sofreram algum tipo de evento cardiovascular, representando assim 61,5%
62
dos mortos (GUIMARÃES et al, 1999). Como justificativa há a necessidade de se
63
desenvolver novos medicamentos que não causem os mesmos efeitos colaterais
64
que os já existentes. Isso faz com que o uso do medicamento se torne mais
65
generalizado e com menos restrições, melhorando assim a qualidade de vida de
66
milhares de homens.
67
A disfunção erétil (DE) pode estar correlacionada com diversos fatores
68
vivenciados pelo homem, podendo estar ligado ao diabetes, tabagismo, obesidade,
69
consumo de álcool, idade, e até mesmo condição social. Além desses, a hipertensão
70
arterial e os problemas de cardiopatias são fatores bastante comuns associados à
71
disfunção erétil (ABDO et al, 2006).
72
A doença é a incapacidade persistente do homem de ter, e também de
73
manter a ereção peniana, causando assim, a incapacidade de ter uma relação
74
sexual satisfatória (ABDO et al, 2006).
75
O medicamento mais utilizado no tratamento contra os problemas de ereção é
76
o Sildenafil, popularmente conhecido como Viagra. O Sildenafil desde que foi
77
descoberto e divulgado tem sido amplamente usado por homens que enfrentam
78
algum tipo de problema sexual (NEVES et al, 2004).
79
O sildenafil faz parte classe deagentes inibidores das fosfodiesterases. A
80
ação erétil do sildenafil combina o aumento do influxo arterial com a redução do
81
efluxo venoso do corpo cavernoso. O sildenafil faz com que haja o relaxamento da
82
musculatura lisa das artérias penianas e das trabéculas que circundam os espaços
83
sinusoidais, acarretando maior ingurgitamento do corpo cavernoso. As trabéculas
84
dos espaços sinusoidais ingurgitados comprimem as vênulas penianas contra a
85
túnica albugínea, reduzindo o efluxo venoso, contribuindo para a manutenção do
86
ingurgitamento do corpo cavernoso. O relaxamento dessa musculatura lisa resulta
87
da diminuição do cálcio intracelular mediada pelo acúmulo do segundo mensageiro,
88
o monofosfato cíclico de guanosina (GMPc), cuja produção decorre da ativação da
89
guanil-ciclase pelo óxido nítrico produzido pelo estímulo das células endoteliais,
90
gerado pelo desejo sexual. Um importante limitante desse processo é a degradação
91
do GMPc pela enzima fosfodiesterase 5 (PDE5), presente em altas concentrações
92
nessas estruturas penianas. O sildenafil facilita a ereção por ser um inibidor
93
específico dessa fosfodiesterase. Atuando na fase final do ciclo bioquímico da
94
ereção, a ação do sildenafil depende do desejo sexual, não sendo, portanto, um
95
afrodisíaco (GUIMARÃES et al, 1999).
96
Wannmacher (2006) diz que muitas têm sido as discussões a respeito dos
97
efeitos colaterais que o medicamento pode causar. Há pesquisas que indicam que o
98
uso do medicamento pode causar congestão nasal, cefaleia, dispepsia, diarreia e
99
principalmente, efeitos colaterais sobre o coração.
100
Pacientes que fazem o uso de medicamentos que contém óxido nítrico ou
101
nitratos não podem fazer o uso do medicamento, pois a interação do Sildenafil com
102
esses compostos é responsável pelos distúrbios e mortes observadas em pacientes
103
cardiopatas. Observamos então que não é somente porque um paciente tem
104
problemas cardíacos que ele não possa fazer o uso do Sildenafil, mas pelo uso de
105
outros medicamentos que contém óxido nítrico ou nitratos junto com o Sildenafil, o
106
que é um fato bastante comum, pois normalmente pacientes com cardiopatias
107
tomam diversos medicamentos. Com um número tão grande de incidentes
108
envolvendo o medicamento, surgiu a necessidade de se obter uma nova droga
109
capaz de tratar a DE (GUIMARÃES et al, 1999).
