Editorial Telemedicina: uma revolução tecnológica* Alessandro Wasum MarianiI, Paulo Manuel Pêgo-FernandesII Instituto do Coração (InCor), Hospital das Clínicas (HC), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Telemedicina ou telessaúde representam termos que englobam o uso da tecnologia de comunicação para fins de atenção à saúde, seja na disseminação do conhecimento, seja no atendimento ao paciente, na consultoria remota por um especialista etc. Com aproximadamente 40 anos de evolução esse segmento da medicina, já não tão novo assim, ainda é recebido com desconfiança por muitos profissionais. Todavia, seu crescimento é inequívoco e sustentado. Iniciativas e programas baseados em telemedicina são cada vez mais presentes na prática moderna da medicina. Os Estados Unidos representam não somente o berço da telemedicina, mas também o país onde sua prática está firmemente consolidada. Alguns exemplos de sua aplicação na medicina norte-americana incluem: monitorização remota de sinais vitais; transmissão de imagens para interpretação e confecção de laudos de exames radiológicos, anatomopatológicos, cardiológicos, entre outros; consultas de pacientes via teleconferência; educação médica continuada, portais de informação voltados ao paciente; aplicativos para dispositivos sem fio com informações médicas de consulta rápida; assessoria a distância por médico especialista ao médico generalista em contato com o paciente; coleta de dados para pesquisa clínica; entre muitas outras. A American Telemedicine Association é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 1993, que visa o desenvolvimento e a organização da telemedicina em território norte-americano, e aponta os seguintes benefícios:1 1. A facilidade de acesso: o uso da telemedicina permite que informações médicas de alto valor possam chegar e sair, mesmo de áreas remotas, sem a necessidade de deslocamento do paciente ou da equipe profissional; 2. Redução de custos: além da redução da necessidade de deslocamento e da redução do tempo do internação intra-hospitalar, a maior eficiência atingida no tratamento ocasiona melhor emprego dos recursos com menor desperdício; 3. Maior comodidade ao paciente: a redução da necessidade de deslocamento e a pronta reação da equipe médica ao aparecimento de alguma alteração geram maior satisfação ao paciente e seus familiares. Uma boa perspectiva do crescimento dessa área pode ser observada pela busca dos termos telemedicine e telehealth na base de dados PubMed, que retorna com 14.748 itens, sendo o primeiro datado de 1974. Nota-se que o número de publicações anuais com o tema permaneceu baixo até a década de 90, quando essa taxa disparou de poucos para centenas de trabalhos. Essa tendência de aumento permaneceu nos anos 2000, atingindo pico em 2011, totalizando 1.224 publicações indexadas. Vários estudos comprovam os bons resultados do emprego da telemedicina em suas diversas vertentes. Weaver e Murdock, em 2012, demonstraram o valor da telemedicina para a triagem primária de retinopatia associada à prematuridade. Em um trabalho avaliando um total de 582 exames, todos realizados de forma remota numa população de 137 neonatos prematuros, os autores encontraram diagnóstico de retinopatia em 13 infantes.2 Um sistema de telemedicina ligada a telefone móvel para monitorar arritmias cardíacas foi utilizado por Kirtava e cols. sendo publicado em 2012. Os autores estudaram 35 pacientes com arritmias e 7 voluntários saudáveis por meio de um dispositivo de telecardiologia, que se mostrou eficiente por diagnosticar alterações do ritmo cardíaco, não só em 3 pacientes, mas também surpreendendo com o diagnóstico de arritmia em 1 dos voluntários saudáveis. Esse estudo serviu para demonstrar a viabilidade e a eficiência da telemedicina na monitorização e diagnóstico precoce de arritmias em pacientes ambulatoriais.3 Dentre diversos trabalhos estudando a eficácia do emprego da tele-educação em medicina, Pereira e cols. publicaram recentemente uma experiência nacional bem sucedida. Os autores estudaram o programa de teleconferências do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas com outras instituições, nacionais e estrangeiras, no período entre setembro de 2009 e agosto de 2010. A avaliação demonstrou que a telemedicina foi ferramenta valiosa para a educação, pois promoveu o intercâmbio de conhecimentos, a troca de experiências, discussões e desenvolvimento de pesquisas na área.4 A propósito, no Brasil a telemedicina desenvolveu-se fortemente vinculada a educação médica a distância, sendo utilizada por muitos autores como um sinônimo para tele-educação em medicina. Diversas universidades brasileiras já possuem grupos dedicados a telemedicina vinculados a informática em saúde. Estas iniciativas são fundamentais para o desenvolvimento *Este artigo foi publicado na versão em inglês no periódico São Paulo Medical Journal/Evidence for Health Care, volume 130, edição número 5, de setembro e outubro de 2012. I MD. Cirurgião Torácico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, e doutor em medicina pela Disciplina de Cirurgia Torácica e Cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). II Professor associado da Disciplina de Cirurgia Torácica, Instituto do Coração (InCor), Hospital das Clínicas (HC), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diagn Tratamento. 2012;17(4):155-6. RDT_v17n4.indb 155 19/12/12 16:26 156 Telemedicina: uma revolução tecnológica* da medicina nacional, tanto para dentro de cada faculdade, mas também por disseminar conhecimento extramuros. O Programa RUTE (Rede Universitária de Telemedicina) é exemplo de como a telemedicina pode aproximar centros de ensino de todo país diminuindo de forma significativa as desigualdades entres eles. De qualquer forma, outras vertentes da telemedicina começam a despontar no Brasil. Empresas de consultoria e de exames diagnósticos por esse método (por exemplo: eletrocardiografia e radiologia) já funcionam em território nacional. A monitorização remota de sinais vitais no Brasil é muito pouco utilizada, ainda com custo elevado. O uso para o atendimento direto de pacientes esbarra em falta de normativas técnicas e éticas. Uma importante iniciativa é o “Programa Telessaúde Brasil Redes” criado pelo Governo Federal. Iniciado em 2007, o projeto consiste na integração do ensino e serviço, por meio do uso de ferramentas de tecnologias da informação, promovendo a Teleassistência e a Teleducação.5 O programa visa alcançar os seguintes objetivos: 1. Melhoria da qualidade do atendimento na atenção básica no Sistema Único de Saúde (SUS); 2. Expressiva redução de custos e do tempo de deslocamentos; 3. Fixação dos profissionais de saúde nos locais de difícil acesso; 4. Melhor agilidade no atendimento prestado; 5. Otimização dos recursos dentro do sistema como um todo, beneficiando, dessa forma, aproximadamente 10 milhões de usuários do SUS. A telemedicina representa uma fronteira no cuidado a saúde, todavia, seu desenvolvimento e sua utilização pela grande maioria dos profissionais da saúde ainda está muito aquém do seu real potencial. Entretanto, essa evolução se acelera e esse segmento da atenção à saúde fará, inequivocamente, cada vez mais parte do nosso dia a dia profissional. Em editoriais futuros discutiremos um pouco mais das diversas vertentes da telemedicina. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Alessandro Wasum Mariani Rua João Moura, 690 — apto 121 Pinheiros — São Paulo (SP) CEP 05412-001 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 30 de julho de 2012 Data da última modificação: 8 de agosto de 2012 Data de aceitação: 20 de agosto de 2012 REFERÊNCIAS 1. About Telemedicine. American Telemedicine Association. Search for telemedicine and or telehealth. Disponível em: http://www.americantelemed. org/i4a/pages/index.cfm?pageID=3308. Acessado em 2012 (14 ago). 2. Weaver DT, Murdock TJ. Telemedicine detection of type 1 ROP in a distant neonatal intensive care unit. J AAPOS. 2012;16(3):229-33. 3. Kirtava Z, Gegenava T, Gegenava M, et al. Mobile telemonitoring for arrhythmias in outpatients in the republic of georgia: a brief report of a pilot study. Telemed J E Health. 2012;18(7):570-1. 4. Pereira BM, Calderan TR, Silva MT, et al. Initial experience at a university teaching hospital from using telemedicine to promote education through video conferencing. Sao Paulo Med J. 2012;130(1):32-6. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Programa. Telessaúde Brasil Redes. Disponível em: http://www.telessaudebrasil.org.br. Acessado em 2012 (14 ago). Diagn Tratamento. 2012;17(4):155-6. RDT_v17n4.indb 156 19/12/12 16:26 Artigo original Percepção dos estudantes de medicina do primeiro e sexto anos quanto à qualidade de vida Neide Regina Simões OlmoI, Luciana Freixo FerreiraI, Adelson Dantas PradoI, Lourdes Conceição MartinsII, Rogério Aparecido DedivitisII Disciplina de Iniciação Científica da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) INTRODUÇÃO O ensino nas faculdades de medicina demanda do aluno esforço e dedicação exclusiva em tempo integral, o que, por vezes, leva a um comprometimento do bem-estar físico e social desses estudantes.1 Esse comprometimento alberga, como causa principal, a pressão para aprender grande quantidade de informação; a falta de tempo; a opção por não participação de atividades sociais, e o enfrentamento das doenças dos pacientes e, por vezes, a morte deles.2 Esse fato está alterando, inclusive, a opção pela especialidade dos estudantes de medicina, influenciando na busca por carreiras que não sejam cirúrgicas, em razão da íntima relação dessa especialidade com o nível de estresse mais acentuado.3 A melhora da qualidade de vida dos estudantes de medicina e a redução dos níveis de estresse sofridos por eles contribuiriam para a formação de melhores profissionais, mais confiantes e criativos, o que sobremaneira traria reflexos no desenvolvimento do atendimento e relação médico-paciente.4 Verifica-se um comportamento frequente entre os estudantes de medicina — o perfeccionismo — como um dos fatores desencadeantes de depressão, transtorno obsessivo-compulsivo e suicídio. Em razão da associação entre insatisfação e estresse, os estudantes de medicina comprometem um de seus maiores objetivos profissionais: o ato de cuidar dos pacientes, uma vez que se tornam depressivos, usam drogas e sofrem problemas conjugais.5 Nesse contexto, uma preocupação voltada para a qualidade de vida dos estudantes de medicina deve ser contemplada por todas as faculdades. Qualidade de vida é definida pelo WHOQOL (World Health Organization Quality of Life) como sendo “a percepção individual da sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais eles vivem e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.6 I Com intuito de instrumentalizar sua preocupação com a qualidade de vida, o WHOQOL Group desenvolveu um questionário transcultural que demanda pouco tempo para seu preenchimento, mas com abordagem psicométrica — o WHOQOL-bref, como uma versão abreviada do WHOQOL-100, que é constituído de 100 questões para avaliação de qualidade de vida. OBJETIVO O objetivo deste estudo é comparar a percepção sobre a qualidade de vida individual/pessoal dos estudantes de medicina do primeiro e sexto anos. MÉTODOS O presente estudo foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, recebendo o número 049/11. Trata-se de estudo transversal, que foi realizado com os estudantes do primeiro e do sexto ano do curso de Medicina da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) no ano de 2011. Assim, o questionário utilizado foi o WHOQOL-bref versão abreviada do WHOQOL-100 que tem 26 questões, mas que mantém o caráter abrangente do instrumento original.6 O WHOQOL-bref tem quatro facetas ou domínios de pesquisa: domínio físico, psicológico, relacionamento social e meio ambiente e uma faceta geral referente a qualidade de vida e saúde (Quadro 1).7 Os questionários foram impressos e acompanhados dos termos de consentimento livre e esclarecido que cada estudante respondeu e preencheu. Foram distribuídos a todos os alunos do primeiro ano, após exposição em sala de aula, quanto ao conteúdo e importância do estudo. No sexto ano, os questionários foram distribuídos em ambulatório e hospital (Santa Casa de Misericórdia de Santos), em razão de os estudantes só serem encontrados nesses locais. Assim, foi utilizada lista de presença e fomos conferindo aqueles que já haviam Acadêmico do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Santos, São Paulo, Brasil. Professora, Universidade Católica de Santos, Santos, São Paulo, Brasil. Professor titular de Iniciação Científica da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos, (Unimes), Santos, São Paulo, Brasil. II III Diagn Tratamento. 2012;17(4):157-61. RDT_v17n4.indb 157 19/12/12 16:26 158 Percepção dos estudantes de medicina do primeiro e sexto anos quanto à qualidade de vida Quadro 1. Domínios e facetas do WHOQOL-bref (World Health Organization Quality of Life-bref)7 Domínio 1 - Domínio físico 1. Dor e desconforto 2. Energia e fadiga 3. Sono e repouso 9. Mobilidade 10. Atividades da vida cotidiana 11. Dependência de medicação ou de tratamentos 12. Capacidade de trabalho Domínio 2 - Domínio psicológico 4. Sentimentos positivos 5. Pensar, aprender, memória e concentração 6. Autoestima 7. Imagem corporal e aparência 8. Sentimentos negativos 24. Espiritualidade/religião/crenças pessoais Domínio 3 - Relações sociais 13. Relações pessoais 14. Suporte (apoio) social 15. Atividade sexual Domínio 4 - Meio ambiente 16. Segurança física e proteção 17. Ambiente no lar 18. Recursos financeiros 19. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade 20. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades 21. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer 22. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) 23. Transporte preenchido os questionários, a fim de que não houvesse duplicidade no preenchimento, já que os questionários do sexto ano foram passados em diversos momentos, em razão de os estudantes desse ano não se encontrarem todos no mesmo local. Os estudantes preenchiam os questionários e, em ato contínuo, eles eram recolhidos. A explicação sobre o preenchimento do questionário e sua importância foi realizada para cada um dos estudantes e, por vezes, para um grupo deles, dependendo de quantos estudantes eram encontrados no momento da distribuição dos questionários. Houve um total de 72 alunos do primeiro ano e 94 alunos do sexto, no ano de 2011, entre alunos matriculados, transferidos e repetentes. Os questionários foram passados ao sexto ano, pareando-se a amostra pelos que preencheram os questionários no primeiro ano, ou seja, somente 54 alunos do primeiro ano preencheram os questionários e, assim, somente foram passados 54 questionários aos alunos do sexto ano. Os questionários foram distribuídos e recolhidos no mês de maio de 2011. As respostas ao questionário obedeceram a intervalo de valores de um a cinco, com atribuição de escala que varia de: nada satisfeito, muito pouco satisfeito, mais ou menos satisfeito, bastante satisfeito, até extremamente satisfeito. Foi realizada a análise descritiva de todas as variáveis do estudo. As variáveis qualitativas foram apresentadas em termos de seus valores absolutos e relativos e variáveis quantitativas foram apresentadas em termos de seus valores de tendência central e de dispersão.8 Para verificar se há associação entre as variáveis qualitativa e grupo de estudo, foi utilizado o teste de qui-quadrado.9 Para as variáveis quantitativas que apresentaram distribuição normal (teste de Kolmogorov-Smirnov) e variâncias homogêneas (teste de Levene), foi utilizado o teste t, caso contrário, foi utilizado o teste U de Mann-Whitney (questões 1 e 2).8,9 O nível de significância foi de 5%. O pacote estatístico utilizado foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) 17.0 para Windows. RESULTADOS Dos 54 questionários preenchidos pelos alunos do primeiro ano, foram excluídos somente 2 por não estarem totalmente preenchidos, inviabilizando a sua utilização. Dos 54 Diagn Tratamento. 2012;17(4):157-61. RDT_v17n4.indb 158 19/12/12 16:26 160 Percepção dos estudantes de medicina do primeiro e sexto anos quanto à qualidade de vida auxílio mútuo e a formação de equipes de trabalho, bem como destacando a importância e o poder da ética nessas relações.4 A existência de um espaço onde os estudantes possam descansar, com sofás e mesas de estudo, será de grande importância para aqueles que permanecem o dia inteiro nas dependências da faculdade. A adequação da biblioteca da faculdade para que haja a quantidade de livros suficiente para atender a demanda dos estudantes, bem como espaço para realização de trabalhos em grupo, estudos individuais e em grupo, com ambientes abertos e fechados, seria de grande valia para os estudantes, com o intuito de que não tenham que se locomover e dispender tempo e gasto de energia, o que fatalmente se reverte em mais estresse.6 A transformação de salas de aulas ociosas nesses ambientes quer seja de trabalho ou de lazer atenderia as necessidades dos estudantes, e contribuiria para melhoria de sua qualidade de vida enquanto ser humano que dispende mais de 10 horas diárias dentro das dependências da universidade. O aluno do primeiro ano adentra na universidade sedento não só de conhecimento, mas igualmente de relações sociais, buscando conhecer o seu colega ao lado. Essa busca e vontade perdem-se pelos anos do curso em razão do estresse, da competição, da quantidade de matérias e da busca pelo perfeccionismo2 e, mais especificamente, no sexto ano pela pressão psicológica exercida, talvez, também, pela escolha da especialidade e realização da residência médica.3 Esses fatos tornam o futuro médico um profissional individualista e que não sabe lidar com o seu semelhante, buscando ao longo dos anos seu isolamento.5 7. Fleck MP, Louzada S, Xavier M, et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref” [Application of the Portuguese version of the abbreviated instrument of quality life WHOQOL-bref]. Rev Saude Publica. 2000;34(2):178-83. 8. Callegari-Jacques SM. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre: Artmed; 2003. 9. Siegel S. Estatística não paramétrica. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil; 1981. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Neide Regina Simões Olmo Rua Victor de Lamare, 25 Santos (SP) CEP 11045-340 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum Data de entrada: 1o de abril de 2012 Data da última modificação: 4 de junho de 2012 Data de aceitação: 15 de junho de 2012 CONCLUSÕES Concluímos que as diferenças estatisticamente significantes encontradas nos domínios 2 (psicológico) e domínio 3 (relações sociais), devem-se ao fato de que os estudantes, quando ingressam na faculdade, possuem um entusiasmo que se perde ao longo dos anos e uma vontade e busca pelo conhecimento mútuo que se esvai com a rotina do dia a dia. REFERÊNCIAS 1. Lee J, Graham AV. Students’ perception of medical school stress and their evaluation of a wellness elective. Med Educ. 2001;35(7):652-9. 2. Enns MW, Cox BJ, Sareen J, Freeman P. 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Diagn Tratamento. 2012;17(4):157-61. RDT_v17n4.indb 160 19/12/12 16:26 Neide Regina Simões Olmo | Luciana Freixo Ferreira | Adelson Dantas Prado | Lourdes Conceição Martins | Rogério Aparecido Dedivitis 161 PALAVRAS-CHAVE: Estudantes de medicina. Qualidade de vida. Atitude frente à saúde. Educação de graduação em medicina. Estresse psicológico. RESUMO Contexto e objetivo: O ensino nas faculdades de medicina demanda do aluno esforço e dedicação exclusiva, o que leva a um comprometimento de seu bem-estar físico e social. A causa principal está na pressão para aprender uma grande quantidade de informação, falta de tempo, opção por não participação de atividades sociais e o enfrentamento das doenças dos pacientes e, por vezes, a morte deles. O objetivo é comparar a qualidade de vida de estudantes de medicina do primeiro e sexto anos. Tipo de estudo e local: Estudo observacional transversal realizado na Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), no ano de 2011. Métodos: Foi aplicado o WHOQOL-bref em 126 estudantes do primeiro e do sexto anos do curso de Medicina da Unimes. Resultados: Quanto ao domínio físico e meio ambiente, não houve diferença significativa entre o primeiro e o sexto anos, mas quanto ao psicológico e relações sociais, há diferença significativa (P < 0,05). Em relação ao estado civil, não evidenciamos diferença significativa e, quanto à idade, há diferença. Conclusão: As diferenças estatisticamente significantes, no domínio psicológico e nas relações sociais, são em razão do entusiasmo dos estudantes do primeiro ano e não mais presente nos estudantes do sexto ano. Diagn Tratamento. 