THUANY DE MOURA CORDEIRO FATORES ASSOCIADOS À UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS POR PACIENTES ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DE CARDIOLOGIA DO HOSPITAL REGIONAL DE CEILÂNDIA – DF Monografia apresentada ao curso de graduação de Farmácia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Farmacêutico. Orientadora: Profa. MSc. Eloá Fátima Ferreira de Medeiros. Brasília 2011 Monografia de autoria de Thuany de Moura Cordeiro, intitulada “FATORES ASSOCIADOS À UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS POR PACIENTES ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DE CARDIOLOGIA DO HOSPITAL REGIONAL DE CEILÂNDIA – DF”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Farmacêutico da Universidade Católica de Brasília em 08 de junho de 2011, aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: __________________________________________________ Profa. MSc. Eloá de Fátima Ferreira de Medeiros Orientadora _________________________________________________ Profa. Dra. Dayde Lane Mendonça da Silva Examinadora 1 ___________________________________________________ Prof. Esp. Marcela de Andrade Conti Examinadora 2 Brasília, _______________________ de 2011. Dedico este trabalho, primeiramente, a Deus, pela vida, pela força, pela coragem e pela oportunidade de estar realizando o sonho de me tornar farmacêutica. A minha mãe, Edinalda, pelo exemplo de mulher, pelo amor e apoio incondicional que me faz ter forças para ir à luta e conquistar meus objetivos. Ao meu namorado, Michael, pela compreensão, mas acima de tudo, por me fazer perceber que o amor é a força mais poderosa do universo e o único caminho para superar as diferenças entre duas pessoas. Por fim, dedico a minha orientadora, amiga, companheira e terapeuta, Eloá, pelo exemplo de mulher, mãe, professora, farmacêutica, ser humano, que me inspira todos os dias a ser uma pessoa melhor. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, que me permitiu chegar até aqui, pois tudo o que sou, tudo o que tenho foi Ele quem permitiu. "Mais importante que o lugar que ocupas em mim, é a intensidade de tua presença em tudo que faço." A minha orientadora Profa. MSc. Eloá Fátima Ferreira de Medeiros, pela orientação, pela paciência, pelo carinho, pela motivação, pela confiança, por estar sempre ao meu lado me ajudando a superar os obstáculos, mas principalmente por ser uma das melhores pessoas que eu poderia ter conhecido em minha vida. À Profa. Marcela Andrade Conti, pela imensa ajuda na confecção do projeto, em todo o processo de submissão desta pesquisa ao Comitê de Ética, na coleta dos dados, pelo carinho e por ter abraçado esta pesquisa como se fosse dela também. Sem ela eu estaria perdida. Aos professores do curso de Farmácia, que contribuíram e influenciaram na construção do meu fascínio pela profissão farmacêutica. Aos pacientes atendidos pelo ambulatório de Cardiologia do Hospital Regional de Ceilândia, pela participação e concessão das informações, tornando assim possível a realização desta pesquisa. Ao meu namorado Michael, pela ajuda na análise de dados, pelos importantes conselhos na área da informática, pela paciência e compreensão em virtude de todo estresse gerado durante o processo de confecção deste trabalho; À minha mãe Edinalda, pelos conselhos, incentivo, pelas orações, por me ensinar a ser uma pessoa determinada e me mostrar que com muita garra e dedicação posso alcançar meus objetivos. Por fim, a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, tornaram possível a realização desta pesquisa. “Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio... Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço. Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância. Por que metade de mim é a lembrança do que fui e a outra metade eu não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra metade também.” Oswaldo Montenegro RESUMO Referência: CORDEIRO, Thuany de Moura. Fatores associados à utilização de medicamentos por pacientes atendidos no ambulatório de cardiologia do Hospital Regional de Ceilândia – DF. 2011.58 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Farmácia) – Universidade Católica de Brasília, Taguatinga, 2011. Este estudo teve como objetivo principal avaliar os fatores relacionados à utilização de medicamentos pela população atendida no Ambulatório de Cardiologia do Hospital Regional da Ceilândia. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo transversal, realizado no período de 14 de abril a 14 de maio de 2011. Foram entrevistadas no total de 100 pessoas, sendo que apenas 80 foram incluídas no estudo. Os medicamentos constituem uma poderosa ferramenta utilizada no tratamento de doenças e, portanto a utilização destes tornou-se um processo social que é influenciado por vários fatores, sendo os mais relevantes a adesão a terapêutica e o acesso a medicamentos. Os principais motivos que dificultam o acesso ao tratamento farmacoterapêutico envolvem erros no ciclo da assistência farmacêutica. Os indivíduos acometidos por doenças crônicas podem ter sua qualidade de vida melhorada com terapia medicamentosa contínua e mudanças no estilo de vida, no entanto, percebe-se que existe um dificuldade de adesão ao tratamento por estes indivíduos. 87,5% dos pacientes dependiam do SUS para aquisição dos medicamentos, e o principal fator relacionado a dificuldade deste acesso foi a falta de medicamentos nos centros de saúde. A média de medicamentos utilizados por paciente encontrada foi de 1,9. Observou-se, ainda, que a adesão ao tratamento ocorreu em apenas 20% da população estudada. Neste contexto, Atenção Farmacêutica é uma prática mais adequada que o farmacêutico assume em benefício do Uso Racional de Medicamentos e conseqüentemente promove a melhoria do acesso a medicamentos. Palavras- chave: Utilização de medicamentos, adesão ao tratamento. Medicamentos, Farmacoepidemiologia, acesso a ABSTRACT Reference: CORDEIRO, Thuany de Moura. Factors associated with medication use by patients attending the cardiology clinic of the Hospital Regional Ceilândia - DF. 2011. 58 leaves. Completion of course work (Pharmacy) – Universidade Católica de Brasília, Taguatinga, 2011. This study aimed to evaluate the main factors related to the use of drugs for the population seen at the Clinic of Cardiology, Regional Hospital of Ceilândia. This is a descriptive, crosssectional study, conducted from April 14 to May 14, 2011. We interviewed a total of 100 people, of which only 80 were included in the study. Medications are a powerful tool in the treatment of disease and therefore the use of these has become a social process that is influenced by several factors, the more relevant adherence to therapy and access to medicines. The main reasons that hinder access to the pharmacotherapeutic treatment involve errors in the cycle of pharmaceutical care. Individuals suffering from chronic illnesses may have their quality of life improved with medical therapy and continuous changes in lifestyle, however, realizes that there is a difficulty in treatment compliance by these individuals. 87.5% of patients depended on SUS for procurement of medicines and the main factor related to difficulty of access was the lack of medicines in health care. The mean number of medications used per patient was 1.9. It was noted also that adherence to treatment occurred in only 20% of the population. this context, pharmaceutical care practice is most appropriate for the pharmacist assumes for the benefit of Rational Drug Use and consequently promotes improved access to medicines. Keywords: Drug utilization, Pharmacoepidemiology, access to medications, adherence. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Projeção global de mortes por causas, em todas as idades, para o ano de 2005. ...... 18 Figura 2. As cinco dimensões da adesão. ................................................................................. 23 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Estratégias de marketing adotadas pela indústria farmacêutica segundo o sujeito objeto da mensagem. ................................................................................................................ 15 Tabela 2: Perguntas que compõe o teste de Morisky e classificação dos tipos de comportamento de baixo grau de adesão, indicados por respostas afirmativas ....................... 29 Tabela 3: Características sócio-econômicas dos pacientes incluídos no estudo ...................... 32 Tabela 4: Doenças auto – referidas pelos pacientes incluídos no estudo ................................. 35 Tabela 5: Classes de medicamentos auto- referidos pelos pacientes incluídos no estudo de acordo com a classificação ATC .............................................................................................. 37 Tabela 6: Medicamentos auto- referidos pelos pacientes incluídos no estudo de acordo com o CID - 10 .................................................................................................................................... 38 Tabela 7: Conhecimento sobre a farmacoterapia dos pacientes incluídos no estudo ............... 38 Tabela 8: Número de medicamentos utilizados por pacientes, sendo que, neste caso, foram incluídos apenas aqueles que relataram totalmente ou parcialmente os medicamentos utilizados................................................................................................................................... 39 Tabela 9: distribuição dos pacientes de acordo com as características relacionadas com a responsabilidade pela administração e interferência na rotina diária ....................................... 40 Tabela 10: Distribuição dos pacientes de acordo com as características relacionadas ao acesso a medicamentos ........................................................................................................................ 42 Tabela 11: Grau de adesão ao tratamento medicamentoso dos pacientes incluídos no estudo, de acordo com o teste de Morisky ............................................................................................ 