Revisitando o conceito de território para compreender a formação territorial de Serra do Ramalho-BA Edna de Souza Costa1 Licenciando em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia- UNEB E-mail: [email protected] Maria Ieda da Silva1 Licenciando em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia- UNEB E-mail: [email protected] Maria Goreth Silva e Nery2 Professora mestre da Universidade do Estado da Bahia- UNEB- Campus VI Caetité- BA E-mail: [email protected] RESUMO O presente estudo pretende reconhecer a formação territorial de Serra do Ramalho, dando ênfase na política territorial que ali se fez presente partindo-se do entendimento que é através da intervenção estatal, que o espaço pode ser modelado e reajustado conforme os objetivos que se quer atingir. A pesquisa sobre esta temática se justifica pela necessidade de se conhecer as bases que conformaram as ações do Estado sobre este território, produzindo para tanto um estudo mais aprofundado sobre a organização espacial de Serra do Ramalho, haja vista que a elaboração de trabalhos que venham analisar a real estrutura sócio espacial do município à luz das políticas territoriais desenvolvidas pelo Estado e especificamente aquela que foi ali empreendida, é ainda bastante insuficiente para compreender a realidade local. Nesse contexto, é necessário que se faça uma discussão sobre o conceito de território pautado em autores que possam dar sustentação teórica. Para tanto, é preciso desvendar as articulações dos processos sociais que recuperam por sua vez, a história da formação dos territórios, com o intuito de compreender como o Estado, através de suas políticas territoriais, vem mediando esse processo de organização espacial. Para atingir tais objetivos será realizado um minucioso levantamento bibliográfico, bem como obter informações a respeito da formação territorial de Serra do Ramalho, da atual configuração espacial e socioeconômica do município. Os procedimentos metodológicos dessa pesquisa se assentam, sobretudo, na busca em fontes primárias e secundárias que possam fornecer subsídios para a análise e resposta ao problema de pesquisa. Acreditando na relevância da pesquisa, espera-se dar uma contribuição significativa para o conhecimento geográfico visando compreender as relações político-institucionais de criação do mesmo, a realidade socioeconômica e a dinâmica local do território em questão. PALAVRAS-CHAVE: Território, Poder, Estado, Município. 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como propósito revisitar o conceito de território para melhor compreender a formação territorial de Serra do Ramalho, porém não se limita aqui, a fazer uma análise em si mesma. Objetiva-se desvelar nesse contexto, os mecanismos que nortearam os processos que culminaram com essa formação ou de modo mais enfático, identificar como um território institucionalizado pelo Estado, através da política territorial, consegue se tornar autônomo ao se transformar em um município. Localizado na região econômica do Médio São Francisco, no Oeste da Bahia, o município de Serra do Ramalho compreende uma área de aproximadamente 2.677,366 Km² distribuída em uma população aproximada de 32.600 habitantes (IBGE, 2010). Serra do Ramalho foi erguido em 1975 a partir da política territorial implantada pelo Estado denominada Projeto Especial de Colonização PEC/SR. Tal política foi criada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e tinha como finalidade primeira reassentar as famílias vindas de Sobradinho, quando da construção da barragem. Em termos de configuração territorial, a área de estudo continua contemplando o projeto original de colonização, sendo que os 2.677,336 Km² foram divididos em quatro eixos latitudinais: A cada 6 ou 7 quilômetros construiu-se uma agrovila. O Eixo 1 abriga as agrovilas: 1,3,5,7 e 9. O Eixo 2, as : 2,4,6,8,10,11,21 e 22. O Eixo 3 abriga as de número: 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18. O Eixo 4, as: 19 e 20. Ainda no eixo 4 encravada no sopé do lado oriental da Serra, encontra-se a agrovila 23. As agrovilas 15, 16 e 23 estão localizadas no município de Carinhanha (ESTRELA, 2004). O município permaneceu sob a administração de Bom Jesus da Lapa e Carinhanha até 13 de junho de 1989 quando se tornou independente tornando a agrovila 09 como principal no que diz respeito a administração política e econômica. Para tanto, é necessário nos respaldar em uma fundamentação teórica capaz de dar conta da complexidade que existe quando se busca analisar e compreender o modo pelo qual um determinado ator social se apropria de uma dada parcela do espaço. É preciso, por sua vez, estarmos embasados em