0 DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES LICENCIATURA EM LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA LINGUA PORTUGUESA III PROFESSORA: ANDRÉIA GALLO JOÃO BOSCO DA SILVA ([email protected]) MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA Com base no livro Estrutura Mórfica da Língua portuguesa, de Normélio Zannoto. FEIRA DE SANTANA – BAHIA 2008 1 Este trabalho pretende facilitar o estudo do livro de Zannoto, sobre a Estrutura Mórfica das palavras da Língua portuguesa, nos aspectos morfológico e sintático, semântico e lexicográfico, dentro da teoria que distribui as formas linguísticas em Livres e Presas (Leonard Bloomfield) e Dependentes (Mattoso Câmara), e nesse contexto, são vocábulos mórficos as formas Livres e Dependentes. I - DELIMITAÇÃO DO VOCÁBULO MÓRFICO 1. Morfologia é o estudo da menor unidade significativa (morfema), a fim de desvendar o segredo da sua funcionalidade, ou seja, as partes que compõem as palavras. 1.1 - Vocábulo mórfico é um termo técnico próprio da morfologia, e diz respeito às formas livres e dependentes. Portanto, palavra e vocábulo mórfico se equivalem. A escrita fica sempre defasada em relação à realidade da língua, que é primeiramente oral. A questão é a delimitação das palavras. A palavra tanto serve para fins morfológico e sintático, como para semântico e lexicográfico. Mais modernamente, podemos definir a palavra como um signo linguístico (de Saussure), unindo um significante a um significado. A língua é um sistema de oposições. 2. Morfema, fonema, lexema e Vogal temática: 2.1 - Morfema: Na morfologia, é a menor unidade significativa que compõe o vocábulo. É indivisível e obrigatoriamente terá significado ou função gramatical. Ex: sol, mar. É o elemento linguístico que exprime as relações entre as idéias, compreendendo os afixos, as desinências e o radical. 2.2 - Fonema: é a menor unidade distintiva do som elementar da linguagem articulada. Não tem significado, só tem significante. 2.3 - Lexemas: São os responsáveis pela significação dos vocábulos não gramaticais, contidas na raiz ou radical primário do vocábulo. Dizem respeito ao léxico ou aos vocábulos de um idioma. 2.4 - Vogal temática: ocorre quando não existe masculino/feminino (gênero). Ex: terra, Letra, Folha, Guerra, cabelo. 3. As Formas: 3.1 - Forma Livre: São autônomas e sozinhas podem construir frases. Uma técnica para descobrir e fazendo uma pergunta. Por exemplo. Você vai viajar? As respostas podem ser: Vou; não; talvez etc., portanto é um vocábulo mórfico. São os substantivos, os numerais, os verbos e os adjetivos, bem como parte dos advérbios e dos pronomes. Será forma Livre Simples se for indivisível, e Livre Composta se for divisível. 1 Flor 1 forma livre indivisível 2 i-moral 1 forma livre(moral) e 1 presa (i que é o prefixo) 3 In-feliz-e-s 1 forma livre e 3 presas (in é o prefixo e feliz é forma livre) 4 Des-control-ad-a- 5 formas presas s 5 Bem-bom 6 Pé-de-molequ-e 2 formas livres 1 forma livre(pé), 2 presas(molequ-e) e 1 dependente (de) 3.2 - Formas dependentes: Acrescentado por Mattoso Câmara, são vocábulos que precisam de outras formas para se expor, mas não de forma ligada ou presa. São os artigos, as preposições e as conjunções. 