A. Funções trigonométricas directas As funções seno, cosseno, tangente e cotangente são contı́nuas e periódicas nos respectivos domı́nios. Todas elas são funções não injectivas e, portanto, não possuem inversa. Seno Cosseno y = sen x Dsen = R D’sen = [−1, 1] y = cos x Dcos = R D’cos = [−1, 1] y=cosHxL y=senHxL -2 Π -Π Π 2Π -2 Π -Π Π 2Π Tangente Cotangente sen x y = tg x = cos x π Dtg = R\ 2 + kπ, k ∈ Z D’tg = R -2 Π -Π Π y = cotg x = cos x sen x Dcotg = R\{kπ, k ∈ Z} D’cotg = R 2Π -2 Π -Π Π 2Π B. Funções trigonométricas inversas Considerando restrições adequada das funções trigonométricas, obtemos funções contı́nuas e bijectivas definidas em intervalos. A injectividade será conseguida excluindo do domı́nio todos os pontos onde a função se repete. A sobrejectividade será obtida eliminando do conjunto de chegada todos os pontos que a função não assume. As inversas das restrições assim definidas serão também contı́nuas. B.1 Arco-seno Relativamente à função seno, convencionamos considerar a restrição bijectiva h π πi −→ [−1, 1] sen : − , 2 2 x 7−→ sen x . A sua inversa, que se designa por arco-seno – lê-se arco (cujo) seno – é a função h π πi arcsen : [−1, 1] −→ − , 2 2 y 7−→ arcsen y , h π πi cujo seno é igual onde arcsen y indica o único arco do intervalo − , 2 2 a y . Assim, h π πi x = arcsen y , y ∈ [−1, 1] ⇐⇒ y = sen x , x ∈ − , . 2 2 Π 2 -1 1 - Π 2 y = arcsen x, x ∈ [−1, 1], D’arcsen = − π2 , π2 Pelo facto de sen e arcsen serem inversas uma da outra, tem-se h π πi , arcsen (sen x) = x, ∀x ∈ − , 2 2 sen (arcsen y ) = y , ∀y ∈ [−1, 1]. No entanto, apesar de fazer sentido calcular arcsen (sen z), para z ∈ R\ − π2 , π2 , tem-se h π πi arcsen (sen z) 6= z , ∀z 6∈ − , , 2 2 uma vez que D’arcsen = − π2 , π2 . Exemplo π (a) arcsen 1 = , √ 2 π 2 = , arcsen 2 4 √ ! 3 π arcsen − =− . 2 3 h π πi π π π onde o , e − são os únicos arcos do intervalo − , 2 4 3 2 2 √ √ 2 3 seno é, respectivamente, igual a 1 , e− . 2 2 De facto, (b) Tem-se, por exemplo, sen (3π) = 0 e sen (8π) = 0, mas arcsen 0 = 0. h π πi Porque 0 é o único arco do intervalo − , onde o seno é igual a 0 . 2 2 B.2 Arco-cosseno Relativamente à função cosseno, convencionou-se considerar a restrição bijectiva cos : [0, π] −→ [−1, 1] x 7−→ cos x . A sua inversa, que se designa por arco-cosseno – lê-se arco (cujo) cosseno – é a função arccos : [−1, 1] −→ y 7−→ [0, π] arccos , onde arccos y indica o único arco do intervalo [0, π] cujo cosseno é igual a y. Assim, x = arccos y , y ∈ [−1, 1] ⇐⇒ y = cos x , x ∈ [0, π] . Π -1 1 y = arccos x, x ∈ [−1, 1], D’arccos = [0, π] Atendendo a que as funções cos e arccos são inversas uma da outra, tem-se arccos (cos x) = x , ∀x ∈ [0, π] , cos (arccos y ) = y , ∀y ∈ [−1, 1] . Por outro lado, uma vez que D’arccos = [0, π], tem-se arccos (cos z) 6= z , ∀z 6∈ [0, π] . Exemplo √ ! 2 3π (a) arccos 1 = 0 , arccos(−1) = π , arccos − = . 2 4 (b) arccos (cos 5π) = arccos(−1) = π!, √ 25π 2 π arccos cos = arccos = . 4 2 4 B.3 Arco-tangente Relativamente à função tangente, consideramos a restrição bijectiva i π πh −→ R tg : − , 2 2 x 7−→ tg x . A sua inversa, designada por arco-tangente – lê-se arco (cuja) tangente – é a função i π πh arctg : R −→ − , 2 2 y 7−→ arctg y , i π πh onde arctg y indica o único arco do intervalo − , cuja tangente é 2 2 igual a y . Assim, x = arctg y , com y ∈ R se e só se i π πh y = tg x , x ∈ − , . 