A epidemiologia na humanizacao da vida

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obras derivadas 3.0 Ecuador
A epidemiologia na humanizacao da vida
Convergencias e desencontros das correntes
Jaime Breilh
1997
Artículo del libro: Barata, Rita Barradas, ed., Lima Barreto, Mauricio, ed., Almeida Filho, Naomar de, ed. y Peixoto
Veras, Renato, ed. Equidade e saúde: contribuicoes da epidemiologia. Río de Janeiro: FIOCRUZ/ABRASCO, 1997.
260 p. (Serie EpidemioLógica ; No. 1)
FUNDA<;ÁO OSW ALDO CRUZ
Presidente
Eloi de Souza Garcia
Vice-Presidente
de Ambiente, Comunica<;:ao e Informa<;:ao
Maria Cecilia de Souza Minayo
EDITORA FIOCRUZ
Coordenadora
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Conselho Editorial
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José da Rocha Carvalheiro
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Coordenador Executivo
Jofio Carlos Canossa P. Mendes
Cont
EQÜIDADE E SAÚDE
Con tribui<;6es da Epidemiologia
Organizadores
Rita Barradas Barata
Maurício Lima Barreto
Naomar de Almeida Filho
Renato Peixoto Veras
Série EpidemioLógica 1
~ abrasco
[lEDITORA
g-
rlL.J~RUZ
Copyright@ 1997 dos autores
Todos os direitos desta edi¡yao reservados
a
FUNDAC;:AO OSW ALOO CRUZ / EDITORA
Departamento de S
ISBN: 85-85676-34-5
Capa, projeto gráfico e editora¡yao eletrónica: Guilherme Ashton
Copidesque e revisao final: M Cecilia G. B. Moreira
Revisao: Eliana Granja
Prepara¡yao dos originais: Marcionílio Cavalcanti de Paiva
Supervisao editorial: Walter Duarte
Supervisao gráfica: David Henrique de Lima
Departamel
Universi<
ESTA PUBLlCAC;:AO FOI PARCIALMENTE PRODUZIDA COM RECURSOS PROVENIENTES DO CON-
Núcleo de Estudo~
B
VENIO 173/94 - ABRASCO/FUNDAC;:AO NACIONAL DE SAÚDE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE -COM O
OBJETIVO DO DESENVOLVIMENTO DA EPIDEMIOLOGIA EM APOIO
As
ESTRATÉGIAS DO SUS.
Cataloga¡yao-na-fonte
Centro de Informa¡yao Científica e Tecnológica
Biblioteca Lincoln de Freitas Filho
B226c
Núcleo de Es!
Centro
Barata, Rita Barradas (Org.)
Equidade e saúde: contribui¡yoes da epidemiologiaJOrganizado por Rita
Barradas Barata, Maurício Lima Barreto, Naomar de Almeida Filho e Renato Peixoto Veras. - Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ABRASCO, 1997.
260p., tab., graf. (Série EpidemioLógica, 1)
Departamento de ~
Departamento de ~
Centro de 1
1. Epidemiologia. 2. Política social. 3. Mortalidade. I. Barata, Rita Barradas (Org.). 11. Barreto, Maurício Lima (Org.). III. Almeida Filho, Naomar de (Org.). IV. Veras, Renato Peixoto (Org.).
Departamentl
I
CDD. - 20. ed. - 614.49
1997
EDITORA FIOCRUZ
Rua Leopoldo Bulhoes, 1480 - Térreo - Manguinhos
21041-210 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (021) 590-3789 - ramal 2009
Fax.: (021) 280-8194
Instituto de Medicir
¡ns
Departamento de M
Autores
Alberto M. Torres
Departamento de Saúde Internacional/Escola Nacional de Saúde - Madri, Espanha
Antonio Alberto Lopes
Departamento de MedicinaJUniversidade Federal da Bahia (UFBA)
Asa Cristina Laurell
Universidade Autónoma Metropolitana - Xochimilco, México
Elza Berquó
Núcleo de Estudos da Popula¡yao/Universidade de Campinas (UNICAMP)e Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP)
Estela M. G. de Pinto da Cunha
Núcleo de Estudos da Popula¡yao/Universidade de Campinas (UNICAMP)
Jaime Breilh
Centro de Estudos e Assessoria em Saúde (CEAS) - Equador
Joaquim Pereira
Departamento de Saúde Internacional/Escola Nacional de Saúde - Madri, Espanha
Juan Fernández
Departamento de Saúde Internacional/Escola Nacional de Saúde - Madri, Espanha
Marco Akerman
Centro de Estudos de Cultura Comtemporanea (CEDEC)- Sao Paulo
Marilisa Berti de Azevedo Barros
Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciencias
Médicas/Universidade de Campinas (UNICAMP)
Mário Monteiro
Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMSIUERJ) e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Moisés Goldbaum
Departamento de Medicina da Faculdade de Medicina da USP e Secretaria de Estado da
Saúde de Sao Paulo
Neil Pearce
Escola de Medicina de Wellington - Nova Zelandia
Pedro Luis Castellanos
Programa de Análise da Situayao da Saúde - Organizayao Pan-Americana da
Saúde/Organizayao Mundial da Saúde (OPS/OMS)
APRESENT A<;ÁO
INTRODU<;ÁO
.
Saúl Franco Agudelo
Universidade de Antióquia - Colómbia
PARTE 1: ABORDA(
Richard Wilkinson
University of Sussex, Brighton e University College - Londres, Inglaterra
l. A Epidemiologia na 1
Jaime Breilh
..