2012;17(4):157-61. RDT_v17n4.indb 161 19/12/12 16:26 Lincoln Sakiara Miyasaka | Maria Alice Toledo Silva | Elizete de Souza Queiroz | Sérgio Baxter Andreoli 163 sentimentos negativos, autoestima, espiritualidade, religião, crenças pessoais, pensamento, aprendizado, memória, concentração, apresenta nível de 65,3, um pouco mais elevado apenas. O domínio 3 (relacionamento social) que avalia apoio social, relacionamentos e atividade sexual, tem um nível bom, 76,1. O domínio 4 (meio ambiente) que avalia recursos financeiros, liberdade, segurança, acessibilidade e qualidade da assistência à saúde e assistência social, ambiente doméstico, oportunidade de adquirir novas habilidades e informações, participação e oportunidade de recreação, lazer, ambiente físico (poluição, trânsito, ruído, clima), e transporte, apresentou o nível mais baixo, 53,5. As questões 12 (referente a finanças) e 25 (referente a transporte) foram as mais baixas. O resultado do WHOQOL está na Tabela 1. Nas perguntas abertas (Gráficos 1, 2 e 3) a participação foi reduzida. Houve muitas abstenções. No entanto, avaliando as respostas, notamos alguns pontos interessantes: RESULTADOS Notamos que, em um primeiro momento, o interesse e participação dos adolescentes foram reduzidos. Apenas 35 dos 60 escolhidos responderam aos questionários, sendo que a participação feminina foi maior do que a masculina (62% contra 38%). Observamos também que as duas primeiras questões que avaliam a percepção subjetiva geral da saúde e qualidade de vida foram boas, 18 (4-20), mas ao analisarmos as questões mais especificamente a pontuação decai consideravelmente. O domínio 1 (saúde física) envolve avaliação da atividade do dia a dia, dependência de medicamentos, energia, mobilidade, dor, desconforto, sono, descanso, capacidade de trabalho. Por serem jovens, e na sua grande maioria terem boa saúde física e não utilizarem medicamentos cronicamente como os adultos, esperávamos melhores níveis de qualidade de vida, no entanto, vemos níveis medianos: 59,2 (0-100). O domínio 2 (psicológico) que avalia questões de imagem corporal, aparência, Tabela 1. Resultado do WHOQOL-BREF (World Health Organization Quality of Life-BREF) aplicado nos adolescentes de Jordanópolis, São Paulo N Domínio 1. Físico 2. Psicológico 3. Relacionamento social 4. Meio ambiente 5. Qualidade de vida 6. Saúde em geral Válido 34 34 34 34 35 35 Média Nulo 1 1 1 1 0 0 59,2 (0-100) 65,3 (0-100) 76,1 (0-100) 53,5 (0-100) 18,2 (4-20) 18,4 (4-20) Erro padrão da média 2,0 2,4 3,0 2,5 0,8 0,9 Desvio padrão 11,8 13,8 17,4 14,7 4,6 5,2 Mínimo Máximo 32,1 41,7 33,3 18,7 12,5 6,2 82,1 91,7 100,0 81,2 25,0 25,0 não respondeu espaço para opinar psicólogo e ginecologista para o adolescente pessoa divertida e jovem na recepção mais respeito e educação mais rapidez precisa melhorar está bom 0 2 4 6 8 10 12 14 Gráfico 1. Questionário aberto ao adolescente: Como você gostaria que fosse o atendimento ao adolescente na UBS? Diagn Tratamento. 2012;17(4):162-6. RDT_v17n4.indb 163 19/12/12 16:26 164 Qualidade de vida de adolescentes do bairro de Jordanópolis em São Paulo Como gostaria que fosse o atendimento na UBS? Mais atenção e respeito pelo adolescente e, talvez, alguém dessa faixa etária na recepção, foi a sugestão de um deles. Quais assuntos você gostaria que fossem discutidos? Gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis e drogas, são os temas mais indicados, mas também foram levantados temas como família, relacionamentos, amizade e atualidades. O que gostaria de fazer na vida? Ir para a faculdade e trabalhar estão no topo da lista. DISCUSSÃO Um dos maiores desafios encontrados na comunidade assistida por nossa equipe do PSF diz respeito aos adolescentes. Com o objetivo de avaliarmos a qualidade de vida na percepção do adolescente, na revisão da literatura encontramos vários trabalhos publicados analisando a qualidade de vida de adolescentes com problemas crônicos de saúde como obesidade, diabetes, dor crônica e epilepsia.9-13 mas apenas um trabalho no Brasil envolvendo adolescentes aparentemente saudáveis nas escolas utilizando o WHOQOL-100.14 assuntos polêmicos não respondeu atualidades, rock, "anime", mangá violência saúde emprego drogas tudo família, amizade, convivência prevenção de doenças DST/aids gravidez na adolescência 0 2 4 6 8 10 12 14 Gráfico 2. Questionário aberto ao adolescente: Que tipo de assunto você gostaria que fosse discutido com os adolescentes? esporte moradia viajar casar e ter filhos não respondeu fazer faculdade trabalhar 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Gráfico 3. Questionário aberto ao adolescente: Quais as suas expectativas para a sua vida? Diagn Tratamento. 2012;17(4):162-6. RDT_v17n4.indb 164 19/12/12 16:26 Lincoln Sakiara Miyasaka | Maria Alice Toledo Silva | Elizete de Souza Queiroz | Sérgio Baxter Andreoli Utilizamos o instrumento WHOQOL-BREF, que é uma versão simplificada. Esse questionário, amplamente utilizado em todo o mundo para adultos, foi utilizado para adolescentes devido à não existência de outro instrumento validado para essa faixa etária. Apesar de termos uma amostra pequena, que diminui o poder estatístico, os dados sugerem que as dificuldades socioeconômicas enfrentadas pelos adolescentes parecem ser os fatores que mais interferem na sua percepção da qualidade de vida. Seria muito importante a validação do WHOQOL para a faixa etária de adolescentes, e sua aplicação a uma amostra mais representativa. A realidade, na maioria das UBS atualmente, é de um local para atender gestantes, crianças e idosos. Nossa sugestão é que tenhamos um olhar também para o adolescente. Poderíamos criar um espaço voltado para o adolescente, com recepcionista dessa faixa etária, murais com design jovem com cartazes convidando para cursos e debates sobre os temas de interesse (gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmitidas, drogas, família, relacionamentos, oportunidades de estudo e trabalho), buscar parcerias junto a entidades como organizações não governamentais, igrejas, associações de bairro, empresas, laboratórios e outros, que poderiam desenvolver atividades esportivas, musicais, culturais, educativas e oportunidades de qualificação profissional. Pensamos que um pequeno incentivo da sociedade nessa fase decisiva da vida pode ter impacto positivo não só na qualidade de vida, mas também na morbidade e mortalidade. CONCLUSÃO A qualidade de vida (na percepção) do adolescente da área 1 de Jordanópolis medida pelo WHOQOL está boa, 18,2 (4-20), assim como a saúde em geral, 18,4 (4-20), no entanto, está apenas mediana no domínio 4, que diz respeito ao meio ambiente (recursos financeiros, liberdade, segurança, acessibilidade e qualidade da assistência à saúde e assistência social, ambiente doméstico, oportunidade de adquirir novas habilidades e informações, participação e oportunidade de recreação, lazer, ambiente físico, poluição, trânsito, ruído, clima, e transporte), 53,5 (0-100). O adolescente se preocupa com temas como gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, drogas, família, relacionamentos, amizade e atualidades. E, no futuro, gostaria de ir para faculdade e trabalhar. 165 4. Development of the World Health Organization WHOQOL-BREF quality of life assessment. The WHOQOL Group. Psychol Med. 1998;28(3):551-8. 5. Fleck MPA, Leal OF, Louzada S, et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100) [Development of the portuguese version of the OMS evaluation instrument of quality of life]. Rev Bras Psiquiatr. 1999;21(1):19-28. 6. Fleck MP, Louzada S, Xavier M, et al. Aplicação da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da organização mundial da saúde (WHOQOL-100) [Application of the Portuguese version of the instrument for the assessment of the quality of life of the World Health Organization (WHOQOL-100)]. Rev Saude Publica. 1999;33(2):198-205. 7. Fleck MPA, Leal OF, Louzada S, et al. Desenvolvimento e aplicação da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100). Revista HCPA 1999;19(1):9-24. Disponível em: http://www.hcpa.ufrgs.br/downloads/ RevistaCientifica/1999/1999_19_1.pdf. Acessado em 2012 (05 jun). 8. Fleck MP, Louzada S, Xavier M, et al. 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RESUMO Contexto e objetivo: Embora a adolescência seja uma faixa etária considerada relativamente saudável, no Brasil a mortalidade é bastante alta, indicando a violência a que os adolescentes estão expostos, como a sua principal causa de morte. O objetivo foi avaliar a qualidade de vida de adolescentes em Jordanópolis, suas preocupações e expectativas quanto ao futuro e para com a Unidade Básica de Saúde (UBS) local. Tipo de estudo e local: Estudo transversal descritivo realizado na área 1 da UBS de Jordanópolis na zona Sul de São Paulo entre adolescentes de 15-19 anos. Método: Utiliza o WHOQOL-BREF (World Health Organization Quality of Life-BREF) e um questionário aberto e analisa os dados por regressão logística, numa amostra de 35 adolescentes sorteados do total de 346 adolescentes da área. Resultados: A qualidade de vida na percepção do adolescente da área estudada resultou em 18,2 (4-20), a saúde em geral, 18,4 (4-20), domínio 1 (saúde física): 59,2 (0-100), domínio 2 (psicológico): 65,3(0-100), domínio 3 (relacionamento social): 76,1(0-100), domínio 4 (meio ambiente): 53,5 (0-100). Discussão: Apesar de a qualidade de vida na percepção do adolescente e sua saúde em geral ser boa, ao analisarmos cada domínio, notamos que o meio ambiente é o fator que mais está impactando negativamente o adolescente. Conclusão: A qualidade de vida na percepção do adolescente da área 1 de Jordanópolis está boa, 18,2 (4-20), assim como a saúde em geral, 18,4 (4-20), no entanto, está apenas mediana no domínio 4, que diz respeito ao meio ambiente: 53,5 (0-100). Diagn Tratamento. 2012;17(4):162-6. RDT_v17n4.indb 166 19/12/12 16:26 168 Evidências sobre diagnóstico e tratamento do acidente vascular encefálico no serviço de urgência Os métodos de imagem aceitos para a avaliação inicial são a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) de crânio.3 A TC sem contraste é o método mais amplamente utilizado por ter custo mais baixo, maior disponibilidade e menor tempo necessário para realização.3 Na hemorragia intracraniana, os dois métodos possuem sensibilidade semelhante para detecção de sangramento agudo, mas a RM possui maior sensibilidade para evidenciar hemorragias crônicas e definir a etiologia do sangramento.2 Dados adicionais com implicação no prognóstico como hidrocefalia, extensão para o sistema ventricular, edema perilesional e herniação podem ser avaliados pelos dois métodos.2 O uso de contraste na TC de crânio objetiva avaliar a presença de um foco de extravasamento, chamado “spot sign”. Sua presença implica em maior risco de expansão do hematoma.4 No AVE isquêmico (AVEI) a TC tem menor sensibilidade para detecção de lesões de fossa posterior e quadros agudos corticais ou subcorticais. A utilização de sequências na RM, como difusão e perfusão, permite visualizar melhor essas lesões não vistas pela TC e diagnosticar lesão isquêmica minutos após seu início.5 A diferença entre o volume cerebral com hipoperfusão (área que pode se recuperar após reperfusão) e o volume de tecido infartado (área sem recuperação após reperfusão) é chamada de “mismatch”. Novas sequências de RM ou TC podem detectar esse tecido neuronal viável, que tem proximidade com a área de penumbra isquêmica. Essa técnica tem aplicação no tratamento do AVEI ao acordar e é promissora para a extensão da janela terapêutica.3 Tratamento do AVEI Nas últimas décadas, ocorreu uma evolução impressionante no tratamento do AVEI. Em 1996, a terapia de recanalização avançou bastante quando o FDA (US Food and Drug Administration, órgão regulador norte-americano) aprovou o uso do trombolítico alteplase (ativador de plasminogênio tecidual humano recombinante, ou rtPA) intravenoso (IV) baseado principalmente nos resultados do estudo NINDS (National Institute of Neurological Disorders and Stroke) de 1995.6 Esse estudo demonstrou que o uso do rtPA (0,9 mg/kg IV até dose máxima de 90 mg; 10% da dose em bolus e o restante infundido em 60 minutos), dentro de três horas do início dos sintomas, melhora significativamente o desfecho funcional em três meses avaliado pela escala de Rankin modificada.6 Análise posterior de dados desse estudo demonstrou que o tratamento mais precoce dentro dessa janela terapêutica tem melhor prognóstico que o tratamento mais tardio.5 A trombólise com rtPa encontrou então um importante problema: a curta janela terapêutica de três horas que reservava o tratamento apenas a uma minoria dos pacientes. Buscando estendê-la, em 2008, o estudo ECASS-III (European Cooperative Acute Stroke Study III) demonstrou eficácia com segurança da extensão da janela para 4,5 horas em casos selecionados.8 Portanto, atualmente recomenda-se a trombólise IV para todos os pacientes que possuírem os critérios de elegibilidade (Quadro 1).5,9 Diversos estudos vêm mostrando segurança na trombólise em algumas situações fora dos critérios de elegibilidade, de forma que uma análise individualizada de cada caso pode ser realizada em centros de tratamento de AVE.10 A terapia trombolítica tem por objetivo imediato recanalizar o vaso sanguíneo, restaurando o fluxo sanguíneo cerebral. O uso da monitorização contínua com Doppler transcraniano durante a trombólise em pacientes com AVEI, decorrente de oclusão da artéria cerebral média, tem associação com uma maior taxa de recanalização e uma tendência não significativa a melhor recuperação num estudo multicêntrico fase II.11 A terapia endovascular é uma alternativa que pode ser utilizada para os pacientes que não possuírem critérios de elegibilidade, que não melhorarem após a trombólise IV ou que estiverem fora da janela terapêutica IV. A trombólise intra-arterial (IA) tem janela terapêutica de seis horas e apresenta taxa de recanalização de grandes vasos maior que a IV. A disponibilidade dessa terapia é restrita a alguns centros no Brasil e, mesmo quando disponível, no atendimento de um AVEI com critérios de elegibilidade, terapia IA não deve adiar ou substituir a terapia IV.12 O desenvolvimento de dispositivos para realização de trombectomia mecânica isolada ou associada à trombólise IA vem aumentando os índices de recanalização nos infartos decorrentes de oclusão de grandes vasos. A janela terapêutica para a utilização desses dispositivos é de oito horas após o início dos sintomas. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou a utilização dos dispositivos Penumbra e Solitaire, enquanto o FDA autorizou, além desses, o dispositivo Merci.13,14 O local preferencial para tratamento é nas unidades de AVE, uma vez que isso leva à redução da morbimortalidade. A pressão arterial (PA) deve ser mantida abaixo de 185 mmHg x 110 mmHg, antes e durante as primeiras 24 horas após a trombólise. Naqueles que não são candidatos à trombólise, somente está indicado o tratamento IV da hipertensão para níveis sistólicos superiores a 220 mmHg ou diastólicos superiores a 120 mmHg, respeitando-se possíveis contraindicações clínicas, como insuficiência cardíaca, dissecção de aorta etc. (Quadro 2). As drogas anti-hipertensivas por via oral devem ser evitadas de forma geral nas primeiras 24 horas do evento, mas poderão ser mantidas caso o julgamento clínico as considere importantes a depender das comorbidades de cada paciente.5,9 É importante sempre ressaltar que a intenção do tratamento neurológico agudo é a recuperação ou prevenção de incapacidade, mas ainda assim essa modalidade segue os princípios do ABC do programa ACLS (Advanced Cardiac Life Support), em que vias áreas, respiração e circulação são essenciais na manutenção da vida,5 logo, o paciente deve ser sempre visto como um todo e essas orientações adequadas caso a caso. Diagn Tratamento. 2012;17(4):167-72. RDT_v17n4.indb 168 19/12/12 16:26 170 Evidências sobre diagnóstico e tratamento do acidente vascular encefálico no serviço de urgência A presença de níveis pressóricos elevados é comum na apresentação inicial da hemorragia intracraniana e implica em pior prognóstico funcional.20 A diretriz atual sugere iniciar tratamento anti-hipertensivo somente se a PA sistólica estiver superior a 180 mmHg ou pressão arterial média (PAM) superior a 130 mmHg, tendo por objetivo uma PA de 160 mmHg x 90 mmHg ou PAM de 110 mmHg. Em acientes com hipertensão intracraniana, sugere-se a monitorização da pressão intracraniana e manejo pressórico para manter uma pressão de perfusão cerebral superior a 60 mmHg. As medicações disponíveis para uso intermitente ou contínuo intravenoso são: enalapril, esmolol, diltiazen e nitroprussiato de sódio (Quadro 2).2,21 Os resultados de dois estudos recentes demonstraram a segurança na redução intensiva e rápida dos níveis pressóricos para valores abaixo de 140 mmHg de PA sistólica, com aparente menor expansão do hematoma.22,23 A fase 3 desses estudos encontra-se em andamento e busca elucidar se esse tratamento mais agressivo implicará em melhor desfecho funcional. Até que os resultados estejam disponíveis, sugere-se tratar conforme a diretriz atual.24,25 O tratamento cirúrgico para drenagem do hematoma é um assunto bastante controverso. A evacuação do hematoma supratentorial por meio de craniotomia convencional pode ser considerada para hematomas lobares com volume superior a 30 mL e a menos de um centímetro do córtex, principalmente em pacientes jovens e com escala de coma de Glasgow entre 9 e 12. Na hemorragia cerebelar, deve-se realizar tratamento cirúrgico de urgência caso haja deterioração neurológica, compressão do tronco encefálico e/ou hidrocefalia não comunicante, independentemente do volume do hematoma.2,21,26 Diversas técnicas de cirurgia minimamente invasiva por meio de aspiração por endoscopia ou estereotaxia estão sendo desenvolvidas, mas ainda em fase experimental.27 A hemorragia intraventricular pode complicar com o desenvolvimento de hidrocefalia, que deve ser tratada por meio da colocação de uma derivação ventricular externa.2 A administração intraventricular do trombolítico rTPa é um método experimental aparentemente seguro, mas ainda encontra-se em investigação se essa medida implicará em melhor desfecho, de forma que não é recomendada.28 O AVEH secundário ao uso de anticoagulantes vem apresentando aumento na sua incidência.29 Naqueles em uso de anticoagulantes orais, recomenda-se a suspensão dessa medicação e correção do tempo de protrombina aferido por meio da razão de normatização internacional (INR) para valores menores que 1,4 o mais rápido possível. Deve-se utilizar o plasma fresco congelado (PFC) na dose de 10 mL/kg a 15 mL/kg ou o complexo protrombínico (CCP), associados à vitamina K IV. Estudos comparativos entre PFC e CCP não mostraram diferenças no desfecho final, apenas efeitos adversos mais comuns com PFC devido ao maior volume de Quadro 2. Manejo da pressão arterial no acidente vascular cerebral agudo Acidente vascular cerebral isquêmico Pacientes candidatos à trombólise endovenosa • Alvo terapêutico Manter PA < 185 x 110 mmHg antes e nas primeiras 24 horas Não iniciar rtPa se a PA estiver superior a estes níveis • Tratamento Somente se PAS > 185 ou PAD > 110 mmHg • Monitorização Antes da infusão monitorizar a cada 15 minutos Após o início da infusão monitorizar a cada 15 minutos nas primeiras 2 horas, em seguida A cada 30 minutos nas próximas 6 horas e a cada 60 minutos até completar 24 horas Pacientes não candidatos à trombólise endovenosa Tratar se PAS > 220 ou PAD > 120 mmHg, reduzindo cerca de 15% nas primeiras 24 horas Acidente vascular cerebral hemorrágico Tratar somente se PAS > 180 mmHg ou PAM > 110 mmHg Se presença de HIC, monitorizar a pressão intracraniana para manter PPC ≥ 60 mmHg Medicações disponíveis para uso IV Nitroprussiato de sódio (0,25 a 10 μg/kg/min) Enalapril (0,625 - 1,25 mg em 5 min a cada 6 hs) Esmolol (ataque de 0,5 mg/kg em 1 minuto. Infusão 0,05 - 0,2mg/kg/min) Diltiazen (0,25 - 0,35 mg/kg em 10 minutos. Infusão 5 - 15 mg/h) PA = pressão arterial; PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial diastólica; PAM = pressão arterial média; HIC = hipertensão intracraniana; IV = intravenoso; rtPA = ativador de plasminogênio tecidual humano recombinante; PPC = pressão de perfusão cerebral Diagn Tratamento. 2012;17(4):167-72. RDT_v17n4.indb 170 19/12/12 16:26 Marcelo Marinho de Figueiredo | Denis Bernardi Bichuetti | Aécio Flávio Teixeira Gois infusão. O fator VII ativado é capaz de rapidamente reverter o INR, mas não repõe todos os fatores da coagulação, não sendo assim rotineiramente recomendado.2,21 A ocorrência de crises epilépticas é comum nas primeiras duas semanas após o ictus, acometendo de 2,7% a 17% dos pacientes com AVEH. Naqueles com rebaixamento do nível de consciência até 28% apresentam crises subclínicas ou estado de mal epiléptico não convulsivo, dessa forma, recomenda-se o uso da monitorização eletroencefalográfica (EEG) contínua. Drogas antiepilépticas devem ser utilizadas em caso de crises epilépticas clínicas ou crises eletrográficas observadas através da eletroencefalografia em pacientes com rebaixamento do nível de consciência.2,30 Não se deve utilizar anticonvulsivante profilático em virtude de estar relacionado a maior mortalidade e incapacidade.31 O risco de TVP é elevado nos pacientes com AVEH. Sendo assim, recomenda-se o uso dos dispositivos de compressão pneumática desde o início da internação. A heparina de baixo peso molecular ou heparina não fracionada em dose profilática deve ser iniciada em um a quatro dias após o evento. O uso de meias de compressão elástica de forma isolada não tem eficácia.2,32 A presença de hiperglicemia na admissão dos pacientes com AVEH tem relação com pior desfecho funcional e mortalidade. Dessa forma, devem-se manter níveis glicêmicos abaixo de 180 mg/dL e evitar a hipoglicemia, que também correlaciona-se com maior mortalidade.2,15 A temperatura corporal deve ser mantida em níveis normais.21 CONCLUSÃO A avaliação por imagem com a TC ou RM é uma ferramenta importante não só para o diagnóstico como também para elucidar os mecanismos da isquemia ou hemorragia intracraniana. Os avanços nas modalidades de imagem devem oferecer novas perspectivas para o manejo terapêutico. A trombólise endovenosa continua sendo o único tratamento específico para reduzir a incapacidade gerada pelo AVEI. Entretanto, a janela terapêutica permanece curta e a maioria dos pacientes não recebe esse tratamento. Estudos em andamento tentam melhorar essa modalidade terapêutica. O AVEH se mantém como doença devastadora e, dessa forma, vários alvos terapêuticos são buscados. Estudos prévios com fator VII ativado com resultado final negativo mostram que a possível janela terapêutica também deve ser curta como no AVEI, limitando a inclusão de doentes. Atualmente, não existe terapia específica para o AVEH. Encontra-se em andamento estudos em grupos mais restritos de pacientes com AVEH, buscando a introdução futura de terapia específica para essa grave entidade. O tratamento em unidades de terapia intensiva neurológica e unidades de AVE leva a um melhor desfecho clínico, sendo recomendado a todos os pacientes. O Brasil atualmente possui quantidade limitada dessas unidades, mas aumento em seu número é realidade que deve ocorrer nos próximos anos. 171 REFERÊNCIAS 1. Barreto AD. Intravenous thrombolytics for ischemic stroke. Neurotherapeutics. 