Universidade Federal do Amazonas Faculdade de Ciências Farmacêuticas Bioquímica Metabólica Metabolismo e distúrbios dos Aminoácidos Patrícia Almeida Emerson Silva Lima Definição Estruturas básicas das proteínas. Todas as proteínas do organismo são continuamente submetidas ao catabolismo e a ressíntese; assim os aminoácidos, por um lado são estruturas de formação, e por outro lado são produtos de decomposição. Pool de Aminoácidos Proteínas (14000g) Proteólise (300-500g de proteína/dia) Proteínas Alimentares (70-100g/d) Pool de aminoácidos (600-700g) Biossíntese de aminoácidos (30-40g de aa/dia) C-Esqueleto Carboidratos, gorduras Síntese protéica (300-500g de proteína/dia CO2 + H2O Purinas, pirimidinas, heme, aminas e outros produtos Catabolismo de aminoácidos (120-130g de aa/dia) NH3 Uréia (25-35g) NH4+ Troca de Aminoácidos entre órgãos Ocorre o catabolismo dos aminoácidos em diversos órgãos visando a obtenção de energia, 4 especialmente durante o período de carência 1 2 3 alimentar. Marks’ Basic Medical Biochemistry, 2004 - A clinical approach Biossíntese dos aminoácidos • Aminoácidos essenciais: alimentação e proteínas corpóreas. • Aminoácidos não-essenciais: De acordo com os metabólitos usados podemos diferenciar 3 grupos: 1. Síntese a partir de produtos intermediários do ciclo do citrato ou da glicólise. Ex: aspartato, glutamato, alanina, serina. 2. Transformação de aminoácidos não-essenciais: Ex: a partir da serina forma-se a glicina, de ácido glutâmico forma-se glutamina, arginina e prolina. 3. Transformação de aminoácidos essencias: Ex: fenilalanina fornece tirosina, metionina fornece cisteína. Degradação dos aminoácidos O produto da degradação dos aminoácidos é o NH4+. A reação mais comum é a de TRANSAMINAÇÃO. Possui como coenzima o piridoxalfosfato. Marks’ Basic Medical Biochemistry, 2004 - A clinical approach Transaminação Prof. Henning Ulrich A alanina se torna piruvato pela transferência do grupo amino Degradação dos aminoácidos Importante: Acoplamento da reação de TRANSAMINAÇÃO com a Glutamato desidrogenase DESAMINAÇÃO OXIDATIVA do glutamato. Harper's Biochemistry 26th ed Degradação do esqueleto carbono dos aminoácidos Principles of Biochemistry -Lehninger (4ed 2005) Classificação dos Aminoácidos • Glicogênios: aminoácidos originam piruvato ou um dos intermediários do ciclo de Krebs. •Cetogênicos: aminoácidos cuja catabolismo origina acetoacetato ou um dos seus precursores, acetil CoA ou acetoacetil CoA. Exemplos: Leucina e Lisina (exclusivamente cetogênicos) •Glicocetogênicos: precursores da glicose e corpos cetônicos. Ciclo da Uréia NH3 em Uréia! • Apolar; • atóxica; • de fácil difusão entre membranas; • excretada pelo rim com elevada taxa de depuração. http://okulilonguisa.blogspot.com/ com modificações Defeitos metabólicos no Ciclo da Uréia Defeitos metabólicos no Ciclo da Uréia • Possuem sintomática bioquímica intimamente relacionada. • Não há interrupção completa do ciclo da uréia (incompatível com a vida). • São defeitos parciais, assim, atividade da enzima é apenas limitada. Defeitos metabólicos no Ciclo da Uréia • Defeitos graves do ciclo da uréia resultam em concentração aumentada de glutamina no plasma sanguíneo. Por que?? • Ingestão protéica normal: concentração de uréia normal (o fígado compensa) • Ingestão aumentada: hiperamoniemia Defeitos metabólicos no Ciclo da Uréia •Quadro clínico: - vômitos - pouco ganho de peso - sonolência - convulsões - hipertonia muscular - hipercineses - hiperamoniemia - redução da excreção da uréia •Tratamento: dieta hipoprotéica As doenças • Hiperamoniemia tipo I: defeito da carbamoilfosfato-sintase. • Hiperamoniemia tipo II: defeito da ornitina-carbamoil transferase • Citrulinemia: defeito da argininossuccinato-sintetase • Acidemia Arginino succínica: defeito na argininossuccinato-liase • Argininemia: defeito na arginase Hiperamonemia tipo I • Defeito: carbamoil fosfato