2. Violencia, Cidadanj¡
Saúl Franco Agude
Organizadores
Rita Barradas Barata
Departamento de Medicina Social/Faculdade de Ciencias Médicas - Santa Casa
de Sao Paulo
3. A Epidemiologia em
Moisés Goldbaum .
PARTE 11: SAÚDE,]
4. Impacto das Política
Asa Cristina Laure,
Maurício Lima Barreto
Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
5. Rela¡yao Internacion
Richard Wilkinson.
Naomar de Almeida Filho
Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
6. Classe Social e Canl
Neil Pearce
.
Renato Pe ix oto Veras
Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/UERJ)
PARTE III: DESIGU
7. Perfis de Mortalidac
Regiao das Américas
Pedro Luis Castell
8. Epidemiologia e Su
Marilisia Berti de
9. Diferenciais Intra-l
de problemas de saúdt
Marco Akerman ...
Isa
JERJ)
Sumário
APRESENT A<;ÁO
9
INTRODU<;ÁO
11
PARTE 1: ABORDAGENS DA QUESTÁO EQÜIDADE EM EPIDEMIOLOGIA
l. A Epidemiologia na Humanizayao da Vida: convergencias e desencontros das correntes
Jaime Breilh
2. Violencia, Cidadania e Saúde Pública
Saúl Franco Agudelo
3. A Epidemiologia em Busca da Eqüidade em Saúde
Moisés Goldbaum
23
:
:
39
63
PARTE 11: SAÚDE, ECONOMIA E SOCIEDADE
4. Impacto das Políticas Sociais e Económicas nos Perfis Epidemiológicos
Asa Cristina Laurell
83
5. Rela¡yao Internacional entre Eqüidade de Renda e Expectativa de Vida
Richard Wilkinson
103
6. Classe Social e Cancer
Neil Pearce
121
PARTE III: DESIGUALDADES SOCIAIS E DIFERENCIAIS DE MORTALIDADE
7. Perfis de Mortalidade, Nível de Desenvolvimento e Iniqüidades Sociais na
Regiao das Américas
Pedro Luis Castellanos
137
8. Epidemiologia e Supera¡yao das Iniqüidades em Saúde
Marilisia Berti de Azevedo Barros
163
9. Diferenciais Intra-Urbanos em Sao Paulo: estudo de caso de macrolocalizayao
de problemas de saúde
Marco Akerman
177
PARTE IV: TRANSI<;ÁO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA
10. Transi¡yao Demográfica e seus Efeitos sobre a Saúde da Popula¡yao
Mário F. Giani Monteiro
189
11. Análise da Transi¡yao Epidemiológica na Espanha
Alberto M Torres, Joaquim Pereira e Juan Fernández
205
PARTE V: HETEROGENEIDADE DE RA<;A E GÉNERO EM EPIDEMIOLOGIA
12. Raya: aspecto esquecido na iniqüidade em saúde no Brasil?
Estela M G. de Pinto da Cunha
219
13. Esterilizayao e Ra¡yaem Sao Paulo
Elza Berquó
.235
14. Significado de Ra¡yaem Pesquisas Médicas e Epidemiológicas
Antonio Alberto Lopes
245
Em abril de 1
Coletiva (ABRASCO)
com a Sociedade Ibe
tino-Americana de !\
sileiro, II Congresso
demiologia, reunido~
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PARlE 1
ABORDAGENS GERAIS DA QUESTÁO EQÜIDADE EM
EPIDEMIOLOGIA
1
A EPIDEMIOLOGIA
NA HUMANIZA<;AO
DA VIDA: CONVERGENCIAS
E DESENCONlROS
DAS CORRENlES'
Jaime Breilh
INTRODU<;Ao
Ante a desorganizayao mundial da vida humana e a prolifera<;:ao de
processos tanto antigos quanto atuais de destruiyao da saÚde, a Epidemiologia
vem-se consolidando como ferramenta importante para a monitoriza<;:ao dessa
deteriora<;:ao massiva e para o planejamento de ayoes coletivas que visem ~ defesa da saÚde e a humanizayao das sociedades.
Nesse cenário adverso e pleno de desafios, coexistem várias correntes do
pensamento epidemiológico de vanguarda que compartilham o anseio comum de
proteger a saÚde e obter diversos avan<;:ostécnicos que poderiam ser complementares. Entretanto, na prática, se desenvolvem de modo mutuamente desvinculado, como campos paralelos, ou até mesmo conflitantes, isolados pelo julgamento prévio, por uma arrogancia defensiva e por uma incapacidade de encontrar a sua unidade na necessidade social.
Tradlll;ao: Eliana Granja
23
EQÜIDADE
E SAÚDE
o
resultado mais preocupante dessas tensoes é o enfraquecimento
global das novas perspectivas do pensamento, da prática e da investiga<;:aoepidemiológica,
porque temos construído obstáculos desnecessários él
fertiliza<;:ao entrela<;:ada de su as tres expressoes principais: a corrente
mais ligada ao conhecimento dos sistemas dinamicos lineares e nao-lineares (rnodelo matemático ou model fitting); a corrente mais associada ao
conhecimento
dos processos microssociais
(a Antropologia,
as técnicas
qualitativas de Análise do Discurso); e a corrente mais relacionada ao
emprego de categorias para o estudo dos processos estruturais e superestruturais amplos (Economia Política e Socio logia).