3.3 - Formas presas: São parte integrante de vocábulos, que na escrita são ligadas a outras formas. Precisa de um radical para se expor. São os afixos; desinências (terminação das palavras flexionadas ou variáveis posposta ao radical ou flexão dos verbos e dos nomes) e os radicais não autônomos. É a parte fixa dos vocábulos. i) O exemplo 1 do livro: “Os pássaros voam no céu azul”: Existem seis vocábulos mórficos. Vocábulo Forma Apresentação Os Dependente = composta por uma dependente e uma presa. (“o-s”) pássaros Livre = composta por três presas. (passar – radical não (“pássar-o-s”) autônomo) voam Livre = composta por três presas. (“vo-a-m”) no Dependente = composta por duas dependentes. (“em-o”) céu Livre = composta por duas presas. (“u” – vogal temática) (“cé-u”) azul Livre Simples. ii) O exemplo 2 do livro: “A moça gostou da música”. Existem cinco vocábulos mórficos: Vocábulo Forma Apresentação A Dependente Simples. moça Livre = composta por duas presas. (“moç-a”) gostou Livre = composta por três presas. (“gost-o-u”) Da Dependente = composta por duas dependentes. (“de-a”) música Livre = composta por duas presas. (“music- radical; “a”-vogal (“músic-a”) temática). 4. Comutação (permutação, troca ou substituição) e oposição: O vocábulo mórfico pode ser constituído por uma única unidade ou várias unidades menores indivisíveis, que são os morfemas. Cada um é chamado de monomorfemas. Fonemas e sílaba são componentes fonológicos. Caminhos dos morfemas do vocábulo mórfico: a) Significação: Só faz sentido se tiver significação. b) Comutação (troca): Mantendo numa coluna a parte permanente e outra com elementos de contrastes. No “princípio da oposição linguística” é a substituição de um vocábulo por outro, resultando um novo. É importante para manter uma parte permanente da palavra, enquanto a outra apresenta elementos de contrastes Radical (lexema) Livr- Sufixos (morfemas derivacionais) -inh(o) -ã(o) -ari(a) -eir(o) Nesses casos o “o” é a vogal temática. Com a mesma base, os sufixos ajudam a transformar em novos significados. Os sufixos não podem ser subdivididos, por isso são morfemas (unidades mínimas significativas). Mantendo os sufixos e comutando (trocando) o radical: (obs: O “(o)” é a vogal temática, como morfema classificatório). Radical Sufixos livr-inh(o) aut-inh(o) amigu-inh(o) fest-ã(o) cabeç-ã(o) livr-ã(o) lat-ari(a); -eir(o) carpint-ari(a); -eir(o) relojo-ari(a); -eir(o) borrach-ari(a); -eir(o) cozinh-eir(o) cop-eir(o) Na comutação deve ter cuidado para não segmentar erradamente os elementos. Ex: carpinteiro => o radical é “carpint” – morfema único e indivisível, e não “carp”. Outros exemplos de comutação com verbos: Exemplos Radical do verbo a) Radical partb) Vogal temática c) Desinência modotemporal d) Desinência númeropessoal Sufixos gastanulaumentreserv-a- -e -a -i -a -a -a -va mand-acoloc-agast-a- -va -va -s beb-e dirig-e -s -s II – O P O S I Ç Ã O : 1. Característica: Se caracteriza pelos seus traços contrastivos. a) Identidade: Para que os elementos possam ser comparados. b) Diferença: Permite que se distingam. Dois elementos que não apresentam diferenças torna-se apenas um. c) Pelo aspecto fonológico: temos / pato / e / bato /, por exemplo, que só apresentam diferenças no primeiro fonema, mudando o sentido da palavra. d) Pelo aspecto morfológico: temos “vender” e “vendar” com a vogal temática diferente, distinguindo as duas conjunções, apesar de ter uma base comum. e) A essa diferença se chama “marca”. 1.2 - Tipos de Oposição: A oposição pode se dar entre um termo marcado e outro não (Oposição Privativa), ou entre todos marcados (Equipolente). 