UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI PRÓ-REITORIA DE ENSINO ENGENHARIA AGRONÔMICA Caio Fortes Campos Luiz Otimização de parâmetros para a produção em larga escala de baculovirus para Chrysodeixis includens (Walker, 1858) (Lepidoptera: Noctuidae). SETE LAGOAS 2016 Caio Fortes Campos Luiz Otimização de parâmetros para a produção em larga escala de baculovirus para Chrysodeixis includens (Walker, 1858) (Lepidoptera: Noctuidae). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de São João Del Rei como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Agrônomo. Área de concentração: Entomologia. Orientadora: Cidália Gabriela Santos Marinho. SETE LAGOAS 2016 Caio Fortes Campos Luiz Otimização de parâmetros para a produção em larga escala de baculovirus para Chrysodeixis includens (Walker, 1858) (Lepidoptera: Noctuidae). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de São João Del Rei como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Agrônomo. Sete Lagoas, 20 de Junho de 2016. Banca examinadora: __________________________________________________ Dr. Fernando Hercos Valicente – Embrapa Milho e Sorgo ___________________________________________________ Prof. Marcos Antônio Matiello Fadini - UFSJ __________________________________________________ Profa. Cidália Gabriela Santos Marinho – UFSJ Orientadora AGRADECIMENTOS O Deus por tornar todos os meus sonhos possíveis, e estar ao meu lado em todos os momentos. A minha mãe por sempre estar ao meu lado dando forças. Aos familiares pelo apoio incondicional, e por terem acreditado sempre na minha capacidade. Aos colegas do Laboratório de Controle Biológico, pela amizade e apoio. Dr. Fernando H. Valicente, pela oportunidade, conselhos e dedicação. A orientadora do trabalho, Cidália G. Marinho, pela atenção incondicional e paciência. Ao professor Marcos Antônio M. Fadini, pela participação na banca. Aos amigos de convivência durante a graduação. Aos mestres, com carinho, pela dedicação em nos tornar grandes profissionais. A todos os colaboradores da UFSJ pela disponibilidade. A Tamires, pela paciência e companheirismo. A EMBRAPA MILHO E SORGO e seus colaboradores pelos anos de estágio. A FAPED pela concessão da bolsa. Aos alunos de Doutorado e Pós-Doutorado do laboratório pela paciência e apoio na realização do trabalho. A todos os envolvidos de forma direta e indireta na concretização deste trabalho. RESUMO A lagarta Chrysodeixis includens é considerada uma das pragas principais na cultura da soja. Para seu controle, alternativas viáveis como a utilização do baculovírus são imprescindíveis, por ser uma alternativa sustentável e baixo custo. O objetivo deste trabalho foi encontrar a combinação de melhores condições para a produção em massa de poliedros virais para que possam ser empregados no controle biológico de C. includens. Os isolados foram obtidos a partir de coletas de lagartas de C. includens contaminadas em lavouras de soja. Para o presente trabalho foi escolhido o isolado 15. O experimento consistiu em avaliar a produção de poliedros (PIB) por lagarta infectada e as variáveis foram a idade do inseto, sendo (15 e 16 dias), as concentrações do baculovirus utilizadas na infecção (4,3 x 106 e 107 pol/ml) e três temperaturas de incubação (22°C, 25°C e 28°C). Foram utilizadas 21 lagartas por tratamento. Após 24hrs alimentando das folhas com vírus, foi oferecida a elas dieta artificial. A contagem dos poliedros foi feita com o auxílio da câmara de Neubauer. O delineamento utilizado foi o fatorial, e os dados foram analisados no programa ASSISTAT 7.7 beta, e para a comparação de médias utilizou-se o Teste de Tukey a 5% de significância. Os resultados não mostraram diferenças nos tratamentos em relação à idade e concentração, porém para temperaturas mais elevadas houve diferença significativa na produção de poliedros. Para a temperatura de 25°C, encontrou-se em média 9,5 x 109 pol/lagarta, 7,9 x 109 pol/lagarta para 28°C e 7,3 x 109 pol/lagarta, em média, na temperatura de 22°C. Os resultados encontrados mostram a viabilidade da utilização do baculovirus, considerando temperaturas de 25°C e 28°C, servindo de ponto de partida para avaliação de outros parâmetros consideráveis. Palavras-chave: integrado de pragas. Entomopatógenos. Controle Biológico. Manejo ABSTRACT Chrysodeixis includens is considered one of the most important pests in soybean crops. It´s control may be achieved using different alternatives, including the use of baculovirus, for being a sustainable alternative and low cost. The objective of this study was to detect the best parameters to produce baculovirus as it is in a large scale system, so they can be used as a biological control agent of the C.includens. The isolates were collected from contaminated C. includens caterpillars in soybean crops. For this study isolate 15 was chosen. The experiment consisted in evaluating the production of polyhedral inclusion bodies (PIB) by infected caterpillar and the variables were: age of the larvae(15 and 16 days old), concentration of baculovírus used in the infection (4,3 x 106 e 107 pol/ml), and three incubation temperatures (22°C, 25°C and 28°C). 21 caterpillars per treatment were used. After 24h of feeding on the contaminated leaves larvae were transferred to artificial diet. The counting of the PIBs was done using a Neubauer´s chamber. ASSISTAT 7.7 beta program was used to analyze the data in a experimental factorial design, and the means were compared using Tukey at 5%. The results in the treatment were similar and did not show differences between age and concentration of PIBs, however, high temperatures demonstrated a significant difference in the production of PIBs. For the temperature of 25°C was found on average 9,5 x 109 pol/ caterpillar, 7,9 x 109 pol / caterpillar to 28°C and 7,3 x 109 pol / caterpillar, on average, temperature 22°C. The results show the feasibility of using baculovirus, where as temperatures of 25°C and 28°C, serving as a starting point for evaluation of other significant parameters. Keywords:. Entomopathogens. Biological Control. Integrate pest management SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 11 Cultura da soja ............................................................................................................ 