Projeto de Mestrado Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Estadual de Campinas Julho de 2011 Candidato: David C. Reichhardt Orientador: Prof. Dr. Omar Ribeiro Thomaz O sionismo na cidade de São Paulo: Uma etnografia contemporânea dos movimentos juvenis sionistas I – Introdução ´´Something about my long and tortured love affair with Israel tells me that there must be some quasi-citizenship category that describes Diaspora Jews, a category that suggests a tangled and complex web of legitimate discourse when it comes to Israel.`` - Haaretz, 19/06/2011 A sensação descrita pela jornalista Mira Sucharov em artigo publicado pelo Haaretz1, não é um fato isolado e aparece como um questionamento comum ao judeu da diáspora nos dias de hoje. Ao passo que a imigração de judeus para Israel vem caindo nas últimas duas décadas2, é possível notar o sucesso de programas de curta e longa duração em Israel3 dentre os jovens das comunidades judaicas diaspóricas. Quais seriam as razões para que, apesar do maciço investimento na propaganda sionista, tanto por parte do governo como por doadores, a imigração judaica para Israel caia a cada ano? Quais seriam, portanto, os reais interesses por parte do governo nestes programas, e qual seria ainda a propaganda e a ideologia que estão sendo transmitidas, e que acabam 1 HAARETZ: http://www.haaretz.com/opinion/the-dilemma-of-a-diaspora-jew-at-an-israeli-peace-rally1.368540 2 Dados do Ministério da Absorção de Israel. www.moia.gov.il 3 Taglit - Birthright, Shnat Hachshará, Marcha da Vida (March of Living), etc. por gerar esta estranha sensação citada, em grande parte dos judeus que procuram Israel por conta própria4? Os movimentos juvenis sionistas paulistanos colaboraram com a criação do Estado de Israel e continuaram a suportá-lo fortemente na diáspora durante o período politicamente mais turbulento do país, o da ditadura militar. Israel firma de vez sua hegemonia militar regional com a guerra do Líbano em 1982, ao passo que a ditadura militar brasileira vê seu fim de forma oficial em 1985, fatores que colaboraram para uma grande perda de popularidade dos movimentos entre os jovens da comunidade judaica de São Paulo. Apesar da redução estrutural vivida pelos os movimentos sionistas paulistanos, estes alcançaram um patamar estável nos últimos anos e que conta com basicamente os mesmos estatutos e ideologias de sempre. O projeto propõe, portanto, uma etnografia dos movimentos juvenis sionistas paulistanos na atualidade, de forma a compreender o que é o sionismo praticado e incentivado por Israel na diáspora para abrir caminho a uma compreensão do sionismo dentro de Israel futuramente. II – Breve histórico das organizações juvenis judaicas em São Paulo 2.1. Da gênese à consolidação A cidade de São Paulo da década de 40 representava um lugar atrativo para o estabelecimento das comunidades de imigrantes que chegavam ao Brasil vindos de diversos países, motivados principalmente pelas conseqüências da Segunda Guerra Mundial. Era possível encontrar na cidade uma comunidade judaica organizada, que com o impulso da imigração no período entre-guerras e no pós Segunda Guerra Mundial, viu suas instituições se fortalecerem apesar das restrições enfrentadas pelos imigrantes judeus durante a Era Vargas5. (CAMPAGNANO, 2011; FAUSTO, 1997) As instituições centrais para os primeiros judeus que chegaram a São Paulo foram basicamente sinagogas, onde cada uma reunia imigrantes de um determinado país 4 Ou seja, sem auxílio do governo CAMPAGNANO, A.R. In Difesa Della Razza: Judeus italianos refugiados do fascismo e do antissemitismo do governo Vargas (1930-1945). São Paulo: Edusp, 2011. FAUSTO, B. Negócios e Ócios. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 5 ou região, tendência abandonada já pela primeira geração de judeus nascida no país. (TOPPEL, 2005) A sinagoga como um ‘espaço judaico por excelência’ logo foi dando espaço a outros tipos de instituições, mais distantes dos valores religiosos e ortodoxos, que acabaram projetando o judaísmo em outras direções. Muitos dos imigrantes judeus que vieram para a cidade no período eram originários da Alemanha, do norte da Itália e da Hungria, e se identificavam com a cultura Alemã. Foram estes os responsáveis por, em 1936, darem corpo à entidade comunitária que se tornaria uma das principais referências para a comunidade paulistana, tanto pelo número de freqüentadores como pelo papel desempenhado em servir de eixo ao judaísmo paulistano durante décadas: a Congregação Israelita Paulista (doravante, CIP) (SOBEL, 2008; AVANHANDAVA, 1999: 15). A CIP logo definiu seu caráter em torno do judaísmo liberal alemão, e com o crescimento da comunidade, o rabino Fritz Pinkuss, então diretor da instituição, passou a promover a organização de atividades juvenis. Muitos dos membros haviam participado de movimentos juvenis na Alemanha, onde “acompanhavam as tendências da vida política, incluindo as várias correntes de esquerda ao lado dos conservadores e dos fascistas”. (AVANHANDAVA , 1999: 15). A CIP inaugura em 1938 seu primeiro movimento juvenil, o movimento escoteiro “Avanhandava”, um dos movimentos judaicos pioneiros na cidade (SOBEL, 2008: 65; AVANHANDAVA, 