Avaliação sustentável de um edifício educacional em Viçosa-MG: uma experiência no uso do método LEED para edificações existentes Nayara Rodrigues Marques1; Giselly Marchesi Bianchi2 1 Graduando, Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: [email protected]. 2 Professora Mestre do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: [email protected]. RESUMO Partindo das necessidades atuais no que diz respeito à diminuição dos impactos gerados pelas edificações ao meio ambiente, este trabalho buscou analisar o desempenho ambiental do ambiente construído e em uso, especificamente de um edifício educacional, da Universidade Federal de Viçosa, MG. A avaliação se deu por meio de estudos in loco, através da adaptação do método de avaliação internacional LEED (Leadership in Energy and Enviromental Desing). Os itens do LEED: sítios sustentáveis, eficiência no uso da água, energia e atmosfera, materiais e recursos, qualidade do ambiente interno e inovação e processo de projeto foram adaptados para os itens: infra-estrutura, eficiência energética, materiais utilizados, conforto interno e manejo de água. Com base nas análises qualitativas dos itens supracitados, foi alcançada uma pontuação de 40 pontos ao edifício analisado, sendo 16 pontos referentes à infra-estrutura de um total de 19 pontos, sendo 6 pontos obtidos em eficiência energética de um total de 17 pontos, 5 pontos obtidos em 9 para os materiais utilizados, 8 pontos em 12 pontos para conforto no interior da edificação e 5 pontos em 10 para o manejo de água. Pela pontuação máxima que seria 67 pontos devido a adequação do sistema avaliativo LEED, observou-se que o edifício, proporcionalmente ao método original, poderia receber a certificação ouro. Mesmo obtendo esta certificação a edificação carece ainda de maior atenção em alguns pontos, em especial no item eficiência energética, o qual apresentou problemas como baixo aproveitamento de iluminação natural e a falta de medidor de consumo individual. O edifício teve seu desempenho atestado de acordo com os critérios de sustentabilidade, onde apresentou maior eficiência no que diz respeito à infra-estrutura e manutenção do mesmo. Apesar das adaptações, o Método LEED se apresentou amigável à análise. Palavras-chave: Avaliação de caráter sustentável. Desempenho. Certificação. Edifícios educacionais. INTRODUÇÃO O conceito de sustentabilidade, muito discutido atualmente, emergiu na década de 70, quando uma série de discussões sobre o meio ambiente suscitou uma cadeia de publicações que chamava a atenção para a degradação do planeta e a ação antrópica de caráter exploratório. Houve uma maior preocupação com os recursos naturais existentes, e nos anos 70, a primeira crise energética mundial insere no fenômeno “Revolução Tecnológica”, a busca por fontes alternativas (LAMBERTS, DUTRA e PEREIRA, 1997). A partir de então, observa-se uma maior preocupação com a conservação do meio ambiente, e da diminuição dos impactos nele causados. Especificamente no âmbito da construção civil, há a necessidade de edifícios que acompanhem os avanços tecnológicos, que proporcionem maior conforto e produtividade, minimizando a agressão ambiental e os custos (diretos e indiretos) da edificação, (MARTE,1995). Nessa nova realidade, em 1987 a World Commission on Environment and Development (WCED) cunhou a definição de sustentabilidade que se tornaria clássica. Segundo Bruntland, (1987), o desenvolvimento sustentável parte de um “...desenvolvimento econômico e social que atenda as necessidades da geração atual sem comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. No Brasil, o setor da construção civil é responsável por aproximadamente 16% do PIB nacional (UNIEMP, 2005). Proporcionalmente, é o setor que mais degrada o meio ambiente, consumindo entre 15 e 75% do total de recursos naturais disponíveis, gerando anualmente, com a prática de demolição, cerca de 200 a 500 kg de resíduos por habitantes, nas grandes cidades brasileiras (DEGANI e CARDOSO, 2005). Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. 