CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA As Novas Avenidas do Capital.

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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP
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CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA
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EDIÇÃO 1136/37 – Ano 28; 3ª e 4ª semanas Fevereiro 2013..
As Novas Avenidas do Capital
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JOSÉ MARTINS
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As fronteiras da cidade moderna se aproximam velozmente das fronteiras
globais. A população mundial é metamorfoseada em exército industrial de
reserva globalizado para produzir e superproduzir capital em todos os
poros do globo terrestre.
No regime capitalista, as crises periódicas são superadas através de políticas
econômicas dos governos e bancos centrais, certo? Errado. Os instrumentos de
política fiscal, monetária e cambial, que criam ou sustentam a demanda agregada,
servem apenas para evitar por certo tempo, cerca de trinta meses, no máximo, a
pulverização periódica do valor-capital das mercadorias, empresas, imóveis,
ações, terras, etc. – a regulação estatal apenas conserva a crise parcial em banhomaria, evitando a deflação e a eclosão da crise geral. Já é muito, mas a política
econômica sempre estará a reboque da dinâmica econômica real.
Essa dialética entre a crise parcial e a crise geral é importante para
entender a relação entre política e economia. O principal ensinamento: a
administração de juros e impostos, variáveis exógenas do processo de
valorização, não é capaz de estabilizar o sistema e promover a retomada da
economia e um novo ciclo de expansão. Se fosse assim, jamais haveria uma crise
geral (catastrófica) do capital. O Estado seria capaz de regular a lei do valortrabalho, a lei da gravidade do regime capitalista. Mas não é exatamente essa a
ideia dos economistas e sua visão burocrática do processo material?
A despeito dessas crenças da economia vulgar, enquanto avança o relógio
da crise parcial e esgotam os efeitos da regulação dos governos nacionais, há que
se restaurar as condições globais endógenas de valorização e de acumulação
ampliada do capital. Se isso for conseguido, o que não é nada fácil, a política
econômica do novo período de expansão transcorre sem turbulências, salvandose por mais algum tempo do lixo os inócuos manuais de Macroeconomia.
Para estabilizar e retomar a produção interrompida pela queda da taxa de
lucro no período de expansão anterior deve-se restaurar os abalados elementos
endógenos da acumulação: taxa de exploração (produtividade) da classe operária
mundial, preços de produção, renovação do capital fixo, reprodução da massa
monetária, etc. Só depois pode ser realizada, ciclicamente, a estabilidade
econômica.
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O movimento de superação das crises capitalistas ultrapassa as fronteiras
nacionais; ocorre periodicamente e na totalidade do sistema. Além disso, aqui é a
luta de classes que decide; o Estado nacional e sua política macroeconômica
decidem a taxa de juro; a luta de classes internacional e seus desdobramentos
geopolíticos decidem a taxa de lucro.
Para a totalidade do capital, que se ressente da impossibilidade de um
governo único, só existe uma via para a incerta salvação da taxa geral de lucro
do período anterior de expansão: primo, elevar os níveis de exploração e de
repressão policial das diversas burguesias nacionais sobre as frações do exército
industrial de reserva mundial em atividade dentro de suas fronteiras; secondo,
intensificar os ataques imperialistas (econômicos e militares) das potências
dominantes sobre as imensas e dominadas áreas geoeconômicas da periferia.
DESDOBRAMENTOS – Todos esses elementos da dinâmica capitalista aparecem
na superfície do mercado mundial como um inaudito e livre deslocamento de
gigantescas empresas manufatureiras das metrópoles imperialistas para a
periferia em busca de trabalho barato, infraestrutura preparada especialmente
para recebê-las, ausência de preocupações sociais, ambientais, etc. Como um
sistema global e altamente integrado de reprodução ampliada de valor agregado
manufaturado. “A produção industrial global está mudando gradualmente dos
países desenvolvidos para países em desenvolvimento através do movimento de
firmas que procuram se beneficiar de trabalho mais barato, qualidade de
infraestrutura, menores custos sociais e grandes mercados em alguns países. As
mudanças do valor agregado da indústria mundial (manufacturing value added MVA, no relatório em inglês) refletem uma maior integração de economias
nacionais através de liberalização do comércio, ampla disponibilidade de
recursos financeiros e aumento de fluxos de investimentos externos diretos.” 1
Para superar suas crises periódicas de superprodução de capital, o sistema
imperialista expande para todos os poros do mundo criando novos e ampliando
antigos espaços de valorização, espaços planetários de produção de valor e de
mais-valia. Na esteira dos ciclos periódicos de expansão e de crises
internacionais a crosta econômica terrestre é revolucionada por uma formidável e
moderna construção de novas avenidas do capital em todos os poros do mundo.
A despeito dos intermináveis sermões sobre o “declínio do capitalismo”,
crise estrutural, permanente, abafamento da produção pela financeirização e
outras insanidades dos “marxistas do século 21”, em apenas vinte anos (19902010), a produção industrial mundial (MVA - valor e mais-valia agregados)
1
United Nations Industrial Development Organization (Unido) – – “Industrial Development Report 2011”
Os números que apresentamos a seguir referem-se a este e outros anteriores relatórios da Unido. No
caso de utilização de outras fontes, será indicado.
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cresceu em torno de robustos 3% ao ano. Passou de US$ 4,290 trilhões em 1990
para US$ 5,770 trilhões em 2000 e, finalmente, US$ 7,390 em 2010. Quase o
dobro de tamanho em vinte anos. Bastaram vinte anos para o capital produtivo de
valor e mais-valia acumular uma capacidade produtiva do tamanho de tudo que
ele havia acumulado em mais de quatro séculos de existência. Que belo declínio!