A investiga<;:ao das características
e potencial idades de cada uma
destas correntes, bern como a abertura de espa<;:os para um debate plural,
deverá elucidar em que medida esses conflitos sao fruto de posicionamentos francamente contraditórios. Ainda: se, pelo contrário, as rupturas que
aparecem, ao menos nos espa<;:os mais democráticos, como confronta<;:oes
teóricas e técnicas irreconciliáveis,
resultam, na verdade, do trabalho deficiente na constru<;:ao do objeto epidemiológico,
da incapacidade
para
dominar e integrar técnicas de diferentes campos e, subjazendo ao anterior, da desarticula<;:ao da prática política, que atorniza o trabalho das for<;:asprogressivas e bloqueia a discussao de propostas unitárias de a<;:aocoletiva integradas a um projeto humano e popular para a sociedade.
URGENCIA DE UM PROJETO HUMANO
Este for01 que nos reúne com tanto exito é o resultado da confluencia
de muitas vontades progressistas, colocadas a servi90 do humano e dispostas a converter estas jornadas de trabalho em uma grande 'oficina pela vida'. É reconfortante que tenhamos sido convocados com manifesta intencionalidade: a constru<;:ao de uma 'Epidemiologia
na busca da eqüidade'.
Esfor<;:o cuja pertinencia é diretamente proporcional ao enorme grau de destrui<;:ao da saúde dos nossos povos nas horas difíceis, em que estao sendo
submetidos él conspira<;:ao perversa de um 'modelo' sócio-economico desumano e profundamente nao-eqüitativo.
Referencia aos Congressos que originaram esta coletanea.
24
Se tenho razao no fati
técnicos interessados pelo s(
tantes da vida, necessitados
entao é perfeitamente pertir
os critérios que aceitamos
ante o desenvolvimento da
que simples fórmulas tecno(
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A EPIDEMlOLOGIA
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NA HUMANIZA(:AO
DA VIDA
Se tenho razao no fato de que esta nao é principalmente uma comissao de
técnicos interessados pelo social, mas é fundamentalrnente uma reuniao de militantes da vida, necessitados, isso sim, de sustenta<;:aotécnica para seu trabalho,
entao é perfeitamente pertinente formular, como outra premissa da análise, que
os critérios que aceitamos como pontos de partida para refletir sobre o papel
ante o desenvolvimento da nossa disciplina, a Epidemiologia, sao muito mais
que simples fórmulas tecnocráticas. Ao contrário, constituem urn enfoque vital e
comprometido a respeito da dirnensao humana desse desenvolvimento gerador
de propostas para a preven<;:aoprofunda dos processos que destroem ou amea<;:ama vida humana, assim como de promo<;:aoreal de sustenta<;:oes e de processos protetores sociais, familiares e individuais.
Urna leitura epidemiológica da história contemporanea mostra-nos como
a vida hurnana se constrói 'entre fogo cruzado'. A qualidade da vida e a saúde se
fabricam, em termos globais, em meio a uma luta permanente entre o interesse
privado e a necessidade coletiva ou, para colocar em termos rnais atuais, entre as
urgencias de expansao economica e política dos grandes empresários e as necessidades da gente comum de construir um mundo solidário e protetor.
Ern concordancia com as necessidades desse dois pólos da humanidade
surgiram padroes culturais e ideológicos contrapostos e, porque nao dizer também, escolas de pensamento científico e técnico que procuram explicar o mundo
e imprimir uma dire<;:aoconveniente aos projetos da sociedade.
Em tais circunstancias, nós, os epiderniologistas, tomamos partido. Creio reconhecer, nas posi<;:oesque aqui se escutam, uma vontade de nos isolarmos no submundo tecnocrático e de abrir nossa mente e ferramentas aos movimentos e organiza<;:oessociais para a constru<;:aode sociedades humanas mais humanas e eqüitativas. Queremos oferecer nosso contingente para que o progresso nao continue sendo
defmido de acordo com parametros de produtividade empresarial e competitividade
monopolista nem com um avan<;:otecnológico de encrave, os quais subscreveram o
paradigma dominante, que podernos caracterizar como: 'empresarial, monocultural
e patriarcal'. Um modelo que levou ao extremo as vantagens da voracidade privada
dos grandes, enquanto a necessidade coletiva e os valores humanos foram praticamente deslocados para a c1andestinidade - parafraseando Benedetti (1995).
Vivemos e realizamos um trabalho epidemiológico encurralados em um
mundo fundado na iniqüidade e na agressao, na lei implacável dos poderosos e
observamos, além disso, com calafrios, o avan<;:oavassalador de uma 'narcoburguesia' que domina os espa<;:ospor meio da violencia, enquanto a solidariedade,
o amor, a esperan<;:ade paz, as promessas de justi<;:a, bem-estar e saúde foram
25
EQÜJDADE E SAÚDE
obrigados a refugiar-se como sonhos evanescentes nesses maravilhosos es payOS,
quase subterraneos, da can<;:ao do povo, da atemorizada cotidianidade familiar e
da religiao popular.
Temos que perguntar mais uma vez, ao refletir sobre nossa ocupayao: também nao há refÚgio no trabalho epidemiológico para essas promessas de eqUidade
que se reproduzem na memória coletiva de nossos povos? Devemos conformar-nos
com vínculos indiretos ou puramente proflssionais no que diz respeito as urgéncias
coletivas? Há alguma contradiyao substancial entre a qualidade de um bom desempenho técnico e uma prática crítica e participativa? Será que o cultivo laborioso e
disciplinado da vocayao científica entra em conflito de alguma maneira com a proje<;:ao militante de uma ocupa<;:ao de humaniza<;:ao?