66 Marques; Bianchi Neste contexto, a construção civil é de extrema importância no atendimento das metas de desenvolvimento sustentável. A indústria da construção é uma das maiores responsáveis pelos impactos no meio ambiente, gerados pelo homem. A construção de um edifício é um investimento de longo prazo, visto que sua vida útil é de cerca de 40 a 100 anos, e corresponde a cerca de 5 a 30% do capital patrimonial de uma empresa, o que explicita o impacto econômico das edificações (DEGANI e CARDOSO, 2005). A necessidade de se diminuir esses impactos no meio ambiente, e de se propiciar o desenvolvimento local, leva a adoção de políticas que incentivem o desenvolvimento de uma arquitetura sustentável. Entre essas políticas, a adoção de sistemas de avaliação e classificação de desempenho ambiental e da sustentabilidade de edifícios representa um papel fundamental. (SILVA, 2003). Há atualmente diversas organizações mundiais que já avaliam edifícios nos parâmetros de sustentabilidade e garantem a melhoria do desempenho ambiental das edificações, além de muitas vezes reduzir custos a longo prazo, facilitar financiamentos bancários e reduzir impostos governamentais. Segundo Silva (2003), o LEED é provavelmente o método disponível mais amigável enquanto ferramenta de projeto, o que facilita a sua incorporação à prática profissional, uma vez que seu sistema simples oferece diretrizes para a avaliação sustentável das edificações. Com o advento do Reuni, programa desenvolvido pelo Governo Federal que tem tratado a expansão universitária no Brasil, e implementado novas construções em todo o território, os edifícios educacionais passam a ser o foco. Neste contexto, a cidade de Viçosa, em Minas Gerais, abriga um campus universitário que possui dentro de seu território um conjunto de edifícios de função educacional, onde a maioria de seus usuários são estudantes, professores ou profissionais relacionados à área acadêmica. O campus de Viçosa vem crescendo em termos de obras e população universitária, como vários campi no cenário nacional. Diante desta situação nacional, e local, percebe-se a necessidade de se dar atenção especial á edificações educacionais universitárias, no que diz respeito aos impactos causados por elas no meio ambiente, no contexto social e econômico. O objetivo deste trabalho foi avaliar uma edificação, através de um estudo de caso educacional em uso no campus de Viçosa/MG, no âmbito do desempenho sustentável, adaptando o método LEED, do tipo Edificações existentes (operação e manutenção). DESENVOLVIMENTO METODOLOGIA Como procedimento metodológico, adotou-se um objeto de estudo, o Pavilhão de aulas II (PVB), que foi analisado segundo os critérios do Método de Avaliação LEED (Leadership in Energy and Enviromental Desing, 2005), explicitados nos Quadros 1 a 7, e que sofreram modificações com vistas ao sucesso da avaliação. Para alcançar os objetivos dessa pesquisa, foram necessárias as seguintes etapas: a) Avaliação e adaptação do método LEED para Edificações Existentes: Foram estudadas, a fim de se compreender seu desenvolvimento e aplicação, as diferentes classificações oferecidas pelo Método LEED, com vistas à seleção de um tipo de classificação que se adequasse a edificações educacionais já existentes. b) Seleção e levantamento físico do estudo de caso: Foram analisados os prédios existentes no campus de Viçosa de forma a se escolher o que pudesse ser avaliado se forma mais eficiente e próxima da realidade presente no campus. Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. Avaliação sustentável de um edifício educacional em Viçosa-MG: uma experiência no uso do método LEED para edificações existentes 67 c) Avaliação do Pavilhão de Aulas II (PVB) através de adequação dos Parâmetros do Método LEED para Edificações Existentes: A partir dos elementos avaliativos presentes no Método LEED, foram desenvolvidos novos parâmetros, através da adequação de alguns itens, ou até mesmo a retirada de questões que não teriam como ser avaliadas, a fim de se realizar um levantamento mais eficiente do PVB. d) Análise de dados, resultados e avaliação crítica do uso do método LEED no estudo de caso e respectivas adaptações. e) Conclusões e redação de documento final. O ESTUDO DE CASO O Pavilhão de Aulas II (PVB), da Universidade Federal de Viçosa (Figuras 1a e 1b) foi projetado em 1999 e inaugurado em agosto de 2000. O PVB não foi executado plenamente como o projeto, como por exemplo, partes da cobertura e áreas para lanchonetes, localizadas no interior dos pátios internos. O PVB foi executado em estrutura e cobertura metálica aparente, com vedação em blocos de concreto celular autoclavado e lajes steel-deck. O edifício foi implantado na Avenida P.H. Rolfs (avenida principal da cidade que atravessa o campus), com nível abaixo da rua. Possui o acesso principal(frontal) por escadaria e rampa e um