Mas, no mesmo período, esse crescimento sideral da massa de valor e de
mais-valia ocorreu em ritmo desigual no mercado mundial: 1.7% ao ano nas
economias dominantes (G-7) e 5.6% ao ano nas economias dominadas da
periferia (BRICS, etc.). Isso mudou completamente a paisagem e a vida terrestre.
Nas últimas décadas, foram construídas na periferia do sistema novas
Special Economic Zones [Zonas Econômicas Especiais], particularmente na
China, Índia e adjacências, onde foram implantados gigantescos parques de
montagem de manufaturas nas chamadas Export Processing Zones [Zonas de
Processamento de Exportações]. Tudo ao contrário do sonho de desenvolvimento
econômico dos bons economistas do passado – Cepal, Prebisch, Furtado, etc.
De qualquer modo, essas novas formas imperialistas de industrialização da
periferia transformaram a mobilidade urbana do capital mundial – do século 20
do Atlântico para o século 21 do Pacifico, as modernas autopistas das
mercadorias foram alargadas, informatizadas e pavimentadas para deslocar
milhões de linhas de produção das metrópoles imperiais na direção dos novos
“chãos de fábrica” do mundo – milhões de novas avenidas da urbanização global.
RÁPIDO, RÁPIDO – Em 1990, as economias dominantes centralizavam 80% da
produção industrial mundial; em 2000, essa fatia caíra para 76%, com queda
média de 0.4% por ano. Em 2005, caíra para 71.5%, acelerando a queda média
anual para 1.2%. Desde 2005, o declínio dessa participação acelerou notáveis
2.1% ao ano, caindo para 64.5% em 2010. Assim, as economias dominadas, que
detinham 20% da produção mundial em 1990, alcançaram 35.5% em 2010.
Isso não quer dizer, é claro, que a produção industrial nas economias
dominantes esteja diminuindo. Ao contrário, está aumentando, e muito. Só que
aumenta relativamente menos que na periferia. E isso é muito importante na
dinâmica do mercado mundial e dos correspondentes ciclos periódicos.
A tendência é que aumente ainda mais essa fatia das economias
dominadas na produção mundial. E cada vez mais velozmente. Isso se deve a
uma relação orgânica do capital no mercado mundial. Consiste do seguinte
teorema: a produção nas economias dominadas de massas descomunais de maisvalia absoluta – pagamento do salário abaixo do valor da força de trabalho,
prolongamento da jornada e elevadas taxas de lucro – compensa organicamente a
produção nas economias dominantes e na totalidade do sistema de elevadas taxas
de mais-valia relativa – aumento da produtividade, diminuição do valor da força
de trabalho e baixas taxas de lucro.
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Na luta do capital contra a queda da taxa geral de lucro, a elevada
exploração embutida na mais-valia relativa predominante nas economias
dominantes e na totalidade do sistema é unida organicamente à pauperização
embutida na produção de mais-valia absoluta predominante nas economias
dominadas. A elevação exponencial da exploração (produtividade) da força de
trabalho nas economias dominantes e na totalidade do sistema é compensada pelo
não menos exponencial aumento da miséria e estagnação da produtividade do
trabalho nas economias dominadas. Essa relação capital é a base do novíssimo
padrão liberal-imperialista de desenvolvimento econômico e social do século 21.
Não foi por acaso, portanto, que durante a pesada crise de superprodução
de capital de 2008-2009, o declínio da participação da produção industrial nas
economias dominantes acelerou mais do que nunca, com sua participação no
valor agregado industrial global caindo 3.7% frente às economias dominadas, em
2009 – “a maior perda em um ano em mais de duas décadas”, como salienta o
relatório da UNIDO. E a produção de valor agregado manufatureiro continuou
crescendo nas economias dominadas, mesmo durante o período de crise.
SUL DESPEDAÇADO – Não se pode imaginar que a periferia do sistema
desenvolva um crescimento econômico homogêneo nos últimos vinte anos. Que
“todos ganham com o livre-comércio”, como afirma a economia vulgar. Ao
contrário, as áreas e economias dominadas apresentam nas últimas décadas
profundas disparidades no seu processo de industrialização imperialista.
Em primeiro lugar, a produção manufatureira é altamente concentrada no
espaço da periferia, onde as 15 maiores economias detêm 83.0% do total da
produção, em 2010, acima da marca de 73.2% em 1990. Essa forte tendência é
concentrada principalmente na China, que apareceu no período recente como o
“chão de fábrica do mundo” da globalização imperialista, mais do que triplicando
sua participação na produção periférica entre 1990 e 2010.
Em 1965, por exemplo, era muito próxima a magnitude relativa da
produção manufatureira da América Latina e do leste asiático e Pacífico –
excluindo Japão, que sempre foi uma economia dominante e imperialista. Até
1990, Brasil (9.4%) e México (7.8%) ainda ocupavam colocações próximas da
China (13.0%) e da Rússia (11.1%) no ranking da produção industrial periférica.
No ano 2000, entretanto, as posições já tinham alterado fortemente: Brasil
(7.0%), México (7.8%), China (27.9%), e aparecia um novo ator, a Índia (4.8%)
enquanto a nova Rússia desaparecia da tela dos primeiros participantes. Em
2010, finalmente a corrida apresentava a disparada da China (43.9%) e com a
Índia (5.0%) ultrapassando o Brasil (4.9%) e o México (4.0%).
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