CAPÍTULO VI POLINÔMIOS 6.1 Informações Gerais. O primeiro contato que se tem com polinômios é através das equações. Uma equação da forma anxn + an-1xn-1 + ... + a1x + a0 = 0, com n N é chamada de equação polinomial. Existem equações que não são polinomiais, por exemplo ex = 0, sen x + 3 = x. As equações polinomiais aparecem desde a antigüidade; no Papiro de Ahmes, de cerca de 1500 AC, um dos problemas que aparece é “ Uma certa quantidade, somada a seus 2/3, mais sua metade e mais sua sétima parte perfaz 33. Qual é esta quantidade?” A transcrição simbólica deste problema é : x + 2x x x 33 que é uma 3 2 7 equação polinomial de grau 1. Vários matemáticos trabalharam com equações polinomiais, principalmente na pesquisa de fórmulas que permitissem a obtenção de suas raízes, citamos aqui, Alkhowarizmi, Bhaskara, Cardano, Tartaglia, Ferrari, Bombelli, Viète, Diofanto, Fermat, Gauss, D’Alembert, Bolzano, Abel, Galois. Salientamos que no século IX, Alkhowarizmi apresentou importantes conclusões sobre a resolução de equações do 1 o e 2o graus e somente no século XII, Bhaskara apresentou a fórmula de resolução de uma equação do 2o grau. No século XVI, Cardano, Tartaglia e Ferrari propuseram fórmulas para resolver equações de 3o e 4o graus. Em 1824, Abel demonstrou que uma equação do 5o grau não pode ser resolvida através de radicais e cerca de 5 anos após, Galois demonstrou que a impossibilidade apontada por Abel se estendia às equações polinomiais de grau maior que 4. Em 1798 em sua tese de doutorado, Gauss demonstrou que toda equação polinomial de grau n admite pelo menos uma raiz complexa. Na realidade, apesar de descrevermos os resultados das pesquisas na linguagem moderna, não sei quando surgiu a denominação de polinômios, talvez o início tenha sido dado por Diofanto que usou pela primeira vez um símbolo literal para representar o desconhecido e por Gauss que apresentou a idéia de adição formal quando estudou formas quadráticas; estas são idéias básicas para a representação de polinômios. O surgimento da teoria de polinômios, na metade do século XIX, está estreitamente ligada a teoria dos corpos comutativos, e seu 130 desenvolvimento ao desenvolvimento da álgebra abstrata. O desenvolvimento da álgebra abstrata e consequentemente dos polinômios deveu-se principalmente aos trabalhos de Gauss e Galois. Dos matemáticos que deram sua contribuição ao desenvolvimento da teoria de polinômios citamos ainda Kronecker, que mostrou a independência da teoria de números algébricos com relação ao teorema fundamental da álgebra (Gauss), mostrando que todo corpo de números algébricos ( de grau finito) é isomorfo a um corpo de restos Q[x]/(f), onde f é um polinômio irredutível sobre Q. No capítulo anterior já introduzimos a idéia de polinômio e vejamos aqui a relação do que foi apresentado com a notação usual utilizada na representação de um polinômio. Continuaremos considerando A um anel comutativo com unidade. A seqüência X = ( 0 1 0 0 0 ...) é a indeterminada sobre A. Lembrando a definição da multiplicação definida em 5.8 temos: X2 = (0 0 1 0 0 0 ...) X3 = (0 0 0 1 0 0 0 ...) X4 = (0 0 0 0 1 0 0 0 ...) e assim por diante. Dado o polinômio f = (a0 a1 a2 a3 ... an 0 0 0 ...) temos: f = (a0 0 0 0 ...) + (0 a1 0 0 0 ...) + (0 0 a2 0 0 0 ...) + ...+ (0 0 0 ... an 0 0 0 ...) = a0 + a1(0 1 0 0 0 ...) + a2(0 0 1 0 0 0 ...) + ... + an(0 0 0 ... 1 0 0 0 ...) = a0 + a1X + a2X2 + a3X3 + ... + anXn. O penúltimo passo será explicado posteriormente.(*) Anotaremos por A[X] = {a0 + a1X + a2X2 + ... + anXn | a0, a1, ...,an A, n N} o anel dos polinômios sobre A. Para representar um polinômio de uma forma mais concisa podemos utilizar n f= a X i 0 i i . Os elementos ai são chamados de coeficientes do polinômio f. f = ( 0 0 0 ....) é chamado de polinômio nulo. f = ( 1 0 0 0 ...) é a unidade do anel A[X]. 6.1.1 Dispositivo prático para a multiplicação de polinômios. 131 Sejam f = ( a0 a1 a2 a3 a4 0 0 0...) , g = (b0 b1 b3 0 0 0 ...). Colocamos os coeficientes ai e bj em uma tabela e multiplicamos todos os ai pelos bj, somamos os produtos em cada diagonal e obtemos assim cada coeficiente do polinômio produto f.g. a0 a1 a2 a3 a4 b0 a0 b 0 a1 b 0 a2 b 0 a3 b 0 a4 b 0 b1 a0 b 1 a1 b 1 a2 b 1 a3 b 1 a4 b 1 b2 a0 b 2 a1 b 2 a2 b 2 a3 b 2 a4 b 2 b3 a0 b 3 a1 b 3 a2 b 3 a3 b 3 a4 b 3 Assim temos, c0 = a0b0, c1 = a0b1+a1b0, c2 = a0b2+a1b1+a2b0 , c3 = a0b3 +a1b2 +a2b1+a3b0, c4 = a0b4 + a1b3+a2b2+a3b1+a4b0 = 0 + a1b3+a2b2+a3b1+a4b0, ... Definição 6.1.1 Seja f = (ai) um polinômio não nulo. Chama-se grau de f, e representa-se por gr(f), o número natural n tal que an 0 e ai = 0 para todo i > n. Neste caso dizemos que an é o coeficiente dominante. Exemplos 1. f = (4 0 3 0 2 2 0 0 0 ....) possui grau 5 e o coeficiente dominante é 2. 