A nova comida de laboratório Em setembro de 1998, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil, aprovou a produção, em escala comercial no país, de um tipo de soja geneticamente modificada. Produzida pela empresa americana Monsanto, a soja Roundup Ready continha um gene da bactéria Agrobacterlum s.p.p., o que lhe garantia resistência ao herbicida pulverizado sobre o cultivo. O Brasil entrava na era dos alimentos transgênicos, revolução tecnológica que, como toda novidade, levantou imediatamente correntes contra e a favor. Os defensores dos alimentos geneticamente modificados – produzidos com plantas e animais de genes alterados em laboratório – diziam que uma produção melhor e em maior quantidade, a preços mais acessíveis, ajudaria a modificar o quadro de fome que atingia, na virada do século, 800 milhões de pessoas em todo o mundo. Os seus opositores – grupos ambientalistas, científicos e de defesa do consumidor – acenavam com a possibilidade de riscos para a saúde, como alergias, e para o meio ambiente, como o surgimento de superpragas ou a extinção de espécies. Foi com base nesses riscos que o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (ldec) conseguiu que a Justiça suspendesse, por algum tempo, a autorização para o cultivo da soja Roundup Ready, produto que a Monsanto já plantava há algum tempo nos Estados Unidos. Foi lá que se criou, em 1983, a primeira planta transgênica: um tabaco resistente a antibiótico. O consumidor levaria mais de uma década para provar a novidade. Em 1994, o tomate Flavr Savr, de amadurecimento lento, começou a ser comercializado nos EUA. No país onde, na virada do século, 70% dos produtos vendidos nos supermercados tinham algum tipo de transgênico, a polêmica só surgiria a reboque da Europa, onde o Governo da Grã-Bretanha, por exemplo, já sofria pressões para suspender a comercialização. Em junho de 1999, o G-B – grupo formado pelos sete países mais ricos e a Rússia – autorizou uma investigação especial dos efeitos desses alimentos sobre o homem e o meio ambiente. Enquanto isso, anunciava-se uma nova fase na produção – depois dos cultivos resistentes a pragas, os produtores se preparam para desenvolver café com mais sabor e menos cafeína, hortaliças com superproteínas, batata com menos água, para facilitar a fritura... O debate promete avançar pelo século XXI. Fonte A NOVA comida de laboratório. O Globo. Rio de Janeiro, n. 34, 1999. Globo 2000, p. 814. 1