PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS E AUTOMEDICAÇÃO

Propaganda
ÁGORA – Revista Eletrônica, nº 11 / Dezembro de 2010.
ISSN 1809 4589
Página 76 - 82
PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS E AUTOMEDICAÇÃO
Ana Laura Remédio Zeni Beretta1
Miriam de Magalhães Oliveira Levada2
Celso Luís Levada3
RESUMO
A propaganda de medicamentos é um tema que gera muitas discussões, pois pode ter como conseqüência a
automedicação, que é cada vez mais comum na população brasileira. A automedicação é uma prática
bastante difundida não apenas no Brasil, mas também em outros países. O problema é universal, antigo e de
grandes proporções. A automedicação pode ser considerada uma forma de não adesão às orientações
médicas e de saúde. As propagandas divulgam os medicamentos como se fossem quaisquer outros produtos,
exaltando seus benefícios e ocultando suas desvantagens. As interações medicamentosas podem trazer
1
Docente permanente do Mestrado em Ciências Biomédicas. Doutora em Genética e Biologia Molecular, UNICAMP – 2004. Mestre
em Microbiologia Aplicada pelo Instituto de Biociências de Rio Claro-UNESP, 1997. Especialista em Metodologia do Ensino Superior
pela Faculdade de Ciências e Letras de Araras, 1992. Farmacêutica pela Faculdade de Ciências Biológicas de Araras, 1986.
Biomédica pela Faculdade de Ciências Biológicas de Araras,1984. Integrante do Grupo de ensino de Ciências da Uniararas.
[email protected].
2 Professora de Biologia na Uniararas. Integrante do Grupo de ensino de Ciências da Uniararas.
3 Professor na Academia da Força Aérea. Integrante do Grupo de ensino de Ciências da Uniararas.
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Os textos, opiniões, dados, análises e interpretações, bem como citações, plágios e incorreções, são de responsabilidades legais, morais e econômicas ou outras
quaisquer, do/a(s) seu/sua(s) autor/a(es).
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riscos e benefícios à saúde de nosso organismo; tudo depende de como acontece a interação entre
fármacos, alimentos e algumas substâncias.
As razões pelas quais as pessoas se automedicam são inúmeras. A propaganda desenfreada e massiva de
determinados medicamentos contrasta com as tímidas campanhas, que tentam esclarecer os perigos da
automedicação. A falta de regulamentação e fiscalização daqueles que vendem e a falta de programas
educativos sobre os efeitos muitas vezes irreparáveis da automedicação, são alguns dos motivos que levam
as pessoas a utilizarem medicamento mais próximo.
Palavras chaves : propaganda de medicamentos, automedicação, saúde
ABSTRACT
The advertisements of medicines is an issue that generates a lot of discussion, it can result in self-medication,
which has been increasingly common in our population. Self-medication is a very common practice not only in
Brazil but also in other countries. The problem is universal, ancient and of great proportions. Self-medication
can be considered a form of non-adherence to medical guidelines and health. Advertisements disclose drugs
as if they were any other products, promoting their benefits and hiding their drawbacks. Drug interactions can
bring benefits and risks to the health of our body as it all depends on the interaction between chemicals
products. The reasons why people self-medicate are numerous, for instance, the unrestrained advertisement
of certain drugs in contrast to the much less frequent campaigns attempt to explain the dangers of self
medication. Although there is a widespread belief all natural products are benefitial, some authors indicate that
nature also produces a few strong poisons. There may be risks of the interaction between popular herbs and
conventional drugs or excessive use of such herbs.
Keywords : advertisements of medicines, self-medication, health,
INTRODUÇÃO
Para CARVALHO (2009), um procedimento comum que faz parte do cotidiano de grande parcela da
população brasileira é a automedicação. Vários fatores contribuem para esse cenário, sendo o principal deles
o fato de uma boa parte dos brasileiros não terem um acesso ao atendimento médico, seja por questões
financeiras ou por confiarem na indicação de outra pessoa, como o amigo, os familiares ou o vizinho. Outro
fator que sugere a automedicação são as propagandas direcionadas ao público consumidor. Segundo
MATIAS (2009), a prática da automedicação é um fato que ocorre em todo o mundo, com grande procura
destes medicamentos em drogarias para tentar solucionar problemas do cotidiano da população. Por outro
lado, estas pessoas que fazem uso desta prática não conhecem os problemas que estes fármacos podem
causar quando administradas indiscriminadamente, o que pode afetar a saúde das pessoas. Campanhas
educativas mais freqüentes e abrangentes podem atingir e impactar a população de um modo geral e assim,
promover um maior bem estar para as pessoas. Um dos inúmeros aspectos negativos da automedicação, por
exemplo, é a interação medicamentosa. PARACELSO, na idade Média, dizia que “a dose correta é que
diferencia um veneno de um remédio”. A dificuldade de se conseguir uma opinião médica, a limitação do
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Os textos, opiniões, dados, análises e interpretações, bem como citações, plágios e incorreções, são de responsabilidades legais, morais e econômicas ou outras
quaisquer, do/a(s) seu/sua(s) autor/a(es).
