ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3529-29105-1-SM.0709201309 Teles CCGD, Muniz MCV, Ferrari R. Tabagismo associado às lesões precursoras... ARTIGO ORIGINAL TABAGISMO ASSOCIADO ÀS LESÕES PRECURSORAS PARA O CÂNCER DE COLO UTERINO SMOKING ASSOCIATED WITH PRECURSOR LESIONS FOR CANCER OF UTERINE CERVIX EL TABACO ASOCIADO CON LESIONES PRECURSORAS DE CÁNCER DE CUELLO UTERINO Cássia Caroline Garcia Dalbem Teles1, Marisol Costa Viegas Muniz2, Rogério Ferrari3 RESUMO Objetivo: identificar a relação tabagismo e lesões precursoras para o câncer de colo uterino. Método: estudo documental, transversal, com abordagem quantitativa, realizada no Ambulatório de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, em Cáceres-MT, com 142 prontuários. A coleta ocorreu com questionário e análise no software EPI-INFO-6.04 e SPSS-13.0. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, protocolo n°2009-141. Resultados: a média de idade foi 38,8 anos, sendo maioria casadas (68,3%), etnia branca (50,5%), do lar (57%), residentes em área urbana (82,2%). Aproximadamente 44% fumam ou são ex-fumantes e, destas, 69% fumam ou fumaram mais de 10 anos. A média de consumo diário foi 15,8 cigarros. Houve associação do cofator consumo maior que seis anos e o risco de câncer do colo uterino. Conclusão: o elevado risco do câncer do colo uterino mostrou-se associado a mulheres tabagistas crônicas. Descritores: Tabagismo; Colo do Útero; Neoplasia Intra-epitelial Cervical. ABSTRACT Objective: to identify the relationship between smoking and the precursors to cervical cancer. Method: transversal documentary study with quantitative approach, performed in the Ambulatory of the lower Genital Tract Pathology and Colposcopy in Cáceres-MT, with 142 records. The collection occurred with questionnaire and analysis in the software EPI INFO 6.04 and SPSS-13.0. The Research Ethics Committee, Protocol n° 2009141, has approved the research project. Results: patients’ mean age was 38.8 years, the majority being married (68.3%), white (50.5%) ethnicity, household (57%), and residents in urban area (82.2%). Approximately 44% smoke or are ex-smokers and of these, 69% smoke or smoked more than 10 years. The average daily consumption was 15.8 cigarettes. There was Association of cofactor consumption greater than six years and the risk of cervical cancer. Conclusion: the high risk of cervical cancer was associated with women smokers. Descriptors: Tobacco; The Cervix; Intra-Cervical Epithelial Neoplastic. RESUMEN Objetivo: identificar la relación entre fumar y lesiones precursoras de cáncer del cuello uterino. Método: estudio documental transversal con enfoque cuantitativo, realizado en el ambulatorio de menor patología del tracto Genital y colposcopia en Cáceres-MT, con 142 registros. La colección se produjo con el cuestionario y análisis en el software EPI INFO 6.04 y SPSS 13.0. El proyecto de investigación ha sido aprobado por el Comité de ética de la investigación, Protocolo n° 2009-141. Resultados: la edad media fue de 38,8 años, siendo más blanco etnia (50,5%), hogar (57%), casado (68,3%), residentes en zona urbana (82.2%). Aproximadamente 44% fuman o son ex fumadores y, de éstos, 69% fuma o fumó más de 10 años. El consumo promedio diario fue de 15,8 cigarrillos. Hubo Asociación del consumo de cofactor de más de seis años y el riesgo de cáncer de cuello uterino. Conclusión: el alto riesgo de cáncer de cuello uterino se asoció con las fumadoras. Descriptores: Tabaco; El Cuello Uterino; Intracervical Epiteliales Neoplásicas. 