1.2.1 - Oposição Privativa: Ocorre em diversos fatos linguísticos. Por exemplo, entre um termo com marca e outro sem marca, na maioria dos casos no Português, entre singular (morfema zero – ou seja, sem o “s”) e plural. Ex: casa e casas. (a marca “s”). No maior parte dos casos entre masculino e feminino: Ex: “gato” – não tem marca de masculino. (O “o” é vogal temática apenas). No caso de “gata” – tem o morfema de feminino “-a”. 1.2.2 - Oposição Equipolente: Tem a mesma base e elementos contrastivos. Ex; Andamos; andais. Os termos “-mos” – é desinência de primeira pessoa plural; e o “-is” – desinência de segunda pessoa plural. a) Na fonologia ocorre entre os dois ditongos decrescentes /ay/ , /aw/; as duas semi-vogais /y/ e /w/ são as marcas. b) Na semântica poderia opor uma base comum sendo um mesmo idioma e além disso, por exemplo pertencerem ao mesmo reino animal e serem felinos (tigre e leão). A diferença, a marca, é que os animais não são confundidos um com o outro. c) A gradual, que se daria entre três ou mais termos, mas pode ser desconsiderado, caso se admita somente os casos binários. Exemplos de tipos e oposição: Aspectos Palavras Tipos de oposições Menino, menina Privativa = (o “o” de menino é morfema de a Gênero gênero Zero) peru, perua b Gênero Privativa = (morfema masculino de gênero Zero) muro, muros c Número Privativa = (morfema de número) alto, altos d Número Privativa = (morfema de número e gênero) e Pessoa e número escreve, Privativa = (desinência de número – plural) escreves f Pessoa e número escreveis, Equipolente= (base comum e significado escrevem diferente) cortar, vender g Vogal temática Equipolente= (oposição na marca–vogal temática) enviasse, enviará Equipolente=(base comum e significado H Modo e tempo diferente) envia, enviasse I Modo e tempo Privativa = (ausência da marca “sse”) laranja, laranjeira Privativa=(mudou o sufixo e formou nova J Sufixo derivacional palavra) O vocábulo mórfico simples e composto: compõe-se de morfemas. Se for simples, será de um morfema. Se for composto, terá dois ou mais morfemas. III - MORFEMA: 1. Conceito: Na morfologia é a menor unidade mórfica que compõe o vocábulo. É indivisível e obrigatoriamente terá significado ou função gramatical. Ex: sol, mar – porque qualquer parte isolada não terá significado. Pode coincidir mas ser confundido nem com vocábulo (palavra que faz parte de uma língua), sílaba (parte da palavra pronunciada em uma só emissão de voz) ou fonema(qualquer som elementar - vogal ou consoante - da linguagem articulada). 2 - Tipos de Morfemas (quanto ao significado): 2.1 - Lexicais: São (lexemas ou semantemas) os responsáveis pela significação externa, não gramatical, contida na raiz ou radical primário do vocábulo. 2.2 - Gramaticais (morfemas “stricto sensu”): São os responsáveis pelas funções gramaticais do vocábulo, divididos em três grupos: i) Morfemas derivacionais: Servem para formar novas palavras – são os prefixos e os sufixos. ii) Morfemas flexionais: respondem pelas flexões (tempo, modo, número e pessoas nos verbos, e de gênero e número nos nomes) iii) Morfemas classificatórios: são as vogais temáticas: verbal e nominal. Classificação dos Morfemas - de Celso Luft (1970, 90) Nuclear .......................................................................................................................... raiz Derivativos a) De radical: afixos - Prefixo Periféricos - Sufixo b) De tema: Vogal classificatório temática Flexivos ...................................................................................... desinências Exemplos: 1. salinha = SAL-inh-a 2. bebas = BEB-a-s 3. deseducar = dês-EDUC-a-r 4. desengarrafadas = dês-em-GARRAF-ad-a-s 5. complicadíssimas = COMPLIC-ad-issim-a-s