2011;8(3):388-99. 2. Broderick J, Connolly S, Feldmann E, et al. 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A investigação no setor de emergência busca confirmar seu diagnóstico, iniciando rapidamente as medidas terapêuticas imediatas para reduzir o dano neurológico, possivelmente revertê-lo, e tentar evitar sua recorrência precoce. O seu manejo leva a difíceis decisões terapêuticas para os neurologistas. A utilização de métodos por imagem é imprescindível nos dias atuais e vem evoluindo para dar maior precisão ao seu diagnóstico na fase hiperaguda, como também elucidar sua etiologia posteriormente. A trombólise endovenosa no acidente vascular cerebral isquêmico tem por objetivo recanalizar o vaso ocluído e reperfundir a área cerebral que pode ser salva, sendo esse tratamento aprovado e recomendado pela Academia Brasileira de Neurologia, Academia Americana de Neurologia e Sociedade Europeia de Neurologia. Apesar de não existir terapia específica aprovada para o acidente vascular cerebral hemorrágico, existem muitas medidas clínicas e cirúrgicas que podem ser implementadas no tratamento dessa doença. Diagn Tratamento. 2012;17(4):167-72. RDT_v17n4.indb 172 19/12/12 16:26 Dermatologia Hanseníase: diagnóstico e tratamento Joel Carlos LastóriaI, Marilda Aparecida Milanez Morgado de AbreuII Universidade Estadual Paulista, Botucatu, Hospital Regional e Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente INTRODUÇÃO Hanseníase é infecção granulomatosa crônica, causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. Apresenta alta contagiosidade e baixa morbidade.1,2 Em 2011, 228.474 casos foram detectados no mundo. O Brasil ocupa o segundo lugar em número absoluto de casos, atrás apenas da Índia. É o único país que não atingiu a meta de eliminação da doença como problema de saúde pública, definida pela prevalência menor que 1 caso/10.000 habitantes. Em 2011, 33.955 casos novos foram detectados, com coeficiente de prevalência de 1,54/10.000 habitantes.1,2 Acredita-se que a transmissão da hanseníase ocorra pelo contato íntimo e prolongado de indivíduo suscetível com paciente bacilífero, através da inalação de bacilos. A melhor forma de cessar a transmissão é o diagnóstico e tratamento precoce.3,4 OBJETIVO O objetivo deste estudo é fornecer ao profissional de saúde subsídios que facilitem o seu desempenho no diagnóstico e tratamento da hanseníase, visando eliminar fontes de infecção e evitar sequelas. MÉTODOS A pesquisa foi realizada com os termos “leprosy and diagnosis and treatment”; “Mycobacterium leprae”; “leprosy and government publications” no Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), via PubMed, Cochrane Library e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), tendo sido considerados os estudos mais relevantes. Também foi analisada a Portaria no 3.125, de 7/10/2010, do Ministério da Saúde, que aprova as diretrizes para vigilância, atenção e controle da hanseníase. RESULTADOS E DISCUSSÃO Diagnóstico clínico da hanseníase Classificação das formas clínicas A classificação de Madri baseia-se nas características clínicas e baciloscópicas, dividindo a hanseníase em dois grupos I instáveis, indeterminado e dimorfo, e dois tipos estáveis, tuberculoide e virchowiano polares.2,5-8 A classificação de Ridley & Jopling, empregada em pesquisas, utiliza o conceito espectral. Baseia-se em critérios clínicos, baciloscópicos, imunológicos e histopatológicos. Considera as formas polares tuberculoide-tuberculoide e virchowiana-virchowiana, e subdivide a dimorfa em dimorfa-tuberculoide, dimorfa-virchowiana (conforme maior proximidade a um dos pólos) e dimorfa-dimorfa.2,5-8 A Organização Mundial da Saúde, em 1982, para fins terapêuticos, classificou a hanseníase, conforme o índice baciloscópico, em paucibacilar (índice baciloscópico menor que 2+) e multibacilar (índice baciloscópico maior ou igual a 2+). Em 1988, estabeleceu critérios clínicos, considerando paucibacilares casos com até cinco lesões cutâneas e/ou um tronco nervoso acometido e multibacilares casos com mais de cinco lesões cutâneas e/ou mais de um tronco nervoso acometido. Onde o exame baciloscópico é disponível, pacientes com resultado positivo são considerados multibacilares, independentemente do número de lesões.2,5-9 Manifestações clínicas As manifestações clínicas da hanseníase dependem mais da resposta imunocelular do hospedeiro ao Mycobacterium leprae que da capacidade de multiplicação bacilar. São precedidas por período de incubação longo, entre 2 e 10 anos.2,5-8 O grupo indeterminado caracteriza-se por máculas hipocrômicas apresentando ligeira diminuição da sensibilidade, sem espessamento neural (Figura 1).2,5-8 Na forma tuberculoide, a doença é limitada pela boa resposta imunocelular do hospedeiro. As lesões cutâneas, isoladas e assimétricas, são placas eritêmato-hipocrômicas ou eritematosas, bem delimitadas, frequentemente com bordas externas elevadas e centro normal, apresentando alteração importante da sensibilidade (Figura 2). Podem apresentar alopecia e anidrose, pelo comprometimento dos anexos cutâneos, e espessamento de filete nervoso próximo. Alteração sensitiva, com ou sem espessamento neural evidente, é a única manifestação na forma neural pura.2,5-8 Na forma virchowiana, o Mycobacterium leprae multiplica-se e dissemina-se por via hematogênica, pela ausência de resposta Livre-docente, professor adjunto do Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (UNESP). Doutora, professora titular da Disciplina de Dermatologia da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) e chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Regional de Presidente Prudente/UNOESTE. II Diagn Tratamento. 2012;17(4):173-9. RDT_v17n4.indb 173 19/12/12 16:26 174 Hanseníase: diagnóstico e tratamento imunocelular do hospedeiro. As lesões cutâneas, múltiplas e simétricas, caracterizam-se por máculas hipocrômicas, eritematosas ou acastanhadas, com bordas mal definidas, geralmente sem anestesia (Figura 3). Não há espessamento neural, exceto na evolução da forma dimorfa. É comum edema dos membros inferiores. Com a progressão, formam-se nódulos (Figura 4) e a fácies leonina, com infiltração e queda dos supercílios (madarose). Pode ocorrer comprometimento das mucosas, olhos, testículos e ossos, além da perda dos dentes incisivos centrais superiores, perfuração do septo nasal e manifestações viscerais.2,5-8 O grupo dimorfo apresenta manifestações diversas, pelas diferentes respostas imunocelulares do hospedeiro ao Mycobacterium leprae. As lesões cutâneas dos dimorfo-tuberculoides lembram as dos tuberculoides, porém são mais numerosas e menores; o espessamento dos nervos tende a ser irregular, não tão intenso, contudo mais numeroso. As lesões cutâneas dos dimorfo-dimorfos mostram características entre as formas tuberculoide e virchowiana, Figura 1. Hanseníase indeterminada: máculas hipocrômicas, mal delimitadas, no dorso. Figura 3. Hanseníase virchowiana: manchas eritêmatoacastanhadas, mal delimitadas, no dorso. Figura 2. Hanseníase tuberculoide: lesão anular na perna. Figura 4. Hanseníase virchowiana: ressecamento da pele e hansenomas nas pernas. Diagn Tratamento. 2012;17(4):173-9. RDT_v17n4.indb 174 19/12/12 16:26 Joel Carlos Lastória | Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu sendo pouco simétricas, e o acometimento nervoso é moderado; são sugestivas placas eritematosas, com bordas externas esmaecentes e internas bem definidas com centro oval hipopigmentado (aspecto em fóvea) (Figura 5). As lesões cutâneas dos dimorfo-virchowianos lembram as dos virchowianos, tendendo a ser numerosas, não tão simétricas e com áreas anestésicas.2,5-8 Avaliação neurológica periférica Devido à destruição das terminações nervosas livres, a sensibilidade altera-se nas lesões, primeiramente a térmica, seguida da dolorosa e tátil. A prova da histamina mostra ausência do eritema reflexo e a da pilocarpina não induz à sudorese na lesão. Os nervos devem ser palpados, pesquisando-se dor, espessamento e aderência aos planos adjacentes. Os mais frequentemente comprometidos são: radial, ulnar, mediano, fibular comum, tibial posterior, grande auricular, facial e trigêmio.2,5-8 175 Surgem nódulos inflamatórios subcutâneos simétricos (Figura 7), em qualquer região, às vezes com necrose por obliteração vascular (eritema nodoso necrótico), e sintomas gerais, como febre, mal-estar, mialgias, edema e artralgias, podendo ocorrer comprometimento hepatorrenal.2,5-8,10,11 Diagnóstico laboratorial da hanseníase Nenhum exame laboratorial é suficiente para diagnosticar ou classificar a hanseníase. Ultrassonografia e ressonância magnética auxiliam no diagnóstico da forma neural pura e neurite.12 Eletroneuromiografia é útil no acompanhamento das reações.13 Intradermorreação de Mitsuda, baciloscopia e histopatologia, geralmente, permitem diagnosticar e classificar a forma clínica. Sorologia, inoculação, reação de imunoistoquímica e reação em cadeia da polimerase (PCR) são técnicas utilizadas principalmente em pesquisas. Estados reacionais Reações hansênicas resultam de alterações agudas no balanço imunológico entre hospedeiro e Mycobacterium leprae. Afetam, principalmente, pele e nervos, sendo causa de morbidade e incapacidade. Ocorrem no curso da doença e durante ou após tratamento. Classificam-se em dois tipos: tipo 1 e tipo 2.2,5-8,10 Reação tipo 1 ocorre em dimorfos. Relaciona-se à resposta imunocelular, para melhora (reação reversa) ou piora (reação de degradação). As lesões tornam-se hiperestésicas, eritêmato-edematosas, descamam e, às vezes, ulceram (Figura 6). Geralmente, há edema das extremidades e neurite, com mínimas manifestações sistêmicas nos indivíduos próximos ao pólo tuberculoide, mas importantes nos próximos ao pólo virchowiano.2,5-8,10 Reação tipo 2 (eritema nodoso hansênico) relaciona-se à imunidade humoral a antígenos bacilares, com deposição de imunocomplexos nos tecidos. Aparece subitamente, especialmente durante o tratamento, nos virchowianos e dimorfo-virchowianos. Figura 5. Hanseníase dimorfa: lesão com bordas externas esmaecentes e internas bem definidas no dorso da mão. Figura 6. Reação tipo 1: placas eritêmato-edematosas e descamativas no tronco. Diagn Tratamento. 2012;17(4):173-9. RDT_v17n4.indb 175 19/12/12 16:27 176 Hanseníase: diagnóstico e tratamento Intradermorreação Na intradermorreação de Mitsuda, injeta-se na derme o antígeno lepromina. O surgimento de pápula igual ou maior que 5 mm, após quatro semanas, indica positividade. Expressa o grau de imunidade celular, auxiliando na classificação da forma clínica, entretanto, não faz diagnóstico. É positiva nos pacientes tuberculoides, em que há boa resposta imunocelular, negativa nos virchowianos, nos quais essa resposta é deficiente, e mostra graus variáveis de positividade nos dimorfos.14 Baciloscopia A baciloscopia de raspado dérmico de lesão, lóbulos das orelhas e cotovelos, pelo método de Ziehl-Neelsen, avalia os índices baciloscópico e morfológico. Índice baciloscópico expressa o número de bacilos numa escala logarítmica entre 0 e 6+, sendo positiva nos multibacilares, auxiliando no diagnóstico; nos paucibacilares é frequentemente negativa. Índice morfológico (percentual de bacilos íntegros em relação ao total dos bacilos examinados) verifica viabilidade bacilar. Os íntegros (viáveis) apresentam-se totalmente corados em vermelho e aparecem nos casos sem tratamento ou recidivas. Os fragmentados apresentam pequenas falhas na parede e os granulosos, grandes falhas mostrando, respectivamente, fragmentos ou pontos corados em vermelho. São inviáveis e observados em pacientes tratados.15 Histopatologia O exame histopatológico é realizado pelas colorações de hematoxilina-eosina e Faraco-Fite, que evidencia bacilos álcool-ácido-resistentes. No grupo indeterminado, observa-se infiltrado inflamatório inespecífico, com predomínio de linfócitos, perianexial e perineural. Bacilos ausentes ou raros.16,17 A forma tuberculoide exibe granulomas tuberculoides, estendendo-se da derme profunda à camada basal, constituídos Figura 7. Eritema nodoso hansênico: nódulos inflamatórios de distribuição simétrica nos membros superiores. por células epitelioides e gigantes multinucleadas de Langhans, e rodeados por linfócitos. Frequentemente há fibras nervosas destruídas. Bacilos ausentes ou raros.16,17 A forma virchowiana evidencia granulomas histiocitários, com alteração lipídica formando células espumosas vacuolizadas (células de Virchow), ricas em bacilos, formando globias. Linfócitos são escassos. A epiderme está achatada e separada do infiltrado inflamatório por fibras colágenas (faixa de Unna).16,17 A distinção entre um subgrupo dimorfo de maior para outro de menor resistência baseia-se na indiferenciação progressiva dos macrófagos, diminuição do número de linfócitos e aumento do número de bacilos.16,17 Nas reações tipo 1, observa-se edema extracelular. Na reação reversa, os granulomas são organizados, com aumento do número de linfócitos, células epitelioides e gigantes. Há redução da carga bacilar e diminuição ou desaparecimento de bacilos íntegros. Agressão neural é maior. Na reação de degradação, os granulomas são frouxos, com aumento da quantidade de bacilos íntegros. Pode haver necrose.16,17 No eritema nodoso, observa-se vasodilatação, exsudação de neutrófilos polimorfonucleares nos tecidos previamente infiltrados e predominância de bacilos granulosos. Na variante necrotizante, há trombos intravasculares.16,17 Sorologia Dentre os antígenos usados para pesquisa sorológica de anticorpos anti-Mycobacterium leprae, destaca-se o glicolipídeo fenólico-1, específico do bacilo. Induz à produção de anticorpos IgM, medidos por ensaio imunoenzimático. A presença desses anticorpos reflete a carga bacilar, com títulos elevados nos multibacilares e baixos ou ausentes nos paucibacilares.18,19 No monitoramento da terapêutica, diminuição dos anticorpos acompanha o clearance do antígeno, enquanto persistência pode representar resistência terapêutica;18,20 aumento em indivíduos tratados pode indicar recidiva.18,21 Além disso, altas concentrações no início do tratamento indicam risco de desenvolver reação tipo 1.18,22 A sorologia pode identificar indivíduos com infecção subclínica,18,23 demonstrando a soropositividade entre contatos correlação com desenvolvimento das formas multibacilares.18,24 Reação de imunoistoquímica A reação de imunoistoquímica, empregando anticorpos contra antígenos do Mycobacterium leprae, é mais sensível e específica que os métodos convencionais, auxiliando no diagnóstico da hanseníase inicial ou paucibacilar. Empregam-se anticorpos contra proteínas, carboidratos e glicolipídeo-fenólico-1, sendo específico apenas o último.25,26 Anticorpos anti-BCG são usados por apresentar reação cruzada com o Mycobacterium leprae.27 Anticorpo antiproteína S-100, marcador de nervo, evidencia nervos dérmicos e o neurotropismo do infiltrado inflamatório. Pode-se excluir hanseníase quando terminações nervosas apresentam-se íntegras.28 Diagn Tratamento. 2012;17(4):173-9. RDT_v17n4.indb 176 19/12/12 16:27 Joel Carlos Lastória | Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu Inoculação O Mycobacterium leprae ainda não é cultivado em meios artificiais. Pode ser inoculado em coxim plantar de camundongos,29 tatus de nove bandas30 e ratos atímicos.31 Identificação molecular de Mycobacterium leprae A PCR detecta, quantifica e determina a viabilidade do Mycobacterium leprae. Amplifica sequências do genoma bacilar, identificando o fragmento de ácido desoxirribonucleico ou ribonucleico amplificado. É específica e sensível, podendo ser realizada em várias amostras. Diferentes primers, tamanho dos fragmentos amplificados e técnica de amplificação são fatores que interferem nas taxas de detecção.8 Tratamento A poliquimioterapia emprega esquemas baseados na classificação operacional. Para paucibacilares, são 6 doses, incluindo 1 dose de rifampicina 600 mg/mês e dapsona 100 mg/dia. Para multibacilares, são 12 doses, acrescentando clofazimina, 1 dose de 300 mg/mês e 50 mg/dia.32 Empregam-se esquemas substitutivos na contraindicação a alguma droga. Drogas alternativas são ofloxacina e/ou minociclina. Em casos excepcionais, recomenda-se a administração mensal do esquema ROM (rifampicina, 600 mg, + ofloxacina, 400 mg, + minociclina, 100 mg), 6 doses nos paucibacilares e 24 nos multibacilares.32,33 Efeitos adversos aos medicamentos são infrequentes, sendo os principais: anemia hemolítica, hepatite, meta-hemoglobinemia, agranulocitose, síndrome pseudogripal, síndrome da dapsona, eritrodermia, dermatite esfoliativa e plaquetopenia. Os mais graves relacionam-se à dapsona, e geralmente ocorrem nas primeiras seis semanas.32 Após o tratamento regular, ocorre alta por cura, independentemente da negativação baciloscópica. Recidivas são raras, ocorrendo após cinco anos.32 Nas reações, mantém-se a poliquimioterapia. Para neurites, repouso do membro afetado, e prednisona, 1-1,5 mg/kg/dia, monitorando a função neural.10,32 Ensaios controlados aleatórios não mostram efeito significativo dos corticosteroides a longo prazo.34 Na reação tipo 1, usa-se prednisona, 1-1,5 mg/kg/dia, reduzindo-se a dose conforme resposta.32 Na reação tipo 2, há provas do benefício de talidomida e clofazimina.35 Estudos mostram que neurites e outros eventos indicam corticoterapia, sendo o uso isolado da talidomida infrequente.36 A dose de talidomida é de 100-400 mg/dia, reduzindo-se conforme melhora. Para mulheres em idade fértil, pentoxifilina, 400-1200 mg/dia.32 Para neurites incontroláveis, é opção a pulsoterapia com metilprednisolona endovenosa, 1 g/dia/3 dias. Indica-se descompressão neural cirúrgica em abscesso de nervo e neurites não responsivas ao tratamento, subintrantes ou tibiais (geralmente silenciosas e com resposta pobre ao corticoide).32,37 Ensaios 177 controlados aleatórios não mostram benefício significativo da cirurgia sobre a corticoterapia.38 Nos casos de reação crônica ou subintrante, deve-se investigar parasitose intestinal, infecções, cárie dentária e estresse emocional, e usar clofazimina, 300 mg/dia/30 dias, reduzindo 100 mg a cada 30 dias, associando prednisona ou talidomida.32 Também se indica corticoterapia quando a talidomida é contraindicada (como em mulheres em idade fértil), lesões oculares, mãos e pés reacionais, glomerulonefrite, orquiepididimite, artrite, vasculites, eritema nodoso necrotizante, reações tipo eritema polimorfo-símile e síndrome de sweet-símile.32,37 Na dor neuropática, sequela da neurite, antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina, 25-300 mg/dia, e nortriptilina, 10-150 mg/dia, ou anticonvulsivantes, como carbamazepina, 200-3000 mg/dia, e gabapentina, 900-3600 mg/dia.32 Prevenção das incapacidades A melhor forma de prevenir incapacidades é diagnosticar e tratar precocemente. Os pacientes devem ter avaliações neurológicas no início, durante e no final do tratamento, recomendando-se autocuidados e exercícios focando, especialmente, os olhos, nariz, mãos e pés.39-42 Para incapacidades indicam-se cirurgias de reabilitação.43 Prevenção da doença Não há vacina específica contra Mycobacterium leprae. A vacina com o bacilo de Calmette-Guérin (BCG) parece estimular a positivação do teste de Mitsuda e reduzir a incidência das formas multibacilares. Para indivíduo sem cicatriz ou com uma cicatriz de BCG, prescrever uma dose; com duas cicatrizes, nenhuma dose. Contatos intradomiciliares menores de um ano de idade, vacinados, não aplicar BCG.32 Há evidências de que a quimioprofilaxia é efetiva em reduzir a incidência da hanseníase, particularmente dos contatos domiciliares.44 CONCLUSÃO O reconhecimento precoce da hanseníase e tratamento oportuno são elementos-chave para cessar a transmissão, prevenindo incapacidades. REFERÊNCIAS 1. Leprosy update, 2011. 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Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de reabilitação e cirurgia em hanseníase [Manual of rehabilitation and surgery in leprosy]. Brasília: Ministério da Saúde; 2008. 44. Reveiz L, Buendía JA, Téllez D. Chemoprophylaxis in contacts of patients with leprosy: systematic review and meta-analysis. Rev Panam Salud Publica. 2009;26(4):341-9. Diagn Tratamento. 2012;17(4):173-9. RDT_v17n4.indb 178 19/12/12 16:27 Joel Carlos Lastória | Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu 179 EDITORES RESPONSÁVEIS POR ESTA SEÇÃO: Hamilton Ometto Stolf. Doutor e professor assistente do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Ricardo Romiti. Dermatologista do Departamento de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HCFMUSP). INFORMAÇÕES: Endereço para correspondência: Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu Rua Brasil, 1.599 Centro — Dracena (SP) CEP 17900-000 Tel. (18) 3821-4630 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 27 de julho de 2012 Data da última modificação: 20 de agosto de 2012 Data de aceitação: 4 de outubro de 2012 PALAVRAS-CHAVE: Hanseníase. Diagnóstico. Mycobacterium leprae. /prevenção & controle. Terapêutica. RESUMO A hanseníase é infecção granulomatosa crônica causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. É doença de alta contagiosidade e baixa morbidade. Acredita-se que a sua transmissão ocorra pelo contato íntimo e prolongado de indivíduo suscetível com paciente bacilífero, através da inalação de bacilos. A melhor forma de cessar a transmissão da doença é diagnosticar e tratar precocemente os casos. Esta revisão da literatura visa fornecer ao profissional de saúde subsídios que facilitem o seu desempenho no manuseio da hanseníase, contribuindo, assim, para a eliminação de fontes de infecção e prevenção de sequelas. Diagn Tratamento. 2012;17(4):173-9. RDT_v17n4.indb 179 19/12/12 16:27 Hernani Pinto de Lemos Júnior |André Luis Alves de Lemos de ácido glutâmico (123 g/kg de proteína em bruto), arginina (80,6 g de proteína/kg em bruto) e ácido aspártico (61,3 g/kg de proteína em bruto). No entanto, o seu perfil de aminoácidos essenciais apresentou deficiências com relação à ausência da lisina, essencial para crianças pré-escolares e, portanto, o estudo não recomenda sua utilização como uma fonte proteica única.6 Um estudo crossover, feito no Alabama, Estados Unidos, objetivou determinar se o ômega 3 de sementes de chia é uma opção viável para melhorar o desempenho desportivo em eventos com duração acima de 90 minutos e permitir que os atletas possam diminuir a sua ingestão de açúcar. Os seis atletas selecionados tiveram desempenho semelhante, sem diferença estatística significante (P = 0,83) quando suplementados convencionalmente com carboidratos ou com carboidratos e ômega 3. A conclusão desse estudo foi que, embora não tenha havido melhora no desempenho, parte dos carboidratos pode ser substituída pelo ômega 3 da chia.7 As sementes de chia contêm o ácido graxo essencial, α-linolênico. Um estudo australiano avaliou se a suplementação de sementes de chia atenuam os sinais metabólicos, cardiovasculares e hepáticos em ratos submetidos a uma dieta rica em gordura e hidratos de carbono durante oito semanas. Houve melhora da sensibilidade à insulina e tolerância à glicose, redução da adiposidade visceral, diminuição da esteatose hepática e redução da inflamação cardíaca e hepática. Não houve alterações nos níveis de lipídios plasmáticos e na pressão arterial.8 O estudo foi experimental em animais e seus bons resultados não podem ser transferidos para humanos antes que possa ser reproduzido neles. DISCUSSÃO Somente um estudo randomizado duplo-cego foi encontrado nesta revisão sistematizada e não mostrou eficácia na redução de peso e na redução de fatores de risco cardiovasculares. Outro estudo, crossover, também não demonstrou benéficos na redução de risco cardiovasculares. Dois estudos realizados em animais foram altamente significantes para a chia: doenças cardiovasculares e câncer. Uma revisão sistemática foi inconclusiva em termos de desfechos clínicos e fatores de risco, e terminou concluindo ser a chia um bom energético. Um estudo em humanos, para comprovar o poder energético da chia em atletas de grande desempenho, concluiu que ela é equivalente aos carboidratos já convencionalmente utilizados.7 Um estudo dermatológico em humanos mostrou, em um número pequeno de participantes, um significante efeito do óleo das sementes de chia na amenização do prurido em pacientes com insuficiência renal, diabéticos e em saudáveis com prurido.5 O grande viés é a falta de estudos com boa qualidade metodológica que pudessem dar subsídios sobre a eficácia da chia em intervenções. Os poucos estudos encontrados em humanos são desanimadores quanto à sua eficácia. Ao contrário, os estudos experimentais em animais têm resultados animadores. 181 Um estudo bioquímico comprovou que a chia não tem todos os aminoácidos essenciais e não pode ser fonte proteica única.6 CONCLUSÃO Chia não pode ser considerado um fitoterápico no tratamento isolado de qualquer doença ou com finalidade de perda de peso. Implicações para a prática Chia pode ser utilizada como complemento dietético. Implicações para a pesquisa Mais estudos com boa qualidade metodológica devem ser realizados. REFERÊNCIAS 1. Espada CE, Berra MA, Martinez MJ, Eynard AR, Pasqualini ME. Effect of Chia oil (Salvia Hispanica) rich in omega-3 fatty acids on the eicosanoid release, apoptosis and T-lymphocyte tumor infiltration in a murine mammary gland adenocarcinoma. Prostaglandins Leukot Essent Fatty Acids. 2007;77(1):21-8. 2. Vuksan V, Whitham D, Sievenpiper JL, et al. Supplementation of conventional therapy with the novel grain Salba (Salvia hispanica L.) improves major and emerging cardiovascular risk factors in type 2 diabetes: results of a randomized controlled trial. Diabetes Care. 2007;30(11):2804-10. 3. Ulbricht C, Chao W, Nummy K, et al. Chia (Salvia hispanica): a systematic review by the natural standard research collaboration. Rev Recent Clin Trials. 2009;4(3):168-74. 4. Nieman DC, Cayea EJ, Austin MD, et al. Chia seed does not promote weight loss or alter disease risk factors in overweight adults. Nutr Res. 2009;29(6):414-8. 5. Jeong SK, Park HJ, Park BD, Kim IH. Effectiveness of Topical Chia Seed Oil on Pruritus of End-stage Renal Disease (ESRD) Patients and Healthy Volunteers. Ann Dermatol. 2010;22(2):143-8. 6. Olivos-Lugo BL, Valdivia-López MÁ, Tecante A. Thermal and physicochemical properties and nutritional value of the protein fraction of Mexican chia seed (Salvia hispanica L.). Food Sci Technol Int. 2010;16(1):89-96. 7. Illian TG, Casey JC, Bishop PA. Omega 3 Chia seed loading as a means of carbohydrate loading. J Strength Cond Res. 2011;25(1):61-5. 8. Poudyal H, Panchal SK, Waanders J, Ward L, Brown L. Lipid redistribution by α-linolenic acid-rich chia seed inhibits stearoyl-CoA desaturase-1 and induces cardiac and hepatic protection in diet-induced obese rats. J Nutr Biochem. 2012;23(2):153-62. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Hernani Pinto de Lemos Júnior Centro Cochrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino – São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel./Fax. (11) 5575-2970/5579-0469 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 15 de agosto de 2012 Data da última modificação: 30 de agosto de 2012 Data de aceitação: 4 de setembro de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(4):180-2. RDT_v17n4.indb 181 19/12/12 16:27 182 Chia (Salvia hispanica) PALAVRAS-CHAVE: Salvia. Ácido linoléico. Obesidade. Diabetes mellitus. Aminoácidos. RESUMO Introdução: A chia é uma planta cujas sementes são utilizadas na culinária e dita com diversas propriedades medicinais. Objetivo: Verificar evidências do uso da chia no tratamento de doenças. Métodos: Busca sistematizada da literatura, por meio de busca eletrônica, de artigos que avaliem o uso da chia na terapêutica médica. Resultados: Uma revisão sistemática mostrou resultados inconclusivos da eficácia da chia no tratamento de doenças. Um ensaio clínico randomizado não conseguiu demonstrar benefício na redução de peso. Um estudo crossover não conseguiu demonstrar um efeito energético superior aos carboidratos em atletas. Dois estudos experimentais em animais foram favoráveis à chia na redução de riscos cardiovasculares e em câncer. Um estudo mostrou efeito benéfico do óleo das sementes de chia no tratamento tópico do prurido em pacientes renais e diabéticos. Em todos os estudos não há ocorrência de efeitos adversos. Conclusão: Chia não pode ser considerado um fitoterápico no tratamento isolado de qualquer doença ou com finalidade de perda de peso. Ela pode ser utilizada como complemento dietético. Diagn Tratamento. 2012;17(4):180-2. RDT_v17n4.indb 182 19/12/12 16:27 POEMs: Patients-oriented evidence that matters Regras validadas para faringite estreptocócica Autores da tradução: I II Pablo Gonzáles Blasco , Marcelo Rozenfeld Levites , Cauê MonacoII Sociedade Brasileira de Medicina de Família QUESTÃO CLÍNICA Qual é a acurácia das regras clínicas existentes para selecionar crianças e adultos com queixa de dor de garganta que não precisam ser testados para Streptococcus beta-hemolítico do grupo A? RESUMO Duas escalas de pontuação comumente utilizadas são efetivas para determinar crianças e adultos com baixa probabilidade de ter estreptococos como causa para sua faringite aguda.1 Seu uso adequado, recomendado nos Estados Unidos pelos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention, CDC),2 pode evitar exames desnecessários. DESENHO DO ESTUDO Estudo transversal de acurácia (multicêntrico). Nível de evidência: 1a.3 CASUÍSTICA Crianças (com mais de três anos de idade) e adultos com queixa de dor de garganta em postos de pronto-atendimento. DISCUSSÃO Para testar duas diferentes regras de decisão clínica para faringite estreptocócica, os autores analisaram dados coletados de 206.870 pacientes de três anos de idade ou mais que haviam se apresentado com “dor de garganta” em uma de 581 “clínicas-minuto” (postos onde profissionais paramédicos prestam cuidados agudos para doenças de menor gravidade, existentes nos Estados Unidos). Os atendentes dessas clínicas seguiram, com adesão de mais de 99%, um protocolo para faringite aguda que requer a coleta de sinais e sintomas antes do teste antigênico rápido para Streptococcus beta-hemolítico do grupo A aplicado a todos os pacientes (e seguido de cultura confirmatória). Os autores compararam as características das regras “Centor” e “McIsaac”, dois sistemas de pontuação que estimam a probabilidade de faringite estreptocócica com base na apresentação clínica, com o teste rápido. Para os pacientes com 15 anos ou mais de idade, 7% dos que tinham pontuação de 0% e 12% dos que tinham pontuação de 1 na escala “Centor” tinham estreptococos (a prevalência geral foi de 23%). Para os pacientes de três anos de idade ou mais, 8% com pontuação de 0% e 14% com uma pontuação de 1 na escala “McIsaac” tinham faringite estreptocócica. Essas percentagens são um pouco maiores do que os resultados dos estudos anteriores utilizados para validar as regras.4 COMENTÁRIO Em tempos de uma prática médica excessivamente dependente da tecnologia, estudos que buscam reafirmar e apoiar em evidências o valor da anamnese e do exame físico são sempre bem-vindos. Infelizmente não se atinge 100% de sensibilidade e os 7% não diagnosticados deixariam de receber antibióticos. Mas isso também ocorreria com uma porcentagem semelhante daqueles que fossem submetidos ao teste rápido (com o qual as regras clínicas estão sendo comparadas no estudo). A cultura é o que daria 100% de certeza (todos os que tivessem cultura positiva receberiam antibióticos), mas ela é inviável na prática clínica pois, quando obtemos seu resultado, o paciente geralmente já melhorou sozinho. Para aplicar a regra “Centor”, atribua um ponto para cada um dos seguintes fatores clínicos: febre, ausência de tosse, presença de exsudato tonsilar e adenomegalia cervical anterior. De acordo com os CDC, pacientes com pontuações de 0 ou 1 não precisam ser testados ou tratados com antibióticos. A regra “McIsaac” ajusta a regra “Centor” para a idade do paciente, adicionando 1 ponto para idades inferiores a 15 anos e subtraindo 1 ponto de adultos com mais de 45 anos. REFERÊNCIAS 1. Fine AM, Nizet V, Mandl K. Large-scale validation of the Centor and McIsaac scores to predict group A streptococcal pharyngitis. Arch Intern Med. 2012;172(11):847-52. 2. Snow V, Mottur-Pilson C, Cooper RJ, et al. Principles of appropriate antibiotic use for acute pharyngitis in adults. Ann Intern Med. 2001;134(6):506-8. 3. Centre for Evidence Based Medicine. Oxford Centre for Evidence-based Medicine - Levels of Evidence (March 2009). Disponível em: http://www.cebm. net/index.aspx?o=1025. Acessado em 2012 (3 out). 4. Aalbers J, O’Brien KK, Chan WS, et al. Predicting streptococcal pharyngitis in adults in primary care: a systematic review of the diagnostic accuracy of symptoms and signs and validation of the Centor score. BMC Med. 2011;9:67. I Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). III Médico de família, professor do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). II Diagn Tratamento. 2012;17(4):183-4. RDT_v17n4.indb 183 19/12/12 16:27 POEMs: Patients-oriented evidence that matters Prognóstico das lombalgias Autores da tradução: Pablo Gonzáles BlascoI, Marcelo Rozenfeld LevitesII, Cauê MonacoIII Sociedade Brasileira de Medicina de Família QUESTÃO CLÍNICA Qual é o prognóstico da lombalgia aguda? E da crônica? RESUMO A maioria dos pacientes com lombalgia aguda tem melhora significativa em seis semanas, embora uma pequena parte deles ainda tenha dor significativa um ano após a apresentação.1 DESENHO DO ESTUDO Metanálise de estudos de coorte (prospectivos) com heterogeneidade. Nível de evidência: 1a.2 CASUÍSTICA Adultos com queixa de lombalgia aguda ou crônica, sem causa específica. DISCUSSÃO Informações sobre prognóstico são importantes, entre outras coisas, para dar a nossos pacientes expectativas realistas, que podem ajudar a evitar frustrações, excessos de exames e de tratamentos. Os autores desta revisão sistemática fizeram uma pesquisa cuidadosa em busca de quaisquer estudos de coorte prospectivos. Os autores optaram por não incluir ensaios aleatórios, nem mesmo os braços não tratados desse tipo de estudos, argumentando que eles geralmente têm critérios de inclusão que, por serem estritos demais, atrapalham a generalização. Eles identificaram dois grupos de estudos de coorte: um de pacientes com dor lombar aguda ou subaguda (menos de 12 semanas de duração) e um de pacientes com dor lombar crônica (de 12 semanas a 12 meses de duração). Os estudos foram de qualidade razoável, com cerca de três quartos deles tendo menos de 20% de perda. Dos 21 estudos de coorte que avaliaram escalas de dor como resultado (envolvendo 4.860 pacientes), 15 foram de pacientes com lombalgia aguda e 6 foram de pacientes com dor lombar persistente. Os autores ajustaram a duração dos sintomas com base na duração média ou mediana dos sintomas antes da entrada no estudo. Para os pacientes com I dor lombar aguda, a dor, aferida em uma escala de 100 pontos, passou de uma média de 69 pontos (intervalo de confiança, IC, de 95%: 61-78) no início do estudo para 28 (IC de 95%: 25-31) em 6 semanas, 12 (IC de 95%: 8-15) em 26 semanas, e 4 (IC de 95%: 0-9) após 1 ano do início da dor. Para pacientes com dor lombar crônica, a pontuação de dor foi de 55 (IC de 95%: 46-63) em 6 semanas, 29 (IC de 95%: 23-35) a 26 semanas, e 17 (IC de 95%: 7-27) em um ano. As pontuações de incapacidade seguiram um padrão semelhante: para aqueles com dor crônica, a pontuação inicial média foi de 51 (IC de 95%: (39-63), caindo para 28 (IC de 95%: 25-31) a 6 semanas, 19 (IC de 95%: 18-21) a 26 semanas e 15 (IC de 95%: 12-18) após um ano. Para lombalgia aguda, as pontuações de incapacidade foram 57 (IC de 95%: 52-62) inicialmente, 28 (IC de 95%: 26-30) a 6 semanas, 17 (IC de 95%: 15-19) a 26 semanas, e 11 (IC de 95%: 9-14) após um ano. COMENTÁRIO Essa é uma revisão de estudos de coorte que não monitorou os tratamentos realizados pelos pacientes – e, portanto, não nos responde quais foram eficazes. A maior utilidade das informações de prognóstico generalistas como essa é trazer para nós (e para os pacientes) expectativas mais realistas quanto à evolução da doença. Se não criamos expectativas irreais, tendemos a evitar exames e intervenções desnecessários. REFERÊNCIAS 1. Menezes Costa Lda C, Maher CG, Hancock MJ, et al. The prognosis of acute and persistent low-back pain: a meta-analysis. CMAJ 2012;184(11):E613-24. 2. Centre for Evidence Based Medicine. Oxford Centre for Evidence-based Medicine – Levels of Evidence (March 2009). Disponível em: http://www. cebm.net/index.aspx?o=1025. Acessado em 2012 (4 out). EDITORES RESPONSÁVEIS POR ESTA SEÇÃO Pablo Gonzáles Blasco. Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Marcelo Rozenfeld Levites. Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Cauê Monaco. Médico de família, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família, professor do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). II III Diagn Tratamento. 2012;17(4):185-6. RDT_v17n4.indb 185 19/12/12 16:27 Linguagens Encaminhamentos Alfredo José MansurI Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Os cuidados com a saúde podem ser entendidos como um sistema de múltiplos agentes. Nos estabelecimentos de saúde, para citar alguns desses agentes, há médicos, profissionais de saúde não médicos e assistentes administrativos que exercem os cuidados. Externos a esse meio, há ambientes relacionados com as demais esferas do atendimento, seja no sistema público, seja no sistema privado, com regras (às vezes estritas) de natureza clínica ou até contratual. O atendimento médico de pacientes também se processa frequentemente em sistema de múltiplos agentes, que pressupõe atuação conjunta ou sequencial, fato que torna necessário compartilhar informações, particularmente quando pacientes são encaminhados (“referidos”) de um recurso a outro. Há oportunidades nas quais o encaminhamento pode ser feito por contato telefônico. Mas, frequentemente a comunicação é feita por registros escritos do atendimento (“encaminhamentos”, “pedidos de consulta” etc.). Tais encaminhamentos foram examinados de diferentes pontos de vista1 em diferentes países.1-3 Seguem abaixo reflexões sobre o tema em nosso meio, sem esgotar o assunto. Razão do encaminhamento – Médicos na prática clínica trabalham com dados de diferente natureza: a) informações que recolhem dos pacientes (organizados na queixa, história da moléstia atual, interrogatório sobre os diferentes aparelhos, antecedentes hereditários e familiares, antecedentes pessoais e hábitos e condições de vida); b) achados que são buscados ativamente no exame físico; c) resultados de exames complementares; d) evolução clínica. Com base nesses dados, os médicos fazem o(s) diagnóstico(s) e recomendam o tratamento. Os encaminhamentos procuram informar a razão do encaminhamento, com dados obtidos até aquele momento, de tal modo que a etapa seguinte da sequência possa ser mais expedita. A etapa seguinte pode ser uma consulta médica em hospital de referência terciário, em atendimento especializado secundário, em unidade básica de saúde ou outro recurso. Nem sempre o trabalho feito até o encaminhamento — observação de sintomas, resposta ao tratamento etc. — ficou claro no encaminhamento.2,4 O significado de cada uma dessas etapas em cada paciente é variável, de tal modo que nos encaminhamentos para sistemas de maior complexidade, a razão do encaminhamento pode ser de qualquer uma das etapas,5 seja uma variável do âmbito diagnóstico, de recursos necessários para complementação diagnóstica ou da terapêutica. Relevância – O dado relevante do ponto de vista clínico para um paciente individual pode não ser compartilhado claramente por decisão médica ou por razões do paciente. Do ponto de vista médico, pode haver cuidado em razão de: a) postura compassiva. Diagnósticos potencialmente de alto impacto psicológico, sem serem produtivos do ponto de vista terapêutico ou mesmo exacerbarem o problema5 e até ter efeitos psicológicos devastadores; neste caso, quando possível, se recorre a familiar ou acompanhante. Se o familiar ou acompanhante muda na próxima consulta, a informação pode não chegar ao médico que recebe o paciente; b) situações de dúvida diagnóstica ou de necessidade de esclarecimento diagnóstico com investigação aprofundada. Do lado do paciente, o dado relevante pode escapar por: a) não ter sido entendido; b) razões culturais; c) razões psicológicas; d) vocabulário ou jargão; e) capacidade expressiva limitada, entre outras. Para superar essas dificuldades, os encaminhamentos têm oportunidade de adquirir refinamentos médicos e científicos, percebidos pelos mais experientes,6 tanto da parte de quem os envia quanto da parte de quem os recebe. Complexidade – O conceito de complexidade no sistema de saúde se associa frequentemente com a restrição da disponibilidade do recurso ou do alto custo (seja do exame, intervenção ou medicamento) ou da tecnologia empregada. Entretanto, do ponto de vista do médico, há complexidades que não se restringem ao aspecto econômico ou tecnológico, mas são complexidades de competência clínica, que incluem dificuldades diagnósticas, particularmente em doenças menos frequentes ou com manifestação atípica, dificuldades terapêuticas ou de resposta ao tratamento (deixando de lado as complexidades de natureza social e cultural). Essas complexidades podem ser a razão do encaminhamento para recursos terciários de saúde. I Livre-docente em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Diretor da Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Diagn Tratamento. 