1999). A idéia de fundar um grupo escoteiro vinha dos interesses da diretoria da CIP, que caminhavam no sentido de enraizar estes jovens imigrantes no país, onde o escotismo possuía um forte caráter patriótico, além de suas atribuições pedagógicas6, tidas quase como um curso para complementar os estudos. O escotismo no Brasil era apoiado pela Liga de Defesa Nacional criada por Olavo Bilac, “com a finalidade de desenvolver o civismo, manter a idéia de coesão e integridade nacional, difundir a instrução militar e o culto ao heroísmo pátrio”. (AVANHANDAVA, 1999: 17) A forte pressão interna para que o movimento fosse legalizado o levou a se chamar “Tribu Avanhandava”7, e fez com que sua inauguração fosse oficializada no dia 6 “A difusão do escotismo em São Paulo e no Rio de Janeiro a partir do início dos anos 20 esteve estreitamente associada ao sistema escolar público , que via no movimento um ‘método pedagógico’ que poderia ser utilizado de modo complementar nas escolas. Desde então, o escotismo ganhou importância, legitimidade e reconhecimento oficial.(...) Ao final da década de 20, o movimento já assumia assim uma diretriz nitidamente ligada ao sistema público de ensino, entendido pelos educadores como uma ‘escola primária de civismo’”. (AVANHANDAVA, 1999: 17) 7 “A escolha do nome Tribu também seguiu a tradição escoteira do país. O próprio nome – Avanhandava – fazia referência a um certo passado indígena, assim como dezenas de outros grupos escoteiros fundados no mesmo período: Ubirajara, Tabajaras, Tucuruvi, Itororó, Guararapes”. (AVANHANDAVA, 1999:26) 7 de setembro pelo valor da data no calendário nacional. A filiação deste movimento à ABE (Associação Brasileira de Escotismo) e o enquadramento do estatuto do movimento às exigências do governo Vargas, acabaram por colocar o movimento em uma posição próxima a outros movimentos juvenis brasileiros e escoteiros da época, bem como conferir uma boa imagem para a comunidade, uma vez que o movimento era também tido como um “mecanismo de defesa ou uma fachada de proteção às atividades do grupo de jovens judeus durante o Estado Novo”. (AVANHANDAVA, 1999: 37) O movimento foi altamente difundido pela comunidade, uma vez que uma das intenções da CIP era congregar judeus de todos os setores da comunidade. Tal propósito foi alcançado com certo êxito ao longo das décadas seguintes, apesar do antagonismo que a Avanhandava representou a movimentos judaicos sionistas que ganhavam força na mesma época em São Paulo, a exemplo do HaShomer e do Habonim Dror, que já possuíam sedes em outros países. O Shomer, estabelecido em São Paulo no mesmo período da Avanhandava, possuía raízes no sionismo e no escotismo desenvolvidos na Alemanha e na Inglaterra, aliado a valores socialistas, sendo assim caracterizado como um movimento juvenil escoteiro, sionista e socialista. Na tendência do Shomer, ainda neste período, figura o Habonim Dror, que deitava raízes no leste europeu e se caracterizava como um movimento juvenil, sionista, socialista, e Kibutziano, ou seja, pregava os valores do Halutz8, o pioneiro da terra de Israel idealizado pelo sionismo e que buscava o assentamento em Israel através do modelo de Kibbutz9. O antagonismo entre estes dois últimos movimentos e a Avanhandava era evidente, pois este último não via a emigração de todos os judeus para a “Terra Santa” como uma necessidade ou um fim em si do movimento, e estava voltada para a integração dos seus jovens no cenário nacional. Se de um lado o governo Vargas investia em práticas e leis que incentivavam o patriotismo, valorizando feriados e símbolos nacionais, o sionismo se desenvolvia desde o fim do século XIX, e ganhava força entre os judeus da diáspora em todo o mundo. No Brasil, indivíduos de distintas origens passavam a se perceber como parte de coletividades políticas mais amplas, por vezes contraditórias, por meio de atividades comunitárias e mesmo de uma clara vivência ritual. Como lembra Hobsbawn, “(n)a maioria das ocasiões em que pessoas tomam consciência da cidadania como tal 8 Halutz é o termo usado para designar o pioneiro idealizado pelo sionismo. Dentre seus principais valores estão o uso do hebraico no cotidiano e um “retorno” ao trabalho braçal no campo. 9 Kibbutz é o nome hebraico das Comunidades Agrícolas Autosuficientes que se assentaram na Palestina visando o desenvolvimento das terras, tanto antes quanto depois da fundação do Estado de Israel. permanecem associadas a símbolos e práticas semi-rituais (por exemplo, as eleições), que em sua maior parte são historicamente originais e livremente inventadas: bandeiras, imagens, cerimônias, e músicas”. (1984: 20) O hebraico trazia à tona um passado distante em comum aos judeus. Como nota Bennedict Anderson, “a importância da língua é uma capacidade de gerar comunidades imaginadas, e não símbolo nacional”. (1983: 196) Para o sionismo, o hebraico cotidiano era o núcleo duro de sua atuação, pois constituía uma das bases para a “criação da moderna nação judaica e a busca por conciliação de uma multiplicidade de judeus que se concebia de diferentes formas, que falavam diferentes línguas”. (ODEBRECHT, 2009: 10) O desenvolvimento e expansão do nacionalismo (ANDERSON, 2005:.62; HOBSBAWN, 1984), exigia a restauração de um passado distante para legitimar uma afirmação nacional. O nacionalismo judaico não é exceção e, inspirado no romantismo europeu, nutriu seu próprio renascimento cultural com referências a antigos ideais bíblicos que sugeriam a volta do povo judeu a “Terra Santa” – a Palestina – e o uso do hebraico como língua do cotidiano. A particularidade da identidade israelense começa a tomar forma sustentada no hebraico e em valores que, na Palestina, passaram a encarnar a imagem do “pioneiro”, ou Halutz, que tinha entre seus principais valores a auto-suficiência e a autodefesa, incorporados futuramente aos valores morais presentes no código de ética do exército de Israel. (EISENSTADT,1977: 51) O sionismo, apoiado na crença da reunião dos exilados, propõe que a realização plena do jovem judeu dar-se-á com a imigração definitiva para Israel. De acordo com Friedman, “a reunião dos exilados é também uma vigorosa moldagem dos cidadãos e para muitos deles se fez acompanhar por um desligamento da religião” (1969:217). Estes jovens dariam corpo a “patriotas israelenses que nada têm de judeu além da lembrança de suas origens, e se tornam goim10 falando hebraico”. (FRIEDMAN, 1969) Como aponta Rattner (1977), “nem o processo de modernização e laicização da sociedade brasileira nem a integração e aculturação dos judeus paulistanos a uma sociedade que não colocou quaisquer obstáculos para sua plena participação social e mobilidade ascendente, atuaram como fatores de desintegração do grupo ou da perda de sua identidade étnica”. (apud. TOPPEL, 2005:63) A aproximação à sociedade brasileira não desintegrou a comunidade, que se adaptou deixando as instituições religiosas e sinagogas mais à margem da vida 10 Goim , do Hebraico ‘Gentios’ comunitária: ser membro ou participante ativo de uma sinagoga já não constituía um indicador de prestígio, “sendo substituído pela atuação em instituições judaicas basicamente laicas como clubes, organizações de assistência social, instituições educativas e movimentos juvenis”. (TOPPEL, 2005:67) 2.2. Pluralidade ideológica nos movimentos, e o sionismo como aspecto comum O afastamento das tradições religiosas e ortodoxas foi uma característica que atingiu a grande maioria das instituições da comunidade, e se refletiu no âmbito dos movimentos juvenis. Dentre os vários movimentos estabelecidos em São Paulo, o Dror oferecia ao “jovem uma oportunidade de aquisição de uma identidade judaica que não fosse religiosa. A identidade judaica alimentada no Movimento juvenil era uma identidade fundamentalmente nacional” (PINSKY, 2000:186). O Habonim Dror já possuía sedes em outros países e aparecia como um dos principais movimentos juvenis judaicos de caráter estritamente nacional. Como aponta Pinsky11, “a construção da identidade judaica promovida pela educação drorista dispensava a religiosidade. O Dror, ideologicamente, não só não era religioso como, em certo aspectos, anti-religião (embora se abstivesse oficialmente de podar a liberdade de crença de seus chaverim12)”. A Chazit Hanoar se destaca como outro movimento que surge de dentro da CIP, no momento que a diretoria buscava reforçar o judaísmo dentro de suas atividades com os jovens, reforço que veio na forma do Sionismo, e assim surge a Chazit Hanoar como um movimento juvenil, judaico, sionista, continental (por possuir sedes em outros países da América do Sul) e apartidário. Alguns anos após o fim da Era Vargas, a Avanhandava já redefine seu caráter e também se impõe como um movimento juvenil judaico, sionista, apartidário, comunitário, educativo não-formal, escoteiro e bandeirante. O judaísmo liberal promovido pela CIP tornou viável o desenvolvimento destes dois movimentos com pouca interferência religiosa, e seu apartidarismo pode ser 11 PINSKY, Carla B. Pássaros da liberdade:Jovens Judeus Revolucionários no Brasil.São Paulo, Contexto:2000. P. 184 12 Chaverim, do Hebraico que significa: ´´Amigos; Membros``. entendido como um reflexo da preocupação da instituição em não se posicionar politicamente de forma oficial. O debate político sempre foi presente dentro destes movimentos, mas sem uma nenhum tipo de filiação partidista, o que permitiu uma maior heterogeneidade entre os jovens. Havia uma grande preocupação da CIP na época, como um dos principais centros da comunidade em São Paulo, em não se posicionar politicamente de forma a evitar atrair “o ódio do governo para a comunidade”13, preocupação grande tanto durante a Era Vargas como durante a ditadura militar, período que representou o auge em número de participantes nestas associações juvenis. Se por um lado, oficialmente as instituições judaicas como a CIP ou a Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo) pouco se pronunciaram durante estes anos politicamente turbulentos, o debate entre os jovens da comunidade se inflava na forma dos movimentos. Os anos que marcaram o fim dos anos 60 e o começo da década seguinte despertaram forte interesse nestes jovens: a vitória militar israelense em 1967, e o medo causado pela guerra de 1973, despertaram uma sensação de envolvimento entre as comunidades diaspóricas e o Estado de Israel. Segundo