Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnológica Interdisciplinar – VI MICTI Instituto Federal Catarinense – Câmpus Camboriú 30 a 31 de outubro de 2013 A REGRESSÃO LINEAR EM EVENTOS HIDROLÓGICOS EXTREMOS: enchentes Ester Hasse1; Veruschka Rocha Medeiros Andreolla2; Gilberto Mazoco Jubini3 INTRODUÇÃO Define-se por enchente, o extravasamento de agua excedente de um rio que atinge o seu leito maior excepcional. Os principais impactos sobre a população consistem nos prejuízos com perdas materiais e humanas, interrupção da atividade econômica das áreas inundadas, contaminação de doenças de veiculação hídrica e a contaminação da agua pela inundação de deposito de material tóxico, estações de tratamento, entre outros. O rio Itajaí-Açu, situado na Bacia Hidrográfica do Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina, sofre freqüentemente com o fenômeno das enchentes em resposta às precipitações intensas, o qual pela intervenção antrópica por meio dos mais diferentes usos como cultivo, moradia, instalações industriais. A irregularidade do evento dá uma “margem de segurança” quanto à ocupação dessas áreas. De acordo com BIEMBEGUT (1999), a modelagem matemática sempre esteve presente na criação das teorias científicas. Modelagem matemática é representar segundo um modelo. A modelagem pode ser vista como o esforço de descrever matematicamente o que é escolhido ou surge naturalmente. Para BASSANEZI (1994) a modelagem matemática consiste na arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos. E resolver interpretando suas soluções na linguagem do mundo real. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo a utilização da modelagem para a simulação de eventos hidrológicos extremos, as enchentes, para auxiliar na tomada de decisão. 1 Acadêmica do Instituto Federal Catarinense - Campus Rio do Sul. Licenciatura em Matemática. Email: [email protected] 2 Professor Orientador Dra Eng. Agrônoma, Pós- doutoranda da UFPR, Curitiba – PR Instituto Federal Catarinense. E-mail: [email protected] 3 Professor Orientador, Msc. Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal Catarinense - Campus Rio do Sul. E-mail: [email protected] Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnológica Interdisciplinar – VI MICTI Instituto Federal Catarinense – Câmpus Camboriú 30 a 31 de outubro de 2013 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O trabalho foi desenvolvido na região do Alto Vale do Itajaí, situado na Bacia Hidrográfica Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina, nos municípios localizados às margens do Rio Itajaí-Açu. O método de previsão foi desenvolvido através de uma série cronológica de dados de cotas máximas de enchentes, coletados e adquiridos em órgão da União do Governo Federal, a partir dos quais elaborou-se um modelo matemático correlacionando pontos da pluviosidade e do nível do rio do Rio Itajaí-Açu. O modelo matemático apresenta resultados satisfatórios para a previsão de enchentes do Vale. O monitoramento do grande volume de chuvas e o movimento das águas dos Rios que compõem a bacia do Alto vale ocorre de forma permanente. Duas grandes barragens de Ituporanga e Taió, protegem o Rio ItajaíAçu. Conforme a elevação do nível do Rio no ponto de monitoramento na cidade de Rio do Sul inicia-se o fechamento ou abertura das comportas das barragens. Foi realizada uma modelagem matemática consistindo na utilização de uma curva modelada a partir da correlação linear simples e mostrando o comportamento do nível do Rio na Cidade de Rio do Sul nas enchentes de 2001, 2005, 2010 e 2011. O modelo foi utilizado a partir dos dados coletados das 19 horas do dia 1 de outubro de 2001 às 11h do dia 08 de outubro de 2001, das 7 horas do dia 5 de setembro de 2005 às 7h do dia 10 de setembro de 2005, das 7 horas do dia 27 de abril de 2010 às 17h do dia 06 de maio de 2010, das 20 horas do dia 9 de setembro de 2011 às 7h do dia 23 de setembro de 2011. RESULTADOS E DISCUSSÕES O modelo a seguir consiste na utilização de uma curva modelada a partir da correlação linear simples. Estabelecer uma relação funcional entre duas variáveis x e y a partir de um conjunto de dados observados xi , yi . O problema consiste em dados n pares de valores ( x1 , y1 ), ( x2 , y2 ),..., ( xn , yn ) das variáveis x e y determinar os parâmetros de uma formula empírica que represente essa relação funcional. Sabendo que existe essa relação de dependência linear de y em relação à x pretende se estabelecer os parâmetros a e b para que a fórmula axi + b melhor represente os valores de yi . A escolha da formula empírica, denominada função de Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnológica Interdisciplinar – VI MICTI Instituto Federal Catarinense – Câmpus Camboriú 30 a 31 de outubro de 2013 ajuste, é realizada a partir de considerações teóricas que possam fundamentar sua eleição. Não existindo tais considerações, a partir do gráfico de pontos xi , yi (diagrama de dispersão) determina se o tipo de curva (curva de ajuste) que melhor reproduza a sua distribuição. A seguir a função de ajuste será expressa como