Domingo 28 dezembro de 2014 “Todas as empresas vieram para Santos com a história do pré-sal, mas a Petrobras atrasou sua programação” Leopoldo Arias [email protected] EMPRESÁRIO E DIRETOR DA ARIAS INVESPAR C-1 A TRIBUNA www.atribuna.com.br Economia Entrevista Leopoldo Arias. Empresário e diretor da Arias Invespar “O empresário brasileiro cresce com velocidade infinitamente menor” ALEXSANDER FERRAZ MARCELO SANTOS DA REDAÇÃO Um economista que for convidado a definir 2014 com apenas uma palavra acertará em cheio se utilizar a expressão “desconfiança”. Em ano de eleições, a falta de um norte claro fez muitos empreendedores engavetarem seus projetos. Antes desse clima ruim despontar, o empresário Leopoldo Arias, da Arias Invespar, já tinha começado a executar seus planos com hotéis, shopping centers e edifícios de escritórios e residenciais. Para ele, o empreendedor por natureza não desiste de seus projetos,mas pode implantá-los com cuidado, desaceleradamente se assim for preciso. O difícil é suportar as intervenções do governo na economia. O sr. sentiu confiança para investir neste ano? Analisando dois mercados. primeiro odeinvestimentos, praticamente não existiu em função da Copa do Mundo e das eleições. Este foi um ano de espera, de observação, sobretudo de cautela. O outro mercado, o do varejo, vai bem. Os automóveis e os produtos de consumo de média duração vão bem. Não sentimos retração. Ao contrário, sentimos um crescimento, uma ascensão das classes. Não foi só a classe C? Estou falando de uma classe média que realmente não sente esse inflação no curto prazo. No mercado imobiliário, há dois ou três anos saiu de cena o especulador que adquiria uma unidade no lançamento e a colocava para vender antes da obra ficar pronta. Ele realizava um ganho considerável por conta da valorização, maior do que de qualquer aplicação. Essa figura saiu do mercado. Ficaram as pessoas que vão fazer uso residencial ou comercial do imóvel e os investidores de longo prazo para locação. Esse comprador permanece no mercado, mas mais cauteloso principalmente pela política de empresas que querem escoar estoques para resolver uma questão financeira. As empresas (construtoras) de capital aberto precisam resolver seu balanço semestralmente, então não adianta elas terem estoque. Nessa liquidação o cliente que comprou lá no lançamento se sente desprestigiado porque o outro que chega agora compra com 40% de desconto. Qual a tendência do mercado da construção civil em 2015? Em Santos em 2014 há um baixo índice de lançamentos, talvez o menor em cinco anos. Por conta disso, os estoque estão sendo absorvidos. Está se vendendo, não é que o mercado parou. E não vai parar tão “ imóveis. Até agora, o que absorveu o mercado foram BTP, Embraport (terminais portuários inaugurados em 2013). O mercado não ficou à espera do grande acontecimento. Os imóveis diminuíram de dimensão porque o mercado se adaptou. Com Petrobras, o estoque vai ser absorvido e voltar ao normal. cedo por conta do déficit habitacional. A gente vivia num País em que 70% da população não tinha casa própria. Hoje esse índice caiu para 60%. Esse comprador vai adquirir um apartamento na orla de Santos? Não vai. Mas ele vai absorver um talvez na Zona Noroeste. Esse, da Zona Noroeste, vem para a Zona Intermediária de Santos e esse último é que vem para a orla. Há uma ascensão da cadeia toda. 2015 deve ser um ano difícil para o empresário brasileiro pelo perfil da nova equipe econômica, de contenção de gastos. Como o sr. vê essa nova equipe no governo? O governo está se reinventando. O simples fato de observar e corrigir, modificar o aparelhamento do estado, isso vai trazer um pouco mais de credibilidade e até atrair investimento do exterior. Mas será um ano difícil para a iniciativa privada. Acho que quem faz esse País é a iniciativa privada. Eu trabalho o dia todo, chego em casa e me deparo com notícias, que são de escândalos, principalmente nessa questão de aparelhamento de estado. Há um escoamento do erário público que poderia ser melhor aplicado, aliás aplicado e não desviado. Para o empresário só resta acreditar naquilo que ele faz principalmente, ser conservador e evitar a alavancagem (endividamento). O mundo todo trabalha alavancado. O empresário brasileiro cresce com uma velocidade infinitamente menor porque tem que bancar tudo. Com muito custo, um mais ousado vai investindo seus recursos próprios, vai reinvestindo e vai se reinventando. A população obteve crédito, fez a economia baseada no consumo crescer, mas se endividou... Estamos falando de uma estabilidade monetária que não tem 20 anos. Até então o brasileiro não tinha o crédito. Era um ou outro que conhecia o cartão de crédito. Se pegar a média do brasileiro de hoje, ela está endividada no cartão de crédito. E ele acaba se endividando com o crédito impróprio, pois o cartão é o que tem os juros mais caros. E é o que primeiro termina porque o tomador deixa de pagar e não consegue mais crédito. Acho que o País passa por uma maturação. Em cinco ou dez anos vai haver mais critério, não se vai usar crédito a