sintetase • Excesso de amônia. • Criança nasce aparentemente normal, depois se torna letárgica e tem dificuldade para mamar • Edema cerebral devido ao excesso de amônia. Hiperamonemia tipo II • É a mais comum (deficiência ornitina-carbamoil transferase) • Retardo mental (excesso de amônia) • O gene da enzima está no cromossomo X paterno Citrulinemia • Defeito: argininossuccinatosintetase •Incapacidade em condensar citrulina com aspartato resulta no acúmulo de citrulina no sangue e sua excreção na urina. • Benigna • Aumenta citrulina na urina, no sangue e no LCR. newbornscreening.info Acidemia Arginino succínica: • Defeito: arginossuccinato liase. • Capacidade diminuída em clivar argininossuccinato para formar arginina • Aumenta amônia • Sequelas e mortalidade elevadas. Argininemia •Defeito: arginase • Rara, mas causa muitas anomalias no desenvolvimento e função do SNC • Anomalias de cabelo: cabelos finos e quebradiços • Conseqüência: lisina, ornitina, cistina excretadas na urina (bloqueio por competição) Defeitos metabólicos dos aminoácidos Metabolismo de fenilalamina e tirosina PKU Tirosemia II Tirosemia I Tirosemia III Alcaptonúria Fenilcetonúria (PKU) • Defeito: fenilalanina-hidroxilase que, por oxidação, transforma fenilalanina em tirosina. • Cofator tetraidrobiopterina: atividade normal • Herança autossômica • Baixa formação de tirosina: produção limitada de catecolaminas e melanina, serotonina : distúrbios neurológicos. • Somente 25% dos doentes alcançam a terceira década de vida sem tratamento. Fenilcetonúria (PKU) Quadro clínico: - baixo desenvolvimento mental; - pigmentação ausente ou diminuída da pele, cabelo e íris, - desenvolve eritemas com a luz. Tratamento: - dieta pobre em fenilalanina (níveis abaixo de 0,75 mmol/L). http://biobio-pku.blogspot.com/ Tirosinemia tipo II (óculo-cutânea) • Autossômica recessiva. Ausência ou déficit de tirosina aminotransferase • Aumento da concentração de tirosina e sua excreção renal • Aumento de 4-hidroxifenilpiruvato no sangue e na urina e seus derivados formados: 4-hidroxifenilactato e 4- hidroxifenilacetato. Como assim ?? http://www.hepcentro.com.br/tirosinemia.htm Tirosinemia tipo II (óculo-cutânea) Quadro clínico: - malformação – microcefalia; - alterações da córnea – eritemas; - hiperceratose palmar e plantar; - perturbações do desenvolvimento mental. Tratamento: - dieta pobre em aminoácidos aromáticos e de proteínas. Alcaptonúria • Defeito: falta da enzima ácido homogentísico dioxigenase • Excreção de ácido homogentísico elevada na urina • Herança autossômica recessiva • Benigna – doença fica pior em idosos. Alcaptonúria Quadro clínico: Ocronose ocular • Ocronose: Acúmulo do ácido em órgãos e tecidos. • Conseqüência da ocronose: Ocronose de tendões da mão alterações degenerativas e inflamatórias • Órgãos mais acometidos: Rins (cálculos) e próstata Ocronose auricular (surdez) Tirosinemia tipo I (hepato-renal) • É a mais grave. Envolve insuficiência hepática, disfunção tubular renal, raquitismo e polineuropatia. • Causada por deficiência de fumarilaacetoacetato hidrolase • Autossômica recessiva •Acúmulo de fumarilacetoacetato e maleilacetato Extremamente tóxicos !! Tirosinemia tipo I (hepato-renal) •Quadro clínico: Se não detectada e tratada precocemente, os sintomas costumam surgir logo nos primeiros meses de vida e incluem: - Déficit de crescimento; - diarréia e vômitos; - hepatoesplenomegalia; - icterícia; - insuficiência hepática. http://biovidah.blogspot.com/2008/08/tirosinemia.html Albinismo • Inclui diversas anomalias genéticas na formação de melanina • Síntese de melanina: melanócitos. •Síntese do pigmento: enzima fenoloxidase (cofator). • No albinismo, os melanócitos estão presentes, entretanto, não conseguem produzir melanina Rocha & Moreira, 2007. Albinismo Causas: - Albinismo tirosinase-negativo: defeito na enzima tirosinase. - Albinismo tirosinase-positivo: anomalia na