DESAFIOS
DA EPIDEMIOLOGlA
Em um Congresso da importancia deste, nossa aspira<;:ao seria a de que
todos os recursos teóricos e técnicos convergissem
para que a Epidemiologia
se consolidasse nao só como ferramenta de monitorizayao
permanente da deteriora<;:ao humana, mas também como instrumento de consolidayao
de uma
consciéncia sanitária e arma para o planejamento de ayoes coletivas tendentes
a defesa da saÚde e a humanizayao da sociedade.
Acontece que a Epidemiologia, como qualquer OLltra disciplina, encontra
o desafio do avanyo de suas projeyoes 'externas' e de sua construyao 'interna'.
Para constituir-se como disciplina da SaÚde a serviyo da vida, a Epidemiologia
tem que assumir sem titubear um lugar junto ao povo: criativa, como fonte de
apoio aos projetos de defesa e avanyos coletivos; totalmente livre, no que diz
respeito a qualquer dogma; prudente e seletiva ante as políticas que se oferecem
no aCOl'do hegemonico, bem como ante as mercadorias tecnológicas que florescem na atualidade.
As circunstancias atuais determinam quatro projeyoes sociais prioritárias
que a tarefa epidemiológica deveria cumprir, seja dentro ou fora da máquina estatal, segundo o que impoem as demandas estratégicas e os espayos de poder
conquistados pelos movimentos e organizayoes sociais. Isto significa ser 'testemunha por obrigayao' dos processos destrutivos da vida impostos a nossa gente; consolidar-se como ferramenta de monitorizayao crítica permanente da qualidade de vida e dos determinantes da saÚde; afirmar-se como instrumento de
constru<;:ao de poder democrático popular mediante seu apoio as tarefas urgentes de uma co-gestao tripartida descentralizada
e eficiente - representantes dos
26
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sociais, funcionários democráticos do Estado e intelectuais orgánicos da popula9ao - e por meio do seu respaldo a forma9ao de
nova subjetividade popular. Além disso, a Epidemiologia deveria constituir-se
em arma para o planejamento estratégico de projetos inovadores do desenvolvimento humano.
No entanto, será muito difícil levar a frente es se tipo de a~ao se nao se
transformar simultaneamente
a configura<;:ao 'interna' da Epidemiologia,
seus
fundamentos conceituais, modos de interpreta9ao e formas instrumentais. Mais
adiante desenvolveremos este aspecto.
O desatio central do Congresso -"a busca da eqi.iidade" - exige de nós,
afinal, que concretizemos os ámbitos onde se deve lutar pela eqi.iidade. Os objetos de transforma9ao em torno dos quais devemos tecer a unidade dos nossos estor90s poderiam ser:
•
humaniza9ao
trabalhadoras;
do trabalho,
defesa
e promo~ao
da saÚde das popula90es
•
defesa de condi<;:oes estáveis e benéficas de consumo, seguran9a humana integral, a garantia de alimentos e a seguran~a social - direitos humanos que
nao devem ser dependentes da capacidade económica - e também a humaniza~ao e eleva<;:ao da qualidade dos servi¡yos e dos programas de saÚde;
•
desenvolvimento e prote<;:ao ecológica, incluindo o aprofundamento de estudos toxicológicos e de biomarcadores dos efeitos da polui<;:ao em rela<;:ao
com os padroes de reprodu9ao social e a suscetibilidade genofenotípica das
popula¡yoes urbanas e rurais;
•
prote¡yao e promo¡yao de popula((oes sobrecarregadas
- Epidemiologia dos
problemas de genero - OL! das especialmente desprotegidas em nosso sistema social - terceira idade, juventude, infáncia.
Na realidade, temos que criar condi~oes propícias a convergencia dos
'atores' da Epidemiologia ao redor de problemas prioritários, o que, de alguma
maneira, requer que se progrida quanto aos elementos conceituais e técnicos indispensáveis e que se consiga a 'feltiliza~ao cruzada' da experiencia acumulada
por diferentes setores.
A rica diversidade de produ<;:ao e de realiza90es mostrada em foros como o
presente, evidencia o potencial epidemiológico disponível. É necessário, entretanto,
dar ul)idade a esse trabalho, o que somente poderá ser conseguido se estreitarmos,
nacional e internacionalmente, os la~os de coopera9ao e incentivarmos o debate
construtivo, tendo como referencia um projeto de sociedade humano e democrático
e programas concretos de interven9ao.
27
EQÜIDADE
E SAÚDE
É verdade que junto com nossas identidades básicas coexistem, no entanto, diversas correntes no movimento epidemiológico de vanguarda. Essa diversidade nao causa preocupa<;:ao; ao contrário, é uma vantagem. O que deve inquietar-nos é sua incoerencia. Embora se compartilhe o anseio comum de proteger a
saúde e se obtenham avan<;:ostécnicos específicos que poderiam ser complementares, na prática se desenvolvem de forma mutuamente desvinculada, como campos paralelos, e até mesmo conflitantes, como assinalamos anteriormente.
O resultado mais perturbador dessas tensoes é o enfraquecimento global
das novas perspectivas do pensamento, da prática e da investiga<;:aoepidemiológicas, porque construímos obstáculos desnecessários para essa fertiliza<;:aoentrela<;:adaa qual já aludimos.
A RELA<;::AO SUL-NoRTE
NA EPIDEMIOLOGIA
Se, por um lado, nossa gente do Sul luta desesperadamente para sobreviver em mundo 'ultramonopolizado', por outro, as popula<;:oesdo mundo chamado desenvolvido também ostentarn índices de sofrimento humano e de iniqüidade muito sérios em contraste com a opulencia.
A
margem do animo solidário que move grande parte do setor da intelectualidade progressista anglo-saxonica e européia com rela<;:aoa América Latina,
nao se pode negar que existe um clima de desprezo da comunidade científica do
mundo 'desenvolvido' no que se refere a seu s congeneres do Sul.
O problema se agrava na atualidade em um cenário onde recrudesceram
as expressoes xenofóbicas por razoes históricas, fenomeno que nao cabe analisar
aqui. Essa tendencia afeta o pensamento científico e cria condi<;:oes para um
comportamento segregacionista de determinado setor da academia, o qual incrementa obstáculos para a necessária colabora<;:aoNorte-Sul.
Sinal claro deste problema é o ressurgimento de velhas teses científicas
racistas a respeito da iniqüidade. Teses que já nao sao apenas patrimonio de seitas ultranacionalistas. Desdobram-se em recentes obras científicas, como a controvertida The Bell Curve de Herrnstein e Murray, em que a explica<;:aoda desigualdade reduz-se, sob modelos matemáticos formais, a presen<;:ade condi<;:oes
genéticas supostamente estáveis e pouco modificadas pelos processos do contexto. Esse material genético explicaria per se a desigualdade entre urn segmento da
sociedade branca opulenta, inteligente e empreendedora, e esse outro segmento
de grupos de hispanicos e negros, radicados no fundo da sociedade, substancialmente menos inteligentes, drogados e delinqüentes (Herrnstein & Murray,
28
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A EPIDEMlOLOGIA
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NA HUMANIZA<;:t.O
DA VIIiA
1994). Tais professores eminentes de Harvard e do Massachusets lnstitute of
Technology (MIT), fortemente armados do arsenal das provas de correla<;:ao linear e logística, introduzem suas propostas contra a prote<;:aodos grupos etnonacionais hispanicos e proc\amam a necessidade do desaparecimento dos esquálidos programas sociais que ainda assistem essa popula<;:ao.
O que preocupa mais da ampla acolhida que a sociedade oferece a obras
como essa, convertidas em bes! sellers na América do Norte, nao é a solidez de
seus argumentos científicos xenofóbicos e anti-humanos - que podem ser rebatidos ainda dentro do mesmo terreno matemático, sem falar na argumenta<;:ao epidemiológica integral - mas que esse tipo de posi<;:aocientífica encontre meio
cultural propício.
Dessa visao geral e intolerante sobre as diferenyas podemos passar a outras iniqüidades mais sutis que afetam o desenvolvimento científico e, em particular, o da Epidemiologia.
Nossa disciplina tem sua própria lógica e problemas, mas nao deixa de reproduzir algumas condi<;:6esde iniqüidade que operam no pensamento científico
como verdadeiro "obstáculo episternológico", usando um termo bachelardiano
(Bachelard, 1981).
a
a
Refiro-me
desconexao efetiva Norte-Sul ou dificuldade para uma colabora<;:ao científica eqüitativa produzida pelo desprezo sistemático do pensamento epidemiológico latino-americano por parte dos nossos colegas do Norte.
Tomando ernprestada uma expressao cunhada pelo movimento feminino, os
produtores latino-americanos somos quase 'invisíveis' nos espa<;:os de superioridade do Norte e da Europa. Nao me refiro aos casos também nao muito freqüentes de talentos latino-americanos que se descontextualizam para operar mimetizados nos núcleos do chamado primeiro mundo. Aludo ao desconhecimento quase olímpico dos livros, trabalhos e cria<;:6esinstrumentais gerados no próprio seio da América Latina. Refiro-me
ausencia de esfor<;:osério para também aprender das nossas modalidades e experiencias.
a
Podemos encontrar exemplo próximo de tal desconexao e assimetria no
fato recente de um brilhante estudo crítico da norte-americana Nancy Krieger,
animador para os que trabalhamos em uma margem diferente da Epidemiologia,
onde se analisa a falta de fundamento teórico da famosa "rede multicausal"
(Krieger, 1994) e da produ<;:aoepidemiológica do Norte. Artigo penetrante e corajoso que aparece u há pouco tempo, em fins de 1994, quer dizer, duas décadas
depois de trabalhos similares produzidos por pesquisadores do Brasil, Equador e
México, aos quais somente faz men<;:aomarginal.
29
EQ(nDADE E SAÚDE
Nao interessa tanto comparar esta exposi¡yao mais recente com o que
foi publicado em nossos livros e artigos muitos anos antes e que teriam ajudado a Epidemiologia
do Norte a enriquecer-se
conceitual e teoricamente.
O
fato epistemológico
que interessa resgatar é a efetiva existencia de desconexao, para a qual é preciso encontrar soluyao. Para isso é crucial comeyar a fazer nas duas direc;oes, Norte-Sul e Sul-Norte, o tipo de trabalho talentoso que
realizam colegas como Howard Waitzkin, da Universidade
de Serkeley, em
uma procura respeitosa e isenta de depreciayao,
em uma investigayao
séria
das ferramentas científicas e técnicas da SaÚde Coletiva latino-americana.
Dessa maneira, vamos construindo uma rela<,:ao simétrica, desterramos a
dependencia e os confortos do colonialismo intelectual e criamos condic;oes para
uma colaborac;ao em termos de eqü idade. Porque as d iferenyas entre nossos
mundos de produ<,:ao nao sao de talento nem de disciplina de trabalho, porém
obedecem mais a um fato já descoberto pela ciento logia, ou seja, o de que em
contextos diferentes ocorrem mÚltiplos graus de desenvolvimento
dos objetos de
investigac;ao e diversificadas condic;oes históricas que facilitam ou dificultam a
visibilidade dos problemas. Está claro que, além disso, outro fenómeno de diferencia<,:ao muito importante é a disponibilidade financeira para a ciencia, tao desigual entre as institui<,:oes do Norte abastado e as do Sul espoliado, aspecto que
é melhor compreendiclo pela economia política.
