Otimização de parâmetros para a produção em larga escala

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI
PRÓ-REITORIA DE ENSINO
ENGENHARIA AGRONÔMICA
Caio Fortes Campos Luiz
Otimização de parâmetros para a produção em larga escala de
baculovirus para Chrysodeixis includens (Walker, 1858) (Lepidoptera:
Noctuidae).
SETE LAGOAS
2016
Caio Fortes Campos Luiz
Otimização de parâmetros para a produção em larga escala de
baculovirus para Chrysodeixis includens (Walker, 1858) (Lepidoptera:
Noctuidae).
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao curso de Engenharia Agronômica da
Universidade Federal de São João Del Rei
como requisito parcial para obtenção do título
de Engenheiro Agrônomo.
Área de concentração: Entomologia.
Orientadora: Cidália Gabriela Santos Marinho.
SETE LAGOAS
2016
Caio Fortes Campos Luiz
Otimização de parâmetros para a produção em larga escala de
baculovirus para Chrysodeixis includens (Walker, 1858) (Lepidoptera:
Noctuidae).
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao curso de Engenharia Agronômica da
Universidade Federal de São João Del Rei
como requisito parcial para obtenção do título
de Engenheiro Agrônomo.
Sete Lagoas, 20 de Junho de 2016.
Banca examinadora:
__________________________________________________
Dr. Fernando Hercos Valicente – Embrapa Milho e Sorgo
___________________________________________________
Prof. Marcos Antônio Matiello Fadini - UFSJ
__________________________________________________
Profa. Cidália Gabriela Santos Marinho – UFSJ
Orientadora
AGRADECIMENTOS
O Deus por tornar todos os meus sonhos possíveis, e estar ao meu lado em
todos os momentos.
A minha mãe por sempre estar ao meu lado dando forças.
Aos familiares pelo apoio incondicional, e por terem acreditado sempre na
minha capacidade.
Aos colegas do Laboratório de Controle Biológico, pela amizade e apoio.
Dr. Fernando H. Valicente, pela oportunidade, conselhos e dedicação.
A orientadora do trabalho, Cidália G. Marinho, pela atenção incondicional e
paciência.
Ao professor Marcos Antônio M. Fadini, pela participação na banca.
Aos amigos de convivência durante a graduação.
Aos mestres, com carinho, pela dedicação em nos tornar grandes profissionais.
A todos os colaboradores da UFSJ pela disponibilidade.
A Tamires, pela paciência e companheirismo.
A EMBRAPA MILHO E SORGO e seus colaboradores pelos anos de estágio.
A FAPED pela concessão da bolsa.
Aos alunos de Doutorado e Pós-Doutorado do laboratório pela paciência e
apoio na realização do trabalho.
A todos os envolvidos de forma direta e indireta na concretização deste
trabalho.
RESUMO
A lagarta Chrysodeixis includens é considerada uma das pragas
principais na cultura da soja. Para seu controle, alternativas viáveis como a
utilização do baculovírus são imprescindíveis, por ser uma alternativa
sustentável e baixo custo. O objetivo deste trabalho foi encontrar a combinação
de melhores condições para a produção em massa de poliedros virais para que
possam ser empregados no controle biológico de C. includens. Os isolados
foram obtidos a partir de coletas de lagartas de C. includens contaminadas em
lavouras de soja. Para o presente trabalho foi escolhido o isolado 15. O
experimento consistiu em avaliar a produção de poliedros (PIB) por lagarta
infectada e as variáveis foram a idade do inseto, sendo (15 e 16 dias), as
concentrações do baculovirus utilizadas na infecção (4,3 x 106 e 107 pol/ml) e
três temperaturas de incubação (22°C, 25°C e 28°C). Foram utilizadas 21
lagartas por tratamento. Após 24hrs alimentando das folhas com vírus, foi
oferecida a elas dieta artificial. A contagem dos poliedros foi feita com o auxílio
da câmara de Neubauer. O delineamento utilizado foi o fatorial, e os dados
foram analisados no programa ASSISTAT 7.7 beta, e para a comparação de
médias utilizou-se o Teste de Tukey a 5% de significância. Os resultados não
mostraram diferenças nos tratamentos em relação à idade e concentração,
porém para temperaturas mais elevadas houve diferença significativa na
produção de poliedros. Para a temperatura de 25°C, encontrou-se em média
9,5 x 109 pol/lagarta, 7,9 x 109 pol/lagarta para 28°C e 7,3 x 109 pol/lagarta, em
média, na temperatura de 22°C. Os resultados encontrados mostram a
viabilidade da utilização do baculovirus, considerando temperaturas de 25°C e
28°C, servindo de ponto de partida para avaliação de outros parâmetros
consideráveis.
Palavras-chave:
integrado de pragas.
Entomopatógenos.
Controle
Biológico.
Manejo
ABSTRACT
Chrysodeixis includens is considered one of the most important pests in
soybean crops. It´s control may be achieved using different alternatives,
including the use of baculovirus, for being a sustainable alternative and low
cost. The objective of this study was to detect the best parameters to produce
baculovirus as it is in a large scale system, so they can be used as a biological
control agent of the C.includens. The isolates were collected from contaminated
C. includens caterpillars in soybean crops. For this study isolate 15 was chosen.
The experiment consisted in evaluating the production of polyhedral inclusion
bodies (PIB) by infected caterpillar and the variables were: age of the larvae(15
and 16 days old), concentration of baculovírus used in the infection (4,3 x 106 e
107 pol/ml), and three incubation temperatures (22°C, 25°C and 28°C). 21
caterpillars per treatment were used. After 24h of feeding on the contaminated
leaves larvae were transferred to artificial diet. The counting of the PIBs was
done using a Neubauer´s chamber. ASSISTAT 7.7 beta program was used to
analyze the data in a experimental factorial design, and the means were
compared using Tukey at 5%. The results in the treatment were similar and did
not show differences between age and concentration of PIBs, however, high
temperatures demonstrated a significant difference in the production of PIBs.
For the temperature of 25°C was found on average 9,5 x 109 pol/ caterpillar, 7,9
x 109 pol / caterpillar to 28°C and 7,3 x 109 pol / caterpillar, on average,
temperature 22°C. The results show the feasibility of using baculovirus, where
as temperatures of 25°C and 28°C, serving as a starting point for evaluation of
other significant parameters.
