AULÃO - INSS Prof. Fernando Pestana (Autor do livro “A Gramática para Concursos Públicos”) A incompetência Nunca vi o Brasil tão esculhambado como hoje. Perdoem a palavra grosseira, mas não há outra para nos descrever. Já vi muito caos no país, desde o suicídio de Getúlio até o porre do Jânio Quadros largando o poder, vi a morte de Tancredo na hora de tomar posse, vi o país entregue ao Sarney, amante dos militares. Vi o fracasso do plano Cruzado, vi o escândalo do governo Collor, como uma maquete suja de nossos erros tradicionais, já vi a inflação a 80% num só mês, vi coisas que sempre nos deram a sensação fatalista de que a vaca iria docemente para o brejo, de que o Brasil sempre seria um país do futuro. Eu já senti aquele vento mórbido do atraso, o miasma que nos acompanha desde a Colônia, mas nunca vi o país assim. Parece uma calamidade pública sem bombeiros, parece um terremoto ignorado. Por que será? Tudo vai muito além da tradicional incompetência que sempre tivemos. Dá até saudades. A incompetência de agora é ramificada, “risômica”, em teia, destrutiva, uma constelação de erros óbvios que eu nunca tinha visto. No dia a dia, só vemos fracassos, obras que não terminam, maquiagem de números, roubalheiras infinitas e danosas, vemos o adiamento de tudo por causa das eleições. Tudo vai explodir em 2015, o ano da verdade feia de ver. O mal que essa gente faz ao país talvez demore muitos anos para se reverter. (Texto adaptado. Ano 2014. Autor: Arnaldo Jabor.) No que se refere às estruturas linguísticas e às ideias do texto A incompetência, julgue os itens seguintes. 1. A incompetência, título dado pelo autor, se deve aos sucessivos erros que vêm acontecendo na história política do Brasil, que, somados, chegam a, proporcionalmente, ser tão impactantes quanto a incompetência contemporânea, cujas consequências danosas eclodirão em 2015. 2. A pergunta retórica feita pelo autor é parcialmente respondida por ele no decorrer do texto, mas, por ser retórica, permite que o interlocutor preveja a opinião do autor, levando-se em conta o conhecimento de mundo do cenário político contemporâneo. 3. O teor preditivo do texto requer do enunciador, sobretudo, imaginação, sem demasiada fantasia, o que se torna difícil se não houver suficiente conhecimento empírico que ajude a antecipar o futuro, a fazer uma previsão tanto quanto possível lúcida e plausível, que não seja apenas mera conjetura pseudocientífica. 4. O segmento “o miasma que nos acompanha desde a Colônia” apresenta sentido denotativo, devido ao contexto. 5. Os vocábulos “Getúlio”, “Jânio” e “Colônia” seguem diferentes regras de acentuação. 6. O vocábulo “que” apresenta a mesma classificação e cumpre o mesmo papel textual em “vi coisas que sempre nos deram a sensação fatalista de que a vaca iria docemente para o brejo, de que o Brasil sempre seria um país do futuro”. 7. Em “Eu já senti aquele vento mórbido do atraso, o miasma que nos acompanha desde a Colônia, mas nunca vi o país assim”, o conectivo “mas” introduz uma oração cujo valor argumentativo sobrepõe o da oração com que se relaciona. 8. No primeiro parágrafo, os verbos usados no primeiro período e no terceiro período têm função discursiva diferente dos usados no segundo período. 9. Nos três segmentos a seguir: “vi o país entregue ao Sarney, amante dos militares”; “Eu já senti aquele vento mórbido do atraso, o miasma que nos acompanha desde a Colônia”; “Tudo vai explodir em 2015, o ano da verdade feia de ver”, os termos após cada vírgula exercem a mesma função sintática. 10. Em “só vemos fracassos, obras que não terminam, maquiagem de números, roubalheiras infinitas e danosas, vemos o adiamento de tudo por causa das eleições”, as vírgulas são justificadas pela mesma regra. 11. Com os devidos ajustes em prol de uma escorreita redação, se o vocábulo “mal”, em “O mal que essa gente faz ao país talvez demore muitos anos para se reverter”, estivesse no plural, o verbo “reverter” deveria concordar com ele no plural. 12. Se o complemento verbal em “Perdoem a palavra grosseira” fosse substituído por “a pessoa grosseira”, a crase seria obrigatória. 13. Sem prejuízo da correção gramatical e do sentido, o trecho “Vi o fracasso do plano Cruzado, vi o escândalo do governo Collor, como uma maquete suja de nossos erros tradicionais” poderia ser reescrito assim: Presenciei o fracasso do plano Cruzado, assisti o escândalo do governo Collor, como uma maquete suja de nossos erros tradicionais. 14. Os termos “que” e “outra” têm o mesmo valor coesivo em “uma constelação de erros óbvios que eu nunca tinha visto” e “Perdoem a palavra grosseira, mas não há outra para nos descrever”. 15. Dado que se trata de um caso facultativo de colocação pronominal, consoante o registro formal da língua portuguesa, o segmento “para nos descrever” poderia ser corretamente reescrito assim: para descrever-nos. GABARITO 1. E 2. C 3. C 4. E 5. E 6. E 7. C 8. C 9. C 10. E 11. E 12. C 13. E 14. C 15. C