11 2.1. 3 2.2 Pragas desfolhadoras da soja ............................................................................ 13 2.3 Controle de Chrysodeixis includens ................................................................. 16 2.4 Controle biológico de Chrysodeixis includens .............................................. 18 MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 20 3.1 Criação de Chrysodeixis includens................................................................... 20 3.2 Multiplicação e seleção dos isolados ............................................................... 22 3.3 Testes com Isolado 15 .......................................................................................... 23 4 RESULTADOS ................................................................................................................. 26 5 DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 29 6 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 31 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 31 8 1. INTRODUÇÃO A soja (Glycine max (L) Merril) é um produto agrícola de grande interesse sócio-econômico, por apresentar altos teores protéicos, produtividade dos grãos e sua adaptação a diversos ambientes (XU et al., 1989). Com auxílio do melhoramento genético e o desenvolvimento de novas cultivares adaptadas a baixas latitudes, a migração dos centros de produção Sulistas para o CentroOeste foi possível. No Brasil se cultiva soja nos mais variados ambientes, desde locais com baixas latitudes (Centro-Oeste, Norte e Nordeste), até as mais altas latitudes (Sul e Sudeste) (ROCHA, 2002; BUENO, 2008). Além disso, a cultura oferece uma vasta opção de produtos e derivados como, por exemplo, óleo, farelo, torta, ração animal etc. A ocorrência de áreas extensas de cultivo da soja traz benefícios como, por exemplo, a alta produção de grãos, entretanto, o plantio em áreas extensas e ainda a utilização de sistemas de cultivo continuada no tempo e espaço trazem problemas fitossanitários como a ocorrência de pragas. Diversas espécies de insetos vêm causando danos à cultura da soja, que está sujeita a ataques desde a germinação até a colheita, trazendo danos econômicos e queda no rendimento ou qualidade do produto final (KLEIJN & LANGEVELDEB, 2006). Dentre as pragas que ocorrem em cultivos de soja, as lagartas Anticarsia gematallis (HUBNER, 1818), e Chrysodeixis includens (WALKER, 1858) (Lepidoptera: Noctuidae) e os percevejos, principalmente Nezara viridula (LINNAEUS, 1758), Piezodorus guildini (WESTWOOD, 1837) e Euschistos heros (FABRICIUS, 1794) (Hemiptera: Pentatomidae), são consideradas pragas chaves (EMBRAPA, 2006). Sendo que as lagartas desfolhadoras podem ocorrer em estádios distintos da cultura, atacando várias partes da planta, principalmente as folhas (DEGRANDE & VIVIAN, 2011). A principal forma de controle de C. includens é o químico, sendo que em algumas situações são necessárias mais de uma aplicação (OLIVEIRA, 2014). Entretanto, a utilização de inseticidas com amplo espectro em misturas com herbicidas antes e após a semeadura, têm favorecido a incidência de surtos do inseto, principalmente pela eliminação dos inimigos naturais, aumentando 9 assim as aplicações pelos produtores durante o cultivo da soja (MOSCARDI, 2008; EMBRAPA, 2009). Essas práticas de manejo incorretas junto a aplicações excessivas de fungicidas têm favorecido em grande escala o aumento das populações de C. includens, uma vez que estas aplicações estão contribuindo para a redução dos entomopatogénos que reduzem a população desse inseto praga (SCHILICK-SOUZA, 2013). Além disso, a utilização indiscriminada de agrotóxicos contamina o homem do campo e o consumidor dos produtos agrícolas prejudicando a sua saúde. Outro aspecto que merece destaque é que a utilização de inseticidas tem acrescido o custo de produção, e muitas vezes não apresentando resultados positivos no controle de pragas. Diante disso, é urgente o desenvolvimento de práticas de manejo de pragas alternativas aos métodos tradicionais. Nesse caso, a realização de estudos voltados ao controle biológico de pragas é necessário. Vários são os exemplos de emprego bem sucedido de liberação de inimigos naturais no campo para o controle de pragas (PARRA, 2002). Táticas do controle biológico empregadas no manejo de pragas têm mostrado eficiência. O exemplo disto tem-se a liberação dos ovos de hospedeiros parasitados com Trichogramma (Hymenoptera: Trichogrammatidae), utilizado em diversas culturas. Na cana-de-açucar Trichogramma galloi (Hymenoptera: Trichogrammatidae) é utilizado no parasitismo dos ovos de Diatraea saccharalis (FABRICIUS, 1974) (Lepidoptera: Crambidae) além do uso de Cotesia flavipis (CAMERON, 1891) (Hymenoptera: Braconidae), parasitoide da larva (SIMONATO et al., 2014) da mesma praga. Insetos predadores também vêm sendo utilizados no manejo de pragas. Pesquisas com o percevejo Podisus nigrispinus (DALLAS, 1851) (Hemiptera: Pentatomidae) demonstraram que esse predador apresenta potencialidade no controle de lagartas desfolhadoras (ZANUNCIO et al., 2002). Os crisopídios (Neuroptera) realizam a predação de diversos insetos. Eles são vorazes e capazes de alimentar-se de grandes quantidades de suas presas (BEZERRA, 2009). Para o pulgão, por exemplo, existe o controle natural por algumas espécies de joaninhas, como a Cycloneda sanguínea (LINNAEUS, 1763), Eriopis connexxa (GERMAR, 1824) e Hippodamia convergens (GUERINMENEVILLE, 1842) (Coleoptera: Coccinelidae) (FIORENTIN et al., 2013). Além 10 destas alternativas, o uso de entomopatogénos apresenta boas perspectivas