Keywords:. Entomopathogens. Biological Control. Integrate pest
management
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8
2.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 11
Cultura da soja ............................................................................................................ 11
2.1.
3
2.2
Pragas desfolhadoras da soja ............................................................................ 13
2.3
Controle de Chrysodeixis includens ................................................................. 16
2.4
Controle biológico de Chrysodeixis includens .............................................. 18
MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 20
3.1
Criação de Chrysodeixis includens................................................................... 20
3.2
Multiplicação e seleção dos isolados ............................................................... 22
3.3
Testes com Isolado 15 .......................................................................................... 23
4
RESULTADOS ................................................................................................................. 26
5
DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 29
6
CONCLUSÃO ................................................................................................................... 31
7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 31
8
1. INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max (L) Merril) é um produto agrícola de grande
interesse sócio-econômico, por apresentar altos teores protéicos, produtividade
dos grãos e sua adaptação a diversos ambientes (XU et al., 1989). Com auxílio
do melhoramento genético e o desenvolvimento de novas cultivares adaptadas
a baixas latitudes, a migração dos centros de produção Sulistas para o CentroOeste foi possível. No Brasil se cultiva soja nos mais variados ambientes,
desde locais com baixas latitudes (Centro-Oeste, Norte e Nordeste), até as
mais altas latitudes (Sul e Sudeste) (ROCHA, 2002; BUENO, 2008). Além
disso, a cultura oferece uma vasta opção de produtos e derivados como, por
exemplo, óleo, farelo, torta, ração animal etc.
A ocorrência de áreas extensas de cultivo da soja traz benefícios como,
por exemplo, a alta produção de grãos, entretanto, o plantio em áreas extensas
e ainda a utilização de sistemas de cultivo continuada no tempo e espaço
trazem problemas fitossanitários como a ocorrência de pragas. Diversas
espécies de insetos vêm causando danos à cultura da soja, que está sujeita a
ataques desde a germinação até a colheita, trazendo danos econômicos e
queda
no
rendimento
ou
qualidade
do
produto
final
(KLEIJN
&
LANGEVELDEB, 2006).
Dentre as pragas que ocorrem em cultivos de soja, as lagartas Anticarsia
gematallis (HUBNER, 1818), e Chrysodeixis includens (WALKER, 1858)
(Lepidoptera: Noctuidae) e os percevejos, principalmente Nezara viridula
(LINNAEUS, 1758), Piezodorus guildini (WESTWOOD, 1837) e Euschistos
heros (FABRICIUS, 1794) (Hemiptera: Pentatomidae), são consideradas
pragas chaves (EMBRAPA, 2006). Sendo que as lagartas desfolhadoras
podem ocorrer em estádios distintos da cultura, atacando várias partes da
planta, principalmente as folhas (DEGRANDE & VIVIAN, 2011).
A principal forma de controle de C. includens é o químico, sendo que em
algumas situações são necessárias mais de uma aplicação (OLIVEIRA, 2014).
Entretanto, a utilização de inseticidas com amplo espectro em misturas com
herbicidas antes e após a semeadura, têm favorecido a incidência de surtos do
inseto, principalmente pela eliminação dos inimigos naturais, aumentando
9
assim as aplicações pelos produtores durante o cultivo da soja (MOSCARDI,
2008; EMBRAPA, 2009). Essas práticas de manejo incorretas junto a
aplicações excessivas de fungicidas têm favorecido em grande escala o
aumento das populações de C. includens, uma vez que estas aplicações estão
contribuindo para a redução dos entomopatogénos que reduzem a população
desse inseto praga (SCHILICK-SOUZA, 2013). Além disso, a utilização
indiscriminada de agrotóxicos contamina o homem do campo e o consumidor
dos produtos agrícolas prejudicando a sua saúde. Outro aspecto que merece
destaque é que a utilização de inseticidas tem acrescido o custo de produção,
e muitas vezes não apresentando resultados positivos no controle de pragas.
Diante disso, é urgente o desenvolvimento de práticas de manejo de
pragas alternativas aos métodos tradicionais. Nesse caso, a realização de
estudos voltados ao controle biológico de pragas é necessário. Vários são os
exemplos de emprego bem sucedido de liberação de inimigos naturais no
campo para o controle de pragas (PARRA, 2002).
Táticas do controle biológico empregadas no manejo de pragas têm
mostrado eficiência. O exemplo disto tem-se a liberação dos ovos de
hospedeiros
parasitados
com
Trichogramma
(Hymenoptera:
Trichogrammatidae), utilizado em diversas culturas. Na cana-de-açucar
Trichogramma galloi (Hymenoptera: Trichogrammatidae) é utilizado no
parasitismo dos ovos de Diatraea saccharalis (FABRICIUS, 1974) (Lepidoptera:
Crambidae) além do uso de Cotesia flavipis (CAMERON, 1891) (Hymenoptera:
Braconidae), parasitoide da larva (SIMONATO et al., 2014) da mesma praga.
Insetos predadores também vêm sendo utilizados no manejo de pragas.
Pesquisas com o percevejo Podisus nigrispinus (DALLAS, 1851) (Hemiptera:
Pentatomidae) demonstraram que esse predador apresenta potencialidade no
controle de lagartas desfolhadoras (ZANUNCIO et al., 2002). Os crisopídios
(Neuroptera) realizam a predação de diversos insetos. Eles são vorazes e
capazes de alimentar-se de grandes quantidades de suas presas (BEZERRA,
2009). Para o pulgão, por exemplo, existe o controle natural por algumas
espécies de joaninhas, como a Cycloneda sanguínea (LINNAEUS, 1763),
Eriopis connexxa (GERMAR, 1824) e Hippodamia convergens (GUERINMENEVILLE, 1842) (Coleoptera: Coccinelidae) (FIORENTIN et al., 2013). Além
10
destas alternativas, o uso de entomopatogénos apresenta boas perspectivas
no controle de pragas, como o Bacillus Thuringiensis no controle de
Spodoptera frugiperda (VALICENTE, 2015). O fungo Metarhizium anisopliae è
utilizado na cultura da cana-de-açucar para controle da cigarrinha-das-raízes
(MACEDO, 2006), e ainda os baculovirus, como o Baculovirus anticarsia e o
Baculovirus
spodoptera,
também
eficientes
no
controle
de
lagartas
desfolhadoras (SIMONATO et al., 2014).