Se unirmos nossas for<;:as, poderemos ciar maior profundidade e eficácia a
constru<;:ao de uma Epidemiologia da eqüidade. Necessitamos de uma colabora<;:aocom o Norte, temos que continuar a nos nutrir de seu imenso conhecimento
acumulado e, sobretudo, da sua experiencia tecnológica. Mas também temos
muito a oferecer para encontrar o spider ol/he weh, quanto para compaltilhar a
rica experiencia de modelos participativos de gestao e um instrumental epidemiológico validado.
A globaliza<;:ao económica implica a expansao de uma hegemonia que supoe a elimina<,:ao paulatina dos diferentes 'olharcs' ou modos de ver o mundo na
cultura popular e nas ocupa<;:oes culturais e científicas.
A era da eletrónica, da análise virtual, das auto-estradas da informa<;:ao, dos
recursos multimediadores, por estar submetida aos desígnios monopolistas nao conduz a essa "aldeia planetária" que profetizou McLuhan, conectada, mais rica e diversificada. É, na verdade, ll1ais UIl1 "planeta supermercado", nas palavras de Régis
Debray, onde cada passo adiante na unificac;ao económica implica retrocesso cultural defensivo, uma espiral de polariza<;:ao onde a técnica obriga a padronizar os vetores e conteÚdos da cOll1unicayao. Uma tendencia unifonnizadora que destrói a cli-
30
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A EPfDEMfOI.OCfA N.~ Hr~M!\N1ZAc:Ao DA VIDA
versidade cultural, a possibilidade de que circulem diversas vers6es; um mundo
no qual as express6es culturais dos 'sem poder' sao forc;adas a entrincheirar-se
em posi<;:6es fundamentalistas
ou sao relegadas a guetos de consumo marginal
(Debray, 1995).
Na Epidemiologia pode acontecer algo semelhante. Preocupa que
duc;ao epidemiológica dos países mais fracos e das populac;5es subalternas
esmagadas por essa expansao tecnológica, que se anule a promessa das
bui<;:5es que Olltras culturas podem oferecer el Epidemiologia, bem como
combina<;:5es técnicas que elas proponham.
a prosejam
contrioutras
É decisivo que nao se aniquile a riqueza das contribuic;5es, possível de ser
obtida pela coopera<;:ao das novas modal idades participativas. Devemos estar atentos para que a expansao tecnológica nao mande para o espa<;:oo trabalho destes anos
de aperfei<;:oamento, por exemplo, o do momento latino-americano, que nao subjugue as possibilidades de uma constru<;:ao epidemiológicá democrática, diversificada
e plural, centrada na edifica<;:ao de um mundo humano, livre de subordina<;:5es, mas.
ao mesmo tempo, disposta a lutar criativa e intensamente pela convergencia das
possibilidades e recursos das diferentes correntes.
PROBLEMAS
E POSSIBlLIDADES
DA CONVERGENCIA
Como assinalado anteriormente, o pensamento epidem iológico se desenvolve, sob o ponto de vista metodológico, por tres vias principais: a con'ente
mais ligada ao conhecimento
dos sistemas dinamicos lineares e nao-lineares
(modelo matemático ou model fitting); a corrente mais assemelhada com o conhecimento dos processos microssociais (a Antropologia, as técnicas qualitativas de Análise do Discurso); e a con'ente mais relacionada ao emprego de categorias para o estudo dos processos estruturais e superestruturais
mais amplos
(Economia Política e Socio logia).
É nossa responsabilidade
ponderar as características e potencialidades das
contribui<;:5es e produtos de cada uma destas correntes e garantir espa<;:os para
um debate plural. Debate es se que deverá elucidar em que medida esses conflitos sao fruto de posicionamyntos francamente contraditórios, ou se, ao contrário,
as Tupturas que aparecem como confrontac;5es teóricas e técnicas irreconciliáveis, ao menos nos espa<;:os mais democráticos, sao na verdade conseqi.iencia de
3\
EQÜIDADE
E SAÚDE
um trabalho ainda incompleto de constru<;:aodo objeto epidemiológico. Ainda:
se resultam da incapacidade para dominar e integrar ou triangular as técnicas de
diferentes carnpos e, subjazendo ao anterior, sao o produto da desarticula<;:ao da
prática política que atomiza e bloqueia a discussao de propostas unitárias de
a<;:aocoletiva integradas a um projeto humano e popular da sociedade.
Nao é possível tratar aqui os pormenores dessa discussao metodológica,
aspecto que abordamos com maior profundidade no livro Novos Conceitos e
Técnicas de Investigar;iio (Breilh, 1995), mas cabe aqui tornar claras algumas
idéias principais.
É necessário esclarecer que nao se podem levar em considera<;:ao, em nossos esfor<;:osprogressistas, os posicionamentos fechados que insistem nos enquadramentos filosóficos de uma teoria conservadora. Refiro-me, em especial, a
vertente que poderíamos denominar empírico-analítica e neopositivista que persevera em uma linha de investiga<;:aoobcecadamente indutiva e centrada no reducionismo matemático formal, em uma causalidade estática e nao hierárquica. Tratase de uma escola que nao relaciona o movimento da vida social e dos processos da
saúde com as express6es formais analisáveis por um modelo matemático, mas que
convertem esses modelos no único e predominante recurso do conhecimento, com o
qual se introduz rígido e empírico cartesianismo, que, como questiona o talentoso
epidemiólogo baiano Naomar Almeida Filho em recente comunica<;:aoeletronica,
nos condena a urna "visao demasiado restritiva de uma realidade complexa, como
se somente a nao-linearidade ou a fragmenta<;:aofossem as únicas express6es da
complexidade epidemiológica" (Almeida Filho, 1994).