1 Médica, Mestre, Ambulatório de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia/PTGIC. Cáceres (MT), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Médica, Mestre, Secretaria do Estado de Saúde de Mato Grosso/SES-MT. Cáceres (MT), Brasil. Email: [email protected]; 3Graduando em Medicina, Universidade Estácio de Sá/UNESA. Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: [email protected] Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(9):5427-34, set., 2013 5427 ISSN: 1981-8963 Teles CCGD, Muniz MCV, Ferrari R. INTRODUÇÃO Embora já existam conhecimentos teóricopráticos suficientes para fornecer altos índices de cura, o câncer de colo do útero apresenta mortalidade elevada, que ainda continua sendo um problema de saúde pública no Brasil, mesmo com a existência dos vários programas governamentais de prevenção.1 Considerando que esta neoplasia apresenta lesões precursoras com bom prognóstico se diagnosticadas e tratadas precocemente, a forma de abordagem preconizada para o controle populacional consiste na realização do rastreamento através do exame preventivo para câncer do colo do útero.2-3 Este também é conhecido como exame de Papanicolau, um procedimento simples e de baixo custo, capaz de detectar as alterações em fases prémalignas, quando são curáveis com medidas relativamente simples3-4 reduzindo o risco cumulativo de câncer do colo do útero em 84% para mulheres rastreadas a cada cinco anos, e em 91% para mulheres que se submetem ao exame a cada três anos.3 É estimado que uma redução de cerca de 80% da mortalidade por esse câncer possa ser alcançada através do rastreamento de mulheres na faixa etária de 25 a 65 anos com o teste de Papanicolau e com o tratamento das lesões precursoras com alto potencial de malignidade ou carcinoma in situ5. Após duas colheitas anuais negativas, a periodicidade do exame colpo citológico ou Papanicolau poderá ser trienal, permitindo identificar os casos nos quais possam ter ocorrido resultado falsonegativo.6 O principal fator relacionado a esse tipo de câncer é a infecção pelo papiloma vírus humano (HPV), associada à cofatores como, por exemplo, o tabagismo.7-8 Cabe ressaltar que o número de fumantes, entre o sexo feminino, tem aumentado em todo o mundo, influenciado por inúmeros fatores econômicos e socioculturais, principalmente em países em desenvolvimento, transformando o tabaco em uma das maiores causas desse tipo de tumor.9 Corroborando esse fato, um estudo que abordou as alterações cito patológicas e fatores de risco ilustrou que 48% de um total de 65 mulheres que apresentavam alterações cervicais eram tabagistas.10-11 Acrescente-se que o tabaco e seus derivados podem induzir diversas alterações no sistema imunológico, principalmente nas células natural killer e nas células de Langerhans. Em estudos experimentais, verificaram que solução de tabaco aplicada na pele de camundongo desencadeou o aparecimento de células de Langerhans (LCs) Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(9):5427-34, set., 2013 DOI: 10.5205/reuol.3529-29105-1-SM.0709201309 Tabagismo associado às lesões precursoras... arredondadas ou alongadas com poucos dendritos e desenvolvimento de neoplasia; enquanto a supressão do tabaco apresentou LCs com numerosos dendritos associados ao infiltrado linfocitário e à regressão da neoplasia. As células de Langerhans são componentes importantes no sistema de vigilância imunológica celular, pois são apresentadoras de antígeno e ativam especificamente os linfócitos TCD4. Assim, as alterações nessas células, sugerem uma imunodeficiência localizada de grande importância na carcinogênese.12 Mediante o exposto o estudo tem como objetivo identificar a relação tabagismo e lesões precursoras para o câncer de colo uterino. MÉTODO Artigo elaborado a partir da dissertação << Estudo epidemiológico de mulheres com lesões precursoras para câncer do colo uterino na região sudoeste de Mato Grosso >>, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, da Universidade de Brasília/UnB. Brasília-DF, Brasil. 