A EVOLUÇÃO CLÍNICA FISIOTERAPÊUTICA NA INFECÇÃO FÚNGICA CRÔNICA DA FAMÍLIA DOS EUMYCETOMAS PELA ESPÉCIE MADURELLA GRISEA: UM ESTUDO DE CASO Isabel Cristina Costa Borges¹ - NOVAFAPI Layse Piauilino de Medeiros² – NOVAFAPI Layanne Soares Martins³ - NOVAFAPI Carolina Meireles Rosa4 - NOVAFAPI INTRODUÇÃO Eumycetoma é uma síndrome clínico-patológica de evolução crônica caracterizada por aumento de volume de determinada região, à custa de gomas em várias fases evolutivas, através de cujas fístulas elimina-se material necrótico exsudativo, com a presença de grãos. (AZULAY & AZULAY, 2004) É causada por vários fungos e actinomicetos (bactérias filamentosas). (http://www.geocities.com/Athens/Academy/2966/disciplinas/micologia/micetoma.htm) No Brasil, os casos de eumycetomas relatados são de grãos pretos causada por três espécies de fungos: Madurella grisea, Madurella mycetomatis e Exophiala jeanselmei, em ordem de freqüência.( SEVERO,1999) A penetração desses microorganismos provenientes do solo se faz por traumatismos no tecido subcutâneo. (http://www.geocities.com/Athens/Academy/2966 /disciplinas/micologia/micetoma.htm) A lesão é caracterizada pela presença de nódulos com trajeto caniculado, isto é, com uma perfuração do nódulo que drena pus. Nesse pus observam-se grãos, semelhantes aos grãos de areia. Esse nódulo produz tumoração no órgão atingido e abcessos que podem estender-se pela musculatura até o osso. As lesões não tratadas persistem durante anos e estendem-se no sentido periférico e profundamente provocando deformidades e perda funcional. (http://www.geocities.com/Athens/Academy/2966/disciplinas/micologia/micetoma. htm) Os sintomas típicos são tumor, fístulas e presença de grãos no pus, os quais são o próprio agente. (http://www.geocities.com/Athens/Academy/2966/disciplinas/ micologia/micetoma.htm) Casos de eumycetoma por Madurella grisea têm sido relatado nos estados brasileiros localizados acima do Trópico de Capricórnio, dentre os quais a maioria são estados do nordeste brasileiro. No entanto, o primeiro caso de eumycetoma relatado ocorreu no sudeste do Brasil.( SEVERO,1999) O caso aqui relatado é de um homem moreno, 55 anos de idade, autônomo residente no bairro São Benedito em Timon-Ma apresentando infecção fúngica por Madurella grisea. A maioria dos pacientes não apresentam melhora sustentada por longo tempo com os tratamentos disponíveis, sendo de grande importância as novas opções terapêuticas. (NEGRONI, 2005). A idéia de uma melhora sustentada para o caso em questão, dá à este projeto o objetivo de promover uma abordagem fisioterapêutica que amenize o quadro clínico reduzindo edema, melhorando amplitude de movimento, promovendo a cicatrização nodular ou manutenção da mesma e por fim modificando o estilo de vida do paciente. METODOLOGIA O estudo realizado é de natureza quantitativa, intervencional e individualizada. A pesquisa desenvolveu-se no Centro Integrado de Saúde (CIS) da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI) na cidade de Teresina – Piauí, no período de 21de março a 10 maio de 2006. Paciente I.F.S, 55 anos de idade, apresentando uma infecção fúngica crônica por madurella grisea, buscou tratamento fisioterapêutico no Centro Integrado de Saúde da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí, em Teresina; contando que há dez anos, ao jogar bola entrou um espinho no seu pé direito. Duas semanas depois surgiram lesões hipercrômicas e nódulos que fistulavam. Não tendo tratamento adequado no estado, foi para São Paulo no Hospital das Clínicas. Mantém o tratamento medicamentoso e vai duas vezes ao ano fazer o controle da patologia. Referiu-se como queixa principal edema no pé e tornozelo direito. Paciente encontrava-se com um edema acentuado na região do tornozelo e dorso do pé direito e lesões como erosões, nódulos e descamação. Além de alterações de temperatura local, de coloração hipercrômica da pele e de mobilidade. Hipoestesia para teste de sensibilidade superficial e hiperestesia para sensibilidade profunda. As lesões apresentavam-se bem