2012;17(4):187-9. RDT_v17n4.indb 187 19/12/12 16:27 188 Encaminhamentos Níveis do conhecimento – Assim como há possibilidade de diferentes planos de leitura de um texto, o mesmo ocorre com informações de encaminhamentos médicos, que toleram diferentes níveis médicos ou científicos de leitura, que abraçam tanto o conteúdo quanto a forma. Estudos foram feitos sobre o conteúdo apropriado ou não das informações oferecidas, incluindo a correção gramatical.2 Síntese – A síntese é um processo elaborado de enunciado, diferente de abreviar mensagens a ponto de comprometer o significado. Evitar palavras desnecessárias faz parte do enunciar apropriadamente o que precisa ser informado. Encaminhamentos de uma palavra ou de uma linha (ou carimbo) não são necessariamente sintéticos e muito menos objetivos: objetividade não pode ser entendida como tal, quando o dado se apresenta isolado e retirado do contexto clínico ao qual pertence. Mensagens trazidas pelos pacientes – Às vezes, além dos encaminhamentos escritos, pacientes podem trazer mensagens verbais acompanhando o encaminhamento, que podem ser harmônicas ou não com o encaminhamento feito. Expectativa – É conveniente que encaminhamentos não corram o risco de criar expectativas infundadas seja quanto à avaliação diagnóstica ou quanto ao tratamento, pois disponibilidades e normas podem variar de instituição para instituição dentro de um mesmo sistema. Exames – Às vezes entende-se que o encaminhamento é o próprio resultado do exame. Mas o exame que foi feito obedeceu à necessidade do paciente e à indicação clínica e se seguiu ao exame clínico. Esse conjunto de informações em geral é precioso e não deve ser desconsiderado, sob pena de descontextualizar a informação. Relatório abrangente – Médicos experientes ofereceram, para portadores de doenças de longa evolução que, em razão do quadro clínico, visitavam serviços de emergência repetidamente, relatório abrangente, com o pressuposto de que isso facilitaria aos familiares fornecerem informações e aos profissionais que recebessem o paciente. Pelo menos uma vez o familiar se deparou com pouco interesse no relatório, e foi repetidamente indagado sobre as mesmas perguntas a que se acostumou durante muito tempo e que estavam muito bem informadas nos relatórios. Relatórios médicos de uma página também receberam o comentário de que não precisava ser “tão longo”. Essas possibilidades são interessantes para reflexão. Segmentação da prática – Admitindo que o paciente seja um todo, o seu cuidado também o é, uno. Portanto, o conhecimento médico mobilizado para o seu cuidado – diagnóstico e tratamento, também o é. Nesse sentido, quando se exerce a terapêutica, entende-se que também se exerça o diagnóstico. Para se exercer a terapêutica, o diagnóstico feito previamente é revisado e confirmado. Tempo – Às vezes o preparo de um encaminhamento, seja de referência ou de contrarreferência, particularmente de casos mais complexos ou de evolução mais longa, requer tempo maior. O tempo disponível para tanto pode ser muito variável, dependendo da natureza da prática e às vezes da própria urgência do encaminhamento. A necessidade do tempo para esse aspecto da atuação médica pode passar despercebida. Em um estudo de revisão pelos pares dos encaminhamentos e feed back, houve casos tanto de aumento como de diminuição no tempo gasto para elaborar os encaminhamentos.3 Treinamento – Também é de se indagar o treinamento no preparo de relatórios ou encaminhamentos durante a graduação médica, residência, estágio ou pós-graduação. Essas elaborações podem ser excelente treino para domínio da linguagem médico-científica;7 desnecessário lembrar o aspecto médico-legal que o acompanha. Também é interessante lembrar que nesse mister é mobilizada a capacidade de redação, descrição, domínio de língua, clareza etc.3,6 que não são propriamente do escopo ou da especialidade do ensino da Medicina, mas anterior a eles. Recebimento – Tanto no Brasil quanto em outros países, receber relatórios bem feitos ou encaminhamento circunstanciado é reconhecido por quem os recebe. Pacientes em geral apreciam muito esses cuidados. Estudo feito na Holanda revelou que não havia concordância entre os especialistas (avaliaram um terço dos encaminhamentos como de boa qualidade) e os generalistas (50% avaliaram que a questão feita tinha sido examinada apropriadamente); tanto especialistas (89%) quanto generalistas (94,9%) apreciavam a informação evolutiva do resultado da ação tomada.1 Ainda no mesmo estudo, verificou-se que a dificuldade de comunicação de um lado (generalista ou especialista) não é percebida pela outra parte envolvida. Finalizando, reiteramos que esse aspecto da comunicação no sistema de saúde que se exerce nos encaminhamentos é de relevância para pacientes, profissionais e para o próprio sistema. Os tópicos acima examinados podem ser enriquecidos com a experiência de outros colegas. REFERÊNCIAS 1. Berendsen AJ, Kuiken A, Benneker WH, et al. How do general practitioners and specialists value their mutual communication? A survey. BMC Health Serv Res. 2009;9:143. 2. Jenkins RM. Quality of general practitioner referrals to outpatient departments: assessment by specialists and a general practitioner. Br J Gen Pract. 1993;43(368):111-3. 3. Keely E, Myers K, Dojeiji S, Campbell C. Peer assessment of outpatient consultation letters--feasibility and satisfaction. BMC Med Educ. 2007;7:13. 4. Bowling A, Redfern J. The process of outpatient referral and care: the experiences and views of patients, their general practitioners, and specialists. Br J Gen Pract. 2000;50(451):116-20. 5. 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InCor (11) 2661-5237 Consultório: (11) 3289-7020/3289-6889 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 21 de agosto de 2012 Data da última modificação: 21 de agosto de 2012 Data de aceitação: 3 de setembro de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(4):187-9. RDT_v17n4.indb 189 19/12/12 16:27 Olavo Pires de Camargo | Luiz Eugênio Garcez Leme 191 Na Medicina que exige o fato atual, mas não o recebe com passividade; que analisa o dado novo pela segurança das medidas que o forneceram e através da experiência conseguida. Medicina que defende, mas não reverencia a própria opinião; e que aceita a informação, se adequada, provenha ela de autoridades consagradas ou de humildes trabalhadores. Na Medicina que procura não apenas o combate à doença e sua prevenção, mas também o avanço do conhecimento científico; que investiga, compara, discute e conclui. Não tanto para a exaltação do próprio prestígio, como para o progresso do homem, porque sabe que a recompensa do investigador não é a obtenção de prêmio, mas o privilégio de ter trazido seu grão de areia ou seu tijolo ao sempre renovado edifício da verdade científica. CREIO na Medicina que é ato de resposta às necessidades da Pátria. Medicina lúcida e vigilante, atenta aos problemas nacionais e apta para intervir. Medicina responsável e solucionadora, que não aguarda o chamado da coletividade, mas procura atuar antes desse apelo. Nunca deformada por estreita visão do local em prejuízo do universal; nunca amesquinhada por demagogia ou por interesses pessoais; nunca aviltada por ideologias políticas corruptas e corruptoras. CREIO na Medicina que, sendo técnica e conhecimento, é também ato de solidariedade e de afeto; que é dádiva não apenas de ciência, mas ainda de tempo e de compreensão; que sabe ouvir com interesse, transmitindo ao enfermo a segurança de que sua narração é recebida como o fato mais importante desse momento. Medicina que é amparo para os que não têm amparo; que é certeza de apoio dentro da desorientação, do pânico ou da revolta que a doença traz. Na Medicina que serve os doentes e nunca se serve deles. REFERÊNCIA 1. Decourt LV. A medicina em meu credo. Disponível em: http://www.incor.usp. br/conteudo-medico/decourt/a%20medicina%20em%20meu%20credo. html. Acessada em 2012 (5 mar). EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA SEÇÃO: Olavo Pires de Camargo. Professor titular e chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Olavo Pires de Camargo Rua Barata Ribeiro, 490 – 3o andar — conj. 33 Bela Vista — São Paulo (SP) CEP 01308-000 Tel. (11) 3123-5620 E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflitos de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 17 de fevereiro de 2012 Data da última modificação: 17 de fevereiro de 2012 Data de aceitação: 9 de março de 2012 Diagn Tratamento. 2011;17(4):190-1. RDT_v17n4.indb 191 19/12/12 16:27 Antonio Américo Friedmann | José Grindler | Carlos Alberto Rodrigues de Oliveira | Alfredo José da Fonseca hipercalcemia, mas prescreveram alendronato sódico e dieta com restrição de laticínios e a paciente melhorou, obtendo alta. Durante o acompanhamento ambulatorial, verificaram dosagem de vitamina D muito elevada. Indagada, a paciente lembrou que havia mandado manipular cápsulas de cálcio com vitamina D e havia tomado o medicamento até a primeira ocasião relatada. Seis meses após, a paciente retornou ao cardiologista, que repetiu o eletrocardiograma (Figura 2). O traçado estava normal e as medidas do intervalo QT mostraram: QT = 360 ms e QTc = 413 ms. DISCUSSÃO Poucas são as causas adquiridas de encurtamento do intervalo QT:1 hipercalcemia, hiperpotassemia e ação digitálica. Enquanto potássio e digital alteram o segmento ST e a onda T, determinando padrões característicos, a hipercalcemia apenas encurta o segmento ST. Assim, essa alteração eletrocardiográfica pode passar despercebida. Há também a síndrome do QT curto congênito diagnosticada em jovens, canalopatia rara de origem genética que predispõe a arritmias ventriculares malignas.2 É interessante lembrar que todos os distúrbios eletrolíticos alteram o ECG. Entretanto, apenas as alterações do potássio e do cálcio são características, permitindo suspeitar de variações anormais desses íons pelo eletrocardiograma. 193 A hipercalcemia encurta o intervalo QT às custas de redução do segmento ST. A onda T fica muito próxima do QRS e o segmento ST pode estar ausente, como se percebe no primeiro ECG da paciente. Mais raramente pode aparecer uma deflexão no ponto J (onda J) ou elevação do segmento ST nas derivações precordiais direitas V1 e V2.3 Pode-se avaliar melhor o encurtamento do intervalo QT na hipercalcemia por outro parâmetro: o intervalo QaT, distância entre o início do QRS e o ápice da onda T.4 Nos dois traçados de ECG deste caso, calculamos os valores do Qat e do QaTc e obtivemos os valores constantes da Tabela 1. Observamos que o intervalo QaTc apresentou o maior percentual de redução (18,8%). As causas mais comuns de hipercalcemia são hiperparatiroidismo primário e neoplasias malignas (metástases ósseas, mieloma múltiplo). No primeiro caso, o PTH está sempre elevado e, Tabela 1. Medidas dos intervalos QT durante a hipercalcemia e após tratamento, e a porcentagem de redução Variável QT QTc QaT QaTc Ca++ = 15,6 mg/dL 320 ms 367 ms 260 ms 298 ms Ca++ = 10,5 mg/dL 360 ms 413 ms 320 ms 367 ms Redução 11,11% 11,13% 18,75% 18,80% Figura 2. Eletrocardiograma normal: intervalo QT = 360 ms e QTc = 413 ms. Diagn Tratamento. 2012;17(4):192-4. RDT_v17n4.indb 193 19/12/12 16:27 194 Encurtamento do intervalo QT nos casos de câncer, pode estar normal. Foi esse o motivo do telefonema do patologista, preocupado, antecipando o resultado.4 Outras causas, como doença granulomatosa (sarcoidose) e intoxicação por vitamina D, são menos frequentes. No caso apresentado, suspeitamos de erro de dosagem na manipulação da vitamina D. CONCLUSÃO Este caso mostra a importância da medida do intervalo QT no eletrocardiograma. O reconhecimento do encurtamento do intervalo QT pode auxiliar o clínico no diagnóstico de hipercalcemia, agilizando a investigação diagnóstica e o tratamento. REFERÊNCIAS 1. Friedmann AA, Grindler J, Fonseca AJ, Oliveira CAR. Prolongamento do intervalo QT. In: Friedmann AA, Grindler J, Oliveira CAR, Fonseca AJ, editores. Diagnóstico diferencial no eletrocardiograma. São Paulo: Manole; 2011. p. 161-72. 2. Storti FC, Grindler J. ECG em síncopes e morte súbita. In: Friedmann AA, editor. Eletrocardiograma em 7 aulas: temas avançados e outros métodos. São Paulo: Manole; 2010. p. 195-206. 3. Friedmann AA. ECG no Hospital Geral. In: Friedmann AA, editor. Eletrocardiograma em 7 aulas: temas avançados e outros métodos. São Paulo: Manole; 2010. p. 95-120. 4. Sanches PCR, Moffa PJ. Modificações do eletrocardiograma provocadas por distúrbios eletrolíticos e drogas. In: Sanches PCR, Moffa PJ, editores. Eletrocardiograma. Uma abordagem didática. São Paulo: Roca; 2010. p. 177-90. EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA SEÇÃO: Antonio Américo Friedmann. Livre-docente, diretor do Serviço de Eletrocardiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Prédio dos Ambulatórios Serviço de Eletrocardiologia Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155 São Paulo (SP) CEP 05403-000 Tel. (11) 2661-7146 Fax. (11) 2661-8239 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 20 de agosto de 2012 Data da última modificação: 20 de agosto 2012 Data de aceitação: 3 de setembro de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(4):192-4. RDT_v17n4.indb 194 19/12/12 16:27 Medicina baseada em evidências Overview de revisões sistemáticas – um novo tipo de estudo. Parte I: Por que e para quem? Valter SilvaI, Antonio José GrandeII, Ana Luiza Cabrera MartimbiancoIII, Rachel RieraVI, Alan Pedrosa Viegas de CarvalhoII Centro Cochrane do Brasil (CCB), em conjunto com o Programa de Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica (PgMIT) da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo INTRODUÇÃO A efetividade da prática clínica em saúde é dependente de ser baseada na melhor evidência disponível e deve ser discutida entre o profissional de saúde e o paciente para a tomada de decisão.1-3 Para que esse processo funcione, é necessário que o profissional mantenha-se atualizado. Contudo, esse é um complexo desafio, considerando o mundo globalizado e a velocidade das informações divulgadas. Um exemplo da complexidade em manter-se atualizado foi dado por Davidoff e cols.4 Em 1992, estimava-se que um profissional da saúde deveria ler de 17 a 20 artigos originais todos os dias para se manter atualizado no seu campo de atuação. No Medline,5 a maior biblioteca médica do mundo, foram publicadas mais de 736 mil novas referências em 2011, havendo mais de 21 milhões de citações contidas no PubMed. Uma alternativa capaz de reduzir a complexidade de se manter atualizado e facilitar a tomada de decisão clínica seria a utilização das revisões sistemáticas (RSs). Este tipo de estudo tem como uma das funções primárias sumarizar informações clínicas de vários estudos com a finalidade de responder a uma pergunta de diagnóstico, prevenção ou tratamento em áreas onde os resultados podem ser ou não discordantes, através da avaliação crítica das evidências.6,7 Considerando apenas a mais importante base de dados de RSs, a Biblioteca Cochrane, mais de 7 mil artigos foram publicados.8 Dada esta elevada quantidade de informações, a atualização profissional ainda permanece um desafio, mesmo recorrendo-se às RSs. Uma possível solução para o problema foi oferecida por metodologistas especialistas em RSs: um novo tipo de estudo chamado de overview de revisões sistemáticas (OoRs), considerado um estudo de frente final e amigável (do inglês: friendly front end) para a tomada de decisão em saúde.9-11 Por definição, uma OoRs é um desenho de estudo que integra e sintetiza as informações das RSs existentes sobre uma determinada situação clínica, considerando todas as intervenções disponíveis para o tratamento ou a prevenção desta situação clínica.9-11 Para fins didáticos, este estudo será publicado em uma série de três artigos. A parte I, apresentada aqui, foca o crescimento das publicações com melhor nível de evidência para a tomada de decisão em saúde, justificando o surgimento das OoRs. A parte II, apresentada em um próximo artigo, irá descrever o estado da arte das OoRs da Colaboração Cochrane. Na parte III, uma nova hierarquia da pirâmide de evidências será proposta, considerando este novo tipo de estudo. OBJETIVO O objetivo deste estudo foi introduzir e demonstrar o papel das OoRs na síntese de informações para profissionais da área da saúde, gestores, pesquisadores e pacientes. MÉTODO Este é um estudo descritivo que incluiu a aplicação de filtros de desenhos de estudos (que fornecem o mais alto nível de evidências) em bases de dados virtuais para mostrar o crescimento I Assistente de pesquisa voluntário do Centro Cochrane do Brasil (CCB). Mestrando do Programa de Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica (PgMIT) da Escola Paulista de Medicina — Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva (FAIT). II Assistente de pesquisa voluntário do Centro Cochrane do Brasil (CCB). Doutorando do Programa de Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica (PgMIT) da Escola Paulista de Medicina — Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). III Assistente de pesquisa voluntário do Centro Cochrane do Brasil (CCB). Mestrando do Programa de Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica (PgMIT) da Escola Paulista de Medicina — Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). VI Coordenadora assistente do Centro Cochrane do Brasil (CCB). Professora adjunto da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Escola Paulistaa de Medicina — Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). Diagn Tratamento. 2012;17(4):195-200. RDT_v17n4.indb 195 19/12/12 16:27 198 Overview de revisões sistemáticas – um novo tipo de estudo. Parte I: Por que e para quem? Apesar das limitações observadas, o crescimento dos ECRs e RSs, conforme observado nos resultados, é exponencial. Devido ao fato de que a tomada de decisão em saúde é naturalmente complexa, metodologistas de revisões sistemáticas propuseram as overviews de revisões sistemáticas,8-10 as quais também apresentam crescimento do número de publicações. Na parte II desta série de três artigos, o estado da arte das overviews de revisões sistemáticas e os detalhes deste desenho de estudo serão apresentados. CONCLUSÕES Manter-se atualizado permanece um desafio, considerando a grande quantidade e a variável qualidade das informações disponíveis. Assim, os metodologistas de RSs propuseram um novo tipo de estudo direcionado especialmente para os tomadores de decisão em saúde, as OoRs. Este novo tipo de estudo foi desenvolvido para sintetizar e integrar as informações de vários estudos, a fim de reduzir as incertezas para a tomada de decisão e poderá gerar uma nova hierarquia na pirâmide de evidências. REFERÊNCIAS 1. Atallah AN. Tomada de decisões em terapêutica. Diagn Tratamento. 2001;6(3):54. 2. Atallah AN. 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Acessado em 2012 (Jul 5). 199 AGRADECIMENTOS Pela concessão da bolsa, os autores Valter Silva, Antonio José Grande, Ana Luiza Cabrera Martimbianco e Alan Pedrosa Viegas de Carvalho agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA COLUNA Álvaro Nagib Atallah. Professor titular e chefe da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Diretor do Centro Cochrane do Brasil e Diretor da Associação Paulista de Medicina (APM). E-mail: [email protected] INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Antonio José Grande Centro Cochrane do Brasil Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino — São Paulo (SP) CEP 04039-001 Fone/Fax. (+55 11) 5575-2970/5085-0248 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesses: não há conflito de interesses financeiros ou não financeiros concorrentes (políticas, pessoais, religiosas, ideológicas, acadêmicas, intelectual, comercial ou qualquer outra) relacionado a este manuscrito Data de entrada: 26 de junho de 2012 Data da última modificação: 27 de junho de 2012 Data de aprovação: 10 de julho de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(4):195-200. RDT_v17n4.indb 199 19/12/12 16:27 200 Overview de revisões sistemáticas – um novo tipo de estudo. Parte I: Por que e para quem? PALAVRAS-CHAVE: Revisão. Características dos estudos. Tomada de decisões. Prática clínica baseada em evidências. Medicina baseada em evidências. RESUMO Contexto e objetivo: A tomada de decisão em saúde é complexa e deve envolver o profissional de saúde, o paciente e a evidência de melhor nível. A velocidade da informação cria barreiras para manter-se atualizado. Diante disso, metodologistas propuseram novo tipo de estudo, as overviews de revisões sistemáticas (OoRs). O objetivo é introduzir e demonstrar o papel das OoRs na síntese de informações para profissionais da área da saúde, gestores, pesquisadores e pacientes. Tipo de estudo e local: Estudo observacional longitudinal realizado no Centro Cochrane do Brasil, em conjunto com o Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências do Departamento de Medicina da Unifesp. Métodos: Para mostrar o crescimento das publicações que fornecem evidência com alto nível, e assim justificar a importância das OoRs na síntese e integração das informações, três filtros para desenhos de estudos foram aplicados em duas bases de dados. Uma equação de predição do número esperado de publicações foi desenvolvida e aplicada. Resultados: Na presente década, o número de ensaios clínicos randomizados no Medline poderá chegar a 2.863.203 e o número de revisões sistemáticas poderá chegar a 174.262. Nove OoRs e 15 protocolos de OoRs foram publicados na Biblioteca Cochrane. Conclusões: Com o crescimento exponencial das publicações, demonstrado neste estudo, um novo tipo de estudo, direcionado especialmente aos decisores em saúde, foi proposto, a OoRs, o qual poderá reduzir incertezas para a tomada de decisão e gerar uma nova hierarquia na pirâmide de evidências. Diagn Tratamento. 