Os Morfemas lexicais estão escritos em maiúsculas e os gramaticais em minúsculas. Por outro ângulo, são quatro funções do morfema: Funções (para que servem) Sigla Ocorrências 1. Colocar em feixe a significação Rz: Raiz Semantema básica Rd: radical 2. Derivar novas palavras MD: Morfema Prefixos, sufixos 3. Flexionar as palavras 4. Distribuir as palavras em categorias Exemplos: Vocábulo MD (prefixo) enre----in- Rz (Raiz) troncolocpapel livrfeliz derivacional MF = Morfema flexional VT = Vogal temática MD VT Desinências Nominal verbal e MF 1. entronizados iz-ado-s 2. recolocadas ad---a-s 3. papelucho -ucho --4. livreco -aco --5. infelizes ---e-s Onde: MD = Morfema Derivacional / Rz = Raiz / VT = Vogal Temática / MF = Morfema Flexional 3. Tipos de Morfemas (quanto ao significante): Não leva em consideração o significado. São seis: Aditivo, subtrativo, alternativo, reduplicativo, de posição e zero(0). 3.1 - Aditivo: Morfema acrescido de segmento fônico com a base mórfica já existente (radical, tema). O segmento fônico pode ser adicionado no início, meio ou fim. o No início (no Português): só existe os prefixos de caráter Derivacional: IM + por; DES + leal. o No meio: São os infixos. Não existe de caráter flexional ou derivacional. o No final: é o que mais ocorre no Português, tanto para derivação, quanto para flexão. Trata-se do Morfema sufixal. i) Acréscimo: pode ser feito: o Após o tema: mestre + “s” = mestres. o Após o semantema: guri + “zada” = gurizada. o Acréscimo ao radical: IN + feliz. Guri + ZADA. o Acréscimo ao tema: livro + S; anda + mos. 3.2 - Morfema Subtrativo: elimina um segmento fônico de parte do vocábulo. Ex: “réu” > “ré”; “mau” > “má”. (eliminação da vogal temática “-u”). Passou o masculino ser feminino. Também pode ser “fotografia” por foto; “cinema” por “cine”. Não é presença de segmento fônico ou sua eliminação, e sim uma oposição. O morfema passa a ser uma exclusão (abstração). 3.3 - Morfema Alternativo: Alternância de traços fônicos dentro do próprio semantema. Ex: “avô” e “avó”; “pude” e “pôde”; “faz”, “fez”, “fiz”. Existem dois tipos de alternância vocálica, a morfêmica e submorfêmica. i) Alternância vocálica morfêmica: É a troca de uma vogal por outra. No exemplo de “avô” para “avó”, por exemplo, mudou o morfema (marca) em oposição ao masculino. Ex: “avô” e “avó”. O “ó” é a oposição entre as duas formas. Quanto aos verbos “pude” e “pôde”; “faz”, “fez”, “fiz”; “pus” e “pôs”, são casos especiais de flexão de morfemas segmentais aditivos (acrescidos ao radical ou ao tema). ii) Alternância vocálica submorfêmica: Ocorre também a troca de vogais, além de marcar a presença de outro fato gramatical. Por exemplo na formação de feminino dos adjetivos terminados pelo sufixo “oso”; “osa” = grandioso, grandiosa. Primeiro a indicação de feminino é feita pelo morfema aditivo sufixal. Depois pela alternância de timbre fechado para aberto das vogais. Ocorre ma formação do plural de adjetivos e substantivos, tais como “porto, portos”, “tijolo, tijolos”. Ocorrem também com alguns verbos que alteram a vogal do radical, a DNP – Desinência, Número e Pessoa. Ex: “Firo, feres”; “durmo, dormes”. Morfema alternativo que tem base em traços supra-segmentais (tonicidade): Ocorre pela troca de acento tônico. Ex: fórmula, formula; fábrica, fabrica; médico, medico; sábia, sabia, sabiá; está, esta. 3.4 - Morfema Reduplicativo: repetição de parte do semantema. Na flexão portuguesa, com efeito estilístico ou semântico, existe para indicar, por exemplo, carinho: pai > papai, mãe > mamãe, Zé > Zezé, bá > babá. 3.5 - Morfema de Posição: troca de posição dos semantemas. Ocorre, por exemplo, por troca de classe gramatical: “Estudante brasileiro; brasileiro estudante” 3.6 - Morfema Zero (Ø): ausência significativa de morfema, quanto ao número. Exemplos: Menino; guri; disco, menina; ave; belo; livro. Estão no singular por ausência de um morfema sufixal que indique plural = “s”. i) quanto ao gênero: a) masculino: os vocábulos estão indicado pelo morfema zero(Ø). Ex: “mestre; guri; aluno” b) feminino: os vocábulos são marcados pelo morfema “-a”. Ex: “aluna, mestra, guria”. Vocábulo Termo não Vocábulo Termos marcados com: masculino marcado feminino Morfema Zero Namorado + Ø Namorad(o) + a Morfema de gênero Morfema Zero Autor + Ø Autor + a Morfema de gênero Morfema Zero Francês + Ø Francês + a Morfema de gênero Morfema Zero Peru + Ø Peru + a Morfema de gênero Morfema Zero Espanhol + Ø Espanho + a Morfema de gênero Morfema Zero Chefe + Ø Chef(e) + a Morfema de gênero 4. Na flexão verbal, contrasta em vários casos com o morfema indicativo de Desinência Número-Pessoa, de Desinência Modo-Tempo e da Vogal Temática: DNP andasse + Ø (não DMT anda + Ø (não VT And + Ø + o marcado) marcado) andasse + s (marca “s”) anda + sse (marca And + Ø + e “sse”) andasse + Ø (não anda + rá (marca “rá”) marcado) andasse + mos (marca anda + ria (marca “ria”) “mos”) andasse + is (marca “is”) andasse + m (marca “m”) 4.1 - Outros exemplos de tipos de morfemas: Palavra Derivação Tipos de morfemas andemos 1 ande Aditivo cores 2 cor Aditivo bonita 3 bonito Aditivo 4 microônibus micro Subtrativo (reduziu a palavra) 5 zoológico zôo Subtrativo (reduziu a palavra) 6 pus pôs Alternativo (alternância vocálica morfêmica) 7 pôde pode Alternativo (alternância vocálica morfêmica) 8 bá babá Reduplicativo (duplicou a síbala) 9 gaúcho brasileiro brasileiro De posição(adjet. x substantivo(vice-e versa) gaúcho 10 Anda(quanto à anda (mesmo) Zero (forma não marcada) DNP) IV - RAIZ E RADICAL: 1. Raiz (ou radical primário): é o “elemento irredutível e comum a todas as palavras da mesma família”. Saussure (1972, p. 255) Chega-se a raiz eliminando-se os afixos, as desinências e a vogal temática. 2. Radical: Chega-se ao radical (ou radical final – Rf) eliminando-se as desinências e a vogal temática. Ex: “desestabilizar” = O Rf é desestabiliz-“, tirando a VT “-a” e a Desinência “r”. Os morfemas são, basicamente, raiz ou radical, os afixos (derivacionais e flexionais) e a Vogal Temática. 2.1 - Sob o aspecto Sincrônico, a raiz (Rz) coincide com o radical (Rd). Ex: “Pedro” – PEDR é a raiz ou o radical primário de PEDR-a, PEDR-eiro, PEDR-ada. Outros exemplos de cognatos (palavras que provêm de uma mesma raiz): TERR-inha en-TERR-ar 1 TERR-a (VT) 2 LETR-a LETR-eiro (Suf. derivacional) LETR-ado (VT) 3 FOLH-a FOLH-ar des-FOLH-ado (VT) 4 CABEL-o (VT) CABEL-udo des-CABEL-ado 5 GUERR-a GUERR-ear a-GUERR-ido (VT) Acrescentando-se um afixo (prefixo ou sufixo), o radical será secundário, dois será terciário e assim por diante. Vejamos alguns exemplos: Vocábulo Rd primário Rd secundário Rd terciário (Rz) 1. civilização civil civilizcivilizaçã2. infelicitar felic infelic infelicit3. terrenterrdesenterrdesenterradas 4. ganchenganchdesenganchdesenganchar 5. nacionnacional nacionaliznacionalização b) Sob o aspecto Diacrônico: Raiz seria o elemento original, de onde se deriva os vocábulos da mesma família etimológica. Esse aspecto não está contido neste estuda Sincrônico. 