A utilização do controle biológico de pragas com microorganismos é uma
alternativa ao uso de produtos químicos, trazendo consigo algumas vantagens
como sua alta especificidade, não afetando outros insetos, plantas e animais
(SAVIO & PINOTTI, 2008). O baculovirus surge como um modelo para virologia
animal, uma vez que os insetos possuem ciclo de vida curto, permitindo sua
multiplicação massal em laboratório (CASTRO et al., 1999). No ambiente
ocorrem naturalmente em populações de insetos, persistindo na natureza,
dando continuidade a sua disseminação e mantendo as populações da praga
abaixo do nível de injúria econômica tolerado pela cultura. Eles são restritos a
invertebrados, não causando portanto, problemas ao homem e ao ambiente
(NOHATTO et al., 2010). Quando aplicados de forma correta, apresentam
eficiência similar ao controle químico de pragas (SAVIO & PINOTTI, 2008).
Com o objetivo de desenvolver alternativas para o controle de C.
includens, este trabalho testa melhores condições em laboratório para
multiplicação de baculovírus, otimizando a sua produção em larga escala.
11
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1.
Cultura da soja
A cultura da soja (Glycine max (L.) Merril) pode ser considerada a
oleaginosa mais importante dentre as produzidas no Brasil. No país, seu cultivo
comercial passou a ter maior importância econômica em meados da década de
40, no estado do Rio Grande do Sul, sendo utilizadas cultivares desenvolvidas
nos Estados Unidos da América (EUA) (VERNETTI, 1983; ALMEIDA & KIIHL,
1998). Com o aumento do preço da soja no mercado mundial a partir da
década de 70, os agricultores e do governo brasileiro aumentaramo interesse
em seu cultivo. Uma das vantagens competitivas em relação a outras regiões
produtoras, por exemplo, está o escoamento brasileiro, o qual ocorre na
entressafra americana, onde os preços estão em maiores cotações (EMBRAPA
SOJA, 2016). Atualmente o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja,
superado pelos EUA (EMBRAPA SOJA, 2016). De acordo com a CONAB
(2016), há uma tendência de incremento de 3,6% do total da área plantada na
safra 2015/2016 resultando em uma área de 33.234 mil hectares, com
produção média estimada em 100.993 toneladas.
Diversos são os motivos da opção pelo cultivo da soja, dentre esses o
incremento na demanda pelo grão ocasionado pela sua utilização e de seus
derivados. O farelo de soja representa em média 19,7%, em quantidade, de
todas as matérias-primas utilizadas nas rações animais, perdendo apenas para
o milho (SOARES JÚNIOR et al., 2004). Na alimentação humana, as
tendências pelos chamados alimentos funcionais, aumentam as perspectivas
da indústria alimentícia para o desenvolvimento de produtos a base de soja.
Isto porque a soja é uma fonte de nutrientes importante e ainda apresenta
capacidade de reduzir o risco do desenvolvimento de doenças crônicodegenerativas (BEDANI, 2007). Além de alimentos, a utilização de produtos de
origem vegetal na produção de biocombustíveis vem crescendo fortemente, em
substituição de fontes como carvão e petróleo (MARGARIDO et al., 2014). Em
relação às fontes de matéria-prima vegetal para a produção do biodiesel, a soja
12
representou em 2014, 74,9% de participação, equivalente a 2.056.118 m³
(ABIOVE, 2014).
Devido à demanda pelo grão e aos novos materiais genéticos
desenvolvidos pelos institutos de pesquisa nacionais, direcionados ao cultivo
em áreas de clima tropical, a soja é cultivada na maioria das regiões do país
(CAMPOS, 2011).
O desenvolvimento de novas técnicas na área de biologia molecular,
como manipulação de genes aliados a transformações genéticas de plantas,
surge como um novo atrativo para pesquisadores, como uma arma
interessante no controle de pragas. A utilização de genes que codificam
atividade inseticida tornou-se uma alternativa poderosa no controle destes
insetos (SILVA-FILHO & FALCO, 2000). A primeira cultivar de soja começou a
ser utilizada comercialmente a partir de 2010, sendo expressa em seu material
genético a proteína Cry1Ac de bt, tendo como principal alvo o controle de A.
gematallis e C. includens além de Heliothis virescens (Fabricius, 1781)
(Lepidoptera:
Noctuidae),
Crosidosema
aporema
(Walsingham,
1914)
(Lepidoptera: Tortricidae) e Rachiplusia nu. (Guenée)(Lepidoptera: Noctuidae).
Resultados de pesquisas com a proteína Cry1Ac expressa em linhagens de
soja apresentaram 100% de mortalidade para C. includens em todas as suas
repetições (BEDINETAL, 2015). Bernardi (2012) relaciona o alto grau de
controle em C. includens ao fato da proteína Cry1Ac ser expressa a níveis
elevados durante todo o desenvolvimento da soja.
Além da utilização das novas cultivares transgênicas, outras técnicas no
controle de pragas, seja ele químico, biológico, físico ou cultural, são
importantes para que a população de insetos não alcancem níveis de dano
econômico, onde a praga começa a trazer prejuízos econômicos ao produtor
(CISOJA, 2016). Assim, a realização de pesquisas que tem como objetivo
desenvolver tecnologias para o controle alternativo de pragas no campo é
crucial para a agricultura moderna.
13
2.2
Pragas desfolhadoras da soja
A expansão do cultivo da soja no Brasil iniciado na década de 70, em
sistemas de monocultivos, trouxe consigo o aumento da incidência de pragas.
A transformação de ambientes heterogêneos em vegetação em ambientes
homogêneos promoveu à eliminação das diversas fontes alimentares dos
insetos, assim, surgiram adaptações na alimentação dos insetos pragas, sendo
alguns destes direcionados para a cultura da soja. Além disso, o constante uso
inadequado de produtos químicos no controle de pragas e doenças vem
ocasionando problemas. Dentre esses se pode ressaltar a ressurgência de
pragas, casos de resistência, surtos de pragas secundárias, redução da
incidência de insetos benéficos (predadores, parasitoides e polinizadores),
além da contaminação das fontes de água, do subsolo e intoxicação de
animais (SANTOS, 2013).