o Rabino Henry Sobel que coordenava na época a relação entre os movimentos e a CIP, um sionismo de esquerda empolgava a juventude, principalmente depois da vitória de Israel sobre os exércitos árabes em 1967. Em plena ditadura, discutia-se dentro da Chazit Hanoar temas como direitos humanos, as diversas vertentes – de esquerda e direita – do sionismo, e mesmo o marxismo, fazendo-se as comparações entre o socialismo na União Soviética e na China... Não por acaso, diversos ativistas da Chazit (que possuía em torno de 1500 participantes todos os sábados) terminariam se engajando em grupos clandestinos de esquerda, contra a ditadura militar. (SOBEL, 2008:67) Partindo da vontade de aproximar o debate sionista do mundo religioso, alguns membros da Chazit deixaram o movimento para fundar o movimento Netzach, ligado a outra sinagoga, como forma de satisfazer esta demanda. Os problemas políticos que se desenvolviam em Israel cada vez mais atingiam as comunidades da diáspora, como exemplo a multiplicação de atos terroristas que envolviam a diáspora desde o trágico episódio das olimpíadas de Munique em 197214, até a explosão da sede da congregação 13 14 Ver ´´SOBEL, Henry I. Um Homem: um Rabino. São Paulo: Ediouro, 2008.`` Nos jogos olímpicos de Verão de 1972 em Munique, terroristas do grupo ‘setembro negro’ fizeram refém 11 atletas israelenses. Uma tentativa de libertação dos reféns levou à morte de todos os atletas, além de cinco terroristas e um agente da polícia alemã. AMIA em Buenos Aires por terroristas da Hezbolla15 em 1994, fatos estes que impulsionaram a aproximação de israelenses e judeus da diáspora em torno de um passado trágico comum, e deu mais fôlego aos movimentos sionistas da diáspora. 2.3. O caso Vladimir Herzog Particularmente em São Paulo, a comunidade paulistana acompanhou de perto os acontecimentos do caso envolvendo o diretor de jornalismo da TV cultura Vladimir Herzog em 1975, que foi torturado e morto pela ditadura, que por sua vez alegou que o jornalista havia cometido suicídio dentro da prisão. Na ocasião, como descreve o Rabino H. Sobel em sua biografia, quando se comprovaram as marcas de tortura e golpes, o próprio rabino pediu para que o corpo do jornalista fosse enterrado em uma área nobre do cemitério judaico, que possui uma área especial para os que se suicidam16, o que foi alvo das capas de jornais do dia. A repercussão política foi grande, principalmente após a organização junto ao bispo Paulo Evaristo Arns de um ato ecumênico em frente a Catedral da Sé. A comunidade acompanhava e apoiava a movimentação política do Rabino, mas sem se pronunciar de maneira oficial com o receio de que um “posicionamento mais firme pudesse despertar, entre os militares, uma ira que terminaria se abatendo sobre o conjunto da comunidade judaica”. (SOBEL, 2008) Este posicionamento silencioso das grandes instituições judaicas levou ainda mais jovens a aderir aos diversos movimentos existentes. Foracchi, em estudo sobre a juventude brasileira17, afirma que “há na juventude moderna não só um apelo para a vida comunitária, mas, em certos setores, uma verdadeira identificação com tal modo de vida, um vínculo que chega a ser emocional e pretende impor-se como resposta jovem à indagação adulta sobre o tipo de vida que desejariam ter”. (FORACCHI,1972:27) A Chazit Hanoar era na época a maior organização juvenil judaica do país18 e adotou o caso Herzog como bandeira, convidando frequentemente o rabino a conversar sobre o tema. Os movimentos juvenis sionistas de São Paulo viveram a partir dessa década um período de efervescência e o debate cresceu, diferenciando os movimentos 15 Hezbollah é um grupo de resistência com base do sul do Líbano. A justiça Argentina responsabilizou em 25/10/2006 o Irã por ter encomendado o ato terrorista ao grupo, segundo a agência de notícias EFE. O ataque deixou 85 mortos e pelo menos 151 feridos. 16 Segundo a tradição judaica, o cemitério deve possuir uma área reservada próxima aos muros destinada aos que cometem suicídio, por considerar a vida a maior dádiva divina. 17 FORACCHI, Marialice M. A juventude na sociedade moderna. São Paulo: Pioneira, 1972. 18 SOBEL, 2008 em geral quanto a suas posições em relação a política e a religião, mantendo porém, todos eles o caráter sionista. Movimentos como o Habonim Dror, e o Hashomer Hatzair, levantavam a bandeira do Socialismo e tinham pouco ou nenhum vínculo religioso. A Chazit Hanoar, e a Avanhandava discutiam o sionismo aliados a várias correntes políticas, sem se filiar a nenhum partido de forma oficial. Em 1974, é fundado por exmembros da Chazit, o movimento Netzach que buscava continuar a discussão da temática sionista, porém aliada à religião. O Bnei Akiva também aparece neste cenário, reinvindicando o título de maior movimento Sionista Religioso. A comunidade Shalom, que consolidou sua presença na cidade de São Paulo na última década também lançou em 2008 seu movimento juvenil, o NOAM, que é apoiado pela sinagoga19, apresenta também um caráter sionista, e vem crescendo nos últimos anos. Apesar das mais diferentes correntes presentes entre os jovens da comunidade, o debate e posicionamento sionista é um traço comum a todos eles. O debate sionista no Brasil aparece principalmente na forma dos movimentos juvenis, e são eles, portanto, a parcela mais radical do debate e que pode melhor fornecer uma amostra das tendências e da dimensão do movimento atualmente. No caso específico de São Paulo, a comunidade foi fortemente liderada pelas instituições seculares (TOPPEL, 2005) até meados da década de 80, quando começam a perder influência.20 Estas instituições se mantiveram distantes do judaísmo tradicional e apoiaram seus valores nos símbolos sionistas, embasados principalmente nos acontecimentos que envolveram a Shoá e o nascimento do novo Estado. 