3. Os Afixos: São segmentos fônicos acrescidos antes (prefixo), no meio (infixo) ou depois (sufixo) do radical (primário ou não), derivacionais ou flexionais. São, portanto, morfemas aditivos, representados por formas presas. Os afixos flexionais (que são sufixos no Português) é que são chamados de desinências. Exemplos: o Prefixo: Imoral; contrapor, desonesto, repor, retrovisor. o Infixo: plan-tinha, rua-zinha (morfema é “inha”; alomorfe é “zinha”) o Sufixo: casa > casinha; chuva > chuvarada; quebrar > quebrantar. V - VOGAL TEMÁTICA: 1. Conceito: É o segmento fônico que se acrescenta ao radical (primário ou não) para grupar vocábulos (nomes e verbos) em categorias. 1.1. Agrupa os verbos de vogal temática em três categorias: “-a” – primeira conjugação “-e” – primeira conjugação “-i” – primeira conjugação 1.2 - Os nomes também formam três categorias: “-a” = sala, poeta, porta. “-e” = presente, alegre, norte. “-o” = muro, alto, sério. O “-a” átono final será vogal temática, se não representar flexão de gênero = “artist-a”, telefonem-a”, borrach-a”. Se o “-a” final representar gênero (masculino/feminino) será desinência de gênero feminino (como já vimos, o masculino é forma não marcada, sem desinência de gênero). O radical, somado à vogal temática, forma o tema, que serve como base para acréscimo das desinências. 2. Atemáticos: são os nomes que não possuem vogal temática (tema). São atemáticos os oxítonos terminados por vogal: ô, ó, é, á, ã, i, u. Exemplos: capô, paletó, dendê, jacaré, alvará, irmã, bauru. No singular, os nomes terminados em l,r, e, s não apresentam vogal temática (tema), que reaparece no plural: mar > mares; vez > vezes; mal, males. 3. Mudanças morfonêmicas: A flexão e a derivação sujeitam a vogal temática a essas mudanças por: a) Supressão: mes-a + inha = mesinha; mestr-e + a = mestra. b) Crase: laranj-a + al = laranjal; carinh-o + oso = carinhoso. c) Ditongação: azul + es = azuis; sal + es = sais (a ditongação acontece com a queda da consoante “-l” do radical e a vogal “-e” se transforma na semivogal “-i”). 4. Sobre a Vogal Temática: Vocábulo Radical VT Tema 1. quadro quadr-o quadro 2. lama lam-a lama 3. grande grand-e grande 4. útil útil Ø 5. notáveis notável i notáveis 6. cônsules cônsul e cônsule7. carnê carnê Ø 8. Sinimbu sinimbu Ø 9. guri guri Ø 10. fariseu fariseu fariseu Tema: é a junção da vogal temática com a raiz. Temático ou Atemático Temático Temático Temático Atemático Temático Temático Atemático Atemático Atemático Temático VI - MUDANÇAS MORFOFONÊMICAS 1. Conceito: São as alterações ocorridas no sistema fonêmico do vocábulo, repercutindo no sistema mórfico (palavras). Alterando os fonemas, também é alterado o morfema desse fonema. Muda o sentido da palavra. Num verbo átono, como “passear” tem a vogal temática e tônica “-a”.. O radical é “passe”. Formas rozotônicas: por exemplo na palavra “passeio” é quando o acento tônico vai para o radical, com o acréscimo do fonema “-i” e estabelecendo a ditongação “EI”. Nessa mudança morfofonêmica ocorre uma alteração morfológica de caráter fonológica. Essas mudanças são desde supressão de fonemas, acréscimo, alteração, crase e combinações de radicais (por aglutinação), derivacionais (prefixos ou sufixos) ou flexionais (desinências modo-temporais e números-pessoais nos verbos, e de gênero e número nos nomes). 