42 LISTA DE ABREVIATURAS ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATC – Anathomical Therapeutic Chemical DCB - Denominação Comum Brasileira CFF – Conselho Federal de Farmácia CID – Classificação Internacional de Doenças CNMM - Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos CS – Centro de Saúde DIP – Doenças Infecciosas e Parasitárias DCNT – Doenças Crônicas Não Transmissíveis FENAFAR – Federação Nacional dos Farmacêuticos HRC – Hospital Regional de Ceilândia IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IECA – Inibidores da Enzima conversora de Angiotensina MS – Ministério da Saúde NUCAD – Núcleo de coleta e apresentação de dados. OMS – Organização Mundial da Saúde OPAS – Organização Pan- Americana de Saúde PNM – Política Nacional de Medicamentos PNAF – política Nacional de Assistência Farmacêutica PRM – Problemas Relacionados a Medicamentos RENAME – Relação Nacional de Medicamentos Essenciais SINITOX - Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas SM – Salário Mínimo SES/DF – Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal SUS – Sistema Único de Saúde TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFARM – Unidade de Farmacovigilância URM – Uso Racional de Medicamentos WHO – World Health Organization SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12 2. REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................... 14 2.1. CONSUMO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL ...................................................... 14 2.2. FATORES QUE INFLUENCIAM A UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS ........... 17 2.2.1. Gênero e idade ...................................................................................................... 17 2.2.3 Doenças Crônicas não transmissíveis (DCNT) ................................................... 18 2.2.4. Perfil socioeconômico ........................................................................................... 19 2.2.5. Acesso a medicamentos ........................................................................................ 19 2.2.6. Adesão à terapêutica ............................................................................................ 22 2.3. PAPEL DO FARMACÊUTICO NA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS ....... 24 3. METODOLOGIA ........................................................................................................... 26 3.1. DELINEAMENTO DA PESQUISA ........................................................................ 26 3.2. INSTRUMENTO DA COLETA DE DADOS ......................................................... 26 3.3. COLETA DOS DADOS ........................................................................................... 26 3.4. OBTENÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE).................................................................................................................................. 26 3.5. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS ....................................................................... 27 3.6. LEVANTAMENTOS DAS DOENÇAS CRÔNICAS AUTO- REFERIDAS ........ 27 3.7. AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS RELACIONADOS COM A UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS .............................................................................................................. 27 3.8. AVALIAÇÃO DA ADESÃO AO TRATAMENTO .................................................... 28 3.9. AVALIAÇÃO DO ACESSO A MEDICAMENTOS ................................................... 29 3.10. SUJEITOS DA PESQUISA ..................................................................................... 30 3.10.1. Critérios de Inclusão ...................................................................................... 30 3.10.2. 3.11. Critérios de Exclusão ..................................................................................... 30 ANÁLISE DOS DADOS ......................................................................................... 30 3.12. FLUXOGRAMA ...................................................................................................... 31 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 32 5. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 44 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 45 7. APÊNDICE ...................................................................................................................... 54 8. ANEXO............................................................................................................................. 58 12 1. INTRODUÇÃO Com o avanço das ciências médicas, que têm como objetivo a busca pela cura, controle ou prevenção de doenças, o medicamento se transformou em uma poderosa ferramenta com estas finalidades. Portanto a utilização de medicamentos tornou-se um processo social que se estabelece por numerosos motivos, dentre eles, senão o mais importante, o desejo que a sociedade possui em cuidar da saúde (ARRAIS, 2004; DAL PIZZOL et al., 2006; LEITE et al., 2008). Em conjunto com este processo social, o crescente número de produtos farmacêuticos no mercado mundial é um dos principais fatores que predispôs ao crescimento do consumo de medicamentos, gerando um aumento nas despesas relativas a este item (OMS, 2003; BERTOLDI et al., 2004; ). Sendo assim, o aspecto econômico do uso de medicamentos torna-se relevante, pois eles são responsáveis pela movimentação de altas cifras anualmente. Em 2009, o mercado brasileiro movimentou cerca de R$ 30,2 bilhões, colocando o Brasil entre os dez países de maior faturamento no varejo (FENAFAR, 2010). Entretanto, caracterizando um paradoxo com estes dados, a Organização Mundial de Saúde (2003) revelou que apenas 50% da população brasileira têm acesso aos medicamentos, não mostrando maior prevalência entre as faixas etárias, e atingindo a quinta colocação no mercado consumidor mundial (OMS, 2003; FANHANI et al., 2006). Os principais motivos pelos quais o acesso a medicamentos, principalmente os ditos essenciais, é insuficiente envolve erros no ciclo da assistência farmacêutica, ou seja, deve-se a má gestão nos processos de aquisição até a dispensação (LOYOLA FILHO, 2006; COSTA et al., 2007; SILVA, 2010). Outro aspecto importante relacionado a utilização de medicamentos é a adesão a terapêutica. Os indivíduos acometidos por doenças crônicas podem ter sua qualidade de vida melhorada com terapia medicamentosa contínua e de mudanças no estilo de vida, no entanto, percebe-se que existe um dificuldade de adesão ao tratamento. Segundo a OMS (2003), “a adesão ao tratamento de longo prazo em países desenvolvidos é em torno de 50%. Este índices são ainda menores nos países em desenvolvimento”. O principal papel do farmacêutico na promoção do Uso Racional de Medicamentos, incluindo a melhoria do acesso a medicamentos e adesão terapêutica, é a estruturação de um 13 Programa de Assistência Farmacêutica efetivo, sendo que a Atenção Farmacêutica esteja envolvida neste processo (DIAS & ROMANO-LIEBER, 2006). Neste sentido, o objetivo geral deste trabalho é avaliar os fatores relacionados com a utilização de medicamentos pela população atendida no Ambulatório de Cardiologia do Hospital Regional de Ceilândia (HRC). E os objetivos específicos são: Caracterizar a população em estudo segundo variáveis demográficas e socioeconômicas; identificar a prevalência das doenças auto-referidas e dos grupos de medicamentos utilizados; avaliar as facilidades e/ou dificuldades de acesso aos medicamentos de uso contínuo e o apresentar o perfil de adesão à farmacoterapia. 14 2. REVISÃO DA LITERATURA Os medicamentos vêm se tornando a ferramenta mais utilizada no prolongamento da vida, no retardo do surgimento de complicações associadas às doenças e até para promover a cura, facilitando o convívio entre o indivíduo e sua enfermidade. Desta forma, estes produtos alcançaram um papel crucial para o tratamento das doenças, constituindo a primeira opção para minimizar os danos ocasionados pelas diversas enfermidades que acometem os indivíduos (LOYOLA FILHO, 2006; LEITE et al., 2008). Neste sentido, a disponibilidade de medicamentos tornou-se uma questão de saúde pública, sendo estabelecida formalmente na Lei Orgânica da Saúde (1990), determinando que cabe ao Sistema Único de Saúde (SUS) a execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica (BRASIL, 1990; GUERRA JR et al, 2004). No entanto, além de garantir o acesso universal e gratuito dos medicamentos é preciso melhorar a qualidade dos tratamentos. Sua efetividade demanda uma diversidade de ações que garantam, além do amplo acesso, a melhor adesão ao tratamento. Sendo assim, a adesão constitui mais uma dimensão do cuidado integral e da construção da igualdade no âmbito do SUS (GUERRA JR et al, 2004; GUSMÃO & MION JR, 2006). Apesar do direito já estabelecido, ainda existem falhas que geram dificuldades para se garantir o acesso efetivo e igualitário e o uso racional de medicamentos. Neste contexto, estudos sobre a utilização, consumo e acesso de medicamentos, no Brasil, vêm se tornando cada vez mais expressivos e sempre com a finalidade de gerar informações úteis para tomadas de decisões e criação de estratégias de saúde. Assim, os estudos farmacoepidemiológicos têm sido os mais utilizados com esta finalidade (LEITE et al., 2008). 2.1. CONSUMO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL No Brasil, os primeiros estudos farmacoepidemiológicos surgiram apenas no final da década de 70 e início da década de 80. Estes estudos revelaram que o padrão de consumo de medicamentos da população brasileira era caracterizado por níveis elevados de utilização de medicamentos sintomáticos e pela automedicação, e que o marketing foi o fator que mais influenciou este cenário (ROZENFELD, 1989; CASTRO, 1999; MELO et al., 2006). Nas décadas seguintes este padrão não se modificou, no entanto o aumento do consumo de muitos produtos que não possuíam eficácia e segurança comprovada agravou a situação brasileira (ARRAIS et al., 1997; VILARINO et al., 1998). 