2.4. A força dos movimentos Sionistas em São Paulo, da década de 40 à década de 90 Ao longo dos anos 50 e 60, os movimentos sionistas se expandiram. A proximidade temporal com a Shoá21, as guerras vividas por Israel nos anos de 40 e 50, dentre elas a guerra de independência em 1948 e a guerra do Sinai em 1956, sustentaram os debates e o interesse dos jovens da comunidade no período. O risco que os Estados vizinhos impunham sobre Israel manteve o debate vivo durante as décadas 19 A Shalom surge como uma opção aos judeus não-ortodoxos de São Paulo, e apóia o Noam de forma similar ao apoio da CIP à Chazit e Avanhandava. 20 Toppel irá desenvolver sua pesquisa no aproveitamento que os judeus ortodoxos tomaram deste enfraquecimento das instituições associadas a Haskalá, ou o movimento iluminista judaico. 21 Termo usado para designar o sofrimento judeu durante a Segunda Guerra Mundial seguintes que tiveram como forte marco a guerra dos seis dias em 1967, e a guerra do Yom Kipur em 1973. Diferentemente das expectativas iniciais, acerca do fim do sionismo após a criação do Estado, ´´para os sionistas, a nação encontrava-se sempre ameaçada – e portanto ainda não era momento de se retirarem da cena israelense.``(ODEBRECHT, 2010:13) O golpe militar ocorrido no Brasil em 1964 serviu de impulso para aumentar o número de frequentadores nos movimentos. O caráter socialista de muitos deles, ou uma tendência de esquerda mesmo nos movimentos apartidários, atraiu uma enorme quantidade de jovens e consolidou de vez estes movimentos. Em 1974, o caso Herzog pôde ser acompanhado de perto pelos movimentos juvenis paulistanos, o que levou muitos destes jovens inclusive a sair dos movimentos judaicos sionistas para dar força a movimentos clandestinos de combate a ditadura. (SOBEL, 2008) Consequentemente, com o fim da ditadura, e posteriormente da guerra fria, os anos 80 acalmaram os ânimos políticos destes jovens levando os movimentos a aproximar sua relação com a comunidade judaica paulistana e com o Estado de Israel. É a partir desta década, que os programas sionistas de curta e de longa duração em Israel passam a ser fortemente apoiados e financiados pelo Estado, que passa a investir pesado na propaganda sionista, tanto por uma necessidade de definir o perfil nacional israelense, quanto pela necessidade demográfica de trazer imigrantes judeus para o país. Os ataque terroristas às comunidades perderam intensidade, ou se voltaram a alvos como embaixadas, com exceção do ataque a Amia22 em Buenos Aires no ano de 1994 que reforçou o alerta em todas as instituições judaicas da América Latina. A guerra de 1980 entre Israel e Líbano, pode ser vista como um marco que consolidou a hegemonia militar israelense na região espantando, pelo menos na prática, o´´risco de existência`` que por tantos anos ameaçou o Estado. (GILBERT, 2010) Em 1974, se estabelece em São Paulo a primeira sinagoga do grupo BeitChabad, que, conforme análise de M. Toppel, seria um marco na inauguração de um novo perfil da comunidade paulistana que passaria a receber cada vez mais instituições ortodoxas desde então. Analisando estes fatores, pode-se encontrar, portanto, um vazio ideológico dentre os motivos que sustentaram os movimentos juvenis sionistas em São Paulo durante todas estas décadas. É no fim dos anos 80, e decorrer dos anos 90, que estes movimentos viram o número de frequentadores em queda livre, tendo inclusive, alguns 22 Principal instituição comunitária judaica da Argentina deles fechado suas portas, ou viram-se obrigados a se unir a outros grupos, ou viram seus recursos mergulharem em enormes dívidas financeiras. A perda de intensidade dos motivos que sempre impulsionaram os movimentos, como os atentados terroristas diretos às comunidades da diáspora, as guerras que representavam um risco iminente a existência de Israel, os debates políticos impulsionados pela guerra fria, e o fim da ditadura brasileira, representaram um duro golpe, mas não o fim dos movimentos. Eles reduziram em muito seu tamanho, porém, suas estruturas e ideologias permanecem muito próximas ao que sempre propuseram. A crise das instituições seculares na comunidade paulistana não se limita ao âmbito dos movimentos, mas se estende aos clubes e escolas comunitárias, citando M. Toppel, ´´A crise das escolas judaicas seculares de São Paulo é cada vez maior e está marcada, principalmente, por um aumento considerável da evasão dos alunos. (…) A razão principal deste fenômeno se encontra na falta de um atrativo do clube A Hebraica e da CIP – que já não congregam no seu seio os jovens da comunidade e que são vistas por esses como instituições ''Demodée'', onde tudo é conhecido e enfadonho.