2011 Estudo documental, transversal descritivo. O estudo documental caracteriza-se como uma fonte de coleta de dados restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias, que podem sem feitas no momento ou posterior ao acontecimento do fato ou fenômeno.13 No estudo transversal, faz-se a seleção de único grupo, tento com critério para reunião do grupo a época definida pelo investigador e, somente na análise dos dados sabe-se quem é exposto e quem é doente. O estudo descritivo tem o intuito de informar a distribuição de um evento na população em termos quantitativos. Revelam diversos aspectos dos serviços de saúde, produz informações sobre a situação existente, promove reflexões e debates sobre o assunto e aponta possíveis soluções.14 O município de Cáceres, que fica a 225 quilômetros de Cuiabá, em direção à região sudoeste do Estado de Mato Grosso, configurase em importante polo regional de Saúde. Possui 06 unidades básicas de saúde e 10 unidades básicas de saúde da família (PSF), sendo nove em zona urbana e um em zona rural. Abriga o Complexo Regional de Saúde, com atendimento de média complexidade. O PTGIC do Ambulatório Regional de Especialidades Dr. Sebastião Batista de Miranda, lotado no Complexo Regional de Saúde, foi criado em maio de 2001 e atende aos usuários oriundos de 22 municípios da 5428 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3529-29105-1-SM.0709201309 Teles CCGD, Muniz MCV, Ferrari R. Tabagismo associado às lesões precursoras... região, totalizando uma população de 185.611 usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).15 Foi considerado, para efeito deste estudo, censo dos prontuários médicos de mulheres atendidas no Ambulatório de PTGIC do Complexo Regional de Saúde no ano de 2009, totalizando 315 prontuários. Após aplicação dos critérios de exclusão restaram 142 prontuários que compõem os resultados do estudo. Foram excluídos deste estudo: (1) Resultados de colpocitologia oncológica (CCO) insatisfatório devido aos seguintes fatores: identificação errada ou ausência de identificação, identificação da lâmina não coincidente com o formulário, material escasso ou hemorrágico, dessecamento, áreas espessas, esfregaço purulento, lâmina danificada ou ausente; (2) Mulheres gestantes, histerectomizadas, com passado de tratamento de câncer cervical e/ou de suas lesões precursoras e as com sangramento genital; (3) Mulheres referenciadas ao serviço sem resultado do exame de CCO; (4) Mulheres referenciadas ao serviço com resultado de CCO normal, inflamatório ou metaplásico. Considerando a biopsia dirigida de colo uterino padrão-ouro no diagnóstico das lesões intraepitelial cervicais precursoras do câncer do colo uterino, posteriormente foram excluídas: (5) Mulheres com resultado de CCO alterado e exame de colposcopia negativo; (6) Mulheres com resultado de CCO alterado, exame de colposcopia positivo, porém, sem biópsia. Os dados foram coletados no período de novembro de 2009 a fevereiro de 2010, com a utilização de um instrumento, formulário de coleta de dados, constando 35 tópicos que abordam informações sobre identificação (número da ficha, iniciais do nome, data de nascimento); sociodemográficas (procedência, zona de convívio, estado civil, etnia, ocupação, escolaridade); antecedentes reprodutivos (menarca, paridade, métodos contraceptivos); comportamento sexual (coitarca, número de parceiros total e no último ano, DST prévia); hábito de fumar e informações relacionadas ao atendimento no Sistema Único de