no controle de pragas, como o Bacillus Thuringiensis no controle de Spodoptera frugiperda (VALICENTE, 2015). O fungo Metarhizium anisopliae è utilizado na cultura da cana-de-açucar para controle da cigarrinha-das-raízes (MACEDO, 2006), e ainda os baculovirus, como o Baculovirus anticarsia e o Baculovirus spodoptera, também eficientes no controle de lagartas desfolhadoras (SIMONATO et al., 2014). A utilização do controle biológico de pragas com microorganismos é uma alternativa ao uso de produtos químicos, trazendo consigo algumas vantagens como sua alta especificidade, não afetando outros insetos, plantas e animais (SAVIO & PINOTTI, 2008). O baculovirus surge como um modelo para virologia animal, uma vez que os insetos possuem ciclo de vida curto, permitindo sua multiplicação massal em laboratório (CASTRO et al., 1999). No ambiente ocorrem naturalmente em populações de insetos, persistindo na natureza, dando continuidade a sua disseminação e mantendo as populações da praga abaixo do nível de injúria econômica tolerado pela cultura. Eles são restritos a invertebrados, não causando portanto, problemas ao homem e ao ambiente (NOHATTO et al., 2010). Quando aplicados de forma correta, apresentam eficiência similar ao controle químico de pragas (SAVIO & PINOTTI, 2008). Com o objetivo de desenvolver alternativas para o controle de C. includens, este trabalho testa melhores condições em laboratório para multiplicação de baculovírus, otimizando a sua produção em larga escala. 11 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Cultura da soja A cultura da soja (Glycine max (L.) Merril) pode ser considerada a oleaginosa mais importante dentre as produzidas no Brasil. No país, seu cultivo comercial passou a ter maior importância econômica em meados da década de 40, no estado do Rio Grande do Sul, sendo utilizadas cultivares desenvolvidas nos Estados Unidos da América (EUA) (VERNETTI, 1983; ALMEIDA & KIIHL, 1998). Com o aumento do preço da soja no mercado mundial a partir da década de 70, os agricultores e do governo brasileiro aumentaramo interesse em seu cultivo. Uma das vantagens competitivas em relação a outras regiões produtoras, por exemplo, está o escoamento brasileiro, o qual ocorre na entressafra americana, onde os preços estão em maiores cotações (EMBRAPA SOJA, 2016). Atualmente o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, superado pelos EUA (EMBRAPA SOJA, 2016). De acordo com a CONAB (2016), há uma tendência de incremento de 3,6% do total da área plantada na safra 2015/2016 resultando em uma área de 33.234 mil hectares, com produção média estimada em 100.993 toneladas. Diversos são os motivos da opção pelo cultivo da soja, dentre esses o incremento na demanda pelo grão ocasionado pela sua utilização e de seus derivados. O farelo de soja representa em média 19,7%, em quantidade, de todas as matérias-primas utilizadas nas rações animais, perdendo apenas para o milho (SOARES JÚNIOR et al., 2004). Na alimentação humana, as tendências pelos chamados alimentos funcionais, aumentam as perspectivas da indústria alimentícia para o desenvolvimento de produtos a base de soja. Isto porque a soja é uma fonte de nutrientes importante e ainda apresenta capacidade de reduzir o risco do desenvolvimento de doenças crônicodegenerativas (BEDANI, 2007). Além de alimentos, a utilização de produtos de origem vegetal na produção de biocombustíveis vem crescendo fortemente, em substituição de fontes como carvão e petróleo (MARGARIDO et al., 2014). Em relação às fontes de matéria-prima vegetal para a produção do biodiesel, a soja 12 representou em 2014, 74,9% de participação, equivalente a 2.056.118 m³ (ABIOVE, 2014). Devido à demanda pelo grão e aos novos materiais genéticos desenvolvidos pelos institutos de pesquisa nacionais, direcionados ao cultivo em áreas de clima tropical, a soja é cultivada na maioria das regiões do país (CAMPOS, 2011). O desenvolvimento de novas técnicas na área de biologia molecular, como manipulação de genes aliados a transformações genéticas de plantas, surge como um novo atrativo para pesquisadores, como uma arma interessante no controle de pragas. A utilização de genes que codificam atividade inseticida tornou-se uma alternativa poderosa no controle destes insetos (SILVA-FILHO & FALCO, 2000). A primeira cultivar de soja começou a ser utilizada comercialmente a partir de 2010, sendo expressa em seu material genético a proteína Cry1Ac de bt, tendo como principal alvo o controle de A. gematallis e C. includens além de Heliothis virescens (Fabricius, 1781) (Lepidoptera: Noctuidae), Crosidosema aporema (Walsingham, 1914) (Lepidoptera: Tortricidae) e Rachiplusia nu. (Guenée)(Lepidoptera: Noctuidae). Resultados de pesquisas com a proteína Cry1Ac expressa em linhagens de soja apresentaram 100% de mortalidade para C. includens em todas as suas repetições (BEDINETAL, 2015). Bernardi (2012) relaciona o alto grau de controle em C. includens ao fato da proteína Cry1Ac ser expressa a níveis elevados durante todo o desenvolvimento da soja. Além da utilização das novas cultivares transgênicas, outras técnicas no controle de pragas, seja ele químico, biológico, físico ou cultural, são importantes para que a população de insetos não alcancem níveis de dano econômico, onde a praga começa a trazer prejuízos econômicos ao produtor (CISOJA, 2016). Assim, a realização de pesquisas que tem como objetivo desenvolver tecnologias para o controle alternativo de pragas no campo é crucial para a agricultura moderna. 