`` (2005) A hebraica que sempre fora um dos principais centros da comunidade, viu nas últimas décadas cair o número de sócios e frequentadores das atividades religiosas, ao passo que a CIP não conta mais com os serviços do Rabino Henry Sobel que representava uma figura forte no campo religioso, no cenário da juventude, e para a comunidade judaica paulistana em geral, com exceção da parcela que representa a ortodoxia judaica. Apesar da redução de seu tamanho em todos os aspectos, os movimentos juvenis sionistas de São Paulo seguem com suas atividades semanais e contam com jovens voluntários que demonstram uma grande vontade e empenho na transmissão destes valores. A criação recente do movimento Noam, que volta a colocar em pauta a defesa do sionismo, e que conta com um crescimento surpreendente nos últimos anos, mostra como a questão do sionismo segue viva entre os jovens judeus da comunidade de São Paulo. Se faz objetivo deste projeto, portanto, buscar quais os impulsos que mantém o sionismo vivo na alma destes jovens nos dias de hoje, uma vez que a assimilação a sociedade brasileira é vista como bem sucedida, levando a um conseqüente enfraquecimento da comunidade da Haskalá, e depois de 60 anos da fundação do Estado de Israel. O projeto busca compreender o que significa ser sionista no Brasil hoje, uma vez que se foram os principais impulsos que sustentaram os movimentos até o fim da década de 90. III – Israel e a diáspora na atualidade ´´Nossa meta é que todo jovem judeu passe um período significativo em Israel.`` A frase é de Ariel Sharon, então primeiro-ministro israelense, em uma assembléia geral da UJC23 em Jerusalém no ano de 2003. A frase do primeiro-ministro diz respeito ao investimento governamental em programas organizados pelo Masá; A instituição tem como função coordenar e repassar o subsídio governamental a uma série de programas. São apoiados diversos programas de curta e de longa duração em Israel, entre os principais se encontra o Shnat Hachshará, que faz parte do cronograma da vida de todo jovem dos movimentos. Este programa consiste em um curso de formação de líderes de um ano em Israel, quando se busca uma experiência de aprendizado e atividades comunitárias. O ano, geralmente dividido em alguns módulos, está distribuído entre experiências de vida em um kibbutz, o aprendizado fluente do hebraico, atividades voluntárias comunitárias, passeios por todo o país e inclusive uma semana de experiência com o exército, onde podem aprender algumas noções básicas presentes na ideologia militar israelense. Além deste programa, outro muito comum entre os jovens da comunidade é o Taglit - Birthright Israel, de caráter turístico e com uma semana de duração, amplamente apoiado pelo Estado Israelense e financiado principalmente por doadores24, que leva jovens judeus de todo o mundo para uma viagem de uma ou duas semanas de duração em média para fazer turismo no país. O programa levou 230.000 jovens para o país desde 199925, com financiamento de filantropos, comunidades, organizações 23 United Jewish Communities Fundação Adelson fez em 2007 uma das maiores doações ao programa no valor de U$25 milhões de dólares, de forma a financiar a viagem de 10,000 jovens. Fonte: Haaretz: http://www.haaretz.com/news/adelson-foundation-gives-25-million-to-taglit-birthright-1.212225 25 http://www.haaretz.com/new-initiative-takes-taglit-grads-to-next-advocacy-stage-1.282406 24 judaicas e inclusive do governo. O sucesso do programa é notado não só pela longa fila de espera e as grandes doações recebidas, mas inclusive pela cópia de seu modelo dentre comunidades Armênias, Palestinas e Ultra-Ortodoxas, cada qual a sua maneira26 (HAARETZ, 2010). O mesmo artigo cita um diretor27 da Federação Judaica Americana em declaração ao Haaretz28 publicada em 13/06/2008: "But after 10 days of an intense experience in Israel, they go home, back to their lives, and we lose touch with them."29. A declaração permite identificar que, apesar do alto investimento, não há a intenção de criar um vínculo permanente com estes jovens. Apesar das muitas viagens financiadas tanto em programas como o Taglit e como no Shnat (dentre muitos outros programas de curta e longa duração oferecidos pelo Masá), o número de jovens paulistanos que emigra de fato para Israel, não vem acompanhando o aumento do interesse e dos investimentos, além de se observar que uma significativa parcela dos que emigram acabam retornando anos depois. Ainda assim, conforme artigo publicado no Forward.com, o governo Israelense planeja investir cerca de U$100 milhões no programa, de forma a trazer para Israel cerca de 50.000 jovens no Taglit-Birthright pelos próximos três anos. O alto investimento do governo nestes dois programas mostra o seu valor. Com uma breve análise dos programas na diáspora, particularmente no caso específico da comunidade paulistana, o pouco retorno em termos de emigração leva a crer que estas idas e vindas de Israel adquiriram um caráter educativo, ou pelo menos focado nas bases que devem sustentar o sionismo na diáspora. O interesse do governo, portanto, não parece estar relacionado apenas a questão da imigração, e sim com uma questão educativa no que diz respeito ao sionismo para a diáspora. O investimento feito pela diáspora na construção do sionismo tomou um rumo inverso, onde o Estado Israelense passa a investir no sionismo 30 da diáspora. Uma análise etnográfica dentro dos movimentos juvenis sionistas colaboraria para a compreensão do papel do Estado Israelense nesses grupos, e consequentemente, entender quais são os interesses do Estado em investir no sionismo da diáspora, ou mesmo como ele percebe as comunidades judaicas da diáspora. 