conceitos-chaves e um método investigativo, que nos forneça o suporte necessário para que se efetive essa compreensão. Nesse aspecto, o conceito-chave central em nossas análises é o de território entendido aqui como o resultado do relacionamento da sociedade com o espaço. Já no que diz respeito ao método científico de investigação, estamos amparados pela perspectiva materialista que corrobora este entendimento do conceito de território. Ressaltamos aqui, as várias dimensões em que o território se expressa, faz-se uma reflexão a partir das dinâmicas políticas e econômicas desenvolvidas pelo Estado e enfatiza-se a sua atuação em dois momentos: enquanto projeto de colonização agrícola e como município de Serra do Ramalho, procurando identificar nesse sentido, as intenções e influências dos poderes locais neste processo. Sob este viés, questiona-se como se deu o processo de formação territorial de Serra do Ramalho? Quais os reflexos da política territorial empreendida pelo Estado na configuração sócio espacial do município? E quais os elementos e/ou mecanismos que estiveram presentes no processo de mudança de um Projeto Especial de Colonização ao município de Serra do Ramalho? Com intuito de atingir tais objetivos, abordamos em um primeiro momento, a construção da base teórica do trabalho, que enfatiza por sua vez, algumas reflexões conceituais acerca da categoria Território, fundamental nesse processo de investigação, assim como o desenvolvimento teórico de alguns autores, os quais consideramos norteadores desta pesquisa e trouxe uma grande contribuição, no âmbito deste trabalho. 2. DISCUSSÃO TEÓRICA Construir uma argumentação teórica, que vislumbra superar a vacuidade e carência conceitual, que se estabelece quando se trata da temática territorial, se constitui em uma das primeiras necessidades quando se procura compreender uma dada realidade objetiva, neste caso, o processo de formação territorial de Serra do Ramalho. Devido à amplitude a qual o termo está submetido, nem sempre se constitui tarefa fácil conceituá-lo, uma vez que ao longo da evolução do pensamento geográfico, o conceito adquiriu várias conotações. Outra questão que também pode ser observada com maior complexidade é quando não se faz uma clara distinção entre os conceitos de território, de espaço e de lugar, colocando-os muitas vezes como termos equivalentes. Sob este prisma, a abordagem científico-geográfica acerca do conceito de território apresenta múltiplas concepções nas quais o conceito de território pode ser abordado evidenciando dimensões que por sua vez, estão amparadas por um método científico de investigação coerente com a postura filosófica na qual o pesquisador está engajado. Desse modo, o território pode ser apresentado dentro das dimensões econômica, política e cultural, separada ou conjuntamente. A depender da visão ou da necessidade que o autor tenha para contemplar as relações analisadas, ele poderá privilegiar as dimensões política e econômica ou a política e cultural. Existem autores, contudo que dão preferência por apenas um desses aspectos. Há que se destacar nesse sentido que, além dessas concepções, o território pode ser apresentado sob o viés de diferentes métodos investigativos ou modelos teórico-conceituais. Aqui, apontaremos os métodos de interpretação materialista e fenomenológico, sendo os principais na discussão sobre território. BRITO (2002) aponta que desde o século XVIII, alguns filósofos já haviam aplicado o conceito de território sem, no entanto, defini-lo. Montesquieu foi um dos que tratou do território de forma direta entendendo-o como uma parte do espaço ocupado e usado. Voltaire, ao tratar da guerra, conceituou-o como sendo a terra de domínio de um príncipe. Marx, em seus escritos sobre as Formações econômicas précapitalistas, prenuncia o uso do conceito. O autor entende que o território é o suporte da vida material para um dado grupo social, em um determinado contexto histórico. Ainda para Marx, o território pode ser estático ou dinâmico, dependendo da forma com que os grupos sociais usam-no, que é determinado também pela sua organização social, política e econômica. “O substrato material, território, é tão-somente a apropriação das possibilidades materiais de reprodução da vida” (BRITO 2002, p.16). No âmbito geográfico, o conceito de território tem sua raiz na Geografia Clássica estando em grande medida, relacionado à ideia de território nacional ou vinculada à natureza e constituindo-se em elemento essencial na elaboração do conceito de espaço vital por Ratzel. O conceito de território é desenvolvido com uma influência muito grande dos estudos de cunho darwinista, das ciências