Dentre insetos desfolhadores que causam danos á soja, tem-se
Spodoptera eridania (Cramer, 1782), S. frugiperda (J.E. Smith, 1797), S.
cosmioides (Walker, 1858) (Lepidoptera: Noctuidae), e H. virescens. Destacamse ainda a lagarta-da-soja, A. gemmatalis (Hubner, 1818) (Lepidoptera:
Noctuidae) e as lagartas do complexo Plusiinae, sendo a principal C. includens
(Walker, 1857) (Lepidoptera: Noctuidae), causando prejuízos consideráveis em
culturas de importância econômica (MOSCARDI, 2012). Tem ocorrência
registrada desde o norte dos EUA até o sul da América do Sul, incluindo países
como Argentina, Chile e Brasil. Há relatos de C. includens também na Austrália
se estendendo até as Índias Ocidentais (CABI, 2016).
Chrysodeixis includens, conhecida comumente por falsa-medideira, se
tornou relevante no cultivo da soja a partir das safras 2000/2001 e 2001/2002,
como consequência das mudanças do manejo no sistema produtivo, se
tornando praga principal em diversas regiões do Brasil (BUENO et al., 2007). O
controle natural de C. includens é realizado por fungos entomopatogênicos e
insetos parasitoides (BUENO, 2008). No entanto, de acordo com Bueno et
al.(2007) e Sosa-Gómez et al. (2003), aplicações indevidas de fungicidas na
tentativa de controlar a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora
14
pachyrhizi (SYDOW & P.SYDOW, 1902), estão interferindo negativamente na
população de entomopatógenos, prejudicando o controle biológico natural de
C. includens e aumentando a sua população.
O ciclo de vida de C. includens tem duração média de 46 dias, com uma
duração de 5 dias para o ovo, 20 dias para larva, 7 dias para pupa e 14 dias
para a fase adulta (CARVALHO et al., 2012). Os ovos são de coloração
amarelada, apresentando estrias longitudinais, e colocados isoladamente na
porção inferior das folhas (BENASSI, 2012). A fêmea oviposita entre 500 e
1300 ovos em toda a sua vida, durante o período noturno (JOST & PITRE,
2002). Possuem em média 0,5 mm de diâmetro, e o desenvolvimento
embrionário tem uma duração de até 2,5 dias (PETERSON, 1964).
A lagarta apresenta três pares de falsas pernas localizadas na região
abdominal, tornando seu movimento semelhante à ação de medir palmos, com
grande movimento do corpo (SOSA-GÓMEZ et al., 2010). Possuem ainda uma
coloração esverdeada com linhas brancas longitudinais e pontuações pretas ao
longo do seu corpo. De acordo com SMILOWITZ (1973), a coloração pode
variar de acordo com sua alimentação e variações genéticas, além de
mudanças notórias, de verde-amarronzada-clara para verde-limão-translúcida
para cada instar. Podem atingir em média 40-45 mm de comprimento até o seu
último instar larval (SOSA-GÓMEZ et al., 2010), além disso, as mesmas
possuem características internas na mandíbula que as diferenciam das demais
lagartas do complexo Plusiinae (ZUCCHI et al., 1993; GALLO et al., 2002).
O período de pupa tem uma duração de 7 a 9 dias, até a emergência
dos adultos, passando de uma coloração amarelo-pálida para verde-clara,
tornando se escuras ao fim da fase (VAZQUEZ, 1988).
Os adultos possuem envergadura de 30 a 38 mm, com as asas
posteriores
de
coloração
marrom-acinzentada
(SOSA-GÓMEZ,
2012),
apresentam aindaduas manchas marcantes de cor prateada brilhante no
primeiro par de asas dispostas em formato de quilha quando em repouso
(CARVALHO et al., 2012)
15
A lagarta, fase que promove prejuízos na cultura da soja, apresenta
preferência nos instares iniciais por folhas mais tenras, com menor quantidade
de fibras, e a partir do terceiro instar consomem áreas foliares maiores,
mantendo as nervuras principais intactas, conferindo as folhas um aspecto
rendilhado (HERZOG, 1980; BUENO et al., 2009). Esta fase do inseto promove
perdas expressivas na cultura da soja uma vez que possui uma alta
capacidade de consumo de área foliar, podendo chegar a 200 cm², enfatizando
os
cuidados
com
a
lagarta,
tomados
durante
todo
o
período
de
desenvolvimento das plantas. Também já sendo encontrados ataques de
lagartas grandes em vagens já formadas de soja (TOMQUELSKI et al., 2015).
Um terceiro fator importante a se considerar da espécie é o seu favorecimento
em condições de seca, ou períodos de seca que antecederam os surtos,
levando a maiores cuidados nas tecnologias empregadas para seu controle
(DEGRANDE & VIVIAN, 2008).
Outro agravante com relação a essa praga é que foram identificadas
aproximadamente 73 espécies de plantas, pertencentes a 29 famílias, as quais
são atacadas por esse inseto, sendo que dentre as de importância agrícola
tem-se o algodoeiro, feijoeiro, o fumo, o girassol e várias hortaliças (HERZOG,
1980; OLIVEIRA et al., 2010). Neste caso, maiores cuidados devem ser
tomados em áreas de plantio de soja, que apresentem essas culturas, as quais
poderiam
também
ser
atacadas,
constituindo
assim
em
hospedeiros
alternativos.
Considerando a importância de C. includens como inseto praga, o seu
controle é dificultado devido a sua permanência no terço médio das plantas.
Esse posicionamento da praga prejudica a ação inseticida, obrigando aos
produtores a utilização de doses elevadas de produtos químicos para efetivar o
controle, uma vez que as folhas superiores agem como barreira física
(DEGRANDE & VIVIAN, 2008; TOMQUELSKI et al., 2015). Além de a espécie
ser mais tolerante às dosagens usuais quando comparadas a A. gematallis, por
exemplo, (BERNARDI, 2012).
