APRESENTAÇÃO oi com muito prazer que acompanhei a pesquisa e a produção do livro que se encontra em suas mãos. Deste trabalho destaco a especificidade da autora em aliar os cuidados necessários quando se tratou de coletar os dados num determinado campo, com a sutileza da escuta clínica, quando se tratou de ler e interpretar os dados colhidos. O trabalho de Beatriz Cauduro Cruz Gutierra vai tecendo um fio que busca enlaçar, para o leitor, três vastos mundos Adolescência, Psicanálise e Educação a partir de relatos de mestres que se mostraram “possíveis” para os adolescentes. Ressalto ser este um caminho pouco explorado na literatura contemporânea para aqueles que buscam um saber sobre adolescência e educação: sua singularidade se evidencia quando escolhe escutar e pontuar significantes relacionados ao sucesso não ao fracasso de mestres de adolescentes. As interrogações que podem existir para os leitores deste campo, e que a autora explora, poderiam ser assim formuladas: o que será que ocorre quando um professor consegue que uma determinada classe participe de sua aula, e até goste do conteúdo de sua disciplina, quando esta mesma classe é marcada como sendo “incontrolável” para a grande maioria dos professores? Como é possível alguns alunos que antes não gostavam de português, matemática ou qualquer outra matéria, passem a se apaixonar pelo seu conteúdo depois de ter um determinado professor? Como pode um professor conseguir disciplina — —, — — 12 Adolescência, Psicanálise e Educação em uma classe marcada pelo atributo de ser uma “pura zoeira” por outros? Nos capítulos iniciais, o leitor encontrará um importante diálogo que a autora vai tecendo com teóricos que produziram reflexões sobre a adolescência desde um histórico sobre seu nascimento, passando pelas obras de Freud e Lacan, até autores contemporâneos. Fruto de sua formação psicanalítica, a autora destacará a importância da posição subjetiva do professor como variável fundamental a ser considerada para pensarmos sobre os efeitos daquilo que ele diz, bem como do que se cala, daquilo que ele faz, bem como do que se nega a fazer com os seus alunos adolescentes. E com os traços deixados por sua história de vida que um professor se posiciona frente a um grupo de alunos; é marcado pela travessia de sua adolescência que ele buscará a sensibilidade possível para manter uma tensão importante entre “desejo” e “lei” em sala de aula. Desejo que, mais além daquele que possa ser endereçado ao Outro sexo, possa também ser endereçado a um desejo de aprender, a um desejo de querer saber, traço que parece ser marcante nos professores “possíveis” de adolescentes. Lei, que mais além das regras instituídas, de uma maneira geral, pela cultura de um povo, indica também a Lei do pai: o reconhecimento da importância da palavra dos seus mestres ancestrais. Os professores “possíveis” de adolescentes, como explora de maneira extremamente instigante a autora, têm o saber fazer a conjugação entre o desejo e a lei nas relações estabelecidas com seus alunos. Para finalizar, gostaria de pontuar que, como um trabalho analítico, este texto valoriza uma concepção de saber que não se restringe a um acúmulo de saber, ou seja, aponta para um mais além; um mais além daquilo que a academia possa oferecer como formação para um professor, um mais além que pode ter efeitos de interrogação para o leitor. Nesse sentido, fica um convite para que você inicie a leitura deste livro, e uma aposta de que uma interrogação com possibilidades de ter conseqüências possa ocorrer durante este trajeto... — Walkíriu Helena Grant Proftssora Doutora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo