AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE MEDICAMENTOS DE PACIENTES ACOMPANHADOS POR UM PROGRAMA DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA: UM ESTUDO PILOTO Bárbara Manuella Sodré Alves1, Karoline Cirqueira Pimentel1, Blície Jennifer Balisa-Rocha2, Gabriella Fernandes Magalhães 3 1 Graduanda do Curso de Farmácia da Faculdade Guanambi Especialista em Farmacologia Clínica, Mestre e Doutora em Atenção Farmacêutica, Docente do Curso de Farmácia da Faculdade Guanambi 3 Especialista em Farmácia Hospitalar, Docente do Curso de Farmácia da Faculdade Guanambi 2 RESUMO: A maioria de todos os medicamentos usados no mundo são prescritos, dispensados, vendidos ou usados de maneira incorreta. Com isso o presente estudo tem objetivo de avaliar o nível de conhecimento dos pacientes portadores de Diabetes quanto à prescrição de medicamentos, através de um instrumento adaptado, composto por cinco questões sociodemograficas e doze questões que avaliam: medicamentos prescritos; indicação; horários de administração; duração do tratamento; modo de usar; dose; o que fazer quando se esquecer de tomar uma ou mais doses; medicamentos, bebidas e alimentos que devem ser evitados; reações desagradáveis; necessidade de mais informações. O presente trabalho foi realizado na cidade de Guanambi – BA. A coleta dos dados foi feita no período compreendido entre Dezembro de 2014 e Janeiro de 2015. A amostra foi de doze entrevistados. O nível de conhecimento da terapia medicamentosa foi considerado mediano, sendo os maiores níveis (100%) de conhecimento os horários de administração e como devem utilizar o medicamento. Os menores níveis (12%) ocorreram em relação à duração do tratamento e o que fazer no caso de esquecimento de uma ou mais doses do medicamento. E grande parte (83,3%) relatou necessitar de mais informações para realizar a farmacoterapia. O presente estudo demonstrou importantes deficiências sobre o conhecimento dos pacientes relacionadas ao uso dos seus medicamentos. Tais deficiências podem implicar em prejuízos à saúde dos mesmos e sugerem a necessidade de um acompanhamento farmacoterapêutico especializado no processo de capacitação dos pacientes, em especial, dos portadores de doenças crônicas que fazem uso contínuo e em grande variedade de medicamentos. Palavras-chave: Conhecimento. Diabetes. Medicamentos. PATIENTS MEDICINES ON KNOWLEDGE ASSESSMENT ACCOMPANIED BY A PHARMACEUTICAL CARE PROGRAM: A PILOT STUDY ABSTRACT: Most of all drugs used worldwide are prescribed, dispensed, sold or used incorrectly. Thus the present study is to evaluate the level of knowledge of patients with diabetes as the prescription medications through a suitable instrument, consisting of five socio-demographic issues and twelve questions that assess: prescription drugs; indication; administration times; duration of treatment; mode of use; dose; what to do when you forget to take one or more doses; medicines, beverages and foods that should be avoided; unpleasant reactions; need for more information. This work was carried out in the city of Guanambi - BA. Data collection was done in the period between December 2014 and January 2015. The sample was twelve respondents. The drug therapy knowledge level was considered average, with the highest levels (100%) of knowledge the administration times and how to use the medicine. Lower levels (12%) occurred in relation to the duration of treatment and what to do in case of forgetting one or more doses of the drug. And most (83.3%) reported need more information to make pharmacotherapy. The present study demonstrated significant shortcomings on the patients' knowledge related to the use of your medicines. These deficiencies can result in damage to 2 the health of themselves and suggest the need for a specialized pharmacotherapeutic follow the training process of the patients, in particular those with chronic diseases that make continued use and wide range of medicines. Key words: Knowledge. Diabetes. Drugs. INTRODUÇÃO Segundo a pesquisa nacional de saúde realizada em 2013 e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quatro em cada dez brasileiros têm ao menos uma doença crônica não transmissível, correspondendo a um conjunto de enfermidades que responde por mais de 70% das causas de mortes no Brasil. São doenças como hipertensão arterial, cardiovasculares, câncer, diabete e depressão. Dos 146,8 milhões de brasileiros, 57,8 milhões responderam que sofrem de pelo menos uma dessas doenças. Elas estão associadas a hábitos pouco saudáveis, como o consumo abusivo de álcool, alimentação pobre em frutas, legumes e verduras, sedentarismo, pouco exercício físico e tabagismo. O monitoramento destes fatores de risco e da prevalência das doenças a eles relacionados é primordial para definição de políticas de saúde voltadas para prevenção destes agravos (IBGE, 2013). Dados mundiais revelaram cerca 366 milhões de pessoas com Diabetes Mellitus (DM) em 2011, destes, 4,6 milhões resultaram em morte. Estima-se que em 2030, o número de portadores de DM crescerá para 552 milhões. O Brasil é o quinto país com maior número de portadores de DM no mundo e deve permanecer na mesma posição até 2030. Em 2010, cerca de 7,6 milhões de brasileiros tinham DM, número que deve aumentar para 12,7 milhões em 2030 (IDF, 2011). Neste contexto, a Atenção Farmacêutica (Atenfar) é uma filosofia de prática profissional, em que o farmacêutico assume a responsabilidade das necessidades do paciente em relação ao emprego de medicamentos, por meio do acompanhamento sistemático, contínuo e documentado. A Atenfar foi definida por Hepler & Strand (1990), como: “a provisão responsável da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na saúde e qualidade de vida da população”. No exercício da AtenFar, o profissional coopera com o paciente e outros profissionais da saúde, afim de identificar, resolver e prevenir possíveis problemas relacionados com os medicamentos (PRM). O programa Hiperdia promoveu a reorientação da Assistência Farmacêutica que monitora as condições clínicas de cada paciente e proporciona o fornecimento contínuo e gratuito de medicamentos (BRASIL, 2004). Mesmo que os medicamentos sejam indispensáveis, na maioria das situações, para a recuperação da saúde, eles não estão livres de risco podendo tornar extremamente perigosos quando usado inadequadamente, tornando um grande problema de Saúde Pública mundial (OPAS, 2005). O uso irracional de medicamentos mais comum está relacionado às pessoas que utilizam polifarmácia, como é o caso da maioria dos portadores de DM e HAS (WHO, 2006). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 50% 3 de todos os medicamentos usados no mundo são prescritos, dispensados, vendidos ou usados de maneira incorreta (BRASIL, 2012). Devido à relevância em termos financeiros para o SUS, diversos estudos tentam determinar a prevalência dos problemas relacionados aos medicamentos, ressaltando que estes podem ser a causa de cerca de 30% das assistências hospitalares (BAENA et al., 2002). De acordo com Hogerzeil e colaboradores (2001), além do diagnóstico e prescrição correta, os pacientes necessitam de informações sobre sua doença e sobre a utilização adequada de medicamentos. O conhecimento dos pacientes acerca de sua doença, dos medicamentos a serem utilizados, dos fatores desencadeantes e dos riscos, contribui para uma melhor adesão ao tratamento prescrito, principalmente quando orientados de forma multidisciplinar (PIERIN et al., 2004). Segundo Miass & Cassiani (2004) o conhecimento insuficiente e a carência de educação e informações passadas para os pacientes sobre seus medicamentos resultam em grandes dificuldades para a condução correta da farmacoterapia, provocando a ineficácia do tratamento e até complicações mais severas. É importante que o prescritor e o farmacêutico forneça as devidas informações aos pacientes para que possam comprometer-se com o tratamento levando em consideração o cumprimento dos horários estabelecidos, a forma adequada de uso de cada medicamento (com água, leite, suco e/ou alimentos, antes, durante ou após as refeições), sobre a possibilidade e manejo de eventuais ocorrências