Saúde (data da realização do exame de CCO e resultado, data do encaminhamento, data da primeira consulta, resultado da colposcopia, necessidade de biopsia e resultado da biopsia). Destaca-se que no presente estudo serão enfatizadas as informações relacionadas ao hábito de fumar. A coleta de dados (digitação) foi feita com a utilização do software EPI-INFO 6.04 (versão 3.5.1, de agosto de 2008). O processamento da base de dados foi feito com o software Excel® para Windows®. Todas as análises estatísticas foram feitas com o software SPSS® (Statistic Package for the Social Sciences, Chicago, IL, USA), versão 13 para Windows®. Possíveis associações entre variáveis foram avaliadas mediante o teste qui-quadrado (χ2). O cálculo da razão de chances (Odds Ratio, OR) foi feito a partir de tabelas de contingência 2×2 e utilizada a fórmula razão de produtos cruzados. O intervalo de confiança utilizado foi de 95%. Nas tabelas 2×2, o nível de significância (pvalor) foi calculado para o teste de probabilidade exata de Fisher. Para todos os testes, o nível de significância estatística foi estabelecido em p<0,05 (bicaudal). O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Cuiabá – UNIC, do município de Cuiabá, Estado do Mato Grosso, sendo aprovado conforme Registro n° 131 CEP/UNIC/2009 – Protocolo n° 2009-141. RESULTADOS Na amostra da pesquisa a média de idade foi de 38,8 anos, sendo a maioria casada ou em união estável (68,3%), com estudos iguais ou menores que o ensino fundamental completo (67%), de etnia branca (50,5%), do lar (57%) e grande parte residem em área urbana (82,2%). Na tabela 1 e 2 são encontrados os dados referentes ao hábito de fumar do grupo em estudo e tempo de fumo das mulheres que são tabagistas. Tabela 1. Distribuição de frequências em relação ao hábito de fumar das mulheres estudadas – Ambulatório PTGIC, Cáceres – MT, 2009. Hábito de fumar N % % válido Sim 37 26,1 28,0 Ex-fumante 21 14,8 15,9 Não 74 52,1 56,1 Total válido 132 93,0 100,0 Não informada 10 7,0 Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(9):5427-34, set., 2013 5429 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3529-29105-1-SM.0709201309 Teles CCGD, Muniz MCV, Ferrari R. Tabagismo associado às lesões precursoras... Com relação ao uso de tabaco (Tabela 1), verificou-se que aproximadamente 44% (58) das mulheres neste estudo fumam ou são exfumantes e, destas, 69% (40) fumam ou fumaram por mais de 10 anos (Tabela 2). A média de consumo diário de cigarro era de 15,8, com desvio padrão de 13,9 e mediana de 10 cigarros ao dia. Tabela 2. Distribuição de frequências e as medidas de posição e dispersão em relação ao tempo de fumo das mulheres estudadas – Ambulatório PTGIC, Cáceres – MT, 2009. Tempo de fumo (anos)* Na % % válido 1 a 3 anos 5 8,6 8,6 4 a 10 anos 13 22,4 22,4 11 a 15 anos 11 19,0 19,0 16 a 30 anos 13 22,4 22,4 31 anos ou mais 16 27,6 27,6 *Entre as fumantes e ex-fumantes Tabaco (anos) Média=21,2; Desvio Padrão=16,6; Mínimo valor encontrado=1; Máximo valor encontrado=60; Primeiro Quartil=8; Mediana=15,5; Terceiro Quartil=35. Nº cigarros/dia Média=15,8; Desvio Padrão=13,9; Mínimo valor encontrado=1; Máximo valor encontrado=60; Primeiro Quartil=10; Mediana=10; Terceiro Quartil=20. Para análise de razão de chances entre as variáveis de interesse versus o alto e baixo risco de desenvolver câncer do colo uterino, o resultado das biópsias foi classificado em dois grupos, sendo: baixo risco para desenvolver lesão de alto grau e câncer, que incluem resultado histopatológico da biópsia normal, cervicite crônica, HPV e neoplasia intraepitelial cervical de baixo grau (NIC 1); e alto risco para desenvolver lesão de alto grau e câncer, que incluem