acesso lateral pelo estacionamento. A orientação da fachada principal do edifício é noroeste. O edifício possui 31 salas de aula em uso, com capacidade que variam entre 10 e 153 alunos, possuindo capacidade máxima em salas de aula de 2059 alunos. Os auditórios possuem capacidade para 224 pessoas cada, e, atualmente, são utilizados freqüentemente para provas e aulas extras. Portanto, pode-se considerar que a capacidade de uso simultâneo no PVB seja de 2507 alunos. (a) Planta Baixa (b) Fachada Figura 1. (a) Planta Baixa (b) Fachada Fonte: Divisão de Projetos e Controle do Espaço Físico (UFV), 2007. O MÉTODO LEED - (LEADERSHIP IN ENERGY AND ENVIROMENTAL DESING) Em 1994, o US Green Building Council (USGBC), instituição financiada pelo NIST (National Institute of Standards and Technology), iniciou um programa para desenvolver, nos Estados Unidos, um sistema de classificação de desempenho consensual e orientado para o mercado, visando acelerar o desenvolvimento e a implementação de práticas de projeto e construção ambientalmente responsáveis. Partiu-se também da premissa que com o desenvolvimento de sistemas de classificação de desempenho sustentável para edifícios tecnicamente consistentes, haveria incentivos em Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. 68 Marques; Bianchi outros segmentos da indústria da construção a desenvolver produtos e serviços de maior qualidade ambiental (USGBC, 2001). Estas foram as bases para o desenvolvimento do LEED, um sistema de classificação e certificação ambiental projetado para facilitar a transferência de conceitos de construção ambientalmente responsável para os profissionais e para a indústria de construção americana, e proporcionar reconhecimento junto ao mercado pelos esforços despendidos para essa finalidade (USGBC, 1999). Os trabalhos foram iniciados em 1996, voltados inicialmente para edifícios de ocupação comercial1, mas atualmente já engloba diversos setores, tendo certificados para (USGBC, 2008): • Construções Novas e Grandes Reformas; • Edificações Existentes (operação e manutenção), a qual foi a classificação utilizada no desenvolvimento do trabalho; • Interiores; • Núcleo e Envelope; • Escolas; • Bairros (piloto); • Varejo (piloto); • Residências (piloto). O LEED é um método disponível que possui uma estrutura simples e funciona como uma ferramenta que dá as diretrizes para mensurar o grau de sustentabilidade de cada prédio. De acordo com o índice a ser atingido, será determinada a pontuação do edifício e o grau de certificação. A versão-piloto (LEED 1.0) foi lançada em janeiro de 1999 (USGBC, 1999). O desempenho ambiental do edifício é avaliado de forma global, ao longo de todo o seu ciclo de vida, numa tentativa de considerar os preceitos essenciais do que constituiria um Green building. De forma mais criteriosa os edifícios são avaliados em questões de: • Sítios Sustentáveis (Quadro 1); Quadro 1. Explicitação de subitens e respectivas pontuações máximas para o item Sítios Sustentáveis SÍTIOS SUSTENTÁVEIS Certificado LEED de Construção Manutenção da Área Externa do Edifício Controle da Erosão do solo, Uso de Pesticidas e Paisagismo Meios de Transporte Alternativo (Redução de 10%) Meios de Transporte Alternativo (Redução de 25%) Meios de Transporte Alternativo (Redução de 50%) Meios de Transporte Alternativo (Redução de 75%) Preservação ou Reforma dos Pátios Internos Manejo da Água de Chuva Ilhas de Calor (Local Coberto) Ilhas de Calor (Local Descoberto) Diminuição da Poluição Lumínica Pontuação máxima • PONTUAÇÃO 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 12 Pontos Eficiência no uso da Água (Quadro 2); 1 O LEED considera como “ocupação comercial” os edifícios de escritórios, institucionais (bibliotecas, museus, igrejas, entre outros), hotéis e edifícios residenciais com mais de quatro pavimentos. Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. 69 Avaliação sustentável de um edifício educacional em Viçosa-MG: uma experiência no uso do método LEED para edificações existentes Quadro 2.