26 Idem Em condição de anonimato 28 Haaretz é um dos principais jornais israelenses 29 Idem, HAARETZ 30 No sionismo, pois a presença do Estado em outras instituições da comunidade é pouco significativa e foge da temática do projeto. 27 A idéia sionista dos movimentos se mantém a cada geração que volta do programa Shnat. O pouco retorno destes jovens para Israel quando se trata de imigração, mostra que a preocupação do governo está na manutenção do movimento sionista na diáspora. Desta forma, a idéia da etnografia é compreender junto aos jovens, o que é este sionismo que está sendo praticado. Observa-se uma mudança no caráter do sionismo, que trabalhou para fundar e manter o estado nas suas primeiras décadas turbulentas, e hoje está se firmando como um elo de relação entre Estado e diáspora no sentido de aproximar as comunidades do Estado. O fim de uma ameaça real à existência de Israel coloca-o em uma posição onde o sionismo teria cumprido seu papel na colaboração pela sua consolidação, e busca hoje um novo sentido. O contínuo investimento nos programas sionistas mostra que ele assume no momento uma nova função em manter o vínculo entre o Estado e a Diáspora, e passa por um processo de redefinição de seus valores. Mesmo com a perda de tamanho dos movimentos sionistas em São Paulo, estes atingiram um tamanho estável nos últimos anos, após um processo de adaptação envolvendo fusões e mudanças de bairro. As discussões em torno das questões impostas hoje em relação a judaísmo e sionismo voltaram recentemente a ganhar espaço entre os jovens, como pode se observar pelo crescimento do grupo Hilel31 no Rio de Janeiro, que passou neste ano de 2011 a promover encontros em São Paulo. Entre as obras publicadas que servem de análise tanto quanto para a comunidade como quanto aos próprios movimentos, o que frequentemente se encontra é um material que aparece na forma de biografias de personagens envolvidos nos movimentos ou mesmo das próprias instituições apresentando em geral uma abordagem historiográfica. Em termos de inserção no mundo da comunidade, a tese de Marta F. Toppel, em Jerusalém e São Paulo faz uma profunda análise sobre o desenvolvimento ortodoxo na comunidade, e, consequentemente, do novo perfil da comunidade da Haskalá, mas não aborda o caso específico do perfil do sionismo moderno na cidade. Uma etnografia pode traçar o perfil do que representa o sionismo no Brasil para a comunidade, para estes jovens, do significado do sionismo para o Estado, para 31 Hilel: Nossa missão é integrar jovens adultos em um ambiente pluralista de valores judaicos, dar oportunidades de excelência para o seu desenvolvimento social, profissional e cultural além de desenvolver os futuros líderes da comunidade. Fonte: www.hilelrio.org.br futuramente abordar no doutorado a questão sionista dentro do próprio Estado Israelense. IV – Objetivos gerais e específicos do projeto Dentre os objetivos gerais do projeto é possível colocar em primeiro lugar o de complementar as análises dos fenômenos sociais com os quais se depara a comunidade judaica paulistana hoje, que é a maior do Brasil. Dentre eles, a mudança no caráter do sionismo moderno, que perdeu suas principais bases no decorrer da década de 1990. O fim do declínio dos movimentos juvenis, que atingiram um patamar estável novamente em termos de recursos bem abaixo daquele que se via entre as décadas de 1960 até 1980, indica que o sionismo, que continua em pauta nas atividades, passou por um processo de ressignificação de seus principais valores. Qual é o perfil deste sionismo, e quais os valores que o compõe na diáspora hoje, são objeto deste projeto. A compreensão do que significa o sionismo para estes jovens, vai de encontro com um objetivo maior, a ser abordado futuramente em um projeto de doutorado, a respeito da relação entre o caráter do sionismo proposto pelo aparelho estatal Israelense e do sionismo vivido no cotidiano, além de contribuir para os estudos sobre juventude e diáspora. De forma a atingir estas metas mais gerais, o que se propõe como objetivos específicos são: - A realização de uma etnografia junto aos movimentos juvenis sionistas presentes na cidade de São Paulo. -Coletar dados e informações etnográficas e históricas acerca dos movimentos. - Analisar com base no material coletado e na bibliografia envolvida qual é o caráter do sionismo praticado por esta juventude. -Analisar a imagem de sionismo proposta pelas instituições governamentais israelenses. -Dialogar com outros estudos sobre Juventude e Diáspora. V – Metodologia Com o propósito de realizar uma etnografia do que