1.2 - Alguns exemplos de fonêmica) a) lê + o leio b) anda + va + is andaVEIs andEi c) anda +a + i frutIcultor d) fruto + cultor mudanças morfofonêmicas: (ocorrem por acomodação Acréscimo de “-i” ao radical: lei- = EI (ditongação) Alteração da desinência “-va” para “-vê”. Alteração da vogal temática “-a” para “-e” Alteração do tema “fruto” para “fruti”. e) f) g) h) i) j) part + i + i in + mutável mo + e gato + a pé + al guri + inho parti imutável móI Gata peDal guriZinho Crase dos dois “-i”. Supressão da nasal “-n”. Alteração da vogal temática “-e” para “-i”(ditongação) Queda da vogal temática “-o”. Acréscimo de consoante “D” ao radical. Acréscimo de “-Z” antes do sufixo diminutivo. A mudança morfofonêmica gera a alomorfia. 2. Aloformia: Significa “forma diferente” para o mesmo morfema. Ex: Chuva e Pluvial. “chuv-” e “pluv-“ são os mesmos semantemas com duas formas diferentes do mesmo radical. Uma das causas é a mudança morfofonêmica, mas existem outras também, normalmente por origem diacrônica (comparação entre épocas - histórico). As mudanças morfofonêmicas geraram os seguintes aloformes: ALOFORMES MORFEMAS BÁSICOS a) “lei” Em oposição ao radical básico “le-” b) “-ve” Em oposição à DMT do IdPtl “-va” c) “-e” Em oposição à VT “-a” da CI d) “fruti” Em oposição ao tema “fruto” e) “parti” Oposição à mesma pessoa de CI do VT e DNP claras (and + e + i) f) “-i” Em oposição a “in-“ de infeliz g) “mói” Em oposição a “moe(r)” h) “gata” sem VT Em oposição a “gato” (com TV “-o”). i) “ped” Em oposição a palavra “pé“. j) “zinho” Em oposição ao sufixo “inho”. DMT = Desinência modo-temporal; Idptl = Pretérito imperfeito do indicativo; VT = Vogal temática; CI = Primeira conjugação; DNP = Desinência número-pessoal. A mesma significação ou função gramatical pode se apresentar em forma total ou parcialmente diferente. Em relação aos radicais alomórficos, vejamos exemplos: 1 ALM-a ANIM-ar 2 CABELÇ-a De-CAPIT-ar 3 CÃ-o CAN-il 4 CHUMB-o PLUMB-e-o 5 DORM-ir DURM-o 6 FER-ir FIR-o 7 LIVR-e LIBERT-ar 8 MÊS MENS-al 9 MUD-ar MUT-ável 10 NEGR-o NIG-érrimo 3. Regras Morfofonêmicas: Como vimos, a mudança morfofonêmica abrange todas as alterações no plano fônico, com repercussão na estrutura mórfica. Já a Regra morfofonêmica (também conhecidas como Regras fonológicas – não adequada) dá origem e provoca mudanças morfofonêmicas, mas só abrange certas ocorrências Seguindo Mattoso Câmara, existem cinco regras: Regra 1 – CRASE: “a vogal final de um elemento mórfico e a inicial do seguinte, quando iguais, sofrem crase para a estruturação do vocábulo”. Ex: a + aquele = àquele. Outros: a) part + i + ia = partia (nas seis pessoas de IdPt1, CIII); b) part + i + i = parti (na PI IdPt2, CIII) c) i + i + r = ir (assim “ia”, “indo”, “ides”) d) le + e + r = ler (crase da vogal do radical com a VT) e) crê + e + r = crer (crase da vogal do radical com a VT) Regra 2 – SUPRESSÃO: “A vogal final átona de um elemento mórfico é suprimida ao se juntar a outro elemento mórfico de vogal inicial diversa”. A regra dois se diferencia da primeira (crase), em face de que o final do primeiro elemento e a inicial do seguinte são diferentes. Na formação do novo vocábulo, desaparece a primeira vogal. Exemplos: Alto + ura = altura (desaparece o “o” de alto) Plano + alto = planalto (desaparece o “o” de planalto) Le + ia = lia (desaparece o “e” de le) Regra 3 – DITONGAÇÃO: “A vogal final tônica /ê/ ou /é/ ditonga-se para os hiatos /ey/ ou /éy/. Como a vogal final do primeiro elemento é tônica, ao iniciar o seguinte com uma vogal, surgiria um hiato. (ide + a = idea). Nessa regra entretanto, o hiato se desfaz ditongando-se, acrescentando uma semivogal (i) no final do primeiro elemento => (“ide(i) + a” = idéia; clarê + o = clareio) Regra 4 – TIMBRE: Na formas