resultado histopatológico da biópsia de neoplasia intraepitelial cervical de alto grau (NIC 2 e NIC 3) e carcinoma in situ, adenocarcinoma in situ, carcinoma microinvasivo e carcinoma invasivo. As variáveis quantitativas foram transformadas em variáveis ordinais utilizando a mediana como ponto de corte, sendo: tempo de uso do cigarro (≤ 5 anos e ≥ 6 anos); número de cigarros consumidos por dia (≤ 10 cigarros/dia e ≥ 11 cigarros/dia). A variável nominal tabagismo foi agrupada em duas categorias sendo: sim (fumantes e ex-fumantes) ou não fumantes. Tabela 3. Odds Ratio de fatores ligado ao tabagismo associado aos resultados da biópsia Ambulatório PTGIC, Cáceres – MT, 2009. Variável Fumante Sim Não Sim X Não Tempo de fumante ≥6 anos ≤5 anos ≥6 anos X ≤5 anos Número de cigarros/dia ≥11 cigarros ≤10 cigarros ≥11 cigarrosX≤10 cigarros Risco de câncer Alto Baixo Total OR IC 95% 37 38 58 73 1,62 0,80-3,29 33 41 15 19 21 35 15 41 10 11 Observa-se na tabela 3, quanto ao fato de ser fumante, não houve associação significativa entre as duas variáveis (χ2=1,820, p=0,214). O cálculo de OR mostrou que o fato de ser fumante aumenta em 1,62 vezes a chance de possuir lesões precursoras para o câncer de colo uterino, porém não apresentou um valor estatisticamente significante (0,80 3,29). Em relação ao tempo de consumo de cigarros (anos) o teste Qui-quadrado mostrou uma associação estatisticamente significativa entre as duas variáveis (χ2=4,341, p=0,044). O Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(9):5427-34, set., 2013 48 82 25 30 2,20 0,87 χ2 ρ-valor 1,820 0,214 4,341 0,044 0,064 1 1,04-4,65 0,29-2,59 cálculo do OR mostrou que as pacientes com resultados positivos têm chances 2,20 vezes maior de ter usado cigarro por mais de 6 anos. (IC 95%: 1,04 – 4,65); No que diz respeito ao número de cigarros ao dia o teste Qui-quadrado não foi estatisticamente significativo (X2=0,064 e p=1). No calculo de OR, o fato de fumar 11 cigarros ou mais aumenta em 0,87 vezes a chance da mulher apresentar resultado positivo, porém não houve associação significativa entre as duas variáveis (OR=0,87, IC 95%: 0,29 a 2,59). 5430 ISSN: 1981-8963 Teles CCGD, Muniz MCV, Ferrari R. DISCUSSÃO Como dito anteriormente 44% das mulheres fumam ou são ex-fumantes, e dessas, 69% fumam a mais de dez anos. Resultados semelhantes foram observados em um estudo16 em que a frequência de mulheres fumantes com neoplasia intraepitelial cervical foi de (59/132) 44,7% e, dentre estas, (41/59) 69,5% fumavam há mais de 10 anos. Em um estudo de coorte17 os autores encontraram frequência de (10.070/24.792) 40,6% em 1963 e (11.403/26.381) 43,2% em 1975. Um estudo de caso18 controle com 684 mulheres, sendo 171 casos (≥ NIC 1) e 513 controles demonstraram que, entre as mulheres com lesões de alto grau para câncer do colo uterino (≥ NIC 2), (36/59) 61% delas eram fumantes passivas e (9/59) 15% eram fumantes ativas. Outros três estudos19-21 observaram frequência de lesão intraepitelial em fumantes de (21/64) 32,7%, (2026/5485) 35,1% e (156/346) 45,1%, respectivamente e consideram tal percentual elevado, afirmando que as mulheres tabagistas deveriam ser consideradas como grupo de alto risco para desenvolver a doença. A relação do tabagismo como importante fator causal para o câncer do colo uterino já é bastante conhecida. Um estudo6 publicado no ano de 2012 evidenciou que das 15 (19,48%) mulheres entrevistadas que usavam cigarro, sete o fizeram por mais de dez anos. Pesquisa realizada em 2002, em uma clínica de colposcopia nos Estados Unidos da América, mostrou que das 250 mulheres submetidas aos exames de Papanicolau alterados ou com diagnóstico prévio de câncer de colo de útero, 98 (39%) eram