delimitadas, redondas, agrupadas, regionais e assimétricas. Na goniometria observou-se dorso flexão de 30º, flexão plantar de 10º no pé direito e dorso flexão de 50º, flexão plantar 20º no pé esquerdo. Na perimetria do pé direito encontrouse 30cm no dorso e 33cm na região maleolar e no pé esquerdo, 27cm na região do dorso e 26,5cm na região maleolar. Os procedimentos fisioterapêuticos utilizados foram: drenagem linfática manual, exercícios metabólicos e laserterapia. Segundo Leduc (2000), a drenagem linfática é uma técnica que drena os líquidos excedentes que banham as células mantendo dessa forma, o equilíbrio hídrico dos espaços intersticiais. Ela é também responsável, pela evacuação dos dejetos provenientes do metabolismo celular. Existem dois processos muito diferentes que contribuem para a evacuação desses líquidos intersticiais. O primeiro processo é a captação realizada pela rede de capilares linfáticos. A captação é a conseqüência do aumento local da pressão tissular. Quanto mais à pressão aumenta maior é a recaptação pelos capilares linfáticos. O segundo processo consiste na evacuação, longe da região infiltrada, dos elementos recaptados pelos capilares. Esse transporte de linfa que se encontra nos vasos é efetuado pelos pré coletores em direção aos coletores. Então, primariamente fazia-se à desobstrução dos membros inferiores, do afetado e do não afetado. Iniciando-se pelos gânglios inguinais (20x), gânglios poplíteos (20x), gânglios retro maleolares (20x) com a respectiva drenagem de uma vez de cada segmento. Por exemplo: desobstrução dos gânglios inguinais (20x) e posterior drenagem da coxa em direção aos gânglios inguinais. Após à desobstrução era realizada a drenagem propriamente dita: drenagem da região do pé (10x), drenagem dos gânglios retro maleolares (10x10), drenagem da perna (10x), drenagem dos gânglios poplíteos (10x10), drenagem da coxa (10x) e drenagem dos gânglios inguinais (10x10). Ao contrair e relaxar, a musculatura esquelética provoca um movimento de bombeamento dos vasos linfáticos aumentando a captação da linfa e o fluxo linfático consequentemente diminuindo o edema. (BARROS, 2001) Sabendo-se então que os exercícios diminuem o edema, pois os músculos constituem uma importante bomba de propulsão de sangue e linfa, foi proposto a realização de exercícios metabólicos para dorso flexão, flexão plantar e circundação ativo livre (10 x cada) e ativo resistido para dorso flexão e flexão plantar utilizando a técnica contrai-relaxa (10x cada) visando o aumento da amplitude de movimento. Na cicatrização dos nódulos utilizou-se laserterapia. Laser significa amplificação de luz por emissão de radiação. Representa uma emissão de luz coerente, monocromática, com grande concentração de energia capaz de provocar alterações físicas e biológicas. As propriedades do laser estão diretamente relacionadas com a invariabilidade do seu comprimento de onda. Podendo ser de alta e baixa potência. (Agne, 2005) Na fisioterapia é utilizado o laser baixa potência, no qual predominam efeitos terapêuticos como: analgesia local, ação antiinflamatória e antiedematoso, cicatrização de feridas. (Agne, 2005) A laserterapia aplicada no tratamento de I.S.F. era o laser tipo infravermelho invisível- Marca Carci, com comprimento de onda de 905nm, com temporizador de energia de 1-10J/cm², potencia de 60w, energia média de 25w, com regime de emissão pulsado em 2000Hz e duração de pulso 200Hz. No início do tratamento foi utilizado uma energia de 4J/cm² e posteriormente, uma energia de 8J/cm², devido à cronicidade das lesões. Método de contato indireto e pontual, por duas vezes em cada nódulo. Após o atendimento fisioterapêutico era recomendado ao paciente o uso de meias Venosan com compressão de 30 – 40 mmHg curta, durante suas atividades de vida diária, para manutenção dos resultados conseguidos com o tratamento. RESULTADOS Gráficos de Perimetria e Goniometria no período de 21/03 a 10/05/2006 Flexão plantar perna direita e esquerda antes e depois do tratamento nos sete primeiros atendimentos 35 30 25 20 15 10 5 0 30 18 30 20 Antes