rizotônicas monossilábicas, a vogal temática ou flexional fica tônica, mudando o seu timbre. Ou melhor: a vogal temática ou flexionada muda de timbre ao passar de átona para tônica. Ex: “Ande” é uma forma rizotônica com mais de uma sílaba. Já o “dê” é rizotônica monossilábica, mudando o timbre da VT. Por isso é da regra quatro. Regra 5 – SEMIVOGAL TEMÁTICA: As vogais temáticas /e/ e /i/ com a oposição neutralizada nas formas rizotônicas, passam a semivogal /y/. Atrás = se lê atrais; possue = se lê possui. VII - HOMONÍMIA: 1. Conceito: Termos fonicamente (configuração fônica) iguais, mas com significados (semânticas) diferentes. Ex: Manga – fruta e de camisa; canto – musical e de sala; São – pode ser santo, sadio ou verbo ser, por exemplo. Em princípio nega a oposição linguística ou a transfere do plano morfológico para o sintático. Na gramática tradicional escrita são distintos os homônimos perfeitos (homógrafos e homófonos – “são”, por exemplo), dos homônimos homófonos (com pronúncia igual e grafia diferente (seda – roupa; e ceda – do verbo ceder). Para oralidade não muita importância. 1.2 - Homonímia léxica:, são vocábulos homônimos, mas semanticamente diferentes: Ex: Sela e cela; sessão e cessão; cozer e coser. 1.3 - Homonímia gramatical: é a confrontação de vocábulos ou morfemas com a mesma constituição fônica, mas parecido nos aspectos semânticos e diferentes nas funções gramaticais. Por exemplo: a) os verbos na P1 e P3 (primeira e terceira pessoa – são iguais: 1. Eu queria – ele queria 2. Eu falava – ele falava 3. Que eu mande – que ele mande 4. Se eu quiser – se ele quiser 5. Se eu fosse – se ele fosse b) outras homonímias gramaticais: 1. fal-O (DNP) – livr-O (VT) 2. pula-S (DNP) – livro-S (DN) 3. fal-A (VT) – bel-A (DG) 4. fale-I (DNP) – part-I-r (VT) 5. a (artigo); a (preposição); a (pronome possessivo) 6. o (artigo) o (pronome pessoal); o (pronome demonstrativo) DNP = Desinência Número-pessoal; VT = Vogal Temática; DN = Desinência de número; DG = Desinência de Gênero. VIII – PARÔNIMOS 1. Conceito: são vocábulos parecidos, que apresentam semelhanças na grafia e na pronúncia (mas são de significados diferentes). Alguns exemplos: a) Eminente(ilustre) – iminente (próximo de acontecer) b) Acidente (evento imprevisto e desastroso) – incidente (episódio desagradável) c) Deferir (autorizar) – diferir (discordar ou protelar) d) Emergir (subir, voltar á tona) – imergir (afundar) e) Tráfego (trânsito) – tráfico (contrabando) IX – REDUNDÂNCIA 1. Conceito: Também conhecido como “pleonasmo”, é a expressão do mesmo significado por mais de uma vez. (Entrar pra dentro; sair pra fora; olhar com os olhos etc). Representa a presença de um morfema com arepetição do fato gramatical. Acontece também na pluralização dos substantivos: com o morfema “s” sendo redundante: na frase “Os nossos sonhos infantis”, por exemplo. Já na fala coloquial a redundância é mais eliminada: “os cara!”, “dez real” etc. A redundância empregada de forma correta, pode ajudar na fidelidade da comunicação. X – CUMULAÇÃO 1. Conceito: É quando um único elemento mórfico apresenta mais de uma significação. Ex: mandamos, “-mos” é a DNP – Desinência Número-pessoal. Indica o plural na pessoa no singular. No âmbito dos morfemas gramaticais, ocorre com as DMT - Desinências Modo-Temporais dos verbos: Ex: Mandasse. “-sse”. O modo é subjuntivo e o tempo imperfeito. “A semântica é a prima pobre da linguística”. REFERÊNCIA: ZANNOTO, Normélio. Estrutura mórfica da língua portuguesa. Caxias do Sul: Educs, l986 (p.17–50)