110
Sabe-se que o veneno de determinadas espécies de aranhas são atualmente
111
utilizados para produção de diversos tipos de medicamento. Aranhas da espécie
112
Parawixia bistriata que possuem em seu veneno toxinas com capacidade de serem
113
utilizadas no tratamento de convulsões. Já aranhas da família Mygalomorphae
114
possuem toxinas capazes de serem utilizadas como antibacterianos (MORTARI,
115
2007).
116
Na tentativa de se obter um medicamento que não cause os mesmos efeitos
117
colaterais que o Sildenafil, estudos envolvendo uma toxina de nome TX2-6, que está
118
presente no veneno de aranha da espécie Phoneutria nigriventer, mostram que essa
119
toxina poderia ser usada para produção de outro tipo de medicamento contra a DE
120
(RAVELLI, 2011).
121
No geral, as aranhas desse gênero se alimentam de insetos, pequenas
122
lagartixas e outras aranhas. Possui habito de caçar noturno. No Brasil elas são muito
123
comuns em ambientes de Mata Atlântica. Essas aranhas se adaptaram também a
124
ambientes domiciliares e peridomiciliares, podendo buscar refúgio em troncos,
125
rochas, buracos em muros e dentro de residências. Tem o nome popular de aranha
126
armadeira ou então aranha das bananas, por habitar em bananeiras, entre as folhas
127
e os cachos. Quando ameaçada, levanta os dois primeiros pares de pernas
128
dianteiras armando-se para defesa (Fig.1), daí surge o nome aranha armadeira
129
(CARDOSO et al, 2003). O período de maior atividade e acidentes envolvendo
130
essas aranhas ocorre durante o período de acasalamento, entre os meses de março
131
e abril (CHENET et al, 2009).
132
Cardoso et al (2003) descreve as aranhas tendo 8 olhos, disposto em três
133
fileiras, com uma fileira com dois olhos, uma fileira mediana com quatro olhos, e um
134
terceira fileira com mais dois olhos. Elas possuem nos palpos, uma espécie de
135
escova de pelos curtos e densos. O tamanho total do corpo fica em torno de 3cm de
136
comprimento, e somando com as pernas, podem chegar até 15cm. O corpo possui
137
pelos curtos, marrons acinzentados ou amarelos. Algumas apresentam no dorso
138
abdominal desenho formado por pares de manchas claras. O ventre pode conter
139
cores alaranjadas, negras ou marrons.
140
Figura 1- Aranha do gênero Phoneutria em postura de ataque.
141
142
Fonte: http://www.flickr.com/photos/ddguarda/3527893331/
143
O maior número de acidentes envolvendo aranhas desse gêneros na América
144
Latinas, são registrados no Brasil. Na Europa, Guatemala, Equador, Colômbia,
145
Argentina e Uruguai, foram registrados casos de picadas da aranha considerados
146
como patologia exótica, devido a presença da aranha em bananas importadas do
147
Brasil (CARDOSO et al, 2003).
148
Os casos de acidentes estão com frequência associados a atividades de se
149
calçar, efetuar a limpeza doméstica e manuseio de legumes e frutas. Normalmente
150
as áreas do corpo picadas incluem pés e mãos. Por causar rapidamente efeitos
151
extremamente desagradáveis, as vítimas procuram logo atendimento médico. O
152
número de casos que evolui para óbitos é baixo. Entre 1954 até 1965, de 3.830
153
casos de acidentes registrados, apenas 4 pessoas morreram (CARDOSO et al,
154
2003).
155
156
De acordo com Chenet (2009) quando uma aranha do gênero Phoneutria pica
uma pessoa, a ação do veneno pode causar três tipos de reação:
157

158
Caracterizado pela dor intensa sentida no local onde a aranha picou e também
159
atua no sistema nervoso central podendo causar distúrbio na visão, distúrbios de
160
equilíbrio, na audição, no estado de consciência e dormência no local da picada.
161
Caso não seja tratado a pessoa pode entrar em estado de choque e ter
162
insuficiência renal aguda.
163

164
Normalmente causa icterícia, hemoglobinúria e anemia. Ao entrar em contado
165
com a corrente sanguínea o veneno destrói as hemácias provocando anemia
166
hemolítica aguda, levando o indivíduo a óbito por asfixia célula.