15 Desde então, novos estudos farmacoepidemiológicos são realizados no Brasil, com o objetivo de avaliar e quantificar os fatores que estão associados ao aumento do consumo de medicamentos pela população brasileira (FONSECA et al., 2002, BERTOLDI et al., 2004; COELHO FILHO et al., 2004; SILVA & GIUGLIANI, 2004; ARRAIS et al., 2005; LOYOLA FILHO et al., 2006; FLORES & BENVEGNÚ, 2008; LEITE et al., 2008; SILVA et al.,2008). Estes estudos demonstram que a indústria farmacêutica continua exercendo um papel fundamental no consumo de medicamentos, uma vez que se utiliza de ferramentas do marketing com o objetivo de induzir a prescrição e consumo de medicamentos. Neste intuito, investimentos cada vez maiores são realizados para propagar o uso de medicamentos, mostrando apenas as supostas vantagens oferecidas e omitindo os potencias riscos que podem trazer a saúde do consumidor, transformando o medicamento em mercadoria, e assim submetendo o “produto saúde”, que possui características peculiares e particulares, às regras comerciais, sem medir as conseqüências. (ARRAIS et al., 2005; LOYOLA FILHO, 2006, BRASIL, 2007). Outra estratégia utilizada pela indústria farmacêutica é induzir pessoas saudáveis a se considerar, de alguma forma, doentes. A tática consiste em transformar situações estressantes do cotidiano em problemas, e assim maximizar o número de doenças, para certamente acompanhar um grande número de tratamentos. Assim, as necessidades e desejos insaciáveis criados pela mídia, marketing e propagandas farmacêuticas são determinantes para o consumo excessivo e irracional de medicamentos (HEINECK et al., 2004; VOSGERAU, 2007; AQUILINO et al., 2010). Neste contexto, a propaganda de medicamentos tem a função fundamental de persuadir e incentivar o consumo do produto em todos os níveis, ou seja, desde o prescritor, passando pelo dispensador, até o usuário (ANVISA, 2007). A tabela 1 mostra as estratégias mais utilizadas neste processo. Tabela 1: Estratégias de marketing adotadas pela indústria farmacêutica segundo o sujeito objeto da mensagem. Prescritores Apoio a associações profissionais ou revistas médicas; Distribuição de amostras grátis ou brindes Recepções/coquetéis e eventos científicos; Patrocínio de viagens; Fonte: ARRAIS, 2004. Dispensadores Bonificação Sorteios/brindes. Comissão de Vendas Usuários Distribuição material Vale-desconto; Propaganda (mídia) Apoio associação consumidores 16 Apesar da criação da Política Nacional de Medicamentos (PNM), o acesso aos medicamentos ainda é um dos problemas enfrentado pelo SUS. E uns dos fatores contribuintes para este quadro é ausência do farmacêutico em todas as etapas da assistência farmacêutica. Este processo acarreta em uma distribuição de medicamentos de forma desigual, favorecendo a aquisição destes produtos através de farmácias e drogarias, sendo estas responsáveis por 76,5% da comercialização de medicamentos no âmbito nacional (ARRAIS, 2004). Dados divulgados pelo Conselho Federal de Farmácia, em 2009, mostram que o Brasil possuía cerca de 79.010 farmácias e drogarias, o que corresponde a uma farmácia para cada 2.329 habitantes, considerando a população do Brasil em torno de 184 milhões de habitantes. Este resultado revela uma situação alarmante, pois a OMS preconiza a existência de uma farmácia para cada 8 a 10 mil habitantes, ou seja, no Brasil este índice extrapola em quatro a cinco vezes o ideal, com tendência a aumentar o número de farmácias e drogarias (IBGE, 2007; VOSGERAU, 2007). Outro fator que contribui para a preocupação deste excesso é o fato de apenas 4% destes estabelecimentos terem um profissional farmacêutico como proprietário, ou seja, a maioria está sob a propriedade de pessoas que não possuem conhecimentos técnicos que visem o compromisso com a saúde dos clientes, favorecendo assim o consumo indiscriminado e desenfreado de medicamentos (ARRAIS, 2004; VOSGERAU, 2007). Portanto, é de extrema importância o desenvolvimento de um Programa de Assistência Farmacêutica efetivo para disponibilizar o medicamento gratuitamente, e para isso seria necessário a presença do farmacêutico desde a solicitação do medicamento até a dispensação (DIAS & ROMANO-LIEBER, 2006). No Brasil, o consumo indiscriminado de medicamentos não é restrito aos medicamentos de venda livre, pois existe uma facilidade na compra de medicamentos que deveriam ser dispensados mediante a apresentação de receita médica ou com a sua retenção, incrementando as vendas e proporcionando o aumento no consumo de medicamentos (LEAL et al., 1998). Por fim, o poder da decisão do usuário é determinante no consumo de medicamentos, sendo que, a escolha deste dependerá da circunstância na qual ele está envolvido, podendo gerar um processo de automedicação ou a não adesão ao tratamento. A automedicação se dá pela busca da obtenção da cura de alguma doença que acomete este indivíduo. No entanto, a não adesão ao tratamento se dá pelos efeitos indesejáveis que os medicamentos podem provocar neste usuário ou pelo custo que são gerados (ARRAIS, 2004). 17 Deste modo a influência dos usuários na utilização de medicamentos é direta, definindo um aumento (automedicação ou aceitação da terapia medicamentosa) ou redução (não adesão ao tratamento ou dificuldade no acesso ao medicamento) no consumo de medicamentos (ARRAIS, 2004). 2.2. FATORES QUE INFLUENCIAM A UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS O consumo de medicamentos tem aumentado no contexto mundial por diversos motivos, sendo condicionado tanto por fatores farmacológicos como também por aspectos sociais, comportamentais e econômicos (VOSGERAU et. al., 2011; ROZENFELD, 2003). Sendo assim, dá se a importância de se estudar os fatores relacionados utilização de medicamentos. A dificuldade de acesso aos serviços de saúde e a facilidade em adquirir medicamentos sem a aprovação ou avaliação do prescritor ou outro profissional de saúde habilitado são alguns dos motivos que estimulam este consumo exagerado, além da crença da sociedade em relação ao poder dos medicamentos em conjunto com os avanços na pesquisa de novos fármacos e sua promoção comercial (SILVA, 2009; MELO et. al., 2006; BERTOLDI et al., 2004; ). 2.2.1. Gênero e idade Estudos mostram que existem diferenças no padrão de consumo de medicamentos entre os sexos e a idade (BERTOLDI et al.,2004; COELHO FILHO et al., 2004; FANHANI et al., 2007; FLORES & BENVEGNÚ, 2008; LEITE et al., 2008) . Quanto ao sexo, as mulheres apresentam um padrão de consumo mais elevado em comparação com os homens (BERTOLDI et al.,2004; LEITE et al., 2008). Em relação à idade, os idosos apresentam maior consumo de medicamento e maior freqüência de polimedicação, acompanhado pelo aumento da prevalência de doenças crônicas e outras co-morbidades. No Brasil, a expectativa de vida aumentou e, conseqüentemente, o número de idosos, o que significa dizer que o consumo de medicamentos tende a aumentar (COELHO FILHO et al., 2004; FANHANI et al., 2007; FLORES & BENVEGNÚ, 2008; LEITE et al., 2008; MEDEIROS et al., 2009). 18 2.2.3 Doenças Crônicas não transmissíveis (DCNT) Doenças crônicas não- transmissíveis (DCNT), segundo a OMS (2005) é o termo utilizado para definir as doenças que possuem longa duração, e por conseqüência exigem uma abordagem de longo prazo e sistemática ao tratamento. O termo “não- transmissível” é utilizado para diferenciá-las das doenças infecciosas e parasitárias (WHO, 2005). Neste sentido, as doenças classificadas como DCNT são: doenças de coração, acidente vascular cerebral, câncer, doenças respiratórias crônicas e diabetes, deterioração visual e cegueira, deterioração auditiva e surdez, doenças orais e desordens genéticas (OPAS, 2005). A importância do estudo das DCNT se dá pela elevada prevalência na população mundial e as altas taxas de mortalidade geradas. Segundo a OMS (2005) estas doenças constituem uma das principais causas de morte no mundo, ultrapassando as taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (DIP) na década de 80, sendo que as doenças cardiovasculares lideram o ranking (figura 1) (OPAS, 2005; WHO, 2005). Figura 1. Projeção global de mortes por causas, em todas as idades, para o ano de 2005. Fonte: OPAS, 2005 A explicação para o aumento destas doenças está veiculada a queda da mortalidade e da fecundidade, acarretando em um aumentou do número de idosos, particularmente, o grupo com mais 80 anos (BRASIL, 2005). Em conseqüência desta alta prevalência das DCNT, observa-se um aumento no consumo de medicamentos, pois estes constituem a primeira linha para o tratamento destas (MCLEAN & LÊ COUTEUR, 2004; MEDEIROS et al, 2009). 19 2.2.4. Perfil socioeconômico O Brasil é considerado uns dos países que mais consome medicamentos, entretanto, dados revelam que este consumo se distribui de forma desigual na população, mostrando que cerca de 50 milhões de brasileiros não conseguem ter acesso aos medicamentos essenciais (FANHANI et al., 2006; COSTA, 2007). Dados do Censo/2000 apontam que aproximadamente 60% dos brasileiros têm renda de até dois salários mínimos, significando que, mesmo com a grande oferta de medicamentos com preços baixos, ainda tem uma grande parte da população que não tem renda o suficiente para comprar os produtos necessários, dependendo exclusivamente do Sistema Único de Saúde – SUS (GOMES, 2007). Costa e colaboradores (2007) demonstraram que a classe com renda acima de dez salários mínimos foi responsável pelo consumo de aproximadamente 48% do mercado total de medicamentos e representa 15% da população; a classe com renda em torno de quatro a dez salários mínimos consome 36% do mercado e é formada por 34% da população; e a classe com renda de zero a quatro salários mínimos, consome apenas 16% do mercado e é constituída por 51% da população. Em contra ponto a esta parcela da população que possui dificuldades de acesso aos medicamentos, existe uma pequena parte da população, caracterizada por uma maior renda, que apresenta um consumo excessivo e inadequado de medicamentos. Estas características observadas mostram como o perfil socioeconômico interfere no grau de consumo de medicamentos, e como são determinantes para a facilidade do acesso aos mesmos (VOSGERAU, 2007; BERTOLDI et al., 2004). 2.2.5. Acesso a medicamentos A idéia de que promover o acesso a medicamentos constitui um cuidado essencial a saúde da população, ou seja, um ponto importante relacionado à atenção básica surge em 1978 na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários da Saúde realizada em AlmaAta (BARCELOS, 2005). O documento gerado nesta Conferência, a Declaração de Alma-Ata, reafirmou que a saúde é um direto humano fundamental, mostrando assim a necessidade de traçar novas estratégias para promover os cuidados de saúde. No entanto, apenas a existência dos serviços de saúde não define se estes são realmente utilizados (WHO & UNICEF, 1978). Neste sentido, surge o conceito de acessibilidade, pois os serviços de saúde além de estarem disponíveis devem ser acessíveis. Barcelos (2005) define acessibilidade como 20 “manutenção dos serviços de atenção à saúde que para isso, depende efetivamente de componentes geográficos, culturais, funcionais e econômicos”. Ampliando, então, este conceito de acessibilidade considerando os componentes acima citados, como base na Declaração de Alma- Ata, tem-se: A acessibilidade geográfica como um tipo de variável relacionada com a localização dos serviços de saúde: distância, tempo necessário para atingir o serviço e os meios de transporte disponíveis para a população, dentre outros fatores. A acessibilidade cultural como uma variável que indica a adequação das normas técnicas do serviço aos hábitos e costumes da população usuária. A acessibilidade funcional como uma variável relacionada à disponibilidade contínua do tipo certo de cuidado, através da oferta de serviços oportunos e compatíveis com as necessidades da população. A acessibilidade econômica como uma variável relacionada ao custo dos serviços, estabelecendo que quaisquer que sejam as formas de pagamento adotadas, o custo financeiro dos serviços deve estar ao alcance dos usuários e do sistema adotado no país (Barcelos, 2005, p. 31-32). Segundo Guerra Jr (2004), para que o acesso a medicamentos seja adequado e eficaz a acessibilidade geográfica, disponibilidade e acessibilidade econômica devem ser asseguradas. Ou seja, o acesso aos medicamentos deve ser realizado dentro de uma distância aceitável (geograficamente acessível), deve estar disponível nos serviços de saúde no momento em que são requeridos (disponibilidade contínua) e deverá ser economicamente acessível (capacidade de pagamento). No Brasil, a noção de saúde como direito humano fundamental surge na década de 80, em um cenário político caótico que acarretou em uma discussão acerca da necessidade de reestruturação e ampliação dos serviços de saúde. Como resultado tem-se a elaboração da Constituição Federal, em 1988, que estabeleceu a criação do SUS a partir da Lei 8.080/1990, e reconheceu a saúde como um direito de todo cidadão brasileiro (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001): A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (Constituição Federal de 1988, Seção II, Artigo 196, p. 91). A partir da Constituição de 1988 que determinava a criação de políticas sociais e econômicas para garantir o acesso à saúde, no âmbito da Assistência Farmacêutica foi criada a Política Nacional de Medicamentos (PNM), aprovada pela portaria nº 3.916/98, que tem como objetivo a promoção do acesso e o uso racional de medicamentos garantindo a segurança, eficácia e a qualidade dos medicamentos (BRASIL, 2001). No entanto, as discussões sobre as ações de saúde em território brasileiro não param por ai. E, em 2004, tem-se a aprovação da Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF), que define Assistência Farmacêutica (AF) como: 21 Conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população (Resolução 338, de 06 de maio de 2004, p.1). Esta política concretiza o dever de garantir o acesso a medicamentos pelo SUS, e enfatiza a importância do profissional farmacêutico neste processo, ao incluir a Assistência Farmacêutica como parte integrante da Política Nacional de Saúde (BRASIL, 2004). Entretanto, apesar das estratégias e ações de saúde criadas em nível mundial, estima-se que 1/3 da população não tem acesso regular a medicamentos essenciais, sendo este um determinante importante para a manutenção adequada do tratamento farmacoterapêutico. Ter acesso ao medicamento é adquirir todos os medicamentos necessários ao seu tratamento. Porém a disponibilidade de medicamentos na rede pública é limitada, interferindo diretamente na realização adequada dos tratamentos propostos (BRASIL, 1990; HUNT & KHOSLA, 2008; OMS, 2004; PANIZ et al., 2008; PUPIN & CARDOSO, 2008; TEIXEIRA & LEFÉVRE, 2001; VIANA et al., 2003). O acesso a medicamentos de uso contínuo merecem maior atenção, visto que são de muita importância no tratamento de doenças crônicas, necessitando da disponibilidade contínua do medicamento, pois não constituem tratamentos pontuais. Neste sentido, a falta de acesso à terapêutica farmacológica pode acarretar no agravamento da doença aumentando os índices de internação, e assim, elevando os gastos com a atenção secundária e terciária. Considerando, ainda, que a maioria da população atendida no serviço público é caracterizada por baixa renda, a obtenção gratuita é, na maioria das vezes, a única alternativa de acesso ao tratamento prescrito (PANIZ et al., 2008). Além da disponibilidade aos medicamentos, o acesso ao profissional de saúde também é questão fundamental. Este espaço de escuta permite o esclarecimento de dúvidas sobre a doença e, principalmente, sobre outras medidas necessárias à melhoria do seu estado de saúde (CAMARGO-BORGES & JABUR, 2008). Partindo-se deste pressuposto, o acesso a medicamentos torna-se um indicador da qualidade do sistema de saúde. Arrais e colaboradores (2005) apontam, ainda, que a falta de acesso é uma causa freqüente de retorno de pacientes aos serviços de saúde. 22 2.2.6. Adesão à terapêutica O termo adesão ao tratamento, erroneamente, está veiculado a adoção de uma conduta que envolve apenas o seguimento correto da prescrição de medicamentos, isto porque, quando se pensa em direito à saúde, imediatamente esta idéia é remetida a tratamentos, medicamentos e hospitais. No entanto, este termo é bem mais amplo, pois se refere a toda atitude de uma pessoa cujo objetivo é melhorar o seu estado de saúde, sendo assim adesão a farmacoterapia é apenas um dos aspectos envolvidos (OMS, 2003; GUSMÃO & MION JR; 2006; BRANCO, 2007). Outro erro bastante comum é a utilização do termo aderência como sinônimo de adesão, porém este significa o ato de aderir. Em contrapartida, o termo adesão remete a existência da colaboração direta entre os profissionais de saúde e o paciente (NARCISO & PAULINO, 2001). A adesão a farmacoterapia pode ser compreendida como a utilização dos medicamentos prescritos, seguindo as orientações realizadas pelo prescritor, de forma que fatores importantes, como: o horário adequado da administração, a dose e tempo do tratamento sejam seguidos pelo paciente de forma correta. Representa um comportamento que pode ser compreendido como a habilidade do paciente para desempenhar um papel ativo frente à situação terapêutica (ERDINE & ARSLAN, 2010; LEITE & VASCONCELLOS, 2003). Outros pontos envolvidos na adesão ao tratamento que podem ser citados são: o seguimento da dieta ou as recomendações de um médico ou outro profissional de saúde, as mudanças no estilo de vida, aspectos relacionados ao sistema de saúde, fatores socioeconômicos, ao paciente e à própria doença (OMS, 2003; GUSMÃO & MION JR; 2006; BRANCO, 2007) Neste sentido, a OMS (2003) entende que adesão é um fenômeno determinado pela a associação de cinco fatores (Figura 1), denominados “dimensões”. Estas dimensões compreendem os fatores socioeconômicos (idade, sexo, etnia, escolaridade), fatores relacionados ao paciente (recursos, conhecimentos, atitudes, crenças, percepções e expectativas), à doença (severidade dos sintomas e progressão da doença), ao tratamento (complexidade do regime medicamentoso, duração do tratamento, falhas de tratamentos anteriores, frequentes mudanças no tratamento e reações adversas), o sistema e equipe de saúde (falhas na distribuição de medicamentos, a falta de conhecimento e treinamento dos profissionais de saúde sobre o tratamento e acompanhamento de doenças crônicas, 23 prestadores de cuidados de saúde sobrecarregados, consultas de curta duração, poucos programas voltados para educação em saúde, falta de conhecimento sobre a adesão e intervenções inefetivas para melhorá-la). Estes fatores mostram que o paciente não é o único responsável pela adequada adesão ao tratamento, ele constitui apenas um determinante (GUSMÃO & MION JR; 2006). Figura 2. As cinco dimensões da adesão. Fonte: GUSMÃO & MION JR (2006) com adaptação OMS (2003) A adesão é um dos principais determinantes da eficácia do tratamento, pois com a falha neste processo, os ótimos benefícios clínicos da terapêutica são atenuados. A eficácia das ações destinadas a promover estilos de vida saudáveis e das intervenções farmacológicas melhoram quando o paciente adere adequadamente à sua terapêutica. Esta adesão afeta também positivamente a prevenção secundária de doenças (CLARK, 2001; SARQUIS et. al, 1998; WHO, 2002). Quando o autocuidado e os programas de adesão são combinados com um tratamento adequado e às práticas educativas de doenças específicas, significativas melhoras nos comportamentos de promoção da saúde têm sido observadas. Além disso, resultam também em uma redução no número de pacientes que são hospitalizados e a permanência destes no hospital (WHO, 2003). 24 Segundo a OMS (2003), apenas 50% dos pacientes acometidos por doenças crônicas seguem corretamente o tratamento proposto. Estudos realizados no Brasil, mostram que cerca de 40% a 60% dos pacientes não fazem uso dos medicamentos prescritos. Este índice aumenta quando a falta de adesão relaciona-se a itens como estilo de vida, como mudanças da dieta, sedentarismo, tabagismo, etilismo, entre outros fatores (ARAÚLO & GARCIAL, 2006; BARBOSA & LIMA, 2006; CINTRA et al., 2010). 2.3.PAPEL DO FARMACÊUTICO NA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS Entre os problemas que costumam ocorrer no uso de medicamentos em idosos, os principais são: escolha inadequada do medicamento, falha ao receber o medicamento, uso inadequado (esquecimento), dose subterapêutica, superdosagem, reações adversas, interações medicamentosas e automedicação (PERETTA & CICCIA, 2000). Os distúrbios de saúde advindos da terapia medicamentosa ocorrem devido aos Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRMs), acometendo grande parte da população que utiliza medicamentos como instrumento terapêutico, sendo que as principais causas estão relacionadas com a real necessidade do uso, a segurança dos medicamentos utilizados, o resultado terapêutico alcançado e a adesão à terapêutica proposta. Além disso, o uso irracional destes produtos aumenta a probabilidade de ocorrência de PRMs surgindo como um problema de saúde pública em todo mundo, devido ao ônus causado a este serviço. A redução destes problemas tem um impacto positivo na qualidade de vida do paciente, na confiabilidade no sistema de saúde e na eficiência no uso dos recursos (CARVALHO, 2007). Desta forma, a atenção à saúde eficiente somente pode ser realizada quando existe uma gestão eficiente dos medicamentos, para isto, é essencial a implementação de um Programa de Assistência Farmacêutica como estratégia para o Uso Racional de Medicamentos (OPAS, 2004). O Uso Racional de Medicamentos (URM), conforme a OMS (1985), ocorre quando “pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade”. Além disso, a prescrição do medicamento deve estar corretamente preenchida, com as informações necessárias para o seguimento correto pelo paciente, como: nome do medicamento, dose, quantidade total de caixas ou comprimidos, forma farmacêutica, posologia e duração do tratamento (ANVISA, 2005; AQUINO, 2010; BRASIL, 2001; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2007). 