O CÍrculo de enganos fecha-se nesta corrente quando estabelece uma visao
heurística do saber, em que nao interessa explicar e compreender, mas sim predizer
para atuar com sentido pragmático sobre os fenomenos isolados do modelo. O epistemólogo Oquist explica muito bem as conseqüencias desse pragmatismo ahistórico, amorfo e desligado dos processos organicos da coletividade (Oquist, 1976).
Também nao podemos incorporar como fonte promissora os trabalhos enquadrados em um anti-realismo purificado, cujo eixo é o subjetivismo que recai
em um reducionismo 'psico-culturalista', o qual substitui a objetividade dos processos e introduz uma hermeneutica singularizada, a pautar sua compreensao da
realidade em intui<;:6es e constru<;:6es subjetivas, sem procurar transformar o
mundo, mas reconstruí-lo na mente dos construtores (Breilh, 1995).
Há, em troca, um fiHio importante de colabora<;:ao interdisciplinar que poderia realizar-se entre grupos que operam na linha de trabalho radicada seja na
investiga<;:ao 'quantitativa' de sistemas dinamicos, ou na investiga<;:ao 'qualitati-
32
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A EPIDEMIOLOGIA
NA HUMANlZAc;:AO DA VIDA
va' de processos microssociais, ou no conhecimento de processos estruturais,
sob a condi<;:aode que mantenham, para a triangula9ao, algumas premissas fundamentais ou afinidades nos tres planos da problemática: o ontológico, o epistemológico e o metodológico.
Em rela<;:ao ao ontológico, é preciso que as partes reconhe9am a existencia da vida social e da saúde como realidade objetiva, a irredutibilidade
dos processos sociais - dentre os quais, urna das formas particulares sao os
processos epidemiológicos - as esferas mais simples da realidade (o biológico e o individual) e o caráter multidimensional e co~plexo da realidade. É
neste contexto multifacetado que se desenvolvern, em inter-rela<;:aoessencial e
dialética, os processos do funbito coletivo e individual, assim corno os sociais e biológicos, nao por vínculos causais lineares e medinicos, mas sob a forma de movimentos hierarquizados que obedecem a diferentes determina<;:oes(o automovimento
contraditório, a causa<;:ao,a a<;:aorecíproca de sistemas de retroalimenta<;:ao,a determina<;:aoprobabilista e a determina<;:aocaótica).
Uma linha de contribui<;:oes específicas que se pode integrar para melhor
compreensao da realidade biossocial ou sociológica do nosso objeto, para meIhor compreensao do genofenótipo, abrange desde as contribui90es-chave da
Biologia dialética de Levins & Lewotin (1995), até contribui<;:oes mais pontuais
e norteadoras que foram efetuadas por pesquisadores latino-americanos em aspectos concretos da determina<;:ao histórica do biológico, como sao as reflexoes
do uruguaio Penchaszandeh na Genética (Penchaszandeh, 1994), os estudos dos
cubanos do Instituto do Trabalho sobre fisiologia, estresse e condi<;:ao social,
contribui<;:oes como as da brasileira Elizabeth Tunes (1992) para o restabelecimento da determina<;:ao social do crescimento infantil. Recentemente, inclusive,
apareceu uma publica<;:ao da psicóloga Thomas, da Universid~de Nacional da
Colombia (1994), na qual ela formula urna visao inovadora da participa<;:ao da
ordem sócio-afetiva (semantico-simbólico) na configura<;:aodo fenótipo, assunto
que poderá ter relevo na Psico-Epidemiologia.
i
sciplinar que poradicada seja na
iga<;:ao'qualitati-
A expressao metodológica do que foi dito radica em dois pontos centrais:
a unidade essencial, movimento e caráter contraditório do método em rela9ao a
essas mesmas características do objeto; a diversidade de técnicas de triangula<;:ao
em correspondencia com os domínios particulares do objeto.
Quanto a este último ponto, tem sido importantes os debates concebidos em
torno do tema da complexidade entre os epidemiologistas matemáticos e os integrais. Parte desses materiais foram reunidos pela Iistagem eletronica especializada EPIDEMIO-L,tendo sido particularmente úteis as contribui<;:oesde Almeida Filho
33
EQÜIDADE
E SAÚDE
em seu tratamento a respeito da complexidade, com quem tenho muitas concordiincias neste terreno. Parece-me especialmente interessante a discussao porque
se vao situando melhor os limites e possibilidades do mode/fitting e demonstrando, além disso, sua limita<;:aoao carnpo da confirma<;:ao de cornportamentos
formais e de predi<;:ao.
Como sustentei em trabalhos anteriores, nao creio sornente nos c1ássicos
instrumentos estatísticos ligados aos sistemas dinamicos regulares (como a análise da contingencia, da variancia, de correla<;:ao- como a regressaolinear e logística, como a análise fatorial), mas também nos recursos matemáticos mais
'modernos', corno os modelos de níveis múltiplos ou lineares hierarquizados
(que permitem observar as estruturas de dados aninhadas - nested - ou padroes
grupais em lugar de fatores individuais) e a análise caótica (para examinar o
cornportarnento fragmentado de alguns processos de saúde).