- Explicitação de subitens e respectivas pontuações máximas para o item Eficiência no uso da Água EFICIÊNCIA NO USO DA ÁGUA Manutenção dos Encanamentos Precisão dos Equipamentos de Medição (do edifício) Pré-Requisito 1 Ponto Precisão dos Equipamentos de Medição (intermediários) 1 Ponto Aumento na Manutenção e Eficiência do Sistema- 10% 1 Ponto Aumento na Manutenção e Eficiência do Sistema- 20% 1 Ponto Aumento na Manutenção e Eficiência do Sistema- 30% Manutenção dos Jardins (Redução do uso de água potável-50%) 1 Ponto 1 Ponto Manutenção dos Jardins (Redução do uso de água potável-75) 1 Ponto Manejo da Água de Refrigeração (método químico) 1 Ponto Manejo da Água de Refrigeração (destino para uso não potável) 1 Ponto Pontuação maxima • PONTUAÇÃO 10 Pontos Energia e Atmosfera (Quadro 3); Quadro 3. Explicitação de subitens e respectivas pontuações máximas para o item Energia e Atmosfera. ENERGIA E ATMOSFERA Aplicação de Eficiência Energética e Manutenção Mínimo de Performance Energética Refrigeração – Proteção da Camada de Ozônio Otimização da Performance Energética Existência de uma Comissão – Investigação e Análise Existência de uma Comissão – Implementação Existência de uma Comissão – Andamento Medição de Desempenho – Sistemas de Automatização Medição de Desempenho – Nível de Medição do Sistema (40%) Medição de Desempenho – Nível de Medição do Sistema (80%) Fontes de Energia Renovável – (3% interna - 25% externa) Fontes de Energia Renovável – (6% interna - 50% externa) Fontes de Energia Renovável – (9% interna - 75% externa) Fontes de Energia Renovável – (12% interna - 100% externa) Sistema de Refrigeração Redução das Emissões Pontuação máxima • Materiais e Recursos (Quadro 4); Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. PONTUAÇÃO Pré-Requisito Pré-Requisito Pré-Requisito 15 Pontos 2 Pontos 2 Pontos 2 Pontos 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 10 Pontos 70 Marques; Bianchi Quadro 4. Explicitação de subitens e respectivas pontuações máximas para o item Materias e Recursos MATERIAIS E RECURSOS Política de Aquisição Sustentável Política de Manejo dos Resíduos Sólidos Aquisição Sustentável – 40% Aquisição Sustentável – 60% Aquisição Sustentável – 80% Aquisição Sustentável – Equipamentos Econômicos Aquisição Sustentável - Mobiliário Aquisição Sustentável – Facilidade de Reposição ou Alteração Redução das Lâmpadas de Mercúrio (90pg/lum-hr ) Redução das Lâmpadas de Mercúrio (70pg/lum-hr) Aquisição Sustentável - Alimentação Manejo dos Resíduos Poluentes Manejo dos Resíduos Sólidos – Porcentagem Reciclada (50%) Manejo dos Resíduos Sólidos – Porcentagem Reciclada (70%) Manejo dos Resíduos Sólidos – Reutilização Destino e Utilização dos Escombros de Demolição Pontuação máxima • PONTUAÇÃO Pré-Requisito Pré-Requisito 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 30 Pontos Qualidade do Ambiente Interno (Quadro 5); Quadro 5. Explicitação de subitens e respectivas pontuações máximas para o item Qualidade do Ambiente Interno QUALIDADE DO AMBIENTE INTERNO Condições de Ventilação Controle do Fumo nos Ambientes Limpeza Verde Programa de Manejo – Plano de Manejo da Qualidade do Ar Monitoramento das Entradas de ar Recursos para Otimização da Ventilação Redução de Partículas no ar Facilidade de Alteração ou adição Conforto do Usuário - Sobrevivência Conforto do Usuário – Controle da Iluminação Conforto do Usuário – Controle sobre a Temperatura Conforto do Usuário – Iluminação Natural (40-50%) Conforto do Usuário – Iluminação Natural (70-90%) Limpeza Verde - Desempenho Limpeza Verde – Horário da Limpeza Limpeza Verde – Técnicas de Limpeza Limpeza Verde – Materiais e Produtos (30%) Limpeza Verde – Materiais e Produtos (60%) Limpeza Verde – Materiais e Produtos (90%) Limpeza Verde – Equipamento Utilizado Sistemas de Entrada Higienização Profilática Pontuação máxima • PONTUAÇÃO Pré-Requisito Pré-Requisito Pré-Requisito 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 1 Ponto 19 Pontos Inovação e Processo do Projeto (Quadro 6) Quadro 6. Explicitação de subitens e respectivas pontuações máximas para o item Inovação e Processo de Projeto INOVAÇÃO E PROCESSO DE PROJETO Inovação nas Operações Existência de um Profissional acreditado ao LEED Documentação dos Impactos do Edificio Pontuação máxima PONTUAÇÃO 4 Pontos 1 Ponto 2 Pontos 7 Pontos Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. Avaliação sustentável de um edifício educacional em Viçosa-MG: uma experiência no uso do método LEED para edificações existentes 71 Dentro dos quesitos analisados particularmente na avaliação de prédios já existentes, são distribuídos 92 pontos, que são divididos nas categorias mencionadas anteriormente e, que podem gerar um certificado simples (34-42) ou nas classificações prata (43-50), ouro (51-67) e platina (68-92). Os pontos distribuídos entre os critérios estabelecidos pela organização em: Sítios Sustentáveis (12 pontos); Eficiência no uso da Água (10 pontos); Energia e Atmosfera (30 pontos); Materiais e Recursos (14 pontos); Qualidade do Ambiente Interno (19 pontos); Inovação e Processo do Projeto (7 pontos), totalizando os 92 pontos. Os quadros mostrados explicitam a forma como a avaliação é realizada pelo LEED, e como a pontuação é distribuída por cada item. A pontuação máxima só é atingida através da adoção de etapas projetuais que atendam os critérios exigidos pelo Método. ADAPTAÇÃO DO LEED À partir dos seis quadros desenvolvidos pelo método LEED para edificações já existentes, foi desenvolvido um sistema avaliativo que melhor se adequasse ao cenário existente. Algumas questões foram retiradas, uma vez que não teriam como ser respondidas, e outros critérios também sofreram modificações. Com base nos itens presentes nos seis quadros, foi desenvolvido outro sistema dividido em cinco categorias que compilaram as questões levantadas pelo LEED de uma maneira que melhor atendesse as necessidades da avaliação local. Os requisitos analisados na avaliação do PVB foram relacionados à: Infra-estrutura (19 pontos) • manutenção do edifício (interna e externa)....................................................................2pts • manutenção dos equipamentos.....................................................................................5 pts • transportes disponíveis..................................................................................................4 pts • material de limpeza utilizado........................................................................................7 pts • mão-de-obra presente na manutenção............................................................................1 pt Os itens relacionados a essa categoria são resultado da compilação de dados dos quadros 1, 2 e 5. Eficiência Energética (17 pontos) • presença ou não de medidores de consumo..................................................................2 pts • lâmpadas empregadas no edifício..…………………...............………………………3 pts • utilização de luz natural…….…………………………...................................………6 pts • consumo de energia dos equipamentos……..…………...................................………3 pts • existência de políticas de minimização do consumo….................................………...3 pts Os itens relacionados a essa categoria são resultado da compilação de dados dos quadros 3 e 4. Materiais Utilizados (9 pontos) • materiais utilizados durante a construção……….........................................................3 pts • materiais utilizados na manutenção.…………….……………………….…...............4 pts • fornecedores dos materiais e sua localização e a viabilidade em relação ao transporte.......................................................................................................................1 pt • áreas verdes existentes..................................................................................................1 pts Os itens relacionados a essa categoria são resultado da compilação de dados dos quadros 1 e 4. Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. 72 Marques; Bianchi Conforto Interno (12 pontos) • áreas ao ar livre, com abrigo……..………………………………….....……..........….1 pt • temperatura dos ambientes no inverno e verão..……….…….........……….................2 pts • qualidade do ar…..…………………………………….……………….………..……6 pts • controle dos ambientes………..…………………….…………………………......…3 pts Os itens relacionados a essa categoria são resultado da compilação de dados dos quadros 1 e 5. Manejo de Água (10 pontos) • presença ou não de medidores de consumo……...……….……….......…......……….1 pt • sistema de distribuição………………...……….……….……….......................……..1 pt • equipamentos de abastecimento e consumo………………..…….............………….2 pts • métodos de irrigação………………………………………….……......................…..3 pt • política de diminuição de consume……………………….…..……….…….....