O CONCEITO DE TERRITÓRIO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE (Autor) Tiago Roberto Alves Teixeira Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – [email protected] (Orientadora) Áurea Andrade Viana de Andrade Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão [email protected] Introdução O presente ensaio traz uma breve consideração sobre a importância do conceito de território como categoria de análise das dinâmicas espaciais, pesquisa que vem sendo realizada juntamente com o grupo de pesquisa GERA - Estudos Regionais: Geo-Histórico, Sócio-cultural, Econômico, Educacional e Ambiental da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. O conceito de território tem sido discutido e desenvolvido por meio de diferentes abordagens onde cada autor vai definir sua linha de pesquisa conforme seus métodos e concepções de interpretação da realidade. Nesta pesquisa, em razão dos novos arranjos espaciais gerados pelos avanços técnicos-científicos-informacionais, onde as relações passam a ser mais complexas, intensas e abrangentes, o conceito de território vai ser discutido por meio das relações de poder entre indivíduos, grupos de indivíduos e instituições (Raffestin, 1993), materiais e imateriais (Saquet, 2007), relações enraizadas no trabalho, as quais formam os territórios. Desta formas são as relações de poder, por meio de diferentes atores, que se apropriando do espaço vão formar os territórios, imprimindo nestes suas características relacionais de acordo com seus objetivos, que podem ter influencias de ordem econômica, política, cultural e até mesmo do meio natural. Partindo desta premissa que a realidade local é fruto destas relações, pode se afirmar que a analise territorial ao abordar diretamente os atores e suas relações, estuda quais são as causas dos problemas ou da realidade local, caracterizando um tipo de estudo que pesquisa as raízes dos problemas e posteriormente suas. Vale ressaltar que o conceito será abordado dentro das dimensões econômica, política, cultural e natural (Saquet 2007), tendo como objetivo final demonstrar a importância Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 desta categoria para a realização de analises empíricas, assim como instigar discussões neste sentido. OBJETIVOS Este presente trabalho tem como objetivo uma reflexão teórica sobre o conceito de território buscando trazer uma breve consideração sobre a importância do conceito como categoria de análise das dinâmicas espaciais. Impossível seria esgotar o assunto, portanto buscar-se-á uma discussão de cunho teórico, analisando o assunto de maneira sucinta. METODOLOGIA Para fomentar este ensaio, buscamos analises do conceito de território nas perspectivas, especialmente de Raffestin (1993, 2009), de Haesbaert (1997, 2004, 2006), Saquet (2007), Souza (2001), Sposito (2004), bem como teses e artigos que tratam da questão. Buscou-se também analisar diversos estudos empíricos, os quais utilizaram como categoria de análise, o conceito de território, com o objetivo de pesquisar os resultados obtidos. RESULTADOS PRELIMINARES Vemos uma crescente discussão sobre o conceito de território e realmente a discussão é interessante, prende a atenção de qualquer leitor, isto, face a uma discussão a qual o leitor pode se ver dentro das relações de poder que formam o território, como uma parte ativa do grande jogo da vida, porém infelizmente muitos geógrafos tem se perdido sobre qual seria a razão ou motivo pelo qual tanto se discute o conceito. Deve-se ressaltar que os conceitos dentro da geografia se fazem extremamente importantes e seus papéis empíricos devem também ser ressaltados, pois é nesta etapa que se percebe até que ponto a discussão realmente tem sentido, poder de ação, e pode ser aplicado como um instrumento de leitura da realidade. Raffestin (1993) afirma que a produção do território se dá pelas relações de produção, conseqüentemente as relações de poder, do Estado ao individuo, através de malhas, nós e redes como podemos ver na seguinte citação: Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 [...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993[1980], p.144). Raffestin ao discorrer sobre o assunto vai definir poder como uma combinação de energia e informação (Raffestin, 1993, p.55), onde energia pode se transformar em informação, isto é em saber, e a informação pode permitir que se libere energia, portanto poder (informação e energia) está relacionado com trabalho, capacidade de transformar a natureza e as relações sociais. Desta maneira Raffestin (1993) chega à conclusão que poder se enraíza no trabalho (Raffestin, 1993, p.56). Desta maneira o território seria as relações de poder que se dão em um determinado espaço, as quais ocorrem em redes, em uma troca constante de energia e informação, isto é, por meio