de reações desagradáveis (BRASIL, 2001). Ante ao exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o conhecimento sobre medicamentos de pacientes acompanhados por um programa de Atenção Farmacêutica. MATERIAL E MÉTODOS Um estudo descritivo e transversal foi realizado no Centro de Saúde FG, localizado na cidade de GuanambiBahia. A coleta dos dados foi feita no período compreendido entre Dezembro de 2014 à Janeiro de 2015. Para avaliar o nível de conhecimento dos pacientes quanto à prescrição de medicamentos, os pacientes atendidos no centro de saúde FG foram entrevistados por meio de um instrumento adaptado do desenvolvido, testado e aprovado no Brasil por Fröhlich et al. (2010), composto por dose questões que avaliam: medicamentos prescritos; indicação; horários de administração; duração do tratamento; modo de usar; dose; o que fazer quando esquecer de tomar uma ou mais dose; medicamento, bebida ou alimento que deve ser evitado; reações desagradáveis; necessidade de mais informações. E cinco questões adaptadas que avaliam o perfil sociodemográficas dos pacientes. Foram incluídos na pesquisa todos os pacientes portadores de DM com idade acima de 18 anos, que apresentaram condições de comunicação, cadastrados no programa Atenfar do Centro de Saúde e que faziam tratamento medicamentoso para DM. Sendo assim, dispensável a aplicabilidade de calculo amostral. 4 Todos pacientes, concordantes em participar do estudo, foram previamente elucidados quanto às metas e a natureza da pesquisa, assinando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a Resolução CNS nº. 466/12. O estudo também obedeceu ao Código de Ética em Pesquisa que foi submetido ao Comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), parecer nº 851.205/2014 de acordo com a Resolução CNS nº. 466/2012. Os dados foram processados utilizando-se o programa Excel 2007 da Microsoft®, versão for Windows 7, no qual foram feitas as análises estatísticas descritivas. RESULTADOS E DISCUSSÃO No período do presente estudo, vinte quatro pacientes foram atendidos no serviço de Atenção Farmacêutica do Centro de Saúde FG. Destes, doze pacientes obedeciam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos, formando a amostra final do trabalho. A distribuição do gênero da amostra estudada foi: onze (91,7%) do sexo feminino e um (8,3%) do sexo masculino. Essa quantidade predominante de pessoas do gênero feminino, apenas confere um resultado que já era esperado, por ser o sexo mais envolvido nos cuidados com a saúde (ALMEIDA, 2007). A idade média dos pacientes foi de 57 ± 11,45 anos. Como os idosos são os maiores consumidores de medicamentos é necessário um constante cuidado, pois nessa fase da vida são mais comuns os erros de medicação. A atenção farmacêutica ao idoso requer mais comprometimento, pois eles necessitam de orientação especial, verbal e/ou escrita, para otimizar o tratamento e reduzir riscos à saúde. Com o avanço da idade, a capacidade funcional diminui e, com isso, o paciente perde sua independência e autonomia, tendo sua qualidade de vida comprometida. Devido às alterações ocasionadas pelo envelhecimento, o paciente tem mais tendência a apresentar uma evolução nas patologias e, como consequência, aumentar o consumo de medicamentos e as chances de erros de administração ou interações medicamentosas (FIDÊNCIO, 2011). No que diz respeito ao acesso à saúde dez (83,3%) têm acesso tanto ao serviço público quanto privado. E quanto ao estado civil a maioria (83,3% n=10) afirmou ser casados (Tabela 1). O grau de escolaridade foi baixo por 58,4% (n=7) não terem concluído o ensino básico. Quanto maior a escolaridade, mais fácil a compreensão das instruções orais e escritas dos aspectos relacionados com o medicamento. Além disso, a grande diferença entre a escolaridade do paciente e a do médico pode desestimular questionamentos ao médico sobre o tratamento (FRÖHLICH, et al., 2010). 5 Tabela 1 – Dados sócio-demográficos dos usuários do programa de AtenFar (n=12), Dezembro de 2014 à Janeiro de 2015. Variáveis n (%) Casado (a) 10 (83,3) Solteiro (a) 2 (16,7) Ensino Fundamental Completo 1 (8,3) Ensino Fundamental Incompleto 3 (25,1) Ensino Médio Completo 1 (8,3) Ensino Médio incompleto 2 (16,7) Ensino Superior 1 (8,3) Não – Alfabetizado 4 (33,3) Público 1 (8,3) Privado 1 (8,3) Ambos 10 (83,4) Estado civil Escolaridade Acesso a Saúde Metade dos entrevistados afirmou conhecer o nome do medicamento prescrito. Este resultado é ligeiramente inferior ao estudo de Moreira e colaboradores (2008) em que 77,7% sabiam dizer corretamente o nome de todos os medicamentos utilizados. É importante para o paciente conseguir identificar o medicamento através do nome. Isso se torna evidente quando ocorre a necessidade de relatar a um profissional de saúde qual medicamento está utilizando ou já utilizou, ou ainda não ter confusão por parte do paciente na hora de utilizar o medicamento (Tabela 2). Considerando as prescrições médicas, pode-se observar que dois pacientes (16,7%) usavam apenas Metformina, dois (16,7%) somente Insulina, três (25%) associam Metformina e Insulina, quatro (33,3%) Glibenclamida e Metformina e um (8,3%) paciente faz uso de Glimepirida e Furosemida. As drogas sensibilizadoras da ação da insulina (Metformina e Glitazonas) parecem ser vantajosas em relação aos demais grupos. A metformina melhora a ação da insulina no fígado, diminuindo a produção hepática da glicose em 10 a 30% e, no músculo, aumentando a captação de glicose em 15 a 40% e estimulando a glicogênese. Seu efeito anorético auxilia na perda de peso, sendo sobre peso 6 comum a pacientes diabéticos. A outra vantagem é não provocar hipoglicemia, por não estimular a secreção de insulina (ARAUJO et al., 2000). Na maioria dos pacientes entrevistados (n= 9 e 75%) é notável a prevalência do uso de Metformina, isso porque entre os antidiabéticos orais, de modo usual, é a primeira escolha no tratamento por promover maior redução de morte, acidente vascular cerebral e outros desfechos do DM, em comparação com a insulina e sulfoniluréias (MATOS & BRANCHTEIN, 2006). Quanto ao conhecimento sobre a indicação do medicamento utilizado, dez (83,3%) responderam que sabem o motivo (Tabela 2). Demonstrando um valor elevado ao ser comparado com estudos de Ceccato e colaboradores (2004), 28,8% e Moreira e colaboradores (2008), 19% conhecem a indicação terapêutica. A literatura internacional também relata freqüência de desconhecimento de indicação variando entre 8% e 65,7% (BOONSTRA et al., 2003; ROCHENAGLE et al., 2003). O adequado nível de conhecimento dos pacientes sobre os medicamentos que utilizam é considerado um fator essencial para a adesão ao tratamento farmacológico (MOREIRA et al., 2008). No que concerne ao conhecimento dos pacientes sobre a dose dos medicamentos, a distribuição de resposta mostrou-se isonômica de ambos os lados, 50% (n=6) sabem qual as doses dos medicamentos que utilizam e 50% (n=6) relatam não saber as doses dos medicamentos que utilizam (Tabela 2). A falta de conhecimento sobre a dose do medicamento configura-se fator importante no ocasionamento de prejuízos na farmacoterapia, tais como toxicidade gerada por superdosagens ou subdose do medicamento, além de inadequado fracionamento do medicamento. Por isso o paciente deve estar certo da dose que deve utilizar, haja vista os tipos diferentes de dose existentes. Esse resultado também pode estar relacionado à dificuldade de memorização, pois, quando a compreensão das instruções para utilização de medicamentos envolve a integração de informações qualitativas e quantitativas, erros de interpretação são mais suscetíveis a ocorrer (PATEL et al., 2002). Todos os pacientes responderam conhecer o horário de administração dos medicamentos, como mostrado na Tabela 2. Esse resultado foi semelhante ao encontrado por Azevedo e colaboradores (2010) onde 93% sabiam a frequência correta para administrá-los, e superior aos 69% encontrados no estudo de Silva et al. (2000). Dentre os entrevistados, onze (91,7%) relataram não conhecer por quanto tempo iriam utilizar o medicamento prescrito. Esse resultado mostrou-se discrepante dos resultados encontrados nas pesquisas de Silva et al. (2000), 39%, Boonstra e colaboradores (2003), 56% e muito elevado com relação ao de Ceccato e Colaboradores (2004), 15,1% (Tabela 2). Todos os pacientes que responderam o questionário alegaram saber como utilizar o medicamento. Esse valor global pode ser justificado por receio por parte dos pacientes em fornecerem informações como essas, como foi aplicado na primeira consulta com o farmacêutico o paciente pode ter se sentido constrangido e não querendo demonstrar falta de conhecimento respondeu de maneira equivocada (Tabela 2). Assim como no estudo de Fröhlich et al. (2010) em que os entrevistados mostraram acreditar saber as respostas ou as respondiam sem pensar, para não admitir seu desconhecimento. 7 A maioria dos pacientes 83,3% (n=10) não soube responder o que fazer quando se esquece de tomar uma ou mais doses dos seus medicamentos (Tabela 2). Em estudo realizado por Fröhlich et al. (2010), 55,9% dos pacientes alegaram não saber o que fazer quando ocorre esquecimento de realizar a farmacoterapia. Isso implica na utilização inadequada de medicamentos frequentemente pelos pacientes, o que pode resultar em doses diárias altas ou baixas, em efeitos adversos ou ainda, falta de efeito do medicamento na morbidade. O farmacêutico é o responsável por monitorar e intervir no modo como o paciente faz uso dos medicamentos e pela colaboração com o médico nas decisões que envolvem a farmacoterapia. Portanto, a atenção farmacêutica tem objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente, o farmacêutico deve assim realizá-la de maneira correta e eficaz (OMS, 1993). Tabela 2 – Resultados do nível de conhecimento da prescrição de hipoglicemiantes por parte dos usuários estudados (n=12), Dezembro de 2014 à Janeiro de 2015. QUESTÕES Não sabe n (%) Sabe n (%) 1- Qual o nome do medicamento prescrito? 6 (50) 6 (50) 2- Para que o médico lhe receitou esse medicamento? 2 (16,7) 3- Qual a dose que você deve tomar do medicamento? 6 (50) 4- Quais os horários que você deve administrar o medicamento? 0 5- Por quanto tempo você deve utilizar o medicamento prescrito? 11 (91,7) 6- Como você deve utilizar o medicamento prescrito? 0 12 (100) 7- O que você deve fazer se esquecer de tomar uma ou mais doses? 10 (83,3) 2 (16,7) 10 (83,3) 6 (50) 12 (100) 1 (8,3) Oito (66,7%) entrevistados alegaram haver alimento, bebida ou medicamento que deve ser evitado enquanto estiver fazendo uso dos hipoglicemiantes. Esse resultado foi elevado levando em consideração estudo realizado por Fröhlich et al. (2010) onde 27,5% sabiam (Tabela 3). Apenas um (8,3%) paciente alegou saber que o medicamento pode vir a causar um efeito desagradável, e que já apresentou um efeito colateral ao usar o medicamento. Oito (66,7%) afirmaram desconhecer que os medicamentos podem causar efeitos adversos (Tabela 3). O resultado do presente trabalho sugere que os pacientes têm pouca informação sobre as reações adversas que os medicamentos podem lhes causar, haja vista que estudos como o de Moreira et al. (2008), 15,4% dos entrevistados citaram corretamente alguma reação adversa para todos os medicamentos 8 que utilizavam, e outros estudos encontrados na literatura, que relatam acertos entre 37% e 61,1% para a pergunta semelhante (Ceccato et al., 2004; Roche-Nagle et al., 2003; Dunning & Manias, 2005). Como mostrado na Tabela 3, 83% (n=10) dos pacientes relataram a necessidade de obterem mais informações a respeito da farmacoterapia utilizada, resultado semelhante ao estudo de Oenning (2011) onde 64% foram classificados com nível insuficiente de informação. Este dado aponta para a importância do farmacêutico no processo de atenção à saúde, para orientar o paciente sobre o uso correto do medicamento, de maneira a resolver ou a controlar o problema de saúde do paciente e a evitar problemas relacionados ao uso incorreto. A falta de informações ou a não compreensão das informações transmitidas pelos profissionais da saúde aos pacientes podem trazer consequências como: não adesão ao tratamento, com o consequente insucesso terapêutico; retardo na administração do medicamento, agravando o quadro clínico do paciente; aumento da incidência de efeitos adversos, por inadequado esquema de administração e/ou duração do tratamento; dificuldades na diferenciação entre manifestações da doença e efeitos adversos da terapêutica; podendo piorar o estado de saúde do paciente (Lage et al., 2005, Silva et al., 2000). Para calcular o percentual das questões que compõem o item 12 do questionário, utilizamos apenas os 10 pacientes que alegaram necessitar de informações no item 11, diferenciando das questões anteriores onde o 100% eram amostra de 12 pessoas. Por tanto nove (90%) pacientes destacaram necessitar de informação sobre quanto tempo será preciso utilizar a farmacoterapia prescrita. Oito (80%) relataram necessidade de saber sobre as possíveis reações desagradáveis dos seus medicamentos. E todos desejaram saber se havia algum outro medicamento contra-indicado durante o uso dos hipoglicemiantes. Esse resultado demonstra a insuficiência de informações transferidas pelo prescritor. No entanto, vale salientar que esta é uma atribuição do farmacêutico preconizado pela RDC nº44/2009, o usuário tem direito à informação e orientação (condições de conservação e cuidados na recepção do produto, interações alimentares e medicamentosas, modo de usar, posologia, duração do tratamento, via de administração e, quando for o caso, os efeitos adversos, bem como outras informações consideradas necessárias para à garantia da efetividade do medicamento dispensado), quanto ao uso de medicamentos o profissional capacitado para tanto é o farmacêutico (BRASIL, 2009). Em contrapartida, o presente estudo apresentou algumas limitações importantes que merecem ser destacadas: reduzido tamanho amostral, ausência de grupo controle. Além disso, a análise realizada no presente estudo foi na linha de base do serviço de atenfar, ocasião em que ainda não se havia estabelecido a relação terapêutica farmacêuticopaciente e, por consequência, pode ter havido omissão dos pacientes em algumas respostas. Tabela 3 – Resultados do nível de conhecimento da prescrição de hipoglicemiantes e necessidade de mais informação por parte dos usuários estudados (n=12), Dezembro de 2014 à Janeiro de 2015. QUESTÕES Não n (%) Sim n (%) Não Sabe n (%) 9 8- Há algum outro medicamento ou alimento ou bebida que você deve evitar enquanto estiver fazendo uso do medicamento? 2 (16,7) 8 (66,7) 2 (16,7) 9- Esse remédio pode lhe causar reações desagradáveis? 8 (66,7) 1 (8,3) 3 (25) 10- Você já apresentou alguma(s) dessa(s) reação(ões)? 11 (91,7) 1 (8,3) 0 ▬ 11- Você necessita de mais informações para tomar o seu medicamento? 2 (16,7) 10 (83,3) 12- Quais dessas informações você necessita? 12.1 – Como tomar o medicamento. 8 (80) 2 (20) 12.2 – Por quanto tempo preciso tomar o medicamento. 1 (10) 9 (90) ▬ 12.3 – Se o medicamento pode causar alguma reação desagradável. 2 (20) 8 (80) ▬ 12.4 – Se há algum outro medicamento que não posso tomar enquanto estiver tomando este. 0 10 (100) ▬ ▬ CONCLUSÃO O presente estudo demonstrou importantes deficiências sobre o conhecimento dos pacientes relacionadas ao uso dos seus medicamentos. Tais deficiências podem implicar em prejuízos à saúde dos mesmos e sugerem a necessidade de um acompanhamento farmacoterapêutico especializado no processo de capacitação dos pacientes, em especial, dos portadores de doenças crônicas que fazem uso contínuo e em grande variedade de medicamentos. Estudo futuros com maior número amostral e que pesquisem intervenções educativas em saúde que possam sanar os problemas encontrados fazem-se necessários. 10 REFERÊNCIAS ALMEIDA, L.S. Mãe, cuidadora e trabalhadora: as múltiplas identidades de mães que trabalham. Rev Dep Psicol., UFF, 2007; 19(2):411-22. ARAÚJO, L.M.B.; BRITTO, M.M.S.; CRUZ, T.R.P. Tratamento do Diabetes Mellitus do Tipo 2: Novas Opções. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia. Vol.44 no.6 São Paulo Dezembro 2000. AZEVEDO, M.F.M.; FRANCELINO, E.V.; OLIVEIRA, N.M.S.F.; CARVALHO, M.M.; VASCONCELOS, A.S.; OLIVEIRA, N.F.; AZEVEDO, P.T. 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