No terreno das contribui<;:oes das técnicas intensivo-'participativas
há
enorme terreno a escavar. Nao sornente para questionar as limita<;:oes dos procedimentos extensivos ou de enquete a Thiollent, mas para recuperar a riqueza das contribui<;:oes da Antropologia e das propostas participativas para a
Epidemiologia. Nessl} direyao, e mais próximo de trabalhos 'clássicos' corno
os de Pecheux (1969), Bertaux (1981) e Ferrarotti (1980), está a vasta contribui<;:aode uma pleiade de cientistas sociais latino-americanos que resgataram
as inadequadarnente denominadas 'técnicas qualitativas'. No carnpo da Saúde
há trabalhos de enorme importancia tanto na ordem explicativa e pedagógica
geral, como os de Cecília Minayo (1992), quanto aplica<;:oes específicas e
muito lúcidas destas técnicas no conhecimento epidemiológico específico,
dentre os quais um exemplo recente está na obra da colornbiana Gabriela
Arango sobre operárias texteis (1991).
As contribui<;:oes instrumentais tem sido muitas. A necessidade de restabelecimento mostra-se também na inova<;:aode instrumentos epidemiológicos
para pesquisa e interven<;:ao.Nao é factível transrnitir um inventário delas e sequer medianamente adequado a este trabalho. Diversos centros efetuaram contribui<;:oes de valor, demonstrando que se compreende serem os instrumentos
'teoria em ato' e também merecerem ser renovados. Sao exemplos: a produyao
de Laurell, Noriega e dos pesquisadores de centros brasileiros como Paulo Sabrosa, da Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ, da Universidade do
Rio, os estudos de Naornar Almeida Filho em Salvador, as contribui<;:oes da Universidade Federal de Belo Horizonte nos sistemas RAP participativos e de geocodifica<;:ao,em colabora<;:aocom o programa de Castilho na OPS, a participa<;:ao
34
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A EPIDEMIOLOGIA
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NA HUMANlZAc;;AO
DA VIDA
das Faculdades de Saúde Pública e Enfermagem da Universidade de Antioquia,
as ferramentas para a planifica<;:ao epidemiológica regional realizadas por Castellanos, da Venezuela, os instrumentos de investiga<;:aorelativos ao trabalho incentivado por Kohen, em Rosario, as contribuis;5es para a planificas;ao da produ<;:aode Granda, Campaña, Betancourt e y épez, no CEAS, e a Escola de Saúde
Pública do Equador. Tais exemplos sao apenas uma pequena mostra da diversidade de centros que se encontram trabalhando na implementa<;:ao de novos recursos técnicos para a prática epiderniológica.
Esta rápida incursao acerca das possíveis linhas que podem ser integradas
na consolida<;:aoda Epidemiologia nao ficaria completa sem mencionar que também os grupos latino-arnericanos fizeram incurs5es na pesquisa participativa e
no planejamento estratégico. Aqui se poderiam res saltar como exemplos as contribui<;:5esindiretas para a Epidemiologia efetuadas por Mario Testa e Mario Rovere, assim como as propostas de Edmundo Granda para a organiza<;:ao dos domínios epidemiológicos ligados a a<;:aoestratégica. Casos de exemplifica<;:ao que
se cornplementam com o de Victor Valla, do Rio de Janeiro, e sua proposta de
monitoriza<;:aoparticipativa.
Evidencia-se, assim, enorme acúmulo de trabalho, experiencia e sisternatiza<;:aoque a América Latina pode oferecer ao mundo e para cujo avan<;:oe crescimento necessita também manter la<;:osde colabora<;:ao com pesquisadores de
outras latitudes.
A CORRENTE LATINO-AMERICANA:
~ de restaniológicos
jelas e searam contrumentos
produ<;:ao
Paulo Sasidade do
~sda Unie de georticipa<;:ao
PROBLEMA DE OBJETIVIDADE OU DE EFICÁCIA SIMBÓLICA
Já se disse que sao os problemas do povo os que outorgam sentido profundamente humano e verdadeira racionalidade científica as categorias e técnicas que ernpregamos, bem como aos nossos debates e propostas. Sao esses problemas, que constituem o referencial para medir quanto se aproximam as disciplinas científicas de sua maior perfei<;:ao.
Quando avaliamos nosso trabalho cotidiano e a capacidade conseguida no
servi<;:ode humaniza<;:ao da vida, devemos reconhecer que ainda falta muito a
percorrer. Entretanto, o maior problema nao reside tanto na falta de objetividade
do nosso trabalho, mas na falta daquilo que Debray (1995) denominou "eficácia
35
EQÜIDADE
E SAÚDE
simbólica" ou do que Bertrand (1989) reivindicou como a necessidade de ser
subjetivamente eficiente para poder ser socialmente eficiente.
Nessa medida, torna-se indispensável fortalecer nossa criatividade, organiza<;:ao e redes de comunica<;:ao com a finalidade de aproximar o discurso
da Saúde Coletiva a quotidianidade e a prática social e política das coletividad es, bem como a prática do pessoal da saúde ern geral e aos espa<;:osdemocráticos do poder.
Diante dos vários e chocantes acontecimentos recentes, acreditei ser necessário enfocar aqui nao tanto os pormenores metodológicos técnicos do nosso
avan<;:o,mas priorizar os desafios da constru<;:aoconjunta. Hoje, a urgencia é de
pensar em voz alta sobre como colaborar, evitando es se acadernicismo light que
nos reduz aqueles que Benedetti denuncia por sua falta de paixao, que "entendem o que está acontecendo, mas se limitam a lamentá-Io", denunciando, dessa
maneira, "o globo democrático em que nos convertemos (...) téndo sido (...) serenos, objetivos, mas com uma objetividade que é inofensiva" (Benedetti,
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