13 2.2 Pragas desfolhadoras da soja A expansão do cultivo da soja no Brasil iniciado na década de 70, em sistemas de monocultivos, trouxe consigo o aumento da incidência de pragas. A transformação de ambientes heterogêneos em vegetação em ambientes homogêneos promoveu à eliminação das diversas fontes alimentares dos insetos, assim, surgiram adaptações na alimentação dos insetos pragas, sendo alguns destes direcionados para a cultura da soja. Além disso, o constante uso inadequado de produtos químicos no controle de pragas e doenças vem ocasionando problemas. Dentre esses se pode ressaltar a ressurgência de pragas, casos de resistência, surtos de pragas secundárias, redução da incidência de insetos benéficos (predadores, parasitoides e polinizadores), além da contaminação das fontes de água, do subsolo e intoxicação de animais (SANTOS, 2013). Dentre insetos desfolhadores que causam danos á soja, tem-se Spodoptera eridania (Cramer, 1782), S. frugiperda (J.E. Smith, 1797), S. cosmioides (Walker, 1858) (Lepidoptera: Noctuidae), e H. virescens. Destacamse ainda a lagarta-da-soja, A. gemmatalis (Hubner, 1818) (Lepidoptera: Noctuidae) e as lagartas do complexo Plusiinae, sendo a principal C. includens (Walker, 1857) (Lepidoptera: Noctuidae), causando prejuízos consideráveis em culturas de importância econômica (MOSCARDI, 2012). Tem ocorrência registrada desde o norte dos EUA até o sul da América do Sul, incluindo países como Argentina, Chile e Brasil. Há relatos de C. includens também na Austrália se estendendo até as Índias Ocidentais (CABI, 2016). Chrysodeixis includens, conhecida comumente por falsa-medideira, se tornou relevante no cultivo da soja a partir das safras 2000/2001 e 2001/2002, como consequência das mudanças do manejo no sistema produtivo, se tornando praga principal em diversas regiões do Brasil (BUENO et al., 2007). O controle natural de C. includens é realizado por fungos entomopatogênicos e insetos parasitoides (BUENO, 2008). No entanto, de acordo com Bueno et al.(2007) e Sosa-Gómez et al. (2003), aplicações indevidas de fungicidas na tentativa de controlar a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora 14 pachyrhizi (SYDOW & P.SYDOW, 1902), estão interferindo negativamente na população de entomopatógenos, prejudicando o controle biológico natural de C. includens e aumentando a sua população. O ciclo de vida de C. includens tem duração média de 46 dias, com uma duração de 5 dias para o ovo, 20 dias para larva, 7 dias para pupa e 14 dias para a fase adulta (CARVALHO et al., 2012). Os ovos são de coloração amarelada, apresentando estrias longitudinais, e colocados isoladamente na porção inferior das folhas (BENASSI, 2012). A fêmea oviposita entre 500 e 1300 ovos em toda a sua vida, durante o período noturno (JOST & PITRE, 2002). Possuem em média 0,5 mm de diâmetro, e o desenvolvimento embrionário tem uma duração de até 2,5 dias (PETERSON, 1964). A lagarta apresenta três pares de falsas pernas localizadas na região abdominal, tornando seu movimento semelhante à ação de medir palmos, com grande movimento do corpo (SOSA-GÓMEZ et al., 2010). Possuem ainda uma coloração esverdeada com linhas brancas longitudinais e pontuações pretas ao longo do seu corpo. De acordo com SMILOWITZ (1973), a coloração pode variar de acordo com sua alimentação e variações genéticas, além de mudanças notórias, de verde-amarronzada-clara para verde-limão-translúcida para cada instar. Podem atingir em média 40-45 mm de comprimento até o seu último instar larval (SOSA-GÓMEZ et al., 2010), além disso, as mesmas possuem características internas na mandíbula que as diferenciam das demais lagartas do complexo Plusiinae (ZUCCHI et al., 1993; GALLO et al., 2002). O período de pupa tem uma duração de 7 a 9 dias, até a emergência dos adultos, passando de uma coloração amarelo-pálida para verde-clara, tornando se escuras ao fim da fase (VAZQUEZ, 1988). Os adultos possuem envergadura de 30 a 38 mm, com as asas posteriores de coloração marrom-acinzentada (SOSA-GÓMEZ, 2012), apresentam aindaduas manchas marcantes de cor prateada brilhante no primeiro par de asas dispostas em formato de quilha quando em repouso (CARVALHO et al., 2012) 15 A lagarta, fase que promove prejuízos na cultura da soja, apresenta preferência nos instares iniciais por folhas mais tenras, com menor quantidade de fibras, e a partir do terceiro instar consomem áreas foliares maiores, mantendo as nervuras principais intactas, conferindo as folhas um aspecto rendilhado (HERZOG, 1980; BUENO et al., 2009). Esta fase do inseto promove perdas expressivas na cultura da soja uma vez que possui uma alta capacidade de consumo de área foliar, podendo chegar a 200 cm², enfatizando os cuidados com a lagarta, tomados durante todo o período de desenvolvimento das plantas. Também já sendo encontrados ataques de lagartas grandes em vagens já formadas de soja (TOMQUELSKI et al., 2015). Um terceiro fator importante a se considerar da espécie é o seu favorecimento em condições de seca, ou períodos de seca que antecederam os surtos, levando a maiores cuidados nas tecnologias empregadas para seu controle (DEGRANDE & VIVIAN, 2008). Outro agravante com relação a essa praga é que foram identificadas aproximadamente 73 espécies de plantas, pertencentes a 29 famílias, as quais são atacadas por esse inseto, sendo que dentre as de importância agrícola tem-se o algodoeiro, feijoeiro, o fumo, o girassol e várias hortaliças (HERZOG, 1980; OLIVEIRA et al., 2010). Neste caso, maiores cuidados devem ser tomados em áreas de plantio de soja, que apresentem essas culturas, as quais poderiam também ser atacadas, constituindo assim em hospedeiros alternativos. Considerando a importância de C. includens como inseto praga, o seu controle é dificultado devido a sua permanência no terço médio das plantas. Esse posicionamento da praga prejudica a ação inseticida, obrigando aos produtores a utilização de doses elevadas de produtos químicos para efetivar o controle, uma vez que as folhas superiores agem como barreira física (DEGRANDE & VIVIAN, 2008; TOMQUELSKI et al., 2015). Além de a espécie ser mais tolerante às dosagens usuais quando comparadas a A. gematallis, por exemplo, (BERNARDI, 2012). Vale ressaltar que no ano de 2015 registrou-se um aumento nos custos da safra onde a espécie foi encontrada. Em decorrência do aumento no 16 número de aplicações, os produtores de soja estão gastando até R$100,00 a mais por hectare para seu combate, projetando uma redução de até 5 sacas de soja por hectare devido ao seu ataque severo (CARDOSO et al., 2015; PAPA et al., 2011). As dificuldades encontradas na eficiência do controle químico dessa praga apontam para a realização de pesquisas que considerem formas alternativas de controle e que sejam mais eficiências e de baixo prejuízo ambiental, por exemplo, o controle biológico. 