AP AE DESENVOLVE PROGRAMA PARA TESTES EM RECÉM

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ÀRQ.
SAúDE
A P AE
MENTAL - ESTADO DE
SÃO PAULO, XLV!,
(85- 87), 1986/87
DESENVOLVE PROGRAMA PARA TESTES EM RECÉM-
NASCIDOS
(*)
No último Congresso Internacional sobre Seleção Populacíonal de
Erros Metabólicos, realizado nos Estados Unidos, o Brasil foi eleito, por
unanimidade, para sediar o próximo Congresso a ser realizado de 7 a 9
de novembro de 1.988. Ele será promovido pelo Centro de Reabilitação
de APAE do Estado de São Paulo, sob a presidência do professor
Benjamin J. Schmidt, chefe do Laboratório de Pesquisas da APAE, com
o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização
Panamericana de Saúde . O Congresso tem por objetivo incentivar o
desenvolvimento de um programa para a realização de testes seletivos
para diagnóstico de fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito em
recem-nascídcs, em todos os países.
Desde 1.968 a OMS vem recomendando a todos os países, mesmo
àqueles em desenvolvimento, a realização destes testes, uma vez que
nos pacientes diagnosticados precocemente pode-se evitar a deteríorízação mental. No Brasil já existem Leis Estaduais obrigando a realização dos testes em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Recife
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A fenilcetonúria é um grave distúrbios do metabolismo responsável
por lesões cerebrais irreversíveis. Ela ocorre quando a proteína fenilalanina, que a criança recebe através do leite materno, não é convertida
num amínoácído chamado tirosina. A fenilalanina se concentra no
sangue e, chegando ao cérebro, destrói os neurôníos do recém-nascido,
acarretando o retardamento mental. A doença não apresenta características clínicas no período neo-nataí e os primeiros sintomas aparecem
entre o 6°e 8°mês da vida, quando já há um comprometimento mental.
No caso do hipotireoidismo congênito, apenas 1 em cada 3 casos
(ou mesmo, dependendo da área estudada, 1 em cada 5 casos) tem
sintomas clínicos evidentes já no período neo-natal. Isto significa que
80% dos casos são desapercebidos no início, sendo diagnosticado
apenas 6 meses depois, quando já é tarde.
(*) Publicado pelo Jornal
da APM-Associação
Paulista
de Medicina, Março de
1987, no 354. Publicação autorizada pelo jornal.
A Comissão Editorial
datilografia
agradece à Sra.
Marli Cerazza Finardi
dos originais.
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85-
pelo trabalho
de
PROGRAMA
PARA
TESTES
EM
RECÉM-NASCIDOS
Atualmente nascem, só em São Paulo, 10 crianças com hipotireodismo
congênito e 3 com fenilcetonúria por mês. Preocupada com a alta
incidência e seguindo a orientação da OMS, a APAE, em conjunto com
o departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina, começou
a pesquisar os métodos de diagnóstico existentes nos laboratórios de
vários países. Isto culminou com o lançamento, em 1.975, de um
programa para a realização destes testes no Brasil.
o programa é feito em papéis de filtros onde uma gota de sangue
retirada do pé do bebê é submetida a exame de laboratório. Os casos
positivos são tratados convenientemente por uma equipe multídíscíplínar da APAE, constituída por pediatra, neurologista, psiquiatra, assistente social, dietista etc. . E o tratamento é considerado fácil pelo
professor Benjamin Schmidt, desde que diagnosticado em tempo hábil.
Ele explica que para a fenilcetonúria é feita uma dieta pobre em
fenilalanina para que a criança se desenvolva perfeitamente. Ele cita
casos de crianças que a APAE vem acompanhando há 11 anos e que
já são considerados absolutamente normais. Nos casos de hipotireodismo congênito, segundo o professor, o tratamento é feito à base de
hormônío tíreoídíano para impedir a deficiência mental.
Benjamin esclarece ainda que o alimento pobre em fenilalanina não é
feito no Brasil, sendo importado da Europa pela APAE. As despesas
com a importação são repassadas ao paciente de acordo com a sua
classificação social. Com isto, segundo o professor, alguns pacientes
recebem um tratamento gratuito.
A APAE recebe exames de todo o Brasil e realiza hoje cerca de 40 mil
testes por mês. Mas o professor afirma que ela está se preparando para
dobrar este número e chegar a realizar até 100 mil testes/mês. Atualmente, os outros 150 mil testes que cobrem todo o Brasil estão sendo
realizados pelo Ministério da Saúde e laboratórios de outros Estados,
assessorados pela APAE. «E nós temos ainda uma promessa de uma
Lei Federal, obrigando a realização dos testes, que já passou no
Senado», acrescenta Benjamin.
TESTES
POUCO EFICAZ
O Laboratório Miles, subsidiário da Bayer, lançou recentemente no País
um produto que, segundo seus diretores, simplifica o processo de
detecção da fenilcetonúria. Trata-se do Phenistix, composto por tiras
de papel que, molhadas na urina do bebê, detectam a fenilcetonúria
em questão de 30 segundos. O Laboratório está promovendo o
produto diretamente nos consultórios porque o Phenistix, de acordo
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com o Miles, permite que um exame feito anteriormente apenas por
profissionais especializados passe a ser realizado em qualquer consultório médico ou clínica de puericultura.
A concentração excessiva de fenílalanina no sangue aparece na urina,
mas demora alguns dias. Por isso o Laboratório Miles recomenda que
o teste seja feito quando a criança já tenha completado 2, 4 e 6 semanas
de vida. O resultado apresentado pelo Phenistix decorre de uma reação
química: a fenilalanina em contato com o sulfato férrico amoníacal,
existente na ponta das tiras de papel, provoca o aparecimento de uma
coloração que varia desde o amarelo-palha (negativo) até vários tons
de verdade (positivo). Para obter uma resposta rápida, basta molhar
uma tira de papel com uma gota de urina do bebê e aguardar 30
segundos.
Mas o professor Benjamin denuncia que o teste promovido pelo Miles
já existe no Brasil há mais de 20 anos. E alerta que o teste não possa
ser usado em recém-nascido «porque não funciona», ja que só pode
ser realizado depois do primeiro mês de vida. Além disso o professor
afirma que este teste não é específico, «o que significa que mesmo
depois do primeiro mês de vida ele pode dar positivo mas para outras
doenças, como também detectar falsos positivos em uma série de
remédios como fenotiazinas, tranquílízantes, antieméticos, antipuriginosos, etc.
Mas o professor Benjamim está alarmado não só com a possibilidade da
realização do teste pelos médicos menos avisados de sua pouca eficácia.
Ele acredita que a utilização deste teste em consultório poderá desestimular sua realização no berçário, prejudicando também a seleção
de hipotireoidismo congênito. Infelizmente, lamenta o professor, a
promoção deste teste deverá ter consequências graves, prejudicando
inclusive o programa da APAE.
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