2. f = (1 0 0 0 ...) possui grau 0 e o coeficiente dominante é 1. Vejamos os recursos disponíveis no Maple. f:=3*x^6-4*x^4+3*x^3+2*x^2-x+5: coeff(f,x^4); -4 coeffs(f); determina todos os coeficientes, mas a ordem não é mantida. 5, -1, -4, 2, 3, 3 lcoeff(f); determina o coeficiente dominante. 3 tcoeff(f); determina o coeficiente do termo de grau zero. 5 132 degree(f); 6 Teorema 6.1.1 Sejam f = (ai) e g = (bi) polinômios não nulos de A[X]. Então, 1. ou f + g = 0 ou gr(f+g) max{gr(f),gr(g)} 2. Se gr(f) gr(g), então gr(f+g) = max{gr(f),gr(g)}. 3. ou f.g = 0 ou gr(f.g) gr(f) + gr(g) 4. Se gr(f) = n, gr(g) = m ,e an ou bm não é divisor próprio de zero, então g(f.g) = n + m. Prova. 1. Sendo f + g = (ci) e s = max{gr(f),gr(g)}, temos: ci = ai + bi = 0 + 0 = 0 para i > s, portanto, ou f + g = 0 ou gr(f+g) s. 2. Sendo gr(f) gr(g), suponhamos que gr(f) = n > gr(g), temos: cn = an + bn = an + 0 = an 0 e ci = 0 para i > n, portanto, gr(f+g) = n = max{gr(f),gr(g)}. 3. Sendo gr(f) = n, gr(g) = m e f.g = (ck), temos: cn+m+p = a0bn+m+p + a1bn+m+p-1 + ... + anbm+p + ... + an+m+pb0, e como bj = 0 para j>m e ai = 0 para i > n temos que cn+m+p = 0 para todo p natural. Assim, ou f.g = 0 ou gr(f.g) n + m. 4. Por outro lado, cn+m = a0bn+m + a1bn+m-1 + a2bn+m-2 + ... + anbm + ... + an+mb0 = anbm. Supondo que an não é um divisor próprio de zero temos que anbm 0 e assim gr(f+g) = n + m. Exemplos 1. f = (1 2 3 0 0 0 ...), g = ( -1 -2 -3 0 0 0 ...) Z[X]. gr(f) = 2 e gr(g) = 2. f+g = (0 0 0 0 0 ...). 2. f = ( 1 2 3 4 0 0 0 ...), g = ( -1 -2 -3 0 0 0) Z[X]. 133 gr(f) = 3 e gr ( g ) = 2. f+g = (0 0 0 4 0 0 0 ...) e gr(f+g) = 3 = max{3,2}. 3. f = ( 2 2 0 0 0 ...), g = ( 0 0 2 0 0 ...) Z4[X]. gr(f) = 1 e gr(g) = 2. f.g = ( 0 0 0 ...) 4. f = ( 2 1 3 0 0 ...), g = ( 1 2 0 0 ...) Z6[X]. gr(f) = 2 e gr(g) = 1. f.g = ( 2 5 5 0 0 ...) e gr(f.g) = 2 < 2 + 1 = gr(f) + gr(g). 5. f = ( 3 -2 1 2 0 0 0 ...), g = (1 0 2 0 0 0 ...) Z[X]. gr(f) = 3 e gr(g) = 2, a3 = 2 não é um divisor próprio de zero. f.g =( 3 -2 7 -2 2 4 0 0 0...) e gr(f.g) = 5 = 3 + 2 =gr(f) + gr(g). Teorema 6.1.2 L = {(a 0 0 0 ...) | a A} é um subanel de A[X]. Teorema 6.1.3 A é isomorfo a L. Prova. Basta apresentar um isomorfismo entre A e L. F: A L a (a 0 0 0 ...) é um isomorfismo. Sejam a, b A. 1. F(a+b) = (a+b 0 0 0 ...) = (a 0 0 0 ...) + (b 0 0 0 ...) = F(a) + F(b) 2. F(a.b) = (a.b 0 0 0 ...) = (a 0 0 0 ...) .(b 0 0 0 ...) = F(a).F(b) 3. N(F) = {0} e portanto F é injetora 4. Im(F) = L e portanto F é sobrejetora. Logo, F é um isomorfismo. Como A é isomorfo a L podemos identificar os elementos de L com os elementos de A, ou seja, (a 0 0 0 ....) = a. Isto justifica (*). Teorema 6.1.4 Se A é um anel de integridade, então A[X] é um anel de integridade. 6.1.2 Elementos inversíveis 134 U(A[X]) = {f A[X] | g A[X] e f.g = g.f = 1} É evidente que U(A) U(A[X]). Quando A é um anel de integridade temos que U(A[X]) = U(A). f U(A[X]) g A[X] tal que f.g = 1. f.g = 1 gr(f.g) = gr(1) = 0 gr(f) + gr(g) = 0 gr(f) = gr(g) = 0 f U(A). Observe que U(R[X]) = R*, U(Q[X]) = Q*, U(Z[X]) = U(Z) = {1, -1}, U(Zp[X]) = U(Zp). 6.2 Algoritmo de Euclides Já conhecemos o Algoritmo de Euclides ( algoritmo da divisão) em Z e em Z[i], vejamos agora este algoritmo aplicado em polinômios. A partir de agora vamos utilizar a notação usual para polinômios. Quais os recursos do software Maple para isto? f:=2*x^3+3*x^2+5: q:=quo(f,g,x); g:=3*x+1: 2 2 7 7 q := x x 3 9 27 r:=rem(f,g,x); r := 142 27 g*q+r; 7 142 2 2 7 ( 3 x 1 ) x x 9 27 27 3 simplify("); 3 2 2 x 3 x 5 Assim, vemos que f = g.q + r. O que acontece se fizermos a divisão de g por f? quo(g,f,x); 0 rem(g,f,x); 3 x 1 Aqui também temos g = f.q + r. 135 Podemos também observar que f, g Z[X], no entanto q e r (na primeira situação) não pertencem a Z[X]. Já podemos perceber que devemos analisar várias situações. Teorema 6.2.1 Seja K um corpo. ( Podemos pensar em K = R, Q, C ou Zp) Dados f, g K[X] tal que g 0, existem q, r K[X] tal que f = g.q + r com r = 0 ou gr(r) < gr(g). Além disso q e r são únicos. Prova. Se f = 0, tome q = r = 0. Temos f = g.q + r. Seja f 0. Se gr(f) < gr(g), tome q = 0 e r = f. Temos f = g.q + r. Seja gr(f) gr(g). n Anotando gr(f) = n e gr(g) = m, escrevemos f = a i Xi e g = i0 m b X i 0 i i Faremos a prova usando a indução sobre n. Mostremos que o teorema é verdadeiro para n = 0. n = 0 e n m m = 0. Portanto, f = a0 e g = b0. Tome q = b0-1.a0 e r = 0. ( Lembre que K é corpo) Suponhamos que o teorema seja verdadeiro para os polinômios de grau k, com k < n. Mostremos que o teorema é verdadeiro para os polinômios de grau n. Tome h = anbm-1Xn-m . Considere f1 = f - h.g. Se f1 = 0, temos f = h.g e r = f1 = 0. Caso contrário f1 tem grau e gr(f1) < gr(f). ( Observe que podemos ter gr(f1) < gr(g) ou gr(f1) gr(g) ). Pela hipótese de indução, existem q 1, r1 K[X] tal que f1 = q1.g + r1, com r1 = 0 ou gr(r1) < gr(g). Portanto, q1.g + r1 = f - g.h, ou seja, f = q1.g + h.g + r1 = (q1 + h).g + r1 Assim, existem q = q1 + h e r = r1 K[X] tal que f = g.q + r, com r = 0 ou gr(r) < gr(g). Vejamos agora que o quociente e o resto são únicos. Sejam q1, q2, r1, r2 tais que f = q1.g + r1 = q2.g + r2, com ri = 0 ou gr(ri)< gr(g). (q1 - q2).g = r2 - r1. Suponhamos q1 q2. Então g((q1 - q2).g) = gr(q1 - q2) + gr(g) gr(g) Isto é um absurdo pois, gr(r2 - r1) < gr(g). 