CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA Variações em torno do capital

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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP
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CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA
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EDIÇÃO Nº 1161/1162 – Ano 28; 4ª sem. Agosto/1ª Setembro 2013.
Variações em torno do capital
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JOSÉ MARTINS.
O mercado de capital-dinheiro – popularmente conhecido como mercado de
capitais – centralizado nas bolsas de valores nacionais e nos preços das ações é o
que melhor resume a situação imediata da valorização do capital. Esse capital
produtor de lucro é marcado pela relação entre a taxa geral de lucro nas
diferentes economias nacionais e no mercado mundial. É, portanto,
qualitativamente diferente do mercado monetário e financeiro, ou capital
produtor de juro, marcado pela atuação política dos governos – impostos, juros,
câmbio, etc.1 O primeiro faz parte do mundo da circulação capitalista: capital
dinheiro, capital mercadoria e capital produtivo de valor e lucro. O segundo faz
parte do mundo da circulação simples: capital mercantil; produto; oferta e
demanda, poupança, investimento, consumidores, sistema de crédito, capital
fictício, derivativos, etc.
Se o mercado de capital produtor de lucro corresponde aos fatores
endógenos do processo de produção do capital propriamente dito, o mercado do
capital produtor de juros corresponde a fatores exógenos gerados principalmente
pela política econômica nacional: para a economia vulgar (neoclássica e
keynesiana) o capital é imaginado como um enorme banco, quer dizer, como
uma taxa de desconto materializada nos juros dos títulos públicos e privados.
Para essa formidável e profundíssima sapiência econômica, a moeda nasce no
Banco Central; as mercadorias nascem nas prateleiras dos supermercados; os
preços nascem das preferências dos consumidores, das estruturas de concorrência
entre as empresas e outras superficialidades da realização do capital.
ENTRE O MERCADO E A POLÍTICA – Na complexa relação entre os dois
mercados, o capital produtor de juro sempre é dependente do capital produtor de
lucro. Entretanto, não se pode ignorar que ele apresenta uma estratégica
autonomia relativa na maior parte do desdobramento do ciclo. E, o mais
importante, essa autonomia relativa do Estado e da política econômica dos
governos joga um papel decisivo na regulação da crise parcial e luta para evitar a
eclosão da crise geral. Os fatores exógenos agem fortemente sobre os fatores
endógenos da acumulação. Por isso os fundadores da sinistra ciência econômica,
desde Aristóteles, pelo menos, a batizaram corretamente de Economia Política.
Outra observação marginal: Como veremos mais abaixo, deve-se
considerar também os efeitos dessa regulação política na totalidade do mercado
1
Essa diferença de conceitos aparece de forma prática na Balança de Capital com o exterior, onde
figuram devidamente separados 1. Investimento direto 2. Investimentos em carteira e 3. Derivativos.
O primeiro corresponde ao capital produtor de lucro e os dois outros ao capital produtor de juros.
1
mundial, quer dizer, o resultado das ações geopolíticas dos Estados imperialistas
na dinâmica da economia mundial. Como, por exemplo, a ação bélica
imperialista (Oriente Médio, etc.) é parte importante na organização dos fatores
(preço das matérias primas, desobstrução de rotas de escoamento, etc.) que se
contrapõem à queda da taxa geral de lucro e à generalização de uma crise parcial
em crise geral, etc. Assim, a observação das possibilidades e dos limites dessa
regulação política (Estado) sobre o mercado torna-se, na prática, a principal (e
muito difícil) tarefa da análise crítica da economia.
Entretanto, neste final de Agosto 2013, o capital mundial ainda se
encontra em plena efervescência da fase de expansão e valorização do capital. De
acordo com a sua natureza mais profunda, da maneira mais desigual e combinada
possível. Vamos, então, aos números da valorização nesta quadratura do ciclo.
Bolsas de Valores Selecionadas
Variação % do preço das ações.
ÍNDICE
Últimos
12 Meses
No ano até
a data
S&P 500 (USA)
Nikkei (Japão)
DAX (Alemanha)
IBEX (Espanha)
ASE (Grécia)
PSI (Portugal)
MICEX (Rússia)
Shangai Co.(China)
NIFT (Índia)
Ibovespa (Brasil)
19.9
48.5
19.6
23.5
42.2
25.2
0.67
0.85
1.42
(-13.4)
17.8
29.7
10.3
9.6
0.17
9.5
(- 1.83)
(-6.34)
(-7.36)
(-15.68)
Fonte: Bloomberg (fechamento das bolsas em 22/08/2013)
Observa-se, logo de cara, taxas percentuais elevadíssimas de valorização das
ações, que nada mais são do que o preço dos títulos de propriedade do capital
dinheiro, massas gigantescas de valor. Exprimem a variação da produção e
produtividade industrial ou, mais profundamente, a variação da taxa geral de
lucro da economia. Essa relação entre preço das ações e taxa geral de lucro se
consolida no médio prazo; é claro que, no curtíssimo prazo (até 30 dias) podem
ocorrer turbulentas oscilações, devido a variadas causas relacionadas com o
capital produtor de juros; as turbulências da especulação são as mais ativas no dia
a dia das bolsas. Mas a inflação ou a deflação estrutural do preço das ações
ocorre de acordo com as fases do ciclo – a inflação acompanha a fase de
expansão, superprodução e aquecimento máximo; a deflação ocorre no final do
ciclo, em plena passagem da fase de aquecimento máximo para a fase de
desaceleração e tendência à queda da taxa geral de lucro.