Vale ressaltar que no ano de 2015 registrou-se um aumento nos custos
da safra onde a espécie foi encontrada. Em decorrência do aumento no
16
número de aplicações, os produtores de soja estão gastando até R$100,00 a
mais por hectare para seu combate, projetando uma redução de até 5 sacas de
soja por hectare devido ao seu ataque severo (CARDOSO et al., 2015; PAPA
et al., 2011).
As dificuldades encontradas na eficiência do controle químico dessa
praga apontam para a realização de pesquisas que considerem formas
alternativas de controle e que sejam mais eficiências e de baixo prejuízo
ambiental, por exemplo, o controle biológico.
2.3
Controle de Chrysodeixis includens
As interações entre o ambiente, planta, produção e o manejo definem a
produtividade desejada da cultura (MAUAD et al., 2010). A proteção das
plantas é indispensável no seu manejo, reduzindo problemas fitossanitários
causados por pragas, doenças e plantas invasoras. Os métodos conhecidos
consistem na utilização de práticas tradicionais e tecnológicas, entre elas,
exemplos como genéticos, físicos, químicos, culturais e biológicos (GALLO et
al., 2002).
Nesse caso, ao escolher o método químico, deve-se dar destaque na
escolha de produtos com menor impacto sobre a população de inimigos
naturais, conhecendo seus efeitos e garantindo a sua seletividade, permitindo a
integração dos métodos químicos e biológicos (MENDES NETO, 2014).
O consumo de inseticidasnas lavouras aumentou nos últimos anos,
como parte da modernização do sistema produtivo (GHINI & BETTIOL, 2000).
No Brasil, o consumo de defensivos no ano de 2015 chegou a 887,6 toneladas,
tendo um aumento de 14% nos último 5 anos (SINDIVEG, 2016). O alto
consumo desses produtos e ainda o seu uso indevido pode trazer problemas
como resistência de insetos (PARRA et al., 2002).
Paralelamente ao controle químico utilizado para o combate a praga, um
grande número de inimigos naturais está presente nas lavouras de soja.
Naturalmente, quando em equilíbrio, esses inimigos naturais são responsáveis
17
por manter a população de C. includens em níveis aceitáveis. Levantamentos
realizados, como o feito por Moraes et al.(1991) no estado do Rio Grande do
Sul, apresentaram a ocorrência de parasitismo por diversas espécies, por
exemplo, dípteros da família Tachinidae, os himenópteros da família
Ichneumonidae, como é o caso da Campoletis sonorensis (Cameron, 1886),
além da Cotesia grenadensis (Ashmead, 1900), representante da família
Braconidae, entre vários outros parasitoides encontrados. Além dos agentes de
controle natural já citado, um potencial parasitoide de ovos merece destaque.
Os insetos do gênero Trichogramma que, além do controle ainda na fase de
ovo, tem a capacidade de ser criado em larga escala com custo relativamente
baixo (BUENO et al., 2007). Esses organismos são considerados como
agentes de controle biológico de pragas e constitui uma linha de pesquisa
promissora para o manejo integrado de pragas.
Ainda em relação ao controle biológico, considerando apenas o natural,
existem nas lavouras os patógenos (fungos, por exemplo), com alta capacidade
de infecção, auxiliando no controle de pragas. Foram identificados alguns
fungos como o Nomuraea rileyi (Farlow & Samsom, 1974) (MORAIS, 1991).
Esses organismos merecem ser investigados a fim de aumentar a sua
ocorrência no campo visando o controle dessa importante praga.
Considerando a importância de C. includens na cultura da soja, os
gastos com seu controle, bem como o uso de inseticidas, é de suma
importância o desenvolvimento de técnicas alternativas ao controle químico
como, por exemplo, o uso de entomopatógenos. O desenvolvimento de
tecnologias alternativas de controle ainda servirá para atender a premissa do
manejo integrado de pragas que tem como objetivo minimizar os efeitos
negativos de agrotóxicos no meio, além de evitar a contaminação do homem
do campo.
18
2.4
Controle biológico de Chrysodeixis includens
Problemas ocasionados pelo uso indiscriminado de produtos químicos
foram determinantes para o surgimento do manejo integrado de pragas (MIP).
As suas premissas são a adoção de práticas inter e multidisciplinares,
integrando meios de controle de pragas menos prejudiciais ao ambiente e ao
homem, acrescentando aos sistemas meios complementares para o sucesso
na produção (PEDIGO et al., 2008). Uma das principais estratégias do MIP são
a preservação e utilização da população de inimigos naturais dentro do sistema
produtivo, e sua implementação consiste na identificação das pragas,
realização de amostragens, adoção de níveis de controle e avaliação da
mortalidade natural no agroecossistema (GALLO et al., 2002; BATISTA FILHO
et al., 2003).
O manejo integrado de pragas da soja no Brasil tem um impacto
econômico, ambiental e social exemplar ao mundo inteiro, quando adotado na
década de 70, pois promoveu a redução da utilização de diversos produtos
químicos. Pulverizações passaram a ter critérios técnicos baseados no
monitoramento das pragas, reduzindo e mudando o perfil dos inseticidas
utilizados (HOFFMANN-CAMPO, 2000).
O controle biológico, por sua vez, pode ser considerado como a
utilização de organismos vivos com intuito de manter populações de pragas em
equilíbrio, sem causar danos econômicos ao produtor (VALICENTE & CRUZ,
1991). No MIP, o controle biológico é uma das principais bases. Isto porque
assegura a manutenção dos inimigos naturais no campo, em função da
aplicação de produtos seletivos a estes. Além disso, existem técnicas para a
criação e liberação de predadores, parasitoides e patógenos (AZEVEDO,
2009). Segundo PARRA et al. (1987), o controle biológico aplicado mostra
resultados com grande potencial. Pois através de liberações inundativas de
inimigos naturais, há redução da população de pragas a níveis abaixo do nível
de dano econômico. O uso de entomopatogénos é compatível com outras
medidas de controle, e garante a manutenção da diversidade de populações no
ambiente.
19
Os bioinseticidas, produtos a base de microorganismos, como o Bacillus
thuringiensis, para controle de pragas, possuem custo abaixo do dos produtos
químicos além de maior tempo de vida útil. É importante ressaltar queas pragas
têm maiores dificuldades em adquirir resistência ao seu modo de ação, sendo
ainda menos poluentes e mais específicos. Apesar de bons indicativos do seu
uso, são dependentes de estudos aprofundados, tanto no isolamento de novos
patógenos, seleção, produção e formulação destes (ANDRADE et al., 2004).