136 Logo, q1 = q2 e r1 = r2. O leitor é convidado a analisar este teorema para os casos Z[X] e Z n[X]. 6.3 Raízes de Polinômios Conhecemos várias funções que têm como lei uma expressão polinomial, por exemplo, função quadrática, função linear, função biquadrática,... . Exemplos. 1. f: R R, f(x) = 3x2 + x + 1. f é chamada de função quadrática. Qual o valor (imagem) de f no número 1? f(1) = 3(1)2 + 1 + 1 = 5. No Maple temos: f:=x->3*x^2+x+1: f(1); 5 Qual o valor de f no número –5? f(-5); 71 2. g: R R, g(x) = 4x3 + 2 g é chamada de função cúbica. Qual o valor de g em 1 e em –5? g:=x->4*x^3+2: g(1); 6 g(-5); -498 137 Podemos perceber a estreita relação entre estas funções e polinômios, temos: f = 3x2 + x + 1, g = 4x3 + 2. Fixados os elementos a0, a1, a2, a3, ..., an A podemos definir a seguinte função f: A A, onde f(X) = n a X i0 i i . Esta função é chamada de função polinomial. f(X) é chamado de valor de f em X. O valor de f = 3x2 + x + 1 em 1 é 5, o valor de f em -5 é 71. Definição 6.3.1 Quando o valor de f em um elemento é zero, dizemos que este elemento é raiz de f. Em geral não estamos interessados em deixar o elemento chamado raiz tão solto como aparece na definição. Queremos determinar raízes dentro de um anel específico. Uma pergunta clássica é: dado um polinômio f R[X], este polinômio f possui raízes inteiras? Vejamos primeiro alguns recursos do Maple com relação a raízes. f:=x->3*x^2+x+1: solve(f(x),x); determina todas as raízes complexas de f. 1 1 1 1 I 11 , I 11 6 6 6 6 fsolve(f(x),x,complex); determina todas as raízes com aproximação. .1666666667.5527707984 I, .1666666667.5527707984 I isolve(f(x),x); determina as raízes inteiras. f não possui raízes inteiras. h:=x^4-6*x^3+6*x^2+12*x-16: isolve(h,x); { x 2 }, { x 4 } solve(h,x); 2, 4, 2 , 2 138 fsolve(h,x); -1.414213562, 1.414213562, 2.000000000, 4.000000000 f:=x^2-x: msolve(f,6); determina as raízes de f no anel Z6. { x 0 }, { x 1 }, { x 3 }, { x 4 } Teorema 6.3.1 (Teorema do resto) Seja A[X] um anel onde podemos utilizar o algoritmo de Euclides. ( Tal anel é chamado de anel euclidiano). Sejam f A[X] e a A. Existe q A[X] tal que f = q(X - a) + f(a). Prova. Pelo algoritmo de Euclides, existem q, r A[X] tais que f = q(X - a) +r com r = 0 ou gr(r) <1. Se r = 0, então f(a) = q(a)(a - a) = 0 = r. Se r 0, então gr(r) < 1. Portanto, gr(r) = 0, ou seja, r A. Assim, f(a) = q(a)(a - a) + r(a) = r. Logo, f = q(X - a) + f(a). Exemplo. Sejam f = x3 + x2 –4x + 5 Z[x] e a = 1. Temos que f(1) = 13 + 12 –4(1) + 5 = 3 Sabemos que existe q Z[x] tal que f = q(x – 1) + 3 Como f(1) 0, 1 não é raiz de f. Como r 0 temos que x – 1 não divide f. Isto nos leva ao seguinte teorema. Teorema 6.3.2 (Teorema de D’Alembert) Seja A[X] como no teorema anterior. (X - a) | f a é raiz de f. Prova. Imediata pelo Teorema dos resto. Dispositivo prático de Briot - Ruffini. 139 Serve para determinar o quociente e o resto na divisão euclidiana por X - a e consequentemente para testar se determinados elementos são raízes do polinômio dado. Exemplo f = 3X6 -4X4 + 3X3 + 2X2 - X + 5 3 3 0 -6 -6 -4 12 8 e X-a=X+2 3 -16 -13 2 26 28 -1 -56 -57 5 114 119 | | -2 Logo, q = 3X5 - 6X4 + 8X3 - 13X2 + 28X -57 e r = 119. Assim, sabemos que f(-2) = 119 e portanto -2 não é raiz de f. Quais as raízes de f? Sugerimos que o leitor utilize os recursos computacionais para determinar as raízes. 6.4 Decomposição em fatores lineares Seja f A[X] de grau n. f = n a X i0 i i Se d1 A é raiz de f, então existe q1 A[X] tal que f = q1(X - d1). Se d2 A é raiz de f e d2 d1, então d2 é raiz de q1. Portanto, existe q2 A[X] tal que f = q2(X - d1)(X - d2). Assim sucessivamente se temos d1, d2, ..., dn todas as raízes de f em A podemos escrever f = an(X - d1)(X - d2)...(X - dn) que é a decomposição linear de f em A[X]. Na realidade não precisamos fazer a decomposição linear no anel onde tomamos f, mas sempre devemos especificar onde queremos tal decomposição. Exemplo Obter a decomposição linear de f = x3 – x2 –2x + 2 em R[x]. Devemos obter as raízes de f em R ( caso existam). As possíveis raízes inteiras de f são 1 , 2. f(1) = 0, portanto 1 é raiz de f. 140 Utilizando o dispositivo prático de Briot– Ruffini, obtemos f = (x2 – 2)(x – 1) As outras raízes de f são as raízes de x2 – 2, ou seja, 2 e portanto f=(x - 2 )(x + 2 )(x – 1). É claro que f não possui uma decomposição linear em Z[x]. 