2 2 Π 2 - Π 2 y = arctg x, x ∈ R, D’arctg = − π2 , π2 B.4 Arco-cotangente Relativamente à função co-tangente, consideramos a restrição bijectiva cotg : ]0, π[ x −→ 7−→ R cotg x, cuja inversa é a função arco-cotangente – lê-se arco (cuja) cotangente – definida por arccotg : R −→ ]0, π[ y 7−→ arccotg y , onde arccotg y indica o único arco do intervalo ]0, π[ cuja cotangente é igual a y . Assim, x = arccotg y , com y ∈ R se e só se y = cotg x , x ∈ ]0, π[ . Π Π 2 y = arccotg x, x ∈ R, D’arccotg = ]0, π[ C. Funções hiperbólicas directas directas Vamos agora introduzir as funções hiperbólicas, apresentar algumas das suas propriedades e esboçar os seus gráficos. São funções que resultam de combinações de exponenciais e possuem propriedades semelhantes, do ponto de vista formal, às das funções trigonométricas. e-x 1 ex -1 -x -e C.1 Seno hiperbólico O seno hiperbólico é a função sh : R −→ x 7−→ R e x − e −x . 2 Trata-se de uma função contı́nua, ı́mpar e estritamente crescente, logo injectiva. Possui um único zero, a origem. Além disso, lim sh x = +∞, lim sh x = −∞. x→+∞ x→−∞ y=shHxL y = sh x, x ∈ R, D’sh = R C.2 Cosseno hiperbólico O cosseno hiperbólico é a função ch : R −→ x 7−→ R e x + e −x . 2 Trata-se de uma função contı́nua e par. Logo, não é injectiva. Não possui zeros e atinge um mı́nimo na origem, com valor ch 0 = 1. Além disso, lim ch x = lim ch x = +∞. x→+∞ x→−∞ y=shHxL 1 y = sh x, x ∈ R, D’sh = R C.3 Tangente hiperbólica A tangente hiperbólica é a função definida por th : R −→ x 7−→ R sh x , ch x ou seja, por th x = e x − e −x , e x + e −x x ∈ R. Trata-se de uma função contı́nua, ı́mpar e estritamente crescente, logo injectiva. Possui um único zero, em 0. Além disso, lim x→+∞ 1 1 − 2x e x − e −x e 2x − 1 e th x = lim x = lim 2x = lim = 1. 1 x→+∞ e + e −x x→+∞ e + 1 x→+∞ 1 + 2x e O gráfico da th possui, portanto, uma assı́mptota horizontal de equação y = 1, para x → +∞. Da imparidade da th, existe outra assı́mptota horizontal de equação y = −1, para x → −∞. Tem-se ainda D’th = ] − 1, 1[ . y 1 x !1 y = th x, x ∈ R, D’th = ] − 1, 1[ C.4 Cotangente hiperbólica A cotangente hiperbólica é a função definida por coth : R\{0} x −→ 7−→ R ch x , sh x ou seja, por coth x = e x + e −x , e x − e −x x ∈ R\{0}. Trata-se de uma função contı́nua, ı́mpar e sem zeros. Apesar de não ser monótona, é estritamente decrescente para x > 0, onde toma valores positivos, e para x < 0, onde toma valores negativos. Logo é injectiva. Da definição sai que lim coth x = +∞ , x→0+ lim x→+∞ coth x = 1. O gráfico da coth possui, portanto, uma assı́mptota horizontal de equação y = 1, para x → +∞, e uma assı́mptota vertical de equação x = 0. Da imparidade da coth , existe outra assı́mptota horizontal de equação y = −1, para x → −∞. Tem-se ainda D’coth = R\[−1, 1] . y 1 x !1 y = coth x, x ∈ R\{0}, D’coth = R\[−1, 1] C.5 Algumas propriedades Com manipulações algébricas simples, é fácil verificar que estas funções hiperbólicas verificam as seguintes propriedades: (i) ch2 x − sh2 x = 1 , ∀x ∈ R; (ii) ch x + sh x = e x , ∀x ∈ R; (iii) sh(−x) = − sh x , (iv) ch(−x) = ch x , (v) th2 x + ∀x ∈ R; ∀x ∈ R; 1 =1, ch2 x (vi) coth2 x − 1 =1, sh2 x ∀x ∈ R; ∀x ∈ R\{0}; (vii) sh(x + y ) = sh x ch y + ch x sh y , (viii) ch(x + y ) = ch x ch y + sh x sh y , ∀x, y ∈ R; ∀x, y ∈ R; Demonstração (i) Seja x ∈ R, qualquer. Então x 2 x 2 e + e −x e − e −x 2 2 ch x − sh x = − 2 2 = 1 2x e + 2 + e −2x − e 2x + 2 − e −2x = 1. 