25 Sendo assim, a Atenção Farmacêutica é uma prática mais adequada que o farmacêutico assume em benefício do Uso Racional de Medicamentos e conseqüentemente promove a melhoria do acesso a medicamentos. Atenção Farmacêutica é definida como: É um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica e compreendendo atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde (CONSENSO BRASILEIRO DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA, 2002, P. 16-17). A prática da Atenção Farmacêutica tem como foco melhorar a qualidade de vida dos usuários de medicamentos, buscando a cura de doenças, quando possível, ou pelo menos o controle, eliminação ou redução dos sintomas e diminuição do progresso da doença. Para a obtenção destes objetivos, é necessário que se faça uma identificação dos problemas reais e potenciais relacionados ao uso de medicamentos, e, então, solucionar os problemas reais e prevenir os problemas potenciais. Assim, a atenção farmacêutica vai além da entrega do medicamento ao paciente, envolve o fornecimento de informação relacionado ao uso dos medicamentos (ANDRADE et al., 2004). 26 3. METODOLOGIA 3.1. DELINEAMENTO DA PESQUISA Este estudo possui caráter descritivo e transversal, realizado com a população atendida no ambulatório de Cardiologia do Hospital Regional de Ceilândia – DF, durante o período de 14 de abril a 14 de maio de 2011. 3.2. INSTRUMENTO DA COLETA DE DADOS Os dados foram coletados mediante entrevistas estruturadas, registradas em um roteiro de entrevista, contendo questões de fácil compreensão, elaborado com base nos trabalhos realizados por Arrais (2004) e Silva (2010). Este questionário possui 5 (cinco) blocos de perguntas (Apêndice A), com o objetivo de definir o perfil sócio-econômico da população, investigar as doenças auto-referidas, conhecer os medicamentos utilizados, adesão ao tratamento e perfil de acesso. 3.3. COLETA DOS DADOS A coleta dos dados foi realizada às quintas e sextas-feiras, no período matutino, com os pacientes que aguardavam atendimento no Ambulatório de Cardiologia do HRC. 3.4. OBTENÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) O termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 1) foi elaborado de acordo com o modelo proposto pelo CEP/SES-DF antes da inclusão do paciente no estudo. O pesquisador forneceu todas as informações necessárias relativas à pesquisa, individualmente a cada um dos pacientes. Após estas orientações, o paciente fez a leitura do termo de consentimento e quando ainda restaram dúvidas, as mesmas foram esclarecidas pelo pesquisador antes do ato de assinatura do termo. Todos os pacientes foram esclarecidos quanto aos procedimentos propostos por este estudo e, somente fizeram parte do mesmo se assinassem o termo de consentimento livre e esclarecido. Para os pacientes que possuíam idade inferior a 18 anos, o TCLE foi assinado pelo responsável legal, após as orientações dadas a ambos. 27 A participação nesta pesquisa foi totalmente voluntária, tendo o paciente toda a liberdade de se retirar da mesma a qualquer momento, sem qualquer prejuízo com relação ao seu atendimento ou tratamento. 3.5. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS Os aspectos socioeconômicos investigados foram: faixa etária, renda familiar e o grau de escolaridade. A renda familiar foi estimada de acordo com salário mínimo (R$ 540,00) à época do estudo. 3.6. LEVANTAMENTOS DAS DOENÇAS CRÔNICAS AUTO- REFERIDAS Para a classificação das doenças crônicas auto- referidas pela população em estudo foi utilizado a Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID - 10). 3.7. AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS RELACIONADOS COM A UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS O levantamento geral dos medicamentos utilizados por esta população foi realizado por meio da declaração do uso pelos participantes. Com base nas respostas obtidas, os indivíduos incluídos na pesquisa foram classificados, segundo o conhecimento dos medicamentos, da seguinte forma: · Conhece totalmente os medicamentos utilizados: Quando os pacientes referiam que todos os medicamentos utilizados foram citados; · Conhece parcialmente os medicamentos utilizados: Quando os pacientes não referiam o nome de todos os medicamentos utilizados, porém relatavam a utilização de outros, mas não se recordavam do nome; · Não conhece os medicamentos utilizados: Quando não se lembrava de nenhum medicamento utilizado. Foram incluídos na análise somente os produtos farmacêuticos industrializados, homeopáticos e fitoterápicos de uso contínuo que possuíam composição de fármacos claramente determinados. A Denominação Comum Brasileira (DCB) foi utilizada para a identificação destes fármacos a partir dos nomes comerciais disponíveis. Os fármacos encontrados em cada medicamento foram agrupados em conformidade com o Sistema de Classificação Anatômico-Terapêutico-Químico (ATC). 28 O número de medicamentos utilizados foi avaliado de maneira quantitativa, sendo que os pacientes foram agrupados da seguinte forma: · Pacientes que utilizavam apenas 1 (um) fármaco (princípio ativo); · Pacientes que utilizavam 2 (dois) fármacos (princípios ativos); · Pacientes que utilizavam 3 (três) fármacos (princípios ativos); · Pacientes que utilizavam 4 (quatro) fármacos (princípios ativos); · Pacientes que utilizavam mais de 4 (quatro) fármacos (princípios ativos); Os outros aspectos avaliados foram à responsabilidade pela administração do medicamento e o quanto o fato de tomar medicamento interferia na rotina diária. Com relação à responsabilidade pela administração, os pacientes foram agrupados nas seguintes categorias: · Paciente é o responsável pela administração; · Cuidador (ou outra pessoa é responsável pela administração); Com relação à interferência na rotina diária, os pacientes foram agrupados nas seguintes categorias: · Interfere muito; · Interfere moderadamente; · Interfere pouco; · Não interfere. 3.8. AVALIAÇÃO DA ADESÃO AO TRATAMENTO Para identificar o grau de adesão ao tratamento medicamentoso, os dados coletados através do questionário criado foram transpostos para a escala de Morisky. Ressaltando que as respostas obtidas como sempre, quase sempre, às vezes e raramente foram consideradas positivas, e a resposta nunca foi considerada negativa (SOCIETY OF AMERICA, 2004; DEWULF et al.; 2006). O teste de Morisky consiste em quatro perguntas (Tabela 2), que tem o objetivo de avaliar a adesão do paciente à terapia medicamentosa. No entanto, o roteiro de entrevista criado para a coleta dos dados desta pesquisa não possuía a pergunta “Você, às vezes, é descuidado quanto ao horário de tomar o seu remédio?”, e, portanto, este item não foi avaliado. Para pontuação da Escala de Morisky, cada pergunta que é respondida com um NÃO recebe uma pontuação de 1. O intervalo possível de pontuação é, portanto, 0 a 4. Pacientes 29 com escores mais elevados são classificados no grupo de alto grau de adesão. Porém, quando pelo menos uma das respostas é afirmativa, o paciente é classificado no grupo de baixo grau de adesão (SOCIETY OF AMERICA, 2004; DEWULF et al.; 2006). O teste de Morisky permite diferenciar se o comportamento de baixo grau de adesão é do tipo intencional ou não intencional (SOCIETY OF AMERICA, 2004; DEWULF et al.; 2006). Tabela 2: Perguntas que compõe o teste de Morisky e classificação dos tipos de comportamento de baixo grau de adesão, indicados por respostas afirmativas Perguntas do Teste de Morisky Você, alguma vez, esquece de tomar o seu remédio? Você, às vezes, é descuidado quanto ao horário de tomar o seu remédio? Quando você se sente bem, alguma vez, você deixa de tomar seu remédio? Quando você se sente mal, com o remédio, às vezes, deixa de tomá-lo? Não Intencional X Intencional X X X Adaptação de Guidelines from the Case Management Society of America for improving patient adherence to medication therapies (2004). 3.9. AVALIAÇÃO DO ACESSO A MEDICAMENTOS Para a avaliação do acesso a medicamentos os pacientes foram agrupados, de acordo com o modo pelo qual adquiriam seus medicamentos, nas seguintes categorias: · Totalmente pelo SUS; · Parcialmente pelo SUS; · Compra todos os medicamentos; · Não adquire. Quanto à avaliação do grau de dificuldade encontrado para a aquisição dos medicamentos, os pacientes foram agrupados nas seguintes categorias: · Possui dificuldade; · Não possui dificuldade. O grau de dificuldade relatado levou em consideração a necessidade de um meio de transporte (ônibus ou conduções) para chegar ao local de aquisição do medicamento, o tempo dispensado nesta atividade, se encontrava todos os medicamentos necessários e nas quantidades necessárias. 30 O gasto relativo com medicamentos foi avaliado de acordo com o valor mensal (em Real) gasto com os medicamentos, sendo agrupados em: · Até R$ 50,00; · R$ 51,00 a R$ 100,00; · R$ 101,00 a R$ 151,00; · R$ 151,00 a R$ 200,00; · > R$ 200,00. 3.10.SUJEITOS DA PESQUISA Os sujeitos da pesquisa foram constituídos pela população atendida as quintas e sextas, no turno matutino, no Ambulatório de Cardiologia do HRC, no período entre 14 de abril e 14 de maio de 2011. 3.10.1. Critérios de Inclusão Foram selecionados para o estudo aqueles pacientes que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: · Ser atendido no Ambulatório de Cardiologia no período determinado; 3.10.2. Critérios de Exclusão Foram excluídos do estudo aqueles pacientes que procuram o atendimento para obtenção de parecer médico para risco cirúrgico, àqueles que não responderam completamente o questionário ou que, no momento da pesquisa, não estavam utilizando medicamentos de uso contínuo. 3.11. ANÁLISE DOS DADOS Foi realizada uma análise estatística dos dados coletados com o auxílio do programa Microsoft Office Excel 2007. Para a variável idade foram calculados a média e desvio padrão. Realizou-se, ainda, uma análise descritiva dos dados por distribuição e estratificação de freqüências das variáveis da pesquisa. 