6.4.1 Relações de Girard n Seja f = a X i0 i i R[X] Sejam d1, d2, ..., dn as raízes de f em C. Temos que: a0 = an(-1)n d1.d2. ... .dn a1 = an(-1)n-1(d1.d2. ... .dn-1 + d1.d2. ... .dn-2.dn + d1.d2. ... .dn-3.dn-1.dn + ... + d2.d3. ... .dn) a2 = an(-1)n-2(d1.d2. ... .dn-2 + d1.d2. ... . dn-3.dn + d1.d2. ... .dn-4.dn-1.dn + ... + d3.d4. ... .dn + d2.d3. ... .dn-1 + ...+ ...) sempre se retira duas raízes. --------------------------------------------------------------------------------------an-2 = an(-1)2(d1.d2 + d1.d3 + ... + dn-1.dn) an-1 = -an(d1 + d2 + ... + dn) Estas relações são chamadas de relações de Girard. Um caso específico destas relações e já conhecido é quando temos o seguinte problema: “a soma de dois números é -4 e seu produto é 10”. Com estes dados e pelas relações de Girard temos f = X2 + 4X + 10 e determinando as raízes de f obtemos a solução do problema. Observe também o seguinte fato importante, como a 0 = an(-1)n d1.d2. ... .dn temos que qualquer raiz de f é um divisor de a 0, portanto quando queremos obter raízes inteiras ( por exemplo) ( leitor pense um pouco sobre isto) este resultado juntamente com o “dispositivo de Briot-Ruffini” é bastante útil. Teorema 6.4.1 Sejam A um anel de integridade, f A[X] e f 0. Então o número de raízes de f em A não ultrapassa gr(f). Prova. Faremos a prova por indução no gr(f). 141 gr(f) = 0 f = a0 0 f não possui raízes. gr(f) = n > 0. Suponhamos a afirmação verdadeira para todos os polinômios de grau n-1. Se f não possui raízes em A, então número de raízes = 0 < n. Caso contrário, seja d A uma raiz de f. Portanto, existe q A[X] tal que f = (X - d)q. Se f só possui esta raiz, então número de raízes de f em A = 1 n. Caso contrário, qualquer outra raiz de f, diferente de d é raiz de q. Por outro lado temos que gr(f) = n = 1 + gr(q), ou seja, gr(q) = n - 1. Pela hipótese de indução temos que q possui no máximo n - 1 raízes em A. Logo, f possui no máximo n raízes em A. Corolário Seja A um anel de integridade. Sejam f, g A[X] tais que gr(f) = gr(g) = n Se existem d1, d2, ...,dn, dn+1 A, distintos entre si, tais que f(d i) = g(di), 1 i n+1, então f = g. O leitor deve observar que a condição do anel ser de integridade é essencial neste teorema. Teorema 6.4.2 (Teorema Fundamental da Álgebra) - Karl F. Gauss (1799) Seja A = Z, Q, R, C. Qualquer polinômio não constante em A[X], possui todas suas raízes em C. Este teorema faz parte da tese de Doutorado de Gauss e devido sua complexidade não o demonstramos aqui. Observe que este teorema garante que qualquer polinômio em A[X] (A =Z,Q,R,C) pode ser decomposto em fatores lineares de C[X]. Teorema 6.4.3 (Teorema de Bolzano) Seja f R[X]. Sejam c1, c2 R, distintos. a) Se f(c1) > 0 e f(c2) > 0, então entre c1 e c2, f possui um número par de raízes reais. 142 b) Se f(c1) < 0 e f(c2) > 0, então entre c1 e c2, f possui um número ímpar de raízes reais. Exemplos 1. f:=x->x^7+2*x^6+3*x^4+5: solve(f(x),x); 7 6 4 RootOf( _Z 2 _Z 3 _Z 5 ) As raízes não são calculadas. f(-1); 9 f(1); 11 Portanto entre -1 e 1, f possui um número par de raízes. f(-3); -481 Portanto entre -3 e -1, f possui um número ímpar de raízes. with(plots): plot(f,x=-1..1); plot(f(x),x=-3..-1); 143 O polinômio f possui 0 raízes reais entre -1 e 1 e possui 1 raiz real entre -3 e -1. 6.4.2 Interpolação de Lagrange Dados a1, a2, ..., an R distintos dois a dois e b 1, b2, ..., bn R não todos nulos desejamos determinar um polinômio f R[X] de grau n-1 tal que f(a1) = b1, f(a2) = b2, ..., f(an) = bn. Isto significa geometricamente que dados os pontos (a 1,b1), (a2,b2), ..., (an,bn) desejamos determinar a curva algébrica de grau n-1 que passa por estes pontos. Por exemplo, dados dois pontos, determinar a reta que passa por eles. Vejamos como obter a curva quadrática que passa por três pontos não colineares. Sejam P1 = (a1,b1), P2 =(a2,b2) e P3 = (a3,b3). Uma curva quadrática é dada pelo polinômio f = aX 2 + bX + c, e portanto devemos determinar a, b, c tais que f(a1) = b1, f(a2) = b2 e f(a3) = b3. Assim, a. a 12 b. a 1 c b1 2 a. a 2 b. a 2 c b 2 a. a 2 b. a c b 3 3 3 Tal sistema possui uma única solução se 144 2 a1 2 = a2 2 a3 a1 1 a 2 1 = (a3 - a1)(a3 - a2)(a2 - a1) 0. a3 1 Aqui fica claro a exigência de que a1, a2, a3 devem ser dois a dois distintos. Procedimento Primeiro determinamos um polinômio f 1 que se anula em a2 e a3 e que f1(a1) = b1. f1 = b 1 ( X a 2 )( X a 3 ) (a 1 a 2 )(a 1 a 3 ) De maneira análoga obtemos, ( X a 1 )( X a 3 ) ( X a 1 )( X a 2 ) f2 = b 2 f3 = b 3 (a 2 a 1 )(a 2 a 3 ) (a 3 a 1 )(a 3 a 2 ) A curva procurada é dada pelo polinômio f = f1 + f2 + f3 Generalização Dados n pontos nas condições estabelecidas a curva procurada é dada pelo n ( X a 1 )...