2.3 Controle de Chrysodeixis includens As interações entre o ambiente, planta, produção e o manejo definem a produtividade desejada da cultura (MAUAD et al., 2010). A proteção das plantas é indispensável no seu manejo, reduzindo problemas fitossanitários causados por pragas, doenças e plantas invasoras. Os métodos conhecidos consistem na utilização de práticas tradicionais e tecnológicas, entre elas, exemplos como genéticos, físicos, químicos, culturais e biológicos (GALLO et al., 2002). Nesse caso, ao escolher o método químico, deve-se dar destaque na escolha de produtos com menor impacto sobre a população de inimigos naturais, conhecendo seus efeitos e garantindo a sua seletividade, permitindo a integração dos métodos químicos e biológicos (MENDES NETO, 2014). O consumo de inseticidasnas lavouras aumentou nos últimos anos, como parte da modernização do sistema produtivo (GHINI & BETTIOL, 2000). No Brasil, o consumo de defensivos no ano de 2015 chegou a 887,6 toneladas, tendo um aumento de 14% nos último 5 anos (SINDIVEG, 2016). O alto consumo desses produtos e ainda o seu uso indevido pode trazer problemas como resistência de insetos (PARRA et al., 2002). Paralelamente ao controle químico utilizado para o combate a praga, um grande número de inimigos naturais está presente nas lavouras de soja. Naturalmente, quando em equilíbrio, esses inimigos naturais são responsáveis 17 por manter a população de C. includens em níveis aceitáveis. Levantamentos realizados, como o feito por Moraes et al.(1991) no estado do Rio Grande do Sul, apresentaram a ocorrência de parasitismo por diversas espécies, por exemplo, dípteros da família Tachinidae, os himenópteros da família Ichneumonidae, como é o caso da Campoletis sonorensis (Cameron, 1886), além da Cotesia grenadensis (Ashmead, 1900), representante da família Braconidae, entre vários outros parasitoides encontrados. Além dos agentes de controle natural já citado, um potencial parasitoide de ovos merece destaque. Os insetos do gênero Trichogramma que, além do controle ainda na fase de ovo, tem a capacidade de ser criado em larga escala com custo relativamente baixo (BUENO et al., 2007). Esses organismos são considerados como agentes de controle biológico de pragas e constitui uma linha de pesquisa promissora para o manejo integrado de pragas. Ainda em relação ao controle biológico, considerando apenas o natural, existem nas lavouras os patógenos (fungos, por exemplo), com alta capacidade de infecção, auxiliando no controle de pragas. Foram identificados alguns fungos como o Nomuraea rileyi (Farlow & Samsom, 1974) (MORAIS, 1991). Esses organismos merecem ser investigados a fim de aumentar a sua ocorrência no campo visando o controle dessa importante praga. Considerando a importância de C. includens na cultura da soja, os gastos com seu controle, bem como o uso de inseticidas, é de suma importância o desenvolvimento de técnicas alternativas ao controle químico como, por exemplo, o uso de entomopatógenos. O desenvolvimento de tecnologias alternativas de controle ainda servirá para atender a premissa do manejo integrado de pragas que tem como objetivo minimizar os efeitos negativos de agrotóxicos no meio, além de evitar a contaminação do homem do campo. 18 2.4 Controle biológico de Chrysodeixis includens Problemas ocasionados pelo uso indiscriminado de produtos químicos foram determinantes para o surgimento do manejo integrado de pragas (MIP). As suas premissas são a adoção de práticas inter e multidisciplinares, integrando meios de controle de pragas menos prejudiciais ao ambiente e ao homem, acrescentando aos sistemas meios complementares para o sucesso na produção (PEDIGO et al., 2008). Uma das principais estratégias do MIP são a preservação e utilização da população de inimigos naturais dentro do sistema produtivo, e sua implementação consiste na identificação das pragas, realização de amostragens, adoção de níveis de controle e avaliação da mortalidade natural no agroecossistema (GALLO et al., 2002; BATISTA FILHO et al., 2003). O manejo integrado de pragas da soja no Brasil tem um impacto econômico, ambiental e social exemplar ao mundo inteiro, quando adotado na década de 70, pois promoveu a redução da utilização de diversos produtos químicos. Pulverizações passaram a ter critérios técnicos baseados no monitoramento das pragas, reduzindo e mudando o perfil dos inseticidas utilizados (HOFFMANN-CAMPO, 2000). O controle biológico, por sua vez, pode ser considerado como a utilização de organismos vivos com intuito de manter populações de pragas em equilíbrio, sem causar danos econômicos ao produtor (VALICENTE & CRUZ, 1991). No MIP, o controle biológico é uma das principais bases. Isto porque assegura a manutenção dos inimigos naturais no campo, em função da aplicação de produtos seletivos a estes. Além disso, existem técnicas para a criação e liberação de predadores, parasitoides e patógenos (AZEVEDO, 2009). Segundo PARRA et al. (1987), o controle biológico aplicado mostra resultados com grande potencial. Pois através de liberações inundativas de inimigos naturais, há redução da população de pragas a níveis abaixo do nível de dano econômico. O uso de entomopatogénos é compatível com outras medidas de controle, e garante a manutenção da diversidade de populações no ambiente. 