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poder prescritivo, restrito a poucos profissionais de saúde, o desespero e a angústia desencadeados por
sintomas ou pela possibilidade de se adquirir uma doença, informações sobre medicamentos na internet ou
em outros meios de comunicação, a falta de regulamentação e fiscalização daqueles que vendem e a falta de
programas educativos são motivos que levam as pessoas a utilizarem medicamento sem orientação médica.
Pesquisas revelam que a cada meia hora, o Brasil notifica um caso de pessoa intoxicada por automedicação
(BELFORT, 2000).
A PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS
A propaganda de medicamentos é um assunto delicado e há anos merece a atenção dos profissionais que
lidam com a saúde e conhecem os perigos da automedicação. De acordo com SILVA E CORTE (2010) a
propaganda de medicamentos é um tema que gera muitas discussões, pois diferentes estudos afirmam que a
propaganda e publicidade de medicamentos têm como conseqüência a automedicação, cada vez mais
comum na população brasileira. Um dos principais riscos apontados como resultado da influência da
propaganda é a automedicação. Com a automedicação irresponsável, a pessoa pode mascarar o sintoma de
uma doença maior. As propagandas divulgam os medicamentos como se fossem quaisquer outros produtos,
exaltando seus benefícios e ocultando suas desvantagens. LOPES (2009) menciona que as interações
medicamentosas podem trazer riscos e benefícios à saúde de nosso organismo, tudo depende de como
acontece a interação entre fármacos, alimentos e algumas substâncias. As interações medicamentosas são
um evento clínico em que os efeitos de um medicamento são alterados pela presença de outro medicamento,
alimento, bebida ou algum agente químico ambiental externo, ou seja, quando apenas é administrado um
fármaco ele produz um determinado efeito esperado. Porém, quando um fármaco é associado a outro, ou a
alimentos e substâncias como tabaco, drogas, etc., ocorrem efeitos diferentes do esperado, caracterizado
como interação. Na maioria das vezes a interação se reverte em risco e prejuízos à saúde de nosso
organismo. O desfecho de uma interação medicamentosa pode ser perigoso quando promove aumento da
toxicidade de um fármaco. As interações medicamentosas são classificadas em interações físico-químicas e
interações terapêuticas, e as interações físico-químicas ocorrem na condição fora do organismo, pois entre
drogas diferentes podem ocorrer inúmeras incompatibilidades, que levam à reações quando estas são
misturadas em infusão intravenosa, frascos ou seringas, podendo ocasionar a inativação dos fármacos em
questão. Determinadas substâncias usadas indiscriminadamente podem alterar as condições fisiológicas do
organismo de um paciente, fato que é muitas vezes ignorado e isso certamente deve ser considerado. Por
exemplo, a dipirona pode baixar os níveis de células de defesa. Incluímos nesta análise o uso indiscriminado
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de medicamentos fitoterápicos, considerados remédios naturais, que as propagandas insistem em afirmar que
não existem efeitos colaterais (LOPES 2009; MORAIS, 2003 ).
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS E SEUS EFEITOS NOCIVOS
O conhecimento sobre as propriedades básicas de fármacos e de sua ação farmacológica é de suma
importância para a realização de uma administração adequada considerando que o corpo humano é um
sistema muito complexo formado por uma infinidade de substâncias que conseqüentemente entrarão em
contato com os fármacos ingeridos. Além disso, é preciso estar ciente dos efeitos dos fármacos envolvidos na
administração, para se evitar interações prejudiciais e possíveis efeitos adversos do fármaco que pode trazer
riscos à saúde. Na maioria das vezes a interação medicamentosa se reverte em riscos e prejuízos à saúde de
nosso organismo (SILVA, 2001; MORAIS, 2003).
MEDICAMENTOS NATURAIS
A medicina natural à base de plantas já é praticada por milhares de anos, por antigas civilizações. Existem
muitos medicamentos e produtos naturais que estão sendo usados em todo o mundo, no entanto, para se
utilizar algum desses produtos deve-se procurar o aconselhamento de um médico especialista em medicina
natural. Alguns medicamentos naturais são conhecidos por terem efeitos colaterais desagradáveis e
prejudiciais. O crescimento do mercado de fitoterápicos e seu uso indiscriminado, baseado na crença de
ausência de efeitos colaterais, têm gerado certa preocupação entre os cientistas (MUELLER, 1998).
As pessoas que se automedicam também desconhecem que a quantidade de princípios ativos contida nas
plantas pode variar de acordo com a idade da planta, a época da colheita, o tipo de solo, a parte utilizada e as
condições de estocagem. E as plantas que crescem muito próximas às rodovias apresentam concentração
elevada de metais como chumbo, zinco e alumínio, entre outros, cujos efeitos podem ser indesejáveis.
SEGATTO (2010) escreve na revista ÉPOCA sobre uma série de reportagens feitas pelo Dr. Dráuzio Varella
sobre os medicamentos naturais. De início ela desfaz o modo de pensar que tudo o que é natural é
necessariamente benéfico. Mas, segundo a autora, natureza tem venenos poderosos. Ela escreve uma
coluna sobre os riscos da interação entre ervas muito populares e medicamentos convencionais.