naturais, em que uma porção do espaço significaria área de dominação animal e vegetal. A concepção que Ratzel desenvolveu apresentou-se totalmente coerente com o contexto daquele momento, em que o Estado germânico recém-unificado encontrava-se em plena expansão, e que por esta razão o território deveria ser entendido como “à apropriação de uma porção do espaço por um determinado grupo” (CORREA, 2008 p.12) ou ainda pelo Estado-Nação que via nele o elemento indispensável para a sua existência. Ainda na sua concepção, o poder, através e exclusivamente do Estado-Nação, estava intrinsecamente ligada à noção de território, justificando desse modo uma geografia política de caráter inteiramente unidimensional, corroborando assim a crítica e a proposta de Raffestin quando afirma que: A geografia política é na verdade uma geografia do Estado, o que seria necessário ultrapassar propondo uma problemática relacional, na qual o poder é a chave - em toda a relação circula o poder que não é possuído nem adquirido, mas simplesmente exercido. (RAFFESTIN, 1993 p. 07) Embora Ratzel tenha apresentado a primeira concepção de território dentro de uma condição sistematizada na geografia, foi Raffestin que desenvolveu uma abordagem inédita no campo dessa discussão conceitual, pois, entende a simultaneidade do movimento histórico inserido na materialidade do território e compreende também que o poder é intrínseca a toda relação e por esse motivo é multiescalar. Entretanto, ao passo que vamos tecendo algumas considerações sobre as diferentes abordagens e perspectivas referentes ao conceito, deixamos claro de antemão que a nossa proposta de trabalho fundamenta-se na perspectiva materialista, pois entende o território como objeto resultante da apropriação do espaço por dados agentes sociais. Esta compreensão está profundamente circunscrita na proposição levantada e defendida por Raffestin (1993, p. 7-8), na medida em que afirma: O território [...] não poderia ser nada mais que o produto dos atores sociais. São esses atores que produzem o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há, portanto um processo do território, quando se manifestam todas as espécies de relações de poder[...]. O território é visto assim, como o produto do relacionamento dos atores sociais com o espaço. Este por sua vez, vai aparecer como preexistente a qualquer ação, conhecimento ou prática. Quando sofre intervenção de qualquer um desses fatores, ele deixa de ser espaço e se transforma em território. E é desse modo que Raffestin, pretendendo distinguir claramente esses dois conceitos vai apresentar essa diferenciação de forma bem contundente em sua obra Por uma Geografia do Poder: É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) a qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço [...] o ator ‘territorializa’ o espaço (RAFFESTIN, 1993, p. 143). Aqui, a diferenciação de espaço e território se faz bastante enfática, a fim de se evitar possíveis confusões, pois, até mesmo Raffestin, no momento em que apresenta os trunfos do poder, se confunde separando população e recursos de território. Isto é, o território aparece sem os atores sociais e suas respectivas ações, num momento em que ele mesmo afirma que território não existe antes da produção dos agentes sociais sobre o espaço. Então, como poderia apreender o território sem a população e os recursos? A confusão nesse caso só corrobora a ideia de que o conceito de espaço precisa e pode ser melhor entendido como sendo o substrato físico, palco onde se realiza as ações ou o território em si mesmo. Nessa ocasião, o termo ganha uma conotação um tanto quanto estática, mas necessária, pois, desse modo o território sem a população se confundiria com o próprio conceito de espaço, como fora anteriormente destacado pelo autor e nos fazendo ver uma questão que circula apenas no âmbito dos exemplos, sendo ilustrativa somente da dificuldade que há em discernir estas concepções, tidas enganosamente como equivalentes. E nesse sentido, vale ressaltar que Raffestin se dá conta da confusão estabelecida ao retificar-se explicitando que: O território não é menos indispensável, uma vez que é a cena do poder e o lugar de todas as relações, mas sem a população, ele se resume a apenas uma potencialidade, um dado estático a organizar e a integrar numa estratégia (RAFFESTIN, 1993 p. 58). Contrariamente ao conceito de espaço, o território aparece imbricado de dinamismo e que de acordo com BRITO (2002, p.16) está bastante relacionado à ideia de poder, no entanto, há um grande esforço deste autor em realçá-lo numa concepção multidimensional e oposta àquela desenvolvida por Ratzel. Em seu artigo Revisitando