são estes movimentos juvenis atualmente pretende-se, em um primeiro momento, o acompanhamento de uma atividade, de cada um dos movimentos citado no projeto, que se realizam aos sábados. A intenção é acompanhar a dinâmica das atividades com base no conceito de observação participativa, ou seja, participar das atividades da maneira que for possível em cada grupo, além de tomar nota dos rituais particulares a cada movimento e de como cada um aborda a questão do sionismo e até mesmo do hebraico no cotidiano. A aproximação deve ser feita, portanto, junto aos movimentos Habonim Dror, Hashomer Hatzair, Chazit Hanoar, Avanhandava, Noam, Netzach e Bnei Akiva. Devido a possibilidade de acompanhar apenas um grupo por semana, a previsão é que esta etapa dure aproximadamente sete semanas. Após este primeiro contato com os movimentos, a intenção é aprofundar a análise com base em três deles, utilizando como critério os traços mais significativos que os distinguem e a expressão dentro de cada “linha”: o Dror, por ser o movimento sionista socialista de maior expressão; a Chazit, pela sua característica apartidária; e o Bnei Akiva, por ser o mais antigo movimento sionista religioso na cidade. Nesta etapa do projeto, a idéia é acompanhar e elaborar junto aos jovens monitores o processo de elaboração das atividades, além de um levantamento do currículo educativo de cada movimento. Pretende-se ainda participar destas atividades, com especial atenção para as narrativas e propostas que dizem respeito ao sionismo. Numa segunda etapa, a idéia é, por meio de conversas formais e informais, discutir em profundidade com um grupo mais restrito de jovens o que se entende por sionismo no Brasil, além de procurar compreender qual é a sua expectativa, e como encaram, os programas financiados pela comunidade e por Israel. Dentre os programas financiados com a intenção de levar os jovens a Israel, as questões devem ser elaboradas com base nos três principais: o Shnat Hachshará, que é o curso com duração de um ano para formação de monitores; a Marcha da Vida Mundial, que recentemente entrou para agenda do Shnat e das escolas judaicas, e leva os jovens a uma viagem de uma semana na Polônia visitando os campos de concentração e extermínio, seguida de uma semana em Israel, geralmente na semana do dia da independência (Yom Haatzmaut). Uma aproximação mais aprofundada a três deles permitirá, para além de discussões junto aos jovens, e realização de entrevistas com os líderes de cada movimento. Procuraremos descrever o ambiente no interior do qual se desenvolvem as atividades e, na medida do possível, realizaremos uma aproximação ao âmbito familiar com alguns jovens, com o propósito de discutir com os pais sua perspectiva da relação com o sionismo e com a comunidade na esfera privada, além de possibilitar uma análise sobre a existência de algum vínculo inter-geracional entre as famílias e os movimentos. De forma a facilitar a aproximação com os movimentos e com o tema, já foi efetuada a inscrição para a viagem do Taglit prevista para janeiro de 2012. Pude acompanhar em 2005 o evento da Marcha da Vida mundial, o maior até então, reunindo cerca de 20.000 jovens na Polônia por ocasião dos 60 anos de Auschwitz. Minha própria experiência junto a Chazit Hanoar por um período de aproximadamente seis anos será levado em conta de forma a não influenciar a análise, que pretende um retorno a este ambiente, mas com uma visão antropológica – sem ignorar o fato de que a familiaridade pode facilitar a aproximação com o ambiente. A participação no programa Israel Challenge em 2009, com duração de sete meses em Israel, permitiu um contato com o Masá32, e com o Shnat realizado pela Chazit. Após esta etapa de observação participativa junto aos movimentos, e um contato mais individual com jovens e famílias, os dados coletados serão levados para discussão junto ao grupo de pesquisa na Unicamp, e junto ao NIEJ (Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos) da UFRJ. Passaremos um período de aproximadamente dois meses no Rio de Janeiro junto ao NIEJ, a convite da Profa. Mônica Grin, coordenadora do núcleo e professora do departamento de História Comparada do IFCS. Após este período de discussão e análise junto aos núcleos, pretendo iniciar a redação final da dissertação. Cronograma 2012 Mar Abr Maio Jun Disciplinas X X X X Leituras X X X X X Jul Ago Set Out Nov Dez X X X X X X X X X X X X X X X X X Dirigidas Levantamento bibliográfico Etnografia/Visita aos movimentos 32 Agência do governo financiadora dos programas de curta e longa duração 2013 Etnografia/ Foco Nos três Movimento s Discussão junto aos núcleos Redação Qualificaçã o Exame Qualificaçã o Redação Dissertação Ja n X Fe v X Ma r X Ab r X Mai o X Ju n X Ju l Ag o Se t Ou t X X X X X X X X X X X No v De z X X X 2014 Jan Redação X Dissertção Defesa Fev X Mar X Bibliografia ANDERSON, Benedict. Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism. London: Verso, 1983 CHARBIT, Denis. Sionismes. Paris:Albin Michel, 1988 EBAN, Abba. A história do povo de Israel. New York:Behrman House Inc. E Random House Inc, 1968 EISENSTADT,S.N. Sociedade Israelense. 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