i Apêndice C Capítulo 5 Dipolo Eléctrico Oscilante e a Radiação Electromagnética Existe um outro tipo de força que pode actuar sobre corpos com carga eléctrica. Ela é a força magnética. Assim como a força eléctrica, a força magnética também pode ser descrita em termos de um campo vectorial, designado por B. Até o início do Século XIX acreditava-se que o magnetismo, estudado em experimentos com ímãs, por exemplo, era um fenómeno sem qualquer relação com a electricidade. Porém vários experimentos realizados nas primeiras décadas do Século XIX mostraram que cargas eléctricas em movimento (correntes eléctricas) podem gerar campos magnéticos e que campos magnéticos variando no tempo podem induzir correntes eléctricas em fios. Tudo isso indicava que a electricidade e o magnetismo são, na verdade, manifestações diferentes de um mesmo fenómeno. Os trabalhos de Faraday e Maxwell levaram a uma teoria unificada para descrever todos os fenómenos eléctricos e magnéticos, a teoria electromagnética, sintetizada pelas chamadas equações de Maxwell. Porém, um real entendimento sobre a natureza da unificação entre a electricidade e o magnetismo só foi feito por Einstein, com a teoria da relatividade especial. Uma consequência das equações de Maxwell é a de que quando cargas eléctricas são aceleradas elas produzem campos electromagnéticos variáveis no tempo que se propagam pelo espaço como ondas electromagnéticas. Além disso, como o próprio Maxwell notou, as propriedades das ondas electromagnéticas são as mesmas da luz. Isto o levou a prever, em 1873, que a luz é uma onda electromagnética, fato que foi comprovado experimentalmente por Hertz em 1887. As equações de Maxwell não só unificam a electricidade e o magnetismo como também explicam a luz como uma onda electromagnética. Figura B.1. Dipolo eléctrico. ii Para entender a origem de ondas electromagnéticas (também chamadas de radiação electromagnética) pelo movimento de cargas, vamos considerar um dipolo eléctrico (Figura B.1). Quando a separação entre as cargas positiva e negativa é constante, o campo eléctrico E gerado pelo dipolo varia com a distância (espaço) a partir do centro do dipolo, mas não varia no tempo. Figura B.2. Exemplo da variação do campo eléctrico de um dipolo eléctrico, com a distância r, quando a separação entre a carga positiva e negativa é constante. Nesta situação estática, o valor de E a uma distância r do centro do dipolo (desenhado esquematicamente na Figura B.2), é o mesmo em qualquer instante de tempo, agora ou daqui a 1 segundo ou 1 minuto, por exemplo. Vamos supor agora que as cargas do dipolo comecem a se mover para cima e para baixo, em direcções opostas ao longo do eixo do dipolo, como mostrado na figura abaixo (as setas mostram as direcções de movimento das cargas a cada instante de tempo). Figura B.3. Oscilação das cargas do dipolo eléctrico. A carga negativa move-se para cima, passa pela carga positiva, desacelera, para e, então, acelera para baixo, repetindo o movimento. A carga positiva faz o mesmo, só que na direcção oposta. Um sistema físico que executa este tipo de movimento é chamado de antena. Podemos imaginar uma antena como um fio condutor cujas extremidades são ligadas a uma bateria que tem as suas polaridades alternadas a uma frequência altíssima. Podemos visualizar este movimento do ponto de vista do vector momento de iii dipolo p das duas cargas, como feito na Figura B.4. O dipolo oscila, em contraste com a situação estática da Figura B.2. Figura B.4. Oscilação do dipolo. Vamos supor que o dipolo oscila a uma frequência constante. Ao oscilar, ele faz com que o campo eléctrico nas suas vizinhanças também oscile, mudando a sua orientação de acordo com a orientação do vector momento de dipolo. Sendo assim, se uma carga de prova fosse colocada em um ponto próximo do dipolo ela também oscilaria por causa da força eléctrica, que ora apontaria para cima, ora para baixo. O campo eléctrico oscilante gerado nas vizinhanças do dipolo oscilante gerará, por sua vez, um campo magnético oscilante com a mesma frequência e amplitude, mas sentido de oscilação ortogonal ao dele (isto vem das equações de Maxwell). Este campo magnético variável no tempo provocará um campo eléctrico oscilante, que levará a um campo magnético e assim por diante. Os campos eléctricos e magnéticos assim gerados, oscilando em direcções perpendiculares entre si (ver a Figura B.5), se propagam pelo espaço como uma onda electromagnética. A velocidade de propagação (no vácuo) prevista pelas equações de Maxwell é a velocidade da luz, c = 3,00 x 108 m/s. Figura B.5. Campos eléctricos e magnéticos gerados pelo dipolo oscilante. Vamos supor que a carga de prova não esteja colocada nas vizinhanças do dipolo oscilante, mas a uma certa distância dele. Neste caso, a carga de prova não irá sentir o iv efeito das oscilações do campo eléctrico instantaneamente após o início das oscilações, mas levará um tempo até começar a oscilar também. Isto acontece porquê a onda electromagnética se propaga com uma velocidade finita, c. Podemos visualizar o que acontece com o campo eléctrico a diferentes distâncias do dipolo e em vários instantes de tempo com o desenho abaixo. Figura B.6. Esquema mostrando como uma onda electromagnética (sem a componente magnética da onda) pode ser gerada por um dipolo oscilante. As oscilações dos campos eléctrico e magnético se propagam pelo espaço com uma velocidade igual a c (no vácuo) e, a cada instante de tempo t, a forma da onda repete-se a si mesma a cada intervalo de comprimento , chamado de comprimento de onda. Uma outra variável usada para descrever uma onda electromagnética é a direcção na qual o campo eléctrico está oscilando (se esta direcção for conhecida, a direcção de oscilação do campo magnético fica automaticamente determinada). Esta direcção é chamada de direcção de polarização da onda electromagnética (ver a Figura B.7. v Figura B.7. Esta figura ilustra uma onda electromagnética propagando-se em uma direcção particular. Na realidade, um dipolo oscilante emite radiação em todas as direcções, com excepção do seu eixo.