do trabalho, trabalho relacionado a qualquer energia empregado com um determinado conhecimento, em todos os níveis de relações. Outra importante contribuição é a de Saquet (2007) que conclui ser o território uma abordagem simbólica-cultural, histórica, economia-política-cultura-natureza, dentro multiescalar, na da relação relação territorialização-desterritorialização-reterritorialização, (i) material, relacional, ideário, uno e múltiplo. Saquet (2007) em sua analise teórica sobre o conceito discute a importância de, em um estudo empírico territorial, abordar as dimensões: econômica, política e cultural não deixando de lado a dimensão natural no processo de apropriação do espaço por meio das relações de poder, como se pode ver: “Por essa abordagem e concepção (i) material, uma dimensão fundamental e quase negligenciada em estudos territoriais ou tratada comumente como base física, é a natureza exterior ao homem. Assim merece atenção sem a pretensão, evidente, de esgotar a temática. Nos processos territoriais, as dimensões da E-P-C-N estão sempre presentes, de uma forma ou outra. Talvez, possamos avançar a partir do exposto, sobretudo a partir da possibilidade de se considerar, na natureza do território, a natureza.” (Saquet, 2007, p.172). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 Em uma analise territorial não se deve ter uma fragmentação das relações, pois as dimensões (E-P-C-N) destas relações estão interligadas entre si, assim buscando facilitar o trabalho para que nenhum aspecto importante seja ignorado busca-se ter em mente esta separação, porém muitos trabalhos realizados acabam perdendo o caráter geográfico holístico dos fenômenos. Vale ressaltar que muitos têm perdido o foco do estudo conceitual do território , não sendo o território em si, mas sim as relações de poder que vão formá-lo, pois são as relações de poder que vão territorializar espaços imprimindo nestes uma determinada territorialidade conforme suas características e objetivos, portanto a análise deve estar centrada nos atores locais e suas relações. Saquet (2007) define territorialidade como as relações diárias momentâneas, entre os homens e a natureza orgânica e inorgânica, necessários para a sobrevivência, é o acontecer de todas as atividades no cotidiano produzindo o território. Assim pode se concluir que as relações sociedade-espaco-tempo são caracterizadas pelos poderes que agem no espaço e entre si, sendo estas relações diferenciadas em um mesmo espaço e tempo, portanto os múltiplos e variáveis territórios são frutos dos diferentes relações de poder, por meio das ações e apropriações de diversos indivíduos, grupos de indivíduos e instituições. Desta maneira os territórios possuem diferenças de acordo com os grupos de poderes que agem neste espaço e estampam suas características e objetividades, moldando o espaço conforme suas relações, que ocorrem nas dimensões já apontadas anteriormente (E-P-C-N). Podemos então afirmar que a abordagem se dá inicialmente na origem dos problemas, pois é a partir destas relações que teremos as causas das condições materiais e sociais. Na análise empírica, ao abordarmos as diferentes dimensões acima citadas, podemos perceber quais são os aspectos mais frágeis e carentes de mudança, seja o político, econômico, cultural e/ou natural facilitando ações direcionadas à real solução da problemática. CONCLUSÃO Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 Por meio desta discussão pode-se perceber a importância do conceito de território para a geografia, como um importante instrumento de leitura das dinâmicas existentes no espaço. Para tal conclui-se que há uma grande importância em enfocar nos estudos empíricos territoriais as relações de poder, existentes entre indivíduos, grupos e instituições, as quais vão territorializar os espaços conforme os objetivos dos atores, dentro das perspectivas econômica, política, cultural e natural. Ao abordarmos os atores e suas relações consegui-se, de maneira mais clara e objetiva, identificar os fatores que vão caracterizar a realidade local, de acordo com seus interesses, que podem estar relacionados às dimensões: econômica, política, cultural e natural. BIBLIOGRAFIA: ANDRADE, Manuel Correia. A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec; Recife: IPESPE, 1995. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multi-territorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. HAESBAERT, Rogério. Des-territorialização e identidade: a rede “gaúcha” no nordeste. Niterói: EdUFF, 1997. HAESBAERT, Rogério. Da Desterritorialização a Mutiterritorialidade. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo. HAESBAERT, Rogério. Territórios Alternativos. São Paulo: Contexto, 2006. HAESBAERT, Rogério. 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ISBN 978-85-99907-02-3 8