…….3 pts Os itens relacionados a essa categoria são resultado da compilação de dados dos quadros 1, 2 e 5. No novo sistema avaliativo, adequado a partir do Método LEED para edificações já existentes, a pontuação máxima a ser obtida passa a ser 67 pontos, ao invés dos 92 distribuídos pelo mesmo. A partir das questões apresentadas nos quadros foram levantados 50 itens que serviram como princípios norteadores para a avaliação realizada. Os itens dados como incompatíveis com o cenário existente, foram adequados ou retirados do método avaliativo adotado, uma vez que não eram passíveis de serem levantados, como por exemplo, a presença de um profissional credenciado LEED no acompanhamento das etapas de projeto e de manutenção da edificação. Outros parâmetros utilizados pelo LEED e que não se adéquam à realidade existente são referentes à precisão na medição do consumo de água e energia, algo que não ocorre nas edificações do campus de Viçosa e que dificulta a avaliação do mesmo. Entretanto, a avaliação de outros quesitos é facilitada por se tratar de um prédio inserido em um ambiente arborizado e onde as pessoas de utilizam de transporte público coletivo e de bicicletas em larga escala. RESULTADOS Em relação à infra-estrutura, foi analisada a periodicidade da manutenção interna e externa do prédio, tanto em relação á limpeza quanto a pintura dos locais que necessitam de reparos, e verificou-se a existência de uma política de prevenção de colapsos no sistema e instalação prediais assim como sua periódica manutenção, obtendo pontuação nesse critério de 16 pontos, dentre os 19 oferecidos. Também se observou à disponibilidade de transporte público e o uso de meios alternativos, onde se constatou que a maior parte dos usuários utiliza-se de bicicletas como transporte, o que reflete uma característica positiva dos hábitos da população universitária. Os materiais usados na limpeza, o pessoal envolvido e os métodos utilizados no processo também foram levantados. A limpeza é realizada de maneira constante o que garante a higienização do ambiente e a manutenção da qualidade do mesmo. Os materiais empregados não são necessariamente os mais adequados uma vez que o critério de aquisição é baseado no menor preço e em relação aos profissionais responsáveis pela limpeza, constata-se que os mesmos são dotados de treinamento especial e fazem parte de uma empresa terceirizada e local, incentivando o uso da mão de obra disponível e a conseqüente movimentação econômica regional. No que diz respeito à eficiência energética foi analisado o sistema de iluminação artificial utilizado no edifício, se a iluminação natural é aproveitada, se existem políticas que Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. Avaliação sustentável de um edifício educacional em Viçosa-MG: uma experiência no uso do método LEED para edificações existentes 73 viabilizem a diminuição do consumo de energia elétrica, ou a adoção de sistemas alternativos para a produção de energia. A iluminação natural apesar de abundante devido a implantação da edificação, é pouco explorada; apesar de existir esquadrias tipo porta e janelas basculantes em todas as salas, as mesmas são pintadas de cinza, e se abertas provocam radiação solar direta ou ofuscamento, e se fechadas, pouca permeabilidade do ar e dependência direta de iluminação artificial. Verificou-se também que não existem sistemas de medição individual (por edificação) de energia. Também se observou a utilização de lâmpadas fluorescentes de 40W que poderiam ser substituídas por 32W. A pontuação obtida pelo edifício nesse quesito foi a mais baixa em relação aos demais itens, atingindo apenas 6 pontos dentro dos 17 distribuídos. Em relação ao manejo de água, analisou-se o consumo, como funciona o abastecimento e distribuição de água, fontes alternativas para irrigação e os sistemas de medição. Constatou-se que a água utilizada nos jardins da edificação provém em sua maioria do estábulo da Universidade, o que já diminui bastante o consumo geral do prédio, e ainda que as torneiras presentes nos banheiros são dotadas se sistemas automáticos de fechamento o que também contribui na redução de consumo, mas apesar desses sistemas, o prédio não possui medição precisa de consumo (hidrômetro individual) e apresentou resultado 50% de eficiência nesse quesito. Os materiais empregados durante a construção e manutenção do edifício foram analisados e também a procedência dos mesmos, averiguando-se o local dos fornecedores e os critérios de compra adotados pelo departamento de obras da Universidade, que se apresentam de maneira coerente e satisfatória de acordo com os parâmetros de uma instituição federal, que estabelece que a aquisição aconteça por meio do menor valor de acordo com as prévias exigências. Em relação ao conforto, observou-se a relação entre áreas verdes e pavimentadas, a temperatura do edifício nas diferentes épocas do ano, a qualidade do ar presente nos ambientes e o nível de controle que o usuário exerce nesse espaço. Nesse contexto, o edifício