19 Os bioinseticidas, produtos a base de microorganismos, como o Bacillus thuringiensis, para controle de pragas, possuem custo abaixo do dos produtos químicos além de maior tempo de vida útil. É importante ressaltar queas pragas têm maiores dificuldades em adquirir resistência ao seu modo de ação, sendo ainda menos poluentes e mais específicos. Apesar de bons indicativos do seu uso, são dependentes de estudos aprofundados, tanto no isolamento de novos patógenos, seleção, produção e formulação destes (ANDRADE et al., 2004). Dentre dos entomopatogénos que merecem destaque encontram-se o baculovirus. É o grupo mais estudado e mais comum entre os vírus patogênicos a insetos. Possuem maior potencial no controle biológico de pragas, existindo mais de 20 grupos destes (VALICENTE & CRUZ, 2010). Os baculovirus pertencem à família Baculoviridae com uma simples fita dupla circular de DNA, divididos em dois gêneros, nucleopoliedrovírus (NPV) e granulovírus (GV) (TANADA & HESS, 1976). Produzem dois tipos de vírus fenotipicamente distintos, os extracelulares, produzidos na fase inicial de infecção, disseminando o vírus célula a célula em um mesmo inseto, e os derivados dos corpos de inclusão. Esse último é produzido na fase final de infecção responsável pela disseminação do vírus entre insetos (RIBEIRO & PINEDO, 2001). As oclusões virais permitem a formulação dos bioinseticidas, com fácil aplicação, trazendo economia e biossegurança quando comparados aos químicos, podendo ser armazenados até serem utilizados, e são consideradas estruturas de resistência, que garantem a infectividade do vírus mesmo fora do hospedeiro (VALICENTE et al., 2010). Após a ingestão dos poliedros pelos insetos ocorre a penetração dos vírus, através das células epiteliais do intestino médio, onde, em decorrência do pH alcalino (8-11), a matriz protéica é dissolvida e os vírions liberados no lúmen digestivo. Através de receptores específicos as partículas infectivas penetram nas células epiteliais do intestino médio, os nucleocapsídeos transportados ao núcleo, onde o seu DNA é liberado, dando inicio ao processo de replicação (VALICENTE et al., 2010). Algumas proteínas produzidas pelos baculovírus que auxiliam no processo infectivo (CASTRO et al., 1999) como, por exemplo, a quitinase 20 (HAWTIN et al., 1995) e uma cisteína-protease (OHKAWA et al., 1994), são secretadas na fase tardia da infecção, acumulam-se nas larvas e provavelmente agem na dissolução dos tecidos, como a cutícula larval, que sofre rompimento após a morte do inseto (HAWTIN et al., 1997). Alguns dias após o inicio da replicação viral, as lagartas exibem mudanças comportamentais e morfológicas culminando em sua morte (VALICENTE et al., 2010). Algumas horas após a infecção observa-se uma redução na alimentação e retardamento no crescimento (FEDERICI, 1997), muitas vezes não havendo troca de instar, ocorrendo também alterações na coloração do tegumento das larvas (CASTRO et al., 1999). Inicialmente após a morte, a larva apresenta flacidez, e rompimento do tegumento, liberando poliedros para o ambiente, servindo como inóculo para novas infecções de populações presentes ou futuras (MOSCARDI, 1983). A ocorrência de chuvas promove a queda de larvas, ocorrendo o acúmulo na camada superficial do solo, onde o vírus permanece para próximas safras. É importante ressaltar que os ovos, pupas e adultos não apresentam os sintomas das larvas após a infecção (NOHATTO et al., 2010). No Brasil, maior programa do mundo de uso do baculovírus, teve seu inicio na década de 1977, pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) com a sua utilização no controle da lagarta-da-soja (MOSCARDI, 1998). Entretanto, novos estudos devem ser realizados identificando novos isolados, com melhor desempenho quanto à mortalidade e respostas aos testes em laboratório, visando à implementação da tecnologia para que possa ser empregada no campo de forma eficiente. 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Criação de Chrysodeixis includens Para se iniciar o programa de formulação de produto biológico é necessário primeiramente o estabelecimento da criação do inseto para a realização dos testes, no caso, com baculovírus. Toda a sequência de 21 atividades foi realizada no Núcleo de Biologia Aplicada, situado na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas-MG. A criação foi iniciada a partir de insetos coletados, na fase de lagarta, de diversos ínstares, em lavouras de soja em duas regiões, na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, e fazendas na região de Paracatu, região noroeste de Minas Gerais. As lagartas coletadas foram levadas para o laboratório e transferidas para recipientes plásticos de 50 ml contendo dieta artificial descrita por Greene et al. (1976), a base de feijão branco, levedura de cerveja e germe de trigo. Na dieta elas permaneceram até completar o ciclo e observados casos de parasitismo e possível morte por Baculovírus. As lagartas da coleta, que apresentaram sintomas característicos de infecção por Baculovírus foram isoladas e congeladas para o inicio dos testes após a consolidação da criação. As pupas das lagartas que completaram o ciclo sem apresentar sintomas foram separadas, e com os adultos emergidos se iniciou a criação de indivíduos sadios. Estes foram transferidos para gaiolas em canos de PVC (Figura 1) contendo solução com água destilada, açúcar, ácido ascórbico e glicose de milho, embebida em pedaço de algodão também em recipientes plásticos de 50 ml. O PVC é totalmente forrado com papel absorvente, onde os ovos foram colocados. O guardanapo foi trocado duas vezes por semana, e armazenados em sacos plásticos para eclosão das larvas. Estas quando eclodidas são transferidas para recipientes plásticos contendo ½ da sua capacidade de dieta artificial. A transferência das larvas era realizada utilizando pincel umedecido, sendo que foram acondicionadas 10 larvas por recipiente. Após sete dias as larvas foram individualizadas utilizando o mesmo material até atingirem a fase de pupa, onde foram transferidas para recipientes plásticos forrados com papel toalha até emergir a fase adulta e assim deu-se continuidade a criação. Todo processo foi realizado em sala em temperatura de 25± 2ºC. 22 Figura 1: Modelo de gaiola de PVC utilizado na acomodação de adultos de Chrysodeixis includens. 