fumantes, considerado um percentual elevado.6 Em uma análise de 10 estudos casocontrole de mulheres com carcinoma in situ ou carcinoma invasivo de colo uterino, de quatro continentes, que avaliavam os cofatores de risco para o câncer do colo uterino, em que foram incluídas apenas as mulheres com teste de DNA-HPV positivos, verificou-se que o fumo aumenta o risco de câncer do colo uterino em mulheres com teste de DNA-HPV positivos sendo, OR=2,17 (IC 95%: 1,46 – 3,22).22 Outros autores ainda23 descreveram associação positiva entre tabagismo e câncer do colo uterino e demonstraram que a associação de tabaco e múltiplos parceiros (maior ou igual a dois) aumentam em 2,6 vezes o risco de câncer, quando comparada com mulheres com um parceiro e não fumantes (OR=2,6, IC 95% 2,32,9). Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(9):5427-34, set., 2013 DOI: 10.5205/reuol.3529-29105-1-SM.0709201309 Tabagismo associado às lesões precursoras... Cabe ressaltar que apesar do relatado até o momento, o fato de ser fumante no presente estudo não apresentou diferença estatisticamente significante quando comparado as não fumantes. Resultado semelhante foi encontrado em estudo24 onde os autores não observaram correlação entre tabagismo e risco de progressão para câncer do colo uterino quando avaliado isoladamente, porém, o autor relata que o tabagismo, associado ao uso de contraceptivos hormonais apresentou um risco 4,6 vezes maior de evoluir para câncer do colo uterino quando comparadas a outros grupos de mulheres (só usuárias de anticoncepcional oral - ACO, só fumantes, não usuárias de ACO e não fumantes) (IC 95%: 1,1 – 18,4). Estudo em que as células de Langerhans foram evidenciadas pelo método imunohistoquímico e histométrico, mostrou que as médias das densidades das células de Langerhans no epitélio foram de 232,41 células/mm2 para fumantes e de 221,08 células/mm2 para não-fumantes. Esses valores não apresentaram diferenças estatisticamente significativas, tanto no estudo do epitélio total quanto em camadas histológicas, confirmando as observações de feitas por outro autor7 que estudou 20 adolescentes fumantes e 29 não-fumantes com condiloma cervical ou neoplasia intraepitelial cervical, não observando redução significativa da densidade das LCs, mesmo entre pacientes com e sem NIC.12 Em literatura publicada no ano de 2010, os autores estudando a associação entre resultados dos exames e tabagismo mostrou maior frequência inspeção visual com ácido acético (IVA) positiva nas mulheres nãofumantes (47,0%), assim como também na citologia com 4,0%, porém, na cervicografia, houve maior porcentagem de exames alterados no grupo das fumantes (33,0%).25 Como pode ser visto, há tanto estudo que demonstram associação do tabagismo como cofator para o câncer de colo uterino, quanto estudo que relevam que essa associação não é tida como cofator, demonstrando a importância em desenvolver novos estudos caracterizando essa temática. Dentre as análises acima descritas nos resultados, à variável significativamente associada ao alto risco para câncer do colo uterino foi o consumo de cigarro por período maior que seis anos, que, como dito anteriormente, mostrou chance 2,2 vezes maior das mulheres com alterações cervicais de alto risco. Diferente do encontrado na presente, um autor em seu estudo21 não observou 5431 ISSN: 1981-8963 Teles CCGD, Muniz MCV, Ferrari R. associação positiva entre mulheres HPV positivas e consumo ≥ 6 anos (RR=0,61 IC 95% 0,33-1,13). No que se refere ao número de cigarros consumidos pelos fumantes foi observado17 que o consumo de 11 ou mais cigarros aumenta o risco de desenvolver a neoplasia ou câncer, além de comprovarem que o tabagismo passivo