31 3.12. FLUXOGRAMA Consulta previamente marcada para o Ambulatório de cardiologia do HRC Critérios de Inclusão Convite para a participação da pesquisa e orientações sobre os dados coletados Assinatura do termo de consentimento livre esclarecido e realização da entrevista Critérios de Exclusão Análise dos dados 32 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO As características demográficas, sociais e clínicas dos pacientes incluídos na pesquisa estão apresentadas na Tabela 3. Identificou-se que a maioria da população estudada pertencia ao sexo feminino (75%), com idade média de 61,2 ± 12,26, estado civil casado (48%), com nível de escolaridade primário incompleto (26%) e renda familiar de até dois salários mínimos (33%). Com relação à autopercepção da saúde, a maioria dos pacientes referiu que o estado de saúde estava razoável (48%). Tabela 3: Características sócio-econômicas dos pacientes incluídos no estudo Características socioeconômicas Gênero Homens Mulheres Idade 15 a 29 anos 30 a 44 anos 45 a 59 anos 60 a 74 anos > 75 anos Estado marital Solteiro (a) Casado (a) Viúvo (a) Separado (a) Amasiado (a) Renda familiar Até 1 SM (até R$ 540,00 ) 1 a 2 SM (R$ 540,00 a R$ 1.080,00 2 a 3 SM (R$ 1.080,00 a R$ 1.620,00) Mais de 3 SM (>1.620,00) Escolaridade Analfabeto Primário incompleto Primário completo Primeiro grau incompleto Primeiro grau completo Segundo grau completo Autopercepção da Saúde Boa Razoável Ruim Péssima Número de pacientes (n= 80) % 20 60 25 75 1 4 30 34 11 1,2 5,0 37,5 42,5 13,8 7 48 12 10 3 8,8 60,0 15,0 12,5 3,8 16 33 13 18 20,0 41,3 16,3 22,5 7 26 14 11 11 11 8,8 32,5 17,5 13,8 13,8 13,8 11 39 22 8 13,8 48,8 27,5 10,0 33 A característica de faixa etária observada foi semelhante com a encontrada em outros estudos realizados no Brasil, refletindo, portanto, a realidade nacional, em que se observa o envelhecimento da população brasileira, havendo maior predomínio de idosas. Camarano (2002) denomina este processo demográfico de “feminização da velhice” (BERTOLDI et al., 2004; COELHO FILHO et al., 2004; ARRAIS et al., 2005; LOYOLA FILHO, 2006; SOUZA et al., 2006; VOSGEGERAU, 2007; FLORES &, BENVEGNÚ, 2008). As explicações mais prováveis que contribuem para a observação deste processo estão relacionadas com as altas taxas de mortalidade precoce dos homens, devido, principalmente, à violência, acidentes de trânsito e doenças crônicas. Além disso, as mulheres possuem uma maior preocupação com a sua saúde e, por isso, procuram mais os serviços de saúde, possuem uma menor exposição aos riscos ocupacionais e menor taxa de mortalidade por causas externas (BERTOLDI et al., 2004; FELICIANO et al., 2004; ARRAIS et al., 2005; SOUZA et al., 2006; FLORES &, BENVEGNÚ, 2008). Com relação ao nível de escolaridade, estudos mostram que não há uma associação significativa com o consumo de medicamentos. Neste estudo, não foi possível avaliar se existe ou não esta associação. No entanto, pode-se observar que o grau de escolaridade foi diretamente proporcional com o conhecimento dos medicamentos utilizados, ou seja, para o nível de escolaridade analfabeto, apenas 28,5% dos pacientes lembraram totalmente ou parcialmente dos medicamentos utilizados, enquanto que para os pacientes que possuíam o segundo grau completo este índice foi de 75% (SANS et al., 2002; ARRAIS, 2004; BERTOLDI et al., 2004). A renda familiar mensal tem se mostrado como fator determinante no consumo de medicamentos, uma vez que, a população com maior poder aquisitivo tem apresentado maior nível de consumo de medicamentos, principalmente devido a maior facilidade de acesso aos estabelecimentos farmacêuticos comerciais (ARRAIS, 2004; BERTOLDI et al, 2004; COSTA et al., 2007). Arrais (2004) demonstrou que as pessoas com renda familiar superior a três salários mínimos consomem 1,3 vezes mais medicamentos do que aqueles com renda igual ou inferior a três salários mínimos. Costa e cols. (2007) confirmam esta relação, mostrando que a classe com renda acima de quatro salários mínimos foi responsável pelo consumo de aproximadamente 84% do mercado total de medicamentos, enquanto que a classe com renda de zero a quatro salários mínimos consome apenas 16% desse mercado. Os resultados obtidos nesta pesquisa não revelam associação entre o consumo de medicamentos e a renda mensal, provavelmente pelo fato de não se conseguir determinar a 34 quantidade correta de medicamentos por paciente, somente os autoreferidos por estes. Além do que, a população estudada é caracterizada por indivíduos com nível socioeconômico mais baixo, que dependiam, principalmente, do SUS para a aquisição de medicamentos e outros serviços em saúde. Não possibilitando, assim, dados suficientes para a comparação com níveis econômicos mais altos ou com outras formas de aquisição de medicamentos. Almeida e cols. (2002) e Barros e cols. (2006) relacionam a autopercepção da saúde com a prevalência de declaração de doenças crônicas, sendo esta relação inversamente proporcional. O estudo realizado por Almeida e cols. (2002) demonstra que as referências a problemas crônicos de saúde foram 2,69 vezes mais freqüentes entre indivíduos que avaliaram seu estado de saúde como regular, e 3,15 vezes mais freqüentes entre as pessoas que classificaram seu estado de saúde como ruim ou muito ruim. Dados estes que se reproduzem neste estudo, em que, dos pacientes que disseram que seu estado de saúde estava bom, apenas 37% declaram possuir mais de uma doença crônica, em contraponto com 53%, 63% e 87,5% para os classificaram o seu estado de saúde como razoável, ruim e péssimo, respectivamente. Em estudos realizados por Bertoldi e cols. (2004) e Vosgerau (2007), revelam, ainda que quanto melhor a avaliação da autopercepção da saúde menor é o consumo de medicamentos. Vosgerau (2007) cita um estudo realizado na Suécia, em que se verificou que as mulheres que classificaram sua saúde como ruim tiveram 17 vezes mais chance de consumir medicamentos do que as que classificam o estado de saúde como excelente. No entanto, a relação entre autopercepção e consumo de medicamentos não pôde ser estabelecida para este estudo, já que o levantamento preciso dos medicamentos utilizados não foi possível. As doenças auto- referidas pelos pacientes estão representadas na tabela 4, em que se observa uma maior freqüência das doenças hipertensivas (43,9%), seguido pelas doenças relacionadas com distúrbios do metabolismo de lipoproteínas e outras lipidemias (20,6%) e Diabetes Mellitus (12,3%). Ainda com relação às características clínicas, 57,5% dos pacientes entrevistados declaram serem portadores de mais de uma doença crônica. Segundo a OPAS (2005), dois importantes processos estão envolvidos com o perfil de doenças que acometem os brasileiros. O primeiro, denominado “Transição Demográfica”, resulta em um aumento da população idosa. O segundo, denominado de “transição epidemiológica”, é caracterizado por modificações nos padrões de morbidade e mortalidade que são influenciadas pelas características demográficas, sociais, econômicas e de acesso aos serviços de saúde. Apesar do processo de envelhecimento não estar condicionado ao desenvolvimento de doenças crônicas, vários estudos epidemiológicos realizados no Brasil mostram que estas 35 doenças freqüentemente acometem os idosos. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (2005), 64,5% dos brasileiros com idade entre 50 a 64 anos possuem alguma doença crônica. Este índice aumenta para 77,6% para os indivíduos com idade superior a 65 anos. A OMS (2005) reforça, ainda, que 60% das mortes ocorridas no mundo são em conseqüência de doenças crônicas. Tabela 4: Doenças auto – referidas pelos pacientes incluídos no estudo Doença crônica auto- referida Algumas doenças infecciosas e parasitárias Doença de Chagas Neoplasias (tumores) Melanoma e outras neoplasias malignas da pele Neoplasia maligna da próstata Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas Transtornos da glândula tireóide Diabetes Mellitus Distúrbios do metabolismo de lipoproteínas e outras lipidemias Transtornos mentais e comportamentais Transtornos do humor/ afetivos Doenças do sistema nervoso Mononeuropatias dos membros superiores Doenças do olho e anexos Glaucoma Doenças do ouvido e da apófise mastóide Doenças do ouvido interno Doenças do aparelho circulatório Doença Reumática crônica do coração Doenças Hipertensivas Outras formas de doença do coração Doenças do aparelho respiratório Doenças crônicas das vias aéreas inferiores Número absoluto (n= 155) Frequência (%) 7 4,5 1 1 0,6 0,6 4 19 32 2,6 12,3 20,6 1 0,6 1 0,6 2 1,3 1 0,6 1 68 6 0,6 43,9 3,9 2 1,29 2 3 1 2 1 1,3 1,9 0,6 1,3 0,6 Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo Poliartropatias inflamatórias Artroses Lupus Eritematoso Sistêmico Outros transtornos dos tecidos moles Osteopatias e condropatias As doenças cardiovasculares foram as de maior freqüência na população em estudo, embora o este tenha sido realizado no Ambulatório de Cardiologia. No entanto, este resultado reflete o cenário epidemiológico mundial, em que se observa uma maior prevalência desta DCNT, que é responsável por, aproximadamente 30% das mortes no mundo (OMS,2003). 36 Os resultados revelam uma correlação entre número de doenças crônicas com o número de medicamentos utilizados, ou seja, quanto mais doenças o paciente declarava maior foi o número de medicamentos utilizados. Arrais (2005) consegue quantificar esta relação, mostrando que as pessoas com patologias crônicas consumiram 2,1 vezes mais medicamentos que os que não possuíam tais patologias. A declaração dos medicamentos utilizados estão dispostos na tabela 5 e 6. A classe de medicamentos mais utilizada foi a dos agentes cardiovasculares (65,1%), seguido pela classe dos medicamentos para o tratamento de doenças do aparelho digestivo e metabolismo (13,6%). Dentro da classe dos agentes cardiovasculares, a subclasse de medicamentos de maior freqüência foi a dos diuréticos (17,%), fármacos que agem no sistema reninaangiotensina (16,45%) e os Beta-bloqueadores (14,47%). Com relação aos fármacos (princípios ativos) mais utilizados, o captopril (7,24%) foi o que teve maior frequência, seguido pelo propranolol (6,58%) e hidroclorotiazida (6,58%). Com relação aos medicamentos contidos na Relação de Medicamentos Essenciais da SES/DF (REME/DF), 97,3% dos medicamentos utilizados eram padronizados. Os princípios ativos mais utilizados estão relacionados às doenças crônicas autoreferidas mais freqüentes na população em estudo, sendo que os distúrbios cardiovasculares foram os mais citados. No entanto, 1/5 dos pacientes (n= 32) declararam possuir distúrbios do metabolismo de lipoproteínas, mas somente 15,6% (n= 5) destes pacientes relataram estar em uso de medicamentos hipolipêmicos. Os prováveis motivos desta relação desigual deve estra relacionado com o viés de memória e que esta patologia, de acordo com a Diretrizes, recomenda-se o uso de tratamento não- farmacológico. Vários estudos realizados no Brasil confirmam que os medicamentos que agem nos sistema cardiovascular são os mais utilizados pela população idosa. Revelam, ainda, que os anti-hipertensivos mais prescritos aos usuários do SUS são os Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA), seguidos pelos diuréticos, betabloqueadores e fármacos de ação central. Os resultados encontrados neste estudo foram semelhantes ao perfil de utilização de medicamentos relatados em outras pesquisas. (BERTOLDI et al., 2004; VOSGEGERAU, 2007; FLORES &, BENVEGNÚ, 2008; OLIVEIRA et al., 2010). 