( X a i 1 )( X a i 1 )...( X a n ) polinômio f = b i . Esta fórmula (a i a 1 )...(a i a i 1 )(a i a i 1 )...(a i a n ) i 1 chama-se “Fórmula de Interpolação de Lagrange”. Exemplo Determine a curva algébrica que passa pelos pontos P 1 = (-2,2), P2 = (-1,2), P3 = (0,6), P4 = (1,2) e P5 = (2,2). f1:=2*(x+1)*x*(x-1)*(x-2)/((-2+1)*(-2)*(-2-1)*(-2-2)); f1 := 1 12 ( x 1 ) x ( x 1 ) ( x 2 ) f2:=2*(x+2)*x*(x-1)*(x-2)/((-1+2)*(-1)*(-1-1)*(-1-2)); f2 := 1 3 ( x 2 ) x ( x 1 ) ( x 2 ) f3:=6*(x+2)*(x+1)*(x-1)*(x-2)/(2*1*(-1)*(-2)); 145 3 f3 := ( x 2 ) ( x 1 ) ( x 1 ) ( x 2 ) 2 f4:=2*(x+2)*(x+1)*x*(x-2)/((1+2)*(1+1)*1*(1-2)); f4 := 1 3 ( x 2 ) ( x 1 ) x ( x 2 ) f5:=2*(x+2)*(x+1)*x*(x-1)/((2+2)*(2+1)*2*(2-1)); f5 := 1 12 ( x 2 ) ( x 1 ) x ( x 1 ) f:=expand(f1+f2+f3+f4+f5); 4 2 f := x 5 x 6 Este é o polinômio procurado. O leitor pode perceber como é penoso fazer todos estes cálculos manualmente. Vejamos agora a curva procurada. with(plots): plot(f,x=-2..2); 6.5 Polinômios Irredutíveis Definição 6.5.1 f A[X] é irredutível sobre A se 1) f 0 2) f U(A[X]) 3) f = g.h g U(A[X]) ou h U(A[X]). 146 Definição 6.5.2 f A[X] é redutível sobre A se 1) f 0 2) f U(A[X]) 3) g,h A[X] não inversíveis tais que f = g.h Exemplos 1. f = 2X3 + 4X - 6 Z[X] 1) f 0 ( evidente) 2) f U(Z[X]), pois gr(f) = 3 > 0 3) f = 2.(X3 + 2X - 3) com g = 2 U(Z[X]) = {1,-1} e h = X3 + 2X - 3 U(Z[X]). Logo, f é redutível sobre Z. Observe que isto não é suficiente para afirmar que f é redutível sobre R, pois 2 U(R[X]), mas será que conseguimos dois outros polinômios g, h não inversíveis em R[X] tais que f = g.h? Ora, sabendo que todo polinômio de grau ímpar possui pelo menos uma raiz real (Por que?) podemos obter g = X - d e h = aX2 + bX + c tais que f = g.h e assim f também é redutível sobre R. Veja pelo Maple que irreduc(f); false Este comando testa a irredutibilidade sobre o menor corpo onde os coeficientes do polinômio estão. Para Z não possuímos tal comando. Deixamos ao leitor a análise de f sobre Q e sobre C. 2. f = X2 + 1 Z[X] 1) f 0 ( evidente) 2) f U(Z[X]), pois gr(f) = 2 > 0 gr (g) 0 e gr(h) = 2 3) f = g.h 2 = gr(f) = gr(g) + gr(h) gr(g) = gr(h) = 1 gr(g) = 0 g = c0 Z . Como X2 + 1 = g.h, concluímos que c0 = 1 U(Z[X]) 147 gr(g) = gr(h) = 1 f possui raiz em Z, mas os candidatos a raízes de f são 1 que com uma simples verificação percebe-se não serem raízes de f. Portanto, não existe g, h Z[X] ambos de grau 1 tais que f = g.h. Logo, f é irredutível sobre Z. De forma análoga podemos mostrar que f é irredutível sobre Q e sobre R. Por outro lado, como f possui raízes complexas, obtemos g = X - i e h = X + i tais que f = g.h e assim f é redutível sobre C. 3. f = X3 - X2 - X - 2 Z[X] é redutível sobre Z 4. f = 3 X 15 Z17[X] é irredutível sobre Z17 5. f = X2 + 2 X 3 Z6[X] é redutível sobre Z6. 1) f 0 ( evidente) 2) f U(Z6[X]), pois gr(f) = 2 > 0. 3) f = g.h Testando os elementos de Z6 para determinar raízes de f encontramos 3 e 1 como raízes , portanto podemos obter g = X - 3 e h = X - 1 não inversíveis tais que f = g.h. 6.6 Fatoração Fatorar um polinômio em A[X] é escrevê-lo como produto de polinômios irredutíveis em A[X]. Teorema 6.6.1 Seja A um anel de integridade Seja f A[X] , f 0 e f U(A[X]). Então existem polinômios irredutíveis p 1, p2, ..., pr A[X] tais que f = p1.p2. ... .pr. Além disso se f = p1.p2. ... .pr = q1.q2. ... .qs, com q1, q2, ...,qs irredutíveis sobre A, então r = s e pi ~ qi ( a menos de uma permutação nos índices). Obs. p ~ q significa que p|q e q|p. Exemplo Fatorar f = X3 - X2 - X - 2 em Z[X]. 148 f = (X – 2)(X2 + X + 1) Observe que X - 2 e X2 + X + 1 são irredutíveis sobre Z. Vejamos agora como a idéia de primo coincide com a idéia de polinômio irredutível. Teorema 6.6.2 Seja A um anel de integridade. Seja p A[X] irredutível sobre A. Sejam f, g A[X] tais que p|f.g Então p|f ou p|g. Prova. f = 0 ou g = 0 f.g = 0 p|f.g e (p|f ou p|g) ( f U(A[X]) ou g U(A[X])) e p|f.g. Suponhamos que f U(A[X]) e p|f.g. p|f.g h A[X] tal que f.g = p.h. Multiplicando ambos os lados de f.g = p.h por f-1 temos g = f-1.p.h e portanto p|g. Suponhamos agora f , g 0 e f, g U(A[X]). p|f.g h A[X] tal que f.g = p.h Pelo teorema 6.6.1 podemos fatorar f e g e obtemos (p1.p2. ... .pr)(pr+1.p2. ... .ps) = p.h Como a fatoração é “única” e p é irredutível sobre A temos que p ~ pi para algum i. Se 1 i r, então p|f. Se r+1 i s, então p|g. 6.7 Multiplicidade de Raízes Seja f A[X] e d A uma raiz de f. Sabemos que (X - d) |f, mas pode acontecer que (X - d)2 |f, (X - d)3 | f, ..., (X - d)i | f. s = max{i N | (X - d)i | f} é chamado de multiplicidade da raiz d de f . Notação; m(d,f). Quando s = 1, dizemos que d é uma raiz simples. Exemplo 149 f= X8 - 2X4 + 1 R[X] A fatoração de f em R[X] é (X – 1)2(X + 1)2(X2 + 1)2 Assim vemos que 1 é raiz de f com multiplicidade 2 e -1 também é raiz com multiplicidade 2. As outras raízes são complexas. A fatoração de f em C[X] é (X – 1)2(X + 1)2(X + i)2 (X – i)2 As raízes são: 1, -1, i, -i todas com multiplicidade 2. Observe que a resolução de um problema depende onde ele é formulado e de qual o interesse do momento. No teorema a seguir f’ significa a derivada de f e f (s) significa a s-ésima derivada de f. Teorema 6.7.1 Seja f A[X] tal que gr(f) = n. A é uma raiz de f de multiplicidade s, se e somente se f() = f’() =f’’()= ...