também é um fator risco para neoplasia cervical. Verificaram-se também uma dose de dependência com o número de cigarros e a diminuição da densidade das células de Langerhans. Resultados semelhantes foram observados em outro estudo, em que as profissionais do sexo, fumantes há mais de 5 anos ou que fumam mais de 20 cigarros/dia, apresentaram um risco elevado de desenvolver neoplasia intraepitelial cervical (NIC) ou câncer invasor. Determinados autores também confirmaram esses resultados, tanto em ectocérvice quanto em zona de transformação do colo uterino das fumantes, porém, não encontraram a correlação com a dose-dependência.12 Avaliação de dados de 23 estudos epidemiológicos, realizados no Reino Unido, acerca do câncer de colo uterino, definiu com clareza que o risco deste tipo de câncer tem relação com o número de cigarros ao dia (intensidade) e com o início do tabagismo em idades mais precoces (duração), além de influir sobre o tempo de sobrevida destas mulheres, após a ocorrência do câncer de colo uterino. Concentrações elevadas de cotinina e nicotina, metabólicos do cigarro, têm sido detectadas no muco do canal cervical. Sugerese que estas substâncias exercem efeito carcinogênico direto, e tenham ainda ação cocarcinogênica. Além disto, o fumo parece desempenhar papel imunossupressor, modificando de maneira acentuada os mecanismos de defesa imunológica do colo por alteração das concentrações de linfócitos T4 e T8.6 Cabe destacar que no presente estudo o número de cigarros não apresentou associação significativa, porém como foi visto, há vários estudos que demonstram esse fato como cofator. O profissional deve buscar práticas educativas em saúde para prevenção de doenças e promoção da qualidade de vida das mulheres. A educação e a saúde são espaços de produção e aplicação de saberes destinado ao desenvolvimento humano.26 CONCLUSÃO As informações obtidas na realização deste estudo permitiram descrever algumas das Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(9):5427-34, set., 2013 DOI: 10.5205/reuol.3529-29105-1-SM.0709201309 Tabagismo associado às lesões precursoras... características tabagistas das mulheres com lesões precursoras para câncer do colo uterino na região Sudoeste de Mato Grosso. Verificouse que aproximadamente 44% das mulheres fumam ou são ex-fumantes e, destas, 69% fumam ou fumaram por mais de 10 anos, sendo que dentre as fumantes a média de consumo diário de cigarro foi de 15,8, e mediana de 10 cigarros ao dia. O fato de ser fumante e número de cigarros ao dia não apresentou associação estatisticamente significativa em relação às lesões precursoras para o câncer de colo uterino. Foi demonstrado que o elevado risco de desenvolver o câncer do colo uterino está associado a mulheres tabagistas crônicas, com consumo de cigarro por mais que 06 anos, já que a associação dos cofatores e o risco de desenvolver câncer do colo uterino foram positivos para o tempo de consumo de cigarro maior que seis anos. Enfatiza-se a importância do desenvolvimento de novos estudos conduzidos com um número maior de casos para resultados definitivos quanto ao efeito do tabagismo como cofator do aparecimento de lesões precursoras para o câncer de colo uterino. REFERÊNCIAS 1. Guimarães JAF, Aquino PS, Pinheiro AKB, Moura JG. Pesquisa brasileira sobre prevenção do câncer de colo uterino: uma revisão integrativa. Rev Rene [Internet]. 2012 [cited 2012 June 20]; 13(1):220-30. Available from: http://www.revistarene.ufc.br/revista/index. php/revista/article/view/34/29 2. World Health Organization/International Agency for Research on Cancer. Cervix cancer screening. Lyon: IARC Press; 2005. 3. 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