`Brasil está sendo vítima de cassino internacional`

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'Brasil está sendo vítima de cassino internacional'
Heiner Flassbeck: economista-chefe da Unctad; Para o ex-secretário de Finanças da
Alemanha, a valorização do real resulta da especulação com os juros altos no País
Jamil Chade, GENEBRA
O real está sendo vítima de "um verdadeiro cassino internacional." O alerta é de Heiner
Flassbeck, ex-secretário de Estado do Ministério das Finanças da Alemanha e atual
economista-chefe da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento (Unctad). Segundo ele, a valorização da moeda brasileira está sendo
resultado não apenas dos bons fundamentos da economia do País, mas, principalmente,
da entrada de capital externo em busca de ganhos com a taxa de juros. "Essa situação
não é sustentável para as exportações brasileiras no médio prazo", alertou Flassbeck. O
problema, segundo ele, é que os investidores estão tomando dinheiro emprestado no
Japão, a custo próximo de zero, e o levam para o Brasil para aproveitar a alta taxa de
juros. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.
Como o sr. vê a turbulência internacional atingindo o real?
O que vem ocorrendo é que investidores estão usando o mercado brasileiro e o real para
ganhar milhões. Obviamente que o governo diz que a valorização do real é causada por
uma situação econômica estável e, em parte, isso até pode ser verdade. Mas o problema
é outro e nenhum governo gosta de admitir isso. A realidade é que há um verdadeiro
cassino internacional acontecendo e o Brasil está sendo uma de suas vítimas.
De que forma o Brasil está sendo vítima?
Investidores, temendo a fraqueza do dólar, estão buscando não apenas as commodities
para obter lucros, mas também moedas de países com certa estabilidade, mas ainda com
taxas de juros altas. O Brasil está exatamente nesse caso e trata-se de um fenômeno que
já vem ocorrendo há alguns meses e se intensificando. Um investidor ou um fundo toma
dinheiro emprestado no Japão com taxas muito baixas e até próximo de zero e leva para
investir no Brasil, com juros bem maiores.
Quais são os impactos disso?
Os ganhos são certos para esse investidor, mas não necessariamente para a economia
do País. A entrada de dólares pressiona o real. Se a crise internacional continuar afetando
o dólar, esse fenômeno vai continuar afetando o Brasil e não é impossível que o País se
encontre em uma situação parecida com a dos anos 90, quando a moeda estava
supervalorizada.
O sr. acredita em perdas para as exportações nacionais?
Essa situação não é sustentável para as exportações brasileiras no médio prazo.
A crise de hoje surgiu nos países ricos. Qual está sendo o papel dos mercados
emergentes?
As reservas acumuladas nos países emergentes estão, na prática, financiando os
desequilíbrios nas contas das economias ricas. Esse fluxo já vem ocorrendo há dois ou
três anos, principalmente na China e com a renda do petróleo. Mas agora se fortaleceu.
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