Dentre dos entomopatogénos que merecem destaque encontram-se o
baculovirus. É o grupo mais estudado e mais comum entre os vírus
patogênicos a insetos. Possuem maior potencial no controle biológico de
pragas, existindo mais de 20 grupos destes (VALICENTE & CRUZ, 2010).
Os baculovirus pertencem à família Baculoviridae com uma simples fita
dupla circular de DNA, divididos em dois gêneros, nucleopoliedrovírus (NPV) e
granulovírus (GV) (TANADA & HESS, 1976). Produzem dois tipos de vírus
fenotipicamente distintos, os extracelulares, produzidos na fase inicial de
infecção, disseminando o vírus célula a célula em um mesmo inseto, e os
derivados dos corpos de inclusão. Esse último é produzido na fase final de
infecção responsável pela disseminação do vírus entre insetos (RIBEIRO &
PINEDO, 2001). As oclusões virais permitem a formulação dos bioinseticidas,
com fácil aplicação, trazendo economia e biossegurança quando comparados
aos químicos, podendo ser armazenados até serem utilizados, e são
consideradas estruturas de resistência, que garantem a infectividade do vírus
mesmo fora do hospedeiro (VALICENTE et al., 2010).
Após a ingestão dos poliedros pelos insetos ocorre a penetração dos
vírus, através das células epiteliais do intestino médio, onde, em decorrência
do pH alcalino (8-11), a matriz protéica é dissolvida e os vírions liberados no
lúmen digestivo. Através de receptores específicos as partículas infectivas
penetram nas células epiteliais do intestino médio, os nucleocapsídeos
transportados ao núcleo, onde o seu DNA é liberado, dando inicio ao processo
de replicação (VALICENTE et al., 2010).
Algumas proteínas produzidas pelos baculovírus que auxiliam no
processo infectivo (CASTRO et al., 1999) como, por exemplo, a quitinase
20
(HAWTIN et al., 1995) e uma cisteína-protease (OHKAWA et al., 1994), são
secretadas
na
fase
tardia
da
infecção,
acumulam-se
nas
larvas
e
provavelmente agem na dissolução dos tecidos, como a cutícula larval, que
sofre rompimento após a morte do inseto (HAWTIN et al., 1997).
Alguns dias após o inicio da replicação viral, as lagartas exibem
mudanças comportamentais e morfológicas culminando em sua morte
(VALICENTE et al., 2010). Algumas horas após a infecção observa-se uma
redução na alimentação e retardamento no crescimento (FEDERICI, 1997),
muitas vezes não havendo troca de instar, ocorrendo também alterações na
coloração do tegumento das larvas (CASTRO et al., 1999). Inicialmente após a
morte, a larva apresenta flacidez, e rompimento do tegumento, liberando
poliedros para o ambiente, servindo como inóculo para novas infecções de
populações presentes ou futuras (MOSCARDI, 1983). A ocorrência de chuvas
promove a queda de larvas, ocorrendo o acúmulo na camada superficial do
solo, onde o vírus permanece para próximas safras. É importante ressaltar que
os ovos, pupas e adultos não apresentam os sintomas das larvas após a
infecção (NOHATTO et al., 2010).
No Brasil, maior programa do mundo de uso do baculovírus, teve seu
inicio na década de 1977, pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária)
com
a
sua
utilização
no
controle
da
lagarta-da-soja
(MOSCARDI, 1998). Entretanto, novos estudos devem ser realizados
identificando novos isolados, com melhor desempenho quanto à mortalidade e
respostas aos testes em laboratório, visando à implementação da tecnologia
para que possa ser empregada no campo de forma eficiente.
3
MATERIAIS E MÉTODOS
3.1
Criação de Chrysodeixis includens
Para se iniciar o programa de formulação de produto biológico é
necessário primeiramente o estabelecimento da criação do inseto para a
realização dos testes, no caso, com baculovírus. Toda a sequência de
21
atividades foi realizada no Núcleo de Biologia Aplicada, situado na Embrapa
Milho e Sorgo, em Sete Lagoas-MG.
A criação foi iniciada a partir de insetos coletados, na fase de lagarta, de
diversos ínstares, em lavouras de soja em duas regiões, na Embrapa Milho e
Sorgo, em Sete Lagoas, e fazendas na região de Paracatu, região noroeste de
Minas Gerais. As lagartas coletadas foram levadas para o laboratório e
transferidas para recipientes plásticos de 50 ml contendo dieta artificial descrita
por Greene et al. (1976), a base de feijão branco, levedura de cerveja e germe
de trigo. Na dieta elas permaneceram até completar o ciclo e observados casos
de parasitismo e possível morte por Baculovírus.
As lagartas da coleta, que apresentaram sintomas característicos de
infecção por Baculovírus foram isoladas e congeladas para o inicio dos testes
após a consolidação da criação. As pupas das lagartas que completaram o
ciclo sem apresentar sintomas foram separadas, e com os adultos emergidos
se iniciou a criação de indivíduos sadios. Estes foram transferidos para gaiolas
em canos de PVC (Figura 1) contendo solução com água destilada, açúcar,
ácido ascórbico e glicose de milho, embebida em pedaço de algodão também
em recipientes plásticos de 50 ml. O PVC é totalmente forrado com papel
absorvente, onde os ovos foram colocados. O guardanapo foi trocado duas
vezes por semana, e armazenados em sacos plásticos para eclosão das
larvas. Estas quando eclodidas são transferidas para recipientes plásticos
contendo ½ da sua capacidade de dieta artificial. A transferência das larvas era
realizada utilizando pincel umedecido, sendo que foram acondicionadas 10
larvas por recipiente. Após sete dias as larvas foram individualizadas utilizando
o mesmo material até atingirem a fase de pupa, onde foram transferidas para
recipientes plásticos forrados com papel toalha até emergir a fase adulta e
assim deu-se continuidade a criação. Todo processo foi realizado em sala em
temperatura de 25± 2ºC.