proteína de transporte. Albinismo Quadro clínico: - Tipo óculo-cutâneo: • herança autossômica recessiva (forma mais freqüente); - Tipo albinismo ocular: • herança recessiva ligada ao sexo: defeito bioquímico desconhecido. exposições prolongadas ao sol levam a ceratoses précancerosas e carcinomas Metabolismo da metionina e cisteína • A síntese de metionina não ocorre, uma vez que é um aminoácido essencial. • Cisteína é sintetizada por transferência do átomo de enxofre derivado da metionina para o grupo hidroxila da serina. • Metionina em excesso – energia! • Cisteína – sulfito + piruvato – taurina e hipotaurina. Metabolismo de metionina e cisteína Metionina Homocistinúria II Homocistina S-Adenosil-Metionina Metionina sintase Cof.: B12 Homocisteina S-Adenosil-Homocisteina Cistationina sintase Homocistinúria I Cof.: piridoxal fosfato Cistationina Alfacetobutirato + Cisteina Homocistinúria I • Defeito: enzima cistationina-sintetase. • Atividade intensamente diminuída ou ausente no fígado e no cérebro. • Conseqüência: aumento de homocistina e metionina no plasma sanguíneo, na urina e nos tecidos. • Cistina no plasma também fica aumentada. Cistationina não presente no cérebro. Homocistinúria I • Quadro clinico: - doença freqüente; - afetar todas as faixas etárias; - alterações visuais; - trombose arterial; - perturbação mental; - osteoporose geral. Tratamento: - dieta pobre em metionina e rica em cisteína. Homocistinúria II • Defeito enzimático: metionina sintase. • Conseqüências bioquímicas: - aumento de cistationina na urina e nos tecidos; - diminuição da metionina. • Quadro clínico: - fraqueza muscular; - perturbações no desenvolvimento mental. Metabolismo da glicina • Aminoácido não essencial importante para, além da síntese protéica, purinas, porfirinas, creatina e outros metabólitos. • A glicina é formada pelo 3-fosfatoglicerato, a partir da serina. • Decomposição: via principal: piruvato. Segunda via: oxidação em glioxilato. • De glioxilato para oxalato pela glicolato desidrogenase. Metabolismo da glicina Serina-hidroximetiltransferase Piruvato Serina Glicina Glicina oxidase Ácido tetraidrofólico Piridoxalfosfato NH3 Glioxilato Gliconato desidrogenase Oxalato Hiperglicicemia • Hiperglicicemia não cenótica: defeito bioquímico afeta a descarboxilação e a desaminação de glicina com transferência do fragmento C1 para o ácido tetrahidrofólico • Doentes atingem a idade infantil ou jovem Hiperglicicemia •Perturbações no desenvolvimento mental • Herança autossômica recessiva • Tratamento: restrição dietética de glicina e serina por meio de administração de benzoato de sódio Hiperxalúria tipo I • Defeito na enzima: hidroxi-oxoadipato-carboxilase • Aumento de excreção de oxalato na urina. Deposição de oxalato de cálcio sob a forma de cálculos nas vias urinárias, no parênquima e em órgãos extra-renais. • Conseqüências: Aumenta glioxilato, oxalato e glicolato Hiperxalúria tipo I • Quadro Clínico: - cálculos renais recidivantes bilaterais; - cólica, pielocistite, pielonefrite; - insuficiência renal; - deposição de cristais no miocardio: alteração do ritmo; - deposições em cartilagens e articulações: dores articulares. Hiperxalúria tipo I • Tratamento: - ingerir bastante água; - manter o oxalato em solução: acidificar urina e administração de fostato; - piridoxal para diminuir a produção de oxalato. Referências Bibliográficas - CHAMPE, PC; HARVEY, RA. Bioquímica Ilustrada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. - DEVLIN, TM. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. São Paulo: Editora Blucher, 2007. - GROSS, KARLSON, GEROK. Patobioquimica. Rio de Janeiro- RJ. Guanabara Koogan. 1982. - HARPER'S. Biochemistry 26th ed. McGraw-Hill Companies, 2003. - LEHNINGER L. Princípios de Bioquímica. 4.Ed. São Paulo : Sarvier, 2005. - SMITH, C; MARKS, AD. Bioquímica Médica Básica de Marks. Uma abordagem clínica. 2004. Uma boa semana!