37 Tabela 5: Classes de medicamentos auto- referidos pelos pacientes incluídos no estudo de acordo com a classificação ATC Grupo Anatômico Terapêutico A - Aparelho digestivo e metabolismo Medicamentos para tratamento da úlcera péptica Medicamentos usados no tratamento da Diabetes B - Sangue e órgãos hematopoiéticos Medicamentos Antitrombóticos C- Sistema Cardiovascular Terapêutica cardíaca Anti-hipertensivos de ação central Diuréticos Vasodilatadores diretos e vasoprotetores Beta-bloqueadores Bloqueadores do canal de cálcio Fármacos que agem no sistema renina-angiotensina Hipolipêmicos G - Aparelho genito-urinário e hormonas sexuais Hormônios sexuais, moduladores do sistema genital e fármacos urológicos H – Preparações sistema hormonal excluindo hormônios sexuais e insulina Corticosteróides e fármacos utilizados em terapia tireoidiana J – Anti- infecciosos gerais para uso sistêmico Antibióticos para uso sistêmico M – Sistema músculo esquelético Antiinflamatórios, antirreumáticos e antigotosos Medicamentos para tratamento de doenças ósseas N – Sistema nervoso Psicolépticos Psicoanalépticos R – Sistema respiratório Antiasmáticos S – Órgãos sensoriais Preparações oftalmológicas Número absoluto (N=152) % 20 4 16 8 8 99 4 5 27 6 22 5 25 5 2 13,2 2,6 10,6 5,3 5,3 65,1 2,6 3,3 17,8 3,9 14,5 3,3 16,4 3,3 1,3 2 1,3 2 1,3 2 1 1 3 2 1 11 7 4 5 5 1 1 1,3 0,7 0,7 2,0 1,3 0,7 7,2 4,6 2,6 3,3 3,3 0,7 0,7 38 Tabela 6: Medicamentos auto- referidos pelos pacientes incluídos no estudo de acordo com o CID - 10 Fármaco Número absoluto (N = 152) % Fármaco 11 10 10 9 9 8 7 7 5 5 5 5 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 7,2 6,6 6,6 5,9 5,9 5,3 4,6 4,6 3,3 3,3 3,3 2,6 2,6 2,6 2,0 2,0 2,0 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 Clortalidona Amitriptilina Insulina Omeprazol Digoxina Fluoxetina Ranitidina Nifedipina Estrogênio Diltiazem Oxibutinina Sotalol Aminofilina Pilocarpina Ibuprofeno Alprazolan Hidralazina Cálcio Diazepam Isossorbida Dipiridamol Diclofenaco Benzipenicilina benzatina Captopril Propranolol Hidroclorotiazida Atenolol Losartana Indapamida AAS Metformina Clonazepam Metildopa Enalapril Gliclazida Propatilnitrato Espironolactona Anlodipino Sinvastatina Furosemida Levotiroxina Formoterol Budesonida Atorvastatina Vildagliptina Carvedilol Amiodarona Número Absoluto (N = 152) % 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 1 0,7 Com relação à utilização de medicamentos, apenas ¼ dos pacientes (n= 22) conheciam totalmente os medicamentos utilizados e 31,25% conheciam parcialmente (ver tabela 7). Tabela 7: Conhecimento sobre a farmacoterapia dos pacientes incluídos no estudo Conhecimento sobre a farmacoterapia Número de pacientes (N= 80) % Conhece totalmente 22 27,5 Conhece parcialmente 25 31,25 Não conhece 33 41,25 O grande o número de pacientes que não possuem conhecimento sobre o tratamento medicamentoso proposto é preocupante, principalmente pelo fato de, na sua maioria, utilizar 39 os mesmos medicamentos há algum tempo (medicamentos de uso contínuo). Este foi um dos principais interferentes que dificultou o levantamento completo dos medicamentos utilizados pela população em estudo, além da dificuldade de acesso aos prontuários e/ou receita dos mesmos. Outro estudo também realizado em Brasília corrobora com resultados encontrados nesta pesquisa, mostrando que apenas 18,7% dos pacientes compreendiam completamente a prescrição (NAVES & SILVER, 2005). Este desconhecimento se deve, em sua maioria, pela ausência de informações dadas pelo prescritor durante a consulta e/ou de um atendimento individualizado e educativo no ato da dispensação. Portela e cols. (2010) afirmam que a falta de informação dada ao paciente sobre os medicamentos prescritos gera dificuldades para a adesão ao tratamento. Considerando que a maior parte dos indivíduos desta pesquisa utiliza o SUS para a aquisição de medicamentos, a presença obrigatória de farmacêuticos nos locais de dispensação de medicamentos no SUS poderia minimizar a falta de conhecimento dos usuários sobre os medicamentos, uma vez que, este profissional poderia dar instruções adequadas aos usuários, além de realizar a avaliação sobre interações medicamentosas e possíveis reações adversas, favorecendo, assim, o Uso Racional de Medicamentos (PEPE & CASTRO, 2000; OMS, 2001, PORTELA et al., 2010). Dos pacientes que conheciam totalmente ou parcialmente a farmacoterapia, houve o predomínio do uso de dois medicamentos por paciente (29,79%) como mostra a tabela 8, com média de 1,9 medicamentos/paciente (amplitude 1 a 8). Tabela 8: Número de medicamentos utilizados por pacientes, sendo que, neste caso, foram incluídos apenas aqueles que relataram totalmente ou parcialmente os medicamentos utilizados Número de Medicamento Número de pacientes em uso auto- referido (N= 47) Um 12 25,5 Dois 14 29,8 Três 8 17,0 Quatro 5 10,6 > quatro 8 17,0 % Estes resultados diferiam de outros estudos semelhantes realizados em Brasília e no Brasil. Medeiros e cols. (2009) avaliaram o número de medicamentos por paciente em duas fases, uma antes e outra depois da intervenção interdisciplinar. Na primeira fase (préintervenção) a média de medicamentos por paciente encontrada foi de 4,4 ± 2,9 (amplitude 1 a 40 16), e na segunda fase (pós-intervenção) está média diminuir para 3,1 ± 2,0 (amplitude 1 a 14) (MEDEIROS et al., 2009). Ou seja, mesmo depois da intervenção interdisciplinar, a média de medicamentos por paciente foi mais elevada do que a encontrada neste estudo. A média de medicamentos por prescrição também foi inferior aos dados encontrados no estudo realizado por Flores e Benvegnú (2009) que obtiveram uma média de 2,79 medicamentos por idoso; . No entanto foi semelhante a média (1,5 medicamentos por paciente) encontrada no estudo realizado por Bertoldi e cols (2004). Porém esta diferença pode ter ocorrido, provavelmente, devido ao viés de memória, pois apenas foram considerados os medicamentos utilizados quando o paciente sabia informar todos. A distribuição dos pacientes de acordo com as características relacionadas com a responsabilidade pela administração dos medicamentos e interferência na rotina diária está representada na tabela 9. A responsabilidade da administração dos medicamentos cabia ao próprio paciente em 92,5% dos casos. Sendo que 71,3% consideraram que o fato de tomar medicamentos não interfere na rotina diária. Embora a maioria dos indivíduos do estudo não necessita de uma segunda pessoa para administrar os medicamentos e relata que o fato de utilizar medicamentos diariamente não interfere em suas rotinas, a adesão ao tratamento ocorreu em apenas ¼ da população (n= 16), revelando que estas variáveis não constituem os principais motivos para a não adesão ao tratamento nesta população. Em um estudo realizado com portadores de Síndrome metabólica, também se verificou que não houve correlação entre estas variáveis e a adesão ao tratamento (SILVA, 2010). Tabela 9: distribuição dos pacientes de acordo com as características relacionadas com a responsabilidade pela administração e interferência na rotina diária Característica relacionada a utilização Número de pacientes de medicamentos (N= 80) Responsabilidade de administração do medicamento Próprio paciente 74 Cuidador ou qualquer outra pessoa da 6 casa Interferência na rotina diária Muito 9 Moderado 6 Pouco 8 Não interfere 57 % 92,5 7,5 11,2 7,5 10,0 71,3 41 Com relação ao acesso a medicamentos (ver tabela 10), 87,5% dos pacientes relataram utilizar o SUS para a aquisição dos medicamentos, sendo que 54 pacientes (67,5%) adquirem exclusivamente estes medicamentos nos postos de saúde. Quando questionados sobre o grau de dificuldade de aquisição dos medicamentos, 52,5% disseram ter dificuldade de adquirir os medicamentos necessários. Quanto ao gasto relativo mensal com medicamentos, a maioria dos pacientes (71,3%) referiu gastar até R$ 50,00. O principal motivo relatado como o gerador da dificuldade de acesso aos medicamentos foi o fato de não encontrar todos os medicamentos necessários para o tratamento (n= 34). Considerando ainda, que a maior parte da população estudada depende do SUS para ter acesso aos medicamentos e que os medicamentos utilizados são padronizados, de acordo com a REME/DF, infere-se com que o Estado vem falhando na distribuição gratuita de medicamentos essenciais à população. Arrais (2004) reforça que, os pacientes acometidos por doenças crônicas com baixo nível socioeconômico, o não-acesso compromete a renda familiar ou favorece o abandono do tratamento, podendo levar ao agravamento do estado de saúde e conseqüentemente aumentar os gastos relativos com internações. Embora 51 indivíduos (63,7%) referiram ter conhecimento sobre o Programa Farmácia Popular, apenas ¼ (n= 10) destes pacientes relataram já terem usufruído do benefício. Este dado revela que, embora o Governo Federal tenha criado políticas para ampliar o acesso aos medicamentos para as doenças mais comuns entre os cidadãos, não está atingindo a população a ponto de aumentar o acesso a medicamentos de forma significativa. Com relação ao grau de adesão ao tratamento farmacoterapêutico (ver tabela 11), notase que 64 pacientes (80%) possuem um baixo grau de adesão. Em relação ao tipo de baixa adesão, observou- se que o comportamento não intencional foi predominante (64,1%), ou seja, o paciente freqüentemente esquece de tomar o medicamento. Leite e Vasconcelos (2003) afirmam que os fatores relacionados com a baixa ou não adesão ao tratamento são: falta de acesso ao medicamento; número de medicamentos prescritos e o esquema posológico, mesmo quando o medicamento seja fornecido; a doença que acomete o indivíduo, no sentido de como o paciente entende seu estado de saúde e compreende sua enfermidade, sendo que a ausência de sintomas é o fator mais determinante para a não-adesão à terapia. 42 Tabela 10: Distribuição dos pacientes de acordo com as características relacionadas ao acesso a medicamentos Características relacionadas ao acesso Modo de aquisição de medicamentos Exclusivamente pelo SUS Parcialmente pelo SUS Compra Grau de dificuldade na aquisição Sim Não Gasto relativo Até R$ 50,00 R$ 51,00 a R$ 100,00 R$ 101,00 a R$ 150,00 R$ 151,00 a R$ 201,00 > R$ 201,00 Conhecimento do Programa Farmácia Popular Sim Não Utilização do Programa Farmácia Popular* Sim Não Número de pacientes % 54 16 10 67,5 20,0 12,5 42 38 52,5 47,5 57 7 4 8 4 71,25 8,75 5,0 10,0 5,0 51 29 63,75 36,25 10 41 19,6 80,4 * Neste critério foram incluídos apenas aqueles pacientes que relataram ter conhecimento do programa Farmácia Popular (N=51). Tabela 11: Grau de adesão ao tratamento medicamentoso dos pacientes incluídos no estudo, de acordo com o teste de Morisky Grau de Adesão Alto grau de adesão Baixo grau de adesão Intencional Não intencional Ambos (intencional e não- intencional) Número Absoluto 16 64 5 41 18 % 20 80 7,8 64,1 28,1 No entanto, nenhum destes fatores foi relacionado com o baixo grau de adesão ao tratamento pela população estudada. Ou seja, as características socioeconômicas, como idade, sexo, estado civil e nível de escolaridade; a doença auto-referida; as classes de medicamentos utilizadas e nem o fato de o paciente ter ou não o acesso do medicamento garantido pelo SUS foram estatisticamente relacionadas com o grau de adesão. A OMS (2003) revelou que, nos países desenvolvidos, apenas 50% dos indivíduos com doenças crônicas aderem ao tratamento. Completa, afirmando que a magnitude e o impacto da baixa adesão dos países em desenvolvimento são ainda maior, dada a escassez de recursos e as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde. Sendo assim, a baixa adesão encontrada neste estudo pode estar relacionada ao padrão de comportamento comum aos 43 doentes crônicos, sendo agravados pelos motivos relacionados aos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Vale ressaltar que, embora os pacientes conheçam os medicamentos utilizados, a dose e horário de utilização não são indicativos, obrigatoriamente, que eles seguem corretamente todos os critérios relacionados ao tratamento, uma vez que há outros fatores envolvidos na utilização dos medicamentos. Entretanto, o fato de não entender uma única instrução de um único medicamento já é suficiente prejudicar o controle da doença e aumentar os riscos relativos a ela (PORTELA et al., 2010). 44 5. CONCLUSÃO Este trabalho demonstra que os principais fatores relacionados à utilização de medicamentos pela população estudada foram o acesso a medicamentos e adesão à terapêutica. A principal forma de aquisição dos medicamentos foi pelo SUS, revelando ainda, que existem falhas na distribuição efetiva e igualitária destes produtos, trazendo prejuízos para o controle e prevenção de agravos relacionados às doenças crônicas referidas pelos pacientes. A baixa adesão ao tratamento foi outro fator que influenciou negativamente a utilização de medicamentos. Este dado corrobora ainda com estudos que afirmam que a não adesão a farmacoterapia é um problema comumente observado em pacientes com doenças crônicas. Neste sentido, faz-se necessário o entendimento dos fatores que dificultam a adesão, bem como a realização de uma abordagem multidisciplinar com o paciente. A falta de conhecimento da população estudada sobre a farmacoterapia sugere deficiências no atendimento médico e farmacêutico. Neste sentido, é de fundamental importância a inclusão do farmacêutico nos serviços de saúde, principalmente na Atenção Básica, pois a contribuição deste profissional pode melhorar o acesso a medicamentos, o perfil de adesão ao tratamento e os gastos relativos com o consumo de medicamentos, ou seja, garante a promoção do Uso Racional de Medicamentos. Por fim, é importante considerar alguns fatores que podem ter limitado os resultados deste estudo, como a influência do viés de memória, questionário não validado e dificuldades do levantamento preciso dos medicamentos prescritos. Desta forma, é provável que as doenças crônicas e os medicamentos utilizados estejam subestimados devido a problemas de memória e/ou ausência de diagnóstico entre algumas pessoas. Sendo assim, outros estudos são necessários para aprofundar as questões relacionadas ao medicamento como: qualidade de prescrição, adequação da utilização dos medicamentos, e adesão ao tratamento. Desta forma, seria interessante utilizar novas estratégias com o objetivo de avaliar outros fatores relacionados com a adesão ao tratamento, como o emprego de métodos qualitativos, que permitem aprofundar o conhecimento e possibilita a análise de outras características, como os fatores externos ao paciente, a sua compreensão do tratamento e a relação estabelecida com os profissionais de saúde. 45 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. F.; BARATA, R. B.; MONTERO, C. V.; SILVA, Z. P. Prevalência de doenças crônicas auto-referidas e utilização de serviços de saúde, PNAD/1998, Brasil. Ciênc. Saúde Coletiva, 2002, vol.7, n.4, pp. 743-756. ALVES, L. C et al. A influência das doenças crônicas na capacidade funcional dos idosos do Município de São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(8):1924-1930, agosto, 2007. ANDRADE, M. A.; SILVA, M. V. S.; FREITAS, O. Assistência Farmacêutica como Estratégia para o Uso Racional de Medicamentos em Idosos. Semina Cienc. Biol. 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APÊNDICE APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA PERFIL SÓCIO- ECONÔMICO Data de Nascimento: Peso: Altura: Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Estado Conjugal: ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Separado (a) ( ) Viúvo(a) ( ) Outros Renda Mensal: ( )Até 1 SM (até R$ 540,00) ( )De 1 a 2 SM (R$ 540,00 a R$ 1.080,00) ( ) DE 2 a 3 SM (R$ 1.080,00 a R$ 1.620,00) ( ) Mais de 3 SM (> R$ 1.620,00) Escolaridade: ( ) Analfabeto (não sabe ler e escrever) ( ) Primário incompleto (1ª a 4ª série) ( ) Primário completo (1ª a 4ª série) ( ) Primeiro grau incompleto (5ª a 8ª série) ( ) Primeiro grau completo (5ª a 8ª série) ( ) Segundo grau incompleto (1° ao 3° colegial) ( ) Segundo grau completo (1° ao 3° colegial) ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo ou mais Auto-avaliação da Saúde: ( ) Excelente ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim ( ) Péssima 55 DOENÇAS CRÔNICAS Possui doenças crônicas? Se sim, quais? ( ) Hipertensão arterial ( ) Diabetes Mellitus ( ) Osteoporose ( ) Dislipidemia ( ) Insuficiência Cardíaca ( ) Arritmia ( ) Artrite ( ) Outras _______________________________ UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS Utiliza medicamentos de uso contínuo? Se a resposta for sim, qual (is) medicamento(s) é (são) utilizado (s) e para que utiliza? Medicamento Quem lembra a você os horários de tomar os medicamentos? ( ) Ninguém (lembra-se sozinho) ( ) Cuidador (alguém da família ou que more com o (a) paciente) ( ) O (a) empregado (a) doméstico (a) ( ) Qualquer pessoa da casa Quanto o fato de tomar os medicamentos atrapalha o seu dia-a-dia? ( ) Atrapalha muito ( ) Atrapalha moderadamente (mais ou menos) ( ) Atrapalha pouco ( ) Não atrapalha Motivo do Uso 56 ADESÃO AO TRATAMENTO Qual a freqüência em que se esqueceu de tomar o medicamento? ( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Com freqüência ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca Alguma vez deixou de tomar os medicamentos, por sua iniciativa, por ter se sentido melhor? ( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Com freqüência ( ( ) Raramente ( ) Nunca ) Às vezes Alguma vez deixou de tomar os medicamentos, por sua iniciativa, por ter se sentido pior? ( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Com freqüência ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ACESSO AO MEDICAMENTO Como você adquire os medicamentos necessários para o seu tratamento? ( ) Pega todos no posto de saúde ( ) Pega alguns no posto de saúde (Quantos? _______) e compra os outros na Drogaria/ Farmácia (Quantos? _____) (RESPONDER PERGUNTA ABAIXO) ( ) Compra todos na Drogaria/ Farmácia ( ) Não adquire (RESPONDER PERGUNTAS ABAIXO) ( ) Outros __________________________ Se adquire os medicamentos PARCIALMENTE no posto de saúde, qual o motivo? ( ) Nem todos os medicamentos que necessita estão disponíveis no SUS ( ) Este medicamento sempre está em falta no posto ( ) Não sabe se tem no posto por isso compra ( ) Outros ___________________________________________________________________________ 57 Se NÃO ADQUIRE os medicamentos, qual o motivo? ( ) Os medicamentos necessários não estão disponíveis no posto e não possui renda para comprá-los ( ) Não precisa dos medicamentos ( ) Decidiu não utilizar os medicamentos devido às reações adversas ( ) Outros ___________________________________________________________________________ Tem alguma dificuldade em ter acesso ao medicamento? (RESPOSTA DO ENTREVISTADOR) ( ) Sim ( ) Não SE SIM, qual a dificuldade que você tem? (RESPOSTA DO PACIENTE) ( ) Precisa pegar ônibus / conduções; ( ) Demora para chegar no posto; ( ) Não encontra todos os medicamentos; ( ) Não encontra a quantidade necessária para o mês ( ( ) Tem dificuldade de chegar até o posto de saúde ) Outros ___________________________________________________________________________ Aproximadamente, quanto você costuma gastar por mês com a compra de seus medicamentos? Anotar o valor mencionado: R$__________ Tem conhecimento do programa Farmácia Popular? ( ) Sim ( ) Não Se sim, já utilizou este benefício? ( ) Sim ( ) Não 58 8. ANEXO A. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE O (a) Senhor (a) está sendo convidada a participar do projeto “fatores associados à utilização de medicamentos pelos pacientes atendidos no Ambulatório de Cardiologia do Hospital Regional de Ceilândia – DF”. O nosso objetivo é de avaliar os fatores relacionados à utilização de medicamentos pelos pacientes atendidos pela Clínica de Cardiologia do Hospital Regional de Ceilândia O (a) senhor (a) receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no decorrer da pesquisa e lhe asseguramos que seu nome não aparecerá sendo mantido o mais rigoroso sigilo através da omissão total de quaisquer informações que permitam identificá-lo (a) A sua participação será através de um questionário que você deverá responder no setor de Cardiologia do Hospital Regional de Ceilândia, na data combinada com um tempo estimado para seu preenchimento de 10 (dez) minutos. Não existe obrigatoriamente, um tempo pré-determinado, para responder o questionário. Será respeitado o tempo de cada um para respondê-lo. Informamos que a Senhor (a) pode se recusar a responder qualquer questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo para o senhor (a). Os resultados da pesquisa serão divulgados Hospital Regional de Ceilândia e na Universidade Católica de Brasília podendo ser publicados posteriormente. Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sobre a guarda do pesquisador. Se o Senhor (a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor telefone para: Eloá Fátima Ferreira de Medeiros, na Universidade Católica de Brasília telefone: 33569739, no horário: 8h às 16h. Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a outra com o sujeito da pesquisa. ______________________________________________ Nome / assinatura: ____________________________________________ Eloá Fátima Ferreira de Medeiros Pesquisadora Responsável Brasília, ___ de __________de 2011.