22
Figura 1: Modelo de gaiola de PVC utilizado na acomodação de adultos
de Chrysodeixis includens.
3.2
Multiplicação e seleção dos isolados
Foram coletadas lagartas mortas de diferentes instares, com sintomas
de baculovirus, confirmadas após a visualização no microscópio com 40x de
aumento. Após a confirmação da presença do baculovírus, nas lagartas
efetuou-se a maceração das mesmas em cadinho contendo 1,5 ml de água
destilada. Foram realizados testes de mortalidade com estes isolados a fim de
selecionar os que apresentaram maior taxa de mortalidade e menor tempo até
a morte, e a multiplicação dos mesmos para o banco de baculovírus do
laboratório para testes posteriores. Utilizaram-se folhas de soja contaminadas
com o vírus, e logo após, oferecidas as lagartas por 24 horas. Após este
período, as lagartas foram individualizadas em recipientes plásticos de 50 ml
contendo dieta artificial onde era avaliada a eficiência dos isolados. Todo o
23
experimento foi realizado em câmara climatizada tipo B.O.D, com temperatura
de 25ºC e fotofase de 14 horas. Com base nos resultados obtidos nos
primeiros testes, o Isolado 15, assim denominado, foi selecionado para dar
sequência nos bioensaios. Uma vez que apresentou maior taxa de mortalidade
em um tempo menor para que a lagarta morresse.
3.3
Testes com Isolado 15
Buscando otimizar a produção de poliedros virais, reduzindo custos e
tempo o experimento fez-se comparações entre melhor idade da lagarta para
realizar a inoculação, bem como foi determinado a temperatura ótima para
mortalidade destas e multiplicação do vírus após a inoculação e ainda
determinou-se a concentração do vírus a ser utilizada no processo.
Para a realização do bioensaio foram utilizados um total de 126 lagartas
de 15 dias e 126 de 16 dias de idade. Destas, grupos de 42 lagartas de cada
idade foram mantidas nas temperaturas de 22, 25 e 28ºC, sendo que 21 para
cada uma das concentrações de vírus de 4,3 x 10 6 e 107pol/ml e 21 para a
testemunha.
As lagartas selecionadas para o experimento foram mantidas sem
alimento por seis horas antes do inicio dos testes. Após este período foram
oferecidas folhas de soja, previamente cortadas em círculo de área igual a 6,6
cm2com um molde de ferro (Figura 2) e infectadas com o vírus. Para a
testemunha as folhas foram molhadas com água destilada. Posteriormente
foram colocadas em bandejas plásticas de 20 cm x 27,7 cm, apresentando com
16 compartimentos de 3,8 cm x 5,7 cm isolados, sendo utilizadas duas
bandejas para cada tratamento, totalizando 21 lagartas, por 24 horas (Figura
3). Por fim, os restos de fezes e nervuras das folhas, não consumidas, foram
removidas e então oferecido dieta artificial até a morte do inseto.
As avaliações foram feitas diariamente, e as lagartas mortas (Figura 4)
retiradas da bandeja e congeladas até o momento de contagem. Na contagem
de poliedros, as lagartas mortas foram maceradas em cadinho com 1,5ml de
solução SDS (0,5%). Do macerado, retirou-se 0,2 ml e diluído em 1,8 ml de
água destilada, e da mistura foram feitas mais duas diluições na mesma
24
proporção, com o propósito de facilitar a contagem, uma vez que a quantidade
de poliedros no macerado e nas duas primeiras diluições dificulta o processo.
Na terceira diluição acrescentou-se uma gota de Tween, espalhante que deixa
a solução mais homogênea. Então se retirou 0,01 ml da diluição a qual foi
inserida em cada uma das partes da Câmara de Neubauer, para a realização
da contagem de poliedros, esporos, células entre outros. A contagem é feita
em cada uma das partes da câmara, com o auxílio de um contador e o
processo é repetido três vezes, e tirada à média das contagens. Para cada
tratamento foi observado o número total de poliedros produzidos por lagarta.
O delineamento experimental foi o fatorial, sendo que o primeiro fator se
refere à idade das lagartas (F1), o segundo fator a concentração de baculovírus
(F2) e o terceiro fator a temperatura (F3) no qual o experimento foi realizado.
Estas são as variáveis independentes, e a variável dependente o total de
poliedros produzidos. Os dados foram submetidos à análise de variância no
programa ASSISTAT 7.7 beta, e para a comparação de médias utilizou-se o
Teste de Tukey.
Figura 2: Equipamento utilizado no corte das folhas de soja.
25
Figura 3: Bandejas utilizadas no experimento, contendo folhas de soja
cortadas.
Figura 4: Lagarta morta infectada com baculovírus.
26
4 RESULTADOS
Não se encontrou diferenças quanto à produção de poliedros virais
dentro de cada um dos fatores idade de lagartas inoculadas e concentrações
do baculovírus (Tabela 1). Foram contabilizados 9,5 x 109pol/lagarta, em
média, na temperatura de 25ºC, 7,3 x 109pol/lagarta em média para 22°C e 7,9
x 109 poliedros por lagarta, em média, na temperatura de 28°C (Tabela 2)
(Figura 5). Ao comparar as diferentes temperaturas sobre a produção de
poliedros, não foi observado diferença significativaentre 25 e 28ºC, embora a
quantidade de poliedros tenha maior valor em 25°C. Esta informação é
importante ao se realizar a produção do baculovirus em regiões mais quentes,
limitando a necessidade de redução na temperatura, reduzindo gastos.
A partir dos dados apresentados nos testes para as interações
observou-se superioridade na produção de poliedros quando se tem maiores
temperaturas independente da concentração e idade, sendo os tratamentos
com 22°C inferiores, reafirmando aumento na eficiência do baculovírus em
temperaturas mais altas.
Tabela 1: Análise de variância (ANOVA).
FV
F
Fator1(F1)
IDADE
0.8640 ns
Fator2(F2)
CONCENTRAÇÃO
0.4165 ns
Fator3(F3)
TEMPERATURA
4.7360 **
Int. F1xF2
1.2256 ns
Int. F1xF3
4.8810 **
Int. F2xF3
4.5267 *
Int.F1x2x3
0.0832 ns
Tratamentos
** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01)
* significativo ao nível de 5% de probabilidade (.01 =< p < .05)
ns não significativo (p >= .05)
2.8145 **
27
Tabela 2: Teste Tukey para Temperatura.