Y (x) e os valores calculados, a partir desta, para abcissas xi como Y( i ) (Y( i ) = Y( xi ) ) Os valores observados apresentam reflexos de fatores secundários e erros de medição pelo que a curva de ajuste não passara pelos pontos P ( xi , yi ) . Procura se que as diferenças entre os valores de xi e Yi sejam as menores possíveis. O ajuste Linear é aplicar o critério dos mínimos quadrados no ajuste a uma reta Y ( x) = a ( x) + b implica determinar o valor dos parâmetros a e b que n n i i =1 minimizem a soma S (a, b) = ∑ [Yi − yi ]2 = ∑ [(axi + b) − yi ]2 . O método dos mínimos quadrados trata se a ao ajuste de um conjunto de dados para uma combinação linear de s funções ϕ1 ,ϕ 2 ,...,ϕ s : Y ( x) = a1ϕ1 ( x) + a2ϕ 2 ( x) + ... + asϕ s ( x) O problema pode ser conhecidos n valores y1 , y2 ,..., yn correspondente as abscissas x1, x2 ...xn , determinar os coeficientes a1 , a2 ,...an , que minimizam a soma. n s i =1 k =1 S (a1 ,..., an ) = ∑ [ yi − ∑ akϕ k ( xi )]2 O valor mínimo da soma S (a1 ,..., an ) é atingido no ponto em que se anulam ao mesmo tempo as derivadas ∂s (k = 1,2,..., s ) ∂ ak n ∂s = 2∑{[(a1ϕ1 ( xi ) +a2ϕ2 ( xi ) + ..., asϕ s ( xi )) − yi ]ϕ k ( xi )} = 0, k = 1,2,..., s ∂ ak i =1 Este conjunto de s equações lineares forma o seguinte sistema: (ϕ1 ,ϕ1 ) (ϕ 2 ,ϕ1 ) ⋅⋅⋅ (ϕ ,ϕ ) n 1 (ϕ1,ϕ2 ) (ϕ2 ,ϕ2 ) ⋅⋅⋅ (ϕn ,ϕ2 ) ⋅⋅⋅ ⋅⋅⋅ ⋅⋅⋅ ⋅⋅⋅ (ϕ1,ϕn ) a1 (ϕ2 ,ϕn ) a2 ⋅⋅⋅ (ϕn ,ϕn ) ⋅ ⋅ ⋅ a n (ϕ1 , y ) (ϕ 2 , y ) = ⋅⋅⋅ (ϕ , y ) n Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnológica Interdisciplinar – VI MICTI Instituto Federal Catarinense – Câmpus Camboriú 30 a 31 de outubro de 2013 n Onde (ϕ j , ϕ k ) = ∑ [ϕ k ( xi )ϕ j ( xi )] i =1 n e (ϕ j , y ) = ∑ [ϕ k ( xi ) yi ] .A solução do i =1 sistema defini os parâmetros a1 , a2 ,...an , do ajuste. Muitas vezes é possível transformar um ajuste não linear em linear através de uma troca de variáveis. Essa metodologia foi amplamente usada devido à dificuldade, no caso não linear, de obter o ponto mínimo da soma dos quadrados dos resíduos S = (a1 , a2 ..., as ) . A troca de variáveis permite converter o problema num ajuste a uma parábola. Y ( x) = 1 . ax + bx + c 2 Na figura 1, foi estabelecida a correlação entre a cota máxima atingida pelo nível do rio e o tempo para retornar ao nível normal após o término das chuvas foi possível estabelecer os seguintes resultados. Coeficiente de Determinação (R²) = 0,936 Função Y = 9e − 0,5 x 2 − 0,0519 x + 12,815 Onde: Y = nível do rio; x = tempo em horas; Figura 1 - Correlação entre a cota máxima atingida pelo nível do rio e o tempo para retornar ao nível normal após o término das chuvas. Os coeficientes de determinação (R²) indicam uma forte correlação entre o nível do rio e o tempo para retornar ao nível normal após o término das chuvas, a correlação apresentou 93,60% de dependência, possivelmente devido a grande volume das chuvas ocorrido no período. A influência de outras variáveis não são consideradas no modelo, porém o aumento da população e as construções na margem do rio, sem matas ciliares em suas margens, são fatores que influenciam a Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnológica Interdisciplinar – VI MICTI Instituto Federal Catarinense – Câmpus Camboriú 30 a 31 de outubro de 2013 velocidade da água no leito do rio. Neste sentido, pode-se projetar o tempo que o rio gastará para voltar o leito ao nível normal a partir do momento que atinge a cota máxima e a paralização da chuva. Segundo CHRISTOFOLETTI (1999), os modelos matemáticos para previsão geralmente são construídos embasados em análises de regressão. Embora o modelo tenha sido obtido através do método de regressão, apresente bom desempenho, principalmente nas correlações, este apresenta algumas limitações, sobretudo quanto à distribuição espacial da chuva sobre a Bacia do Vale do Itajaí, o tempo de pluviometria e a quantidade precipitada. As limitações dos modelos hidrológicos também foram apontadas por TUCCI (1998), que apesar de considerarem uma ferramenta extremamente útil que permite, através da equacionalização dos processos, representar, entender e simular o comportamento de uma bacia hidrográfica, afirmam ser impossível ou inviável traduzir todas as relações existentes entre os diferentes componentes da bacia hidrográfica em termos matemáticos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O modelo pode ser adotado para a previsão de enchentes do Rio ItajaíAçu, sobretudo, na cidade de Rio do Sul, porém é necessário adotar margens de erro no momento de alerta à população. REFERÊNCIAS BORCHE,ALEJANDRO. Métodos Numéricos. Porto Alegre: Editora da UFRGS,2008. BASSANEZI, R.C. Ensino-aprendizagem com Modelagem Matemática. 3. Ed. São Paulo: Contexto, 2006. BIEMBENGUT, M.S.; HEIN, N. Modelagem Matemática no Ensino. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2003. CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Edgard Blücher, 1999. TUCCI, C.E.M. Modelos Hidrológicos. 10. ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998. TUCCI, C.E.M. Hidrologia – Ciência e Aplicação. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2000.