=f(s-1)() = 0 e f(s)() 0. Prova. raiz de f tal que m(, f) = s f = (X - )s . q , com q() 0. Temos que f( ) = 0 pois é raiz de f. f’ = s(X - )s-1.q + (X - )s. q’ = (X - )s-1[s.q + (X - ).q’] = (X - )s-1.q1. Portanto, f’() = 0 e q1() 0. f’’ = (s - 1)(X - )s-2.q1 + (X - )s-1.q1’ = (X - )s-2[(s - 1)q1 + (X - ).q1’] = (X - )s-2.q2. Portanto, f’’() = 0 e q2() 0. Assim sucessivamente, até f(s-1) = (X - ).qs-1 e f(s-1)() = 0 e qs-1() 0. Finalmente, f(s) = qs-1 + (X - ).qs-1’ e portanto f(s)() 0. Pela fórmula de Taylor obtemos f = f() + f’()(X - ) + f' ' ( ) f (s-1) ( ) (X - )2 + ... + (X - )s-1+ 2 (s - 1)! f (s) ( ) f (n) ( ) s (X - ) + ... + (X - )n. s! n! 150 Como f() = f’() = ... = f(s-1)() = 0 e f(s)() 0, obtemos f (s) ( ) (X - )s + ... s! f (s) ( ) f (n) ( ) ... ( X - ) n-s = )s n! s! f= + f (n) ( ) (X n! - )n = (X - = (X - )s.q com q() 0. Logo, é raiz de f de multiplicidade s. Exemplo Dado o polinômio, f = X5 – 10X4 + 30X3 – 135X + 162 que possui 3 como raiz, determine a multiplicidade desta raiz. f'’ = 5X4 – 40X3 + 90X2 – 135 e f’(3) = 0 f’’ = 20X3 – 120X2 + 180X e f’’(3) = 0 f’’’ = 60X2 – 240X + 180 e f’’’(3) = 0 f(4) = 120X – 240 e f(4)(3) = 120 Como f(4)(3) 0, temos que m(f,3) = 4. 6.8 Corpo de funções racionais Como Z[X] é um anel de integridade, podemos a partir deste anel construir um corpo, que consiste de todas as frações de polinômios e é denominado de corpo de funções racionais em X sobre Z. Z(X) = { f | f, g Z[X] e g 0 }. g Lembre do teorema 5.5.4 Através do homomorfismo injetor : Z[X] Z(X) f f 1 temos que Z[X] Z(X). 151 6.9 Decomposição em frações parciais Tal decomposição tem utilidade quando se processa a integração de funções racionais. Queremos decompor f em frações do tipo: g 1) a X-b 2) a ,k2 (X - b) k 3) aX + b , onde X2 + pX + q é irredutível em R[X] 2 X pX + q 4) aX + b ,k2 (X 2 + pX + q) k Suponhamos que f e g não possuem raízes em comum. Seja a uma raiz de g tal que k = m(a,g), ou seja, g = (X - a)k.g1 com g1(a) 0. f b f 1 Então = , onde b 0 e gr(f1) < (k - 1) + k k -1 g (X - a) (X - a) .g 1 gr(g1). f 1 Procedendo de maneira análoga para , obtemos k -1 (X - a) .g 1 f b f 1 1 2 , ..., sucessivamente obtemos, k -1 k -1 k 2 (X - a) .g (X - a) (X - a) .g 1 2 b b f f b 1 ... k -1 k g (X - a) k (X - a) k -1 (X - a) g k 152 Procedimento geral Seja f R(X) com MDC(f,g) = 1. g Primeiro decompomos g em produto de elementos irredutíveis de R[X]. Para a R tal que m(a,g) = k, obtemos as frações parciais : b b b 1 2 ... k -1 . X-a (X - a) k (X - a) k -1 Para os fatores irredutíveis de g da forma (X2 + pX + q)s, obtemos as frações parciais: m X+n m X+n m X+n 1 1 2 2 s s ... (X 2 pX + q) s (X 2 pX + q) s -1 X 2 pX + q Exemplos. 1. Decompor X2 2 em frações parciais. 3 ( X +1) ( X - 2) Primeiro vemos que MDC(X2+2,(X+1)3(X-2))=1. b1 b2 X2 2 b c Portanto, 3 3 2 (X + 1) ( X - 2) (X + 1) (X + 1) X +1 X - 2 Logo, X2 + 2 = b(X-2) + b1(X + 1)(X - 2) + b2(X + 1)2(X - 2) + c(X + 1)3 = = (b2 + c)X3 + (b1 + 3c)X2 + (b - b1 -3b2 + 3c)X + (-2b - 2b1 - 2b2 + c) Assim, 0 = b2 + c 1 = b1 + 3c 0 = b - b1 - 3b2 + 3c 153 2 = -2b - 2b1 - 2b2 + c 1 2 2 , b2 = ec= . 3 9 9 Você também pode utilizar o Maple para encontrar as soluções sem muito esforço. Resolvendo este sistema encontramos b = -1, b1 = solve({b2+c=0,b1+3*c=1,b-b1-3*b2+3*c=0,-2*b-2*b12*b2+c=2},{b,b1,b2,c}); 2 1 -2 { c , b1 , b-1, b2 } 9 3 9 Assim, temos a decomposição em frações parciais de X2 2 . 3 ( X +1) ( X - 2) Vejamos o comando do Maple para obtermos esta decomposição diretamente f:=(x^2+2)/((x+1)^3*(x-2)): convert(f,parfrac,x); 1 ( x 1 ) 2. Decompor 3 1 1 3 ( x 1 ) 2 2 1 9 x 1 2 1 9 x 2 X em frações parciais. ( X 2 1)( X 1) MDC(X, (X2 + 1)(X – 1)) = 1, portanto, estamos em condição de utilizar o procedimento. Também devemos perceber que X2 +1 é irredutível sobre R. A decomposição procurada será da forma X aX b c 2 2 ( X 1)( X 1) X 1 X 1 Assim, X = (aX + b)(X - 1) + c(X2 + 1). Fazendo X = 1, obtemos 1 = 2c. Fazendo X = 0, obtemos 0 = -b + c 154 Fazendo X = 2, obtemos 2 = 2a + b + 5c Resolvendo este sistema ( você pode utilizar o Maple, olhe anexo VI) 1 1 obtemos a = ,b=c= 2 2 6.10 O Binômio Xn - 1. Interpretação Geométrica. Vamos analisar o comportamento do binômio Xn - 1 para n > 1. Como 1 é raiz de Xn -1 sabemos que ele não é irredutível sobre A, (A = Z, Q, R, C). Pelo algoritmo de Euclides temos que Xn - 1 = (X - 1)(Xn-1 + Xn-2 + ... + X + 1), portanto a pergunta natural que surge é: O polinômio Xn-1 + Xn-2 + ... + X + 1 é irredutível sobre A? Vamos utilizar o Maple para obtermos algumas informações. 1. n = 2 irreduc(x+1); true Já chamamos a atenção anteriormente que este comando testa a irredutibilidade sobre um corpo. No caso o menor corpo que contém os coeficientes é Q. O que acontece sobre Z, R e C? O leitor pensando um pouco concluirá que ele é irredutível sobre todos estes anéis. 2. n = 3 irreduc(x^2+x+1); true irreduc(x^2+x+1,complex); false Na realidade, neste ponto o leitor já deve saber que todo polinômio de grau maior que 1 é redutível sobre C. O leitor deverá também saber argumentar a afirmação verdadeira de que este polinômio é irredutível sobre Z e sobre R. 3. n = 4 irreduc(x^3+x^2+x+1); false Neste ponto já podemos concluir que nem sempre X n-1 + Xn-2 + ... + X + 1 é irredutível sobre Q. O que acontece em Z e em R? factor(x^3+x^2+x+1); 155 2 ( x 1 ) ( x 1 ) Como X + 1 e X2 + 1 são polinômios em Z[X] e em R[X] não inversíveis concluímos que o polinômio dado é redutível sobre Z e sobre R. A pergunta que surge a seguir é: Para que valores de n o polinômio Xn-1 + Xn-2 + ... + X + 1 é irredutível sobre A? 4. n = 5 irreduc(x^4+x^3+x^2+x+1); true Portanto o polinômio é irredutível sobre Q . Na realidade com um pouco mais de teoria poderíamos facilmente concluir que ele também é irredutível sobre Z. Não tendo esta teoria podemos proceder da seguinte maneira: As decomposições possíveis não triviais são em polinômios de grau 1 e grau 3 ou em polinômios de grau 2. Como 1 e -1 não são raízes de X4 + X3 + X2 + X + 1 a primeira opção está descartada. Vejamos então, se é possível escrever X4 + X3 + X2 + X + 1 = (X2 + aX + b) (X2 + cX + d) sendo a, b, c, d Z. g:=expand((x^2+a*x+b)*(x^2+c*x+d)); 4 3 2 3 2 2 g := x x cx da x a x ca x db x b c x b d collect(g,x); 4 3 2 x ( ca ) x ( da cb ) x ( a db c ) x b d isolve({a+c=1,b+a*c+d=1,a*d+b*c=1,b*d=1},{a,b,c,d}); Não apresenta solução, significando que o sistema não possui solução inteira. Logo, o polinômio é irredutível sobre Z Vejamos agora sobre R. solve({a+c=1,b+a*c+d=1,a*d+b*c=1,b*d=1},{a,b,c,d}); 2 2 { cRootOf( _Z _Z1 ), aRootOf( _Z _Z1 )1, d1, 2 2 bRootOf( _Z _Z1 ) ( RootOf( _Z _Z1 )1 ) }, 3 2 3 2 { c%1, b4 %12%1 2 %1 , d3 %11%1 %1 , a%11 } 4 3 2 %1 := RootOf( _Z 2 _Z 4 _Z 3 _Z1 ) 156 Aqui percebemos que nem sempre as respostas do Maple são tão diretas quanto o desejado. Precisamos interpretar as respostas. Quando o Maple coloca c = RootOf(_Z2 - _Z –1), significa que c é uma raiz de z 2 - z – 1. Na realidade para o nosso propósito bastaria sabermos que a, b, c, d são reais. Vamos determinar mais especificamente quais os valores de a, c, b. c:={solve(x^2-x-1,x)}; c := { 1 1 1 1 5 , 5} 2 2 2 2 a:=-c[1]+1; 1 1 a := 5 2 2 b:=expand(c[1]*(c[1]-1)); b := 1 Logo, X4 + X3 + X2 + X + 1 = (X2 + 1 5 1 5 X + 1)(X2 + X +1) e 2 2 consequentemente é redutível sobre R. O leitor é convidado a analisar as outras possibilidades. Para obtermos alguma conclusão devemos analisar muitos outros casos e deixamos esta tarefa ao leitor. Solicitamos que o leitor analise a partir de n = 6 somente a irredutibilidade sobre Q e sobre Z, pois para R o argumento utilizado tem outro caráter. Primeiro, qualquer polinômio de grau ímpar em R[X] é redutível sobre R. Segundo, f R[X] tem grau par diferente de zero. Duas coisas podem acontecer: ou ele possui pelo menos uma raiz real e neste caso é redutível sobre R, ou todas as suas raízes são complexas. Suponhamos f com todas as raízes complexas não reais. Se gr(f) = 2, então f é irredutível sobre R. Se gr(f) > 2, então f é redutível sobre R. Percebendo que as raízes complexas não reais aparecem aos pares, ou seja, e e que + = 2Re( ) R e . = ||2 R , concluímos que sempre é possível decompor f em produto de polinômios reais de grau 2 e portanto f é redutível sobre R. 157 Interpretação geométrica Quando as raízes de um polinômio são reais podemos visualiza-las facilmente através do gráfico, por exemplo f:=x^4-1: with(plots): plot(f,x=-2..2); Portanto, -1 e 1 são as raízes reais de f, mas sabemos que f possui 4 raízes complexas. Como visualizar todas raízes ? S:={solve(f,x)}; S := { -1, 1, I, I } Como queremos obter a interpretação geométrica devemos considerar a representação geométrica das raízes obtidas, ou seja, r 1=(-1,0), r2=(1,0), r3=(0,1) e r4=(0,-1). Assim, PLOT(CURVES([[1,0],[0,1],[-1,0],[0,-1],[1,0]])); 158 Concluímos que as raízes de X4 - 1 são os vértices do quadrado inscrito em um círculo de raio 1. Como todas as raízes de Xn - 1 possuem módulo 1 é fácil perceber que isto sempre acontece, ou seja, as raízes de Xn -1 são os vértices de um polígono regular de n lados inscrito em um círculo de raio 1. 