3.2 Multiplicação e seleção dos isolados Foram coletadas lagartas mortas de diferentes instares, com sintomas de baculovirus, confirmadas após a visualização no microscópio com 40x de aumento. Após a confirmação da presença do baculovírus, nas lagartas efetuou-se a maceração das mesmas em cadinho contendo 1,5 ml de água destilada. Foram realizados testes de mortalidade com estes isolados a fim de selecionar os que apresentaram maior taxa de mortalidade e menor tempo até a morte, e a multiplicação dos mesmos para o banco de baculovírus do laboratório para testes posteriores. Utilizaram-se folhas de soja contaminadas com o vírus, e logo após, oferecidas as lagartas por 24 horas. Após este período, as lagartas foram individualizadas em recipientes plásticos de 50 ml contendo dieta artificial onde era avaliada a eficiência dos isolados. Todo o 23 experimento foi realizado em câmara climatizada tipo B.O.D, com temperatura de 25ºC e fotofase de 14 horas. Com base nos resultados obtidos nos primeiros testes, o Isolado 15, assim denominado, foi selecionado para dar sequência nos bioensaios. Uma vez que apresentou maior taxa de mortalidade em um tempo menor para que a lagarta morresse. 3.3 Testes com Isolado 15 Buscando otimizar a produção de poliedros virais, reduzindo custos e tempo o experimento fez-se comparações entre melhor idade da lagarta para realizar a inoculação, bem como foi determinado a temperatura ótima para mortalidade destas e multiplicação do vírus após a inoculação e ainda determinou-se a concentração do vírus a ser utilizada no processo. Para a realização do bioensaio foram utilizados um total de 126 lagartas de 15 dias e 126 de 16 dias de idade. Destas, grupos de 42 lagartas de cada idade foram mantidas nas temperaturas de 22, 25 e 28ºC, sendo que 21 para cada uma das concentrações de vírus de 4,3 x 10 6 e 107pol/ml e 21 para a testemunha. As lagartas selecionadas para o experimento foram mantidas sem alimento por seis horas antes do inicio dos testes. Após este período foram oferecidas folhas de soja, previamente cortadas em círculo de área igual a 6,6 cm2com um molde de ferro (Figura 2) e infectadas com o vírus. Para a testemunha as folhas foram molhadas com água destilada. Posteriormente foram colocadas em bandejas plásticas de 20 cm x 27,7 cm, apresentando com 16 compartimentos de 3,8 cm x 5,7 cm isolados, sendo utilizadas duas bandejas para cada tratamento, totalizando 21 lagartas, por 24 horas (Figura 3). Por fim, os restos de fezes e nervuras das folhas, não consumidas, foram removidas e então oferecido dieta artificial até a morte do inseto. As avaliações foram feitas diariamente, e as lagartas mortas (Figura 4) retiradas da bandeja e congeladas até o momento de contagem. Na contagem de poliedros, as lagartas mortas foram maceradas em cadinho com 1,5ml de solução SDS (0,5%). Do macerado, retirou-se 0,2 ml e diluído em 1,8 ml de água destilada, e da mistura foram feitas mais duas diluições na mesma 24 proporção, com o propósito de facilitar a contagem, uma vez que a quantidade de poliedros no macerado e nas duas primeiras diluições dificulta o processo. Na terceira diluição acrescentou-se uma gota de Tween, espalhante que deixa a solução mais homogênea. Então se retirou 0,01 ml da diluição a qual foi inserida em cada uma das partes da Câmara de Neubauer, para a realização da contagem de poliedros, esporos, células entre outros. A contagem é feita em cada uma das partes da câmara, com o auxílio de um contador e o processo é repetido três vezes, e tirada à média das contagens. Para cada tratamento foi observado o número total de poliedros produzidos por lagarta. O delineamento experimental foi o fatorial, sendo que o primeiro fator se refere à idade das lagartas (F1), o segundo fator a concentração de baculovírus (F2) e o terceiro fator a temperatura (F3) no qual o experimento foi realizado. Estas são as variáveis independentes, e a variável dependente o total de poliedros produzidos. Os dados foram submetidos à análise de variância no programa ASSISTAT 7.7 beta, e para a comparação de médias utilizou-se o Teste de Tukey. Figura 2: Equipamento utilizado no corte das folhas de soja. 25 Figura 3: Bandejas utilizadas no experimento, contendo folhas de soja cortadas. Figura 4: Lagarta morta infectada com baculovírus. 26 4 RESULTADOS Não se encontrou diferenças quanto à produção de poliedros virais dentro de cada um dos fatores idade de lagartas inoculadas e concentrações do baculovírus (Tabela 1). Foram contabilizados 9,5 x 109pol/lagarta, em média, na temperatura de 25ºC, 7,3 x 109pol/lagarta em média para 22°C e 7,9 x 109 poliedros por lagarta, em média, na temperatura de 28°C (Tabela 2) (Figura 5). Ao comparar as diferentes temperaturas sobre a produção de poliedros, não foi observado diferença significativaentre 25 e 28ºC, embora a quantidade de poliedros tenha maior valor em 25°C. Esta informação é importante ao se realizar a produção do baculovirus em regiões mais quentes, limitando a necessidade de redução na temperatura, reduzindo gastos. A partir dos dados apresentados nos testes para as interações observou-se superioridade na produção de poliedros quando se tem maiores temperaturas independente da concentração e idade, sendo os tratamentos com 22°C inferiores, reafirmando aumento na eficiência do baculovírus em temperaturas mais altas. Tabela 1: Análise de variância (ANOVA). FV F Fator1(F1) IDADE 0.8640 ns Fator2(F2) CONCENTRAÇÃO 0.4165 ns Fator3(F3) TEMPERATURA 4.7360 ** Int. F1xF2 1.2256 ns Int. F1xF3 4.8810 ** Int. F2xF3 4.5267 * Int.F1x2x3 0.0832 ns Tratamentos ** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01) * significativo ao nível de 5% de probabilidade (.01 =< p < .05) ns não significativo (p >= .05) 2.8145 ** 27 Tabela 2: Teste Tukey