Depois Flexao plantar perna D Flexao plantar perna E 21/03 a 18/04/2006 Fonte: Centro Integrado de Saúde – NOVAFAPI Ano:2006 Dorso flexão perna direita e esquerda antes e depois do tratamento nos sete primeiros atendimentos 32 35 30 25 32 28 22 20 Antes 15 Depois 10 5 0 Dorso flexão perna D Dorso flexão perna E 21/03 a 18/04/2006 Fonte: Centro Integrado de Saúde – NOVAFAPI Ano:2006 Como se pode observar nos gráficos de goniometria nos primeiros sete atendimentos,na perna direita houve um aumento de 2° para flexão plantar e de 6° para dorso flexão, enquanto que para a perna esquerda permaneceram constante. Perimetria perna direita e esquerda antes e depois do tratamento nos sete primeiros atendimentos 35 30 25 20 15 10 5 0 32 31 26 26 Antes Depois Perimetria perna D Perimetria perna E 21/03 a 18/04/2006 Fonte: Centro Integrado de Saúde – NOVAFAPI Ano:2006 Na perimetria nos sete primeiros atendimentos já se observa uma diminuição de 1cm na perna direita e na perna esquerda permaneceu constante. Flexão plantar perna direita e esquerda antes e depois do tratamento nos últimos sete atendimentos 35 40 30 33 33 22 Antes 20 Depois 10 0 Flexao plantar perna D Flexao plantar perna E 19/04 a 10/05/2006 Fonte: Centro Integrado de Saúde – NOVAFAPI Ano:2006 Dorso flexão perna direita e esquerda antes e depois do tratamento nos últimos sete atendimentos 32 35 30 25 32 29 20 20 Antes 15 Depois 10 5 0 Dorso flexão perna D Dorso flexão perna E 19/04 a 10/05/2006 Fonte: Centro Integrado de Saúde – NOVAFAPI Ano:2006 Nos últimos sete atendimentos, a goniometria da perna direita para flexão plantar teve um aumento de 13° e para dorso flexão o aumento foi de 9°. Na perna esquerda a goniometria permaneceu constante. Perimetria perna direita e esquerda antes e depois do tratamento nos útimos sete atendimentos 35 30 25 20 15 10 5 0 31,13 30,5 26,28 25,82 Antes Depois Perimetria perna D Perimetria perna E 19/04 a 10/05/2006 Fonte: Centro Integrado de Saúde – NOVAFAPI Ano:2006 Na perimetria dos últimos sete atendimentos, a perna direita sofreu uma diminuição de 0,63cm e na perna esquerda a diminuição foi de 0,46cm. CONSIDERAÇÕES FINAIS O tratamento fisioterapêutico associado ao medicamentoso em I.S.F. portador de infecção fúngica por Madurella grisea demonstrou melhora significativa do quadro clínico de acordo com os resultados e relatos do próprio paciente. Acrescentando assim, uma nova terapêutica para aprimorar o tratamento de tal infecção. Palavras Chaves: Eumycetomas, Madurella Grisea, Infecção Fúngica, Tratamento Fisioterapêutico REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ⇒ SEVERO, Luiz Carlos; VETORATTO, Gerson; MATTOS, Flavio; LONDERO, Alberto Thomaz. Eumycetoma by Madurella grisea. Report of the first case observed in the Southern Brazilian Region. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, Mar/Apr 1999. ⇒ NEGRONI, Ricardo; TOBÓN, Ângela; BUSTAMANTE, Beatriz; SHIKANAIYASUDA, Maria Aparecida; PATINO, Hernando; RESTREPO, Ângela. Posaconazole treatment of refractory eumycetoma and chromoblastomycosis. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. S. Paulo v.47 n.6 nov./dez. 2005 ⇒ AZULAY, Rubem David; AZULAY, David Rubem. Dermatologia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. ⇒ AGNE, Jones E. Eletrotermoterapia: teoria e prática. Santa Maria : Orium,2005 ⇒ LEDUC,Albert; LEDUC, Olivier. Drenagem Linfática: Teoria e Prática. 2ª edição. São Paulo: Manole, 2000. ⇒ BARROS, Maria Helena de.Fisioterapia: Drenagem Linfática Manual. São Paulo: Robe,2001. ⇒ Micetomas.Disponível em : <http://www.geocities.com/Athens/Academy/2966/ disciplinas/micologia/micetoma.htm> Acesso em: 18 jun. 2006 ¹ Doutoranda do curso de Fisioterapia da Faculdade NOVAFAPI; e-mail: [email protected] ² Doutoranda do curso de Fisioterapia da Faculdade NOVAFAPI; e-mail: [email protected] ³ Doutoranda do curso de Fisioterapia da Faculdade NOVAFAPI; e-mail: [email protected] 4 Fisioterapeuta Especialista e professora da disciplina Clínica Fisioterapêutica Intertegumentar da Faculdade NOVAFAPI; e-mail: [email protected]