também apresentou resultados satisfatórios uma vez que se encontra envolto por massas verdes e também abriga em seu interior áreas de cobertura vegetal. Entretanto, devido à pintura cinza das esquadrias e a falta de proteções solares efetivas nestas aberturas, as salas de orientação direcionadas a oeste apresentam altas temperaturas no verão. Apesar disso a pontuação foi de 8 pontos dentro dos 12 distribuídos, atendendo assim a mais de 66% das questões exigidas. Quadro 7. Resultado RESULTADO DE AVALIÇÃO ESTUDO DE CASO Infra-estrutura 16 pontos Eficiência Energética 6 pontos Materiais Utilizados 5 pontos Conforto Interno 8 pontos Manejo de Água 5 pontos Pontuação obtida 40 PONTOS PONTUAÇÃO MÁXIMA 19 pontos 17 pontos 9 pontos 12 pontos 10 pontos 67 PONTOS CONCLUSÃO Após a adequação do Método LEED para edificações já existentes, foi possível perceber que o edifício avaliado obteve um bom resultado de forma geral, uma vez que a pontuação máxima seria de 67 pontos, e o mesmo obteve 40 pontos, apresentando desempenho de 59,7 %. Se comparado à avaliação realizada pelo LEED (versão não adaptada), a pontuação máxima seria de 92 pontos (platina). Numa transformação do valor encontrado de 40 pontos pela análise adaptada, para a versão não adaptada do LEED, o edifício apresentaria 54 pontos, que é suficiente para se adquirir um certificado LEED na categoria ouro (51-67). Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009. 74 Marques; Bianchi Ainda assim, a pontuação poderia melhorar, no que tange aos itens relacionados ao consumo de energia elétrica e manejo dos recursos hídricos. Como fatores favoráveis diante da avaliação, ressalta-se o transporte, visto que observase a predominância dos meios alternativos como bicicletas ou caminhada, o que contribui para a diminuição da poluição gerada pelos automóveis. Somando-se a isso, cerca de 30% da área de implantação é permeável, e o Pavilhão é circundado por uma mata nativa na sua parte posterior. Como soluções mitigadoras, que garantam maior pontuação e efetiva certificação, propõe-se o uso de medidores de consumo de precisão, maior aproveitamento da luz natural readequando esquadrias e utilizando proteções solares devidas, e adoção de políticas de compra de materiais que atendam aos parâmetros sustentáveis, que promovam o desenvolvimento da economia regional e minimizem a emissão de gases gerados pelo transporte. O uso do LEED, que se mostrou amigável e passível de adaptações sem perder o formato e metodologia global, foi importante no sentido de destacar quais itens o projeto, a construção, e instituição podem melhorar de forma sistêmica e sustentável. O trabalho foi relevante, pois estabeleceu uma pontuação e uma referência para uma edificação educacional existente na UFV, para projetistas das novas construções educacionais que se inserirão no campus, que podem já tomar por base a avaliação desta, e também como parâmetro da aplicabilidade do LEED em edificações existentes do tipo educacional. REFERÊNCIAS BRUNTLAND, G. H. (editor). Our Common Future: The World Commission on Environment an Development. Oxford: Oxford University Press. 1987 DEGANI, C. M.; CARDOSO, F. F. Sustentabilidade no Ambiente Construído. Disciplina PCC1500. Universidade Federal de São Paulo. São Paulo,2005. LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na arquitetura. São Paulo: PW Editores,1997. MARTE, C. L. Automação predial: a inteligência distrubuída nas edificações. São Paulo: Carthago e Forte, 1995. SILVA, V. G. Avaliação da Sustentabilidade de Edifícios de Escritórios Brasileiros: Diretrizes e Base Metodológica. Tese de doutorado – USP. São Paulo, 2003. UNIEMP. Construção civil resiste à industrialização In: ICCB, 2005. Disponível em: < http://www.uniemp.org.br/seminaros/index.html>. Acesso em 22 maio. 2008. US GREEN BUILDING CONCIL – USGBC. LEED Green Building Rating System 1.0. San Francisco. Janeiro 1999. (Pilot version) Disponível em: < www.usgbc.org>. Acesso em 09 jun. 2008. US GREEN BUILDING CONCIL – USGBC. LEED Green Building Rating System 2.0. 2001. Disponível em: < www.usgbc.org>. Acesso em 09 jun. 2008. U.S. GRENN BUILDING COUNCIL. LEED N-C Application Guide for Multiple Buildings and On-Campus Buildings Projects. Unites States, 2005. US GRENN BUILDING COUNCIL BRASIL, LEED Leadership in Energy and Environmental Design®. Disponível em: < www.gbcbrasil.org.br> .Acesso em 17 nov. 2008, Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 65-74, 2009.