para Temperatura. Temperatura Produção 22°C 7,3x10^9 25°C 9,5x10^9 a 28°C 7,9x10^9 b ab Classific.c/letras minúsculas para colunas. Médias seguidas com letras iguais não diferem entre si. Os resultados ainda mostraram diferenças significativas na interação idade e temperatura (Tabela 3), e concentração por temperatura (Tabela 4). Tabela 3: Teste Tukey para as interações da idade e temperatura. Fator 1 x Fator 3 (Idade X Temperatura) Temperatura Idade 22 25 28 15 bB aA aB 16 aA aA aA dms para colunas = 2040429000,0 dms para linhas = 2446849000,0 Classific.c/letras minúsculas para colunas e maiúsculas para linhas. Médias seguidas com letras iguais não diferem entre si. Tabela 4: Teste Tukey para as interações da concentração e temperatura. Fator 2 x Fator 3 (Concentração X Temperatura) Temperatura Concentração 22 25 28 10^6 bB aA aA 10^7 aA aA aA dms para colunas = 2040429000,0 dms para linhas = 2446849000,0 Classific.c/letras minúsculas para colunas e maiúsculas para linhas. Médias seguidas com letras iguais não diferem entre si. 28 Figura 5: Média de poliedros totais produzidos em cada tratamento. No gráfico a diferença de cores das barras separa os tratamentos por idade, sendo as mais claras 15 dias e mais escuras 16 dias. Figura 6: Média de poliedros totais produzidos em cada tratamento. No gráfico a diferença de cores das barras separa os tratamentos por concentração, sendo as mais claras 106 e mais escuras 107. 29 Figura 7: Média de poliedros totais produzidos em cada tratamento. No gráfico a diferença de cores das barras separa os tratamentos pela temperatura, sendo na sequência do mais claro para o mais escuro, 22°C, 25°C e 28°C respectivamente. 5 DISCUSSÃO Estudos Em um estudo realizado com o com vírus Spodoptera litura nucleopolyhedrovirus, Subramanian et al.(2006) observaram aumento na produção quando utilizado a temperatura de 25°C, enfatizando a influência da temperatura de incubação tanto no crescimento das larvas quanto na replicação do vírus. Mehrvar (2013) também encontrou maior produtividade do vírus Helicoverpa armigera nucleopolyhedrovirus na temperatura de 25°C em todos os isolados testados. Silva & Elliot (2016) em trabalho com A. gematallis, afirmam que a virulência por Baculovirus anticarsia é aumentada a temperaturas mais elevadas. Porém, observou-se também que o aumento da temperatura promoveu uma redução na mortalidade, uma vez que as larvas desenvolvem mais rapidamente, atingindo a fase de pupa, reduzindo a efetividade da infecção. Em relação à idade, Milkset al. (1998), trabalhando com a espécie Trichoplusia ni (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) encontrou poucas evidências 30 na variação da mortalidade em função da idade das lagartas, inferindo ainda que o aumento de doses do Baculovirus trichoplusia nucleopolyhedrovirus conduziu a um aumento semelhante na mortalidade em todos os grupos etários estudados. As temperaturas de 25 e 28ºC são mais indicadas para a multiplicação do baculovírus, e entre as idades testadas não há diferença com relação a ação do entomopatógeno. Um aspecto que merece ser considerado em trabalhos futuros é a avaliação do pico de mortalidade. Embora não existam dados sobre a espécie do presente trabalho, Valicente & Cruz (1992a) estudando S. frugiperda determinaram o efeito de três temperaturas na mortalidade e não encontraram diferenças entre elas. Porém observou tempo maior no pico de mortalidade para temperaturas mais baixas, o que não seria interessante para um processo produtivo. Os mesmos autores testaram o efeito de diferentes doses e temperaturas, encontrando maior mortalidade de S. frugiperda em maiores temperaturas e concentrações. A temperatura foi um fator que também influenciou no pico de mortalidade, onde os maiores picos foram encontrados nas maiores temperaturas. Em média as lagartas morreram depois de 11, 8 e 6 dias após a inoculação, quando mantidas em 20, 25 e 30°C respectivamente (VALICENTE & CRUZ, 1992b). Trabalhos com estes direcionamentos são escassos, comparando essas variáveis e principalmente para a espécie praga e entomopatógeno em questão. Essa falta de registros dificulta o desenvolvimento de novas tecnologias que utilizem o controle biológico, mais especificamente o emprego de entomopatógeno no controle de pragas. Essa dificuldade prejudica o estabelecimento de programas de controle biológico, uma vez que os estudos são realizados com o objetivo fornecer metodologias de produção voltadas para produção industrial. Beas-Catena (2014) em um trabalho sobre uma visão geral do baculovírus como biopesticida, relata que a produção atual é feita exclusivamente “in vivo”, colhendo as lagartas mortas no campo e aplicando baculovirus, ou utilizando lagartas em laboratório. Porém apresentam desvantagens econômicas em todas as suas etapas, apresentando 31 dificuldades na ampliação e preparação dos insetos e microorganismos (LASA et al., 2007). Para melhorar o rendimento na produção, esses mesmos autores, propuseram a utilização de hormônio juvenil influenciando no crescimento e sobrevivência de larvas de Spodoptera exígua e observou 2,7 a 2,9 vezes mais produção de poliedros quando comparados com o controle, além do aumento de peso. Esta é uma linha de pesquisa promissora, entretanto, a baixa disponibilidade de informações registradas dificulta o processo. Assim, torna-se necessário a realização de estudos para que se possam obter respostas mais concisas sobre a utilização do baculovirus no controle de C. includens. 6 CONCLUSÃO A utilização de baculovirus no controle de C. includens pode ser viável, considerando a manutenção do entomopatógeno ocorre na temperatura de 25º e de 28º. Não foi observado diferenças na produção de poliedros entre as idades das lagartas e a concentração do baculovírus. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIOVE – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais. 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