Temperatura
Produção
22°C
7,3x10^9
25°C
9,5x10^9 a
28°C
7,9x10^9
b
ab
Classific.c/letras minúsculas para colunas.
Médias seguidas com letras iguais não diferem entre si.
Os resultados ainda mostraram diferenças significativas na interação
idade e temperatura (Tabela 3), e concentração por temperatura (Tabela 4).
Tabela 3: Teste Tukey para as interações da idade e temperatura.
Fator 1 x Fator 3 (Idade X Temperatura)
Temperatura
Idade
22
25
28
15
bB
aA
aB
16
aA
aA
aA
dms para colunas = 2040429000,0
dms para linhas = 2446849000,0
Classific.c/letras minúsculas para colunas e maiúsculas para linhas.
Médias seguidas com letras iguais não diferem entre si.
Tabela 4: Teste Tukey para as interações da concentração e temperatura.
Fator 2 x Fator 3 (Concentração X Temperatura)
Temperatura
Concentração
22
25
28
10^6
bB
aA
aA
10^7
aA
aA
aA
dms para colunas = 2040429000,0
dms para linhas = 2446849000,0
Classific.c/letras minúsculas para colunas e maiúsculas para linhas.
Médias seguidas com letras iguais não diferem entre si.
28
Figura 5: Média de poliedros totais produzidos em cada tratamento. No
gráfico a diferença de cores das barras separa os tratamentos por idade, sendo
as mais claras 15 dias e mais escuras 16 dias.
Figura 6: Média de poliedros totais produzidos em cada tratamento. No
gráfico a diferença de cores das barras separa os tratamentos por
concentração, sendo as mais claras 106 e mais escuras 107.
29
Figura 7: Média de poliedros totais produzidos em cada tratamento. No
gráfico a diferença de cores das barras separa os tratamentos pela
temperatura, sendo na sequência do mais claro para o mais escuro, 22°C,
25°C e 28°C respectivamente.
5 DISCUSSÃO
Estudos Em um estudo realizado com o com vírus Spodoptera litura
nucleopolyhedrovirus, Subramanian et al.(2006) observaram aumento na
produção quando utilizado a temperatura de 25°C, enfatizando a influência da
temperatura de incubação tanto no crescimento das larvas quanto na
replicação do vírus. Mehrvar (2013) também encontrou maior produtividade do
vírus Helicoverpa armigera nucleopolyhedrovirus na temperatura de 25°C em
todos os isolados testados.
Silva & Elliot (2016) em trabalho com A. gematallis, afirmam que a
virulência por Baculovirus anticarsia é aumentada a temperaturas mais
elevadas. Porém, observou-se também que o aumento da temperatura
promoveu uma redução na mortalidade, uma vez que as larvas desenvolvem
mais rapidamente, atingindo a fase de pupa, reduzindo a efetividade da
infecção. Em relação à idade, Milkset al. (1998), trabalhando com a espécie
Trichoplusia ni (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) encontrou poucas evidências
30
na variação da mortalidade em função da idade das lagartas, inferindo ainda
que o aumento de doses do Baculovirus trichoplusia nucleopolyhedrovirus
conduziu a um aumento semelhante na mortalidade em todos os grupos etários
estudados.
As temperaturas de 25 e 28ºC são mais indicadas para a multiplicação
do baculovírus, e entre as idades testadas não há diferença com relação a
ação do entomopatógeno.
Um aspecto que merece ser considerado em trabalhos futuros é a
avaliação do pico de mortalidade. Embora não existam dados sobre a espécie
do presente trabalho, Valicente & Cruz (1992a) estudando S. frugiperda
determinaram o efeito de três temperaturas na mortalidade e não encontraram
diferenças entre elas. Porém observou tempo maior no pico de mortalidade
para temperaturas mais baixas, o que não seria interessante para um processo
produtivo. Os mesmos autores testaram o efeito de diferentes doses e
temperaturas, encontrando maior mortalidade de S. frugiperda em maiores
temperaturas e concentrações. A temperatura foi um fator que também
influenciou no pico de mortalidade, onde os maiores picos foram encontrados
nas maiores temperaturas. Em média as lagartas morreram depois de 11, 8 e 6
dias após a inoculação, quando mantidas em 20, 25 e 30°C respectivamente
(VALICENTE & CRUZ, 1992b).
Trabalhos com estes direcionamentos são escassos, comparando essas
variáveis e principalmente para a espécie praga e entomopatógeno em
questão. Essa falta de registros dificulta o desenvolvimento de novas
tecnologias que utilizem o controle biológico, mais especificamente o emprego
de entomopatógeno no controle de pragas. Essa dificuldade prejudica o
estabelecimento de programas de controle biológico, uma vez que os estudos
são realizados com o objetivo fornecer metodologias de produção voltadas
para produção industrial. Beas-Catena (2014) em um trabalho sobre uma visão
geral do baculovírus como biopesticida, relata que a produção atual é feita
exclusivamente “in vivo”, colhendo as lagartas mortas no campo e aplicando
baculovirus, ou utilizando lagartas em laboratório. Porém apresentam
desvantagens
econômicas
em
todas
as
suas
etapas,
apresentando
31
dificuldades na ampliação e preparação dos insetos e microorganismos (LASA
et al., 2007). Para melhorar o rendimento na produção, esses mesmos autores,
propuseram a utilização de hormônio juvenil influenciando no crescimento e
sobrevivência de larvas de Spodoptera exígua e observou 2,7 a 2,9 vezes mais
produção de poliedros quando comparados com o controle, além do aumento
de peso.
Esta é uma linha de pesquisa promissora, entretanto, a baixa
disponibilidade de informações registradas dificulta o processo. Assim, torna-se
necessário a realização de estudos para que se possam obter respostas mais
concisas sobre a utilização do baculovirus no controle de C. includens.
6 CONCLUSÃO
A utilização de baculovirus no controle de C. includens pode ser viável,
considerando a manutenção do entomopatógeno ocorre na temperatura de 25º
e de 28º. Não foi observado diferenças na produção de poliedros entre as
idades das lagartas e a concentração do baculovírus.
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