Artigo - Marli e Paulo

Propaganda
ARTIGO
Escrituras Corporais
¹ MARLI KAUFFMANN
² PAULO ROBERTO ZAVAGLIA KRÜGER
Na contemporaneidade as escrituras corporais, como piercings e tatuagens
podem ser vistos como signos da fragilidade identificatória e do desamparo. Por meio
deles adolescentes e jovens adultos buscam uma forma de inserção diante do
enfraquecimento das figuras familiares e das vicissitudes de um mundo pautado pela
força do capital.
O cenário público no que se refere à aparência dos adolescentes sofreu uma
transformação radical, cuja distinção se torna cada vez mais difícil de ser estabelecida.
A aparência corpórea se alterou de maneira significativa, oferecendo ao olhar do outro
um espetáculo de formas e cores que modifica o tradicional estatuto de civilidade no
que se refere ao corpo.
As escrituras corporais se multiplicam e se diversificam, evidenciando novas
complexidades e requintes nos traços, de modo a transformar as tatuagens em uma
marca especifica de muitos adolescentes.
Estas marcas nos remetem as práticas
indígenas de inscrever no corpo formas, cores e adereços que determinam um grupo.
Conforme Ana Costa (2003, p.17), “Tatuagem, piercings, escarificação, são
formas de fazer bordas. Denominamos de borda toda a relação que situa as fronteiras
corporais. De alguma maneira pareceria que, ao longo da historia do homem, fosse
sempre necessária a reconstituição, o recorte existente, das bordas do corpo. Esse
recorte tem a ver com a erotização e sua necessidade de suporte no Outro”.
Diante do apagamento identificatório e massificado da cultura contemporânea, o
adolescente impõe sua singularidade de forma ostensiva. A palavra passa ao corpo sob a
forma de assinaturas onde as idéias são expressas por meio de desenhos ou figuras
simbólicas.
Na adolescência, o corpo é tomado por intensas modificações biológicas e
psíquicas que podem ser equivalentes a uma vivência de invasão. O trabalho psíquico
próprio da adolescência encontra no corpo um cenário privilegiado de expressão.
As marcas corporais podem expressar as impossibilidades de simbolização das
próprias questões conflitivas da adolescência. Dessa maneira, as expressões no corpo
são abordadas não apenas como recursos de elaboração do excesso, próprio da
experiência
de
ressignificação
da
adolescência,
mas,
principalmente,
como
manifestações que podem revelar o fracasso desse processo.
Referências Bibliográficas:
COSTA, Ana. Tatuagem e Marcas Corporais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
BIRMAN, Joel. Escrituras corporais. In: Revista Mente e Cérebro: O Olhar
Adolescente: corpos em transição, Série especial, n°1. São Paulo: Duetto, (ano sem
registro).
¹ Estagiária da Clínica de Psicologia de Ijuí
² Estagiário da Clínica de Psicologia de Ijuí
Download