167

168
Desencadeia processo de decomposição das proteínas, causando necrose dos
169
tecidos, caso não seja tratado, poderá ocorrer a perda do membro ou parte do
170
corpo afetada e também levar a óbito.
Reação neurotóxica
Reação hemolítica
Reação proteolítica
171
O início dos estudos com aranhas do gênero Phoneutria no tratamento da DE
172
deu-se pelo fato de que quando homens, independentemente da idade, eram
173
picados por uma aranha desse gênero, apresentavam como um dos efeitos
174
colaterais a ereção peniana dolorosa e prolongada por cerca de 4 horas, esse efeito
175
do veneno da aranha recebe o nome de priapismo (RAVELLI, 2011).
176
Segundo Versolato (2011) já são conhecidas diversas toxinas presentes no
177
veneno de aranhas Phoneutria capazes de serem usadas no tratamento de diversas
178
doenças e não somente contra a disfunção erétil.
179
Ravelli (2011) em estudo realizados em camundongos conclui que: o núcleo
180
paraventricular do hipotálamo não está envolvido com a ereção causada pela toxina;
181
a toxina TX2-6 não induz liberação de óxido nítrico em tecido cavernoso de
182
camundongo; a toxina é capaz de causar ereção mesmo em animais cujo tecido
183
cavernoso foi denervado.
184
Em um primeiro estudo, Nunes et al (2008) observou os efeitos do priapismo
185
causado pela toxina TX2-6 em ratos. Após purificar a toxina, ela foi injetada em ratos
186
hipertensos. Os ratos submetidos ao experimento apresentaram ereção, sem afetar
187
a função cardíaca deles, sendo ainda desconhecido o mecanismo de ação da toxina.
188
Torres (2010), afirma que a toxina da aranha Phoneutria nigriventer é uma
189
potencial ferramenta para o desenvolvimento de novas terapias para o tratamento da
190
DE. Ele também explica que o efeito de priapismo causado pela toxina, é devido a
191
interferência da toxina na via de óxido nítrico, substância essencial para que a
192
ereção ocorra (NUNES et al, 2008).
193
A tarefa para se chegar a um medicamento através da toxina TX2-6, não é
194
uma tarefa fácil. Muitos são os estudos necessários para que um fármaco seja
195
desenvolvido. Isso porque ainda não se conhece comprovadamente toda a
196
potencialidade da toxina, se ela pode interagir com outras funções e quais são os
197
efeitos colaterais da toxina (TORRES et al, 2010).
198
Em estudos mais recentes, Garcia et al (2011) evidenciaram ainda mais a
199
possibilidade do uso da toxina TX2-6 no tratamento da disfunção erétil. Segundo o
200
autor, um fármaco composto por uma série de componentes juntamente com a TX2-
201
6 se mostrou extremante eficaz.
202
Ratos que apresentavam hipertensão e também ratos normotensos foram
203
submetidos a utilização do fármaco e obtiveram ereção peniana satisfatória
204
(GARCIA et al, 2011).
205
Os resultados obtidos significaram um grande avanço na descoberta de um
206
medicamento alternativo para tratar a disfunção erétil em pacientes com
207
cardiopatias, que não podem utilizar os medicamentos atuais disponíveis para tratar
208
a DE (GARCIA et al, 2011).
209
Ao que tudo indica, em breve, estudo mais profundos vão permitir o
210
desenvolvimento de novos medicamentos eficazes no tratamento da disfunção erétil.
211
Sem dúvidas, medicamentos que não afetam cardiopatas poderiam mudar a vida de
212
homens que se sentem frustrados na vida sexual totalmente. O uso de toxina
213
presente no veneno de aranhas no tratamento de doenças é apenas uma amostra
214
do que real potencial que a toxina de animais tem para serem usadas em benefício
215
do homem. Escorpiões, cobras, moluscos, insetos e diversos outros animais podem
216
guarda em suas toxinas diversos tipos de substâncias beneficentes a nós. Isso
217
tomando por base, o exemplo que foi dado no presente trabalho.
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