o conceito de território, Brito realiza uma discussão acerca do conceito de território, tentando superar as ambiguidades a qual a categoria está submetida. Nesse sentido, a proposta do autor em revisitar o conceito de território parte da ideia de que mesmo com as várias contribuições teóricas apresentadas por diversos autores da contemporaneidade, o termo ainda é alvo de inúmeras dúvidas e confusões. Segundo ele, nos textos e nas discussões há uma predominância relevante no que se refere entender o conceito de território como algo que encerra as relações de poder entre os distintos agentes sociais que se interessam por uma dada parcela do espaço. Inicialmente, Brito esclarece os conceitos de espaço geográfico e de território, entendendo o primeiro como uma concretude resultante das relações dialéticas das relações sociais e de suas materializações, e o segundo como uma fração desse espaço, na qual determinados agentes sociais se relacionam com intuito de reproduzirem de acordo com os seus próprios interesses. A essência deste conceito estaria na sua utilização, enquanto ele fosse usado o território continuaria a existir. No entanto, como ele mesmo afirma o problema em se compreender o conceito sobre o viés das relações de poder, reside, sobretudo, no que realmente vem a ser o poder. Com esse intuito, o autor, baseia-se profundamente na definição de poder proposta por Arendt (1994), entendendo o que fundamenta uma relação de poder entre agentes sociais envolvidos em uma dada relação é o consenso e não a submissão. Brito, considera que mesmo em uma relação assimétrica existe um agente hegemônico que exerce o papel de liderança. Liderança entendida por ele como sendo a ação desenvolvida por um agente legitimamente capaz de assumir tal posição. Nessa perspectiva, ser um ator hegemônico implica excluir qualquer relação de comando/obediência pelo contrário, a legitimidade de um a gente parte de uma cooperação efetivada com os demais atores sociais. Esse fato tem marcado cada vez mais a contemporaneidade que não vê mais sentido em reproduzir ações baseadas nas relações de comando/obediência. Está havendo uma tendência generalizada no sentido de que um único ator já não impõe mais. É justamente nesse aspecto que reside a crítica do autor aos demais teóricos que discutem o conceito de território sobre o viés das relações de poder. Pois, se mesmo nas relações sociais mais concretas já se evidencia uma rejeição a essa relação, por que esses autores insistem ainda em produzir estudos profundamente embasados nesse binômio? Desse modo, é que Brito retoma a argumentação levantada por Arendt sobre relações de poder, ressaltando por sua vez, a importância de se discutir o significado de uma relação baseada na dominação, controle, comando/obediência procurando distinguir estes termos a fim de eliminar as confusões efetivadas. Estas abordagens correntes do conceito de poder estão, na modernidade, histórica e ideologicamente vinculadas às ideias de Weber. Para este teórico o poder é entendido como algo que pode se tornar propriedade de um individuo que dispõe de meios indispensáveis à imposição de seus desejos e vontades aos demais indivíduos. Está claro nessa afirmação que um determinado agente subordina os demais agentes e/ou grupos sociais ao impor os seus interesses. Em sentido oposto ao de Weber, Brito nos apresenta a perspectiva vislumbrada por Foucault em que as relações de poder são absolutas entre os agentes. Mas que, o poder não é possuído nem transferido, mas unicamente exercido. Foucault salienta que o poder não é somente manutenção e reprodução de relações econômicas, mas acima de tudo uma relação de força. Força entendida aqui no sentido de ser agente e não de violência. Esse pressuposto projeta a perspectiva de não-coexistência da violência e da dominação nas relações de poder entre os distintos agentes. Embora ela possa eventualmente ocorrer, será como adverte Arendt, uma violência utilizada em certa medida, mas que se restringe a um mero instrumento, não podendo de forma alguma ser entendida como prerrogativa de poder. A proposta de Arendt apresentada por Brito indica que o poder jamais pode ser visto como algo que se torna propriedade por um dado indivíduo. Pelo contrário, o poder pertence a um grupo como um todo, não havendo uma hierarquia nem supremacia de um dado agente sobre o outro. E é justamente a ideia de não existência de hierarquia, que configurará a existência e permanência do poder pelo grupo, justificando de certa forma a necessidade de que esses agentes mantenham-se unidos. Segundo Arendt, o poder existe e é intrínseco a toda relação social. Assim, para um autor, território