Editorial. @ Dez profissionais, dos mais competentes, foram convidados a participar deste número da Revista@mbienteeducação, do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. A eles foi solicitado que pensassem seus artigos levando em consideração a temática deste número da Revista – Fundamentos da Educação. Assim, Marcos Antônio Lorieri escreveu “Filosofia e educação: um entendimento possível desta relação”; Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes discorreu sobre “A sociologia da educação como campo de conhecimento”; Marcelo Adriano Piantkoski e Sílvia Aparecida de Sousa Fernandes abordaram “A organização escolar no Brasil e a instalação de escolas católicas no início do século XX”; Clóvis Trezzi e Margaréte May Berkenbrock-Rosito enfocaram os “Fundamentos da educação estética na formação de professores”; Marcos Ferreira-Santos falou sobre “Fundamentos antropológicos da arte-educação: por um pharmakon na didaskalia artesã”; Alessandro Silva de Oliveira e Ricardo de Sousa Sette trataram do tema “Avaliação do suporte e assistência para alunos de cursos de pós-graduação lato sensu a distância”; e João Gualberto de Carvalho Menseses abordou os “Fundamentos da administração escolar”. Além dos artigos, Luís Cláudio Dallier Saldanha colaborou com uma resenha, o teólogo Felipe Aquino com um depoimento sobre Educação e Teologia e Denise Campos, Pró-Reitora de Ensino da UNICID, com uma entrevista. Sobre as discussões que a temática da Revista suscita, há que se dizer que um dos bons dicionários de Filosofia, o de Lalande, assinala que Fundamento é “Metáfora extraída da arquitetura: aquilo que repousa sobre certo conjunto de conhecimentos”. Este repousar, no entanto, “pode ser entendido em dois sentidos”, o que possibilita “duas espécies muito diferentes de fundamento: a) aquilo que dá alguma coisa à sua existência ou à sua razão de ser”; e “b) a proposição mais geral e mais simples (ou, mais exatamente, o sistema formado pelas ideias e proposições mais gerais e menos numerosas), de onde se pode deduzir todo um conjunto de conhecimentos ou preceitos”. Nesse sentido, fala-se, por exemplo, em fundamento da indução, fundamento da moral ou fundamento da metafísica. Já o Dicionário de Filosofia de Abbagnano atribui ao termo Fundamento o significado de “A causa no sentido de razão de ser”. E, após analisar a evolução do conceito, chega à conclusão de que o termo expressa “um acondicionamento de não necessidade”. Nesse sentido, “o fundamento é o que apresenta a razão de uma preferência, de uma escolha, da realização de uma alternativa antes de outra”. Chama a atenção também para o significado moderno do termo, isto é, uma condição – “o que torna possível a previsão provável de um evento”. Revista @mbienteeducação, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 03-04, jul./dez. 2010. Editorial 3 Editorial. Revista @mbienteeducação, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 03-04, jul./dez. 2010. 4 Para a Ciência, hoje, Fundamento significa, simplesmente, resposta a um “por quê?”. Por isto, entendemos aqui por “fundamento” a pesquisa, a análise, a avaliação, uma vez que formamos, também, pesquisadores. Nesse sentido, o termo “fundamento” leva-nos ao termo “argumento”. Mais uma vez, segundo a definição de Abbagnano: 1) “qualquer razão, prova, demonstração, indício, motivo, que seja apto a captar o assentimento e a induzir à persuasão ou à convicção”; e 2) “o tema ou o objeto de um discurso qualquer, aquilo em torno de que o discurso versa ou pode versar”. Tais significados têm provocado, nos últimos anos, estudos sobre Retórica, bem como sobre os usos dos argumentos. Perelman, por exemplo, publica, em 1989, seu artigo Rhétorique. Nele, trata da Retórica em sua relação com a linguagem, com a Lógica e com o conhecimento em geral. Trata também do lugar que a Retórica ocupa na História da Filosofia. Reboul também trata da Retórica em sua Introdução à Retórica – “a arte de convencer pelo discurso”. Mas, a Retórica é, também, “o ensino dessa arte” e “a teoria dessa arte”, embora observe que esta é uma definição controversa. Toulmin trabalha com Os Usos do Argumento. Parte do pressuposto de que “o caráter abstrato da lógica tradicional isola a matéria das considerações práticas”, e se põe a investigar por que isto se dá. Não são, contudo, somente aos Fundamentos da Educação que se devem referências. Há, é claro, os Fundamentos das Estratégias e das Práticas Educativas. Estratégias, no sentido das coordenações das ações educativas, e práticas, no sentido da intervenção refletida e organizada. Os sistemas escolares também podem ser trabalhados à luz dos Fundamentos da Educação. Nesse sentido, se poderia analisar um sistema escolar à luz de um olhar crítico sobre a profissão docente – determinar seus valores, por exemplo, e analisar sua importância nos diversos aspectos da prática. Documentos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que o órgão entende por Fundamentos da Educação “o campo de estudo que inclui História, Filosofia, Sociologia e Psicologia da Educação, e outras áreas do saber, que fundamentam a essência da educação e o processo educativo”. Os documentos se referem, também, a Princípios da Educação, considerando-os como: 1) “Fundamentos filosóficos e teóricos que norteiam o pensar, o fazer educação e a definição de seus fins e objetivos”; e 2) “Fundamentos teóricos orientados para a escolha de métodos e procedimentos que visam a atingir determinados objetivos educacionais (Unesco)”. Para evitar controvérsias, convém aqui explicitar o significado do termo Princípio. Tradicionalmente (Filosofia), é considerado “o ponto de partida e o fundamento de um processo qualquer”. Com o tempo, o significado do termo perde o sentido. Poincaré resgata-o no âmbito da Ciência, asseverando que “Princípio não passa de uma lei empírica que se acha cômodo subtrair ao controle da experiência, mediante oportunas convenções: um Princípio, portanto, não é nem verdadeiro nem falso, mas somente cômodo” (Abbagnano). Não há dúvidas de que o exposto sugere reflexão. Muita reflexão. Só assim é que se poderá contribuir para o desenvolvimento da Pedagogia (Ciência) e da Educação.