2012;17(4):195-200. RDT_v17n4.indb 200 19/12/12 16:27 Medicina sexual Envelhecimento, doenças crônicas e função sexual Heloisa Junqueira FleuryI, Carmita Helena Najjar AbdoII Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo INTRODUÇÃO O impacto negativo que determinadas doenças e medicamentos exercem sobre a função sexual de homens e mulheres acima de 55 anos tem sido bem estudado. Entretanto, o interesse pelo estudo da sexualidade em idosos saudáveis é bastante recente. Preconizava-se que indivíduos mais velhos e saudáveis não tinham ou não estavam interessados em sexo,1 mas, atualmente, já está bem estabelecido que a regularidade da atividade sexual garante o bem-estar físico e psicológico, além de contribuir para a redução de problemas físicos e de saúde mental associados com o envelhecimento.2 Sexo com penetração correlaciona-se com melhor qualidade de relacionamentos íntimos, menores taxas de sintomas depressivos, melhor saúde cardiovascular e menos obesidade em homens e mulheres.2 Estudo desenvolvido em 29 países, envolvendo mais de 27.000 homens e mulheres entre 40 e 80 anos, identificou a importância da manutenção da atividade sexual para 80% dos homens e 60% das mulheres.3 No geral, os problemas sexuais não são abordados pelos médicos, principalmente com pacientes nessa faixa etária. Apenas 17% a 32% dos homens e 19% a 29% das mulheres brasileiras recebem alguma orientação de seus médicos.4 Porém, há indivíduos que interrompem o uso de medicações necessárias à manutenção da saúde, devido aos efeitos adversos dessas sobre a função sexual,5 enquanto outros referem efeitos negativos decorrentes de medicamentos para tratar dificuldades sexuais.6 Com o aumento da longevidade dessa população, propiciada pelos avanços da medicina, da tecnologia e de medidas que favorecem a qualidade de vida, a atividade sexual pode ser mantida, assim como os anos produtivos. Conhecer o comportamento sexual do idoso torna-se, portanto, imperioso. OBJETIVO O objetivo deste artigo é apresentar um levantamento das alterações na função sexual próprias do envelhecimento e de doenças crônicas, tanto para conhecer quanto favorecer a preservação da vida sexual ativa nessa população. MÉTODO Foi feita uma revisão narrativa com busca sistematizada da literatura nas bases de dados eletrônicas Medline, Cochrane Library, Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Embase, relacionando disfunção sexual fisiológica ou psicológica e envelhecimento. Foram empregados os descritores: disfunção sexual fisiológica (sexual dysfunction, physiological), disfunção sexual psicológica (sexual dysfunction psychological) e envelhecimento (aging). Na base de dados Medline foram empregados os filtros: Clinical Trial; Controlled Clinical Trial; Randomized Controlled Trial; Systematic Reviews; MetaAnalysis. Na Embase, Clinical Trial; Controlled Clinical Trial; Randomized Controlled Trial; Double blind procedure; Systematic Reviews e Artigos publicados em 2011 e 2012 (Tabela 1). RESULTADOS A Tabela 1 apresenta o resultado da busca, em bases de dados eletrônicas, por estudos que abordam alterações na função sexual no envelhecimento. Entre os estudos encontrados, a maioria confirma que disfunção sexual é altamente prevalente entre os mais idosos e comorbidades acentuam essa tendência. Em relação aos homens, fatores orgânicos e relacionais passam a ter um impacto maior no desencadeamento da disfunção erétil durante o envelhecimento.7 Entre esses, apenas 22,2% buscam tratamento, sendo que menos da metade dos que se tratam (36,9%) toma medicação adequada. Muitos atribuem a disfunção ao estresse e ao cansaço.8 Em relação às mulheres, há tendência de aumento do desejo sexual hipoativo entre os 60 e 70 anos, enquanto o desconforto com essa condição diminui com a idade.9 Além do desejo, a frequência do orgasmo e da atividade sexual declinam com a idade,10 caracterizando o impacto de fatores psicológicos, I Psicóloga, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Psiquiatra, livre-docente e professora associada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Fundadora e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. II Diagn Tratamento. 2012;17(4):201-5. RDT_v17n4.indb 201 19/12/12 16:27 Heloisa Junqueira Fleury | Carmita Helena Najjar Abdo A frequência sexual diminui com a idade, mas muitos idosos permanecem sexualmente ativos. A função sexual está se tornando cada vez mais importante para os idosos, inclusive para homens portadores de demência, gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros.23 Doenças crônicas Disfunção erétil pode ser um indicador de doença vascular subjacente.24 Pacientes entre 50 e 59 anos com insuficiência arterial cavernosa apresentaram risco aumentado para doença coronária.25 As doenças cardiovasculares têm fatores de risco semelhantes aos da disfunção erétil (envelhecimento, hipertensão e obesidade), assim como a mesma base funcional, tornando as modificações no estilo de vida (aumento da atividade física e diminuição do consumo calórico) benéficas para as duas condições.26 Homens com sintomas do trato urinário inferior, geralmente decorrente de hipertrofia prostática benigna, apresentam disfunção sexual (perda da ejaculação, ejaculação dolorosa e disfunção erétil). O Multinational Survey of the Aging Male identificou 90% dos homens com sintomas do trato urinário inferior, sendo que apenas 19% deles procuraram ajuda médica para os problemas urinários (11% medicados). A maioria (83%) desses homens entre 50 e 80 anos de idade mantinha vida sexual ativa, sendo que a presença e gravidade dos sintomas do trato urinário inferior eram fatores de risco para disfunção sexual.27-30 Quando questionados, os pacientes que não foram avaliados quanto à função sexual pelos seus médicos, na maioria (90,0%) desejariam ter a disfunção erétil tratada.31 Há indícios de que também a raça branca é mais sujeita a essa condição do que a negra.32 Há forte relação entre sintomas depressivos e disfunção erétil. Em pacientes com câncer de próstata e não usuários de tratamento hormonal, com idade média de 67 anos, observou-se associação entre a função erétil e a depressão.33 Porém, as mulheres são mais vulneráveis à depressão, sendo os sintomas depressivos comuns no envelhecimento feminino.22 As diferenças entre homens e mulheres em relação à incidência da depressão foram atribuídas a influências endócrinas, porém, o estilo de abordagem das dificuldades, a resposta ao estresse e a socialização podem contribuir para as particularidades de cada gênero na prevalência de transtornos depressivos. Há indícios de que menopausa e depressão estejam associadas, embora não haja um fator causal comum às duas condições.22 De 20% a 30% dos pacientes em tratamento dialítico apresentam depressão, influenciando negativamente a qualidade de vida e constituindo-se como um fator que pode afetar significantemente a morbidade e a mortalidade de pacientes com doença renal crônica. Apresentam comprometimento na satisfação sexual em todas as faixas etárias.34 Há uma combinação de fatores orgânicos e psicológicos que desencadeiam a disfunção erétil independentemente dos níveis séricos de testosterona livre, sendo que a manutenção desse hormônio garante a permanência do desejo sexual.35 203 O transplante renal tem diferentes efeitos na função erétil, podendo desencadear disfunção em 92,2% dos homens acima de 60 anos.36 Em pacientes com a doença de Parkinson, a disfunção sexual relaciona-se apenas ao envelhecimento. Porém, a incontinência urinária, um importante fator de risco para a disfunção sexual, atinge 22% das mulheres e 21% dos homens.37 A síndrome da dor pélvica crônica é um dos principais problemas de saúde no envelhecimento masculino. A grande maioria dos afetados por essa condição apresenta disfunção sexual (disfunção erétil e desejo sexual hipoativo), assim como se queixam de outras dores (geralmente no dorso e nas articulações) e fadiga.38 Mulheres diabéticas entre 40 e 80 anos, sexualmente ativas, apresentaram mais problemas relacionados à satisfação sexual. Aquelas tratadas com insulina tendiam a mais problemas com lubrificação e orgasmo do que as não diabéticas. As diabéticas, independentemente do uso da insulina, relataram doenças cardíacas, infarto, disfunção renal e neuropatia periférica, condições associadas com comprometimento da função sexual.39 A obesidade está associada com disfunção sexual em mulheres mais jovens (45 a 49 anos), mas não entre as pós-menopausadas.40 A maior longevidade de homens e mulheres, a inclusão da saúde sexual como parte da saúde numa perspectiva integral e o desenvolvimento de drogas para a melhoria da resposta sexual têm aumentado a demanda por terapêuticas voltadas para essa finalidade. Dessa forma, o conhecimento das alterações biológicas, psicológicas, relacionais e sociais torna-se importante para o fortalecimento da saúde sexual da população idosa. A abordagem deve ser multidisciplinar, considerando as características específicas do homem, da mulher e do casal, para diagnóstico e tratamento adaptados a essa faixa etária.41 DISCUSSÃO As doenças crônicas comprometem vários aspectos da qualidade de vida, sendo um deles a função sexual, devido aos efeitos deletérios que podem ser irreversíveis. A alta prevalência de comorbidades em homens idosos e a associação dessa condição com o comprometimento da função sexual confirmam o prejuízo crescente do interesse e da satisfação sexual nessa população.15 O mesmo ocorre entre as mulheres nessa faixa etária, com o aumento de dor à penetração e a diminuição do desejo sexual.18 Embora as doenças crônicas possam não constituir diretamente uma limitação para a vida sexual, os indícios de comprometimento da qualidade de vida e da adaptação às alterações próprias do envelhecimento26 apoiam a necessidade de abordagem adequada dessa questão pelos profissionais da saúde.27,31 A revisão de literatura específica demonstra que são mais estudados os aspectos biológicos do envelhecimento e o respectivo tratamento, enquanto que os voltados para os fatores psicossociais e relacionais que afetam essa população são analisados de maneira insuficiente. Diagn Tratamento. 2012;17(4):201-5. RDT_v17n4.indb 203 19/12/12 16:27 204 Envelhecimento, doenças crônicas e função sexual Os estudos de que dispomos apontam evidências suficientes do impacto de variáveis biológicas e algumas evidências dos aspectos psicossociais e relacionais sobre a função sexual feminina e masculina. Mais estudos sobre as variáveis psicossociais e de relacionamentos são necessários. Não obstante, no estágio atual do conhecimento, já se reconhece a relevância da reabilitação da função sexual, o que favorece o fortalecimento da saúde numa perspectiva integral. CONCLUSÃO Para um envelhecimento saudável, é fundamental manter os relacionamentos sociais, a saúde física e a atividade sexual satisfatória, o que exige a atenção dos profissionais de saúde para que esses temas sejam incluídos na avaliação dos pacientes idosos. A definição de expectativas realistas, considerando a impossibilidade da recuperação integral da vida sexual anterior ao envelhecimento, é um dos aspectos mais importantes na orientação dessa população. Significa adaptar-se às circunstâncias atuais, maximizar as capacidades preservadas, adaptar-se às limitações atuais e manter-se otimista. REFERÊNCIAS 1. DeLamater J. Sexual expression in later life: a review and synthesis. J Sex Res. 2012;49(2-3):125-41. 2. Brody S. The relative health benefits of different sexual activities. J Sex Med. 2010;7(4 Pt 1):1336-61. 3. Laumann EO, Nicolosi A, Glasser DB, et al. Sexual problems among women and men aged 40-80 y: prevalence and correlates identified in the Global Study of Sexual Attitudes and Behaviors. Int J Impot Res. 2005;17(1):39-57. 4. Abdo CHN. Descobrimento sexual do Brasil. São Paulo: Summus; 2004. 5. Finger WW, Lund M, Slagle MA. Medications that may contribute to sexual disorders. 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RESUMO A expressão sexual de indivíduos mais velhos e saudáveis é menos conhecida do que o impacto negativo das doenças e de seus tratamentos relacionados à função sexual. Por outro lado, a regularidade da atividade sexual garante bem-estar físico e psicológico, além de contribuir para a redução de problemas físicos e de saúde mental, associados ao envelhecimento. A alta prevalência de comorbidades em homens idosos e a associação dessa condição com o comprometimento da função sexual confirmam o prejuízo crescente do interesse e da satisfação sexual. O mesmo ocorre entre as mulheres nessa faixa etária, com o aumento de dor à penetração e a diminuição do desejo sexual. Disfunção erétil pode ser um indicador de doença subjacente. Fatores orgânicos e relacionais passam a ter um impacto maior durante o envelhecimento. O comprometimento progressivo da função sexual feminina é influenciado por fatores psicológicos, relacionais, sociais, culturais e biológicos. A revisão de literatura específica demonstra que são mais estudados os aspectos biológicos do envelhecimento e o respectivo tratamento, enquanto que os voltados para os fatores psicossociais e relacionais que afetam essa população são insuficientes. Os estudos de que dispomos apontam evidências suficientes do impacto de variáveis biológicas e algumas evidências dos aspectos psicossociais e relacionais sobre a função sexual feminina e masculina. No estágio atual do conhecimento, já se reconhece a relevância da reabilitação da função sexual, o que favorece o fortalecimento da saúde numa perspectiva integral. A iniciativa deve partir do profissional de saúde, que pode ajudar a definir expectativas realistas. Diagn Tratamento. 2012;17(4):201-5. RDT_v17n4.indb 205 19/12/12 16:27 Caroline Sousa Costa de protetores solares com alto FPS pode prevenir as ceratoses actínicas (lesões de pele consideradas precursoras do carcinoma espinocelular, um câncer de pele do tipo não melanoma) e o próprio carcinoma espinocelular, além do melanoma. No entanto, não existe ainda evidência suficientemente consistente para sugerir que, isoladamente, o uso de protetor solar com alto FPS previna o carcinoma basocelular, o mais comum dos cânceres de pele.10-12 Quanto ao emprego de “protetores solares” por via oral, que são substâncias com suplementos nutricionais, vitaminas ou medicações em sua composição, não há ainda embasamento científico suficiente que o justifique quando o objetivo é a prevenção de qualquer um dos tipos de câncer de pele na população em geral.7,13,14 Torna-se, portanto, imprescindível advertir a população de que a fotoproteção para prevenir o câncer de pele engloba não só o uso dos protetores solares, mas principalmente a prática de medidas comportamentais durante o período diurno, entre elas: usar camisas de manga longa, calças compridas e boné ou chapéu, estes últimos, com abas mais largas preferencialmente; utilizar óculos de sol, sombrinha ou guarda-sol; e evitar, sempre que possível, realizar atividades laborais ou recreativas ao ar livre durante as horas mais quentes do dia, ou seja, entre 10 horas e 16 horas. Nesse horário, os raios ultravioletas (UV) do sol incidem intensamente na atmosfera, em especial nas altitudes elevadas, baixas latitudes e no verão. O céu azul com poucas nuvens permite ampla incidência de raios UV. O céu nublado, entretanto, não bloqueia a chegada da irradiação UV à superfície: as medidas de fotoproteção devem ser mantidas mesmo em dias chuvosos ou nublados. A proteção deve ser ainda mais cuidadosa nas localidades mais equatoriais do globo terrestre e também nas áreas alpinas ou de praia, porque a neve e a areia aumentam, por reflexão, a intensidade da irradiação UV em até 85% e 25%, respectivamente.9 Vale lembrar que a fotoproteção, mesmo quando adotada de forma rotineira e para áreas extensas do corpo, não parece ser capaz de levar à deficiência de vitamina D na prática. Importante para a saúde dos ossos e na prevenção da osteoporose, a vitamina D é sintetizada na pele após a exposição aos mesmos raios ultravioletas do sol relacionados à indução do câncer de pele. No entanto, os níveis sanguíneos da vitamina D dependem também de outros fatores, além da exposição à irradiação solar, podendo ser citados a qualidade da dieta, o fototipo (cor da pele) e a idade do paciente.15 PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: DIAGNÓSTICO PRECOCE O diagnóstico precoce e acurado de lesões iniciais e com dimensões menores implica menos chance de deformidades/cicatrizes inestéticas e, até mesmo, de algum prejuízo funcional em decorrência do tratamento cirúrgico do câncer de pele não melanoma. Além disso, a habilidade de suspeição diagnóstica por parte do profissional de saúde em relação a esse câncer permite, muitas vezes, que o paciente 207 com múltiplos fatores de risco receba medidas educativas referentes à exposição solar mais precocemente. 1 No caso do melanoma, o diagnóstico precoce significa preservar a vida do paciente, uma vez que a presença de metástases associa-se à mortalidade elevada e o diagnóstico de lesões iniciais, com espessura ainda inferior a 1 mm, mostra-se como único tratamento realmente efetivo disponível na atualidade.16 O médico dermatologista deve ser procurado quando se perceber o surgimento de manchas ou pintas/sinais novos na pele, ou ainda de mudança nas características de manchas ou pintas antigas (mudança de tamanho, de forma ou de cor). É necessário atentar também às feridas que não cicatrizam em quatro semanas.2 O diagnóstico do câncer de pele envolve principalmente o exame clínico, feito por meio da inspeção visual da pele do paciente, e a análise histopatológica por meio de biópsia da lesão, que está indicada quando, ao exame clínico, houver suspeita de câncer de pele não melanoma ou de melanoma. A dermatoscopia e a microscopia confocal são técnicas que podem atualmente ser utilizadas como ferramentas de auxílio no diagnóstico dos cânceres de pele.1,5,16 REFERÊNCIAS 1. Quinn AG, Perkins W. Non-melanoma skin cancer and other epidermal skin tumors. In: Burns T, Breathnach S, Cox N, Griffiths C, editors. Rook’s textbook of dermatology. 8th ed. Oxford: Blackwell Publishing; 2010. p. 52.1. 2. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. 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Burnett ME, Wang SQ. Current sunscreen controversies: a critical review. Photodermatol Photoimmunol Photomed. 2011;27(2):58-67. 9. Hawk JLM, Young AR, Ferguson J. Cutaneous photobiology. In: Burns T, Breathnach S, Cox N, Griffiths C, editors. Rook’s textbook of dermatology. 8th ed. Oxford: Blackwell Publishing; 2010. p. 29.1. 10. Green A, Williams G, Neale R, et al. Daily sunscreen application and betacarotene supplementation in prevention of basal-cell and squamous-cell carcinomas of the skin: a randomised controlled trial. Lancet. 1999;354(9180):723-9. 11. Darlington S, Williams G, Neale R, Frost C, Green A. A randomized controlled trial to assess sunscreen application and beta carotene supplementation in the prevention of solar keratoses. Arch Dermatol. 2003;139(4):451-5. 12. Green AC, Williams GM, Logan V, Strutton GM. Reduced melanoma after regular sunscreen use: randomized trial follow-up. J Clin Oncol. 2011;29(3):257-63. Diagn Tratamento. 2012;17(4):206-8. RDT_v17n4.indb 207 19/12/12 16:27 208 Epidemiologia do câncer de pele no Brasil e evidências sobre sua prevenção 13. Bailey HH, Kim K, Verma AK, et al. A randomized, double-blind, placebo-controlled phase 3 skin cancer prevention study of {alpha}difluoromethylornithine in subjects with previous history of skin cancer. Cancer Prev Res (Phila). 2010;3(1):35-47. 14. Dellavalle RP, Drake A, Graber M, et al. Statins and fibrates for preventing melanoma. Cochrane Database Syst Rev. 2005;19(4):CD003697. 15. Reddy KK, Gilchrest BA. Iatrogenic effects of photoprotection recommendations on skin cancer development, vitamin D levels, and general health. Clin Dermatol. 2011;29(6):644-51. 16. Vestergaard ME, Macaskill P, Holt PE, Menzies SW. Dermoscopy compared with naked eye examination for the diagnosis of primary melanoma: a meta-analysis of studies performed in a clinical setting. Br J Dermatol. 