Posteriormente SEGATTO comenta que Dráuzio Varella vai apresentar uma ampla investigação sobre ervas e
fitoterápicos, numa série encomendada pela televisão. Uma das notícias divulgadas no artigo é que, depois
de um mergulho no mundo obscuro dos fitoterápicos, Dráuzio concluiu que os brasileiros estão sendo
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enganados, pois, “antes de oferecer essas ervas aos pacientes, é preciso avaliar a ação delas com rigor
científico".
VARELLA, na entrevista diz que mais da metade dos medicamentos são derivados dos produtos naturais. A
morfina e a aspirina são alguns exemplos. Galeno desenvolveu no século II uma poção que tinha mais de 70
ervas. No entanto, usar chás para tratar de doenças é uma tradição popular, mas é um problema. De certo
modo a medicina baseada em plantas não tem atividade totalmente demonstrada cientificamente, no sentido
de poder ser comprovada em seres humanos. DRAUZIO VARELLA fala que os fitoterápicos têm de ser
estudados com o mesmo procedimento pelo qual os remédios comuns são submetidos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme relatam SILVA E CORTE (2009), a propaganda de medicamentos é uma atividade comercial que
movimenta mais de 400 bilhões de dólares no mundo. Com isso, cria um cenário bastante complexo e de
grande importância, uma vez que define padrões de mercado e de comportamento para as pessoas,
exercendo impacto concreto nas práticas terapêuticas. Em muitos estudos, a propaganda de medicamentos
está diretamente ligada à automedicação, que pode ser definida como o uso de medicamentos sem
prescrição médica, no qual o próprio paciente decide qual fármaco utilizar. Entre os efeitos nocivos da
automedicação, destaca-se a intoxicação decorrente do uso inadequado de medicamentos. O processo
acelerado de crescimento da indústria farmacêutica, instalada no país a partir dos anos 30, tem demandado
uma nova ordem: a de oferecer medicamentos como se fossem quaisquer outros objetos de consumo e,
como tais, precisassem ser amplamente divulgados nos meios de comunicação. A dor como vilã e o
medicamento como salvador sempre fizeram parte da história da propaganda de medicamentos.
O farmacêutico é o principal articulador de todo o processo de atuação farmacêutica, pois, atende o paciente
diretamente. Então, o trabalho conjunto entre o médico, o paciente e o farmacêutico, consolida a relação
existente entre a prática e o conhecimento teórico, promovendo, sobremaneira, saúde, segurança e eficácia.
Ás vezes, o farmacêutico enfrenta então um impasse, entre a sua sobrevivência no mercado, incluindo o
sucesso da empresa e a garantia do seu emprego, e a realização plena das atividades do profissional
farmacêutico, definida no código de ética e cobrada por diversas leis, refletindo a necessidade do profissional
atuando na sociedade e que resulta na realização profissional. Tal situação é demonstrada por pesquisa
motivada pela detecção de dificuldades enfrentadas por farmacêuticos, dentro de sua atuação profissional
plena OLIVEIRA et al (2005).
GÖLLER (2010) menciona que como profissional da saúde, o farmacêutico, mais do que informar sobre o uso
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correto de medicamentos, tem o importante papel de informar o cidadão sobre todas as questões que
envolvem a saúde: desde o perigo da automedicação até os cuidados para a eficácia do tratamento. O
farmacêutico torna-se responsável e comprometido em dar respostas às necessidades de saúde trazidas pelo
paciente. O profissional agirá de modo a escutar a queixa, os medos e as expectativas, identificar os riscos e
a vulnerabilidade, e se responsabilizar para dar uma resposta ao problema. Assim, é possível concluir que
grandes conhecimentos técnicos não são suficientes em todas as áreas profissionais, e em Farmácia em
particular, se não soubermos lidar com as pessoas, acolher, escutar e interferir no momento certo. É preciso
entender a forma de falar, e responder com a linguagem adequada, prestando a informação de forma clara
para que possa ser compreendida pelo ouvinte. Além disso, o farmacêutico é um profissional de nível superior
indispensável para a saúde, pois promove a cura e a melhoria da qualidade de vida da população com
atitudes éticas. Garante o recebimento de toda a informação necessária para um resultado eficaz de
tratamento, além do acompanhamento terapêutico. Não deve ser visto apenas como o profissional do
medicamento, pois cada vez mais se torna, também, o profissional do paciente, tendo qualificação para tanto,
conforme se deduz da cartilha elaborada pelo Ministério da Saúde, em sua PNH. Por outro lado, a
automedicação decorre do uso de medicamentos sem prescrição médica, na qual o próprio paciente decide
qual medicamento utilizar, acarretando prejuízos e riscos para a saúde. O assunto também pode ser útil no
que diz respeito ao ensino de Ciências, tratado como tema transversal na área da saúde. A abordagem se
daria não só do ponto de vista social e biológico, mas numa perspectiva da química envolvida nos
medicamentos e no corpo humano, focando aspectos como constituição química dos remédios, seu
processamento e sínteses em laboratório.
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