4 (viii) Sejam x, y ∈ R, quaisquer. Então ch x ch y + sh x sh y = = e x +e −x 2 · e x+y +e x−y +e −x+y +e −x−y 4 = e x+y +e −x−y 2 e y +e −y 2 + + e x −e −x 2 · e y −e −y 2 e x+y −e x−y −e −x+y +e −x−y 4 = ch(x + y ). As restantes alı́neas demonstram-se de maneira semelhante. D. Funções hiperbólicas inversas Vamos agora definir as funções hiperbólicas inversas. Como vimos na subsecção C, as funções sh, th e coth são injectivas, enquanto que a função ch não é injectiva e, portanto, não será invertı́vel. Para esta última, iremos considerar uma restrição apropriada. D.1 Argumento do seno hiperbólico A função sh é contı́nua, bijectiva e possui inversa contı́nua. Trata-se da função argumento do seno hiperbólico, que se define por argsh : R y −→ 7−→ R argsh y , onde x = argsh y , y ∈ R ⇐⇒ y = sh x , x ∈ R. Mas, para x ∈ R , tem-se y = sh x ⇐⇒ ⇐⇒ e x − e −x 2 e 2x − 1 ⇐⇒ e 2x − 2ye x − 1 = 0. y= 2e x y= A última condição em (1) traduz uma equação do segundo grau na incógnita e x . Tratando-a com a fórmula resolvente, sai p ex = y ± y 2 + 1 , sendo a solução com o sinal + a única admissı́vel, uma vez que p e x > 0 , ∀x ∈ R e y − y 2 + 1 < 0 , ∀y ∈ R. Mas ex = y + donde p p y 2 + 1 ⇐⇒ x = log y + y 2 + 1 , p argsh y = log y + y 2 + 1 , ∀y ∈ R. Assim, a função argsh fica completamente definida. (1) D.2 Argumento do cosseno hiperbólico A função ch não é injectiva, logo, não é invertı́vel. Como tal, definiremos a inversa da seguinte restrição bijectiva e contı́nua ch : [0, +∞[ x −→ 7−→ [1, +∞[ ch x, que se designa por argumento do cosseno hiperbólico e que é também uma função contı́nua. Representa-se por argch : [1, +∞[ y −→ 7−→ [0, +∞[ argch y , onde x = argch y , y ∈ [1, +∞[ ⇐⇒ y = ch x , x ∈ [0, +∞[ . Mas, para x ≥ 0 , tem-se y = ch x ⇐⇒ ⇐⇒ e x + e −x 2 e 2x + 1 y= ⇐⇒ e 2x − 2ye x + 1 = 0. 2e x y= (2) A última igualdade de traduz uma equação do segundo grau em e x , donde p ex = y ± y 2 − 1 . Como x ≥ 0 =⇒ e x ≥ 1, a solução com o sinal + é a única admissı́vel (a solução com o sinal − corresponderia à inversa da restrição do ch para x ≤ 0). Mas ex = y + p y 2 − 1 , x ≥ 0 , y ≥ 1 ⇐⇒ x = log donde argch y = log y+ p y2 − 1 p y + y 2 − 1 , x ≥ 0 , y ≥ 1, , y ∈ [1, +∞[ , ficando a função argumento do cosseno hiperbólico completamente definida. D.3 Argumento da tangente hiperbólica A função tangente-hiperbólica é injectiva mas não é sobrejectiva. Para poder inverter, basta considerar th : R x −→ 7−→ ] − 1, 1[ th, que é bijectiva e, portanto, é invertı́vel. Sendo contı́nua num intervalo, a sua inversa é contı́nua. Trata-se da função argumento da tangente hiperbólica, que se define por argth : ] − 1, 1[ y −→ 7−→ R argth y , onde x = argth y , y ∈ ] − 1, 1[ ⇐⇒ y = th x , x ∈ R. Para x ∈ R , y ∈ ] − 1, 1[ , tem-se y = th x ⇐⇒ y= e x − e −x e 2x − 1 ⇐⇒ y = 2x x −x e +e e +1 s ⇐⇒ e 2x (1 − y ) = 1 + y ⇐⇒ x = log donde s argth y = log 1+y 1−y 1+y 1−y ! , y ∈ ] − 1, 1[ , completando-se a definição do argumento da tangente hiperbólica. ! , D.4 Argumento da cotangente hiperbólica A função cotangente-hiperbólica é injectiva mas não é sobrejectiva. Consideremos então coth : R\{0} x −→ 7−→ R\ [−1, 1] coth que é bijectiva e, portanto, é invertı́vel. A sua inversa é contı́nua. Trata-se da funçãoargumento da cotangente hiperbólica, que se define por argcoth : R\ [−1, 1] −→ R\{0} y 7−→ argcoth y onde x = argcoth y , y ∈ R\ [−1, 1] ⇐⇒ y = coth x , x ∈ R\{0}. Para x ∈ R\{0} , y ∈ R\ [−1, 1] , tem-se s y = coth x ⇐⇒ x = log y +1 y −1 ! , pelo que s argcoth y = log y +1 y −1 ! , y ∈ R \ [−1, 1], ficando assim completa a definição da função argumento da cotangente hiperbólica.