2008;159(3):669-76. INFORMAÇÕES Esta seção é um serviço público da Revista Diagnóstico & Tratamento. As informações e recomendações contidas neste artigo são apropriadas na maioria dos casos, mas não substituem o diagnóstico do médico. Esta página pode ser fotocopiada não comercialmente por médicos e outros profissionais de saúde para compartilhar com os pacientes. Endereço para correspondência: Caroline Sousa Costa Rua Doutor José Estéfano, 80 — apto 42 Jd. Vila Mariana — São Paulo (SP) CEP 04116-060 Tel. (11) 5575-8558 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflitos de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 15 de maio de 2012 Data da última modificação: 15 de maio de 2012 Data de aceitação: 22 de maio de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(4):206-8. RDT_v17n4.indb 208 19/12/12 16:27 Destaques Cochrane Máscaras cirúrgicas descartáveis para prevenção da infecção da ferida cirúrgica em cirurgia limpa Autora da tradução: Rachel RieraI Autor dos comentários independentes: André Télis de VilelaII RESUMO Introdução: Máscaras cirúrgicas foram desenvolvidas originalmente para conter e filtrar gotículas contendo micro-organismos expulsos da boca e nasofaringe de profissionais da saúde durante a cirurgia, protegendo assim o paciente. No entanto, existem várias formas através das quais as máscaras cirúrgicas podem vir a contribuir para a contaminação da ferida cirúrgica, por exemplo, pelo uso incorreto ou pelo vazamento lateral de ar, devido à tensão insuficiente da corda que prende a máscara. Objetivos: Determinar se máscaras cirúrgicas descartáveis usadas pela equipe cirúrgica durante a cirurgia limpa impedem a infecção de ferida no pós-operatório. Métodos: Busca por estudos: Esta foi uma revisão sistemática da literatura que realizou busca nas seguintes bases de dados eletrônicas: The Cochrane Wounds Group Specialised Register (até 14 de setembro de 2011), The Cochrane Central Register of Controlled Trials (Central) (The Cochrane Library 2011, Edição 3); Medline via Ovid (2008 a agosto de 2011), Medline via Ovid (In-Process & Other Non - Indexed Citations, até 13 de setembro de 2011); Embase via Ovid (2008 a 2011, semana 35), e Ebsco Cinahl (2008 até 9 de setembro de 2011). Critérios de seleção dos estudos: Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados (ECR) e quasi-randomizados comparando o uso de máscaras cirúrgicas descartáveis com a não utilização de máscara. Coleta e análise dos dados: Dois revisores extraíram os dados independentemente. Resultados: Três estudos foram incluídos, envolvendo um total de 2.113 participantes. Não houve diferença estatisticamente significativa nas taxas de infecção entre o grupo que usou máscara e o que não usou. I Conclusão: A partir dos resultados limitados não está claro se o uso de máscaras cirúrgicas por membros da equipe cirúrgica tem qualquer impacto sobre taxas de infecção da ferida operatória em pacientes submetidos à cirurgia limpa. REFERÊNCIA 1. Lipp A, Edwards P. Disposable surgical face masks for preventing surgical wound infection in clean surgery. Cochrane Database Syst Rev. 2002;(1):CD002929. INFORMAÇÕES Este é um resumo de uma revisão sistemática Cochrane publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR) 2012, edição 1, DOI: 10.1002/14651858.CD002929 (http://onlinelibrary.wiley.com/ doi/10.1002/14651858.CD002929/abstract). Para detalhes da citação completa e dos autores, veja referência 1. Tradução e adaptação: Centro Cochrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino — São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel. (11) 5579-0469/5575-2970 E-mail: [email protected] http://www.centrocochranedobrasil.org.br/ O texto completo desta revisão está disponível gratuitamente para toda a América Latina e Caribe em: http://www.cochranejournalclub.com/ masks-for-preventing-wound-infection-in-surgery/pdf/CD002929.pdf COMENTÁRIOS A revisão se propõe a avaliar o impacto do uso de máscaras descartáveis na incidência de infecções de ferida operatória. Apenas três estudos foram incluídos e não se encontrou diferença estatística entre os grupos. Os tipos de cirurgias abordados Assistente de pesquisa do Centro Cochrane do Brasil. Doutorando pela Disciplina de Medicina Interna e Terapêutica da Universidade Federal de São Paulo. Cirurgião cardiovascular do Hospital Universitário da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. II Diagn Tratamento. 2012;17(4):209-10. RDT_v17n4.indb 209 19/12/12 16:27 210 Máscaras cirúrgicas descartáveis para prevenção da infecção da ferida cirúrgica em cirurgia limpa pelos três estudos incluem cirurgias ginecológicas, obstétricas e urológicas, potencialmente contaminadas e que podem influenciar resultados, visto que os tratos ginecológico e urológico podem conter flora bacteriana similar à encontrada em nasofaringe e orofaringe. Além disso, o tipo de máscara utilizado e a forma de utilização podem ser fatores que aumentem a taxa de contaminação, e isso não é descrito nos trabalhos. A revisão nos propõe uma reflexão acerca do uso de máscara em cirurgias ginecológicas, obstétricas e urológicas, porém, os resultados são limitados e não podem ser extrapolados para outros tipos de cirurgia e procedimentos. Por enquanto, os dados advindos dessa metanálise não são suficientes para recomendar o não uso de máscaras descartáveis em cirurgias como forma de diminuir a incidência de infecções de feridas operatórias. Diagn Tratamento. 2012;17(4):209-10. RDT_v17n4.indb 210 19/12/12 16:27 Destaques Cochrane Antieméticos na redução dos vômitos por gastroenterite aguda em crianças e adolescentes Autora da tradução: Rachel RieraI Autor dos comentários independentes: Wilson Roberto CatapaniII RESUMO Introdução: O vômito é uma manifestação comum da gastroenterite aguda em crianças e adolescentes. Quando não tratado, pode ser um obstáculo para a terapia de reidratação oral, que é a pedra angular no controle da gastroenterite aguda. Ainda são necessárias evidências relativas à segurança e à eficácia do uso de antieméticos para vômitos em gastroenterite aguda em crianças. Objetivos: Avaliar a eficácia e a segurança de antieméticos para o vômito induzido por gastroenterite em crianças e adolescentes. Métodos: Busca por estudos: Os autores buscaram no Cochrane Upper Gastrointestinal and Pancreatic Diseases Group Trials Register, que contém referências identificadas a partir de amplas pesquisas de banco de dados eletrônicos, e realizaram também busca manual em revistas relevantes e livros de resumos de conferências. A busca foi refeita e está atualizada até 20 de julho de 2010. Critérios de seleção dos estudos: Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados (ECR) e quasi-randomizados comparando o uso de máscaras cirúrgicas descartáveis com a não utilização de máscara. Coleta e análise dos dados: Dois revisores extraíram os dados independentemente. Principais resultados: Foram incluídos 7 estudos envolvendo 1.020 participantes. O tempo médio para a cessação do vômito foi de 0,34 dias a menos com supositório de dimenidrinato em comparação com placebo (P = 0,036) (n = 1 estudo). Dados de 3 estudos comparando ondansetrona oral com placebo mostraram: (a) redução imediata da taxa de internação hospitalar (risco relativo [RR] = 0,40; número necessário para tratar [NNT] = 17; intervalo de confiança [IC] 95% = 10 a 100), mas nenhuma I diferença entre as taxas de hospitalização em 72 horas após a alta do Departamento de Emergência (DE); (b) redução das taxas de reidratação intravenosa, tanto durante a estadia no DE (RR = 0,41; NNT = 5; IC95% = 4 a 8) quanto no seguimento de 72 horas após a alta da estadia no DE (do pior ao melhor cenário para o ondansetrona: RR = 0,57; NNT = 6; IC 95% = 4 a 13) e (c) um aumento na proporção de pacientes com a cessação do vômito (RR = 1,34; NNT = 5; IC 95% = 3 a 7). Não houve diferença significativa nas taxas de retorno ao médico ou de eventos adversos, embora diarreia tenha sido relatada como um efeito colateral em quatro dos cinco estudos com ondansetrona. Em um estudo da proporção de pacientes com a cessação do vômito em 24 horas foi de 58% com ondansetrona intravenosa, 17% com placebo e 33% com metoclopramida (valor de P = 0,039). Conclusão: A ondansetrona oral aumentou a proporção de pacientes que pararam de vomitar e reduziu o número dos que necessitaram de hidratação intravenosa e internação imediata. A ondansetrona e a metoclopramida intravenosas reduziram o número de episódios de vômitos e de internação hospitalar, e o supositório de dimenidrinato reduziu a duração de vômitos. REFERÊNCIA 1. Fedorowicz Z, Jagannath VA, Carter B. Antiemetics for reducing vomiting related to acute gastroenteritis in children and adolescents. Cochrane Database Syst Rev. 2011;(9):CD005506. INFORMAÇÕES Este é um resumo de uma Revisão Sistemática Cochrane publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR) 2011, edição 9, DOI: 10.1002/14651858.CD005506.pub5 (http://onlinelibrary.wiley.com/ doi/10.1002/14651858.CD005506.pub5/abstract). Para detalhes da citação completa e dos autores, veja referência 1. Assistente de pesquisa do Centro Cochrane do Brasil. Professor titular e chefe da Disciplina de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, São Paulo, Brasil. II Diagn Tratamento. 2012;17(4):211-2. RDT_v17n4.indb 211 19/12/12 16:27 212 Antieméticos na redução dos vômitos por gastroenterite aguda em crianças e adolescentes Tradução e adaptação: Centro Cochrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino — São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel. (11) 5579-0469/5575-2970 E-mail: [email protected] http://www.centrocochranedobrasil.org.br/ O texto completo desta revisão está disponível gratuitamente em: http://www.cochranejournalclub.com/antiemetics-reducing-vomiting-related-acute-gastroenteritis-c/pdf/ CD005506.pdf COMENTÁRIOS Gastroenterites bacterianas e virais são comuns em crianças e adolescentes. A terapia de reidratação oral (TRO) é um dos principais fundamentos para seu tratamento. Muitos pediatras preconizam a introdução de antieméticos para tratamento dos vômitos apenas se estiverem impedindo a adequada realização da TRO. No Brasil, são notavelmente escassos os trabalhos que investigam a ação de antieméticos,1,2 e particularmente nas gastroenterites. Essa revisão comparou a eficácia de vários antieméticos versus placebo ou não tratamento, em vômitos decorrentes de gastroenterites agudas na faixa etária pediátrica e na adolescência. Sete trabalhos publicados de forma apropriada à revisão foram incluídos, com um total de 1.020 pacientes. Os autores indicam que os sete estudos tinham risco de viés incerto ou alto, alertando para o necessário cuidado ao extrapolar os resultados para a clínica. Entre os desfechos estudados, o tempo para cessação dos vômitos foi 34% menor em um estudo comparando supositórios de dimenitrato com placebo. Dados de três estudos comparando ondansetron oral com placebo mostraram redução na taxa de admissão hospitalar imediata (número necessário para tratar, NNT de 17), redução na necessidade de hidratação endovenosa durante a permanência na sala de emergência (NNT 5) e após 72 horas da alta (NNT 6) e também aumento na proporção de pacientes com cessação dos vômitos (NNT 5). Embora a revisão tenha mostrado vantagem razoável de ondansetron particularmente para evitar a necessidade de hidratação endovenosa e cessação dos vômitos, há necessidade de outros estudos, especialmente referentes a custo-benefício e custo-efetividade, para se obter visão mais abrangente da utilidade desses antieméticos no tratamento dos vômitos na gastroenterite aguda. REFERÊNCIAS 1. Luisi FA, Petrilli AS, Tanaka C, Caran EM. Contribution to the treatment of nausea and emesis induced by chemotherapy in children and adolescents with osteosarcoma. Sao Paulo Med J. 2006;124(2):61-5. 2. Lajolo PP, del Giglio A. Skipping day 2 antiemetic medications may improve chemotherapy induced delayed nausea and vomiting control: results of two pilot phase II trials. Support Care Cancer. 2007;15(3):343-6. Diagn Tratamento. 2012;17(4):211-2. RDT_v17n4.indb 212 19/12/12 16:27 Carta ao editor Ética em psicologia médica Décio Gilberto Natrielli FilhoI, Décio Gilberto NatrielliII Comitê Multidisciplinar de Psicologia Médica da Associação Paulista de Medicina (APM) Há uma definição que afirma ser a Psicologia Médica o campo de estudo da relação médico-paciente ou a psicologia da prática médica.1 Seguindo essa linha, podemos incluir também a relação médico-médico, médico-família e médico-grupo, já que todo trabalho envolvendo os modelos dessa disciplina são dinâmicos e envolvem ampliação do setting de atuação dos profissionais e das suas funções como médicos. Os médicos, cada vez mais bem preparados e com tecnologia diagnóstica e de tratamento mais avançada e precisa, influenciados também por todo poder fornecido pela ciência computacional, multimídia e de telecomunicações, podem, se vulneráveis, adotar posturas mais distanciadas em relação aos pacientes, seres humanos muitas vezes carentes de uma atenção que vai além daquela disponível para o tratamento da doença em questão. Nesta carta, os autores optaram pela palavra “ética” a fim de reforçar que ser disponível, fornecer orientações mais precisas, estender o tempo de atendimento quando necessário, insistir nas informações sobre o tratamento, efeitos adversos, riscos e benefícios, ainda continuam sendo atitudes muitas vezes esquecidas mesmo com todo o crescimento científico. O paciente “moderno” comparece às consultas com dados já coletados na internet, acessa o “Google” e faz leituras sobre aquilo que considera como a sua doença e muitas vezes já teve contato com uma primeira opinião de outro especialista. Sentir-se intimidado com tantos dados, questionamentos, dúvidas, inseguranças sobre a evolução das doenças e possíveis resultados indesejáveis é normal a todo profissional. A psicologia médica e a ética entram exatamente aqui, fornecendo ao médico recursos profissionais e humanos (conceituais) para lidar com essas reações, aprendendo a “metabolizá-las” e “devolvê-las” aos pacientes e seus familiares de forma “digerida”, sem julgamentos ou preconceitos, aproximando-se ou distanciando-se dos problemas, dificuldades, frustrações e até mesmo dos sucessos, de forma saudável, como um termostato que tenta sempre manter uma temperatura ideal, mesmo que esteja sempre oscilando entre o muito aquecido e o muito frio em ambientes muito instáveis. E ambientes ou situações instáveis são aqueles em que os médicos estão acostumados a conviver. I Conforme discorreu Lima:2 “Desde Aristóteles (século IV a.C.), define-se a Medicina, tal como a Ética, como ciências poieticas ou práticas, ou seja, aquelas que, diferentemente das ciências ditas teoréticas, não concernem a realidades necessárias e eternas, caso destas últimas, mas que dizem respeito às ações humanas. De tal modo que cabe ao médico, assim como àquele que se propõe a responder à Ética, uma deliberação que será tão mais prudente (phrónesis) quanto o seja em dois registros: o da generalidade, em que se insere o conjunto dos casos semelhantes, e o da particularidade, unívoca e concernente a cada caso”. Assumir uma postura humilde, resiliente e responsável diante dos percalços da profissão médica é difícil. Quando tratamos as doenças e os resultados são satisfatórios, reforçamos nossos conhecimentos práticos e baseados em evidências da comunidade científica. Quando os resultados não são os esperados ou desejados, o atalho mais fácil é escondê-los ou ignorá-los; não enfrentar nossas frustrações reforça comportamentos disfuncionais. O ser humano é o único animal que se especializou em “enganar-se”, desenvolvendo processos fantásticos de racionalização para se proteger do sofrimento, da realidade e da vida. A capacidade do homem para tolerar verdades acerca de si mesmo é frágil, enviesada, devido a circunstâncias pessoais, sociais e constitucionais. Pensamos que a verdade, como aqui concebida, é uma fonte permanente de dor.3 Essa “verdade” é desenvolvida por meio da interação do indivíduo com o outro, estabelecendo referenciais externos, adaptativos e que contribuam para o sucesso indivíduo-grupo, dentro de uma epistemologia de modelos e paradigmas que se transformam com as mudanças ambientais (sociais, políticas, econômicas, tecnológicas, biológicas, dentre outras). Contudo, a aspiração da humanidade por esclarecimentos a respeito de tudo, de respostas a todas as questões, nunca pode ser satisfeita ou esgotada, a não ser em casos de onipotência, totalitarismo ou fanatismo.3 Quando nos tornamos rígidos e inflexíveis, engessamos nossas verdades, impedindo qualquer progresso ou adaptação diante dos percalços impostos pela vida. Lotufo Neto4 escreveu: “Erros ocorrem na prática da medicina. Resultam da complexidade do conhecimento médico, da Psiquiatra, Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Psiquiatra e Coordenador Científico do Comitê Multidisciplinar de Psicologia Médica da Associação Paulista de Medicina (APM). II Diagn Tratamento. 2012;17(4):213-4. RDT_v17n4.indb 213 19/12/12 16:27 214 Ética em psicologia médica incerteza das predições clínicas, da pressão do tempo e da necessidade de tomar decisões rápidas com informações limitadas. O erro é muito estressante para o médico, evocando emoções intensas de tristeza, remorso, culpa, vergonha, preocupação, diminuição da confiança, raiva e medo” (...) “O erro pode prejudicar a relação médico/paciente dependendo de sua gravidade e da qualidade da comunicação desenvolvida. O paciente pode ficar alarmado, ansioso, sem confiança nas habilidades de seu médico. Pode haver raiva, diminuição do respeito, sentimentos de traição e desilusão com a profissão médica”. Devemos, portanto, estar sempre atentos para nossas reações e respostas psíquicas e fisiológicas diante dos percalços; daí poderíamos idealizar uma “ética intrínseca”, podendo responder com maior segurança e integridade aos questionamentos inerentes à profissão médica. Nesse caso, isso se refere a um ideal, um referencial intangível, o qual sempre é evocado como a ética nas diversas especialidades. Se dispomos de diversas especialidades, cada uma com sua peculiaridade, a atitude dos médicos deveria ser uniforme, humana, afetuosa e empática, sempre com intenções de atenuar a dor e o sofrimento dos seus semelhantes. Mas isso poderia soar como ingenuidade, diante de tudo que se pode esperar do comportamento humano. Contudo, podemos sim, ao relermos os princípios fundamentais do (novo) Código de Ética Médica5 (CEM) de 2009, vislumbrar ideais éticos e pensar na prática médica como uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade, em que o médico deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional, exercendo a medicina com honra e dignidade, com boas condições de trabalho, zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da medicina, aprimorar continuamente seus conhecimentos, guardar absoluto respeito pelo ser humano e atuar sempre em seu benefício. Diante desses trechos iniciais do CEM e da leitura detalhada dos seus princípios, podemos afirmar que a psicologia médica, além das suas derivações e desenvolvimentos teórico-práticos, repete e reforça conceitos muito antigos e enraizados na nossa ciência-arte, valorizando os aspectos psicológicos das relações humanas e da atividade médica. 5. Código de Ética Médica: Código de Processo Ético-Profissional, Conselhos de Medicina, Direitos dos Pacientes. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; 2009. Disponível em: http://redsang.ial.sp.gov.br/ site/docs_leis/pd/pd6.pdf. Acessado em 2012 (30 mai). INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Décio Gilberto Natrielli Filho Rua Roque Petrella, 153 Brooklin — São Paulo (SP) CEP 04581-050 Tel. (11) 5542-5145 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 25 de maio de 2012 Data da última modificação: 25 de maio de 2012 Data de aceitação: 11 de junho de 2012 REFERÊNCIAS 1. Muniz JR, Chazan LF. Ensino de psicologia médica. In: Mello Filho J, editor. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992. p. 37-44. 2. Lima MA. Os contornos da psiquiatria e seus desdobramentos éticos. In: Alves LCA, coordenação. Ética e psiquiatria. 2a ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; 2007. p. 27-37. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/modulos/publicacoes/pdf/edicao2_ etica_psiquiatria.pdf. Acessado em 2012 (30 mai). 3. Natrielli DG, Soares NC, Vidigal S. Séculos XX e XXI: o que permanece e o que se transforma. São Paulo: Lemos Editorial; 1992. 4. Lotufo Neto F. Quando o psiquiatra erra. In: Alves LCA, coordenação. Ética e psiquiatria. 2a ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; 2007. p. 147-50. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/ modulos/publicacoes/pdf/edicao2_etica_psiquiatria.pdf. Acessado em 2012 (30 mai). Diagn Tratamento. 2012;17(4):213-4. RDT_v17n4.indb 214 19/12/12 16:27 Carta ao editor Corrida atlética-científica Vicente Amato NetoI Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Sou médico e professor universitário aposentado compulsoriamente, mas mantenho, por vocação, atividade didático-científica voluntária. Dedico-me à área de clínica de doenças infecciosas e parasitárias e sempre procurei preparar ou aprimorar profissionais, tentar buscar novos conhecimentos por meio da investigação científica e prestar assistência à comunidade. No âmbito da pesquisa, só realizei estudos aplicados, norteando-me pela conduta que valoriza o olhar com os olhos do ver. Também fiz divulgação referente a questões do âmbito das enfermidades infectoparasitárias e de saúde pública. Essa despretensiosa introdução talvez me conceda respaldo para comentar impropriedades que, conforme entendo, estão em foco, a propósito da publicação de matérias científicas, pelo menos aqui no Brasil. Refiro-me ao contexto da medicina. Até atribuições de pontos acontecem, imitando o adotado nas ocorrências esportivas. Servem inclusive em julgamentos. A seguir, utilizando itens, exponho pontos de vista. • Órgãos financiadores de pesquisas e instituições, como a Universidade de São Paulo, mostram claramente, agora, positiva intenção no sentido de ajudar. Trata-se de bom momento, em geral muito almejado. É muito louvável esse benemérito comportamento. Contudo, cabe salientar que a destinação de recursos precisa obrigatoriamente proporcionar avanços, traduzidos por reais contribuições no campo das investigações apoiadas. Em suma, o custo-benefício exige respeito. Os que cooperam precisam estipular controle efetivo. Publicações e relatórios não possibilitam avaliações construtivas. Assim, ao lado de outras implicações, cabe evitar que o apresentado sirva para captar simpatias ou decisões em eventos, ilustrados por concursos universitários ou certames variados. • Produtivismo. Não encontrei essa palavra em dicionários, mas por aqui está sendo muito usada em vários setores que desejam exaltar a imperiosidade de cumprir bem as atribuições assumidas e remuneradas. Todavia, é almejado calcular por meio de critérios apropriados. Personalismo e prepotência não servem. Qualidade é diferente de quantidade e merecimento jamais pode ficar estipulado por cômoda vulgarização expressa através de pontos, que, além do mais, geram injusta diferença com trabalhos científicos respeitáveis. I • Os pretensiosos “papers”. São propalações em revistas estrangeiras. Com certeza são úteis para quem almeja decente internacionalização da ciência brasileira. Entretanto, é preciso sensatez a respeito. Comunicação de pesquisas de expressivo valor tem coerência com essa defensável intenção. Infelizmente, por vaidade e por outros motivos que são pouco propícios em termos de progressos, há muita exaltação de relatos desprovidos de significância, inclusive com a doação de pontos que, numericamente, superam exageradamente bons trabalhos nacionais. Em determinadas nações de fora, existem revistas consagradas e meritórias, mas também figuram várias bem menos exigentes, acolhendo diversidades. Em algumas instituições brasileiras, até universitárias, qualquer coisa que aparece em periódico do exterior é digna de elevada destinação de unidades de contagem, decisiva não raramente quando em curso disputas de diversas naturezas. A respeito de doenças infectoparasitárias, é justo e imperioso lembrar a presença de revistas nacionais de alto gabarito. Exemplos: Journal of the São Paulo Institute of Tropical Medicine, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Revista de Patologia Tropical, Revista de Saúde Pública, The Brazilian Journal of Infectious Diseases. Muito bem apresentadas e rigorosas por contarem com competentes Conselhos Editoriais, cooperam por meio de excelentes serventias. Ensinam, ajudam com notas técnicas e amparam a assistência médico-profissional, como realmente colaboram bastante no campo da saúde pública. Prioritariamente, o Brasil necessita de tudo isso. Ir atrás de “status”, vencer pleitos, angariar pontos configuram fatos não essenciais. Pontuação não é base para destinação de sucessos e vantagens. Competir nesse contexto só é válido para a obtenção de concretos avanços. Ciência sem implicação com o social não merece destaque. Igualmente, nunca poderá imitar eventos esportivos. Critiquemos os sistemas atlético-científicos. Afinal, o assunto não é corrida, disputa ou maratona. • Contradições. Em concurso, quando um candidato ou algum dos disputantes conta com apadrinhamento, que é de tipo variável e, normalmente, de origem fortemente política, o sucesso afigura-se indiscutível. “Papers” e instrumentos Professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Diagn Tratamento. 