esmo. Como o sr. vê a participação do Estado na economia? O Estado, para fazer frente a seus gastos, que são imensos, “ O Estado, para fazer frente a seus gastos, que são imensos, aumenta a carga tributária e trabalha na contramão” aumenta a carga tributária e trabalha na contramão. Tira da iniciativa privada, que tem a capacidade de geração de receita, para transferir para o gasto público. A reforma tributária se faz necessária e a presença do Estado na economia eu acho que atrapalha. Você vê o que está acontecendo agora em São Paulo. Não tem água, um bem de primeira necessidade, e ao mesmo tempo há estádios de futebol de primeiro mundo. Quem é do setor e conhece um pouco de construção civil pode dizer que construiria com a metade do valor. Como o sr. avalia os programas de transferência de renda para a população? Acho que é positivo desde que seja para subsistência. com uma política séria para quem A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) merece passar por revisão, pois hoje se paga mais de encargo que salários. Isso faz com que o empresário, que é pequeno e precisa crescer, vá para a informalidade” realmente precisa. O Bolsa Família, no Nordeste, onde você evita a migração, eu acho que é sim factível. É uma população que precisa do pronto-atendimento, mas tem que ter gestão. Os empresários reclamam da falta de mão de obra e de capacitação. É difícil achar pessoal com boa formação e que fique na empresa? AConsolidação das Leis do Trabalho (CLT) merece passar por revisão, pois hoje se paga mais de encargo que salários. Isso faz com que o empresário, que é pequeno e precisa crescer, vá para a informalidade. E a formação do trabalhador? O nível educacional é o maior problema do País. Temos uma política de formação e um gargalo. Tem acontecido agora com os corretores de imóveis. Nunca tivemos tantos corretores de imóveis. Se tivéssemos a questão do ensino básico mais presente, naturalmente teríamos todas as áreas cobertas. Outros setores ficam sem profissionais por causa da migração para a corretagem? Outras áreas ficaram descober- tas para cobrir oportunidade dos corretores. Hoje tem engenheiro civil, motorista, arquiteto tornando-se corretor. Teremos um 2015 com juros altos e governo cortando gastos. Os investimentos ficarão para 2016? Lançou-se pouco em 2014. Em São Paulo, em janeiro, serão lançados 33 empreendimentos em diversas regiões e com preços altos. Por exemplo, há um com R$ 36 mil o metro quadrado. (o dobro dos mais caros de Santos). O mercado continua andando. O que acontece em Santos neste momento é um grande funil. Tem um mercado de imóveis prontos que está escoando. O que acontece é que esse funil encheu mais do que conseguiuescoar.Santosvai absorver lentamente o que foi colocado. Até porque o grande evento de Santos não se deu. Todas as empresas vieram para Santos com a história do présal, mas a Petrobras atrasou sua programação. Temos parte dos funcionários aqui, porém, o grande contingente ainda não veio. E nem por isso o mercado parou porque o próprio santista está absorvendo os Como o sr. vê a economia da região em 2015? A Baixada tem muitos investimentos de infraestrutura que devem melhorar a mobilidade urbana. Os investimentos em mobilidade urbana vão gerar uma valorização muito grande para São Vicente. O BRT (sistema de ônibus) vai valorizar muito Praia Grande. Vai acontecer uma integração de Praia Grande até Santos com transporte de qualidade. Com o túnel (Santos-Guarujá), Santos vai ter condições de receber uma grande mão de obra que está lá em Guarujá, que também vai se valorizar. Santos é o epicentro dessa valorização, é onde tudo vai acontecer. A nossa região é mais rica do que se imagina. Temos uma concessionária, a Audi, e uma pesquisa indicava que seriam vendidos de 12 a 15 carros por mês. Tem mês que vendemos mais de 30. Superou as expectativas. Santos ganhou a Harley-Davidson, a Ducatti. O mercado está absorvendo e isso mostra a pujança da nossa região. A tecnologia traz uma impacto muito grande no comércio. Como o sr. vê isso? Com a melhoria dos canais de e-commerce, com estabilidade do sinal de internet e maior velocidade, a nova geração vai fazer crescer muito esse mercado. O comércio vai ficar polarizado entre os shopping centers, os grandes centros de varejo, e o e-commerce. Aquele mais conservador,quegostadetatear o produto, vai migrar para o shopping center. O outro que realmente prefere evitar contato com vendedor, vai para o e-commerce. A loja de rua vai acabar principalmente em Santos, onde o custo de ocupação é muito carojustamentepelademanda do mercado imobiliário. Você tem custos indiretos queno shopping não teria.A questão de segurança, o abre e fecha, dificuldade paraestacionar,climatização. Mesmo com uma economia desarranjada, o sr. tem desenvolvido projetos? A economia não atrapalha. Acho que serve para ponderar, avaliar a velocidade, serve mais como análise de risco, trabalhar sem alavancagem. Se a economia vai bem, dá uma acelerada. Se a economia está ruim, dá uma desacelerada e faz com recurso próprio. Vai deixar de fazer? Não.