A valorização das ações das economias dominantes (EUA, Alemanha e
Japão) é a mais elevada e a mais estável. Relacionando as taxas dos últimos doze
2
meses e as do ano até 22/08/2013, o mercado mais forte é o dos EUA, a
economia de ponta do sistema. Mesmo as economias da periferia da Zona do
Euro (Espanha, Grécia e Portugal), que a doze meses atrás beijavam a lona do
ciclo econômico, agora apresentam uma clara retomada da valorização, embora
abaixo das economias dominantes.
Finalmente, como adiantamos na conclusão do boletim anterior, confirmase a desigualdade entre um forte processo de valorização do capital no centro,
combinada com um processo anêmico na periferia. Esse fato aparece de forma
transparente e precisa na variação estampada acima dos preços das ações de
diversas bolsas de valores. Da Rússia ao Brasil, essa fortíssima tendência de
queda de preços do mercado de capitais indica uma clara desvalorização do
capital, quer dizer, uma taxa de lucro muito inferior à média mundial. O Brasil é
o que apresenta o estágio mais avançado de decomposição. Mas a Índia e a China
não ficam muito longe da situação brasileira. Todas essas economias emergentes
sofrem da mesma doença, a impossibilidade de aumentar a produtividade
industrial com a predominância da mais-valia absoluta como forma de
valorização do capital.
PREMEDITANDO O BREQUE – A explosão das economias emergentes deve
ocorrer apenas quando a tendência à queda da taxa geral de lucro se manifestar
na totalidade do mercado mundial, quer dizer, na economia de ponta do sistema.
Até lá ficarão flutuando no purgatório das baixas taxas de crescimento da
produção, acompanhadas de crônicas pressões fiscais, monetárias e cambiais. E
também das cobranças de sempre dos economistas do mercado e da grande mídia
capitalista por reformas econômicas ou ajustes liberais – leia-se arrocho salarial,
diminuição dos serviços públicos de base, aumento da fome, das doenças, do
inferno da vida nas cidades, etc. – para se alcançar uma redução do custo unitário
do trabalho adequada às condições globais de valorização do capital.
Nesta escalada inevitável de aumento da miséria e consequentes tensões
sociais, o destino de China, Brasil, Índia, África do Sul e Rússia – para ficar só
nas maiores economias dominadas do sistema – é o mesmo de outras regiões e
países menores, como o Oriente Médio do Egito, Síria, etc., onde estão presentes
os mesmos instintos mais primitivos da produção de capital e de globalização da
produção imperialista. O que une países e regiões tão distantes e com culturas tão
diferentes é sua forma idêntica de extorquir a mais-valia absoluta de suas
populações trabalhadoras e de valorizar o capital.
Pode-se prever, portanto, um período de relativa governabilidade para as
maiores economias e áreas dominadas do sistema global. Este período de
sobrevida deve se estender até a próxima explosão periódica, dentro de 18 a 20
meses. De todo modo, pode-se também afirmar que serão elas (mais
3
provavelmente a China puxando a tocha olímpica do desabamento) que terão o
grande privilégio de soar o sino anunciando essa grande explosão global.
Diversas ações políticas e geopolíticas devem ser executadas nas
economias dominantes nos próximos 6 meses para garantir a continuidade da
acumulação por mais um ano e meio a dois anos. A tentativa de encerrar os
estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados
Unidos) é a principal e mais importante manobra de política econômica que deve
ser realizada. Sem a elevação dos juros nos Estados Unidos o Fed estaria de mãos
amarradas no próximo choque para socorrer novamente o sistema e evitar o
transbordamento da crise parcial em crise geral (catastrófica).
Mas essa manobra do Fed é tão importante que ela não pode ser tomada
isoladamente, apenas como uma ação burocrática. Deve ser necessariamente
acompanhada, ou mesmo antecedida, por grandes estímulos geopolíticos
imperiais. Como observado mais acima, as ações geopolíticas dos Estados
imperialistas na dinâmica da economia mundial agem como poderosos
estimulantes, supondo que sejam bem sucedidas, é claro, para acelerar as
condições produtivas do sistema e mesmo prorrogar o período de expansão e
superaquecimento do ciclo econômico.
É por isso que aguardamos ansiosamente o desdobramento do grande
espetáculo imperialista que foi armado nos últimos dias para justificar um ataque
devastador e covarde das potências imperialistas sobre o povo da Síria. Até o
fechamento deste boletim, restavam apenas algumas cínicas encenações, como
aprovação do Congresso norte-americano para o ataque, etc. Ao observar essa
ação imperialista, estaremos no próximo boletim analisando também as estreitas
relações entre a economia do imperialismo e a guerra mundial, tão bem
demonstradas pela revolucionária (e economista, nas horas vagas) Rosa de
Luxemburgo.
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