2012;17(4):215-6. RDT_v17n4.indb 215 19/12/12 16:27 216 Corrida atlética-científica congêneres são desnecessários diante de imbatível influência. Outro arranjo consiste em habitualmente desprezar, no campo médico, cumprimento de tarefas administrativas, didáticas, regularmente, assistência para pacientes e apoio à comunidade; não obstante, se for conveniente, a fim de obter êxito, agraciando pretendente felizardo, essas credenciais assumem grande força. Já conheci conduta segundo a qual escolheram alguém qualificado como bom gestor, capaz complementarmente de conseguir recursos junto a órgãos governamentais ou a sistemas variados, superando então concorrente cientista. Registro essas ponderações exclusivamente para suscitar atenção e análise, talvez capazes de apontar aprimoramentos propícios. É rudimentar rememorar que quantidade difere substancialmente de qualidade. Porém, constitui credencial significativa para certos julgadores de merecimentos decidirem pleitos de múltiplos tipos. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Vicente Amato Neto Rua Mato Grosso, 306 Consolação — São Paulo (SP) CEP 01239-040 Tel. (11) 3256-2389 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflitos de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 25 de junho de 2012 Data da última modificação: 25 de junho de 2012 Data de aceitação: 3 de julho de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(4):215-6. RDT_v17n4.indb 216 19/12/12 16:27 Instruções aos autores INDEXAÇÃO E ESCOPO A Revista Diagnóstico & Tratamento (ISSN 1413-9979) tem por objetivo oferecer atualização médica, baseada nas melhores evidências disponíveis, em artigos escritos por especialistas. Seus artigos são indexados na base de dados Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). São aceitos artigos originais (ensaios clínicos, estudos coorte, estudos caso-controle, revisões sistemáticas, estudos transversais, avaliações econômicas), relatos de caso, revisões narrativas da literatura (artigos de atualização) e cartas ao editor, que devem enquadrar-se nas normas editoriais dos manuscritos submetidos a revistas biomédicas (do International Committe of Medical Journal Editors1). POLÍTICAS E PROCEDIMENTOS DA REVISTA Após o recebimento do manuscrito pelo setor de Publicações Científicas, os autores receberão um número de protocolo que servirá para manter o bom entendimento entre os autores e o setor. Em seguida, o artigo será lido pelo editor, que verificará se está de acordo com a política e o interesse da revista. Em caso afirmativo, o setor de Publicações Científicas vai verificar se o texto cumpre as normas de publicação expressas nestas Instruções para Autores. Se o texto estiver incompleto ou se não estiver organizado como exigido, os autores deverão resolver os problemas e submetê-lo novamente. Quando o formato estiver aceitável, o setor enviará o trabalho para a revisão por pares, na qual os revisores não assinarão seus veredictos e não conhecerão os nomes dos autores do trabalho. Cada manuscrito será avaliado por dois revisores: um especialista no assunto e um consultor ad hoc (que vai avaliar aspectos metodológicos do trabalho); as discordâncias serão resolvidas pelos editores. Os autores então receberão a avaliação e será solicitado que resolvam os problemas apontados. Uma vez que o setor de Publicações Científicas receba o texto novamente, o artigo será enviado ao editor científico e revisor de provas, que identificará problemas na construção de frases, ortografia, gramática, referências bibliográficas e outros. Os autores deverão providenciar todas as informações e correções solicitadas e deverão marcar , no texto, todos os pontos em que realizaram modificações, utilizando cores diferentes ou sistemas eletrônicos de marcação de alterações, de maneira que elas fiquem evidentes. Quando o texto for considerado aceitável para publicação, e só então, entrará na pauta. O setor de Publicações Científicas fornecerá uma prova, incluindo Tabelas e Figuras, para que os autores aprovem. Nenhum artigo é publicado sem este último procedimento. INSTRUÇÕES PARA AUTORES Diretriz geral: para todos os tipos de artigos Os artigos devem ser submetidos exclusivamente pela internet para o e-mail [email protected] e/ou [email protected]. O manuscrito deve ser submetido em português e deve conter um resumo e cinco palavras-chave em português, que devem ser selecionadas das listas DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), conforme explicado em detalhes abaixo (nenhuma outra palavra-chave será aceita). Artigos submetidos devem ser originais e todos os autores precisam declarar que o texto não foi e não será submetido para publicação em outra revista. Artigos envolvendo seres humanos (individual ou coletivamente, direta ou indireta ou indiretamente, total ou parcialmente, incluindo o gerenciamento de informações e materiais) devem ser acompanhados de uma cópia da autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde o experimento foi realizado. Todo artigo submetido deve cumprir os padrões editoriais estabelecidos na Convenção de Vancouver (Requerimentos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Revistas Biomédicas),1 e as diretrizes de qualidade para relatórios de estudos clínicos,2 revisões sistemáticas (com ou sem metanálises)3 e estudos observacionais.4 O estilo conhecido como “estilo Vancouver” deve ser usado não somente quanto ao formato de referências, mas para todo o texto. Os editores recomendam que os autores se familiarizem com esse estilo acessando www.icmje.org. Para a classificação dos níveis de evidência e graus de recomendação de evidências, a Revista Diagnóstico e Tratamento adota a nova classificação elaborada pelo Centro de Medicina Baseada em Evidências de Oxford (Centre for Evidence-Based Medicine - CEBM) e disponível em http://www.cebm.net/mod_product/design/ files/CEBM-Levels-of-Evidence-2.pdf Abreviações não devem ser empregadas, mesmo as que são de uso comum. Drogas ou medicações devem ser citadas usando-se os nomes genéricos, evitando-se a menção desnecessária a marcas ou nomes comerciais. Qualquer produto citado no capítulo de Métodos, tal como equipamento diagnóstico, testes, reagentes, instrumentos, utensílios, próteses, órteses e dispositivos intraoperatórios devem ser descritos juntamente como o nome do fabricante e o local (cidade e país) de produção entre parênteses. Medicamentos administrados devem ser descritos pelo nome genérico (não a marca), seguidos da dosagem e posologia. Para qualquer tipo de estudo, todas as afirmações no texto que não sejam resultado da pesquisa apresentada para publicação à revista Diagnóstico & Tratamento, mas sim dados de outras pesquisas já publicadas em outros locais, devem ser acompanhadas de citações da literatura pertinente. Os relatos de caso e as revisões narrativas deverão conter uma busca sistematizada (atenção: o que é diferente de uma revisão sistemática) do assunto apresentado, realizada nas principais bases de dados (Cochrane Library, Embase, Lilacs, PubMed, outras bases específicas do tema). Bolsas, apoios e qualquer suporte financeiro a estudos devem ser mencionados separadamente na última página. Agradecimentos, se necessário, devem ser colocados após as referências bibliográficas. A Diagnóstico & Tratamento apóia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão aceitos para publicação, a partir de 2007, os artigos de pesquisa clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE (http://www.icmje.org/). O número de identificação deverá ser registrado ao final do resumo. FORMATO Primeira página (capa) A primeira página deve conter: 1) classificação do artigo (original, revisão narrativa da literatura, relato de caso e carta ao editor); 2) o título do artigo, que deverá ser conciso, mas informativo; 3) o nome de cada autor (não abreviar), sua titulação acadêmica mais alta e a instituição onde trabalha; 4) o local onde o trabalho foi desenvolvido; Segunda página Artigos originais: a segunda página, neste caso, deve conter um resumo5 (máximo de 250 palavras) estruturado da seguinte forma: 1) contexto e objetivo; 2) desenho e local (onde o estudo se desenvolveu); 3) métodos (descritos em detalhes); 4) resultados; 5) Discussão; 6) conclusões. Relatos de caso: devem conter um resumo5 (máximo de 250 palavras) estruturado da seguinte forma: 1) contexto; 2) descrição do caso; 3) discussão; 4) conclusões. Revisão da narrativa da literatura: deve conter um resumo (máximo de 250 palavras) com formato livre. O resumo deve conter cinco palavras-chave, que devem ser escolhidas a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), desenvolvidos pela Bireme, que estão disponíveis na internet (http://decs.bvs.br/).6 Referências As referências bibliográficas (no estilo “Vancouver”, como indicado pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Biomédicas, ICMJE) devem ser dispostas na parte final do artigo e numeradas de acordo com a ordem de citação. Os números das citações devem ser inseridos após pontos finais ou vírgulas nas frases, e sobrescritos (sem parênteses ou colchetes). Referências citadas nas legendas de Tabelas e Figuras devem manter a sequência com as referências citadas no texto. Todos os autores devem ser citados se houver menos de seis; se houver mais de seis autores, os primeiros três devem ser citados seguidos de “et al.” Para livros, a cidade de publicação e o nome da editora são indispensáveis. Para textos publicados na internet, a fonte localizadora completa (URL) ou endereço completo é necessário (não apenas a página principal ou link), de maneira que, copiando o endereço completo em seus programas para navegação na internet, os leitores possam ser levados diretamente ao documento citado, e não a um site geral. A seguir estão dispostos alguns exemplos dos tipos mais comuns de referências: Artigo em periódico • Lahita R, Kluger J, Drayer DE, Koffler D, Reidenberg MM. Antibodies to nuclear antigens in patients treated with procainamide or acetylprocainamide. N Engl J Diagn Tratamento. 2012;17(3):217-8. RDT_v17n4.indb 217 19/12/12 16:27 Instruções aos autores Med. 1979;301(25):1382-5. Livro • Styne DM, Brook CGD. Current concepts in pediatric endocrinology. New York: Elsevier; 1987. Capítulo de livro • Reppert SM. Circadian rhythms: basic aspects and pediatric implications. In: Styne DM, Brook CGD, editors. Current concepts in pediatric endocrinology. New York: Elsevier; 1987. p. 91-125. Texto na internet • World Health Organization. WHO calls for protection of women and girls from tobacco. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2010/ women_tobacco_20100528/en/index.html. Acessado em 2010 (8 jun). Dissertações e teses • Neves SRB. Distribuição da proteína IMPACT em encéfalos de camundongos, ratos e saguis. [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo; 2009. Última página A última página deve conter: 1) a data e o local do evento no qual o artigo foi apresentado, se aplicável, como congressos ou defesas de dissertações ou teses; 2) fontes de apoio na forma de suporte financeiro, equipamentos ou drogas e número do protocolo; 3) descrição de qualquer conflito de interesse por parte dos autores; 4) endereço completo, e-mail e telefone do autor a ser contatado quanto à publicação na revista. Figuras e tabelas As imagens devem ter boa resolução (mínimo de 300 DPI) e ser gravadas em formato “.jpg” ou “.tif”. Imagens não devem ser incluídas em documentos do Microsoft PowerPoint. Se as fotografias forem inseridas num documento Microsoft Word, as imagens também devem ser enviadas separadamente. Gráficos devem ser preparados com o Microsoft Excel (não devem ser enviados como imagem) e devem ser acompanhados das tabelas de dados a partir dos quais foram gerados. O número de ilustrações não deve exceder o número total de páginas menos um. Todas as figuras e tabelas devem conter legendas ou títulos que descrevam precisamente seu conteúdo e o contexto ou amostra a partir da qual a informação foi obtida (por exemplo, quais foram os resultados apresentados e qual foi o tipo de amostra e local). A legenda ou título devem ser curtos, mas compreensíveis independentemente da leitura do artigo. O MANUSCRITO # Relatos de caso devem conter Introdução, Descrição do Caso, Discussão (contendo a busca sistematizada sobre o tema) e Conclusão. # Artigos originais e revisões narrativas devem ser estruturados de maneira que contenham as seguintes partes: Introdução, Objetivo, Método, Resultados, Discussão e Conclusão. A Revista publica revisões narrativas desde que contenham busca sistematizada da literatura. O texto não deve exceder 2.200 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências), da introdução até o final da conclusão. A estrutura do documento deve seguir o formato abaixo: 1. Introdução: as razões para que o estudo fosse realizado devem ser explicitadas, descrevendo-se o atual estado da arte do assunto. Deve ser descrito o contexto, o que se sabe a respeito. Aqui não devem ser inseridos resultados ou conclusões do estudo. No último parágrafo, deve ser especificada a principal questão do estudo e a principal hipótese, se houver. Não se deve fazer discussões sobre a literatura na introdução; a seção de introdução deve ser curta. 2. Objetivo: deve ser descrito o principal objetivo do estudo, brevemente. Hipóteses pré-estabelecidas devem ser descritas claramente. De preferência deve-se estruturar a pergunta do estudo no formato “PICO”, onde P é a população ou problema, I é intervenção ou fator de risco, C é o grupo controle e O vem de “outcome”, ou desfecho. 3. Métodos 3.1. Tipo de estudo: deve-se descrever o desenho do estudo, adequado para responder a pergunta, e especificando, se apropriado, o tipo de randomização, cegamento, padrões de testes diagnósticos e a direção temporal (se retrospectivo ou prospectivo). Por exemplo: “estudo clínico randomizado”, “estudo clínico duplo-cego controlado por placebo”, “estudo de acurácia”, “relato de caso” 3.2. Local: deve ser indicado o local onde o estudo foi desenvolvido, o tipo de instituição: se primária ou terciária, se hospital público ou privado. Deve-se evitar o nome da instituição onde o estudo foi desenvolvido (para cegamento do texto para revisão): apenas o tipo de instituição deve ficar claro. Por exemplo: hospital universitário público. 3.3. Amostra, participantes ou pacientes: devem ser descritos os critérios de elegibilidade para os participantes (de inclusão e exclusão), as fontes e os procedimentos de seleção ou recrutamento. Em estudos de caso-controle, a lógica de distribuição de casos como casos e controles como controles deve ser descrita, assim como a forma de pareamento. O número de participantes no início e no final do estudo (após exclusões) deve ficar claro. 3.4. Tamanho de amostra e análise estatística: descrever o cálculo do tamanho da amostra, a análise estatística planejada, os testes utilizados e o nível de significância, e também qualquer análise post hoc. Descrever os métodos usados para o controle de variáveis e fatores de confusão, como se lidou com dados faltantes (“missing data”) e como se lidou com casos cujo acompanhamento foi perdido (“loss from follow-up”). 3.5. Randomização: descrever qual foi o método usado para implementação da alocação de sequência aleatória (por exemplo, “envelopes selados contendo sequências aleatórias de números gerados por computador”). Adicionalmente, descrever quem gerou a sequência aleatória, quem alocou participantes nos grupos (no caso de estudos controlados) e quem os recrutou. 3.6. Procedimentos de intervenção, teste diagnóstico ou exposição: descrever quais as principais características da intervenção, incluindo o método, o período e a duração de sua administração ou de coleta de dados. Descrever as diferenças nas intervenções administradas a cada grupo (se a pesquisa é controlada). 3.7. Principais medidas, variáveis e desfecho: descrever o método de medida do principal resultado, da maneira pela qual foi planejado antes da coleta de dados. Afirmar quais são os desfechos primário e secundário esperados. Para cada variável de interesse, detalhar os métodos de avaliação. Se a hipótese do estudo foi formulada durante ou após a coleta de dados (não antes), isso deve ser declarado. Descrever os métodos utilizados para melhorar a qualidade das medidas (por exemplo, múltiplos observadores, treinamento etc.). Explicar como se lidou com as variáveis quantitativas na análise. 4. Resultados: descrever os principais achados. Se possível, estes devem conter os intervalos de confiança de 95% e o exato nível de significância estatística. Para estudos comparativos, o intervalo de confiança para as diferenças deve ser afirmado. 4.1. Fluxo de participantes: descreva o fluxo dos participantes em cada fase do estudo (inclusões e exclusões), o período de acompanhamento e o número de participantes que concluiu o estudo (ou com acompanhamento perdido). Considerar usar um fluxograma. Se houver análise do tipo “intenção de tratar”, esta deve ser descrita. 4.2. Desvios: se houve qualquer desvio do protocolo, fora do que foi inicialmente planejado, ele deve ser descrito, assim como as razões para o acontecimento. 4.3. Efeitos adversos: devem ser descritos quaisquer efeitos ou eventos adversos ou complicações. 5. Discussão: deve seguir a sequência: começar com um resumo dos objetivos e das conclusões mais relevantes; comparar métodos e resultados com a literatura; enfatizar os pontos fortes da metodologia aplicada; explicar possíveis pontos fracos e vieses; incluir implicações para a prática clínica e implicações para pesquisas futuras. 6. Conclusões: especificar apenas as conclusões que podem ser sustentadas, junto com a significância clínica (evitando excessiva generalização). Tirar conclusões baseadas nos objetivos e hipóteses do estudo. A mesma ênfase deve ser dada a estudos com resultados negativos ou positivos. CARTAS AO EDITOR É uma parte da revista destinada à recepção de comentários e críticas e/ou sugestões sobre assuntos abordados na revista ou outros que mereçam destaque. Tem formato livre e não segue as recomendações anteriores destinadas aos artigos originais, relatos de casos e revisão da literatura. Documentos citados 1. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. Disponível em: http://www.icmje. org/urm_main.html. Acessado em 2010 (7 jun). 2. CONSORT Transparent Reporting of Trials. Welcome to the CONSORT statement website. Disponível em: http://www.consort-statement.org. Acessado em 2010 (7 jun). 3. Moher D, Cook DJ, Eastwood S, Olkin I, Rennie D, Stroup DF. Improving the quality of reports of meta-analyses of randomised controlled trials: the QUOROM statement. Quality of Reporting of Meta-analyses. Lancet. 1999;354(9193):1896-900. 4. STROBE Statement Strengthening the reporting of observational studies in epidemiology. Checklist on items that should be included in reports of observational studies. Disponível em:: http://www.strobe-statement.org/index. php?eID=tx_nawsecuredl&u=0&file=fileadmin/Strobe/uploads/checklists/STROBE_checklist_v4_combined.pdf&t=1257007091&hash=7713ea8f7f2662b288689 b3dab40c1cb. Acessado em 2010 (7 jun). 5. Haynes RB, Mulrow CD, Huth EJ, Altman DG, Gardner MJ. More informative abstracts revisited. Ann Intern Med. 1990;113(1):69-76. 6. BVS Biblioteca Virtual em Saúde. Descritores em Ciências da Saúde. Disponível em:: http://decs.bvs.br/. Acessado em 2010 (7 jun). Diagn Tratamento. 2012;17(3):217-8. RDT_v17n4.indb 218 19/12/12 16:27