159 EXERCÍCIOS 1. Quais seqüências são polinômios? Em caso afirmativo represente-a na forma a0 + a1X + ... + anXn. 1 1.1 f : N Q, onde f(i) = se i > 0 e f(0) = 0. i 1.2 f: N Z, onde f(i) = 1 se i é par e f(i) = 0 se i é ímpar. 1.3 f: N Z, onde f(i) = 1 se i < 20 e f(i) = 0 se i 20. 2. Prove os teoremas 6.1.2 e 6.1.4. 3. Dividindo o polinômio f por g = X2 - 3X + 5 obtemos o quociente X2 + 1 e o resto 3X - 5 . Determine f. 4. Mostre que se a soma dos coeficientes de um polinômio é zero, então ele é divisível por X - 1. 5. Verifique como fica o algoritmo de Euclides quando A = Zn e A = Z. 6. Apresente uma justificativa para a seguinte afirmação “o produto dos polinômios 1-x + x2 – x3 + ... – x99 + x100 e 1 + x + x2 + x3 + ... + x99 + x100 só contem termos de grau par”. 7. Determine as raízes do polinômio f = 6X3 + 7X2 - 14X - 15, sabendo que uma das raízes é -1. 8. Decomponha o polinômio f = -X3 - 4X2 + 7X +10 em fatores lineares de Z[X]. 9. Determinar m para que a divisão euclidiana de f= 4X 3 - 6X + m por g = X + 3 seja exata, supondo-se que f e g pertençam a Q[X] ou a Z7[X]. 10. Escrever as Relações de Girard para o caso de polinômios de grau 2 e grau 3. 11. Determine as raízes do polinômio f = X 3 + 2X2 -5X - 6, sabendo que a soma de duas de suas raízes é 1. 12. Determinar a soma dos coeficientes do polinômio (X 2 - 6X + 4)125(X3 4X + 4)200 . 13. Determinar o polinômio que passa pelos pontos P1 = (-1,3), P2 = (0,4), 160 P3 = (2,-5) e P3 = (1,3). Esboce o gráfico correspondente. 14. Mostre que todo polinômio de grau 1 é irredutível em K[X], onde K é corpo. 15. Verifique se os seguintes polinômios são irredutíveis: a) f = X3 + X + 1 em Z[X]. b) f = X3 + X + 1 em R[X] c) f = X2 + 5 em C[X] d) f = 5X 2 + 2X + 1 em Z7[X]. 16. Determine as raízes de X6 - 1 em C[X]. Analise o comportamento destas raízes graficamente. 17. Seja p R[X]* com p U(R[X]) tal que f, g R[X], se p|f.g, então p|f ou p|g. Mostre que p é irredutível em R[X]. 18. Verifique que 1 é raiz de f = X4 - X3 - 3X2 +5X- 2. Qual a multiplicidade de 1 ? 19. Verifique que 1 + i é raiz de f = X6 - 4X5 + 6X4 - 12X2 + 16X - 8. Qual a multiplicidade de 1 + i ? 20. Decompor a seguinte função racional X 4 - 4X 3 11X 2 12X + 8 em (X 2 2X + 3) 2 ( X + 1) soma de frações parciais. 21. Determine o máximo divisor comum em Q[X] dos polinômios f = X4 + X3 + X + 1 e g = 2X + 2. 22. Seja f R[X]. Se u C é raiz de f, então u também é raiz de f. Obs. u é o conjugado de u. 161 23. Decompor os seguintes polinômios em fatores irredutíveis . a) f = X6 + 8X5 + 17X4 - 6X3 - 44X2 - 8X + 32 em Z[X]. b) f = X4 + 2X2 + 1 em C[X] 24. Determinar a, b, c,d Q para que f = 3X4 + aX3 + bX2 + cX + d seja divisível por g = X3 - 5X2 + 6X. 25. Mostre que não existe f R[X] tal que f2 = X3 + X + 1. 26. Seja f C[X]. Dividindo f separadamente por X - 1, X + 1, X - i e X + i, obtemos os restos 0, 2, -5-5i e -5 + 5i respectivamente. Obter o resto da divisão de f por X4 - 1. 27. Seja K um corpo. Então K[X] é um anel principal. 28. Z[X] não é um anel principal. Justifique. 29. Exercício complementar para quem já fez a disciplina de Álgebra Linear. Seja A Mn(R). Mostre que I = {f R[X] | f(A) = 0} é um ideal de R[X]. Sendo R[X] um anel principal (exercício 26) temos que I é um ideal principal, ou seja, existe fm R[X], com lcoeff(fm) =1 tal que I = <fm>. Este polinômio fm é chamado de polinômio minimal de A. Ele é muito utilizado no estudo de operadores lineares. Um outro polinômio muito utilizado e que também pertence a este ideal é o polinômio caraterístico f c de A. Pode-se mostrar que fc é um múltiplo de fm e que ambos possuem as mesmas raízes.[ 10 , 179-181] 1 3 3 Determine os polinômios característico e minimal de A = 3 1 3 . 3 3 5 Veja que ambos possuem as mesmas raízes. Veja que fc(A) = fm(A) = 0. Você pode utilizar o Maple para resolver estas questões. 162 RESPOSTAS 1. 1.1 não é polinômio 1.2 não é polinômio 1.3 1 + x + x2 + ... + x19 7. -1, 5 3 , . 3 2 3. f = x4 - 3x3 + 6x2 8. -(x + 1)(x + 5)(x - 2) 9. m = 90 em Q[x] m = 6 em Z7[x] 11. -1, 2, -3 12. -1 13. f = 15. a) irredutível 16. 1, -1 , b) redutível c) redutível d) irredutível 3 1 - 3 1 - 3 1 3 1 i, i, i, i 2 2 2 2 2 2 2 2 18. m(1,f) = 3 20. 5 3 5 x x2 x 4 6 6 19. m(1+i,f) = 2 21x 11 2 x 10 3 ( x 2 2 x 3) 2 x 2 2 x 3 x 1 21. x + 1 23. a) (x-1)2(x+2)3(x+4) b) (x-i)2(x+i)2 24. a qualquer, b = -57 - 5a, c = 90 +6a, d = 0 26. r = -2x3 + 3x2 + x -2 29. fc = ( x - 1)(x + 2)2 fm = ( x - 1) (x + 2) 163