poderá ter um sentido mais político; já outro poderá querer privilegiar uma conotação mais econômica, ou até mesmo cultural. Mas apesar da ótica privilegiada por Raffestin e compartilhada por esta pesquisa ser, sobretudo, a dimensão político-econômica, não podemos desconsiderar as demais, pois tais abordagens revelam a conotação multidimensional do território. Nesse mesmo sentido, aparece Saquet. Ele realiza uma abordagem geográfica de território baseando-se em uma argumentação teórico- metodológica que contempla, as suas variadas dimensões. Saquet entende que as forças econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas e em unidade, efetivam o território, o processo social, no e com o espaço geográfico, centrado e emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos [...] (SAQUET, 2007 p.57). Cada território é, portanto, segundo Saquet moldado a partir das dimensões econômicas, políticas e culturais que se territorializam de maneira a reafirmar uma identidade de um determinado grupo social. Além disso, Saquet também considera a abordagem da natureza, já que esta faz presente no território e dele é indissociável. Ainda nessa perspectiva, mas inserido em um viés político e cultural, Haesbaert apresenta uma visão mais integradora e totalizante das diferentes noções de território, apontando três concepções básicas aplicadas ao conceito, sendo elas de natureza: 1) política ou jurídico-política, em que “o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder [...]”; 2) cultural [...] “o território é visto fundamentalmente como produto da apropriação [...]”: 3) econômica, “que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho”. (HAESBAERT apud SPOSITO, 2004, p.18). É desse modo que, Haesbaert (2007), parte da raiz etimológica de território relegando a esta uma dupla conotação: a material e a simbólica. Para ele, a etimologia territorium tanto se aproxima de dominação da terra, que tem um caráter jurídico-político, portanto concreto, quanto da apropriação históricocultural, por um grupo social, que nesse caso tem expressão simbólica. Por estar inserido numa perspectiva fenomenológica, Haesbaert, apresenta uma concepção de território entendendo-o em sua totalidade e considerando em suas múltiplas dimensões isto é, um território concebido a partir da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais material das relações econômico-políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais estritamente cultural. (HAESBAERT, 2007, p.79) Em suma, pode-se perceber que existe um grande leque de acepções e concepções sobre território, tão numerosas e diversas quanto às próprias produções territoriais que se inscrevem no espaço através da relação deste com a sociedade configurando os mais variados arranjos territoriais. Diante disso, o território é entendido aqui, não como um fato pronto e acabado como a Geografia Positivista concebia, mas sim como um objeto resultante da história do relacionamento da sociedade com o espaço. Mas ele é, sobretudo, um entrecruzamento de forças de poder que produz e reproduz as mais diferentes territorialidades. São relações recíprocas que compõe, a partir das contradições sociais, arranjos territoriais diversificados. Dentro desse contexto dinâmico e relacional, se faz necessário desvelar a funcionalidade das formas e estruturas políticas, jurídicas e socioeconômicas que estão imbricadas no território e que foram construídas historicamente. Pretende-se desvendar as articulações dos processos sociais, que resultantes da intervenção humana, conduzem a uma incessante produção e reprodução do espaço geográfico. Ao resgatar o processo da formação dos territórios empreende-se recuperar como o Estado e as demais relações de poder, conseguem transformar espaços em produtos e processos territoriais. Considerações finais Diante do exposto pode-se empreender que o conceito de território é indispensável para podermos entender a formação territorial de Serra do Ramalho, uma vez que, apresenta-se como a base material em que as relações socioeconômicas, políticas e culturais se fizeram presente resultando no que primeiramente foi, um território institucionalizado pelo Estado e num segundo momento, o município de Serra do Ramalho. É válido ressaltar também que, este trabalho se trata de uma pesquisa, que se encontra em desenvolvimento, ainda na fase de coleta de dados e que por esta razão não está concluída. Por acreditarmos na relevância científica deste trabalho, está-se neste momento submetida à apreciação da comunidade acadêmica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRITO, Cristovão. 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